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O impacto do Limnoperna Fortunei (Mexilhão Dourado) nas Usinas

Hidrelétricas: Análise de métodos de controle para prevenção da obstrução das


turbinas, tubulações e incrustamento nas superfícies metálicas.

Ana Letícia Santos Amaral


(analeticiaamaral22@gmail.com)
Jader Mota Cândido
(jadermota@hotmail.com)
Professora Orientadora: Elaine Gonçalves da Costa
(elainecosta@prof.una.br)
Coordenação de Curso de Engenharia Civil Una Bom Despacho

O mexilhão dourado um molusco de água doce, originário do sudeste asiático, chegou à


América do Sul por meio de água de lastro de navios, e desde então é caracterizado no Brasil,
como uma espécie exótica invasora, pois acarreta inúmeros prejuízos ambientais e
econômicos. Nas usinas hidrelétricas, ele é capaz de provocar a obstrução de tubulações e
equipamentos metálicos, ocasionando sua paralisação para retirada dos focos. Utilizando
chapas metálicas, submetidas à aplicação da pintura anti-incrustante e tratamento
anticorrosivo verificou-se eficiência da tinta Nanoclean® Antifouling se comparada à comum
(Revran TLS 520), na prevenção e eliminação do problema de incrustação do Limnoperna
fortunei em peças metálicas. Por meio da pesquisa em questão, pode-se concluir que a tinta
específica para o tratamento contra a fixação do molusco é efetivamente viável se comparada
aos demais procedimentos realizados; uma vez que não foram encontrados focos de mexilhão
dourado na peça em que se utilizou Nanoclean® Antifouling, demonstrando assim, a
importância de ser utilizada nos equipamentos metálicos que fazem parte da estrutura de uma
UHE.

Palavras-chaves - Molusco, Pintura Anti-Incrustante, Incrustação.

1 INTRODUÇÃO

No Brasil, devido sua abundância em recursos hídricos, grande parte da energia


elétrica produzida para o abastecimento do país é advinda de usinas hidrelétricas.
Considerando a dependência que a população brasileira tem de tais recursos, deve-se atentar
aos impactos que vêm sendo provocados em algumas usinas devido à infestação do molusco
Limnoperna fortunei (DUNKER, 1857).
A espécie invasora do molusco Limnoperna fortunei, conhecida popularmente por
Mexilhão Dourado, originou-se na região do Sudeste da Ásia e na China e foi transportada
para a América do Sul, na década de 1990 por barcos vindos da Ásia, através de água
infectada de lastro de navios; servindo tal água para garantir a estabilização da navegação e
sendo despejada lentamente por onde o navio passa (EMBRAPA, 2003).
De acordo com Darrigran & Pastorino (1995), a invasão na América do Sul se deu
primeiramente na Argentina, sendo que o primeiro registro foi constatado no Balneário
Blagliardi, no estuário do Rio La Plata. No Brasil, foram verificados os primeiros indícios em
meados de 1998-1999, no Rio Grande do Sul, no Lago Guaíba (Mansur et al., 1999), na
Lagoa Mirim (Burns et al., 2006) e no Delta do Jacuí (Mansur et al., 2003).
Desde o ano de 2015, a espécie de mexilhão dourado já pode ser detectada no Rio São
Francisco, abrangendo parte dos estados da Bahia e Pernambuco (Barbosa et al., 2016) e no
Pantanal Mato Grossense (Embrapa, 2007). Segundo o IBAMA (2018), a espécie também já
foi encontrada nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, São Paulo, Paraná, Bahia e Goiás.
Apesar de ser extremamente resistente, o mexilhão por si só não é capaz de se espalhar
contra a correnteza. Dessa forma, a sua disseminação no Brasil está associada à ação humana
e ocorre por meio da pesca, deslocamento de areias, transporte fluvial e água de lastro (FEN,
2019).
Tendo em vista que à dispersão da espécie vêm ocorrendo gradativamente, deve-se
atentar às consequências que o molusco pode causar. De acordo com o IBAMA (2018) no
“Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento no Brasil”, o principal impacto
relacionado à espécie, é econômico; uma vez que ele fixa-se em superfícies submersas,
ocasionando incrustações nas peças metálicas, tubulações e turbinas principalmente em usinas
hidrelétricas, podendo chegar a fechar a área de tais peças, visto que eles incrustam sobre si
mesmos e formam massas muitos densas.
Por outro lado, há também um prejuízo ambiental atribuído ao mexilhão, pois ele é um
animal filtrador e acaba levando vantagem em relação as espécies nativas, pois não tem
predadores naturais, afetando o ciclo de nutrientes no ambiente aquático e promovendo
mudança na ictiofauna, segundo pesquisas do IBAMA (2018).
De acordo com o IBAMA (2018), o mexilhão dourado está presente em cerca de
cinquenta hidrelétricas brasileiras, ocasionando a obstrução de tubulações e provocando o
aumento nas paradas de limpezas e manutenção dos equipamentos, que geram um prejuízo de
cerca de R$ 40 mil reais diários por interrupção, (em uma usina hidrelétrica de 120 MW de
potência, com três unidades geradoras) 1, devido à paralização de máquinas; sendo esse valor

