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Ciencia e Conservacao Jan 2014
Ciencia e Conservacao Jan 2014
- Teoria e Contexto -
Yacy-Ara Froner
(organização)
© 2014 Centro de Conservação e Restauração; Programa de Pós-Graduação em
Artes - EBA-UFMG.
Comitê científico
Alessandra Rosado
Luiz Antônio Cruz Souza
Willi de Barros Gonçalves
Yacy-Ara Froner Gonçalves
Realização
Grupo de Pesquisa ARCHE
Grupo de Pesquisa LACICOR
www.eba.ufmg.br/sppgrad
Editorial
Teoria e contexto
O Centro de Conservação e Restauração da EBA-UFMG é uma das mais
importantes intituições na área de Conservação-Restauração no Brasil,
desenvolvendo desde 1978 importantes pesquisas e trabalhos de referência
nesse campo de conhecimento.
Teoria e contexto
Primeira Parte:
Ciência, Tecnologia e Epistemologia
Segunda Parte:
História da Arte Técnica, Arqueologia e Arquitetura 6
Flávio Carsalade - Teoria e contexto na preservação da Arquitetura (136)
Alessandra Rosado - História da Arte Técnica: uma contribuição no processo de
autenticação de obras de arte (153)
Ana Cecilia Nascimento Rocha Veiga - Museus: Conceitos e Reflexões (167)
Thiago Pinho Botelho e Fábio Donatio - A Pintura de Retrato no Brasil: estu-
do de caso de uma obra de Édouard Vienot e François Henri Morisset (184)
Ana Martins Panisset - A Documentação como Ferramenta de Preservação (199)
Teoria e contexto
Ana Carolina Motta, Gerusa A. Radicchi, Giulia Giovani, Marcella Oliveira,
Thais Venuto - Paisagem em Branco: protocolos de gestão em conservação (209)
Fabio das Neves Donadio - O uso de novos materiais sobre edificações históricas
de terra crua (216)
Terceira Parte:
Arte Contemporânea e Novas Tecnologias
Magali Melleu Sehn - O papel da documentação no contexto da presrvação da arte
contemporânea (256)
Teoria e contexto
Yacy-Ara Froner
PPGA-EBA-Universidade Federal de Minas Gerais
Abstract
The establishment of Conservation/Restoration and Preventive Conservation as a scientific area is
fundamental to access researches institutes in Brazil. Its authority requires preparation at various levels
– undergraduate and graduate –, stronger associations, dissemination of studies through events and
publications and the diversification of agents, basis on interdisciplinary and multidisciplinary studies. This
article discusses professional’s model changing in the last decade, considering education expansion, research
and extension grow and its demand of social visibility. The scientific practice is made upon specific models,
whose are necessary for the establishment of technological skills, knowledge’s dissemination and its access to
resources for scientific research in the country. The face of XXI century professional begins to be structured
in this decade, and we must understand what it means for our action.
Key words: Science, Preventive Conservation, Conservation/Restore
9
Introdução
No ano de 2010, a CAPES realizou sua avaliação trienal dos cursos de
Pós-graduação no país. Centenas de programas por todo o Brasil, nas
diversas áreas de conhecimento, foram submetidos à mais criteriosa análise
em relação à sua produção de conhecimento, extroversão, formação e
inovação científica. Há 40 anos, havia perspectiva de desenvolvimento da
pós-graduação no Brasil diferente da que existe hoje. O país já ganhou
Teoria e contexto
respeito no exterior na área da produção científica, afirmou o presidente
da CAPES Jorge Guimarães durante a sessão que apresentou estes dados
ao MEC. “O Brasil está em 13º lugar no ranking da produção científica
mundial. A expectativa é alcançar a 9ª ou a 10ª posição nos próximos
anos”1. Na comparação entre a avaliação trienal de 2010 e a anterior, 19%
Teoria e contexto
às redes de fomento, como as Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais
– FAPESP, FAPERJ, FAPEMIG etc. –, instituições federais – CNPQ,
CAPES, MINC, FUNARTE etc. – ou editais desenvolvidos por empresas
particulares a partir de leis de incentivo fiscal, bem como a contratação
de um conservador/restaurador com perfil de pesquisador e produtor de
Teoria e contexto
pelos sistemas de conhecimento, pelas instâncias normativas e pelos fóruns
institucionais.
Quantos conservadores/restauradores efetivamente expõem em espaços
de extroversão – congressos, simpósios, seminários – os resultados das
pesquisas e das práticas desenvolvidas em ateliês e laboratórios? Quantos
Teoria e contexto
uma ação integrada entre pesquisadores de diversas áreas. Nesse sistema,
a interdisciplinaridade promove a excelência em todos os níveis, tanto
no estudo dos bens culturais e sua contextualização cultural extraindo
dele, portanto, as informações necessárias à sua compreensão, quanto em
relação à sua integridade física a partir de intervenções subsidiadas por um
Teoria e contexto
e Restauração – da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA, ou
por cursos no exterior; hoje há mais de setenta pesquisadores cadastrados
na Plataforma Lattes do CNPq atuando no campo da preservação com
formação em diversas áreas, incluindo Antropologia, Arqueologia,
Arquitetura, Arquivologia, Artes Visuais, Educação, Etnologia, Engenharia,
Teoria e contexto
Histórico e Cultural implantado em 2010 pela UFMG, também responde
pela demanda de formação especializada instaurada na última década,
junto com os cursos de Especialização em Patrimônio Arqueológico da
Amazônia da UFPA (2010), Especialização em Patrimônio Cultural em
Centros Urbanos da UFRGS (2003) e o Programa de Especialização em
Teoria e contexto
em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, aberta em 2007,
como por meio do Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de
Belas Artes já citado. As pesquisas de iniciação científica, TCC, mestrado
e doutorado desdobram-se nos campos de estudo voltados à Conservação
Preventiva, História da Arte Técnica, Análise Científica de Bens Culturais,
Teoria e contexto
faz perguntas. Se não houver desenvolvimento tecnológico no país capaz
de abrir um leque amplo de indagações que instiguem a comunidade
científica, as perguntas acabam ficando por conta de cada pesquisador,
que passa a estudar aquilo que sua curiosidade individual determina. Bem,
esse problema só pode ser resolvido com o estabelecimento de fóruns
Teoria e contexto
de pesquisa nacionais são fundamentais, inclusive para a projeção dessas
instituições e sua capacidade de captar recursos junto ao CNPq, à CAPES
e às Fundações Estaduais de Pesquisa. Periódicos, jornais científicos e
revistas indexadas, preferencialmente bilíngues, também são fundamentais
para a visibilidade de pesquisa dos programas de pós-graduação, centros
Teoria e contexto
Hoje, no CNPq, Museologia e Arqueologia ampliaram sua ingerência
e, dessa forma, o reconhecimento científico. Com isso, o incentivo aos
programas de pós-graduação, aos periódicos indexados, ao auxílio e ao
fomento de pesquisa – traduzidos no aparelhamento de laboratório e no
atendimento da demanda das pesquisas – imprimem qualidade e excelência
Considerações finais
Não basta apenas o reconhecimento profissional, cujos esforços
empreendidos nos últimos dez anos são reconhecidamente louváveis, é
indispensável o reconhecimento da área como espaço de produção de
conhecimento e projeção científica. É imprescindível compreender que
o início do século XXI proporcionou as bases para uma nova relação do
conservador/restaurador. Nesse contexto, outras instâncias de legitimação
são forjadas:
• a constituição de um corpo de profissionais qualificados, em diversos
níveis, cada vez mais numeroso e diferenciado: a formação;
• o fortalecimento das instâncias de homologação, difusão e congregação
da área – as associações de representação -, pautada por práticas
legitimadas – eventos e publicações;
• a constituição de uma área de atuação mais extensa, socialmente
diversificado, capaz de proporcionar aos pesquisadores não apenas
as condições mínimas de atuação, mas construindo um princípio de
legitimação.
Teoria e contexto
à nossa área.
__________
Notas
1. Disponível em : http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-noticias/4074-qualidade-
dos-cursos-de-mestrado-e-doutorado-evolui-entre-2007-e-2010. Acesso em: Agosto/2010.
Referências
Teoria e contexto
ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO CAPES. Qualidade dos cursos de mestrado e doutorado
evolui entre 2007 e 2010. Disponível em : http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-
noticias/4074-qualidade-dos-cursos-de-mestrado-e-doutorado-evolui-entre-2007-e-2010. Acesso em:
Agosto/2010.
DE DECCA, Edgar S.. Memória e cidadania. In: O Direito à Memória: patrimônio histórico e
cidadania. São Paulo: SMC/DPH, 1992, 129-136.
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patrimônio histórico e cidadania. São Paulo: SMC/DPH, 1992, 29-36.
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PÉREZ CUÉLLAR, Javiér (org.). Nossa diversidade criadora. Campinas: Papirus/UNESCO, 1997.
Teoria e contexto
Marcus Granato
Guadalupe do Nascimento Campos
MAST - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Abstract
Material cultural heritage has a limited time of existence. One of the goals of conservation, designed to
prolong the physical integrity of this heritage, involves devising prevention and intervention strategies. These
strategies should be firmly rooted in theory. In this work the theoretical principles of conservation are
analyzed in broad terms, as are the prevailing approaches adopted at different times, from the 19th century
to the present day. The article also focuses on the specific challenges of conserving scientific collections, which
are variously caused by the virtual absence of qualified professionals in the area, the growing number of
objects acquired for collections and the very nature of the collections themselves.
Introdução
As coleções patrimoniais são a base sobre a qual os museus constroem e 22
reforçam o seu papel social e a identidade cultural. Permitem redescobrir os
povos, as migrações, os movimentos e as idéias que criaram e deram forma
às sociedades e às civilizações. Registram e preservam as suas criações
estéticas e científicas e fornecem bases para novos desenvolvimentos.
Inspiram um sentimento de pertencimento e compreensão mútuas entre
todos os habitantes de um grupo ou país, fornecendo instrumentos para
entender o passado e as transformações sociais. O desafio consiste em
preservar esses conjuntos patrimoniais, de modo a transmitir o passado,
enriquecer o presente e construir o futuro.
Teoria e contexto
É importante esclarecer que, como apresentado por Beatriz M. Kuhl:
“na concepção contemporânea alargada sobre os bens culturais, a tutela
não mais se restringe apenas às “grandes obras de arte”, como ocorria
no passado, mas se volta também às obras “modestas” que com o tempo
assumiram significação cultural.”(2006)
Teoria e contexto
para análise da realidade, além da ampliação do acesso público à cultura
e à arte. O nacionalismo exalta o valor dos monumentos nacionais como
símbolos de identidade, o romantismo consagra o artista como indivíduo
especial e exalta a beleza das ruínas e, como resultado, as artes e os artistas
têm um reconhecimento especial.
Teoria e contexto
restauração - “Restaurar um edifício não significa repará-lo, reconstruí-lo
ou mantê-lo. Significa restabelecê-lo no seu estado mais completo, que
pode até nunca ter existido” (2000, p. 17).
Para Viollet-le-Duc, o estado mais perfeito da conservação é o estado
original, o uso e o desgaste o deformavam. Para ele, o estado original não
Teoria e contexto
Para tentar minimizar essas discussões, muitas instituições se debruçaram
na tentativa de normalização de procedimentos básicos, que geraram as
chamadas “Cartas”, documentos normativos que resultam do acordo
entre especialistas e conservadores profissionais. Em 1931, a Conferência
Internacional de Atenas normatiza tais critérios, dividindo o restauro
A Teoria de Brandi
Em 1964, durante um congresso em Veneza, os princípios do Restauro
Científico voltam a prevalecer, sendo ampliados e revistos na Carta
Italiana de Restauro de 1972, por Cesare Brandi. Para Brandi, deve-se
“mirar o restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, quanto
seja possível, sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem
cancelar os traços da passagem do tempo”.
Nascido em Siena, Brandi foi professor universitário, crítico de arte e 26
musicólogo, assim como primeiro diretor do Istituto Centrale di Restauro,
a primeira instituição desse tipo, fundada em Roma em 1939 (PRICE e
colaboradores, 1996). Brandi produziu o primeiro sistema de pensamento
completo e orgânico na área de restauração. A sua teoria do restauro é
inspirada pela filosofia de Benedetto Croce; do historicismo derivou um
conceito fundamental que continua plenamente válido: o caráter transiente,
parcial e relativo de qualquer restauração, mesmo a mais habilidosa, por
ser sempre marcada pelo clima cultural no qual é realizada.
Teoria e contexto
Brandi dividia os objetos, em relação à restauração, em dois grupos; os
produtos industriais e as obras de arte. Em relação ao primeiro grupo
sua teoria é restrita; nela o propósito fundamental da restauração seria
restabelecer as propriedades funcionais do produto. Consequentemente,
a natureza da restauração estaria exclusivamente ligada à realização desse
Teoria e contexto
que o tempo é reversível ou que a história poderia ser eliminada. Além
disso, o ato da restauração, a fim de respeitar a natureza histórica complexa
da obra de arte, não poderia se desenvolver de forma reservada ou
desconectada do tempo. Deveria ser enfatizada como um evento histórico
real, desde que seria uma ação humana, e faria parte do processo pelo qual
Teoria e contexto
história”.
No decorrer do século XX, algumas teorias e concepções sobre a
conservação coexistiram. A partir de meados desse século, a visão
estética coexistiu com outra contribuição significativa para a conservação,
a chamada “Nova Conservação Científica”, que foi mais uma atitude
Teoria e contexto
Viñas propõe uma teoria contemporânea da conservação onde o interesse
primário está nos sujeitos e não mais nos objetos. A objetividade na
conservação, fundamento da abordagem científica prevalente a partir do
final do século XX, seria substituída por uma forma de subjetivismo.
Nessa “teoria contemporânea” a noção de verdade é substituída
Teoria e contexto
diferentes pontos de vista, o mais poderoso prevalece. Nesses casos, deve-
se ter ética na negociação e no diálogo, com a finalidade de se obter um
equilíbrio, para harmonizar um maior número de opiniões, contentando
mais pessoas.
Do ponto de vista ético, Viñas diz que “uma boa restauração é a que
Teoria e contexto
científicos, em contrapartida, tornam-se obsoletos cada vez mais rápido
e o desaparecimento do seu conteúdo documental pode constituir a
perda de uma parte intrínseca do conhecimento. A noção de conservação
aparece como uma primeira etapa necessária a garantir a salvaguarda
desses instrumentos de caráter histórico.
32
Teoria e contexto
instrumentos incorporam o vidro, a madeira, o marfim e couros diversos.
Cada um desses materiais exige um tratamento específico. As condições
de apresentação e de organização devem se ajustar às exigências de
conservação, muitas vezes contraditórias para os metais e outros materiais
com os quais vêm combinados.
Teoria e contexto
observamos aqui uma característica de nossa civilização que se reflete
também em outras faces, como a enorme produção de imagens virtuais
com a popularização do uso das câmeras digitais - a espiral de produção
e de consumo rápido que interfere diretamente com a preservação de
artefatos para as futuras gerações.
Considerações Finais
O embasamento teórico para a atividade de conservação de bens culturais
é fundamental para seu melhor exercício prático. No entanto, nas últimas
décadas, percebe-se pouca discussão e reflexão sobre o tema. Por outro
lado, o investimento nas pesquisas e em pessoal, para o desenvolvimento de
ensaios e análises que permitam conhecer mais os processos de degradação,
os constituintes dos bens a serem conservados e o desenvolvimento de
novos produtos para a conservação, é cada vez maior. A tal ponto, que
muitas vezes parece que a atividade de conservação consiste apenas em
processos objetivos de decisão e escolha. O que não é correto. Todo
processo de conservação inclui também decisões subjetivas, das quais o
conservador não pode escapar, e sobre as quais tem responsabilidade.
Cabe tentar decidir da melhor maneira possível, de preferência articulando
vários atores nesse processo decisório.
No caso dos objetos científicos, a sua preservação relaciona-se com a 34
memória científica de um país. Esses objetos têm especificidades, são
constituídos de diferentes materiais, o que torna complexa a execução de
procedimentos de conservação. A ausência de profissionais capacitados
também é um fator limitador. Mas questões teóricas importantes também
se colocam para esse tipo de acervo.
No Brasil, está em desenvolvimento um projeto que realiza um
levantamento nacional dos conjuntos de objetos que fazem parte do
patrimônio científico e tecnológico.5 O projeto se justifica, em primeiro
Teoria e contexto
lugar, pelo valor documental e histórico desse patrimônio; em segundo
lugar, por quase nada desse tema ser estudado no país; e em terceiro lugar,
por estar muito ameaçado, necessitando ser descoberto e preservado. Em
relação aos levantamentos, já foi publicado, recentemente, um texto com
resultados iniciais (GRANATO, 2009), mas estudos posteriores mostram
___________
Notas
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1. Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), Rua General Bruce 586, São Cristóvão, Rio
de Janeiro, RJ; marcus@mast.br. Formado em engenharia metalúrgica e de materiais pela UFRJ
(1980), Mestre (1993) e Doutor (2003) em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação da Escola
de Engenharia Metalúrgica (COPPE/UFRJ), sendo sua tese sobre Restauração de Instrumentos
Científicos Históricos. É Coordenador de Museologia no MAST e, a partir de 2006, torna-se professor
do Mestrado em Museologia e Patrimônio (UNIRIO/MAST), onde atua como vice-coordenador. A
partir de 2009, assume a coordenação do Curso de Especialização em Preservação de Acervos do
C&T, do MAST. Atualmente é Coordenador de Museologia do MAST, pesquisador 1D do CNPq e
líder de grupo de pesquisa na área de Preservação de Bens Culturais.
2. Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), Rua General Bruce 586, São Cristóvão, Rio de
Janeiro, RJ; guadalupecampos@mast.br. Possui Graduação em Museologia pela Universidade do
Rio de Janeiro (1996), Mestrado (2001) e doutorado (2005) em Ciência dos Materiais e Engenharia
Teoria e contexto
Metalúrgica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Consultora em Arqueologia
Histórica para a Fundação Roberto Marinho e o Banco Central. Atualmente desenvolve pesquisas a
nível de pós-doutorado no MAST sobre a conservação de artefatos arqueológicos metálicos.
3. John Ruskin, Biographical Materials. The Victorian Web: literature, history, culture in the age of
Victoria. National University of Singapore. Disponível em http://www.victorianweb.org/authors/
ruskin/ruskinov.html. Último acesso em 05/04/2010.
Referências
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n.2, p.105-120, 1987.
GRANATO, Marcus. Apresentação. In: GRANATO, Marcus; SANTOS, Claudia Penha dos;
ROCHA, Claudia Regina A. da. Conservação de Acervos. Rio de Janeiro: MAST, Série MAST
Colloquia, v.9, p.5-14, 2007.
MARCONI, Paolo. Dal piccolo al grande restauro: Colore, struttura, architettura, Venesia: Marsilio
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Teoria e contexto
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THOMSOM, Garry. The Museum environment. 2.ed. London : Butterworth, 1988. 193p.
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VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoría Contemporánea de la Restauracion. Madrid: Editora Sintesis, 2003.
VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel. Restauração. Coleção Artes & Ofícios. Cotia (SP): Ateliê
Editorial, 2000.
37
Conhecimento científico e restauração:
entre análise e método
Teoria e contexto
Marilene Corrêa Maia
EBA-Universidade Federal de Minas Gerais
Resumé
Dans ce texte il a été question de mettre en évidence la participation du savoir scientifique para la
consevation-restauration du patrimoine. La science, dans ces différentes spécialités, est utilisée en vue
du perfectionnement des compétences ainsi que des possibilités d’actuation du conservateur-restaurateur.
Les principes scientifiques sont aujourd’hui présents au quotidien dans les travaux de conservation et de
restauration de biens culturels au-delà d’avoir apporté des innovation technologique a ce domaine.
Môts-clês: Restauration, science, méthode, analyse scientifique, conservation, préservation du patrimoine
Introdução
Ao longo do século XX, o ofício de restaurar adquiriu expressiva
complexidade. Para além das reflexões teórico-conceituais acerca dos
processos de intervenção e da definição de princípios éticos, o conhecimento 38
científico transformou-se em base fundamental e estruturante das ações
de conservadores-restauradores.
Perspectiva histórica
Originalmente o ofício de restaurador sempre esteve associado ao
fazer artístico. Obras de arte sofriam intervenções mais propriamente
Teoria e contexto
denominadas como reparos ou consertos. No caso de pinturas de cavalete,
era comum a prática de reenvernizamentos sucessivos para reavivar suas
cores e prepará-las para serem apresentadas a públicos seletos. Não era
raro que artistas de renome praticassem intervenções em obras de arte. A
restauração era, portanto, uma atividade técnica, de caráter artesanal.
Teoria e contexto
decisões do restaurador. Para o arquiteto, a análise prévia da edificação,
o levantamento e a identificação das modificações por ela sofridas ao
longo do tempo deveriam ser uma condição imperativa para que fosse
definido o modo de intervenção. Em que pesem as críticas ao seu trabalho
por demais intervencionista, com a seleção de um determinado estilo em
Teoria e contexto
a processos de restauração. É o caso dos laboratórios de museus como
os da National Gallery de Londres ou de Nova York, do Smithsonian’s
Museum Conservation Institute nos Estado Unidos, para citar apenas
alguns exemplos.
Participam desse processo, em igual medida, as instituições de caráter
Teoria e contexto
intervenções de restauração.
