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Qualidade Microbiológica e Parasitológica da Carne Moída

Comercializada em Aracaju/SE
1,
* Sydney Correia Leão, 2 Debora Machado Barreto, 3 Viviane da Costa Ribeiro, 3 Roneval Felix de
Santana, 3 Cláudia Moura de Melo, 3 Álvaro Silva Lima, 2 Marcus Vinicius de Aragão Batista
1
Departamento de Patologia, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, Rua Botucatu, 740, Bairro
Vila Clementino, São Paulo, SP, Brasil.
2
Laboratório de Genética e Conservação de Recursos Naturais, Departamento de Biologia, Centro de Ciências Biológicas
e da Saúde, Universidade Federal de Sergipe (UFS).
3
Instituto de Tecnologia e Pesquisa, Universidade Tiradentes, Aracaju, SE, Brasil.

* sydneyleao@hotmail.com

Resumo: O objetivo deste trabalho foi verificar a presença de contaminantes de origem microbiana
e parasitológica em carne moída comercializada na cidade de Aracaju-Sergipe, bem como comparar
a contaminação em açougues e supermercados em bairros de classe A e D. Foram coletadas 16
amostras de carne moída, de 100 gramas cada, que foram avaliadas em triplicata (n = 48), sendo
realizadas análises das bactérias Staphylococcus aureus, Salmonella sp., coliformes totais e
termotolerantes, bolores, leveduras e parasitos. Observou-se que as amostras coletadas estavam
contaminadas, com alto índice de coliformes totais e termotolerantes e de Salmonella sp. (25%),
baixos índices de S. aureus e de bolores e leveduras, além da detecção de Ascaris lumbricoides, larvas
de moscas, artefatos vegetais e ácaros.
Palavras-chaves: carne moída; parasitos; bactérias..

Microbiological and parasitological quality of ground beef sold in Aracaju-SE: The goal of this
work was to verify the presence of microorganisms and parasites in the ground beef sold in the city
of Aracaju, Sergipe, in addition to compare the contamination in butcher shops and supermarkets in
neighborhoods Class A and D. We collected 16 samples of 100 g in triplicate (n = 48) and analyzed
the bacteria Staphylococcus aureus, Salmonella sp. coliforms total and thermotolerants, molds and
yeasts, and parasites. It was observed that the samples are contaminated by these microorganisms
examined with high total and fecal coliforms, Salmonella sp. (25%), low levels of S. aureus, molds
and yeasts, in addition to the detection of Ascaris lumbricoides, larvae of flies, mites and plant
artifacts.
Keywords: ground meat; parasites; bacteria.

Recebido: 04 de Março de 2015; aceito: 21 de Setembro de 2015, publicado: 11 de Dezembro de 2015.


