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Gianfrancesco Guarnieri
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Um Grito Solto no Ar
Governador Geraldo Alckmin
Secretário Chefe da Casa Civil Arnaldo Madeira
Roveri, Sérgio
Gianfrancesco Guarnieri/ Sérgio Roveri. – São Paulo : Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo : Cultura - Fundação Padre Anchieta, 2004. --
224p. : il. - (Coleção aplauso. Série perfil / coordenador geral Rubens
Ewald Filho)
CDD 792.0981
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O homem que escreveu mais de 20 peças e atuou
em perto de 40 espetáculos e igual número de
novelas, hoje prefere viver tranqüilamente em
uma casa escondida na Serra da Cantareira,
aonde se chega após vencer um pequeno trecho
de uma esburacada estrada de terra. Costuma
dizer que o fato de ter se mudado para a
Cantareira, há cerca de dez anos, é o principal
efeito colateral de sua opção preferencial pelo
sossego e sua aversão por qualquer tipo de
invasão ou excesso de solicitações sociais.
Tímido, prefere continuar evitando os eventos
concorridos, os fotógrafos e as badalações.
Sérgio Roveri
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Março de 2004
Capítulo I
30
Capítulo II
47
Porque eu o entendo, afinal, eu o criei. Mas o
que eu faço, então, para compreender bem um
personagem que eu não escrevi? Eu procuro
compreender o autor, é isso. Sei que é um pro-
cesso emaranhado, mas eu tento.
Quando sou chamado a fazer uma peça de um
outro autor, eu mergulho de cabeça, fico ao lado
dele, irmanado, na tentativa de entender tudo
o que ele quer dizer, eu me sinto como se esti-
vesse ouvindo a voz dele dizendo o texto. Foi
assim que ocorreu durante a montagem de Pe-
gue e Não Pague (1981), do dramaturgo italia-
no Dario Fo. Eu adaptei, dirigi e atuei na mon-
tagem. Ele não acompanhou o processo, mas eu
consegui, por meio do texto, desenvolver uma
identidade muito grande com ele. Algumas pes-
soas que tinham visto a peça na Itália, e depois
assistiram aqui também, disseram que eu tinha
feito o personagem exatamente da maneira que
o Dario esperava que um ator fizesse. Fiquei
muito feliz com os elogios, porque isso provava
minha sintonia com o autor.
Embora eu tenha desenvolvido esta afinidade,
através do texto, vamos dizer assim, com o Dario
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Fo, foi com Ruggero Jacobbi que eu criei o meu
grande entrosamento profissional. Ele era um
homem de uma cultura vastíssima, e ainda tinha
a vantagem de não dormir. Nunca vi alguém
que precisasse de tão poucas horas de sono. Em
vez de dormir, ele lia assustadoramente, tinha
umas olheiras terríveis. O mais fantástico nele
era a capacidade de memorizar. Ele lia como se
estivesse gravando, ou tomando nota – e depois
se lembrava de absolutamente tudo. Foi o úni-
co diretor italiano com quem eu mantive um
contato mais profundo.
Depois tive uma grande amizade com o Alberto
D’Aversa. O Adolfo Celli, por exemplo, eu co-
nheci, mas não passou muito disso. Ah, e o Gianni
Ratto. Pelo Gianni eu tinha uma grande
admiração, achava maravilhosas as cenografias
que ele criava. Mas eu nunca fiz parte deste
mundo dos diretores italianos. Nenhum deles
me dirigiu, nem mesmo o Jacobbi. Com o
D’Aversa eu cheguei a fazer roteiros. Trabalha-
mos juntos no cinema, mas no teatro, nunca.