No que diz respeito a uma estruturação do trabalho quotidiano do
conservador-restaurador, a apropriação de princípios científicos contribuiu
para a organização metodológica de suas intervenções. O conjunto de
estudos preliminares, constituídos por exames técnicos e científicos,
Teoria e contexto
devem estar a serviço do estudo da obra, constituindo-se em suporte
à tomada de decisões, assim como à definição de procedimentos de
intervenção em bens culturais.
Teoria e contexto
indústria cultural
Willi de Barros Gonçalves
Doutorando PPGA-EBA-UFMG
Luiz Antônio Cruz Souza (Orientador)
Abstract
This article argues as the Architecture contemporary of museums inserts the logic of the cultural industry.
It presents a description of the evolution of the museums, explaining the origins of the contemporaries
questions related to this subject. It detaches as the modern ruptures still sustain the vision of current world
and analyze as the construction of museums if it became an excellent aspect of the urban development. It
finishes discoursing on possible ways to be covered for the Museum studies in séc. XXI.
Key words: cultural heritage, conservation theories, architecture, museums
Introdução
No início do século XXI a museologia encontra-se em um contexto
de transformação e hibridação. Mudanças significativas acontecem
na velocidade em que os bits percorrem incontáveis redes: de fios, de
terminais, de satélites, corporativas, relacionais, neurais, conceituais,
virtuais. Na Idade da mídia, a multidimensionalidade anunciada pela teoria 44
da relatividade deixou o campo das discussões entre os físicos teóricos
para incorporar-se ao cotidiano. O espaço-tempo contemporâneo está
comprimido.
No centro dessas mudanças a Arquitetura se coloca ao mesmo tempo como
objeto e mediador simbólico das mutações sociais, econômicas, políticas:
urbanas. A cidade do século XXI é simultaneamente fato e produto. A
compreensão do fenômeno urbano não prescinde do prisma da cultura,
na acepção antropológica que o termo assume contemporaneamente.
Contudo, essa mesma é muito mais produto do que fato em sua face de
Teoria e contexto
indústria. A sociedade do espetáculo – termo cunhado por Debord (1997)
– instrumentaliza essas esferas com perversos mecanismos de reificação,
exclusão e controle social.
A que se propõem as instituições museais em uma época em que os limites
entre o real e o simulacro tendem à invisibilidade? Que lugar poderá
Teoria e contexto
Calliope (poesia épica - tabuleta ou pergaminho e uma pena para escrita);
Urania (astronomia – globo celestial e compasso); Melpomene (tragédia
– máscara trágica, grinalda e clava) e finalmente Clio, a musa da história
representada com um pergaminho parcialmente aberto.
O museion, na tradição clássica, era mais destinado a discussões filosóficas
Teoria e contexto
dedicada; no rigor com que se aplica a “geometria sagrada” e até mesmo
na forma como as sombras se movimentam ao longo do dia. Os templos
gregos são lugares de onde se observa a natureza, o mundo e o tempo.
As conexões entre espaço e cultura, centrais na conformação da
paisagem urbana contemporânea, são estruturais para a reflexão sobre
Teoria e contexto
sendo formados a partir da iniciativa privada e gerenciados pelo aeditus,
um conservador/inventarista nomeado pelo patronus daquela coleção
específica”, função provavelmente derivada do sacerdote que restaurava
as oferendas guardadas no áditon grego.
Teoria e contexto
atual Museu do Vaticano, que abria uma vez por semana ao
público com o intuito de divulgar a superioridade da arte
ocidental”. (FRONER, 2001, p. 4)
Teoria e contexto
arte contemporâneas do Renascimento são examinadas à luz dos tratados
que teorizam acerca do belo. E finalmente, colecionam-se instrumentos
científicos, principalmente aqueles ligados á Astronomia, pela sua
vinculação com as navegações.
Françoise Choay (2006) aborda o tema da conservação iconográfica que
Teoria e contexto
A dessacralização e desencantamento do mundo inaugurados com as
Navegações avançam em termos de ruptura entre sujeito e objeto –
entre o novo e o antigo, com grande progresso das ciências naturais.
Nesse período surgem os primeiros catálogos de leilões demonstrando
a existência de um público suficientemente numeroso interessado em
Teoria e contexto
‘outro’. O resultado dessa atividade é precisamente a constituição de um
patrimônio”.
Os gabinetes de curiosidade e os estúdios de leitura preservaram a noção
do áditon, e dos primeiros museus renascentistas, por um viés excludente,
deixando ao público uma atitude contemplativa e não participante.
Teoria e contexto
vista do edifício vigore a Arquitetura Neoclássica, o espaço museológico
se mostra diversificado, com exposições cobrindo desde a antiguidade à
contemporaneidade. Em termos arquitetônicos e urbanísticos a vanguarda
nesse período é marcada pelas Exposições Universais, e pela Arquitetura
do ferro e do vidro, materiais construtivos que expressam o triunfo da
Teoria e contexto
substituídos por dois: o do vivo (orgânico) e do não vivo
(inorgânico), e a História Natural dá lugar à Biologia. Assim
é que a ordenação e a classificação dos objetos passam a
adotar um sistema artificial, desvinculado das árvores do
conhecimento, e cuja finalidade é guardar e recuperar.
(LARA FILHO 2006, p.52)
Teoria e contexto
a ser colocados num estado de sono ativo pelo walkman,
o museu aplica a brutal tática da superlotação que, por
sua vez, resulta na invisibilidade daquilo que se foi ver.
A aceleração também está presente (...) no marketing das
mostras estampado em camisetas, posters, cartões de natal
e reproduções preciosas. (HUYSSEN, 1994, p.44)
Teoria e contexto
do papel da visão como fonte de orientação e interpretação
rápida dos fluxos e das criaturas, humanas e mecânicas,
pululando ao redor – irão provocar uma profunda mudança
na sensibilidade e nas formas de percepção sensorial das
populações metropolitanas. A supervalorização do olhar,
logo acentuada e intensificada pela difusão das técnicas
publicitárias, incidiria, sobretudo, no refinamento da
Teoria e contexto
ser confundida com a reivindicação dos anos 60 pela
democratização da cultura. Nem tampouco deveria ser
vilipendiada. A censura à velha indústria cultural, hoje
dirigida aos velhos guardiões da alta cultura, não contesta
apenas a fascinação pelas novas e espetaculares exposições.
Ela também esconde a estratificação e heterogeneidade
inerentes ao interesse do público e às práticas de exposição.
Teoria e contexto
de experiência cultural sintomática do nosso tempo, que
reflete o processo de aceleração do nosso amplo meio e
que conta com níveis mais avançados de instrução visual.
Seria plausível sugerir que a epifania modernista altamente
individualizada se tornou um fenômeno publicamente
organizado da cultura pós-moderna do evanescimento?
E mais, será que o modernismo invadiu o cotidiano ao
Teoria e contexto
a concepção de que o museu é um “lugar de entretenimento”, entre o
parque de diversões e o shopping center. Na home page do Museu de
Arte de Milwaukee, há um link informando as regras para a realização
de casamentos nas dependências do museu, e informando o mobiliário
disponibilizado. Por proceder de maneira semelhante, o nome do Museu
Teoria e contexto
manutenção e criação dos espaços públicos – quer sejam
espaços urbanos abertos, quer sejam espaços programáticos
edificados, como os museus – desloca a ação planejadora e
executora do poder público para uma ação normatizadora
e legisladora, que se estende do uso do solo até a
produção cultural. O espaço público (de praças a museus)
nasce por essa via, projetado e gestado por corporações
Teoria e contexto
reprodução do capital é transferida à produção, cada vez
mais a produção imagética, e aos “objetos”, imagens que
parasitam matérias em intervalos de tempo calculados.
(JAMESON apud SPERLING, 2005, p. 3,)
Essa busca a qualquer custo por uma imagem contemporânea, por vezes
justifica ações governamentais que resultam na completa destruição
Teoria e contexto
dimensão, quer na assinatura) para eventos culturais. Como
aplicação financeira que coaduna investimento imobiliário
e produção do imaginário, a arquitetura é duplamente eficaz
quanto aos rendimentos que reciprocamente se produzem:
valorização das áreas urbanas do entorno e valoração da
produção cultural. (SPERLING, 2005, p. 4)
Teoria e contexto
2.3. Novas funções para os museus no século XXI
A superação das condições levantadas no item anterior coloca, para
a museologia e a Arquitetura de museus do século XXI, o desafio de
redimensionar a própria experiência museal, possibilitando, pela mediação
tecnológica, novas formas de percepção, visibilidades e uma apropriação
Teoria e contexto
entre o centro e a periferia das cidades, na medida em que normalmente
as áreas escolhidas para receberem os investimentos são aquelas que já
dispõem de infra-estrutura implantada. Transformadas em balcões, as
cidades disputam as fichas na roleta financeira e as hordas de turistas que
circulam pelo mundo.
Considerações finais
No contexto de mediação tecnológica, uma questão relevante é a
digitalização dos acervos e a preservação dos novos suportes digitais,
o que coloca o foco nos problemas de interface, enquanto que para a
museologia e a preservação tradicionais, o foco recai sobre os objetos. A
própria estruturação da hiper-mídia e do hiper-texto está mais próxima
dos mapas e vínculos em redes neurais que construímos para interpretar
a realidade, constituindo um avanço na representação dos processos da
consciência e da imaginação. Nesta fronteira difusa entre materialidade e
virtualidade caminhará a museologia do século XXI.
A arquitetura contemporânea de museus, ação indutora
e representação sensível, tem cumprido muito bem
sua parte na questão central para a estética idealista, a
associação de uma beleza – espetacularizada e normativa
- ao desenvolvimento progressivo da história. Para Tafuri, 64
a perda de força crítica da arquitetura marca o final de sua
missão; a promessa de resolução dos problemas da cidade
é substituída pela promessa de resolução das questões de
mercado. E, como aponta Arantes, o arquiteto urbanista
conscientemente convertido em ‘urban imagineer’, tem se
tornado um dos operadores-chave dessa máquina, reunindo
num só personagem o manager (o planejador-empreendedor
identificado por Peter Hall) e o ‘intermediário cultural’.
(SPERLING, 2005, p. 6)
Para quem frui a Arquitetura somente pelo sentido da visão, os museus
contemporâneos espetaculares são cenários para fotos memoráveis,
símbolos da vanguarda, talvez. No entanto, para a população que
Teoria e contexto
ambiciona espaços de afirmação, participação e apropriação cultural, eles
não dizem muito, ou não dizem tudo o que poderiam.
Teoria e contexto
outubro de 2007.
ROCHA, C. P. V. . Um “museu vivo”: espetáculo e reencantamento pela técnica. Em Questão
(UFRGS), v. 13, p. 259-270, 2007.
RUBIM, Antônio Albino Canelas. Dilemas para uma política cultural na contemporaneidade. In:
LEITÃO, Cláudia (org.) Gestão cultural: significados e dilemas na contemporaneidade. Fortaleza,
Banco do Nordeste, 2003.
66
A Contribuição da Ciência e Tecnologia à
Teoria da Conservação
Teoria e contexto
André Luiz Guedes Martins
Mestrando PPGA-EBA-UFMG
Luiz Antônio Cruz Souza (Orientador)
Abstract
This article attempts to reflect about the philosophical basis concerning to build a flexible managerial action
that allow the scientific and technical contribution to conservation. The model pursues to settle a critical
action among all the practitioners, just as historians, art historians, archaeologists, architects and physicals,
chemists and engineers
Key words: Science, Technology, Philosophy, Conservation, Management
Introdução
A Carta de Veneza, divulgada em 1964, estabelece que a conservação e
o restauro dos monumentos devem recorrer a todas as ciências e a todas
as técnicas que possam contribuir para o estudo e para a salvaguarda do
patrimônio cultural. A admissão de profissionais da área de conhecimento 67
científico traz um importante questionamento filosófico acerca do modelo
gerencial desejável e eficaz para a contribuição das ciências, buscando
estabelecer clima propício para abordagem de temas e interação cognitiva
sinergética de todos os profissionais envolvidos no novo desenho constitutivo
da conservação. Tal é a proposta deste artigo que busca referência teórica
em fontes filosóficas variadas e divergentes, porém sólidas e consistentes.
Estratégias contemporâneas
Teoria e contexto
A Carta Internacional sobre a Conservação e o Restauro dos Monumentos
e dos Sítios, conhecida como Carta de Veneza, divulgada em 1964 e
adotada pelo ICOMOS em 1965 defende que os monumentos históricos
de gerações passadas devem permanecer como testemunha viva de suas
antigas tradições e como patrimônio comum a ser salvaguardado na
Teoria e contexto
auxiliar. (FELLER em WHITMORE, 2002, p. 620)
Teoria e contexto
a diversidade de conhecimentos. Quanto à colaboração da tecnologia,
independentemente de seu viés capitalista, deve-se considerar sua
contribuição, desde que não seja tomada como mandatória de pensamento
e ação reducionista.
Ainda resta a questão de análise e compreensão da representação científica
Teoria e contexto
contribuições científicas e tecnológicas ao campo da conservação é
mister para todos os profissionais de áreas de conhecimento que se
tornem afim à atividade em questão, desde os colaboradores mais antigos,
como historiadores, historiadores da arte, arqueólogos e arquitetos até
aqueles ulteriormente chegados, como físicos, químicos e engenheiros.
Teoria e contexto
benefícios pudessem vir. E note que antes usou-se a palavra auxílio;
agora, esperança. Não há garantia de que fazendo-se tudo pelo caminho
científico, necessariamente serão feitas da melhor maneira.” (FELLER em
WHITMORE, 2002, p. 621)
A admissão da ciência à conservação exige o reconhecimento de um modelo
A ciência deve assim tomar consciência de seu papel que não é outro
senão aquele de fazer-se integrante da história e em especial de reconhecer
a história da arte, em sua autonomia de relações objetivas com outros
campi de conhecimento, no passado, presente e futuro. Deve-se aproximar
a ciência e também seu aparato tecnológico, mesmo conhecendo sua
origem capitalista, do princípio filosófico genuíno.
Pode-se agora retornar a Hegel, citando os seguintes trechos: 72
Bem sabemos que a ciência parte do sensível individual
e pode possuir uma idéia do modo como este particular
existe diretamente com a sua cor, sua forma, sua grandeza
individuais, etc. Mas este sensível particular não tem
qualquer relação com o espírito, porque a inteligência
procura o universal, a lei, a idéia, o conceito do objeto e,
em vez de o abandonar à sua individualidade imediata,
sujeita-o a uma transformação íntima no termo da qual o
que era um sensível concreto aparece como um abstrato,
como uma coisa pensada, totalmente diversa do objeto
enquanto sensível. Tal é a diferença que separa arte e
Teoria e contexto
ciência. (HEGEL, 1996, p.57)
Teoria e contexto
da existência que são desprezadas em prol da assimilação de uma massa
de conhecimentos genéricos e superficiais. Assim, o sopro originário
de libertação dos velhos ídolos acaba por transformar-se na repetição
do mesmo e velho modo de negação do mundo. A mesma debilidade
encontra na ciência sua nova justificação.” Continuando, “denuncia os
Teoria e contexto
certamente um repositório original de idéias, na tentativa de esclarecer
e dar consistência às elucidações aqui propostas. Em Ética a Nicômaco,
afirma o filósofo:
Sendo a virtude, como vimos, de dois tipos, nomeadamente,
intelectual e moral, a intelectual é majoritariamente tanto
Teoria e contexto
portanto, adaptável aos estímulos do mundo moderno: um
habitus como trajetória, mediação do passado e do presente;
habitus como história sendo feita; habitus como expressão de
uma identidade social em construção. (Setton, 2002, p. 67)
Considerações Finais 76
A admissão de profissionais da área de conhecimento científico traz um
importante debate filosófico acerca do modelo gerencial desejável e eficaz
para a contribuição das ciências, buscando estabelecer ação sinergética
com os profissionais originais da área.
É necessário atentar ao conceito de habitus, defendido por Pierre Bourdieu,
que apresenta uma alternativa ao sentido histórico antagônico sujeito-
objeto e também ao conceito estruturalista, buscando a visão criativa e
Teoria e contexto
participativa do agente. Este pensamento conduz a elaboração primorosa
de coincidência do indivíduo e sua subjetividade ao social e coletivo
instituído, ou seja, é o reconhecimento do conjunto percepção-ação que é
praticado dialeticamente, conforme as condições estimulantes dos vários
campi envolvidos.
Teoria e contexto
poder e responsabilidade, com a evidência de valores vivenciados e de
comunicação intensiva.
O modelo concebido reflete a filosofia de valorização do indivíduo e
da sociedade, adotando-se os limites da crítica dialética como recurso
arbitral, que, mesmo assim, é incapaz de deter as atitudes e procedimentos
___________
Referências
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Edson Bini. 2ª. ed. São Paulo: Edipro, 2007.319 p.
HEGEL, G. W. F. Curso de estética: o belo na arte. Tradução de Orlando Vitorino e Álvaro Ribeiro.
São Paulo: Martins Fontes, 1996. 666 p.
SENRA, Flávio. Ética e conhecimento científico. VI Simpósio do ICH PUC Minas, setembro de 2008.
SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do habitus em Pierre Bourdieu: uma leitura
contemporânea. Revista Brasileira de Educação, número 20, p.60 – 69, mai - ago 2002.
Teoria e contexto
patrimônio cultural
Ana Paula Silva
Doutoranda PPGCI-ECI-UFMG
Alcenir Soares dos Reis (Orientadora)
Abstract
The history of the knowledge not if of the one of linear form, it advances in the measure where the
men produce knowledge they register and them. The knowledge production can be apprehended through
techniques and to know where it is possible to the man to visualize qualitatively and quantitatively the
production of scientific, through its publications and of its intellectual production. Through the analysis of
its literature its main characteristics from its corpus can be defined. This work has as objective to establish
for the area of cultural patrimony the use of the citation and content analysis, as a way to delimit the
theoretical referencial and to make possible the agreement of the term patrimony and its relations as other
fields to discipline.
Key words: patrimony, analysis citation, content analysis, knowledge.
Introdução
79
A história do conhecimento não se dá de forma linear, ela avança na medida
em que os homens produzem conhecimento e os registram em diferentes
registros; com o passar do tempo altera sua estrutura de produção e de
organização social. A produção de conhecimento pode ser apreendida
através de técnicas e de saberes em que é possível ao homem dimensionar
qualitativamente e quantitativamente a produção de conhecimentos,
através de suas publicações e de sua produção intelectual. Segundo, Rocha
e Deusadrá (2005),
Teoria e contexto
com efeito, a constituição de novos paradigmas científicos
impõe uma outra dinâmica, qualquer que seja o campo
de saber em que nos situemos. De modo geral, as
transformações sucessivas por que têm passado as ciências
demonstram irregularidades e rupturas, em vez de um
movimento contínuo e retilíneo. Sobretudo no que tange
Teoria e contexto
sua aplicação e utilidade da metodologia, uma vez que a oportunidade de
aplicar as técnicas de análise de conteúdo e análise de citação sobre este
tema proporciona determinar as categorias existentes dentro do campo
em discurso e também a dispersão e a produção do tema em diferentes
campos de conhecimento, neste caso sob a luz da ciência da conservação.
Análise do Conteúdo
Segundo Laurence Bardin análise de conteúdo é definida como,
conjunto de técnicas de análise das comunicações visando
obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
(quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/
recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN,
1977).
Teoria e contexto
relacionadas ao tema. A Constituição do Corpus é a tarefa que diz respeito
à constituição do universo estudado, sendo necessário respeitar alguns
critérios de validade qualitativa, como a exaustividade, a representatividade
e a homogeneidade. A formulação e reformulação de hipóteses ou
pressupostos se caracterizam por ser um processo de retomada da etapa
Análise da Citação
O conjunto de referências bibliográficas (citações) utilizadas na
elaboração de um documento mostra relacionamento de um documento
com outro, evidenciando “elos entre indivíduos, instituições e áreas de
pesquisa” (Rodrigues, apud, Noronha, 1998). Sua função é dar autoridade
e credibilidade para os fatos citados no texto, além de permitir aos 82
pesquisadores da área a oportunidade de conhecer trabalhos que tratam
do tema de seu interesse. Assim, a análise das citações de um trabalho
contribui para avaliar a informação coletada pelo tipo de literatura
utilizada, dirigir o leitor para outras fontes de informação sobre o assunto,
além de contribuir para o reconhecimento de um cientista em particular,
entre os pares.
Segundo LEAL (2005) as citações têm uma relação direta com as condições
de produção do trabalho científico, técnico ou artístico. Escolhem-se de
Teoria e contexto
maneira simbólica as passagens dos autores para ajudar:
• a refletir sobre a questão proposta;
• para legitimar o pensamento;
• para dar segurança em passagens polêmicas;
Materiais e Métodos
Foram selecionados previamente 5 artigos focalizando o tema: patrimônio
cultural. Além do assunto central também foi considerado textos que
representassem a relevância dos autores no assunto no Brasil, bem como
as relações estabelecidas com outros fatores que são inerentes, ou mesmo
complementares para a elaboração e o entendimento do conteúdo teórico
do patrimônio cultural como domínio do trabalho. Tais artigos deveriam 83
ser relevantes para a compreensão do tema. Os artigos selecionados foram:
1. LEITE, Rogério Proença. Patrimônio e consumo cultural em
cidades enobrecidas. Sociedade e cultura, V. 8, N. 2, JUL./DEZ.
2005, P. 79-89.