DOI: 10.14685/rebrapa.v6i2.213

INTRODUÇÃO ligado à preocupação com a qualidade dos


alimentos. De forma geral, os alimentos,
O desafio da indústria de alimentos é a
adequação da oferta de produtos à demanda principalmente os de origem animal, apresentam
condições ótimas como temperatura, umidade,
crescente da população, o que está intimamente
gordura e proteínas para o crescimento de
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diversas espécies de microrganismos (BRASIL, Outra bactéria de interesse no estudo da
2005). A carne é considerada uma importante qualidade de alimentos é a Salmonella sp, as
fonte de nutrientes como proteínas, aminoácidos quais são responsáveis por casos de
essenciais, vitaminas do complexo B e sais toxinfecções alimentares. Esta bactéria é
minerais; sendo que sua rica composição encontrada no trato intestinal de animais
favorece o crescimento de microrganismos domésticos e silvestres, especialmente aves e
patogênicos. (BARROS et al., 2007). répteis, e tem como principais veículos de
disseminação os alimentos e a água
Há várias formas de apresentação das carnes
(SANTANA et al., 2008).
para a venda, dentre elas destaca-se a carne
moída que é um produto cárneo cru obtido a Os bolores e leveduras também são responsáveis
partir da moagem de massas musculares de por doenças alimentares, devido à possibilidade
carcaças bovinas, seguida de imediato de crescimento de determinadas espécies,
congelamento ou resfriamento, ao qual não é capazes de produzir toxinas fúngicas como as
permitida a adição de carnes oriundas de raspas micotoxinas encontradas na superfície dos
de ossos e carnes mecanicamente separadas, alimentos, quando condições de conservação e
bem como a adição de aditivos ou coadjuvantes armazenamento não são adequadas (SILVA et
(BRASIL, 2003). O processo de moagem da al., 2004).
carne favorece a contaminação por Os enteroparasitos também podem ser agentes
microrganismos, pois aumenta sua superfície de etiológicos de infecções intestinais humanas.
contato e proporciona a incorporação de Este tipo de contaminação ocorre por meio do
resíduos de moagens anteriores (MANTILLA et consumo de alimentos contaminados por seus
al., 2007). ovos (helmintos) ou cistos (protozoários), às
Uma das maiores fontes de transmissão de vezes por meio de vetores mecânicos (moscas)
doenças são os alimentos contaminados por com alto grau de sinantropia, tais como
microrganismos patogênicos. A qualidade Chrysomya megacephala e Musca domestica
microbiológica da carne depende do estado (WELLS, 1991; MONZON et al., 1991).
fisiológico do animal no momento do abate, do Em vista do exposto, o objetivo deste trabalho
grau de contaminação durante o processamento, foi avaliar o índice de contaminação
além da temperatura e outras condições de
microbiológica e parasitológica na carne moída
armazenamento e distribuição (MANTILLA et comercializada em açougues e supermercados
al., 2007). da cidade de Aracaju/SE, no período de abril a
Dentre os micro-organismos, a bactéria julho de 2009.
Staphylococcus aureus é considerada uma das
mais frequentes causas de enteroinfecção. A
infecção alimentar provocada por S. aureus é MÉTODOS
devida à ingestão de enterotoxinas produzidas e Foram analisadas 16 amostras em triplicata –
liberadas pelas bactérias (toxinfecção) durante a sendo três alíquotas de cada amostra -(n = 48)
sua multiplicação no alimento submetido à de carne moída, coletadas em quatro
temperatura insuficiente para provocar sua estabelecimentos comerciais (açougues – 1 e
destruição e depois mantido a temperatura supermercados - 2) localizados em áreas
inadequada para conservação (DUARTE, classificadas economicamente como classe A e
2012). Escherichia coli pode ser transmitida ao D da cidade de Aracaju/SE, no período de abril
homem pela ingestão de carne bovina a julho de 2009. As amostras foram
contaminada; sendo que este micro-organismo acondicionadas nas embalagens fornecidas pelo
está associado a um grande espectro de doenças próprio estabelecimento de venda e
que vão desde uma diarreia leve até colite transportadas em caixas isotérmicas para o
hemorrágica, síndrome hemolítico-urêmica, Laboratório de Pesquisa em Alimentos (LPA) e
dentre outras (BERGAMINI et al., 2007; Laboratório de Doenças Infecciosas e
RIEDEL, 2005). Parasitárias (LDIP) do Instituto de Tecnologia e
Pesquisa (ITP) localizado na cidade de Aracaju-
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SE. Durante o processo de acondicionamento, A avaliação parasitológica de alíquotas de 20 g
foram observadas as condições de higiene de de carne moída foi processada por meio da
cada um dos estabelecimentos. As alíquotas técnica de Hoffmann, Pons e Janer (1939), com
foram obtidas pelo processo de quarteamento e posterior observação em microscópio óptico.
removidas com auxílio de espátula previamente
esterilizada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As análises microbiológicas seguiram os
protocolos sugeridos por Silva et al. (2007). A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº
Para detectar a presença de Salmonella sp., 12 de 2001 (BRASIL, 2001) estabelece como
alíquotas de 25 g de carne moída foram diluídas parâmetro de qualidade microbiológica da carne
em caldo lactosado e submetidas a etapas de pré- in natura apenas a ausência de Salmonella sp.
enriquecimento e enriquecimento seletivo, em 25g de amostra.
através da utilização do caldo selenito (Mbiolog Na Tabela 1 estão expressos os valores obtidos
Diagnosticos, Contagem/MG), a temperatura de na pesquisa de coliformes totais e
37°C conforme instruções do fabricante. Os termotolerantes.
microrganismos isolados foram então
submetidos a provas bioquímicas, tais como o
ágar tríplice açúcar ferro e o caldo lisina. Na Tabela 1. – Contagem de coliformes totais e
detecção de Staphylococcus aureus, alíquotas de termotolerantes em carnes moídas
25 g de carne moída foram diluídas em caldo comercializadas na cidade de Aracaju- SE.
lactosado como diluição inicial (10-1), sendo
posteriormente feitas diluições seriadas e o meio Ponto
incubado em ágar sangue a 35°C. Procedeu-se 1A 2A 1D 2D
a contagem do número de colônias que
apresentavam características típicas, tais como: 1 2.00 2,40 2,4x106 2,4x106
CT (NMP/g)

