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ESTUDO DO CONCRETO COM AGREGADO RECICLADO: CARACTERIZAÇÃO

E DURABILIDADE

Letícia Maurício Silva Lopes1,


Yuri José Rodrigues2,
Vinícius Santiago Pinheiro3

RESUMO

A elevação do consumo de materiais da construção civil acarreta a geração de grandes


quantidades de resíduos, sendo, portanto, necessário adotar um desenvolvimento sustentável.
Nesse caso, uma das soluções encontradas é viabilizar a reutilização desses resíduos no
processo construtivo como agregados para o concreto. O presente trabalho tem como objetivo,
apresentar a caracterização mecânica e durabilidade de concretos produzidos com agregados
reciclados. Desses resultados de acordo com estudos abordados e a literatura apresentada
podemos adiantar que o concreto com agregado reciclado possui características mecânicas
semelhantes ao agregado natural, porém com algumas particularidades, além de sua
durabilidade ser inferior ao do concreto convencional, mas com soluções de contorno.

Palavras-chave:
Agregado reciclado; Resíduos de concreto; Resistência Mecânica; Durabilidade.

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ABSTRACT

The increase in the consumption of civil construction materials leads to the generation of
large amounts of waste; therefore, it is necessary to adopt sustainable development. In this
case, one of the solutions found is to make it possible to reuse these residues in the
construction process as aggregate for concrete. The present work aims to present the
mechanical characterization and durability of concretes produced with recycled aggregates.
From these results, according to the studies and the literature presented, we can say that
concrete with recycled aggregate has mechanical characteristics similar to the natural
aggregate, but with some peculiarities and its durability is lower than that of conventional
concrete, but with boundary solutions.

Keywords:
Recycled aggregates; Concrete waste; Mechanical resistance; Durability.

1
Aluna da Universidade Federal do Ceará, graduanda em Engenharia Civil. leticiamauricio2015@gmail.com
2
Aluno da Universidade Federal do Ceará, graduando em Engenharia Civil. yurelegrow@rocketmail.com
3
Aluno da Universidade Federal do Ceará, graduando em Engenharia Civil. viniciuspin@alu.ufc.br
1 INTRODUÇÃO

Desde os primórdios da civilização, o crescimento populacional traz junto de si a necessidade


de desenvolvimento e avanço nas diversas áreas da atuação humana. Com uma população
mundial que pode passar dos 8 bilhões em 2030, a humanidade terá que encarar um problema
não tão antigo, a alta quantidade de resíduos gerados todos os anos.

A preocupação com os danos sofridos pelo meio ambiente por conta das ações humanas
também se reflete no mundo econômico, para DONAIRE (1996), a responsabilidade das
empresas com seus resíduos e o cuidado com a sustentabilidade está diretamente envolvida
com a sua sobrevivência no mercado atual. [1]

Como a indústria da construção civil é a que mais utiliza matéria prima natural, é de se
esperar que sua geração de resíduos seja altíssima. Segundo ZORDAN (2000, apud LEITE,
2001, p. 2) a grande geração de entulho está ligada à falta da cultura de reciclagem nesse
ramo. [2]

Atualmente muitos tipos de resíduos já estão sendo reciclados, porém sua aplicação ainda é
restrita (QUEBAUD et al., 1997). Certos resíduos hoje já são considerados subprodutos de
outras indústrias e utilizados como insumos para a construção civil, como é o caso da escória
de alto forno, ou da sílica ativa utilizada como adição para produção de concretos, entre
outros.

Já há, na Europa, diversos estudos normativos sobre agregados de RCD (resíduos de


construção e demolição) reciclados para o uso em concreto, o que demonstra que a
preocupação dada a estes agregados é diferenciada da ministrada aos agregados de rocha
naturais, e que as atuais normas de caracterização não se aplicam de forma satisfatória sobre
os reciclados, que devem ser tratados particularmente (SCHOUENBORG et al., 2003).

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 DEFINIÇÃO: DE ONDE VEM E QUAIS SÃO OS RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO


CIVIL

Os RCD são compostos por concretos, argamassas, rochas, blocos de alvenaria, tijolos, telhas,
azulejos, solos, areia, asfalto, argila, metais, madeiras, plásticos, borrachas e papéis ou
papelão. Além dos resíduos de reformas e demolições compostos por materiais já utilizados,
existem materiais novos nos RCD, provenientes dos desperdícios em canteiros de obra
(ANGULO, 2000).

Como a indústria da construção civil é a que mais utiliza matéria prima natural, é de se
esperar que sua geração de resíduos seja altíssima. Segundo ZORDAN (2000, apud LEITE,
2001, p. 2) a grande geração de entulho está ligada à falta da cultura de reciclagem nesse
ramo. [2]

Boa parte desses resíduos possuem grandes quantidades de finos devido ao seu processo de
obtenção quando o sistema de triagem adotado e caracterização. Entretanto, esses finos
podem ter resultados benéficos ou maléficos ao concreto, dependendo da sua reatividade e do
procedimento de dosagem. Se os finos apresentarem certa reatividade por causa da parcela de
cimento não hidratado (KATZ, 2003) ou natureza pozolânica (Li et al., 2008), os mesmos
podem auxiliar no ganho de resistência do concreto. Por outro lado, finos aumentam a
demanda de água no concreto (WEIDMANN, 2008), reduzindo sua resistência. Isto não
impede obviamente que se possa corrigir a influência dos finos na demanda de água do
concreto por meio de aditivos dispersantes e tornar viável seu uso no concreto (TAM et al.,
2008; Li et al., 2008). Dada a característica hidrófila dos argilominerais, a sua presença
também aumenta a demanda de água e, por isso, o seu teor é controlado em agregados
(SMITH; COLLINS, 1993).

