Você está na página 1de 8

XIII ERIAC

DÉCIMO TERCER ENCUENTRO


REGIONAL IBEROAMERICANO DE CIGRÉ
Puerto Iguazú 24 al 28 de mayo de 2009 XIII/PI-B1 -102
Argentina

Comité de Estudio B1 - Cables Aislados

Projeto de Linha de Transmissão Subterrânea Interligação SE Curitiba – 230 kV

Nadia Helena G.R. de Eduardo Karabolad Filho Wilson Mario de Farias


Louredo *
EDS Engenharia e EDS Engenharia e PDIC Internacional – Brasil
Consultoria LTDA Consultoria LTDA
Brasil Brasil Brasil

Roberto Diniz Thomaz


Júnior
EDS Engenharia e
Consultoria LTDA
Brasil

Resumo - A importância relativa da garantia de qualidade e confiabilidade nos sistemas de geração,


transmissão e distribuição de energia elétrica como elemento essencial de infra-estrutura necessário para o
desenvolvimento dos diversos setores da economia e da sociedade é tema presente nas discussões que
envolvem as concessionárias do setor e parte integrante dos planos de expansão das mesmas. Assim,
especificamente, a premissa do Projeto Executivo Eletromecânico de uma linha de Transmissão
Subterrânea, é garantir a manutenção do estado de integridade física e de desempenho dos cabos de
potência e, por conseguinte a do sistema ao qual atende.
Dentro desse contexto, este trabalho apresenta de forma cronológica todas as etapas de elaboração do
Projeto Executivo Eletromecânico da Linha de Interligação Subterrânea SE Curitiba - 230 kV, em 1 circuito
com 2 cabos por fase do tipo XLPE/CWS/LAT/HDPE – 1000 mm² - Condutor de cobre com extensão
aproximada de 450 m no vão pertencente a ATE IV – São Mateus Transmissora de Energia, dentro dos
terrenos da SE CURITIBA, de propriedade da ELETROSUL localizada no Município de São José dos
Pinhais – PR – Brasil, e pretende elencar os diversos fatores e critérios que nortearam a tomada de decisões
conjuntas entre o fabricante e a projetista .
Acreditamos que a apresentação do projeto em questão seja uma excelente oportunidade para que os
especialistas deste campo da engenharia conheçam mais uma experiência, bem como as especificidades e
peculiaridades envolvidas. Lembrando que o Working Group B1-07 concluiu em 2006 um trabalho
denominado Technical Brochure 338 – “Statistics of AC Underground Cables in Power Networks” – onde
um dos itens do termo de referência foi exatamente apresentar projetos significativos de linhas subterrâneas
existentes em diversas regiões do planeta, definindo como significativos os projetos em tensões de operação
superiores a 50 kV, e que o mesmo adjetivo poderia ser aplicado do ponto de vista da engenharia,
comercial, meio ambiente ou em termos sociais.

Palavras chave: projeto executivo, ampacidade, single point bonding.

1 INTRODUÇÃO

O empreendimento em questão diferencia-se dos demais devido a importância que tem.

*Nadia Helena Gama Ribeiro de Louredo prico10@uol.com.br


A Linha de Transmissão Subterrânea interliga o lado secundário do banco de autotransformadores
monofásicos de 525 kV e o barramento principal de 230 kV da SE Curitiba localizada no Município de São
José dos Pinhais – PR – Brasil, e garante a implantação de 2(duas) linhas, LTA Curitiba (PR) – Bateias (PR)
na tensão de 500 kV com extensão aproximada de 37 km e, LTA Canoinhas (SC) – São Mateus do Sul (PR)
na tensão de 230 kV com extensão aproximada de 48 km.
Os benefícios da implantação destas linhas referem-se ao fortalecimento do sistema de transmissão para a
área metropolitana de Curitiba e para a região do planalto dos estados do Paraná e Santa Catarina.
É relevante também relatar o histórico desse empreendimento desde sua fase licitatória até o início das
definições básicas de projeto, como rota, método construtivo e formação típica dos cabos nas valas que os
contém. Como dito anteriormente o relato seguirá a ordem em que as etapas ocorreram.

2 EDITAL

Com base nos dados elétricos do sistema, rota básica desejada pelo cliente, e informações de caráter
financeiro e econômico constantes do edital, o fabricante iniciou o dimensionamento dos cabos de potência,
a formação ideal dos mesmos e a definição do método.