colônias circulares, pequenas (máximo 1,5 mm 2 1,4x104 1,2 2,4x106 2,4x106


em diâmetro), lisas, convexas, com bordas 2,4x106 9,2x102
3 0.00 0.00
perfeitas, massa de células esbranquiçada. As
colônias típicas de S. aureus foram então 4 2,4x103 2,4x102 2,4x106 1,10
submetidas às provas de catalase e DNAse para 1 2.00 2,4x102 2,4x106 2,4x106
CF (NMP/g)

confirmação diagnóstica. Na quantificação de


2 4,5x101 0.00 2,4x106 2,4x106
coliformes totais (CT) e coliformes
termotolerantes, alíquotas de 25 g de carne 3 0.00 0.00 2,4x106 4.00
moída foram diluídas em caldo lactosado até se 4 2,4x103 0,20 2,4x106 0.00
obter diluições 10-1 a 10-6. Como teste
presuntivo para coliformes totais utilizou-se o
Caldo Lauril Sulfato Tiptose (LST); para o teste Observa-se que nas amostras de
confirmatório de coliformes totais, o Caldo estabelecimentos comerciais localizados em
Verde Brilhante Bile (VBBL) e o caldo bairros classe A (1A e 2A), ocorreram os
Escherichia coli (EC) foi utilizado como teste menores valores para a presença de CT quando
confirmatório de coliformes termotolerantes. Os comparados com aquelas recolhidas em
valores obtidos foram comparados com a tabela estabelecimentos em bairro classe D (1D e 2D).
de número mais provável (NMP). A contagem Os valores observados no açougue, de bairro
de bolores e leveduras nas amostras de carne classe D, são extremamente elevados. Além
moída foi determinada pelo método de disso, as amostras obtidas em açougues (1)
plaqueamento de superfície. Neste apresentam maiores contaminações por
procedimento, inoculou-se 1,0 ml da diluição coliformes totais e termotolerantes que as
em caldo lactosado inicial 10-1 em placas amostras de supermercados (2) indistintamente
contendo Ágar Dicloran Rosa de Bengala da classificação do bairro.
Clorafenicol, seguida de incubação a 25°C por
48h.
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Observa-se ainda que na maioria dos casos há encontraram Salmonella sp. em uma das
coincidência da carga microbiana para amostras analisadas, isso causa ainda mais
coliformes totais e coliformes termotolerantes, preocupação, pois esta bactéria pode provocar
fazendo-nos pensar que o processo de graves danos à saúde levando inclusive ao óbito,
contaminação pode ter ocorrido durante o abate além de sua presença ferir a legislação vigente,
e evisceração, ou mesmo devido à ação de que preconiza a ausência da bactéria.
manipuladores durante o processo de moagem, O padrão microbiológico adotado no Brasil para
o que está de acordo com Siqueira (1995), o qual carne e produtos cárneos resfriados ou
afirma que a procedência, em grande proporção, congelados “in natura”, carne moída e carnes
de E. coli com habitat exclusivo no trato preparadas cruas congeladas ou não, como bifes
intestinal de homens e animais, indicaria assim e outros, de acordo com a Resolução RDC no
condições sanitárias inadequadas durante o 12, de 2 de janeiro de 2001 dispõe apenas a
processamento, produção ou armazenamento ausência de Salmonella sp. em 25g de amostras