2.2 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA

Um dos maiores problemas apresentados pelos resíduos da construção civil é a porosidade e,


consequentemente, a permeabilidade desses materiais, prejudicando a determinação de uma
relação de água/cimento ideal para a obtenção de um concreto que atenda o que está no
projeto, por conta da grande absorção de água por esses agregados oriundos de reciclagem.
Entretanto, controlando-se seus teores de substituição ou a porosidade dos agregados de RCD,
torna-se possível seu uso até no concreto estrutural (resistências características superiores a 25
MPa) como é o caso da ponte ilustrada na Figura 1a. Além disso, muitas aplicações usuais de
engenharia não requerem o concreto estrutural. São exemplos de concretos não estruturais que
permitem o uso integral (100%) dos agregados de RCD: concretos magros, blocos pré-
moldados de concreto (Figura 1b), contrapisos, calçadas, bancos, etc.

Figura 1: Concreto Estrutural com 20% de Figura 2: Bloco pré-moldado de concreto com
agregado reciclado de Concreto (VAZQUEZ, 100% de agregado reciclado misto
2008)

Quanto menor for a porosidade do RCD, mais resistente a esforços mecânicos ou de abrasão
será o agregado reciclado, cada vez mais se assemelhando ao agregado natural. Além disso,
agregados porosos são mais friáveis e geralmente possuem teores mais elevados de finos.

Assim, para garantir a qualidade dos agregados de RCD é necessário implementar segregação
na origem e triagem nas usinas de reciclagem de forma que os agregados de RCD contenham
o mínimo possível de materiais indesejáveis ou contaminantes. Ademais, utilizá-los em
substituição ao agregado convencional, de modo a não elevar demasiadamente a porosidade
média e a evitar um incremento exagerado no consumo de cimento e produzir agregados de
RCD com menor porosidade para a produção de concretos estruturais.
A resistência mecânica do concreto com agregados de RCD (porosos) sempre será menor que
a do concreto com agregado natural (sem poros). Essa resistência pode ser aumentada pela
redução da relação água/cimento, reduzindo a porosidade da pasta de cimento. Isso acarreta
um aumento do consumo de cimento e, por consequência, um maior impacto ambiental do
concreto no tocante a emissões de CO2, que precisa ser ponderado de acordo com uma análise
de ciclo de vida.

O concreto obedece à lei clássica de Ciência dos Materiais, que estabelece uma relação
inversamente proporcional entre resistência e porosidade (CALLISTER, 2010). Contudo, a
porosidade global do concreto com agregados reciclados deve ser controlada por teores de
substituição do agregado natural por agregado de RCD, compatibilizando-se a sua porosidade
com a porosidade da pasta de cimento (de acordo com a relação de água efetiva/cimento); e
Redução da porosidade do agregado de RCD por processamento, tornando sua qualidade
compatível ao agregado natural, independente da porosidade da pasta de cimento.

A influência dos teores crescentes de substituição de agregado natural por agregado reciclado
de concreto na resistência à compressão dos novos concretos estruturais (30 MPa) está
ilustrada na Figura 3.

Figura 3: Influência do teor de substituição do agregado natural por RCD na resistência à


compressão do concreto de mesma relação água/cimento (BAZUCO, 1999).

Quando se utilizam agregados reciclados de concreto cuja absorção de água é inferior a 7,0%
pode-se substituir cerca de 20% do agregado natural pelo mesmo, reduzindo-se apenas 10%
da resistência à compressão do concreto. Um aumento no consumo de cimento da mesma
ordem de grandeza seria suficiente para produzir um concreto com propriedades mecânicas
semelhantes ao concreto com agregado natural.
2.3 DURABILIDADE

Não é recomendado uso em estruturas de concreto armado aparente em atmosferas urbanas


poluídas (ricas em CO2). O agregado reciclado contém pasta de cimento hidratada que sofrerá
processo de carbonatação. Assim, o processo de carbonatação no concreto com agregado de
RCD é mais acelerado do que no concreto com agregado natural (LEVY, 2001).

Figura 4: Inter-relação entre absorção de água e profundidade de carbonatação dos concretos com
agregados de RCD (LEVY, 2001).