3 PROJETO BÁSICO

Subsidiada com as informações do edital e o dimensionamento preliminar realizado pelo fabricante a


projetista iniciou o Projeto Básico.
Nesta etapa fabricante e Projetista realizaram medição dos quantitativos dos cabos de acordo com a rota
previamente estabelecida, e, junto ao cliente, definiram o método construtivo.
Especificamente sobre o método construtivo, vale lembrar que a proposta do fornecedor, atendendo
especificação do cliente, contemplava o método diretamente enterrado.
Também atendendo solicitação feita pelo cliente foi prevista uma sobra técnica de cabos condutores nas
extremidades da linha de transmissão subterrânea com aproximadamente 3 metros.

3.1 A SEÇÃO MÍNIMA DO CONDUTOR

Uma vez que a linha de interligação subterrânea foi dimensionada para atender três valores de corrente, a
saber:
• 1689 A em regime permanente.
• 2196 A em regime de curta duração (30 minutos)
• 2364 A em regime de longa duração (60 minutos);

A fornecedora através do software CYMCAP –Cable Ampacity Calculation (CYME International T&D),
elaborou várias simulações para determinação da seção mínima do condutor.
O resultado das simulações apresentou 2 (dois) cabos por fase do tipo XLPE/CWS/LAT/HDPE - 1000 mm²
– Cobre. (Vide Fig.1)
O cabo foi produzido tendo como característica tecnológica principal a tríplice extrusão ( semicondutora do
condutor + isolação de XLPE + semicondutora da isolação) em linha de vulcanização continua vertical.

3.2 A SEÇÃO MÍNIMA DA BLINDAGEM

Considerando a corrente de curto circuito monofásico de 40 kA e o tempo de atuação da proteção (0,5 seg)
foi determinada pelo fabricante a seção mínima da blindagem.

3.3 FORMAÇÃO TÍPICA DOS CABOS NAS VALAS

Em conjunto com as simulações apresentadas para o dimensionamento da seção mínima do condutor o


fabricante considerou duas alternativas para instalação dos cabos: formação plana vertical ou matriz 2x3, e
formação plana horizontal ou “esteira”.

2
As duas alternativas configuraram-se aplicáveis do ponto de vista da ampacidade desde que utilizando o
sistema especial de aterramento single-point bonding.

4 SISTEMA ESPECIAL DE ATERRAMENTO

Os cálculos visando definir a classe de tensão das SVL – Surge Voltage Limiter –, bem como a classe de
tensão do cabo terra foi elaborada pela projetista utilizando como referência os seguintes documentos
técnicos:
• ANSI/IEEE Std. 575 – 1986: ”Guide for the Application of Sheath-Bonding methods for Single
Conductor Cables and the calculation of Induced Voltages and Currents in cable Sheaths”
• Technical Bulletin 283: CIGRE WG B1-18 – PES –ICC – HomePage – Spring 2005/2006.
• Electrical Parameters – PDIC – Emergency 30 minutes, Item 31 – Induced Voltage on Metallic
Sheath (V/Km) ;( Planilha CYMCAP)
• Steady State – PDIC – Item 33 – Screen or Sheath mean diameter (m);(Planilha CYMCAP)
• High Voltage Cable Standards,Volume II ( Pirelli –England) - Pag. 5-33

Por outro lado houve também a preocupação em consultar outros materiais técnicos provenientes de
instituições internacionais reconhecidas que fornecessem embasamentos atualizados referentes ao projeto de
sistemas especiais de aterramento, com enfase no caso para o sistema single point bonding.
E de fato, orientações foram colhidas em documento emitido pela Power Engineering Society (PES),
especificamente do Insulated Conductors Committee, onde no encontro realizado em Março de 2006 houve a
discussão sobre o Technical Bulletin TB 283 ressaltando suas conclusões mais pertinentes.
Destacamos aqui aquelas que mais nos interessaram com vistas ao projeto em questão :
1. Que o maior trecho de linha encontrado até aquela data e instalado em sistema “single point
bonding” possuia 850 metros de extensão.
2. Que em sistemas com classe de tensão superior a 132 kV foram utilizados cabos coaxiais para as
conexões às SVL’s.
3. Que a extensão máxima das conexões as caixas com SVL’s foi de 10 metros.

A definição das extremidades da linha onde foram instaladas as SVL – Surge Voltage Limiter – teve como
base o Projeto da Malha de Terra da SE Curitiba fornecido pelo cliente.