2. SANTOS, Maria Célia Teixeira M. . A preservação da memória
enquanto instrumento de cidadania. Cadernos de museologia
Nº 3 - 1994.
3. SMOLKA, Ana Luiza Bustamante. A memória em questão: uma
perspectiva histórico-cultural. Educação & Sociedade, ano
Teoria e contexto
XXI, nº 71, Julho/00.
4. NOGUEIRA, Antonio Gilberto Ramos. Inventário e patrimônio
cultural no Brasil. História, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 257-268,
2007.
5. PELEGRINI, Sandra C. A.. A gestão do patrimônio imaterial
brasileiro na contemporaneidade. História, São Paulo, 27 (2):
Teoria e contexto
14. Patrimônio cultural
15. Patrimônio histórico
16. Política cultural
17. Preservação
Teoria e contexto
são compreendidas e encontradas nos artigos e abordam os temas de
conceito de patrimônio cultural e as políticas públicas de preservação.
A tabela a seguir apresenta a relação dos termos com os artigos:
ARTIGOS
LEITE SANTOS SMOLKA NOGUEIRA PELEGRINI
Resultados
No que concernem as categorias e subcategorias apresentadas
apresentaremos as percepções de cada autor sobre as mesmas, apresentando
as semelhanças de análise e pontos discordantes.
A grande categoria patrimônio cultural, nos artigos selecionados, por
definição engloba as noções de memória e cultura. Nos cinco artigos
selecionados o conceito de memória advém da área da antropologia
cultural e da história, principalmente na nova histórica advogada por
Pierre Nora, tal concepção de memória associada ao patrimônio cultural
está presente nos textos, podemos fazer a interpretação desta leitura,
como o fato de que os autores dos artigos selecionados possuem a mesma
contextualização do conceito de patrimônio cultural.
Memória e cultura são assuntos guarda-chuva, pois são orientadoras dos 86
trabalhos voltados à cultura material cultural, linha teórica adotada após a
década de 1970 e refletida nos artigos selecionados.
SMOLKA, realiza uma leitura que difere dos outros autores, a autora
prioriza que o patrimônio cultural está inscrito na memória coletiva e neste
sentido a linguagem é um dos meios que propagam a noção de patrimônio.
Ela diz:
Os lugares topográficos como os arquivos, as bibliotecas,
os museus; lugares monumentais como os cemitérios ou
Teoria e contexto
as arquiteturas, lugares simbólicos como as comemorações,
as peregrinações, os aniversários ou os emblemas; lugares
funcionais como os manuais, as autobiografias ou as
associações: estes memoriais têm sua história. estes são
os lugares de externalização da memória, a memória
nas coisas, nas (manifest)ações coletivas. São muitos os
sentidos de memória, muitos os sentidos de lugares da
Teoria e contexto
como política pública. Entretanto, no que se refere aos objetos protegidos
pelo patrimônio cultural como produção material, podemos perceber
que todos os textos selecionados referem-se a estes materiais como bens
culturais tangíveis, com exceção do texto de Smolka, que trata além deste
conjunto de objetos, do patrimônio imaterial, ou seja, das manifestações
Teoria e contexto
conjunto de bens de natureza material e imaterial (tomados individualmente
ou em sua totalidade) portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Entre
tais bens se incluem: as formas de expressão; os modos de criar, fazer e
viver; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos,
Teoria e contexto
além dos cuidados relativos à estabilização física dos documentos, elas
referem-se ao acesso e a guarda dos objetos como forma de manter a
memória para a prosperidade.
A associação entre políticas públicas de patrimônio e preservação está
presente no texto de SANTOS Para a autora ao debater sobre esta
Teoria e contexto
assegurem tais ações. Para NOGUEIRA, apenas coma instalação do livro
de registros onde é possível elencar através dos inventários e dimensionar as
ações de preservação e formular políticas mais concretas.
Com exceção de SMOLKA, todos os textos relacionam políticas publicas
de patrimônio à preservação. Esta associação dá-se pelo reconhecimento de
Teoria e contexto
cultural. Sandra Pelegrini forma um grupo de estudos voltados para o
patrimônio cultural da UNICAMP, ela encabeça junto ao professor Pedro
Paulo Funari estudos sobre a arqueologia do Brasil. Mário de Andrade surge
em todos os textos, como foi um dos precursores do estudo do patrimônio
cultural e principal referência do patrimônio no Brasil.
Teoria e contexto
Ocorrência Citação Referência
Ano de
Titulo da Referência Ocorrência
Publicação
Produzindo o passado: estratégias de construção
1984 2
do patrimônio cultural
Tabela 5. Ocorrência-Citação-Referência
Teoria e contexto
Citação ano
Ano de Publicação Ocorrência
1996 13
1984 11
1995 11
1997 10
1987 8
Tabela 6 Citação-ano
Teoria e contexto
patrimonial, os maiores museus e as instituições normatizadores da
proteção ao patrimônio, como a UNESCO, ICROM e o ICOMOS.
O Brasil tem publicado várias obras no campo do patrimônio, seja de
autores brasileiros ou não, em especial os portugueses, principalmente a
Teoria e contexto
Considerações Finais
Ao realizar a aplicação das técnicas de análise de conteúdo e análise de
citação, foi possível criar uma categorização e visualizar as semelhanças de
conceitos entre os autores. O assunto patrimônio é diverso tanto quanto
os diferentes aspectos de cultura o qual pretende preservar. Entretanto,
Teoria e contexto
BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. 226p.
LEAL, Igor Campos. Análise de citações da produção científica de uma comunidade: a construção de
uma ferramenta e sua aplicação em um acervo de teses e dissertação do PPGCI-UFMG / 2005 - Belo
Horizonte: UFMG. Dissertação de mestrado.
LEITE, Rogério Proença. Patrimônio e consumo cultural em cidades enobrecidas. Sociedade e
cultura, v. 8, n. 2, JUL./DEZ. 2005, P. 79-89.
97
O que nos falta?
Tatiana Duarte Penna
Teoria e contexto
Mestranda PPGA-EBA-UFMG
Yacy-Ara Froner (Orientadora)
Resumo
Abstract
In the course of towards of new paradigms in the fields of the expanded arts, whith the insertion of new
concepts, assumptons and models, wich way, the path of conservation/restauracion should propose itself to
follow? The constuction process is now part of the work of art it self, how to deal with this records? How
to preserv then?Wich would be the best way to preserv this memorys so we can guarntee theye transmission
to the future generation? In this new contemporary dynamics, the preservation paradigma also need to be
modified, expaner, discussed around this web of social actors involved in the preservation of memory.
Key-words: educacion and politics; Science and epistemology
Introdução
Teoria e contexto
fundamentados em princípios coesos e sólidos, estabeleceram diretrizes e
normas que se acumularam durante o decorrer do tempo e permaneceram
sendo utilizadas e seguidas até hoje por nós, restauradores. Porém, diante
de uma realidade em que o reconhecimento da função do conservador-
restaurador ainda é incipiente, ficariam surpresos.
Teoria e contexto
FRONER, 2001, p.88).
Em meados do século XIX, duas vertentes surgem em relação à prática da
conservação-restauração. Eugenne Viollet Le Duc, arquiteto-restaurador,
faz largo uso de reconstituições, com o objetivo de alcançar o estilo
original. Para tanto, se parte do monumento tivesse que ser sacrificado,
Teoria e contexto
Em 1931, a Carta de Atenas estabelece diretrizes para a preservação do
patrimônio, sendo um marco no conceito moderno de patrimônio cultural.
Essa carta, baseada no trabalho de Gustavo Giovannoni (1873-1943),
arquiteto-urbanista italiano, apresenta princípios relativos à restauração e à
conservação de sítios e monumentos.
Teoria e contexto
O SEPHAN – Serviço do Patrimônio Artístico Nacional- foi criado em
1937, tendo como diretor o jornalista, escritor e historiador Rodrigo Mello
Franco de Andrade. No início de 1947, Edson Motta, pintor, fundador do
Núcleo Bernadelli- núcleo que reunia artistas tais como Milton Dacosta e José
Pancetti-, vai aperfeiçoar seus estudos sobre técnicas de pintura na Europa.
Teoria e contexto
marasmo, agravado com a saída e Rodrigo Mello Franco de Andrade do
SEPHAN. Em 1970, cria-se, na Fundação de Artes de Ouro Preto, o
primeiro curso regular para a formação de restauradores, ministrado por
Jair Inácio. Sem exigência de formação anterior, o curso funcionava como
um ateliê, em que, a partir de um ano ou pouco mais, o aluno podia ser
Teoria e contexto
Dois anos após a criação do CECOR, cria-se o curso de especialização
em conservação e restauração de bens móveis, com professores vindos do
exterior, um currículo estruturado, exigência de conhecimentos básicos,
carga horária extensa e um laboratório já equipado. Em 2008 foi criado o
primeiro curso de graduação em conservação e restauração no Brasil, com
Teoria e contexto
As informações e registros relativos a processos de restauração e
conservação desenvolvidos no Brasil deixam a desejar. Pesquisas são
feitas, novas tecnologia utilizadas, mas e o acesso a elas? O conhecimento
não deve ficar restrito a um grupo pequeno de profissionais. Precisa ser
expandido, divulgado, discutido, registrado para que um número maior de
___________
Notas
I - Com relação ao artigo de Orlando Ramos Filho, não fica muito claro como estas
restaurações eram realizadas, quais critérios eram utilizados, inclusive na escolha de bens a
serem restaurados. Seria necessário realizar um estudo mais aprofundado uma vez que os
registros eram feitos sem uma sistematização, para que tais questões fossem esclarecidas.
II - “O que Edson Motta fez a vida inteira foi trabalhar em benefício dos valores culturais
do país, seja como pintor de muita sensibilidades e raro apuro técnico, alheio a falsos
modismos, seja como ardoroso defensor da permanência de obras alheias. A humildade 105
do restaurador, de formação científica exemplar casava-se nele com a chama do artista.
Mas esta foi, muitas vezes impedida de exercitar-se porque Edson Motta consumia o seu
tempo na ressureição da arte dos outros. Um estilo de recuperação de obras de arte foi
implantado no Brasil por esse homem discreto, probo, que só deixa saudades. Manter-se
criador, sem egoísmo, antes dedicando-se aos outros, do passado como do presente –
quantos serão capazes de realizar esse destino da maior simplicidade e pureza?”
ANDRADE, Carlos Drummond de ( Texto introdutório) .In: Motta, Edson, O pintor
Edson Motta , Rio de janeiro, MNBA , 1982. P3
Referências
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas . São Paulo: Perspectiva.1974
Teoria e contexto
BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. Cotia , São Paulo; Atelie Editorial, 2004.
CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio Cultural – Conceitos , Políticas , Instrumentos. São Paulo:
Editora ANNABLUME . BH , 2009.
PHILIPPOT, Paul. Restoration fron the perspective of the humanites. In: PRICE, Stanley . Historical
and Philosophcal Issues in the Conservation of Cultural Heritage. Los Angeles, 1996.
RAMOS FILHO, Orlando . Restauração de Bens Móveis e Integrados: 40 anos. Revista do Patrimônio
Artístico Nacional , n°22, 1987.
RIEGL,Alois. The modern clt of monuments. Its essence and its development. In: PRICE, Nicholas
Stanley . Historical and Philosophical Issue in the Conservation of Cutural Heritage. Los Angeles,
1996.
MORRIS, William .Restoration and anti-restauration – Manifesto of the Society for the Potection of
Anciet Building . Historical and Philosophical Issues in the Conservation of Cultural Heritage , Los
Angeles, 1996.
106
O antipolítico e as políticas de preservação no
Brasil
Teoria e contexto
Mariana Sousa Bracarense
Mestranda PPGH - FAFICH-UFMG
Resumo
O presente trabalho aborda as elaborações e utilizações do conceito de memória por Mário
de Andrade entre as décadas de 1920 e 1930. Para isso, foram utilizadas como fonte as
Abstract
This work paper discusses the elaboration and use of the concept of memory by Mário de Andrade in
the decades between 1920 and 1930. For that were used as sources the letters exchanged between Mário
and partners who occupied a prominent place in the brazilian intellectual universe during the period. The
modernist poet, during his career, from a key part of the movement started in the 20’s, to an intellectual
absorbed by the political system established in the 30’s, formulated and reworked the concept that permeated
throughout his trajectory.
Key words: memory, modernism, Mário de Andrade.
Teoria e contexto
viajar pelo Brasil para o desenvolvimento de estudos etnográficos. Os
roteiros de viagem, iniciados em Minas Gerais, tiveram o sentido de
incorporar as diversas regiões ao projeto nacional modernista, procurava-
se estabelecer a unidade nacional através da cultura. É o conceito de
desgeografização sintetizado em Macunaíma. Na representação do
Teoria e contexto
servir, partilhar conhecimento (ANDRADE, 2001).
Teoria e contexto
de inspiração para a arte nacional moderna. Essa primeira iniciativa relativa
à tentativa de Mário de criar uma tipologia histórica da arte colonial
manifesta seu interesse pela memória nacional.
No ano de 1924, organizou-se a viagem da caravana paulista, composta por
Mário de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e seu filho,
Teoria e contexto
companheiros modernistas estavam pensando e fazendo naquele tempo.
Com o poeta desenvolveu uma amizade sincera e devota através das
cartas, mesmo antes de se virem pessoalmente. De 1922 a 1935, Manuel
foi fiel correspondente de Mário, aparentemente o único a conhecer seus
pensamentos mais íntimos. Mário dava inclusive notícias de sua máquina
Teoria e contexto
Bandeira, em fevereiro de 1923, comenta:
tendo perdido tantas coisas no carnaval, não perdi a máquina
fotográfica, antes cinematográfica do subconsciente. Aqui
estou na vida cotidiana. Pois não é que ontem começaram
a se revelar as fotografias e fotografias dentro de mim!
Teoria e contexto
da paisagem mineira, a solução de igreja que o Aleijadinho
inventou e me diga! É extraordinário (...). Aquilo é mesmo
a maior das maravilhas da escultura brasileira e se fosse na
Europa, não vê que o Aleijadinho havia de estar assim sem
já um dilúvio de monografias sobre! (ANDRADE, 2000).
Teoria e contexto
e Artístico Nacional – SPHAN. Capanema buscava colocar-se acima
de disputas partidárias e, assim, foi o responsável pela participação
instrumentalizadora de Carlos Drummond de Andrade, seu chefe de
gabinete, Cândido Portinari, Manuel Bandeira, Heitor Villa Lobos, Cecília
Meireles, Lúcio Costa, Vinícius de Morais, Afonso Arinos de Melo Franco,
Teoria e contexto
de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo. A aceitação manteve
a perspectiva de sistematizar o credo modernista, porém as cartas dos
últimos anos apresentam um intelectual cético em relação aos antigos
companheiros e angustiado pela política autoritária do Estado Novo. Seu
engajamento foi, portanto, marcado pela aflição e reação à idéia de que
Teoria e contexto
a luta por grandes causas políticas. Em 1942, ao fazer um balanço sobre
o movimento modernista, Mário chegou a afirmar “Não me vejo uma só
vez pegar a máscara do tempo e esbofeteá-la como ela merece. Quando
muito lhe fiz de longe umas caretas. Mas isto, a mim, não me satisfaz”
(ANDRADE, 1974).
Teoria e contexto
ANDRADE, Mário de. A arte religiosa no Brasil. São Paulo: Experimento, 1993.
_ ____. Cartas de Mário de Andrade a Prudente de Moraes Neto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1985.
_____. Correspondência Mário de Andrade & Manuel Bandeira. São Paulo: EDUSP-IEB, 2000.
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Teoria e contexto
deondológica do profissional voltado à
acervos em papel
Resumo
Este artigo pretende analisar o perfil histórico e conceitual do profissional atuante na
conservação e restauração de acervos em papel no âmbito brasileiro. Para tanto, faz-se a
contextualização histórica da conservação e restauração de acervos no Brasil, investigando
origens, influências históricas, sociais e culturais. Na perspectiva de análise de Pierre
Bourdieu, enfoca o conservador-restaurador como “ator social”, bem como a maneira com
que as práticas e narrativas preservacionistas são construídas, legitimadas e apropriadas
pelos agentes e instituições sociais.
Palavras-chave: História da Conservação, Epistemologia, Conservador-Restaurador,
Papel, Documentos Gráficos
Abstract
This paper analyses the historical and conceptual profile of the professional whose work involves conservating
and restoring paper collection in Brazil. With this end in view, a historical contextualization of conservation
and restoration of collection in Brazil is presented seeking out the origins and the historical, social and
cultural influences. From the perspective of Pierre Bourdieu’s analysis it focuses on the conservator-restorer
as a “social actor” as well as the way by which preservationist practices and narratives are constructed,
legitimized and appropriated by the social institutions and agents.
Keywords: History of Conservation, Epistemology, Conservator-Restorer, Paper, Graphic Documents.
Teoria e contexto
que trabalham ou em que pesquisam - em suas distintas temporalidades
– ainda não pôde ser constatado no âmbito preservacionista ou no meio
acadêmico. Nesse sentido, como bem assinalou Beatriz Kühl em seus
estudos sobre história e ética da conservação, as ações cotidianas de
conservação e restauração, compelidas por razões de cunho pragmático,
Teoria e contexto
por regras próprias3. O conceito de habitus propõe identificar a mediação
entre o indivíduo e sociedade. Habitus é, então, “uma forma de disposição
à determinada prática de grupo ou classe, ou seja, é a interiorização de
estruturas objetivas das suas condições de classe ou grupos que gera
estratégias, respostas ou proposições objetivas para a resolução de
Teoria e contexto
raros6. No ano de 1853, o restaurador do Museu do Prado, Vicente Poleró
y Toledo, publica a obra “Arte da Restauração’, na qual defende o conceito
de que “la restauraciòn és hermana cariñosa de la pintura” e, neste sentido,
o artista-restaurador deveria ter, além dos dotes artísticos como o domínio
do desenho e da mistura de cores, “perseverança e força de vontade”,
Teoria e contexto
visitar”8. Depreende-se que o “Restaurador de quadros e Conservador da
Pinacoteca” trabalhava com uma extensa variedade de acervo, inclusive
com papéis, considerando-se que além de pinturas e painéis havia também
desenhos, gravuras e demais técnicas em suporte de papel que integravam
o acervo da pinacoteca9.
Teoria e contexto
relação mestre e aluno, as atividades de conservação e restauração estavam
presentes no bojo da instituição, integrando-se, assim, à formação dos
alunos.
Nos documentos analisados, observa-se para que a ocupação do cargo de
“Conservador da pinacoteca”, era mister a formação artística, a condição
Teoria e contexto
pelo conservador”16.
Ao longo da Primeira República, verificamos práticas realizadas no interior
da AIBA que exemplificam que os profissionais ainda trabalham sob a
égide do conceito de “Arte de Restaurar”. Desse modo, encontramos num
relatório datado em 1919, dirigido ao Diretor da ENBA no Rio de Janeiro
Teoria e contexto
(...)”, além da aplicação de inseticidas à documentação contaminada, sendo
seu salário correspondente a um terço do que era pago aos arquivistas. O
relatório do Arquivo Nacional de 1934 faz menção aos “nossos operários
da Oficina deste Arquivo” indicados que são para a prática de serviços
de conservação de documentos. Conforme analisou Adriana Cox Hollós
Teoria e contexto
Pintura, Escultura e Manuscritos”, subordinada à Divisão de Conservação
e Restauração - DCR27. Deve-se notar, nesse momento, que a restauração
de papel encontra-se incluída sob a denominação de “manuscritos” e
podemos depreender, também, que a restauração de obras de arte em
suporte de papel estaria, provavelmente, inserida sob a denominação
Teoria e contexto
Em 1973, o cargo de “Conservador do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional’’, juntamente outros cargos do Ministério da Educação e Cultura,
é transformado em “Técnico em Assuntos Culturais”31. Em 1973, dá-se
o nome de “Setor de Conservação e Restauração de Pinturas, Esculturas,
Manuscritos e Códices do IPHAN”.32 Tais nomenclaturas indicam a
Teoria e contexto
recebem um tipo de formação muito específica, na qual
habilidade manual é fator absoluto para a execução de sua
tarefa, sem falar na vocação inata. A obturação de falhas
numa gravura e eventuais compensações é um trabalho que
exige grande sensibilidade, agudo senso crítico e destreza
Teoria e contexto
funcionamento, além do total de 100 profissionais atuantes nos referidos
laboratórios.
Na década de 1990, marcam-se mudanças de paradigmas conceituais
motivadas pelo despertar da conservação preventiva35. É nesse contexto
que as ações da preservação documental pautam-se, notadamente,
Teoria e contexto
voltada para o bem cultural deteriorado. Em razão da carência de
mão-de-obra especializada, o contexto brasileiro delineou a atuação um
profissional de natureza múltipla, ou seja, esperou-se a sua performance,
simultaneamente, em três grandes áreas da memória cultural expressa no
suporte de papel: acervo bibliográfico, documental e obras de arte em
Teoria e contexto
que, ao longo das últimas décadas, por meio de um ensino informal,
acabaram por oferecer treinamentos práticos, estágios supervisionados
e cursos de curta duração com vistas a suplantar a evidente lacuna
educacional. Todavia, a área apresenta ainda aspectos muito vulneráveis no
campo da formação profissional, o que possibilita o desenvolvimento de
132
___________
Notas
1 KÜHL, Beatriz Mugayar. História e Ética na Conservação de Monumentos Históricos. In:
Revista do Patrimônio Cultural. USP: São Paulo, v.1, n.1, pp. 16-40, nov. 2005/abr.206, p.17.
