Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRADE DO NORTE – UERN

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação – PROEG


Campus Caicó – CAC
Curso de Filosofia
Disciplina: História da Filosofia VI
Prof: Benjamim Julião de Góis Filho Período: 6°
Discente: Samuel Aminon da Silva Costa Nota:______

ATIVIDADE AVALIATIVA

1 – Disserte a respeito dos principais aspectos (ontológicos e metafísicos) da Monadologia de


Lebniz.

Tanto em sua metafísica como ontologia, Leibniz parte de um princípio que ele chama de
mônadas. Estas se constituem como substâncias simples, responsáveis por formar os compostos, e
são os reais elementos das coisas, que não podem ser divididos, seja qual for o modo, tampouco
podem se dissolver. Uma mônada não pode iniciar de forma natural, e o seu fim só pode se dá por
aniquilamento, pois as regras de geração e destruição às quais as demais coisas estão submetidas,
não se aplicam a ela. Essas mônadas são também dotadas de qualidades, já que caso não fossem, as
coisas, que são os seus compostos, seriam indistinguíveis umas das outras. Também, cada mônada é
única em sua composição, e sofre mudanças apenas a partir de princípios internos, pois não pode ser
alterada por causas externas. As mônadas, ou substâncias simples, são a base na qual se assenta a
metafísica de Leibniz, e são em número infinito. É nessas mônadas que está o conceito de
substância leibniziano, que não pode ser material, mas apenas como ideia. Leibniz diz que essas
mônadas, ou ideias, são como uma “espelho vivo e perpétuo do universo”. Os infinitos universos
seriam apenas infinitas percepções das diferentes mônadas, e todo o mundo físico seria composto de
representações das mônadas. Estas, representam o universo por meio da percepção, que não é
estática, pois cada uma possui diferentes grau de perfeição, mas todas tendendo à perfeição da
percepção. Podemos dizer que cada mônada é como uma mente em distintos graus de percepção,
sendo o mais elevado aquele chamado de consciência. Cada uma dessas substâncias são
autossuficientes e independentes entre si, e incapazes de agir uma sobre a outra. Previamente
ordenadas por aquilo que Leibniz chama de harmonia preestabelecida, as mônadas são criadas por
uma substância infinita e perfeita, que abriga em si infinitas representações e percepções daquelas.
Separada das mônadas, e completamente autossuficiente em si mesma, essa substância infinita é
chamada pelo filósofo de Deus.
2 – Apresente em linhas gerais a teoria do conhecimento leibniziana.

Leibniz busca em seu projeto, conciliar pares aparentemente díspares, como mundo natural e
moral, corpo e alma, causa eficiente e final, Platão e Aristóteles, assim como escolástica e
racionalismo cartesiano. A sua busca é por aquilo que ele chama de harmonia, e que investigou em
áreas diversas como: física, matemática e metafísica. Uma de suas sendas era harmonizar um vasto
conhecimento da humanidade por meio de uma enciclopédia universal, o que se deu pelo caráter
polímata das suas investigações. Foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do cálculo
infinitesimal, que fora um reflexo da sua tentativa de sempre procurar explicações sistemáticas e
harmônicas da totalidade das coisas. Para Leibniz, o método consistia menos em raciocinar
adequadamente e mais em buscar a ordem inerente às coisas. Estas, estariam colocadas em uma
realidade toda contínua, inesgotável, mesmo que em suas partes mais ínfimas. Para o pensador, não
há vácuo, e o todo, sem espaço vazio, pode ser dividido em infinitas partes, por isso a extensão não
pode ser compreendida como substância. Esta, por necessidade de ser compreendida como algo
simples, não pode jamais ser concebida em partes, ao passo que a extensão é formada por partes que
se seguem até infinito, seja macro, seja micro. Na contramão de Descartes, Leibniz passa a
diferenciar minuciosamente força e movimento, pois partindo do princípio da continuidade da
realidade, é impossível que haja uma modificação imediata do movimento, como fora formulado
por Descartes, no caso de um corpo que se choca com outro. Essa distinção entre força e
movimento é crucial porque, para Leibniz, o movimento não é algo completamente real, pois
quando corpos interagem entre si, é impossível determinar de qual deles partiu o movimento ou
repouso. Já a força, é algo mais real, porque é atributo do corpo e princípio interno do movimento,
sendo cada corpo dotado de uma força dinâmica em seu interior. Esse raciocínio levará Leibniz da
física à metafísica, pois na medida que a força difere dos atributos corpóreos e geométricos, só pode
ser um princípio metafísico, do qual parte a própria física. A força seria então a primeira enteléquia.
Aqui ele pega o termo emprestado de Aristóteles, para se referir à perfeição de algo que é sempre
atualizado por um movimento intrínseco e próprio. Finalmente, por consequência, Leibniz chega à
substância indivisível, que compõe e agrega a tudo, pois havendo multiplicidade de substâncias,
cada uma autônoma, com movimento próprio, deve haver também aquela da qual todas elas partem
e que é fundamento ordenador desses movimentos individuais, e essa substância é Deus, princípio
de todas as infinitas substâncias simples, ou mônadas.