1
Com cálculos baseados em uma residência familiar com quatro pessoas, possuindo: sala, dois dormitórios,
banheiro, cozinha e área de serviço com consumo mensal em média de 539,7 KW (0,5397 MW) a usina em
questão consegue atender em média 222 residências.
2
sem a contabilização das despesas com reparo dos equipamentos e remoção das incrustações
(NETTO, 2011).
Como a invasão do Limnoperna fortunei ainda é recente, as hidrelétricas estão
aderindo ao uso de produtos químicos na tentativa de diminuir os efeitos negativos causados
pela espécie. No Brasil, há apenas dois produtos liberados em registro emergencial pelo
IBAMA, que são eles: MXD-100 (Instrução Normativa IBAMA nº 17, de 21 de outubro de
2015) e o Dicloro Isocianurato de Sódio (Instrução Normativa IBAMA nº 18, de 21 de
outubro de 2015), os quais são produzidos à base de cloro, que atuam reduzindo a densidade
de larvas e mexilhões na água, sendo que possuem a desvantagem de aumentar a corrosão nos
equipamentos metálicos (FEN, 2019).
Considerando os prejuízos financeiros e ambientais ocasionados pelo molusco, este
trabalho tem por objetivo analisar a viabilidade da aplicação da pintura anti-incrustante nas
peças metálicas, na tentativa de eliminar o problema de incrustação da espécie de Mexilhão
Dourado nos equipamentos, além de verificar o uso de tintas convencionais como parâmetros
de resultados entre a eficiência da pintura anti-incrustante em relação à comum.

1.1 Problema de pesquisa

O mexilhão dourado é um molusco de água doce de pequeno porte, originário do


sudeste asiático que chegou acidentalmente ao continente sul-americano, trazido pelas águas
utilizadas como lastro em navios cargueiros. Devido suas características séssil (fixação em
superfícies rígidas) e gregária (grande população aglomerada); e pela intensa capacidade de
proliferação, o mexilhão dourado se destaca como espécie invasora pelo potencial de
ocasionar obstrução de tubulações e equipamentos em instalações hidrelétricas e de
abastecimento, provocando impacto econômico e ambiental.
Diante do exposto, buscou-se responder a seguinte questão problema: Para amenizar
os efeitos causados pelo molusco, a pintura anti-incrustante é um método efetivo na
prevenção da incrustação da espécie, nos equipamentos metálicos?

1.2 Hipóteses

i) Utilizar a pintura anti-incrustante pode evitar a incrustação de novos focos de


infestação do mexilhão dourado.

3
ii) A pintura anti-incrustante, na prevenção da fixação da espécie nas peças metálicas é
economicamente mais viável que a retirada mecânica dos focos.
iii) A utilização de Nanoclean® Antifouling pode amenizar a fixação das larvas de
Limnoperna fortunei.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar a viabilidade da aplicação da pintura anti-incrustante nas peças metálicas, na


tentativa de eliminar o problema de fixação da espécie de Mexilhão Dourado nos
equipamentos, além de verificar o uso de tintas convencionais como parâmetros de resultados
entre a eficiência da pintura anti-incrustante se comparada à comum.