2 CHARTIER, Roger. Por uma sociologia histórica das práticas culturais. In: A História Cultural
– entre práticas e representações, Lisboa:DIFEL, 1990. p.14.
3 SETTON, Maria da Graça Jacintho. A teoria do “habitus” em Pierre Bourdieu: uma leitura
Teoria e contexto
contemporânea. São Paulo: USP, 2002, p. 64.
4 AZEVEDO, Mário Luiz Neves de. Espaço Social, Campo Social, Habitus e Conceito de Classe
social em Pierre Bourdieu. São Paulo, 2003, p. 1.
5 BOURDIEU, Pierre. La noblesse d`Etat. Grandes écoles et esprit de corps. Paris: Les editions
de Minuit, 1989 apud AZEVEDO, Mário Luiz de. Espaço Social, Campo Social, Habitus e
Conceito de Classe Social em Pierre Bourdieu, p. 2.
8 Decreto nº. 1603 de 14 de maio de 1855 – Da novos Estatutos à Academia das Belas Artes.
10 Documento nº. 866 do Arquivo do Museu D. João VI, Escola de Belas Artes da UFRJ.
12 Idem
13 Documento n.º. 860 do Arquivo do Museu D. João VI - Escola de Belas Artes da UFRJ.
14 Documento nº. 4268 do Arquivo do Museu D. João VI - Escola de Belas Artes da UFRJ.
18 Arquivo Noronha Santos – IPHAN. Série Centro de Restauração de Bens Culturais. Caixa 04,
pasta 05, envelope 04.
20 BARROSO, Gustavo. Introdução à Técnica de Museus. Vol. I, Gráfica Olímpia: Rio de Janeiro,
133
1946. pp. 13-14.
22 Aberto ao público em 1895, o Fogg Art Museum é o mais antigo museu da Universidade
de Harvard, em Cambridge, Massachusets. O “The Center for Conservation and Technical
Studies” foi criado em 1928 por Edward W. Forbes, então diretor do Fogg Museum e é
considerado o mais antigo centro de conservação, pesquisa e treinamento dos EUA.
Teoria e contexto
24 Arquivo Noronha Santos – IPHAN, Série Centro de Restauração de Bens Culturais, Caixa 11,
Pasta 03.
26 Lei Nº. 3780 – de 12 de julho de 1960. Dispõe sobre a Classificação de Cargos do Serviço Civil
do poder Executivo, D.O.U. 12/07/1960.
29 Arquivo Noronha Santos - IPHAN, Série: Centro de Restauração de Bens Culturais – SPHAN,
Caixa 58, Pasta 48, Documento de 05/02/1968.
30 Arquivo Noronha Santos – IPHAN, Série: Centro de Restauração de Bens Culturais – SPHAN,
Caixa 58, Pasta 48, Documento de 05/02/1968.
32 Arquivo Noronha Santos – IPHAN, Série Centro de Restauração de Bens Culturais, Módulo
36, Caixa 36, Pasta 2.
36 Pelo alcance dos resultados obtidos o Projeto CPBA recebeu, em 1998, o Prêmio Rodrigo
Melo Franco de Andrade.
Teoria e contexto
Flavio de Lemos Carsalade,
NPGAU-EA-Universidade Federal de Minas Gerais
RESUMO
O artigo discorre sobre as questões epistemológicas da preservação sob a luz da
ABSTRACT:
The article discuss about epistemological issues on preservation in function of the phenomenological ap-
proach in order to exam the pertinence of the principles of the actual heritage preservation theory in the
fields of culture (cultural stability), history (historical objectivism) and arts (artistic immanence) in order
to discuss its validity in issues on preservation and restoration of the built heritage.
Key words: Conservation and restoration. Cultural Heritage. Preservation.
Introdução
O surgimento da chamada “disciplina do restauro” se situa historicamente
no final do século XIX, início do século XX, portanto bastante
contaminada pelo pensamento positivista. Influenciadas pelo espírito
da época, as bases mais comuns para a abordagem do problema se
relacionariam, então, prioritariamente ou com questões estéticas ou com
uma tentativa de aplicação de um método científico. Nos seus primórdios,
se excetuarmos a presença crítica de Ruskin (Inglaterra, 1819-1900),
todo o resto da evolução inicial do restauro parece se dirigir por uma
matriz objetiva, característica da época. Mesmo o idealismo esteticista de 136
Viollet-le-Duc (França, 1814-1879) é marcado por uma forte concepção
“científica” baseada em uma suposta unidade estilística, resultante da
compilação iluminista, enciclopedista e sistematizada que permitia a
compreensão do modus faciendi de cada forma de expressão artística. Os
que o sucederam, conforme consta na literatura correlata à história do
restauro (exceção para o austríaco Alois Riegl, 1858-1905), mantiveram a
preocupação de abordar o restauro como ciência, com a mesma e forte
influência positivista. Foi assim com os italianos Camillo Boito (1836-
1914) e Gustavo Giovannoni (1873-1943) que procuraram superar a
Teoria e contexto
preocupação estética de Le-Duc e, influenciados pelo pensamento de
Ruskin, resgataram a importância da história marcando a “ciência” do
restauro com as duas instâncias que até hoje lhe delineiam os eixos, em
grande parte das abordagens: a estética e a histórica. Nessas abordagens,
a instância estética, marcada pelo restauro estilístico da vertente francesa
Teoria e contexto
centrada, portanto, nas características formais e físicas da obra e ele nos
mostra que, quando isso ocorre, não se trata de preservar, mas de uma
simples recomposição da obra, mesmo porque a sua preservação como
obra e a sua transmissão no tempo não é possível por métodos científicos.
A preservação é uma co-criação que se faz a partir da própria obra.
Teoria e contexto
1975, p. 75).
Conforme vimos, é esse o caráter histórico da obra e por isso ela precisa
da história e da preservação: pela historicidade do ser poder se exercer,
pela possibilidade de criar o objeto que o ser frui em diferentes tempos e
por permitir que a verdade que funda se transmita através dos tempos em
Assim, para Heidegger, a arte está na história e a história está na arte. A arte
está na história porque se preserva através dos tempos e, como história,
também se transforma. E a história está na arte porque esta permite a
abertura do tempo para que ela se torne presente. Para a fenomenologia,
portanto, não há uma instância histórica e uma instância artística como
entes separados a serem preservados distintamente. Preservar um significa
preservar o outro e ambos precisam ser preservados para que possam
acontecer no presente.
Teoria e contexto
conceitos interligados, não são exatamente ações associadas e nem sempre
complementares, pois restaurar significa intervir em um bem, ao passo
que preservar significaria apenas, a princípio, a sua transmissão através
do tempo. A interligação biunívoca entre as práticas de preservação e
restauração, portanto, só teriam sentido se para a transmissão do bem - e
Conservação e Restauração
A idéia de preservação como é concebida pelo senso comum se liga à
possibilidade de conservação do bem na sua capacidade plena ou com
a mínima deterioração possível, o que nos remete, é claro, quase que
intuitivamente, a vários níveis de ações preservativas, onde a restauração
Teoria e contexto
seria apenas uma delas. No limite, a melhor forma de preservação seria
aquela similar à conservação do papel, ou seja, com uma espécie de
redoma sobre o bem, a qual o protegeria de qualquer intempérie ou ação
do tempo. É claro que essa situação limite também impediria a sua fruição
e, portanto a sua presentificação, função maior do patrimônio. O paradoxo
Teoria e contexto
no caso de pinturas murais, onde se trabalha diretamente sobre o reboco.
Para Viñas, o que diferenciaria conservação de restauração seria o critério
de perceptibilidade da intervenção:
[...] A palavra conservação é empregada para referir-se à parte
do trabalho de Restauração que não aspira a introduzir
Teoria e contexto
fosse duplamente validado pela ciência e pela Arquitetura. Essa solução
parecia resolver também a problemática colocada por Ruskin e parecia
apontar inquestionavelmente para a conservação, entendendo Boito que
seria sempre melhor consolidar que reparar e depois reparar que restaurar,
a não ser que o seu novo uso, enfim (?), demandasse a restauração. Mas,
Teoria e contexto
de permanência e de não intervenção sem critério e nem uma displiscente
substituição – reprodução de matéria”. (BARDESCHI, 2000, p. 101).
Dessa forma apresentados, os conceitos de conservação e restauração
não são sequer complementares, conforme o desejo e a suposta prática
de grande parte dos restauradores contemporâneos, expressos como
Teoria e contexto
formal, desconhecendo envolventes da memória e da cultura.
Pelo que examinamos até aqui, parece-nos que duas direções de visão
têm tido influência decisiva na História do restauro, a partir das distinções
entre instância histórica e instância artística, imagem e matéria. A primeira
direção aponta para três paradigmas, quais sejam o objetivismo histórico (a
Teoria e contexto
como se também ele não fosse sujeito a manipulações e desvios e sobre
os quais só temos acesso a certas partes de sua própria história. Assim,
temos que a prática tem muitas vezes colocado a sua atenção mais no objeto
de estudo e esquecido do sujeito que o estuda, como se a “verdade” ou
“autenticidade” de um documento ou de um patrimônio não dependesse
Teoria e contexto
outro lado, isso não significa que a cultura seja imutável e que a identidade
seja fixa. Estamos submetidos a processos de transformação de crença e
valores tanto como indivíduos, quanto como grupos e uma análise, ainda
que breve, sobre as transformações culturais mostraria como um mesmo
povo em diferentes épocas valoriza ou vê de forma diferente o mesmo
Teoria e contexto
tempo depende da sua capacidade de manter essa propriedade. Tanto o
edifício quanto a cidade e a paisagem estão em constante transformação,
diferentemente de um quadro ou uma escultura.
Teoria e contexto
do texto”, ou seja, quando tentamos entender o bem patrimonial não
como ele se apresenta hoje a nós, mas como ele era e se portava no
contexto onde ele nasceu. Este é o perigo que conduz ao embalsamento
e a mumificação do bem e que também conduz a sua apropriação
excessivamente setorial (geralmente pela indústria do turismo) e que,
Teoria e contexto
e histórica não se dá a partir de uma congenialidade, nem a partir de algo
que seria imanente ou transcendente ao próprio objeto, nem ainda sobre o
esforço analítico, mas sim à consciência da filiação da obra a nosso mundo.
Ao mudar a cultura, transformam-se os valores e transformam-se, também,
é claro, as atitudes quanto ao patrimônio. Assim, parece que o que se preserva,
Teoria e contexto
poderia ser acessado por uma suposta congenialidade, esta também
impossível;
● A intervenção apenas na matéria, sem com isso intervir na dimensão
imaterial;
___________
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História da Arte Técnica e Arqueometria: uma
contribuição no processo de autenticação de
Teoria e contexto
obras de arte
Alessandra Rosado
Doutoranda PPGA-EBA-UFMG
Luiz Antônio Cruz Souza (Orientador)
Abstract
This article aims at studying the role of natural sciences (physics and chemistry) in the study of art
produced between 19th - 21th centuries, focusing on the role of these sciences in the process of rendering
works of art authentic.The methodology used in this paper was the analysis of bibliography published in
the field of conservation and restoration of Cultural Heritage, related to the practises of Art History
and Sciences in the study of works of art.It can be noticed that two new interdisciplinary areas for human
and natural sciences have been constituted: Technical Art History and Archaeometry, essential tools in the
study of rendering works of art authentic.
Key Words: authenticity of Works of art, interdisciplinarity, Technical Art History, Archaeometry.
153
Introdução
A avaliação de objetos artísticos para averiguar uma provável atribuição
autoral era feita quase que exclusivamente por connaisseur ou peritos com
formação em História e/ou História da Arte, através basicamente da
análise dos aspectos formais, estilísticos e dos dados documentais sobre
a obra.
A introdução de exames científicos como ferramentas analíticas,
para o estudo de obras de arte, a partir do século XIX intensifica-se
Teoria e contexto
consideravelmente nos séculos XX e XXI, sendo um novo tipo de
avaliação de objetos artísticos através de uma metodologia interdisciplinar,
envolvendo o emprego da conservação preventiva, da restauração, da
Ciência da Conservação e da História da Arte. Essa abordagem contribuiu
para a composição dos campos de estudo denominados de Arqueometria
Objeto da pesquisa
Define-se como objeto da pesquisa o estudo relacionado ao
desenvolvimento da metodologia sobre preservação e análises de obras de
arte produzida pelos cientistas e historiadores da arte ocidentais entre os
anos de 1850 a 2005.
Articulada ao processo de análise científica de obras de arte, a partir do
século XIX. Tal metodologia integra o conjunto de cinco importantes
práticas que orientaram a produção de novas bases de atuação das ciências
da conservação e humanas no contexto de autenticação de obras de arte.
São elas:
- introdução de laboratórios de análise científica e conservação em
instituições museológicas;
- traduções de manuais técnicos artísticos antigos;
- submissão das obras de arte a exames científicos para identificação
dos materiais e técnicas empregados na feitura da obra;
- trabalhos realizados em parceria entre cientistas, historiadores da arte
e connaisseurs no estudo de pinturas de grandes mestres;
154
- estabelecimento de princípios norteadores da relação entre as
ciências puras e humanas, dados os pressupostos fundamentados na
arqueometria e história da arte técnica.
Através da análise dessas práticas procura-se identificar, a partir da temática
da autenticação de obras de arte, os pontos de contato entre a produção
de uma estrutura fortemente vinculada à História da Arte e a consolidação
de uma prática interdisciplinar afinada com as diretrizes da Arqueometria
Teoria e contexto
e História da Arte Técnica.
Na identificação de tais pontos de contato, os termos conservação
preventiva, análise de materiais e técnicas artísticas, atribuição, datação
e investimento financeiro afirmam-se como elementos moduladores da
relação que se procura produzir entre historiadores da arte, museólogos,
Teoria e contexto
obras de arte vinculada à práxis da Ciência da Conservação e História da
Arte através do contexto ocidental e, a partir da segunda metade do século
XIX, procura-se consolidar o diálogo entre as ciências da conservação
e humanas para uma análise criteriosa e interdisciplinar do patrimônio
cultural artístico.
Teoria e contexto
alunos era muito comum também nas escolas de Belas Artes do século
XIX e início do século XX.
Como então reconhecer uma falsificação? A resposta a essa pergunta
tornou-se um tema de pesquisa dos historiadores da arte e da ciência da
conservação ao longo dos anos.
Teoria e contexto
de ser considerado como um método infalível ou universal, pois todo o
método de autenticação de obra de arte que utiliza apenas uma disciplina
isolada para analisá-la esta fadada a cometer enganos.
As datações e atribuições baseadas exclusivamente em fatos estilísticos
Teoria e contexto
de história da arte de determinados objetos de arte começa a despertar,
ainda timidamente, após a descoberta do raio X pelo cientista W.C.
Roentgen, que em 1895 tenta fazer a primeira radiografia de uma pintura
(GILARDONI, 1977).
Teoria e contexto
artísticas originais (AINSWORTH, 2005).
Nesse mesmo período, surgiram também traduções de manuais artísticos
antigos como “O livro da Arte” contendo a descrição de materiais e
métodos empregados no fazer artístico, escrito no século XV por Cennino
Cennini, na Itália (MOTTA, 1976).
Teoria e contexto
exibições intitulada de Art in the Making, com o objetivo de apresentar
a públicos leigos e especializados os resultados das pesquisas técnicas
empreendidas pela Galeria.
A primeira exposição de uma série empreendida nesse projeto da National
Gallery foi sobre a obra de Rembrandt, organizada por um comitê
Teoria e contexto
de materiais e técnicas empregadas na construção da obra analisada.
Algumas dessas análises são solicitadas por colecionadores ou instituições
que buscam a confirmação de uma autoria, devido principalmente a
processos judiciais movidos pelo Ministério Público (quando se trata de
obras suspeitas de pertencerem ao patrimônio cultural público), ou então
Teoria e contexto
Técnica e Arqueometria.
Essas áreas interagem entre si tão intensivamente que difícil de distinguir
uma da outra, pois ambas envolvem estudos do patrimônio cultural
artístico com o objetivo de entender para que ele foi feito, por quem
foi feito, onde foi feito e como foi feito (CHIARI e LEONA, 2005).
Considerações Finais
Ao longo desse trabalho, destacou-se o processo de inserção das ciências
naturais nas analises de obras de arte, a partir de um viés particular:
autenticação de obras de arte. Essa temática tomada nos termos dos
vínculos estabelecidos entre ciências humanas e ciências naturais
possibilitou o avanço de algumas considerações sobre o processo de
atuação dessas áreas em trabalhos relacionados a arte e cultura como o
esforço de constituição de um campo de atuação interdisciplinar.
Notadamente a partir da década de 1970 – quando a questão do uso das
ciências naturais foi admitida como importante ferramenta no processo de 163
renovação nos estudos de arte – esse olhar interdisciplinar dimensionou
os parâmetros norteadores dos campos de atuação da arqueometria e
história da arte técnica.
Considera-se que os resultados dessa pesquisa sobre os aspectos
metodológicos utilizados pelos historiadores da arte como de cientistas nos
processos de autenticação de obras de arte, precisam ser mais aprofundados
– uma vez que só puderam ser abordados em sua generalidade. Esta
tarefa de aprofundamento torna-se necessária principalmente para o
Teoria e contexto
entendimento dos processos de autenticação de obras de arte no contexto
brasileiro.
II - Inauguração do museu de Napoleão em Paris no ano de 1803; em 1823 o Museu do Prado à base
das coleções da Casa Real na Espanha; em 1838 a Galeria Nacional e em 1857 o Victoria and Albert
Museum ambos em Londres; e 1888 o Museu de Berlim, Alemanha (PERUZINI, 1994).
III - BRUYN (1979), alerta que discussões sobre a definição da autenticação da obra de um artista
baseado apenas no estudo geral do seu estilo não são suficientes, pois são julgamentos subjetivos que
podem resultar em interpretações diversas e conseqüentemente gerarem diferentes atribuições para
uma mesma pintura. De acordo com BRUYN (1979) e SCHWARTZ (1998), para haver um melhor
entendimento sobre a atribuição de autoria é necessário ampliar o campo de pesquisa utilizando como
apoio novas técnicas científicas analíticas aplicadas pelos cientistas da conservação em seus trabalhos.
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166
Museus: conceitos e reflexões
Ana Cecília Rocha Veiga
Teoria e contexto
Doutorando PPGA-EBA-UFMG
Yacy-Ara Froner (Orientadora)
Resumo
Abstract
Since its inception, with its genesis in Greek mythology, the museums have changed dramatically, now
constituting an institution of great importance because it’s didactic and social functions. So in this article,
we unravel the history and evolution of the term museum, aiming to understand what this institution has to
be nowadays. We will pass by the creation of the main museum organizations such as ICOM and ICBS,
as well as their related concepts, Museology and Museography. We finish our proposal with an analysis
of the contributions of modern philosophy for achieving a New Museology, based on the dialog and on the
interdisciplinarity.
Key-Words: museum, museology, concept, interdisciplinarity.
Teoria e contexto
“turistas” em peregrinação artística, facilitando a apreciação das obras
inspiradas pelas Musas nos templos. O historiador Heródoto reforça esta
teoria, informando que nos principais templos das cidades famosas (Atenas,
Delfos, etc) os gregos disponibilizavam para contemplação pública suas
relíquias artísticas. No século V a.C., os Propileos da Acrópole de Atenas
Colecionismo
Não obstantes as origens do termo, a gênesis dos museus pode ser encontrada
no ato de colecionar, tão antigo quanto à própria existência humana e
quanto à noção de propriedade particular. Se a terminologia da palavra
museu se ampara na reunião de saberes, também tem sua procedência
vinculada à reunião de objetos, ou seja, o “colecionismo”. “Entendemos
por ‘colección’ aquel conjunto de objetos que, mantenido temporal o
permanentemente fuera de la actividad económica, se encuentra sujeto a
una protección especial con la finalidad de ser expuesto a la mirada de los
hombres.” (HERNÁNDEZ, 1998, p.13) A autora destaca quatro razões
principais para o fenômeno: o respeito ao passado e às coisas antigas, o
instinto de propriedade, o verdadeiro amor à arte e o colecionismo puro.
Faraós, reis, imperadores e papas da antiguidade amealhavam objetos
de ouro, prata, bronze e outros materiais preciosos, que se prestavam
à manifestação do seu poder e prestígio social. A historiografia e a
literatura mundiais estão pontilhadas com inúmeros exemplos. Na Ilíada
de HOMERO, lemos as riquezas em Hila acumuladas, o ouro e cobre 168
variamente obrado, o prélio por reaver Helena e seus tesouros, ainda que
fossem inferiores à vida da consorte por Páris arrebatada. Nas histórias
do Rei Salomão e na tumba de Tutancâmon, tesouros célebres acendem
nossa imaginação sobre tudo que se perdeu, com base no pouco que
chegou até nós. BAZIN denomina as tumbas repletas de tesouros egípcios
como verdadeiros museus funerários. No Palácio de Nabucodonosor
reunia-se uma grande coleção, oriunda de espólios de guerra, denominada
“Gabinete de Maravilhas da Humanidade”. (FERNÁNDEZ, 1993,
p.52) GUARNIERI descreve que “a primeira atividade sistemática de
Teoria e contexto
organização de acervos tem origem na Caldéia, seis séculos antes de
Cristo, quando a princesa Bel Chalti Nannar reuniu e documentou, através
de registros, o tesouro contido no palácio de seu pai, composto por jóias
e artefatos.” (FRONER, 2001, p.48)
Idade Média
Apesar do florescimento greco-romano, após o arrasamento da Biblioteca
de Alexandria, nos primeiros séculos da Era Cristã, seguiram-se cerca de
um milênio de silêncio, marcado pela ausência dos museus no Ocidente,
tanto no seu sentido mitológico original, como neste novo contexto
Teoria e contexto
proposto em Alexandria. A queda do Império Romano colaborou para o
surgimento de novas culturas na Europa, impulsionando o colecionismo
litúrgico e a arte cristã. A igreja medieval seria praticamente o único local
onde as artes, em suas diferentes formas e manifestações, estariam ao
alcance do homem comum. “No final do século XII, o cardeal Giordano
Teoria e contexto
Amplamente divulgada e à mão copiada, as teses de Martinho permearam
toda a Alemanha, resultando em sua excomunhão e em uma longa história
que culminou, não na reforma da própria Igreja Católica, mas na facção
desta, surgindo assim as Igrejas Reformadas, ou protestantes históricas.