3 – A partir da leitura do texto de Kant sobre a questão do Esclarecimento, e da leitura de


Foucault a respeito de kant, destaque qual a importância do iluminismo para a filosofia na
modernidade e na contemporaneidade.

Partindo do pressuposto de que o homem, em seu tempo, encontrava-se na condição de


menoridade existencial, Kant propõe, através da Aufklärung, ou esclarecimento, uma espécie de
transposição daquele estado. Essa menoridade, não se dava necessariamente pela ausência de
entendimento por parte do homem de seu tempo, mas pela incapacidade de ação ante a vida, da
pequenez do homem que necessita do aval e do direcionamento alheio para se fazer no mundo,
numa espécie de terceirização da razão. Isso se daria em parte, pela acomodação e covardia já
presente no espírito desses homens, tão incapazes de caminhar com as próprias pernas, de fazer uso
do próprio entendimento. Para Kant, a condição básica que deveria ser dada ao homem para sair
daquele estado de menoridade, seria a liberdade. Esta, proporcionaria àqueles mais predispostos ao
uso da razão, uma postura e espírito racional em relação à vida, adquirindo assim a capacidade de
pensar por si mesmos. “Naturalmente”, a presença desses homens no mundo levaria ao consequente
esclarecimento dos demais. Porém, Kant ressalta que esse movimento não poderia jamais se dá por
meio de revoluções, pois a “verdadeira” reforma no modo de pensar exigiria apenas a liberdade,
enquanto aquela não a prioriza, mas apenas as reformas políticas estruturais. Além disso, Kant
prevê a necessidade do uso público da razão, que deve ser livre, com a ressalva de que em certas
situações, quando investido de posições públicas e de bem comum, o homem deve usar a razão
apenas na medida em que essa não o leva ao afastamento de sua finalidade, daí o lema “ser livre,
mas obedecer”. Não seria essa, uma obediência cega a regimes e leis, mas apenas na medida da
necessidade de manutenção das instituições necessárias à ordem comum. Ainda nesse sentido, o uso
privado da razão poderia, segundo o filósofo, ser restringido de acordo com a finalidade à qual se
propõe determinado órgão, sendo essa privação voluntária também um ato da razão. No entanto,
instituições privadas, como por exemplo as religiosas, não poderiam jamais se impor publicamente
como constituição fixa, a qual não devesse ser contestada, pois isso atrasaria a “marcha da
humanidade”. Porém, seria válido para um homem, em sua individualidade, adiar o esclarecimento
para si mesmo, mas nunca para sua posteridade, do mesmo modo que um rei não poderia o fazer, já
que lida com a vontade do povo, e ao fazê-lo estaria atentando contra os direitos da humanidade.
Destarte, considera que sua época não é de fato esclarecida, mas está em esclarecimento, em
movimento, e propícia ao seu desenrolar. O filósofo Michel Foucault, a partir da leitura de Kant, vê
neste escrito acerca do esclarecimento, uma questão vital acerca do presente que vivemos ou
daquele presente que somos, e o que faria sentido nesse para uma reflexão filosófica. Foucault vê,
que no texto de Kant, o presente aparece propriamente como um acontecimento filosófico, e aí a
filosofia se mostra como uma prática discursiva histórica, que busca a razão de ser daquele próprio
acontecimento, que é o esclarecimento. Nessa problematização da realidade, a filosofia se
caracterizaria como um discurso da modernidade. A questão é que esse esclarecimento chama a si
mesmo de esclarecimento, e aí ele já seria por si só um acontecimento cultural, colocado em época
e contexto, no entanto com pretensões universalistas. Quanto à questão do progresso, tão aventada
por Kant, Foucault comenta que este propõe que o signo rememorativo, demonstrativo e
prognóstico do progresso deve ser buscada nos acontecimento bem menos importantes. Nesse
sentido, a revolução em si faria no máximo inverter as coisas, mas nunca provocar o progresso, e
nela, enquanto acontecimento, não é possível encontrar o anelado signo. No entanto, é nas
aspirações daqueles atuam nos bastidores da revolução que se encontraria esse tão almejado signo
do progresso, naqueles que seriam de fato seus atores principais. Ademais, aquilo que interessa a
Foucault no texto de Kant, perpassa necessariamente pela aufklärung como uma questão acerca da
atualidade ela mesma, do presente enquanto questão filosófica, e que seria inauguradora da
modernidade europeia, presente na história da razão, que instaurou progressivamente formas de
racionalidade cada vez mais “desenvolvidas”. Para Foucault, a aufklärung, juntamente como o
entusiasmo para revolução e a utilidade dessa, são questões que nos levariam à interrogação acerca
do que somos nós em nossa atualidade. Para Foulcault, Kant teria fundado duas tradições críticas
que dividiram a filosofia moderna, que é a possibilidade do conhecimento verdadeiro e a analítica
da verdade. Porém, o que interessa de fato à Foucault é uma analítica do presente e uma ontologia
de nós mesmos, que passa necessariamente por duas perguntas básicas: “O que é nossa atualidade?
Qual é o campo das experiências possíveis? Dito isso, podemos dizer que, colocadas em seu
contexto histórico e atualidade próprias, as considerações acerca da aufklärung, trazidas por Kant,
situam-se como tentativas de propor uma autonomia dos indivíduos pensantes a partir de critérios
racionais. Tendo em vista que as categorias da razão figuravam como o mote da desde então
inaugurada modernidade, é compreensível a empreitada de Kant em estabelecer a razão como
critério mor para o progresso da humanidade. Mas se levarmos em conta que as tradições
filosóficas europeias anteriores, mesmo que não com tanta ênfase, através da herdada tradição
platônico-aristotélica, também já utilizavam a razão como preceito básico para as investigações
filosóficas, com implicações quase sempre teleológicas e teológicas, podemos dizer que o enredo
muda, mas o princípio permanece o mesmo, já que a razão continua como déspota do fazer
filosófico, o que fora posteriormente criticado por filósofos como Nietzsche, que pensou em uma
filosofia dos impulsos, ou mesmo da arte. Se levarmos em conta, que Foucault não adere
completamente ao projeto kantiano da razão pura, podemos aí situar a aufklärung em seu lugar
histórico, e só então vislumbrar a sua importância, já que se a retirarmos das suas implicações
históricas, seremos obrigados a estabelecer, sem considerar nosso presente, que as questões ali
aventadas por Kant, de uma europa do século XVIII, seriam completamente hodiernas, sem
ressalvas, para o nosso tempo. Sinto que é justamente esse movimento proposto por Foucault, que
reconhece a importância histórica do iluminismo, assim como suas implicações epistemológicas,
mas não sem realizar um trabalho crítico, o que não foi feito pelo próprio Kant, já que colocou a
razão como único e incontestável modo da filosofia e da humanidade como um todo progredir. É
possível dizer que, as pretensões universalistas de Kant em relação à razão, contradizem a própria
noção de liberdade que ele coloca, já que aqueles que hipoteticamente a criticassem, estariam sendo
irracionais, o que entra em choque com o próprio preceito de liberdade para o desenrolar do
progresso humano. Daí a importância da história, elencada por Foucault, e as perguntas acerca da
nossa atualidade e relevância de certas questões para o nosso presente filosófico. De certo modo,
isso se insere na própria noção de liberdade, já que esta seria até mais necessária do que a razão
quando colocada como preceito axiomático. Ao fitar a questão da auflklärung através do prisma
histórico, Foucault realiza um movimento de atualização e tenta, não desconsiderar ou
simplesmente aceitar toda a teoria kantiana, mas situá-la, para assim revelar uma importância para o
iluminismo, que não consiste em reiterá-lo cegamente, mas que surge como algo exórdio para a
proposta foucaultiana, que é uma analítica do presente e uma ontologia de nós mesmos.