1.3.2 Objetivos específicos

i) Pesquisar artigos científicos relacionados à espécie, que possam agregar conhecimentos


para a elaboração do artigo e consequente análise sobre a pintura anti-incrustante.
ii) Coletar amostras de indivíduos de Mexilhão Dourado para realização da pesquisa.
iii) Analisar se a aplicação da pintura anti-incrustante nas peças metálicas é efetivamente
viável na prevenção da incrustação da espécie de Mexilhão Dourado.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1.1 O mexilhão dourado na América do Sul

A espécie Limnoperna fortunei (Dunker, 1857), foi inserida na América do Sul em


setembro de 1991 na costa Argentina do Rio de La Plata, no Balneário Bagliardi, Berisso,
próximo de Buenos Aires. (Darrigran & Mansur, 2009). A propagação do molusco é
associada ao transporte de larvas por água de lastro de navios mercantes originários da Ásia.
Por certo, o período de aparecimento da espécie na Argentina coincidiu com o ápice de
importação de produtos asiáticos (DARRIGRAN & PASTORINO, 1995).

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De acordo com Darrigran & Damborenea (2009), o mexilhão dourado, como é
popularmente denominado é uma espécie de mexilhão de água doce que vive fixa em
substratos duros, impactando ambientes naturais (locomoção de espécies nativas e mudança
de dietas em peixes) e humanos (estações de tratamento de água e unidades geradoras de
energia), sendo que Darrigran & Ezcurra de Drago (2000) mencionam que sua dispersão
avançou 240 km/ano à montante na Bacia do Prata afetando vários países vizinhos da costa
Argentina através da ação antrópica (transferido pelo homem) por meio do transporte de
indivíduos aderidos aos cascos de embarcações transportadas por água ou por terra.
Ainda considerando os estudos de Darrigran & Ezcurra de Drago (2000), que citam o
deslocamento anual do Limnoperna fortunei contracorrente na América do Sul a partir de sua
introdução em 1991, pode-se dissertar que em seu primeiro ano de dispersão o mexilhão
percorreu 22 km; nos quatro anos seguintes, 83 km/ano. Dois anos mais tarde, a velocidade de
dispersão atingida foi de 290 km/ano. A diminuição em média (de 290 a 240 km/ano) pode
ser atribuída a uma menor navegabilidade nos ambientes colonizados posteriormente.
A partir de 1991, a espécie de molusco encontrava-se apenas no Rio de La Plata, mas
no decorrer dos anos 1995-1996 invadiu de maneira ascendente o rio Paraná em Santo Tomé
(rio Salado del Norte) (Darrigran & Mansur, 2009) e em abril de 1997 atingiu o rio Paraguai
no porto de Assunção (Paraguai), visto que nesta mesma época foi observado focos do
Limnoperna fortunei na Ilha Cerrito, onde o rio Paraguai se une ao rio Paraná. Em 1998 foi
localizado na Central Hidrelétrica de Yaciretá (Argentina-Paraguai), no Paraná superior e, até
fins do mesmo ano, no porto de Posadas (Misiones); e em fevereiro de 2001 foi identificado
na margem uruguaia do rio Uruguai, no balneário Las Cañas (DARRIGRAN & EZCURRA
DE DRAGO, 2000).
Por outro lado, em princípios de 1994 a espécie de mexilhão dourado provocou o
primeiro caso conhecido de macrofouling (assentamento dentro de encanamento) para água
doce da América do Sul (Darrigran, 1995); registrado na tomada de água das estações de
tratamento de água potável da cidade da Prata. Outros casos de macrofouling ocorreram
posteriormente nas tomadas de água para consumo humano de Bernal e da cidade de Buenos
Aires (DARRIGRAN & EZCURRA DE DRAGO, 2000).
Em concordância com os estudos anteriores, Barbosa et al. (2016), mencionam que o
molusco se espalhou pela Costa Atlântica do Sudeste (Argentina), Grandes Salinas e Mar
Chiquita (Argentina), Costa Atlântica Leste (desde o Uruguai até o Brasil, no Estado do
Paraná), por quase toda grande Bacia do Prata (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai).