Em resposta, veio por parte da Igreja Católica a Contra-Reforma.
Teoria e contexto
coleções.
SUANO chama a atenção para o fato de que “os primeiros cinqüenta anos
do museu público europeu - considerando-se 1759, a abertura do Museu
Britânico, como ponto de partida – não foram seu período mais feliz e
fecundo.” (SUANO, 1986, p.35) O museu era visto como um repositório
Revolução Francesa
Se nos seus primórdios a Revolução Francesa (1789) propalou grande
destruição do patrimônio artístico e edificado da França, num segundo
momento reflexivo, estes objetos do “passado político” francês foram
preservados com o objetivo de se estudar a história. Com os bens do
clero, dos emigrados e da Coroa colocados por lei à disposição da nação,
urgia inventariar estes espólios, bem como elaborar regras de sua gestão e
novas destinações à herança patrimonial que se acumulava em depósitos.
Ao serem finalmente transferidos para espaços abertos ao público,
temos a consagração do museu. Imbuídos do espírito enciclopedista, os
museus tinham fins educativos, onde o civismo, a história, as artes seriam
nacionalmente divulgadas. As primeiras experiências malograram devido
à ausência de conhecimentos associados à nova matéria que insurgia,
medrando o Louvre (Foto 2), para onde convergiam as riquezas artísticas 173
sob a Revolução.
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Foto 2 – Museu do Louvre, Paris, França Fonte: da autora.
América do Norte
Ao redor do globo, inclusive no Novo Mundo, os museus também
proliferavam. Nos Estados Unidos, final do século XVIII, o Museu de
Salem - Sociedade Marítima das Índias Ocidentais, fundado em 1799 -
passou a integrar as coleções do Instituto Essex, que o adquiriu para ser
museu universitário de Harvard. Renomeado Peabody Museum, teve sua
fundação em 1866 por George Peabody. Trata-se de um dos museus mais
antigos do mundo devotado à antropologia, possuindo uma das coleções
mais abrangentes da arqueologia e etnologia norte americanas.
“Los museos americanos se diferencian de los europeos por su estructura
jurídica, por su forma de organización, por sus sistemas de financiación,
por el grade de inserción social y por la propria concepción ontológica
de museo.” (HERNÁNDEZ, 1998, p.31) Nas Américas, as sociedades,
resultado da convergência entre os interesses públicos e privados, até hoje
perduram, sendo responsáveis pela criação de diversos museus, escolas
e hospitais. Dentre suas notáveis contribuições, destaca-se o nascimento
174
daquele que seria o museu mais abrangente do ocidente em termos
histórico-temporais, bem como o museu mais importante das Américas –
O Metropolitan Museum (Foto 3). Fundado em 1870, consiste em um dos
maiores e mais refinados museus de arte do mundo.
Com mais de dois milhões de obras em seu acervo, cobrindo cerca de
cinco mil anos da cultura mundial, possui coleções de todas as partes do
planeta.
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Foto 3 – Metropolitan Museum, NY, EUA Fonte: da autora.
Teoria e contexto
de iniciativa de Dom João VI, iniciariam este processo: a Escola Nacional
de Belas Artes (fundada em 1815 como Escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios) e o Museu Nacional do Rio de Janeiro. Entretanto, esta história
precisa começar um pouco antes de tudo isto, com a chegada da Missão
Francesa ao Brasil e sua revolução cultural. Após a vinda da Coroa Portuguesa
Teoria e contexto
Portanto, no século XIX, lentamente, assistimos o papel educativo dos
museus ganharem forças. O progresso invadia o mundo culto e inculto.
A revolução das máquinas e as novas tecnologias construtivas podiam
ser apreendidas nas feiras e exposições, a exemplo da Grande Mostra de
Todas as Nações, na Londres de 1851, para a qual se construiu edificação
Teoria e contexto
vinculados às mesmas. Os museus, estagnados, esperavam o despertar para
uma nova era, onde fossem ampliadas a sua exuberância e atuação social.
Algumas vezes a serviço da ideologia governamental, como os museus
envolvendo Hitler, outras vezes escravos de interesses econômicos, como
o capitalismo, o museu ganha status e vira arma filosófica. Nos EUA,
Teoria e contexto
A Nova Museologia e seus termos afins
Curadores e museólogos decidiam isoladamente o que merecia ser
musealizado, conservadores outorgavam em seus próprios círculos o que
deveria ser preservado, historiadores sacralizavam – em sua linguagem
Teoria e contexto
proceder em relação ao museu, que é, por natureza, interdisciplinar.
Segundo DE MASI, o intercâmbio entre as disciplinas consiste em condição
sine qua non para o sucesso de empreendimentos em equipe cujo trabalho
envolva criatividade e interdisciplinaridade. (DE MASI, 1999) Mesmo nos
casos em que nos deparamos com equipes multidisciplinares, raramente
Teoria e contexto
uma modesta contribuição para o debate e fortalecimento dos museus,
enquanto nossa casa. Dentre os muitos nomes que se atribuem aos
museus, este nos agrada em particular: casa. Primeiro era Mouseion, casa
das Musas imaginárias, detentoras do elixir da imortalidade terrena... a
memória humana. Formulando, assim, o passado a partir do presente, e
Teoria e contexto
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183
A Pintura de Retrato no Brasil: estudo de caso
de uma obra de Édouard Vienot e François
Teoria e contexto
Henri Morisset
Fábio das Neves Donadio
Mestrando PPGA-EBA-UFMG
Luiz Antônio Cruz Souza (Orientador)
RESUMO
A transferência da Família Real Portuguesa no século XIX, a elevação do Brasil a Reino
Unido, sua Independência Política e a passagem de um sistema exportador escravagista
para outro baseado no trabalho assalariado, redesenharam a vida na colônia. No campo
cultural, alimentado pelos ideais da Revolução Francesa, a arte setecentista portuguesa
se transformava a partir de formas e conceitos importados da Europa. Nesse cenário, a
aristocracia mostrava seu poder e status por meio da encomenda de retratos a pintores
franceses que hoje nos apresentam personalidades do passado, remontando seus costumes
e o estilo artístico da época. Para compreensão desta linguagem própria, o presente artigo
visa analisar uma pintura de retrato executada nesse período por uma importante dupla de
pintores franceses, responsáveis por retratar diversas personalidades na Europa e também
no Brasil: Édouard Vienot e François Henri Morisset. Para melhor compreensão do tema
abordado, faremos uma leitura formal, histórica e estilística, bem como uma análise do
estado de conservação da obra, seguida de uma proposta de restauro.
Palavras-chave: Pintura de Retrato. Conservação. Restauração.
ABSTRACT
The transfer of the Portuguese Royal Family in the nineteenth century, the Brazil’s rise to United Kingdom,
its Political Independence and the passage of a slave export system to another one based in a salaried
work, redesigned the life in the colony. In the cultural field, fulfilled by the French Revolution’s ideals, the
eighteenth-century Portuguese art was transformed from forms and concepts imported from Europe. In this
184
scenery, the aristocracy used to show its power and status by the order of portraits to French painters that
nowadays present to us personalities from the past, showing the habits and the artistic style of the period.
To comprehend this unique language, this article aims to analyze a portrait painting made in this period
by important French painters, responsible for depicture several personalities in Europe and also in Brazil:
Édouard Vienot and François Henri Morisset. To comprehend in a better way the theme that we are
dealing with, we intend to make a formal, historical and stylistic reading, as well as an analysis of the
conservation condition of the work, followed by a restoration proposal.
Key Words: Portrait Painting. Conservation. Restoration.
Teoria e contexto
Introdução
185
O Neoclassicismo Histórico
O nascimento do Neoclassicismo se deve em linhas gerais ao crescente
interesse pela antiguidade clássica em meados do século XVIII, associado
a influências dos ideais do Iluminismo. Os acadêmicos da época iniciaram
pesquisas mais sistemáticas da arte e da cultura antiga, incluindo escavações
arqueológicas, formando importantes coleções públicas e privadas de arte
e artefatos antigos.
O Neoclassismo teve larga influência em toda a arte e cultura do ocidente
Teoria e contexto
até meados do século XIX. Como base, mantiveram um renovado
interesse pela cultura da Antiguidade clássica, advogando os princípios da
moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos
decorativistas e dramáticos do Barroco e Rococó.
Teoria e contexto
Este estilo procurou expressar e interpretar os interesses,
a mentalidade e os habitos da burguesia manufatureira e
mercantil da época da revolução francesa e do Império
Napoleonico, e consequentemente o mesmo estilo foi
adotado tardiamente no Brasil com a vinda da Missão
Teoria e contexto
uma Missão de Artistas Franceses.
Os artistas, que a compunham, eram individualmente marcados e já com
grande projeção social e cultural. Vinham num momento em que a França,
através das suas idéias, exercia uma ditadura universal.
Teoria e contexto
mais tarde na República, justifica o amortecimento da capacidade plástica
criadora. Este corresponde ao período de recolhimento e de concentração
espiritual indispensável à adaptação do novo processo intelectual.
Essa nova diretriz da inteligência brasileira, essa marcha intelectual para
Teoria e contexto
Este modernismo laico e progressista, mas imposto de fora, além de cortar
a tradição colonial de raízes religiosas e barrocas, deu início ao ensino
oficial das belas artes no Brasil, imprimindo-lhe os cânones austeros e
acadêmicos que marcariam tão fortemente a evolução de nossa pintura
oitocentista.
Teoria e contexto
prestigio que a arte da França gozava internacionalmente.
Os contatos com as personalidades que iam sendo cogitadas muito
ajudaram Alexander Von Humboldt o qual intermediou a vinda de
Joachim Lebreton, recentemente destituído do posto de secretário do
Institut de France, para selecionar e dirigir a equipe de artistas no Brasil.
Teoria e contexto
desenvolvimento independente.
Teoria e contexto
comemorativa, o que foi característico da pintura luso-brasileira no final
do século XVIII até o século XIX, época em que a burguesia se ostenta e
caracteriza por alegorias em forma de pinturas retratistas.
Segundo Migliaccio (2000, p.37)
Teoria e contexto
Segundo consta em ficha do Museu Nacional de Belas Artes, Vienot residiu
durante longo período no Brasil, onde executou trabalhos retratando o
Imperador D. Pedro II, seus filhos e outros personagens da aristocracia
do império.
Teoria e contexto
Análise estilística da obra
Nos retratos, preocupa-se com uma adesão quase caricatural às feições
dos personagens e aos símbolos de seu status social, transmitidos pela
iconografia e pelos trajes. Retratos imperiais ou de personalidades políticas
e da elite social, sempre muito aproximada à Corte, eram oportunidades
No final do século XIX e início do século XX, época estética desta obra,
a pintura de retrato para muitos funcionava, ao lado do magistério, como
uma “espécie de derradeiro recurso ou ganha pão” (DORE, 1996 : 21)
O dirigismo neoclássico, inerente à formação do artista, cumpre, nesta
obra, o seu verdadeiro papel: de servir à classe burguesa dominante.
Consegue-se idealizar verdadeiro “status” social de um homem simples e
carismático, para uma personalidade social ávida e importante.
O formalismo da obra analisada não poderia ser de outra maneira, pois
representa claramente o gosto e o interesse de uma sociedade conservadora. 196
Trata-se de um retrato que relega os bons costumes, o orgulho familiar
pelo patriarca e as tradições de uma sociedade burguesa.
Considerações Finais
Este artigo aponta a importância da vinda da Missão Francesa em 1816
para o Brasil, de suas manifestações e projetos para um re-culturamento
Teoria e contexto
artístico na nova metrópole. Vale ressaltar a importância deste projeto de
artistas para integração de ofícios em uma escola e a sua interdisciplinaridade
funcional. Com isso, o artista-pintor teve um importante papel como
elaborador de imagens sob um olhar romântico do homem imponente a
sociedade.
___________
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198
A documentação como ferramenta de
preservação
Teoria e contexto
Ana Martins Panisset
IEPHA-MG
Resumo
Abstract
The purpose of this article is to emphasize the importance of the documentation process as
an indispensable tool for decision making and as a record of conservation and restoration
actions. The documentation is necessary for identification, protection and interpretation
of cultural property. Through the records and inventories one can ensure accuracy in
decision-making to safeguard the cultural heritage. Documentation is an ongoing process
that enables the monitoring, maintenance and understanding of cultural property and is
therefore an essential part of the conservation methodology. International documents
such as the fundamental Venice Charter (1964), and Principles for the recording of monuments,
groups for buildings and sites (ICOMOS 1996) are used as references, as well as the use of
documentation in the foundations of the Conservation Theory.
Key words: Documentation, preventive conservation, conservation/restoration, preser-
vation, heritage charters.
199
Introdução
Camillo Boito, restaurador, arquiteto e grande pensador do século XIX,
abriu sua conferência I Restauratori, realizada na Exposição de Turim em
1884, com as seguintes palavras:
Para bem restaurar, é necessário amar e entender o
monumento, seja estátua, quadro ou edifício, sobre o qual
se trabalha, e do mesmo modo para a arte antiga em geral.
Teoria e contexto
Ora, que séculos souberam amar e entender as belezas do
passado? E nós, hoje, em que medida sabemos amá-las e
entendê-las? (BOITO, 2002, p. 31, grifo da autora)
Concordando com as palavras de Boito podemos dizer que entender um
bem cultural é a chave para sua preservação. Quanto melhor conhecemos
Teoria e contexto
técnico-construtivos, baseado em estudos documentais e
na observação, bem como em levantamentos métricos do
edifício. Fez largo uso de desenhos e também de fotografias,
examinando a configuração geral do complexo [...] (KÜHL,
2002, p. 13).
Propondo critérios de intervenção, Camillo Boito contribuiu de forma
Teoria e contexto
merecedor de preservação.
Após a iniciativa italiana, as primeiras medidas normativas de caráter
internacional são introduzidas através da Carta de Atenas de 1931. Este
documento dá ênfase na utilidade de uma documentação internacional,
no registro dos monumentos e na formatação de inventários nacionais,
Teoria e contexto
especialistas em conservação, de profissionais, gestores,
políticos e administradores que trabalham em todos os
níveis de governo, como também do público; e sendo
conforme exige o artigo 16 da Carta dos Veneza, é essencial
que as organizações responsáveis e os indivíduos registrem
a natureza do patrimônio cultural4. (Tradução da autora).
Teoria e contexto
● garantir que as intervenções respeitem as características do
patrimônio;
● registrar os resultados após as intervenções;
● realizar um registro permanente do patrimônio cultural antes da
Teoria e contexto
restaurador brasileiro dedica quatro artigos à pesquisa e documentação.
Destacamos:
14. Antes de iniciar qualquer ação ou intervenção
em uma obra o conservador-restaurador deve colher
todas as informações capazes de gerar e salvaguardar o
Teoria e contexto
benefícios da documentação para nossa prática profissional, resultando
em uma maior qualidade nas práticas de preservação.
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208
Paisagem em Branco: protocolos de gestão e
conservação em Arqueologia
Teoria e contexto
Ana Carolina Motta Rocha Montalvão, Gerusa de Alkmim Radicchi,
Giulia Giovani Vilella, Marcella de Oliveira, Thais Gontijo Venuto
Graduandas em Conservação-Restauração- EBA-UFMG
Yacy-Ara Froner (coordenadora)
RESUMO
O projeto Arqueologia Histórica Antártica do Departamento de Sociologia e Antropologia
da Fafich-UFMG tem como objetivo a investigação de grupos humanos que ocuparam o
território antártico a partir de vestígios coletados das ilhas Shetland do Sul. Os objetos
correspondem a sítios arqueológicos do século XIX e possuem grande importância e
diversidade de tipologias. Para que estas informações não sejam perdidas, a equipe de
alunos e docentes do curso de graduação em Conservação-Restauração da UFMG foi
convidada a atuar na preservação do material. A equipe propôs dois eixos principais de
atuação: o primeiro diz respeito à catalogação, limpeza, tratamento e acondicionamento dos
objetos; o segundo eixo visa a criação de um protocolo orientador para a coleta em campo
arqueológico. Os resultados iniciais deste trabalho serão apresentados nesta comunicação.
Palavas-Chave: Conservação Preventiva, Arqueologia Histórica, Antártida.
RESUMÉN
El proyecto de Arqueología Histórica Antártica del Departamento de Sociología y Antropología
FAFICH-UFMG tiene como objetivo investigar los grupos humanos que ocuparon el territorio antártico a
partir de vestigios recogidos de las Islas Shetland del Sur Los objetos corresponden a los sitios arqueológicos
del siglo XIX y tienen una gran diversidad de tipos y una gran importancia. Para que estas informaciones
no se pierdan, el equipo de estudiantes y profesores de curso de grado en Conservación-Restauración de la
UFMG fue invitado a actuar en la conservación del material. El equipo propuso dos líneas de acción
principales: el primero se refiere a la catalogación, limpieza, procesamiento y embalaje de los objetos y el
segundo eje tiene como objetivo crear un protocolo orientador para la recogida en el campo arqueológico. Los
primeros resultados de este estudio se presentan en esta comunicación.
Palabras clave: Conservación-Restauración, Arqueología Histórica, Antártida.
209
Introdução
O projeto Arqueologia Histórica Antártica do Laboratório de Estudos
Antárticos em Ciências Humanas (LEACH), sediado na Faculdade de
Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, é responsável pela coleta e
estudo dos rastros arqueológicos deixados por grupos humanos que
Teoria e contexto
ocuparam o território antártico por volta do século XIX. O projeto se
trata de um desdobramento das pesquisas já desenvolvida desde a década
de 1980 por membros do Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y
Técnicas─CONICET, na busca por elementos da cultura material que
pudessem fornecer subsídios à compreensão das diversas ocupações até
Teoria e contexto
Para atingirmos as condições ideais de salvaguarda, observamos a
necessidade de conhecer todos os materiais, suas composições físico-
químicas, as condições às quais estavam submetidas no subsolo e seu
comportamentos frente as variações climáticas após a coleta. Analisamos
e mensuramos o acervo quanto às suas tipologias e obtivemos os seguintes
Materiais Porcentagem
Cerâmicas 04
Couro 21
Madeira 51
Metais 18
Ósseos 41
Pétreos 05
Tecido 15
Vidros 03
Identificamos que a maioria das peças são de natureza orgânica vegetal,
grande parte apresentando-se na forma de fragmentos de madeiras.
Após a mensuração do acervo iniciamos os trabalhos de pré-
acondicionamento. A troca das embalagens em que se encontravam
por sistema adequado foi nossa primeira orientação. Os objetos foram
inicialmente acondicionados dentro de sacos plásticos com problemas de
vedação, alguns posicionados sobre papelão, sobrepostos uns aos outro 211
em refrigerador à temperatura de cerca de 5°C. Utilizamos para a troca o
acondicionamento primário constituído por embalagem plástica vedante
de policarbonato tipo zip lock, introduzindo uma placa de polietileno nas
embalagens para conferir estabilidade aos objetos. Cada embalagem foi
colocada em caixas de poliondas de polietileno para a proteção mecânica,
forrada com suporte de ethafoam para amenizar impactos. Ambos
os materiais utilizados no pré-acondicionamento foram selecionados
por serem inertes e hidrofóbicos. Os objetos também passaram a ser
armazenados nas caixas por tipologias de materiais, evitando assim
Teoria e contexto
possíveis migrações das patologias.
Teoria e contexto
das fibras e um leve abaulamento das peças. Para consolidação e união das
partes rachadas foi então utilizado Paraloid B72 em álcool diluído a 5%.
Para os próximos experimentos de secagem estudaremos sistemas lentos
e controlados, com a possível de utilização de câmaras e sílicas para os
objetos mais sensíveis ao ressecamento.
Teoria e contexto
O registro das atividades e a criação do banco de dados
Todas as informações referentes à coleta de materiais estão sento
sistematizadas para a produção de um banco de dados na plataforma
Access proposto em duas planilhas. A primeira prestará informações a
214
Figura 2: Formulário do estado de conservação das peças.
Teoria e contexto
Os principais desafios encontrados
Dentre os principais desafios para a criação de condições adequadas ao
trabalho no acervo, a diversidade de materiais constituintes e seu caráter
Teoria e contexto
atuação em campo de escavação antártico para a constituição de protocolos
de conservação em coleta, como uma iniciativa importante. Esperamos
que a iniciativa lançada possa criar parâmetros para o fortalecimento do
diálogo entre os departamentos envolvidos e para o surgimento de novas
áreas de pesquisa no curso de graduação.