dos alimentos. Neste sentido, durante a (BRASIL, 2001); entretanto a presença de E.
amostragem foi verificada a higienização do coli indica má qualidade higiênico-sanitária da
ambiente e cuidado com parâmetros pessoais carne. Grünspan et al. (1996) adotaram como
como, por exemplo, uso de toucas, luvas e limite para coliformes 100 NMP/g, e assim
máscaras os quais não encontramos o uso desses verificaram que 20% (n = 10) das amostras de
utensílios pessoais nos supermercados e carne moída recolhidas em açougues na cidade
açougues. de Santa Maria, Rio Grande do Sul, foram
A contaminação também pode ser atribuída às aprovadas neste quesito de qualidade.
máquinas de moer, neste sentido Oliveira et al. Transportando este limite para este trabalho,
(2008) observaram contaminação por 50% das amostras receberiam a aprovação
coliformes totais e termotolerantes em carne quanto à contaminação por coliformes totais e
moída em estabelecimentos comerciais da termotolerantes.
cidade de Lavras, – Minas Gerais, bastante Apesar de não ser uma referência preconizada
elevados (9 a 2,4x104 Unidades Formadoras de pela legislação, à incidência de coliformes é um
Colônias- UFC e 1,5 a 4,3x104UFC, parâmetro importante na determinação da
respectivamente); sendo que nas mãos dos qualidade de carne moída. Os resultados para a
manipuladores, esses valores foram de 0,9x101 contaminação por Staphylococcus aureus e
a 2,4x102UFC e 0,15x101 a 0,43x101 UFC, Salmonella sp. pode ser visualizado na Tabela 2.
respectivamente; já nas máquinas de moer, foi
de 0,43x101 a 2,4x102UFC e 0,21x101 a 2,3x101 Nas carnes moídas recolhidas, 31,25%
UFC, respectivamente. Portanto, a manipulação apresentaram S. aureus, sendo que todos os
é fator importante na contaminação. casos foram detectados nos açougues (18,75%
no açougue localizado em bairro de classe D e
No estudo de Ferreina e Simm (2012) foi 12,5 % naquele localizado no bairro de classe
observado que as amostras de carne moída no A). No supermercado não foi verificado nenhum
momento da aquisição e de carne pré-moída caso de crescimento para esse microrganismo.
mostraram pouca diferença quanto à
contaminação microbiológica. Ambas Os estafilococos fazem parte da microbiota
apresentaram altas contagens de coliformes normal da pele e mucosas de aves e mamíferos,
totais e termotolerantes, o que aponta para sendo as fossas nasais o principal reservatório
possíveis falhas nos procedimentos higiênico- no homem. A inadequada manipulação dos
sanitários ao longo da cadeia produtiva e de alimentos, aliada a temperaturas adequadas ao
distribuição deste produto. A presença de crescimento e contaminação cruzada
coliformes não indica propriamente a presença predispõem à contaminação por este
de patógenos, mas, principalmente os microrganismo. Oliveira et al. (2008)
coliformes termotolerantes, indicam que encontraram incidências entre 3,3x103 a
existem condições propícias para contaminação 1,10x105 UFC para as amostras de carne moída
e proliferação destes no alimento. Eles também de cinco estabelecimentos estudados e