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A espécie está ausente nas demais regiões hidrográficas e países deste continente,
relacionadas à costa do Pacífico e do Atlântico Norte. Os países da costa do Pacífico
apresentam menor atividade de navegação do que os países da costa do Atlântico, que
acrescido ao fluxo acelerado dos rios, conferem menor probabilidade de sustentar populações
de Limnoperna fortunei em seus sistemas hidrográficos (BOLTOVSKOY, 2015).
De acordo com Darrigran & Mansur (2009), conclui-se que a população inicial do
mexilhão dourado incrementou sua densidade nos primeiros anos de invasão e, nos seguintes,
ampliou sua disseminação, que segue até o presente momento, sendo encontrado em alguns
países da América do Sul, como: Argentina, Uruguai, Paraguai, Brasil e Bolívia (Figura 1). A
Figura 1 apresenta os locais em que são encontrados os focos de mexilhão dourado na
América do Sul, segundo os dados da CBEIH (2020).

Figura 1: Distribuição de Mexilhão Dourado na América do Sul

Fonte: Banco de Dados Colaborativo (CBEIH), 2020

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2.1.2 O mexilhão dourado no Brasil

O mexilhão dourado da espécie Limnoperna fortunei (Dunker, 1857) é um molusco


bivalve (tem concha composta de duas valvas) que foi introduzido no Brasil na década de
1990 e foi identificado como uma espécie exótica invasora no país, pois tem ocasionado
impactos ambientais e econômicos, acarretando mudanças estruturais e funcionais nos
ecossistemas e prejuízos às tarefas humanas nas Regiões Sul, Centro-Oeste Sudeste e no
Nordeste devido à recente descoberta na Bacia do Rio São Francisco (IBAMA, 2018).
De acordo com Darrigran & Mansur (2009), o mexilhão dourado foi inserido no Brasil
por duas vias distintas, mas que ocorreram basicamente ao mesmo tempo. Um dos caminhos
trilhado pelo gênero foi no centro-oeste do país, no Mato Grosso do Sul em 1998,
possivelmente através da dispersão da população que chegou em 1991 no Rio de La Plata e
com o passar do tempo foi subindo pelos rios Paraná e Paraguai, auxiliados pela navegação
fluvial. Outro acesso da espécie aconteceu por volta de 1998-1999, devido às águas de lastro
de embarcações que chegaram até os portos mais internos juntos ao lago Guaíba, por meio da
Lagoa dos Patos, que se conecta ao norte com o Guaíba, por meio do estreito de Itapuã; mas
não possui comunicação direta com a bacia do Paraná.
No Pantanal, o mexilhão dourado foi detectado pela primeira vez no ano de 1998, em
um ambiente ligado ao rio Paraguai, na Baía do Tuiuiú, nas imediações de Corumbá (Mato
Grosso do Sul); sendo que em janeiro de 1999, houve registros em Amolar na Bela Vista do
Norte (MT), acima da confluência com o rio Cuiabá e em baías conectadas ao rio (Tuiuiú,
Castelo, Mandioré, Zé Dias e Gaíva), além do Canal do Tamengo, o qual liga a Bolívia ao rio
Paraguai, considerando a partir desse instante a presença do molusco neste país (OLIVEIRA
& BARROS, 2003).
Segundo Darrigran & Mansur (2009), em abril de 2001, foi apontada a invasão da
espécie de Limnoperna fortunei na Usina Hidrelétrica de Itaipu, estado do Paraná, vindos via
bacia do Prata, pela rota de navegação no sentido às nascentes dos rios Paraná e Paraguai.
Darrigran & Ezcurra de Drago (2000), mencionam que devido à barragem de Itaipu ser uma
barreira intransponível para a migração do mexilhão dourado rumo ao Rio Paraná, há duas
hipóteses viáveis sobre a invasão do molusco no reservatório da usina: i) introdução acidental
por mamíferos, aves e humanos e ii) por meio de barcos que foram adquiridos em Porto
Alegre e transportados para o reservatório.