4.1 LIMITADOR DE TENSÃO DE SURTO (SVL)

A classe de tensão calculada para os limitadores de tensão de surto foi de 6500 V.


Porém dada a disponibilidade do fornecedor, a classe imediatamente superior viabilizada pelo mesmo foi de
7200 V.

4.2 CABO DE ATERRAMENTO COAXIAL (Bonding lead)

Classe de Tensão: 12/20 kV – Seção: 1x240/240 mm2

4.3 CABO DE ATERRAMENTO SINGELO

Classe de tensão: 3,6/6,0 kV - Seção: 1x240 mm2 - Capa externa: PVC - Isolação em EPR.

4.4 CAIXA DE DESCONEXÃO DE TERRA

O tipo de quantidade das caixas de desconexão de terra foram definidos pela projetista.

4.5 CABO DE ATERRAMENTO DAS PARTES METÁLICAS À MALHA TERRA DA SE


CURITIBA

Cobre nú 95 mm2.

3
5 PROJETO EXECUTIVO

Após as definições básicas de projeto descritas anteriormente, e em paralelo com a aprovação do projeto
básico, a projetista iniciou a elaboração do projeto executivo.
O fabricante forneceu a projetista, desenhos do projeto executivo dos novos barramentos de 525 kV e 230
kV, bem como desenhos de projeto da SE Curitiba.
Nesta etapa foi realizada uma análise minuciosa dos documentos de projeto da subestação que compõem o
cadastro de interferências, como plantas de dutos e canaletas de cabos, plantas das fundações e canaletas dos
equipamentos, sistemas de drenagem, sistemas de alimentação auxiliar e de iluminação dos pátios, sistemas
de prevenção e combate a incêndio, e plantas das malhas de aterramento dos pátios
Com base nas informações obtidas na análise dos documentos citados foram definidos os itens que seguem:
• Tipos de suportes para os terminais externos nos pátios de 525kV e 230kV;
• Seção típica da vala e;
• Rota da linha de interligação.

5.1 SUPORTES DOS TERMINAIS EXTERNOS

Inicialmente, foram previstas 12 torres metálicas para a fixação de cada um dos terminais externos de cada
fase.
Tendo em vista que a altura do barramento no pátio de 525 kV difere daquela relativa ao pátio de 230 kV,
seriam necessários 2 (dois) projetos distintos de torres metálicas e respectivas fundações. Em termos de
obras civis tal fato implicaria em maior volume de escavação para a execução das fundações, bem como no
aspecto de fornecimento, um maior empenho de aço para a fabricação das torres, além de prazos mais
extensos para a montagem.
A projetista, visando otimizar o empreendimento tanto do ponto de vista técnico quanto comercial
desenvolveu o projeto de suportes de concreto armado (vide fig.2) , sendo cada suporte uma peça única,
possuindo portanto uma única fundação e possibilitando a instalação de dois terminais de cada fase em um
mesmo suporte.

5.2 CONJUNTO METÁLICO PARA FIXAÇÃO DOS CABOS E TERMINAIS

Uma vez definidos os suportes como descrito acima foi iniciado o projeto do conjunto metálico para fixação
de terminais e cabos.
Os terminais foram fixados utilizando uma chapa bipartida no topo dos suportes.
Para a fixação dos cabos foram desenvolvidas peças padrão distribuídas de acordo com a altura de cada
suporte de concreto e sendo estes suportes estruturas únicas a fixação é realizada da mesma forma para todos
os terminais de cada fase (vide fig.3).

6 SEÇÃO TIPICA DA VALA

Considerando as condições econômicas (volume de escavação), o cliente optou pela formação plana vertical
ou matriz 2x3 (vide fig.4).

6.1 TRATAMENTO DO CRUZAMENTO DA VALA COM A MALHA DE TERRA

Analisando documentos do projeto de aterramento da estação como plantas e memória de cálculo, foi
possível identificar a malha terra a 0,60m da linha de solo.
Conhecida a profundidade da vala da linha de interligação decidiu-se que após a escavação da mesma, a
malha de terra deveria ser recomposta imediatamente nos pontos onde necessário, passando, nestes pontos,
aproximadamente 0,50m abaixo da vala da linha de interligação.