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localizados na cidade de Lavras- Minas Gerais. Apesar da presença de coliformes em todas as
Já Souza et al. (2000) avaliaram a qualidade amostras recolhidas de açougues de bairros
microbiológica de 30 amostras de carne bovina classe D, não foram encontradas amostras
moída “in natura” comercializadas no município positivas de Salmonella sp. nestes
de Macapá, AP. Os autores encontraram 100% estabelecimentos, tornando-as apropriadas à
das amostras contaminadas com Salmonella sp. venda, conforme a legislação vigente.
e clostrídios sulfito redutores, 26,6% com Almeida et al. (2002), em trabalho conduzido no
coliformes termotolerantes, 6,6% com município do Rio de Janeiro, demonstraram
Staphylococcus aureus e 43,4% com Bacillus haver uma maior contaminação de amostras
cereus. moídas quando comparadas à peças inteiras de
carne. Através desse trabalho os autores
concluíram que a moagem favorece a instalação
Tabela 2- Contagem de Staphylococcus aureus
e multiplicação de bactérias, muitas vezes
e presença de Salmonella sp. em carne moída
patogênicas, pois aumenta a superfície de
nos estabelecimentos comerciais estudados nos
contato e proporciona a passagem de resíduos de
diferentes tempos de coleta.
moagens anteriores para amostras subsequentes.
Ponto
Xavier e Joele (2004) analisaram trinta amostras
1A 2A 1D 2D de carne bovina em diversos cortes e
encontraram a presença de Salmonella sp. em
1 2,4 x104 0 0 0 3,3% (uma amostra). Pigarro e Santos (2008),
aureus (UFC/g)
Staphylococcus

também encontraram uma amostra (12,5%)


2 0 0 1,32x105 0
contaminada com a bactéria em trabalho
3 0 0 7,86x104 0 realizado em duas redes de supermercados em
Londrina/PR onde foram coletados um total de
4 8,1x10³ 0 1,52x105 0 oito amostras. No estudo realizado por Dias et
1 Aus Pre Aus Aus
al. (2008), uma amostra (4,2%) de um total de
Salmonella sp. em

24 de carne moída, coletadas no comércio


2 Pre Aus Aus Pre varejista da região sul do Rio Grande do Sul, foi
25g

positiva para Salmonella sp.


3 Aus Aus Aus Pre
Já Ferreira (2008), analisou quarenta amostras
4 Aus Aus Aus Aus de carne moída coletadas em açougues e
75 75 100 50 75
supermercados do município de
Apr.(%)
Uberlândia/MG, nas quais não foi detectada a
Aus = Ausência, Pre = Presença. presença do microrganismo. Resultados
semelhantes foram apresentados por Ristori
(2010) que avaliou 552 amostras de produtos
Pigatto e Barros (2003), trabalhando com carne cárneos comercializados em supermercados e
moída, comercializada em açougues da região hipermercados do município de São Paulo/SP
de Curitiba, PR, encontraram populações de sendo 138 delas de carne bovina moída crua e
Staphylococcus sp. superiores a 105 UFC/g em por Lundgren (2009) que pesquisou 10 amostras
66,6% das amostras e para coliformes, de carne bovina provenientes de feiras livres e
contagem maior que 105 UFC/g em 86,6% mercados públicos de João Pessoa/PB.
delas. Já Perina et al. (2005), estudando as
características microbiológicas de quibes crus Na identificação de Salmonella sp. também
comercializados na cidade de São José do Rio foram identificadas outras bactérias nas
Preto-SP, verificaram que 85,7% das amostras amostras após a análise bioquímica. Na primeira
analisadas estavam em desacordo com os amostragem foram encontrados no ponto 1A,
padrões microbiológicos estabelecidos pela 2A e 2D Enterobacter e E. coli. Já no ponto 1D,
legislação vigente para Staphylococcus aureus. identificou-se Proteus mirabilis. Na segunda
amostragem, identificaram-se 1A – Citrobacter