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Posteriormente à descoberta da espécie em Itaipu, a população de mexilhão dourado
avançou no sentido norte à montante rumo à Usina Hidrelétrica de Sérgio Motta em Porto
Primavera, na fronteira entre São Paulo e Mato Grosso do Sul (Darrigran & Mansur 2009).
De acordo com Avelar et al. (2004), as primeiras evidências do Limnoperna fortunei no
estado de São Paulo, foram em novembro de 2002, após coletas e estudos em uma localidade
do Rio Paranapanema, na convergência com o Rio Paraná, próxima à região de Rosana; sendo
que Darrigran & Mansur (2009) mencionam que em menos de dois anos, a contar do primeiro
registro em Itaipu, o molusco ocupou toda a represa (de uma extensão de 160 km), mais o
trajeto que sobe o Rio Paraná (com 230 km), até alcançar o estado de São Paulo, o que
abrange aproximadamente 390 km de distância à uma velocidade de 194 km/ano.
Conforme apontam Darrigran & Mansur (2009), foram localizados exemplares de
Limnoperna fortunei no ano de 2002, no posto hidrométrico Presidente Epitácio; em 2003 na
Usina São Simão-CEMIG (Rio Paranaíba), na distribuição mais ao norte dentro do Brasil e no
ano de 2004 foi registrada a presença de exemplares na eclusa da Usina Hidrelétrica
Engenheiro Souza Dias (Jupiá) em Minas Gerais (Rio Grande) e na comporta da Usina
Hidrelétrica de Ilha Solteira (SP/MG-Companhia CEMIG), percorrendo desde a represa de
Itaipu aproximadamente 640 km em aproximadamente quatro anos (a uma velocidade de 160
km/ano).
Provenientes da Bacia da Lagoa dos Patos, a dispersão da espécie atingiu afluentes do
Lago Guaíba, sendo encontrados no estado do Rio Grande do Sul, no alto rio Jacuí (que banha
o estado do Rio Grande do Sul e é responsável por 85% das águas que formam o lago
Guaíba); rio dos Sinos, rio Gravataí, rio Taquari e rio Caí (Mansur & Pereira, 2006). Entre os
anos de 2009 e 2013 foram desempenhados registros na Bacia do Rio Tramandaí, abrangendo
Itapeva (RS) e Lagoas Peixoto (RS) (IBAMA, 2018).
Ainda de acordo com o IBAMA (2018), entre os anos de 2001 e 2005 houve a
dispersão do mexilhão dourado ao longo do rio Paraná, atingindo vários reservatórios no
decurso deste rio e em 2004 rio Tietê, junto à represa de Barra Bonita, próximo à capital do
estado de São Paulo. Já, no período de 2011 e 2012, foi detectado no reservatório da Usina
Hidrelétrica de Furnas, no Rio Grande (Bacia Rio Paraná), em Minas Gerais e na UHE Barra
Grande, no Rio Pelotas (RS/SC) bacia Rio Uruguai. No ano de 2014, foi registrado na Usina
Hidrelétrica de Sobradinho no rio São Francisco, na região da Bahia.
Atualmente a espécie de Limnoperna fortunei já se encontra em várias usinas
hidrelétricas no Brasil, mais estritamente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina,

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Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás e Bahia. De acordo com as
informações apresentadas pela base de dados do Centro de Bioengenharia de Espécies
Invasoras de Hidrelétricas (Cbeih, 2017), já foram descobertos registros do mexilhão dourado
em vinte e sete Unidades de Conservação Brasileiras, sendo nove situadas no Rio Grande do
Sul, duas em Santa Catarina, seis no Paraná, quatro no Estado de São Paulo, três no Mato
Grosso, duas no Mato Grosso do Sul e uma abrangendo áreas do Paraná, Mato Grosso do Sul
e São Paulo (IBAMA, 2018).
No Brasil, o Governo Federal definiu no seu Plano Plurianual a meta de “Controlar
três espécies exóticas invasoras, mitigando o impacto sobre a biodiversidade brasileira”. A
realização da meta abrange o desenvolvimento e implementação de planos de controle para
prevenção, detecção precoce, erradicação e monitoramento de espécies exóticas invasoras,
como o mexilhão dourado. Nesta perspectiva, o Ministério do Meio Ambiente, em conjunto
com o IBAMA e ICMBIO, está trabalhando no desenvolvimento e execução de Planos
Nacionais de Prevenção, Controle e Monitoramento no Brasil. (IBAMA, 2018).