FRONER, Yacy Ara, Patrimonio histórico e modernidade: construção do conceito a partir da noção
de revitalização de sítios, monumentos e centros históricos. Simpósio de Conservação em Olinda,
2002.
216
O uso de novos materiais sobre edificações
históricas em terra crua
Teoria e contexto
Fabio das Neves Donadio
Mestrando PPGA-EBA-UFMG
Luiz Antônio Cruz Souza (Orientador)
Introdução
Ao analisarmos a história da cultura de uma comunidade, vemos que ela
217
é marcada por permanências e mudanças de ordem ambiental e sócio-
econômica que estão diretamente relacionadas ao surgimento de novos
costumes individuais e coletivos. Essa dinâmica se manifesta de modo
bastante diversificado, podendo ser percebida por meio de elementos
materiais e intangíveis que compõem o cotidiano, tais como a culinária, a
religiosidade, a música, a moda, a arquitetura.
Na arquitetura, essas mudanças se constroem ao longo do tempo,
fundamentando-se por aspectos variados que determinam sua conformação
Teoria e contexto
final. As necessidades de atualização técnica, a disponibilidade de materiais
e oferta de mão-de-obra qualificada, os recursos financeiros disponíveis,
o “gosto” ou influência das correntes artísticas e a política estatal e
econômica deixam marcas mais ou menos visíveis e determinantes nos
edifícios isolados e na paisagem.
Teoria e contexto
futuras alteraciones de um bien [...], consiste em adoptar
medidas para que um bien determinado experimente el
menor número de alteraciones durante el mayor tiempo
posible. (VIÑAS, 2003).
Afrescos e pinturas artísticas ou decorativas, por exemplo, podem ter sua
sobrevivência garantida por meio da aplicação responsável de resinas ou
Teoria e contexto
esses conceitos se transportam ao caso corriqueiro do emprego de tintas
modernas sobre edificações de pedra, terra e/ou areia – historicamente
revestidas com cal ou tintas minerais igualmente porosas.
Teoria e contexto
grandeza de sua produção. Pela antipatia criada em relação
às suas obras como restaurador, muitas vezes deixou-se
de apreciar a coerência de suas formulações teóricas, seus
aspectos inovadores, e seus muitos aspectos ainda atuais. [...]
Entre as questões de grande atualidade podem ser citadas:
o fato de recomendar que se deva restaurar não apenas a
Teoria e contexto
na implantação de suas vilas e cidades, características semelhantes no que
se refere aos materiais e técnicas empregados para a construção de seus
edifícios e traçado urbano, refletindo inclusive seu nível de importância para
a coroa portuguesa. Somente as cidades de maior relevância construíam
seus edifícios com o uso de rochas, pois requeria uma tecnologia mais
Teoria e contexto
fundação impermeável, as paredes construídas com terra são
constantemente expostas à umidade natural do solo, que se intensifica em
épocas de chuva, devendo portanto serem protegidas por beirais largos.
Em ambos os casos a umidade ascende pelas paredes por capilaridade,
mantendo-as constantemente úmidas. Quando recobertas por argamassas
Teoria e contexto
diversas cidades históricas, oferecendo aos seus moradores e visitantes
a possibilidade de vivenciar uma paisagem urbana que expressa em si o
diálogo entre diferentes tempos e atores da história.
A resignificação dos monumentos não ocorre, porém, somente por
alterações técnico-formais, como mostra Regina Dourado (1996) ao
Teoria e contexto
inserção de forma diferente dos edifícios modernos, cujas fundações
impermeabilizadas lhe permitem maior estanqueidade com relação à
umidade, principalmente ascendente. Assim, ao serem revestidas com
argamassa a base de cimento e/ou tintas formadoras de películas de
proteção, como as tintas a base de PVA, por exemplo, essas edificações
Teoria e contexto
acabamento que esteticamente confere melhor resultado aos edifícios
históricos, potencializando sua unidade estético-histórica, necessária para
sua leitura ideal. Cesare Brandi (2005) destaca em sua Teoria da Restauração
que o primeiro princípio da restauração é aquele pelo qual se restaura a matéria da
obra de arte, visando restabelecer sua unidade potencial, sem cometer um
A argamassa ideal
Sobre os paramentos ou paredes confeccionadas tanto em terra quanto
em outros materiais, normalmente é aplicada uma camada de revestimento
responsável pela maior resistência e durabilidade destes que forneça melhor
resultado estético, suporte para elementos decorativos e que confira maior
qualidade térmica e acústica para o ambiente, chamada de argamassa.
Juntamente com a subseqüente camada de revestimento, denominada de
Teoria e contexto
pintura, formam um escudo de proteção que deve preservar os paramentos
de possíveis danos, mesmo que para isso sejam substituídas ou reparadas
freqüentemente. Normalmente ambas conferem à edificação parte de
sua identidade, garantida pelos materiais empregados, cores e texturas
resultantes, o que justifica sua preservação. Assim, para sua conservação,
Teoria e contexto
cimento, empregados em paramentos de terra e edificações históricas,
segue as considerações de NOLASCO (2008):
O cimento tem a deformação elástica completamente
diferente do maciço da parede de terra, enquanto a
deformação da argamassa de cal é bem mais semelhante; a
porosidade que permite a aeração da parede é muito menor
A pintura ideal
Ainda garantindo a transpiração dos paramentos por meio de revestimentos 228
porosos a base de cal, a pintura ideal, que a sucede, deverá ser executada
sobre os mesmos princípios: utilizando material igualmente poroso, que
não forme filme plástico impedindo a troca de umidade com o ambiente.
Assim, a cal é também empregada na confecção de tintas, ou melhor
denominada, na “caiação” dos edifícios, e aparece originalmente como
acabamento quase exclusivo dos edifícios históricos.
De um modo geral, as paredes revestidas são caiadas de
branco. Quanto a isto, não podem haver dúvida, tendo em
vista a longa serie de depoimentos que só começam a variar
a partir do século passado. (VASCONCELLOS,1961).
Teoria e contexto
A utilização da cal também para a caiação, executada conforme os métodos
dos antigos mestres de obras, igualmente apresentam variações com
relação a inserção de aditivos como óleo de linhaça, caseína ou gordura
animal para acelerar a secagem ou facilitar a cobertura das superfícies.
Novos materiais
A maior parte das tintas modernas, industrializadas, possui aditivos ou
aglutinantes plastificantes, empregados em sua composição para garantir 229
maior durabilidade quando aplicadas sobre superfícies impermeabilizadas,
ou demais superfícies onde não haja problemas com umidade ou infiltração.
Embora ofereçam alta durabilidade e qualidade sobre essas estruturas,
tornam-se prejudiciais quando aplicadas sobre edifícios de terra crua,
onde a troca de umidade com o ambiente é constante. Tal prática favorece
o aparecimento de manchas causadas por fungos manchadores e/ou
emboloradores, o desprendimento de seu filme plástico e o aparecimento
de eflorescências de sais solúveis. Embora a pesquisa e produção de novos
Teoria e contexto
materiais reflitam a demanda do mercado e a necessidade de evolução
destes, sua utilização deve ser responsável nas obras de conservação de
edifícios históricos e estar sempre condicionada à execução de ensaios que
comprovem sua eficácia e compatibilidade, e que garantam no futuro o
não aparecimento de novos danos.
Teoria e contexto
___________
Referências
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VIÑAS, Salvador Muñoz. Teoria contemporánea de la Restauración. Editorial Síntesis. Madrid. 2003.
Memorial Minas Gerais
Teoria e contexto
Valessa Costa Soares
Universidade Federal de Ouro Preto
Resumo
Abstract
Based on the work done in the former Secretaria do Estado da Fazenda building, located
in Praça da Liberdade, Belo Horizonte, and part of the project Circuito Cultural Praça da
Liberdade, coordinated by the state government of Minas Gerais, the proposed study aims
to analyze the value of interventions in the process of restoring the building in order to
change their physical/structural and symbolic meaning through the proposed process of
redrafting. Also, think about the possibility of preserving a collective memory based on the
maintenance of the striking features of the building, and, to its already existing emotional
value, attach one possible new meaning, noting that the space is intended to become the
Memorial Minas Gerais Vale.
Keywords :Restoration, architecture, urbanism
Introdução 232
Partindo da experiência no processo de restauração e do acompanhamento
das obras estruturais ocorridas no edifício da Antiga Secretaria de Estado
da Fazenda, localizada na Praça da Liberdade em Belo e as reflexões
propostas pela disciplina “Fundamentos históricos e filosóficos da
ciência da conservação” ministrada pela professora Yacy-Ara Froner, o
trabalho aqui proposto primeiramente tem o intuito de analisar o valor
das intervenções no processo de restauração da edificação, tendo em
vista suas transformações físicas/estruturais e de significado simbólico,
Teoria e contexto
mediante o processo de reformulação proposto para o novo uso do
mesmo. Alem disso, em um segundo momento pensar a possibilidade de
assegurar nesse espaço uma memória coletiva a partir da manutenção das
características marcantes do edifício e unir ao valor afetivo já existente um
possível resignificado, observando que esse será destinado ao Memorial
Teoria e contexto
urbanísticas de uma cidade moderna. (SILVA, 1999, p.1)
Modernidade essa que estava diretamente ligada aos modelos europeus
vigentes no final do século XIX que refletem as necessidades sociais,
econômicas e políticas de uma classe política administrativa crescente.
Tal arquitetura que desprezava o passado colonial, indigno enxergou em
Teoria e contexto
Berlim e morava no Brasil desde 1846 (IEPHA, 1996).
O edifício da Secretaria da Fazenda ao longo dos anos passou por diversas
reformas, cito algumas:
1905 – Reparos gerais e consertos no telhado.
Teoria e contexto
público descrito acima. Assim, o trabalho teve inicio com a desocupação
e avaliação das condições físicas do espaço, como já se encontrava em
desuso as pesquisas logo avançaram, observou-se janelas de prospecção e
alguns testes para remoção de tintas feitas na ultima avaliação do prédio
em 2006.
236
Visão do forro central mais parte da escadaria.
O trabalho passa a ter então, um ritmo mais dinâmico equipes diferentes
destinadas à funções diferentes foram formadas, com cada uma contendo
um supervisor as atividades são distribuídas de forma que o serviço
em áreas distintas ocorram concomitantemente. Proponho assim, uma
descrição concisa desse intenso processo de trabalho que durou cerca de
um ano e meio, de abril de 2009 a julho de 2010.
Formados os grupo, um ficou responsável pela fixação do forro central no
Teoria e contexto
terceiro pavimento, tarefa cumprida juntamente a remoção das camadas de
tinta dos capitéis. Mais duas equipes tomaram conta da remoção das varias
camadas de tinta de três forros e roda-forro um no primeiro pavimento
e dois no segundo. Esse trabalho durou vários meses, pois, exigia muito
cuidado visto a delicadeza em que se encontrava a pintura e o tecido.
Teoria e contexto
proprietária. Tais decisões não são unânimes nem validas para um todo
temporal, discussões sobre as escolhas feitas em um caso de intervenção
será sempre proposta para passado, o presente ou o futuro. Na citação que
segue Beatriz Mugayar Kühl, chama atenção para a importância de uma
postura ética e criteriosa no restauro:
Teoria e contexto
sendo assim cito:
A preservação deste conjunto arquitetônico se faz
necessária, pois, as transformações mutiladoras sofridas no
decorrer do tempo vem transformando aquele logradouro
publico em estacionamento de veículos. (...) Tal área, hoje
nossa preocupação em preservar, quando projetada, tinha
Teoria e contexto
e que fazem uso dessas localidades. Rogério Proença Leite chama a
atenção para um processo de enobrecimento dos espaços urbanos, o
que é compreendido como sendo uma intervenção, revitalização ou
recuperação de determinados locais pelo Estado das cidades onde haja
uma importância simbólica, em termos históricos ou mercadológicos.
Teoria e contexto
ARGAN, Giulio Carlo. A historia da arte como historia da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
ARGAN, Giulio Carlo. “Arte Moderna”: Tradução Denise Bottmann e Frederico Carotti – SP:
Companhia das Letras, 1992, pg. 21.
SILVA, Regina Helena Alves da. O Brasil civiliza-se. In: A invenção da metrópole. (Tese do
doutoramento, 1999, USP)
242
Trilhos e memória: preservação do acervo
documental do patrimônio ferroviário
Teoria e contexto
Mônica Elisque do Carmo
CDI-IPHAN
ABSTRACT
The text presents the experience of the Office Minas Gerais of IPHAN in the preservation
of the RFFSA documentary collections, in the accordance to the Law nº 11.483/2007.
This federal law gives the IPHAN the duty “to receive and manages movable and immovable
property of artistic, historical and cultural value thats belongs to the terminated RFFSA, as well as
ensure their safekeeping and maintenance”. Describes the actions that were initiated with the
implementation of preventive conservation and inventory activities and, later, restoration
of rare books. Reports the development of guidelines for preservation of documentary
collection, in order to avoid further loss of these rich records of Railroad Heritage in several
Brazilian counties and states. The actions of conservation and restoration professional
in the preservation of documentary information are themes to the examination and
reflection. Comments the criteria to the access and reproduction of the documents. 243
Key word: Preservation – document collections - conservation-restoration - railroad
memory
Introdução
A REDE FERROVIÁRIA FEDERAL SOCIEDADE ANÔNIMA
– RFFSA – foi constituída como uma sociedade de economia mista
Teoria e contexto
integrante da administração indireta do Governo Federal, vinculada
funcionalmente ao Ministério dos Transportes e criada pela Lei nº 3.115,
de 16 de março de 1957, através da fusão de dezoito ferrovias regionais,
com o objetivo de promover e gerir os interesses da União no setor de
transportes ferroviários. Passando então seu acervo patrimonial a ser
Teoria e contexto
processo de deterioração dos prédios, que, abandonados, passaram a ser
depredados, o que representa ameaça ao desaparecimento de importantes
exemplares. Com o acervo documental não foi diferente, pois não houve a
implementação de diretrizes nem mesmo a definição de critérios mínimos
objetivando a preservação desse acervo seja para as empresas que tiveram
Teoria e contexto
à Cultura - PRONAC, instituído pela Lei n. 8.313, de 23 de
dezembro de 1991.
O cumprimento da Lei nº 11.483, fez com que ocorressem algumas
mudanças de paradigmas no IPHAN, através da inserção do Patrimônio
Ferroviário Brasileiro em suas atribuições, além de reforçar as ações
As ações do IPHAN
Baseado no Art. 9º, § 2º, da Lei 11.483, em 2007, a Superintendência do
IPHAN em Minas Gerais, realizou a primeira vistoria técnica nos acervos
documentais depositados no prédio da URBEL – SR-2, no município
de Belo Horizonte, em dezembro de 2007. O acervo encontrava-se em
condições inadequadas de acondicionamento e armazenamento, o local
onde era a Unidade de Documentação da SR-2, havia sido lacrado e parte
do acervo removido pela Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais, 246
por decisão do Ministério Público Estadual de Minas Gerais, devido a
denúncias de extravio do acervo, no ano de 2006.
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
IMAGEM 1–Fotografia de Mônica Elisque do
Carmo. RFFSA. Rua Sapucaí, Belo Horizonte–
MG. Acervo no estado em que foi encontrado.
Novembro 2007
Teoria e contexto
gestor passa a ter real posse do acervo. Assim cada item
se individualiza e seu real valor passa a ser reconhecido.
Essa etapa contribui para tomada de decisão quanto às
prioridades e no que tange à segurança das coleções, dando
condições para articular medidas de salvaguarda.(LINO;
HANNESCH; AZEVEDO, 2003, p.123)
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Imagem 3 – Acervo CDI/IPHAN-MINAS
GERAIS. Local: RFFSA. Rua Sapucaí,
Belo Horizonte – MG. Julho/2009. Acervo
recebido pelo IPHAN, estava sob a guarda
da Secretaria de Cultura do Estado de Minas
Gerais, em novembro de 2008.
Teoria e contexto
No entanto, não cabe ao conservador perseguir os ideais da
Conservação Preventiva como se fossem dogmas ou leis,
mas procurar, a partir destes parâmetros, desenvolver entre
os vários especialistas uma consciência da materialidade e
da vulnerabilidade dos objetos, de modo a encontrar aliados
e não opositores nos projetos preservacionistas. Adaptar-
Teoria e contexto
diretamente ou indiretamente na sua constituição, provocando um
importante sentido de identidade cultural própria.
A preservação do acervo documental constituído a partir da formação das
ferrovias é fonte primária que subsidia estudos e pesquisas sobre a cultura
de uma determinada região a partir das instalações das estações, escolas
Teoria e contexto
resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente,
da história, da época da sociedade que o produziram, mas
também das épocas sucessivas durante as quais continuou
a ser manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é
uma coisa que fica, que dura, e testemunho, o ensinamento...
(LE GOFF, 2003, p. 538)
Considerações finais
Os registros das informações (memória) que constituem o acervo documental
da RFFSA tem lugar de destaque no Patrimônio Cultural Brasileiro por ser
referencial importante do impacto sócio-economico causado pelas ferrovias
na sociedade brasileira a partir de meados do século XIX.
A consciência e a apropriação de um bem cultural pela sociedade é fator
essencial para a sua preservação.
Na constituição de bibliotecas, arquivos, museus, centros de documentação
devem constar normas e procedimentos básicos que visam a preservação do
acervo, sendo o fator primordial para a manutenção dos mesmos.
As Instituições de proteção a memória necessitam de profissional
conservador/restaurador trabalhando de forma multidisciplinar juntamente 252
com arquivistas, bibliotecários, museólogos, cooperando para uma ação
eficaz de preservação.
Após todo esse processo de recuperação dos acervos documentais que visam
à proteção da memória cultural ferroviária, faz-se necessário a continuação
das diretrizes de preservação já implantadas e a normatização para acesso e
reprodução desses acervos, pois a finalidade da preservação é socializar as
informações, tornando-as acessíveis ao maior número de pessoas possível.
No âmbito de uma política de preservação do acervo devem ser dadas
Teoria e contexto
instruções aos usuários sobre a forma correta de manuseá-lo, aumentando
a vida útil dos documentos e consequentemente preservando-os por
mais tempo. É indispensável que o acondicionamento, armazenamento e
treinamento de técnicos da Instituição sejam realizados periodicamente. É
fundamental a atualização desses profissionais contemplando questões de
_________
Referências
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nov. 2010
253
_______. Lei nº 11.483, de 31 de maio de 2007. Dispõe sobre a revitalização do setor ferroviário,
altera dispositivos da Lei no 10.233, de 5 de junho de 2001, e dá outras providências. Disponível
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Teoria e contexto
Magali Melleu Sehn
EBA-Universidade Federal de Minas Gerais
Resumo:
A documentação no contexto da preservação da arte contemporânea apresenta um grau
Abstract
The documentation in the context of the preservation of the art contemporary presents a high degree
of importance because it is not reduced only to the register of the physical aspects, but in the register
of intangible aspects as sound, movement, light and specific relationship with space and context. The
variability and subsequent re-installation need new to a large extent of the current artistic production. The
complexity is in the definition of the objectives of the documentation and in the reevaluation of the paper
of the conservator, the artist, the curator and the registrar during the process of documentation.
Key words: contemporary art, documentation, artist, conservator
Introdução
Se para as categorias mais tradicionais, os objetivos da documentação em
conservação/restauração referem-se à documentação da condição física de
um determinado objeto2, a documentação de obras que apresentam novas
relações com o espaço e que introduzem aspectos intangíveis, como luz,
som, movimento, tato e olfato, necessitam de novos métodos de captura e 256
registro. Os objetivos de uma documentação devem estar direcionados às
perguntas elementares: O que documentar? Quando documentar? Quem
documenta? Como documentar? Para quem documentar? Se estas questões
apresentam baixo índice de complexidade quando se trata da documentação
de objetos tradicionais, outros parâmetros de análise são requeridos no
contexto de obras da arte contemporânea porque a documentação torna-se
uma ferramenta poderosa não apenas no contexto da restauração, mas no
contexto da preservação: documenta-se para armazenar, para deslocar, para
transportar e para (re)exibir.
O grau de importância da documentação é proporcional à complexidade
Teoria e contexto
de cada proposta artística. O primeiro desafio está na compreensão da
proposta conceitual do artista, decifrar significados subjacentes e identificar
a relevância de aspectos tangíveis e intangíveis no contexto de cada poética.
O segundo desafio está na compreensão das formas operativas e suas
variabilidades, considerando suas conexões com tempo, contexto e espaço.
Teoria e contexto
informação para a (re)exibição correta da obra no futuro, a documentação
poderá iniciar durante o momento de execução da obra. Este breve
destaque das características de algumas modalidades ilustra a relevância da
ampliação do espectro de atuação da documentação como ferramenta para
preservação da arte contemporânea que ultrapassam conceitos, métodos e
Teoria e contexto
cada artista; ao referencial teórico selecionado em função das conexões
da poética do artista e suas referências; aos significados iconológicos dos
materiais e suas escolhas; aos procedimentos construtivos como projetos
inseridos nos anexos. Obviamente, tais produções constituem um recurso a
mais por oferecerem subsídios que podem ancorar, inclusive, a estruturação
259
Como documentar? Como armazenar e disponibilizar a
informação?
