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Up201908220
Preâmbulo
Quanto a esta divisão ela não é algo consensual uma vez que de acordo com
Jorge Borges de Macedo (1982) a governação do Marquês a nível legislativo pode-se
separar em duas fases: a primeira que culmina em 1761 com a criação do Real Erário
(ou Tesouro Geral) que trata o combate ao fluxo contrabandista que causavam prejuízos
às companhias e procura reorganizar o sistema de impostos e esta fase foca-se na
fiscalização e na natureza judicial, integrando-se na política económica de criação de
grandes companhias do comércio que assenta na organização das atividades económicas
na base de monopólios e privilégios. Os impostos e a sua organização no que diz
respeito à cobrança e a alfândega foram também pontos de grande importância nesta
primeira fase de governação que termina em 1770 aquando da gravíssima crise
económica que assolou o país metrópole e as colónias. A segunda fase adquire
preocupações diferentes pois o clima que era vivenciado também teve as suas mutações
e dá início a, por exemplo à primeira reforma da Junta do Comércio de 1771. Torna-se
também necessária nesta fase a criação de um alvará que contemple a fiscalização do
contrabando, feito este em maio de 1774. (Madureira, 1997)
O fomento industrial que teve nesta altura pode-se considerar uma das respostas
à crise que o país estava a passar, porém não foi criado exclusivamente como resposta,
mas sim como parte de um plano mais complexo de redução da dependência das
importações, reforçando o comércio colonial chegando ultimamente a uma redução do
atraso que se via a sentir no país. (Serrão, 1998) A indústria pombalina ficou conhecida
por este mesmo motivo, pela caracterização fortemente mercantilista e protecionista do
comércio nacional, mas de que forma terão os privilégios sido um elemento de criação
de empresas industriais? E de que forma estes se ligam ao ideal protecionista do
Marquês? Isto é, no meio protecionista de que forma poderá ter integrado a atribuição
de tais privilégios no plano a longo prazo de libertação do país da dependência e que
papel desempenham esses privilégios como fatores na criação das Companhias.
1.2 O Marquês
Para conhecer a obra há que conhecer o autor e o mesmo se aplica aqui. Para
compreender a política pombalina há que primeiro compreender o homem, porém,
convém ressaltar que conhecer o homem não é atribuir-lhe a si toda a hegemonia da
época e considerar o seu ser omnipotente. O que é procurado é apresentar a sua origem
e ressaltar as suas medidas. Como Macedo escreveu “Pombal pertence à sua época, ao
Estado dentro do qual serviu, às classes de que dependeu, ao ambiente histórico e criou
e orientou.” (Macedo, 1982, pp.31)
1
MÓNICA, Maria Filomena; BARRETO, António - Dicionário da História de Portugal. Vol. 4 [S.l.] :
Figueirinhas, [s.d.]. ISBN 0000019181411.
nacional Marquês de Pombal foca-se na criação de Companhias dotadas de privilégios
para deste modo conseguir não só controlar a própria economia e mercado como
também a fomentar e assegurar a sua qualidade, como é exemplo a Companhia da
Agricultura das Vinhas da Beira do Alto Douro que tinha como uma das suas funções a
caracterização hierárquica dos seus vinhos tendo em conta a sua qualidade, de primeira,
segunda ou terceira qualidade.
2. A política pombalina
2.1 Contextualização
Esses privilégios eram inclusive de fácil usufruto a qualquer fábrica que fosse
licenciada, podendo ser isenta de pagar direitos de entrada de matéria-prima e em casos
de dispersão industrial por subsetores (como, por exemplo, em pequenas oficinas) terão
direito a uma isenção também de quaisquer deveres adicionais nas alfândegas.
3. As companhias
Uma companhia é uma sociedade ou empresa cujo capital está dividido em ações
cuja transação é livre e cujos membros recebem através da divisão dos lucros.
Esta companhia, pelos seus estatutos e alvarás amplificados que lhe seguiam,
deveria ser considerada como uma companhia de proteção comercial. Serviu como
único meio a que puderam alcançar os produtores das regiões vinícolas circundantes
para proteger assim o seu valor económico que tinha sido abalado pelo desenvolvimento
de novas regiões produtoras que o tratado e o consumo colonial causaram. A
intervenção do estado não se fica pela sua criação e procede a posteriores cedências de
privilégios num esforço de conquistar a hegemonia comercia do vinho do Porto.
Privilégios estes que foram:
Esta companhia era um autêntico estado dentro de um estado pois era dotado de
um corpo político e “uma sociedade mercantil, um corpo de economia política”…”com
meios próprios da autoridade própria” (Vital Moreira) [inserir cit] isto é, tinha uma
jurisdição própria dotada de um tribunal próprio graças a um Juiz da Conservatória que
tinha como responsabilidade a organização na regulamentação da produção e comércio
vinícola, na cobrança de impostos por delegação estatal, na realização de obras públicas
e inclusive no ensino técnico.