4 – Em que sentido a filosofia de Leibniz se coloca como uma contraposição à filosofia


cartesiana?

Descartes propõe uma diferenciação entre as imagens sensíveis e as imagens que estão no
intelecto. Estas últimas seriam as únicas dignas de serem concebidas como ideias verdadeiras. A
realidade objetiva seria uma entidade ou ser da coisa que a ideia representa. Dá-se que a ideia deve
ser uma realidade objetiva da coisa no pensamento. A ideia seria a própria coisa como um conteúdo
do intelecto, mesmo que não conserve a realidade da coisa que representa. Leibniz também vê as
ideias como conteúdo do pensamento. Porém, rompe com Descartes, na medida em que atribui
outro sentido para o aspecto representativa das ideias, pois mesmo que conceba essas como
representações em nossa mente, rejeita que a elas seja atribuído apenas um caráter de imitação.
Leibniz vê a ideia como algo imediato do nosso conhecimento intelectual ou sensível, sendo inata
na alma humana, podendo ser anterior ou posterior aos pensamentos, e atualizando-se cada vez que
é pensada. No mais, Leibniz encara a ideia como ação expressiva da mente.

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. Qu’est-ce que les Luminières? Magazine Littéraire, n° 207, mai 1984, pp 35-
39. Retirado do curso de 5 de Janeiro de 1983, no Collége de France). Traduzido a partir de
FOUCAULT, Michel. Dits et Écrits. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 679-688, por wanderson
flor do nascimento.

KANT. Que é esclarecimento? [aufklärung]. 05 de Dezembro de 1783, p. 516. Tradução do


original alemão por Raimundo Vier. Vozes, 2° Ed, 1985.

KONTIC, Sacha Zilber. Ideia, Imagem e Representação: Leibniz crítico de Descartes e de Locke /
Sacha Zilber Kontic Kontic ;orientadora Tessa Moura Lacerda Lacerda. - SãoPaulo, 2015.

LEIBNIZ. Princípios da Filosofia ou a Monadologia. Tradução: Fernando Barreto Gallas, 2007.


Acesso em http://www.leibnizbrasil.pro.br

Você também pode gostar