6.2 ROTA DA LINHA DE INTERLIGAÇÃO

4
Como dito muitas vezes neste trabalho, toda e qualquer decisão de caráter construtivo adotada pela projetista
é embasada na análise de todos os documentos de projeto e cadastros de interferências referentes ao espaço
físico destinado a implantação de uma Linha de Transmissão Subterrânea. Para a definição da rota da linha
não é diferente.
Neste caso identificar a localização, dimensões e profundidade de cada interferência ao longo da linha é o
primeiro passo para se obter um panorama das condições do subsolo e dessa forma definir uma rota que
ofereça condições favoráveis para os cabos condutores tanto do ponto de vista de esforços mecânicos quanto
dos parâmetros térmicos.

6.3 TRAVESSIAS COM INTERFRÊNCIAS E ARUAMENTOS INTERNOS DA SE

A convivência com diversos tipos de interferências é uma constante neste tipo de empreendimento. Tal fato,
muitas vezes, implica em condições térmicas indesejáveis para os cabos condutores e o surgimento dos
chamados “pontos-quentes”.
O fabricante elaborou uma tabela apresentando as variações na ampacidade dos cabos de potencia em função
de alterações de profundidade, espaçamento entre os cabos da mesma fase, espaçamento entre fases, e na
resistividade térmica do solo.
Tendo como base as informações da tabela citada, e do ponto de vista mecânico respeitando o raio mínimo
de curvatura para os cabos de potência, a projetista, trabalhando em função do não comprometimento da
ampacidade da linha, elaborou detalhes de perfil para travessia com cada interferência (vide fig5).
Para as travessias com arruamento foi desenvolvido, a pedido do cliente, projeto de canaleta armada
atendendo a cargas (trem tipo) de 12tf.

7 MATERIAL DE RECOBRIMENTO

Tem função mecânica e térmica, portanto é o elemento que colabora com a manutenção da integridade física
do sistema. Ressaltamos a importância da especificação do mesmo uma vez que deve possuir granulometria
e umidade controladas, bem como baixa resistividade e alta difusividade térmica.
A correta especificação desse material minimiza as perdas provenientes de características adversas do solo.
O projetista além da especificação do Material de Recobrimento inclui ao projeto orientações para
armazenagem, controle da umidade, lançamento e compactação do material.

8 CRITÉRIOS DE PROJETO

A projetista incluiu no Projeto Executivo o documento “critérios de projeto”. Nele apresenta além de toda a
documentação técnica (saídas do programa CYMCAP, tabelas, etc), as referências de atas e documentos
oficiais trocados com o cliente, nos quais o mesmo manifestou suas imposições de caráter econômico.

9 CONCLUSÃO

O Projeto Executivo Eletromecânico de uma Linha Subterrânea deve garantir a integridade física dos cabos
de potência, pois somente dessa forma é possível obter a performance desejada, ou ainda operar o mais
próximo dela.
Para tal deve-se trabalhar de forma analítica, criando assim as situações mais favoráveis para a implantação
deste tipo de empreendimento onde, vale sempre lembrar, o objeto principal é o cabo de potência.
É verdade que as reais condições do subsolo só podem ser constatadas após o início das obras de escavação,
e muitas vezes a Projetista trabalha de forma reativa. No entanto se preservadas as condições favoráveis de
projeto, o impacto das reais condições pode, invariavelmente, ser minimizado. Dessa forma a interação entre
Projetista e Fabricante é a ferramenta que cria os subsídios necessários para o desenvolvimento de um
empreendimento dessa grandeza, onde cada etapa, isoladamente, deve ser vista de forma sistêmica, pois não
há um aspecto de menor importância ou relevância e sim um conjunto de decisões embasadas em
conhecimento técnico que decidirá as condições em que o sistema operará durante sua vida útil.

5
FIGURA 1

FIGURA 2

6
FIGURA 3

FIGURA 4

7
FIGURA 5

REFERENCIAS

1. ANSI/IEEE Std. 575 – 1986: ”Guide for the Application of Sheath-Bonding methods for Single
Conductor Cables and the calculation of Induced Voltages and Currents in cable Sheaths”
2. Technical Bulletin 283 : CIGRE WG B1-18 – PES –ICC – HomePage – Spring 2005/2006 (
http://www.ewh.ieee.org/soc/pes/icc/subcommittees/subcom_c/CO2/c2w_minutes.htm)
3. High Voltage Cable Standards,Volume II ( Pirelli –England) - Pag. 5-33

Você também pode gostar