Ainda que honrosas as tentativas de controlo do abuso a verdade é que tais não
se viram totalmente cumpridos. Há notícias de diversas denúncias de casos em que
foram recusados a particulares carregarem as suas mercadorias nos navios por desculpa
de sobrecarga, sendo obrigados a aceitar os preços oferecidos por se tratar de produtos
perecíveis. A proibição de estabelecimento de comércio retalhista em pouco ou nada
serviu uma vez que essa medida não abarca o facto de os feitores da companhia serem,
em nome pessoal, retalhistas, portanto, beneficiam da posição privilegiada como
membros da Companhia de qualquer maneira. O terceiro ponto também apresenta
lacunas, a indexação pode ser mutada pela imposição de ganhos adicionais na
negociação dos termos do crédito. Toda esta falta de controlo e liberdade de exploração
levou ao aumento do monopólio da Companhia às custas da população.
Madureira na sua obra sobre o mercado português explica também que, numa
altura em que o Estado se procura estabelecer fortemente mercantilista e procura
organizar a contabilidade, esta Companhia demonstra ter os seus estratos e contas
anotados de uma forma desorganizada e sem rigor. Apresenta erros de sintaxe, uma
estrutura confusa e desagregado. Os critérios são nulos, ficando à vontade do autor de
impor da forma que melhor achar. “A leitura das contas é difícil e granular.”
(Madureira, 1997). Para explicar melhor aquilo que Madureira nos apresenta utilizarei o
quadro que ele disponibiliza na sua obra
Como é possível ver e como aponta Madureira, a partir de 1766 os lucros
começam a cair consideravelmente e a distribuição dos dividendos é acelerada a partir
de 1762-1763 tendo em conta o fundo de capitalização. Deu-se uma subida de 14.29%
de 1761 para 1762 e de 18.75% de 1762 para 1763, uma subida abismal se contarmos
que no ano anterior o percentual de subida se focava nos 3.1%.
No final do período pombalino é retirada aos acionistas o privilégio da isenção
dos impostos de décima e em 1774 os lucros ficam sujeitos “à derrama total”. A
Companhia ainda que passe for momentos problemáticos consegue-se manter segura e
os seus acionistas fora do risco da crise gerada pelo declive económico. Ainda assim o
comércio acaba por evoluir e a Companhia tem que aprender a conviver com essas
mutações, a concorrência das Antilhas, a baixa dos preços no comércio internacional e a
inflação dos preços dos escravos tornam as atividades baseadas no trabalho intensivo
menos atrativas. Porém, o regime de monopólio favorece a adaptação às novas
conjunturas pois o produto de maior procura nos mercados é apropriado pelo
monopólio, acabando com a liberdade de comércio e o exclusivo do transporte com
poderes civis torna possível um congruente exclusivo comercial. “O balanço das
actuações das companhias apresenta um saldo positivo a favor da autoridade do Estado
e da repressão do contrabando e um deficit no desenvolvimento económico das
colónias”, portanto, como já mencionado inúmeras vezes acima, as Companhias
serviam como instrumento de controlo da economia e proteção estatal, reforçando não
só o poder central como também o poderio sobre a economia nacional.
4. Conclusão
Neste ensaio não foram tratadas todas as companhias criadas por Pombal, decidi
focar-me em duas delas por acreditar que se tratava das duas mais mencionadas nos
livros tratados. A questão orientadora focava-se essencialmente na questão dos
privilégios como fator da criação das companhias, mas também na sua ação para a
construção de uma sociedade mercantilista e considero que isso é facilmente observável
no que já falamos das duas companhias. É clara a presença de benefícios e privilégios,
especialmente no que toca a benefícios fiscais como isenção de impostos e de pagar
direitos alfandegários, a imunidade judicial pois ora adquirem a sua própria estrutura
jurídica como foi o caso da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro
ora somente será possível alcançarem a justiça através de intervenção régia que,
relembro, era imprescindível para que qualquer tribunal pudesse interagir com a
Companhia do Grão-Pará e Maranhão. Ao nutrir estas companhias de privilégios,
Pombal procurava também assegurar que manteria o comércio livre de concorrência,
como é exemplo a medida de assegurar que todos os que pedissem empréstimos à Real
Companhia Velha (Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro)
assinarem um termo de exclusividade com a Companhia, proibindo-se assim que outras
empresas adquirem capital por seu meio, e ao mesmo tempo que assegurava esse
exclusivo comercial conseguia adquirir um controlo da própria companhia, tornando-a
dependente do investimento e controlo régio, consequentemente dos seus alvarás. Tendo
em conta que o país se estava a restruturar de uma destruição massiva de uma parte do
país e da sua tentativa de restruturação, pode-se afirmar que o controlo absolutista do
país serviu, para Pombal, como forma de controlar e tentar suavizar os efeitos deste
desastre e da crise subsequente.
BIBLIOGRAFIA
História de Portugal: O Antigo Regime (1620-1807). Dir. José Mattoso. Vol. 4, (Janeiro
de 1998). Editorial Estampa, 1998. ISBN. 972-33-1311-1
Dicionário de história de Portugal. Dir. Joel Serrão, Vol. 6, Porto: Livraria Figueirinhas,
imp. 1985