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freundii, 2A- E. coli e 1D e 2D - P. mirabilis. No próximos aos encontrados neste trabalho, em
ponto 2D foi detectado E. coli, no 1D – Serratia 43,75% das amostras (n = 16).
liquefaciens e E. coli, no 2A – Serratia Com relação à avaliação parasitária, foi
liquefaciens, e no 1A – P. mirabilis para a coleta encontrado no supermercado de classe D, em
de número três. Para a quarta amostragem foi duas amostragens e no açougue de classe D,
identificada, em todas as amostras, a presença ovos de Ascaris lumbricoides. Esse resultado
de E. coli. Com exceção da S. liquefaciens todos mostra uma má qualidade higiênico-sanitária e
os outros microrganismos foram citados por uma inadequada prática de manipulação. Além
Nychas et al. (2008) como comumente desses parasitos, foram encontradas larvas de
encontradas em carnes bovinas e aves. moscas no supermercado da classe D e no
Na análise qualitativa de bolores e leveduras açougue das classes A e D, sendo no último
detectou-se a presença desses microrganismos estabelecimento também detectado ácaro.
em 43,75% das amostras coletadas, todas Artefatos vegetais foram visualizados no
encontradas nas amostras provenientes de supermercado de classe A e no açougue de
açougues, como mostra a Tabela 3. Em estudo classe A. A presença de larvas de mosca,
realizado por Oliveira et al. (2008) foi artefatos vegetais e ácaros, demonstram que a
observado índice de 60% de contaminação carne foi manipulada inadequadamente e
fúngica em Lavras/MG. Cabe salientar que a armazenada em lugar inapropriado sujeito as
legislação brasileira não estabelece limites para ações do ambiente.
bolores e leveduras em carne moída, entretanto Os ovos embrionados de Ascaris lumbricoides,
valores elevados de bolores e leveduras podem quando eliminados pelas fezes do hospedeiro,
causar complicações à saúde por toxinfecções não possuem capacidade infectante, porém
secundárias à ingestão de metabólitos; além de locais úmidos, quentes e sombreados podem
acelerar o processo de deterioração do alimento, permitir o processo evolutivo, o qual dura de
afirmação que é corroborada por Silva et al. três a quatro semanas (CAMPOS et al., 2002).
(2004). Além disso, os fungos também podem Em vista disso, a detecção de ovos férteis e
formar películas na superfície dos alimentos, inférteis de A. lumbricoides nas amostras
devido à dispersão de esporos. estudadas indica risco potencial e real de
infecção humana.
Tabela 3- Contagem de UFC/mL de Bolores e
leveduras, obtidos na carne moída dos quatro
CONCLUSÃO
estabelecimentos comerciais analisados em
diferentes meses. Os resultados permitem concluir que cuidados
especiais devem ser tomados para a melhoria da
Ponto qualidade da carne moída, comercializada na
1A 2A 1D 2D cidade de Aracaju-SE. Os açougues são os
estabelecimentos que tiveram os maiores
1 0 0 >6,5x104 0
problemas, principalmente no bairro de classe
Bolores e 2 2,94x105 0 2,65x104 0 D. Observou-se presença de coliformes totais e
Leveduras termotolerantes em praticamente todas as
(UFC/mL) 3 0 >6,5x104 >6,5x104 0
amostras, além de Salmonella sp. em 25% das
4 >6,5x104 0 >6,5x104 0 amostras, porém a incidência de S. aureus e
bolores e leveduras é baixa. Preocupante
também é a presença de A. lumbricoides e larvas
Lundgren e Silva (2009) encontraram, em carne de moscas nas amostras, por refletir deficiências
bovina in natura comercializada em feiras livres nas condições de manipulação e
de João Pessoa – Paraíba, presença de bolores e acondicionamento da carne, que é um alimento
leveduras em 50% das amostras (n = 10) valores de baixo custo e de grande consumo por parte da
entre 1,6x103 e 1,0x106 UFC/g, valores população.

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Tese de Doutorado em Ciências dos Alimentos.

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