Independente dos recursos tecnológicos disponíveis atualmente, a questão
central está na definição dos objetivos de uma documentação que, obviamente,
será estruturada com métodos diferenciados de captura, armazenamento e
difusão da informação. Das técnicas tradicionais às sofisticadas técnicas para
captura de aspectos intangíveis e técnicas utilizadas para exame geodésico8,
faz-se necessário análise critica do que se almeja capturar, considerando,
Teoria e contexto
principalmente, o contexto econômico da instituição no qual o objeto está
inserido. A definição de terminologias para gerenciar a informação e torná-
la acessível constitui outro aspecto complexo e pesquisado pelo projeto
internacional inside-installation já mencionado, pois a fragmentação e a falta de
conexão entre arquivos documentais no âmbito de uma mesma instituição
Teoria e contexto
Faz-se necessário revisar metodologias e selecionar tecnologias em função
das características de cada objeto, considerando, também, o contexto
cultural e econômico no qual o objeto está inserido. As tecnologias devem
ser analisadas criticamente, pois não são soberanas quanto aos processos de
decisão e sim recursos que apresentam grande potencial de documentação
___________
Notas
1 Texto extraído da tese defendida pela autora A preservação de ‘instalações de arte’ com ênfase no
contexto brasileiro: discussões teóricas e metodológicas. ECA/USP, 2010. 238p.
FAJARDO, Carlos Alberto. Poéticas Visuais: A Profundidade e a Superfície. Tese de doutorado (1998).
Tese de Doutorado apresentada ao Departamento de Artes Plásticas de Escola de Comunicação e
Artes da USP.
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Dra. Carmela Gross) Escola de Comunicações e Artes/USP, 2006.
5 A criação de bancos digitais de teses nas universidades tem facilitado o acesso dessas produções.
6 www.inside-installation.org
7 HUYS, Frederica & BUCK, Anne de. Artist Participation. In: Inside Installations. Preservation and
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Teoria e contexto
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Http://www.inside-installation.org
262
Http://www.getty.org
Http://incca.org
Memórias culturais em construção:
novas formas de memória em ambientes
Teoria e contexto
programáveis
Carlos Henrique Falci
EBA-Universidade Federal de Minas Gerais
Abstract
The intention of this article is to argue as the creation of collective memories in sociotécnicas nets,
programmable environments, provokes the intercruzamento of the comunicativas memories with the
cultural memories and allows the sprouting of new forms of memory, called memories in permanent state
of construction here.
Key word: collective memories, networld
Introdução
As memórias coletivas (Halbwachs, 2006; Santos, 2001) produzidas
em ambientes programáveis devem ser entendidas como produção de
novos acontecimentos (Brockmeier, 2010), uma vez que se baseiam em
poéticas de programação, em uma cultura de remixabilidade e na lógica
de funcionamento de redes sociotécnicas. (Couchot, 2003; Musso,
2004; Santaella, 2008; Serres, 1990) O que parece acontecer, derivado
dessa mistura, não é mais um resgate da memória, mas uma construção
incessante de memórias culturais que se aproximam de uma memória
263
comunicativa. (Assman, 2005; Featherstone, 2000) A partir das poéticas de
banco de dados, de processos abertos e coletivos e da facilidade de uso das
estruturas de programação, o registro digital passa por novos conceitos de
organização, classificação e navegação (Manovich, 2001, 2008; Oliveira,
s/d; Ruppel 2009). Se há cada vez mais suportes de produção de memória,
é preciso compreender de que maneira tais suportes provocam o
intercruzamento das memórias comunicativas com as memórias culturais
e permitem o surgimento de memórias culturais em permanente estado
Teoria e contexto
de construção.
Teoria e contexto
temporal limitado, uma vez que o horizonte da memória comunicativa
se modifica diretamente com o passar do tempo. É interessante notar,
entretanto, que a institucionalização que caracteriza a memória cultural tem
suas bases remontadas ao dia-a-dia, embora ela se distancie da mudança
diária constante em função da sua lógica de objetivação cultural.
Teoria e contexto
porque só existe quando está em ação, quando é ativada por algum dos
elementos que a compõem (Serres, 1968). Uma rede é também sempre
sociotécnica, funcionando numa lógica de continuidade entre esses dois
termos. No caso de ambientes programáveis, a continuidade entre sujeito
e objeto e a indistinguibilidade dos mesmos surge, cada vez mais, como
Teoria e contexto
O projeto We feel fine (http://wefeelfine.org) se destina a explorar
as emoções humanas numa escala global, segundo seus criadores. O
projeto está no ar desde 2005, e sua lógica de funcionamento, de maneira
resumida, é a seguinte: a cada dez minutos, um sistema faz uma busca,
em blogs, por postagens que tenham as frases “I fell” ou “I am feeling”.
Teoria e contexto
num mesmo local. Surgem, assim, várias camadas de memória relacionadas
a um mesmo momento temporal, e associadas a um conjunto de meta-
dados que serve para identificar as imagens.
Na parte denominada “Buttons”, a idéia é aproveitar a lógica de que
toda foto produz uma memória, e conecta as pessoas a momentos que
Teoria e contexto
de forma descentralizada, sem hierarquia, mas que poderia ser considerada
como cultural em função do modo como o projeto agrega as informações
dispersas em blogs. Há aqui, ao mesmo tempo, a memória comunicativa,
presente em cada blog, e a memória cultural em constante construção,
uma vez que o sistema de We feel fine continua a construir novas
Teoria e contexto
se fazer, porque os participantes da rede podem sempre alterar os seus
meta-dados, e estão, cotidianamente, postando novas informações na rede,
sem necessariamente levarem em conta que elas podem ser agrupadas a
partir de parâmetros comuns. Isso torna necessário repensar o próprio
termo memória cultural como algo que deveria manter certo caráter de
_________ 270
Referências
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ANASTILOSE INFORMÁTICA
Teoria e contexto
Anamaria Ruegger Almeida Neves
EBA-Universidade Federal de Minas Gerais
RESUMO
ABSTRACT
I look for a balance between Thought and Techno-science. As an art conservator, I am worried about the
decisions for restoration treatments, mainly the pictorial ones. Those decisions taking needs to be preceded
and accompanied by a critical judgment because the art works are represented on our culture by their
aesthetics and history as witnesses of their time and place. Kant (1724-1804) with his third critics, the
“The Critics of the faculty of judge”, help me to understand and also to reinforce my judgment for
the decisions taking. To have a balance between theory and context, I selected as a restoration example,
the Computer-based Recomposition process developed and carried out for the Andrea Mantegna frescoes
in Padua, Italy.
KEY-WORDS: Art, Memory, Theory, Restoration, Decision.
Introdução
Durante a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente no ano de 1944, 272
um bombardeio destrói parte da capela Ovetari em Pádua, Itália, atingindo
os afrescos pintados por Andrea Mantegna (FIG.01).
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Fig.01 - Destruição da capela pelo bombardeio.
Fonte: Jornal Il Sole 24 ore de 10 de setembro, 2006:37
Teoria e contexto
sugeriu ao poeta os princípios da Arte da Memória, da qual
se considerou inventor. Reparando que foi mediante sua
lembrança dos lugares nos quais os convidados haviam
estado sentados, que ele foi capaz de identificar os corpos,
se deu conta de que uma disposição ordenada é essencial
para uma boa memória. (YATES, 2005, p.17)
Teoria e contexto
Mas, foi com surpresa que encontrei um comentário sobre a restauração
realizada por Sodoma na pintura A Circuncisão de Signorelli6. Vasari
comentou que a pintura ficou pior depois do tratamento de pequenas
perdas da policromia e que obras feitas por grandes mestres não deveriam
ser restauradas por quem não tem competência.
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Fig. 02- Caixas de fragmentos com detalhes que ajudam
na identificação da pintura
Fonte: TONIOLO, 2006: 161
Teoria e contexto
Lamps of Architecture, texto no qual faz pesadas críticas às restaurações
realizadas por Viollet le Duc. Ruskin é o expoente de um movimento que
prega absoluto respeito pela matéria original, que leva em consideração
as transformações feitas em uma obra no decorrer do tempo, sendo a
atitude a ser tomada a de simples trabalhos de conservação, para evitar
Teoria e contexto
artístico e sem anular os traços da passagem da obra de arte pelo tempo.”
(BRANDI,2000, p. 41).
Nesse momento, para garantir seu lugar à mesa e se servir do banquete,
chega Salvador Muñoz Viñas representando o século XXI com seu recente
livro Teoria contemporânea da Restauração. Viñas, depois de muito estudar
Teoria e contexto
Ao seu lado na mesa do banquete, está Goethe (1749-1832) que é seu
amigo e também se deixa influenciar pela Crítica do Juízo. Após ter feito
sua viagem à Itália, onde os estudos da pintura de paisagem lhe permitiram
uma visão sintética em que a ciência aparece como conhecimento sobre a
forma e, a arte expõe as leis naturais através da imagem, Goethe demonstra
Teoria e contexto
alicerçada em sua força -,alçar-se cada vez mais às
alturas, ergue-se do chão para produzir formas celestiais,
mas verdadeiras. Foi assim que a arte se desenvolveu
posteriormente aos tempos bárbaros. (GOETHE, 2005,
p.73)
Enquanto conversam, chega Arthur Danto (1924). Ele vem representar a
Teoria e contexto
interessados nos fundamentos da matemática pois
demonstrava que nenhum sistema fixo, por mais
complicado que fosse podia representar a complexidade
dos números inteiros: 0,1,2,3...Os leitores de hoje poderão
não experimentar diante disto a mesma perplexidade que
dos de 1931, já que neste ínterim nossa cultura absorveu
281
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Fig.05 – Detalhe afresco depois da restauração.
Fonte: Jornal Il Sole 24 ore de 10 de setembro, 2006:16
Teoria e contexto
e com isto transformar todo esse último reboco em uma espessa camada
pictórica. Compara a espessura do fragmento com a lisura do material
sintético onde foi impressa a fotografia do afresco. Impressiona-se. Ele
era professor da arte do afresco, tinha grande admiração pelos afrescos
de Giotto,(1266-1337) em particular aos pintados na Capela Scrovegni e,
Teoria e contexto
a solução, também não resolveu pois a leitura estética do afresco ficou
prejudicada e não posso esquecer que uma pintura se transforma em obra
de arte pela sua Apresentação Estética.
Nesse momento cito Kant no Juízo de Gosto, quando afirma que os
juízos precisam ser universais, pois uma obra de arte não se fecha em
Teoria e contexto
pela História.
________
2 Frances Yates (1899-1981), historiadora britânica que lecionou por vários anos na Universidade
de Londres. Seus livros Giordano Bruno e a Tradição Hermética e A Arte da Memória são excelentes
contribuições para o meio acadêmico.
3 Giulio Camillo (1480-1544) pode ser considerado um sincretista. Seu extenso e proliferante
saber revela leituras de várias filosofias e literaturas, que se agregam a um intenso núcleo
hermético. (ALMEIDA, 2005: 15)
4 Milton José de Almeida é mestre e doutor pela USP, professor na Unicamp e autor dos livros:
Teatro da Memória de Giulio Camillo; Imagens e Sons: A Nova Cultura Oral; Cinema: Arte e Memória.
5 Andréa Mantegna nasceu na ilha de Carturo, perto de Vicenza, segundo filho do carpinteiro
285
Biagio. Aos onze anos começou como aprendiz de Francesco Squarcione, um pintor de Pádua,
cuja vocação inicial de alfaiate foi suplantada pela sua paixão pela arte clássica e antiga. (1511-
1574)
6 Luca Signorelli (1445-1523), pintor renascentista italiano, um dos grandes mestres da escola da
Umbria.
Teoria e contexto
10 Salvador Muñoz Viñas (1951), professor de Teoria da Restauração na Universidade Politécnica
de Valencia, Espanha.
11 Arthur Danto, filósofo americano que se ocupa em entender a arte contemporânea, nasceu em
1924. É professor na Universidade de Columbia, USA.
12 Cennino Cennini Libro del Arte tradução espanhola p.112. Este livro escrito originalmente
13 Hans Robert Jauss, acadêmico alemão notável por seu trabalho da Teoria da Recepção.
__________
Referências
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BRANDI Cesare. Teoria da restauração. Tradução Beatriz Mugayar Kühl. São Paulo: Ateliê Editorial,
2005. 261p.
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TONIOLO, Domenico. Mantegna nella chiesa degli Eremitani a Padova: Il recupero possibile. Pádua:
Fondazione Cassa di Risparmio di Padova e Rovigo, 2006.
VIÑAS, Salvador M. Teoria contemporânea de la restauración. Madrid: Editorial Sintesis, 2003. 205p.
YATES, Frances A. El arte de la memória. Tradução Ignácio Gómez de Liaño. Madrid: Siruela, 2005.
495p.
286
Arte/Subjetividade; Ciência/Preservação
Teoria e contexto
Gabriel Malard Monteiro
Doutorando PPGA-EBA-UFMG
Evandro Lemos da Cunha (Orientador)
Resumo:
A arte contemporânea apresenta dois principais desafios para conservação. No campo
Introdução
Pode-se dizer de uma maneira bastante sintética que a disciplina conservação
e restauro é dividida em dois grandes campos: o campo científico e o campo
teórico. O primeiro campo se ocupa de desenvolver meios práticos para
agir sobre o desgaste provocado pelo tempo. O segundo campo se ocupa
de eleger os objetos (ou ações humanas) que deverão ser preservados ou
reconstituídos por tais meios práticos. 287
Ambos os campos encontram diversas dificuldades quando se deparam
com os objetos (ou ações) produzidos pela arte contemporânea, em
especial com a arte produzida após a década de 60. As razões para
essas dificuldades podem ser descritas de maneira bastante direta: a arte
contemporânea usa materiais muito variados (inclusive em combinações) e
apresenta conceitos que podem ser conflitantes com a idéia de preservação.
A intenção deste trabalho é refletir sobre essas dificuldades, adotando
como base a subjetividade de valores na arte, ou seja, a idéia de que arte
Teoria e contexto
não é um valor objetivo e absoluto, que esses valores não estão na essência
da arte, mas que são, ao contrário, forjados (sociologicamente) através
dos discursos de artistas, curadores, intelectuais, comerciantes de arte e
instituições artísticas.
Teoria e contexto
como a arquitetura, música, cinema, natureza, etc) mas com o tempo teve
que se ater a outros tipos de materiais. Se anteriormente a atenção se
restringiu mais ao bronze, pedras, telas e pigmentos (escultura e pintura)
agora o desafio são outros materiais: borracha, plásticos, compensados,
poliuretano, tecidos e metais modernos (alumínio e aço) algumas vezes
Noção de valor
Adotarei a idéia de subjetividade de valores como base para entender alguns
dos discursos que atribuem valor aos objetos (e conceitos) artísticos. Uma
vez que arte e restauro são atividades humanas baseadas em valores, minha
proposta é traduzir esse conceito de subjetividade para o universo da arte
e aplicá-lo também à ética dos restauradores.
Tentarei explicar um pouco melhor o significado de ‘subjetividade de 289
valores’ (assim como ela aparece no texto ciência e religião, de Bertrand
Russell. Os ajustes que farei seguem a intenção de adequar o conceito ao
assunto que trato: valores caros aos artistas e restauradores).
O principio básico da subjetividade de valores pressupõe que nenhuma
área do conhecimento humano pode concluir definitivamente se algo é
bom ou ruim. Apóia-se na crença de que o conhecimento humano não
é capaz de dizer nada objetivo acerca dos valores. Nesse sentido, quando
alguém diz que algo é bom (ou ruim) esse alguém está expressando um
sentimento, e não apresentando um fato verdadeiro, que permaneceria
Teoria e contexto
verdadeiro independentemente de sua emoção.
Uma afirmação de que algo é bom ou ruim não é uma afirmação do tipo
verdadeiro falso, mas sim uma expressão de um gosto ou desejo.
Frequentemente os desejos de indivíduos diferentes são conflitantes,
Teoria e contexto
compreende que o valor da arte está no objeto, ou seja, que a obra é
intrinsecamente ou essencialmente boa. Uma obra de arte é boa por si
só, o bom é o belo e o artista é o tradutor dessa beleza. O que o artista
toca torna-se bom, esse ‘bom’ é algo que pertence ao objeto e, portanto,
transcende toda noção de gosto. A arte é boa, é bela, e o gênio criativo
Teoria e contexto
grande grupo de pessoa.
A formação de consenso é algo que pode ser constantemente buscado
através da livre discussão de idéias dentro de grupos profissionais. Após
a publicação de The Standards of Practice and Professional Relationships
for Conservators (Murray Pease Report,1963) e The Code of Ethics for Art
Teoria e contexto
Contemplando essas ‘normas de conduta’, podemos entender como
funcionam alguns dos desejos na área de conservação e restauro. Em
seguida veremos como a arte contemporânea apresenta desafios especiais
para os restauradores.
Strange Fruit
Como vimos, alguns trabalhos de arte contemporânea apresentam
dificuldades nos campos teóricos e científicos. Um exemplo interessante
pode ser encontrado na obra Strange Fruit da artista Zoe Leonard. Neste 293
trabalho a artista apresenta diversos objetos, todos confeccionados a
partir de frutas, cujo interior foi comido ou removido e depois suas cascas
reagrupadas através de costuras, fios ou zipper.
A artista procurou o conservador alemão Christian Scheidemann para
testar meios de interromper o processo de deterioração das superfícies das
frutas. O trabalho envolvia técnicas bastante complexas de conservação.
Os materiais variados utilizados na obra dificultavam a utilização de
determinados químicos, e muitas vezes era difícil isolar um material do
outro, mas ainda assim o resultado alcançado por Scheidermann foi bem
sucedido.
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
Strange fruit, Zoe Leonard.
Teoria e contexto
suposição é que essa sugestão teve motivações muito mais comerciais do
que artísticas. Já a opção da artista em abandonar as peças conservadas
e assumir a deterioração como um valor é um critério teórico adotado
subjetivamente, pautado em um discurso que leva em conta trabalhos
semelhantes da historia da arte (como Joseph Beuys e Dieter Roth).
Teoria e contexto
ética, porque está preocupada com o que é verdadeiro ou falso”. A preocupação com
o que é bom ou ruim está no campo da teoria, e é totalmente subjetiva,
carecendo de formulações, refutações e ajustes.
296
Hipótese da supla substituição/ Duplo registro
em um museu-limite
Teoria e contexto
Hélio Alvarenga Nunes
Doutorando PPGA-EBA-UFMG
Resumo
Narra brevemente a apropriação anárquica de alguns temas da Ciência da Conservação
(especialmente as formas inovadoras de reintegração, como o Projeto Mantegna),
relacionando-os à arte contemporânea e à proposição conceitual fotografia do museu, para
sugerir a hipótese de dupla substituição / duplo registro da obra de arte (uma redundância propiciada
pela técnica), cuja radicalidade aponta para o fim de qualquer originalidade fundamental,
resultando na possibilidade de um museu totalmente substituído, ausente. Discute então
a tensão da aura nos fac-símiles da Factum Art (como a “devolução” fac-similar do painel
Bodas de Canaã de Veronese ao Refeitório Paladino de Veneza) e na utilização destes por
Peter Greenaway na 53ª Bienal de Veneza, bem como a diferença desses em relação à
reintegração digital do afresco de Mantegna em Pádua.
Palavras-chave: museu, fotografia, originalidade, fac-símile, reintegração digital
Abstract:
This paper gives a brief account on the anarchical appropriation of some themes from Conservation Science
(especially the innovative ways of reintegration, like Mantegna Project), relating them to the contemporary
arts and to the conceptual proposal museum’s photography, to suggest the double replacement / double
registration of the artwork hypothesis (a redundancy provided by technique). The radicalization of that
hypothesis points to the end of all fundamental originality, resulting in the possibility of a fully replaced
and absent museum. Then the paper discusses the aura’s tension in the Factum Art’s facsimiles (like the
facsimile “return” of the Veronese’s panel The Wedding at Cana to the Palladio’s Refectory in Venice)
and in the use of these by Peter Greenaway in the 53rd Venice Biennale, as well as the distinction between
both and the digital reintegration of Mantegna’s fresco in Padua.
Keywords: museum, photography, originality, facsimile, digital reintegration 297
Introdução
Certa vez, a campainha da mesa diretora da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais estridulava sem parar, exigindo que Armando Ziller concluísse seu
discurso. Foi então que ouvi a frase que faço questão de repetir nessas
oportunidades: “Eu não concluo nunca, sou dialético…”
Bordão, mas não gostaria que soasse como desculpas para uma comunicação
Teoria e contexto
inconclusa. Serve bem para introduzir meu partido teórico ou método
preferido, a dialética, mais especificamente, a do tipo usado por Walter
Benjamin e que podemos chamar de “não conciliatória”, porque não busca
nem um acordo sintético, nem a destruição dos termos antagônicos em
uma espécie de teleologia. Uma das formas que esse método adquire em
Benjamin é seu característico pendulamento entre militância e melancolia,
298
Ilustração 1: Lais Myrrha, Teoria das Bordas, 2007,
granitina branca e preta, dimensões variáveis.