Isso, no entanto, não significa que uma areia reciclada de cerâmica, que não sofre processo de
carbonatação (LEVY, 2001) e apresente baixa porosidade, não possa apresentar uma
durabilidade satisfatória. Esse material certamente não contribuiria para aumento na frente de
carbonatação do concreto com agregado de RCD. Além disso, não se descarta a possibilidade
de uso de pinturas que atuem como barreira a este processo de degradação e,
consequentemente, ao processo de corrosão da armadura do concreto. Sendo assim, portanto,
necessário uma atenção maior e controle tecnológico para aumentar a vida útil do
empreendimento, fazendo as manutenções necessárias e utilizando produtos que protejam a
estrutura de agentes nocivos.

A presença de íons cloreto na microestrutura do concreto é conhecida por levar à corrosão do


aço [3]. Carbonatação é um produto químico fenômeno onde o dióxido de carbono que
penetra no concreto estrutura reage com hidróxido de cálcio para reduzir drasticamente
alcalinidade do concreto, permitindo a corrosão do aço, destruindo a camada passiva. A
carbonatação depende da composição do cimento, tipo de agregado e porosidade [4]. Juntos,
esses dois fenômenos são os principais fatores na redução da durabilidade do concreto [5].
Ambos penetração de cloreto e carbonatação tendem a ocorrer por difusão, que é o
movimento de um elemento devido ao seu gradiente de concentração dentro da microestrutura
do concreto.
3 CONCLUSÃO

Neste trabalho fez-se uma pesquisa bibliográfica sobre a utilização de agregados reciclados no
concreto, como os agregados podem ser classificados, sua caracterização mecânica e como
estes influenciam na durabilidade do concreto. Buscou-se de forma simples e direta responder
à pergunta mais pertinente quando se fala em concreto com agregados reciclados: “É possível
usar os agregados reciclados em mais situações, ou suas características não são tão boas? ”

Com um devido controle de qualidade e controlando a porosidade, torna-se possível produzir


qualquer tipo de concreto com agregados reciclados. No caso do RCD, o material deve ser
devidamente segregado e passar por uma triagem para eliminar ao máximo a presença de
resíduos indesejáveis e que possam comprometer a composição do concreto, como pedaços de
madeira, cerâmica, plástico, vidro e gesso. Ademais, agregados produzidos a partir de
resíduos mistos, devido à presença de cerâmica vermelha, acabam sendo mais porosos.

BIBLIOGRAFIA

[1] - DONAIRE, Denis. Internalização da gestão ambiental na empresa. Revista de


Administração - RAUSP, São Paulo, v. 31, n. jan. /mar. 1996, p. 44-51, 1996.

[2] - LEITE, M. B. Avaliação de propriedades mecânicas de concretos produzidos com


agregados reciclados de resíduos de construção e demolição. 2001. 270 f. Tese
(Doutorado) Escola de Engenharia, Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.

[3] - Ann KY, Ahn JH, Ryou JS. The importance of chloride content at the concrete
surface in assessing the time to corrosion of steel in concrete structures.
Construct Build Mater 2009; 23(1):239–45.

[4] - Levy S, Helene P. Durability of recycled aggregates concrete: a safe way to


sustainable development. Cement Concrete Residues 2004; 34(11):1975–80.

[5] - Mehta P, Monteiro P. Concrete: microstructure, properties and materials. 3rd


Ed. McGraw Hill; 2005.
[6] - CALLISTER, W. D. Materials science and engineering: an introduction. New York:
John Wiley & Sons, 2010. 871 p

[7] - HENDRIKS, C.F. The building cycle. Holanda: Aeneas, 2000. 231 p.

[8] - KATZ, A. Properties of concrete made with recycled aggregate from partially
hydrated old concrete. Cement and Concrete Research, v. 33. 2003. p. 703– 711.

[9] - LEVY, S. M. Contribuição ao estudo da durabilidade de concretos, produzidos com


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Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2001.

[10] - BAZUCO, R. S. Utilização de agregados reciclados de concreto para produção de


novos concretos. 1999. 123 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1999.

[11] - SMITH, M.R.; COLLIS, L. Aggregates – sand, gravel and crushed rock aggregates
for construction purposes. 2nd ed. London: The Geological Society, 1993. 339 p.

[12] - WEIDMANN, D. F. Contribuição ao estudo da influência da forma e da


composição granulométrica de agregados miúdos de britagem nas propriedades do
concreto de cimento Portland. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade
Federal de Santa Catarina. 2008. 295p.

[13] - QUEBAUD, M.; COURTAL, M.; BUYLE-BODIN, F. The recycling of demolition


materials: basic properties of concretes with recycled aggregates from demolished
buildings. In: R’97 – RECOVERY, RECYCLING; RE-INTEGRATION,
INTERNATIONAL CONGRESS WITH EXHIBITION, 3., 1997, Geneva, Switzerland,
Proceedings … Switzerland: [s.n.], 1997. 2v. v.2., p. 179-186.
.
[14] - SCHOUENBORG, B. et al. Test methods adapted for alternative and recycled,
porous aggregate materials: part 3: water absorption: NORDTEST Project No. 1531-01.
Boras: SP Swedish National Testing and Research Institute, 2003. p. 20.

[15] - ANGULO, S. C. Variabilidade de agregados graúdos de resíduos de construção e


demolição reciclados. 2000. 155 p. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2000.

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