Talvez isso tenha sido uma limitação minha,
porque, desde moço, o que eu queria fazer era
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teatro nacional, entende? O teatro nacional
brasileiro. Então eu achava que os italianos não
iriam me proporcionar o molho que o meu
trabalho deveria ter. Foi por isso que, quando o
Sandro Polloni pensou no Flamínio Bollini para
dirigir Gimba, eu bati o pé e insisti para que ele
entregasse a direção para um jovem e ainda
desconhecido chamado Flávio Rangel. Eu tinha
visto a montagem de O Chapéu Cheio de Chuva,
que o Flávio havia dirigido no Centro Acadêmico
11 de Agosto, no Rio de Janeiro, e achei um
trabalho maravilhoso, cheio de personalidade.
Foi uma loucura, porque ninguém sabia quem
era o Flávio Rangel. E, para falar a verdade, nem
eu. Eu só tinha visto um espetáculo dele e insis-
ti: é esse diretor que eu quero para fazer Gimba.
Apostei todas as minhas fichas no Flávio, e nós
dois podíamos ter rodado. Felizmente, ele fez
valer cada ficha apostada nele.
Apostei no Flávio naquela época como apostei,
mais recentemente, no Marcus Vinícius Faustini,
o diretor da última montagem profissional de
Eles Não Usam Black-Tie (com os atores Eduardo
Moscóvis e Ana Lúcia Torre encabeçando o
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elenco). Mas não foram apostas gratuitas: eu
via que eram diretores com sensibilidade para
entender muito bem tudo aquilo que estava nas
peças. Em função da montagem de Black-Tie,
eu conversava muito com o Faustini, eu aqui em
São Paulo e ele no Rio. A partir destas conversas
eu comecei a escrever, pensando nele como
diretor, a peça A Luta Secreta de Maria da
Encarnação, com a Suely Franco.
Faustini fez um belíssimo espetáculo, lindo, que
infelizmente ficou só um mês em cartaz. Quer
dizer: de que adianta você levantar uma
produção maravilhosa para manter em cena por
apenas um mês? Foram quase quatro meses de
ensaio e apenas um para apresentar. E isso
pagando os ensaios de forma integral, pagando
uma produção caríssima com a verba da
Petrobrás. Mais de um milhão de reais. Eu achei
que tudo aquilo era um absurdo.
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57
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Capítulo IV
91
92
Capítulo VI
109
110
Capítulo VIII
151
182
206
Como Autor
208
As Principais Encenações
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Como Ator
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1968 - Marta Saré, de Gianfrancesco Guarnieri,
produção e direção Fernando Torres
1968 - Animália. Feira Paulista de Opinião, de
Gianfrancesco Guarnieri, direção Augusto
Boal, produção Teatro Ruth Escobar
1968 - A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de
Bertolt Brecht (1898-1956), direção Augusto
Boal, produção Feira Paulista de Opinião
1970 - Don Juan, de Molière, direção
Fernando Peixoto, produção Teatro Oficina
1976 - Ponto de Partida, de Gianfrancesco
Guarnieri, direção Fernando Peixoto, produ-
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ção Documenta
1981 - Pegue e Não Pague, de Dario Fo (1926),
direção Gianfrancesco Guarnieri
1988 - Pegando Fogo...Lá Fora, de
Gianfrancesco Guarnieri, direção Celso Nunes,
produção Fundação Brasil Artes
1995 - A Canastra de Macário, de
Gianfrancesco Guarnieri, direção José de
Anchieta
Como Diretor
Nas Novelas
Metamorphoses
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Vidas Cruzadas (Policarpo)
Terra Nostra (Júlio)
Serras Azuis (Dr.Gross)
Razão de Viver (Alcides)
seriado Mulher (convidado)
A Próxima Vítima (Eliseu Giardini)
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Incidente em Antares (Pudim de Cachaça)
Pátria Minha
O Mapa da Mina (Vicente Rocha)
Cortina de Vidro
Que Rei Sou Eu? (Rei Petrus II)
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Mandala (Túlio Silveira)
Helena
Cambalacho (Gegê)
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Vereda Tropical (Jamil)
Sabor de Mel
Sol de Verão (Caetano)
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Jogo da Vida (Seu Vieira)
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Sérgio Roveri