Teoria das Bordas (2007), da colega Lais Myrrha (il. 1), aparentemente é
de concepção simples: há uma borda precisa separando dois planos
lisos e uniformes, um feito com pedrinhas brancas, outro com pretas;
os visitantes da exposição caminham sobre elas, que ficarão agarradas
aos sapatos e transportadas de um domínio ao outro, manchando-os
mutuamente. Simplicidade enganadora que o registro sequencial parece
evidenciar: a inevitável síntese cinza… Mas isso só em termos ideais; pois
Teoria e contexto
o trabalho faz com que um conceito abstrato (as bordas) ganhe um sentido
real, que alcança, na prática, uma percepção sensível, de maneira que o
que se evidencia é um método discursivo sobre o limite (mais no sentido
matemático: aproximar-se sem nunca chegar). Noutras palavras, nunca
haverá uma unidade cinza, apenas uma tendência a tal, valendo muito
mais ocupar-se com o processo do que com seu fim terminal. Aí, então,
Teoria e contexto
das conquistas dos pintores modernistas – na origem, inclusive, o museu
imaginário é o modernismo3.
Em minha dissertação de mestrado, Pintura para catálogos, usei
anacronicamente o museu imaginário, aguçando sua dubiedade e
retrabalhando as noções de ressurreição e recriação fotográfica para
Fosse apenas essa perda que não é perda alguma, justamente, nada a
lamentar. Mas algumas decisões trágicas pareciam se impor: “perder”,
privar-se de algo, deixar escapar, permitir uma ausência é, em si, um
motor da aura; daí uma substituição do museu – que a seu tempo recriou
a aura do musealium5 –, sua ausência, implicaria em um redobro: em vez de
distância já desdobrada6, tendente ao desaparecimento com a fotografia, a
aura passaria a ser apenas distância-distância, fortalecendo-se.
Se pensarmos que o mais importante na experiência da obra são as imagens
persistentes (afterimages), tal redobro significaria desmemória. Cabe uma
explicação mais detida.
O valor de uso da obra de arte é justamente ser uma obra que vemos surgir nas
vagas da ausência, o que implica que o espaço criado entre espectador e obra
é uma distância já desdobrada, um “ir e vir constante”, como propõe Didi- 300
Huberman (1998, p. 147). E essa parece ser a única forma de compreender
a contraposição benjaminiana entre rastro (traço, índice – chamando
atenção para a noção de fotografia como index) e aura:
Rastro e aura. O rastro é a aparição de uma proximidade,
por mais longínquo esteja aquilo que o deixou. A aura é a
aparição de algo longínquo, por mais próximo esteja aquilo
que a evoca. No rastro, apoderamo-nos da coisa; na aura,
ela se apodera de nós (BENJAMIN, 2007, p. 490, [M 16a,
4]).
Teoria e contexto
Por um motivo que sempre nos escapará, nessa conhecida anotação,
Benjamin contradita traço e aura com uma simples inversão de enunciados:
longínquo mas próximo; próximo mas longínquo. Então, se nos fiarmos
em Didi-Huberman (e na anotação), tal como na aura, também o espaço
criado pelo traço é dialético; isto é, o traço também é próximo e distante
ao mesmo tempo. Podemos dizer até que esse espaço é o mesmo: a
Uma reação normal é devolver o olhar àquele que nos olha. A aura causa
uma inversão estranha desse fato tão humano: sentir-se olhado por um
objeto inanimado quando olhamos para ele. Isto é, ao olhar para um
objeto aurático, algo em nós faz com que nos sintamos vistos pelo objeto.
Mas esse olhar de retribuição é substituído nas grandes cidades por um
olhar preocupado, é o “olhar da prostituta” que caça os clientes, mas evita
a polícia. É vedado ao nosso olhar o “abandono sonhador e distante”;
ao que Benjamin (1980, p. 55) pergunta, sobre Baudelaire, “Quererá
Teoria e contexto
ver destruído o encanto da distância como ocorre ao espectador que se
aproxima demais de um cenário?”, que por sua vez responde com um verso:
“Vaporoso, o Prazer fugirá no horizonte / Como um sílfide por trás dos
bastidores” (BAUDELAIRE, 1995, p. 168).
O processo de dupla substituição / duplo registro, que talvez não seja
Teoria e contexto
Essa fotografia é tida, em outros contextos, enquanto ainda se chama
Veneza, como uma crítica auto-reflexiva ao fato da fotografia só registrar
o que aparenta estar presente e não o que sabemos estar presente10. Mas
quando a transformamos na fotografia do museu, fazemos a opção de
reverter esse problema em qualidade, transformando aparência em saber;
Teoria e contexto
Como a mecânica de retirar as camadas de uma pintura reverte a sequência de sua
feitura, é quase inevitável que tais pinturas processadas adquiram superfícies que
parecem manufaturadas, similares ao duro e brilhante verniz [gloss] das reprodu-
ções mecânicas, com cores brutas em luminosa justaposição. A satisfação alcan-
çada por pinturas reduzidas a tal estado pode provavelmente ser creditada ao fato
Teoria e contexto
entre 1995 e 1997, de um catálogo digital dos fragmentos. A partir desse
catálogo, com os avanços na área de tratamento digital da imagem, foi
possível elaborar uma metodologia de mapeamento e posicionamento
ideal dos fragmentos, resultando, em 1998, no Projeto Mantegna, que, em
2006, terminou o processo de sobreposição dos fragmentos originais a
fotografias da coleção Anderson & Alinari, ampliadas e corrigidas para se
306
Teoria e contexto
indício, index) da fotografia: o indício (o fragmento) encontra seu lugar no
índice (foto do afresco) pelo movimento programado (vários algoritmos
complexos) de outro índice (foto digital do fragmento): uma sucessão de
foram, de camadas sobrepostas de passado, cada uma com significações
e repercussões distintas, e um conflito gritante de opções entre ruína e
restauração, entre história e estética.
Teoria e contexto
Brincadeiras à parte, o que o Projeto Mantegna acaba produzindo é uma
percepção sensível da aura em conflito, visto que perda e reintegração não
encontram qualquer estabilidade, não encontram aquele princípio unitário;
com isso, é uma ilustração clara daquela possibilidade de, como já disse,
aperfeiçoar o quadro com a imaginação.
Teoria e contexto
1 Segundo Cury (2005, p. 22 passim), “musealização é muito mais que transferir objetos para o
museu” e implica sua valorização segundo um “olhar museológico”, “continua no conjunto de
ações que visa à transformação do objeto em documento e sua comunicação”.
2 Malraux apud Silva (1995, p. 248): “Chamo de Museu Imaginário a totalidade do que as pessoas
conhecem hoje mesmo sem ir a um museu, quer dizer, o que conhecem pela reprodução, o que
3 Como aponta Krauss (1996, p. 344, trad. nossa): “[...] musée imaginaire é, de fato, outra forma
de escrever ‘modernismo’ [...]”.
4 Uma palavra que tento introduzir significando “violação do arquivo”, tendo “arquivo” sentido
lato, memorial e psíquico.
5 A partir de Malraux, Silva (2004) propõe que: “cada tempo tem a sua aura: o sobrenatural (o da
arte antiga) tem sua aura sagrada; o irreal (que situa no Renascimento) tem sua aura de beleza,
e o intemporal (o da arte moderna) tem a aura da própria criação artística”.
6 Didi-Huberman (1998, p. 147): “Próximo e distante ao mesmo tempo, mas distante em sua
proximidade mesma: o objeto aurático supõe assim uma forma de varredura ou de ir e vir
incessante, uma forma de heurística na qual as distâncias – as distâncias contraditórias – se
experimentariam umas às outras, dialeticamente. O próprio objeto tornando-se, nessa
operação, o índice de uma perda que ele sustenta, que ele opera visualmente: apresentando-se,
aproximando-se, mas produzindo essa aproximação com o momento experimentado “único”
(einmalig) e totalmente “estranho” (sonderbar) de um soberano distanciamento, de uma
soberana estranheza ou de uma extravagância. Uma obra da ausência que vai e vem, sob nossos
olhos e fora de nossa visão, uma obra anadiômena da ausência.”
12 A partir de Benjamin (1993, p. 104): “Cada um de nós pode observar que uma imagem,
uma escultura e principalmente um edifício são mais facilmente visíveis na fotografia que na
realidade. A tentação é grande de atribuir a responsabilidade por esse fenômeno à decadência do
gosto artístico ou ao fracasso dos nossos contemporâneos. Porém somos forçados a reconhecer
que a concepção das grandes obras se modificou simultaneamente com o aperfeiçoamento 310
das técnicas de reprodução. Não podemos agora vê-las como criações individuais; elas se
transformaram em criações coletivas tão possantes que precisamos diminuí-las para que nos
apoderemos delas. Em última instância, os métodos de reprodução mecânica constituem uma
técnica de miniaturização e ajudam o homem a assegurar sobre as obras um grau de domínio
sem o qual elas não mais poderiam ser utilizadas.”
13 Barthes (1984, p. 121) chega a atribuir aos químicos a invenção da fotografia e logo depois
afirma que: “De um corpo real, que estava lá, partiram radiações que vêm me atingir, a mim, que
estou aqui; pouco importa a duração da transmissão; a foto do ser desaparecido vem me tocar
como os raios retardados de uma estrela. Uma espécie de vínculo umbilical liga a meu olhar o
corpo da coisa fotografada”.
14 Títulos originais, respectivamente, The Wedding at Cana: a vision by Peter Greenaway, Nine
Teoria e contexto
Classical Paintings Revisited, Nightwatch in the Amsterdam Rijksmuseum e Da Vinci’s Last
Supper in Milan.
__________
Teoria e contexto
WIND, Edgar. Art and anarchy. 3th ed. Evanston: Northwester University Press, 1985.
Teoria e contexto
Gabriela de Lima Gomes
Universidade Federal de Ouro Preto
Abstract
The article will present the diagnosis and the methodology of risk management applied in the photograph
archive of the Radio Nacional. The inquiry of the photographic material, the environment and the
institution made possible to find evidences that in had disclosed the reasons to caused and cause the
degradation of the Archive.
Key-words: Photographic preservation; Degradation causes; Risk management
Introdução
Encontrar arquivos de fotografias ou documentos, carregados de valor
patrimonial, não é difícil na atualidade. Instituições públicas e privadas,
das mais diversas funções, produzem e acumulam documentos textuais,
fotográficos, iconográficos e digitais a todo momento e, na maioria das
vezes, não sabem como cuidar dessa produção.
A curiosidade em conhecer as fotografias das Rainhas do Rádio foi
o estímulo para o reconhecimento desse patrimônio documental. O 313
reencontro com um Arquivo que se mantêm à margem da instituição
Rádio Nacional do Rio de Janeiro, uma vez que a produção da emissora é,
exclusivamente, sonora.
O objeto
Partiremos com uma sucinta apresentação do objeto de estudo e seu
estado de conservação, seguidos dos gráficos resultantes do diagnóstico.
Teoria e contexto
O recorte privilegiou as provas fotográficas em preto e branco registradas
entre os anos de 1940 e 1960. As ampliações foram feitas em papel
revelação . Sua estrutura é constituída por substâncias orgânicas e
inorgânicas sobrepostas em camadas: o suporte de papel, a camada de
barita e a emulsão fotográfica, uma mistura de gelatina e prata filamentar.
O contexto
A Rádio Nacional do Rio de Janeiro é reconhecida como a responsável
pela transformação da vida social dos brasileiros por ter produzido mitos
populares. Renato Murce3 afirma que “a Rádio Nacional foi a própria
essência do rádio no Brasil por cerca de duas décadas”.
O edifício “A Noite”, Praça Mauá, n°7, abriga, até hoje, a emissora. Uma
instituição legislada pelo Governo Federal e pertencente à Radiobrás
(Empresa Brasileira de Radiodifusão), ligada à Presidência da República
por meio da Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica.
314
Edna Dantas4, chefe do Escritório Regional da Rádio Nacional, relata sobre
a preocupação da instituição em conservar suas coleções, no entanto, não
existe verba dedicada à manutenção das coleções.
Em uma sala no 21° andar do edifício “A Noite”, região portuária e de
tráfego intenso, esta guardado o arquivo fotográfico da Rádio Nacional. O
histórico edifício é equipado com escadas externas e brigada de incêndio.
Teoria e contexto
E, tanto a portaria, quanto a da emissora possuem vigilância. Segundo o
Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro5, o edifício “A
Noite” nunca sofreu nenhum tipo de desastre ambiental ou criminoso.
O setor de pesquisa da Rádio Nacional foi idealizado em 1980, durante
a gerência de Jorge Guimarães Marcelo, com o propósito de reintegrar o
315
Teoria e contexto
Com o intuito de esclarecer o estado de conservação dividimos as
ocorrências encontradas em três situações de degradação: por intervenção,
por manipulação e ambiental. Os gráficos, a seguir, apresentam o resultado
deste levantamento.
Teoria e contexto
excrementos de insetos. Tal evidência demonstra que, nem sempre, o meio
ambiente, com temperatura e umidade relativa inadequadas, é o principal
causador da degradação.
O reconhecimento do risco
Após o reconhecimento da a política institucional; das características ambientais
e urbanas da região e do bairro; estruturais do edifício; as condições climáticas 318
da sala de guarda; o armazenamento e o acondicionamento do arquivo
e seu o estado de conservação seguiremos com alguns dos procedimentos
metodológicos de gerenciamento de risco.
De acordo com o guia Risk Management Guidelines, o termo “gerenciamento de
risco” significa a compreensão da cultura, dos processos e das estruturas, do
objeto inserido na instituição, a fim de detectar as oportunidades potenciais e
administrar os efeitos adversos.
Metodologias baseadas em tabelas com estimativa de vida e escalas com
valores de risco foram desenvolvidos nos últimos anos para facilitar a
Teoria e contexto
administração das coleções. ABC risk assessment scales for museum collections,
criada por Stefan Michalski em 2006 apresenta uma escala baseada em
perguntas em relação à coleção, tais como:
A: Com que rapidez e com que freqüência a degradação ocorre?
Teoria e contexto
10. DISSOCIAÇÃO – uma preocupação é o contexto das imagens. O que
não foi descrito durante sua produção e hoje fica à mercê de
lembranças de funcionários ou pessoas remanescentes da época
áurea da emissora, hoje é dificilmente identificável, causando a
dissociação da informação.
Teoria e contexto
Ciência & Conservação
TABELA 2 – ABC risk assessment scales
for museum collections.
321
Teoria e contexto
Perda de valor apenas notável. [B = 2]
C: Quanto do valor total do arquivo é afetado?
Teoria e contexto
Pretendemos com as ações do reencontro e da digitalização preservar o
Arquivo das provas fotográficas da Rádio Nacional e criar um Arquivo
digital “vivo”, circulante, que não se torne “morto”, estanque, guardado
em discos rígidos e DVDs. Conhecer, reconhecer, preservar, divulgar,
publicar, prover acesso e usar as imagens da Rádio Nacional do Rio de
____________
Notas
1. GOMES, 2008.
2. PAVÃO, 1997.
3. MURCE, 1976, p.71.
4. Edna Dantas concedeu entrevista à pesquisadora no dia 9 de abril de 2007 na Rádio Nacional do
Rio de Janeiro.
5. Disponível em: <http://www.cbmerj.rj.gov.br>. Acesso em: mar. 2007.
6. SAROLDI, 2005, p. 192.
7. HANDBOOK: Risk management guidelines. Joint Australian/New Zealand Standard, AS/NZS
4360, 2004.
__________
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GOMES, Gabriela de Lima. Ver para crer: um novo olhar para os arquivos fotográficos. Dissertação
(Mestrado em Artes) – Escola de Belas Artes, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2008.
PAVÃO, Luís. Conservação de coleções de fotografia. Lisboa: Dinalivro, 1997.
323
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MICHALSKI, Stefan. Scales for Calculating Magnitude of Risks. Apresentação Preventive
Conservation: ReducingRisks to Collections. ICCROM-CCI, International Course. Canadá, 2006.
MURCE, Renato. Bastidores do Rádio: fragmentos do rádio de ontem e de hoje. Rio de Janeiro:
Imago Editora LTDA, 1976.
Teoria e contexto
SAROLDI, Luis Carlos; MOREIRA, Sonia Virgínia. Rádio Nacional: o Brasil em sintonia. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
ZÚÑIGA, Solange Setta Garcia. Divagações mais ou menos contemporâneas acerca das coleções de
imagens. In: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Fotografia, n° 27, 1998.
Teoria e contexto
Arethusa Almeida de Paula.
Doutoranda PPGA-EBA-UFMG
Resumo:
A produção artística da década de 1960 e 1970 tem sido constantemente revista e analisada.
Os acervos dos artistas desta época se tornaram uma grande fonte de pesquisa sobre esta
produção e sobre como a arte se articulava dentro deste contexto histórico.Dessa forma,
muitos desses acervos não se encontram institucionalizados, e assim, os próprios artistas
procuram a preservação de sua memória num espaço muitas vezes ainda em construção.
Portanto, como conservar e catalogar os acervos de artistas contemporâneos? Como os
pesquisadores tanto da área de História da Arte e também da Ciência da Conservação
poderão ajudar na conservação desta memória?A parceria entre artistas e pesquisadores
é de suma importância, não só para a preservação de uma história, mas também para
a divulgação e análise de uma produção artística muitas vezes escondida no interior de
acervos pessoais.
Abstract:
The artistic production of the 1960 and 1970 has been constantly reviewed and analyzed. The collections
of the artists of this time became a major source of research on this production and how the art was
articulated within this historical context.Thus, many of those collections are not institutionalized, and
thus, the artists themselves seek to preserve their memory in an area often still under construction.So, how
to preserve and catalog the collections of contemporary artists? How the researchers of both the area of
History of Art and Science of Conservation can help conserve this memory?The partnership between
artists and researchers is of paramount importance not only for the preservation of a history, but also for
the dissemination and analysis of artistic production often hidden inside personal collections.
Teoria e contexto
A maioria destes acervos se encontra nas mãos dos próprios produtores,
longe de exibições públicas, fora das instituições de artes (museus,
galerias, centros culturais), e muitas vezes sem organização, catalogação e
conservação adequada. Seu manuseio se dá através de sua reorganização
solitária, ou pela possibilidade de alguns trabalhos serem expostos ou
estudados. Dessa forma, os artistas procuram preservar sua própria
Teoria e contexto
efetivo de catalogação e de conservação dos mesmos nunca havia sido
feito até aquele momento . A preocupação do artista em organizar seus
próprios fragmentos de memória construindo, assim, sua própria história,
está presente a todo o momento em que se tem contato com ele. Um
exemplo dessa vontade ficou evidente quando ele mostrou seu primeiro
livro intitulado “Ivald Granato: art performance”, lançado em 1979, que
327
Imagem do painel de fotografias organizado por Ivald Granato.
Arquivo pessoal Ivald Granato.
Reprodução Fotográfica: Arethusa Almeida de Paula, 2008
Já os recortes de jornais que noticiaram o acontecimento estão dispostos
em papelões de 56 cm x 40 cm, fixados com cola comum, formando uma
espécie de pasta. Alguns não apresentam data, nome do jornal do qual
foram retirados ou até mesmo o nome do jornalista que escreveu sobre
Teoria e contexto
o evento. Os jornais que se destacam são: Folha de São Paulo, Jornal da
Tarde, Tribuna da Imprensa, Gazeta de Pinheiros, Diário de São Paulo e
as notícias foram compiladas, de acordo com o artista, pela sua secretária
na época.
Não pretendo fazer uma crítica ao artista por essa decisão, mas é
bom refletirmos diante dessa atitude, visto que ali estão guardados 328
documentos importantes para a Historiografia da Arte brasileira, e cabe
aos pesquisadores entrar em contato com este acervo, e não só ao artista
tomar as rédeas de sua divulgação.
Regina Vater é uma artista multimídia. Vídeo, performances, instalações,
poesia visual, livros de artista, arte digital, desenho e pintura são algumas
das linguagens experimentadas por ela. Suas bases artísticas encontram-se
arraigadas nas experiências propostas pelos artistas brasileiros da década
Teoria e contexto
de 1960. Foi amiga de Hélio Oiticica (1937-1980) e Lygia Clark (1920-
1988), com quem estreitou laços quando morou no exterior pela primeira
vez, e os considera como grande influência para o desenvolvimento de
sua poética.
São mais de 150 (cento e cinqüenta) e-mails em que a artista envia imagens
de seus trabalhos desde a década de 1960. Nestas mensagens, pode-se
ter uma idéia de sua produção e dos documentos que acompanham as
mesmas, visto que Regina Vater escreve sobre o que produz. Também,
são enviadas imagens de catálogos raros, como o da Exposição Artistas
Brasileiros na Bienal de Paris, em 1967, mostra realizada por advento da
convocação de artistas brasileiros para a Bienalle de Jeunes na França e
que foi censurada pela Ditadura Militar instaurada em 1964.
329
Teoria e contexto
artistas brasileiros dos anos 1960/70, e por sua produção, a artista volta ao
cenário brasileiro em exposições e trabalhos científicos. Se seus trabalhos
ganham a necessidade de um estudo, é porque a artista possui uma obra
que dialoga com o tempo passado e atual da arte brasileira e internacional.
O que o acervo destes dois artistas tem em comum? A tentativa de uma
organização pessoal de sua própria memória. São diversos documentos
Teoria e contexto
Visto que os artistas atualmente possuem a liberdade de caminharem por
todos os períodos da História da Arte e também de utilizarem qualquer
material disponibilizado pela indústria e tecnologia, a necessidade de se
acompanhar mais de perto esta produção artística se torna de extrema
importância.
Teoria e contexto
Portanto, os esforços para um trabalho em conjunto se tornam necessários,
pois a organização e conservação desses documentos e obras de arte dão
o suporte para uma contextualização histórica e para a análise estética dos
mesmos.
__________
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