2.2 Recursos Energéticos no Brasil

O Brasil atende mais de 90% da sua população com energia elétrica, sendo que o
mesmo está entre os países que mais produzem a energia de maneira renovável. Segundo o
CBIE (2019), quase 70% da energia elétrica produzida no Brasil vem de estações geradoras
de energia hidráulica. Logicamente este fato se justifica devido à riqueza hídrica do país, que
vem a cada ano investindo mais em novas hidrelétricas.
Comumente chamada de Itaipu Binacional, a Usina Hidrelétrica de Itaipu localizada
no estado do Paraná é a maior usina hidrelétrica em geração de energia limpa e renovável,
sendo também a principal fornecedora de energia elétrica ao país, destinando hoje 15% de
toda energia produzida para o Brasil, haja vista que os 85% restante, são destinados ao
Paraguai. Em segundo lugar, vem a Usina de Belo Monte localizada no estado do Pará e
depois a Usina de São Luiz do Tapajós também localizada no estado do Pará, como as três
principais hidrelétricas fornecedoras de energia ao Brasil. (SHIMAKO, 2018).
Outras fontes fornecedoras de energia no país são advindas de fontes como Gás
Natural, Biomassas, Solar, Eólicas, Petróleo e derivados, Carvão mineral e nuclear. (BEN,
2018).

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2.2.1 Usinas Hidrelétricas (locais que têm mais problemas com a presença do
mexilhão)

Usina de Itaipu: A primeira ocorrência confirmada da espécie Limnoperna fortunei no


reservatório de Itaipu aconteceu em abril de 2001, na Central Hidrelétrica, quando foram
observados dois a três indivíduos/m2 na câmara de serviço da comporta da tomada d’água da
Unidade Geradora 11. Os exemplares coletados apresentavam tamanhos variando de 0,6 a 3,5
cm, demonstrando que a espécie já se encontrava no ambiente, provavelmente, há mais de um
ano. (MMA)
Usina de São Simão: Sua ocorrência e dispersão foram amostradas doze vezes entre
março de 2006 e novembro de 2007 no rio Paranaíba, incluindo o reservatório da usina
hidrelétrica de São Simão. Mexilhões adultos foram encontrados aderidos aos cascos dos
barcos que circulam neste trecho da hidrovia Paraná-Tietê e em embarcações atracadas nos
portos de empresas exportadoras de grãos localizadas em São Simão (GO) (CAMPOS;
LANZER & CASTRO, 2012).
Usina de Porto Primavera: o Primeiro foco foi detectado em 2002, porém em 2004,
foram realizados os primeiros testes de tinta anti-incrustante em conjunto do CESP. Nesta
pesquisa foram testados produtos da marca Renner, obtendo um resultado positivo para três
produtos diferentes, Revran GM 878, Revran GM COB 878 e Revran GM EXI 878.
(REVISTA FATOR BRASIL, 2007).
Usina Volta Grande: Em setembro de 2011, a Companhia Energética de Minas Gerais
(Cemig) detectou, pela primeira vez, a presença do mexilhão dourado na Usina Volta Grande,
localizada no Rio Grande, região do Triângulo Mineiro. A descoberta da espécie invasora na
usina ocorreu durante a parada para manutenção programada de uma das máquinas (CEMIG,
2019).
Usina Jupiá: Primeiro foco foi detectado em 2004 (MATA, 2011). Na usina
hidrelétrica de Jupiá, em Castilho (SP), máquinas foram projetadas para serem limpas a cada
oito anos, mas com a invasão dos mexilhões, a limpeza precisa ser feita por pelo menos três
vezes ao ano (FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, 2018).
Usina de Ilha Solteira: Detectado em 2004 (MMA, 2004). Em 2012, o Procurador da
República, Thiago Lacerda Nobre, entrou com uma ação civil, responsabilizando a União
(Estado de São Paulo, CESP e IBAMA), pelo controle do Mexilhão Dourado em todas as
cidades e regiões que são contempladas pelas águas da Usina de Ilha Solteira. (MPF, 2012).

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2.2.2 As consequências do Mexilhão dourado em Usinas Hidrelétricas no Brasil

Para a geração de energia elétrica por meio do processo hidráulico, são necessários
dois fatores essenciais: o primeiro é relacionado ao relevo, sendo preciso que haja um
desnível no terreno e em seguida, uma vazão grande do curso d’água no exato local onde a
usina geradora será implantada. Evidentemente deve-se avaliar a vazão dos afluentes, em
períodos de estiagem e período de cheia, a posição geográfica dos mesmos, como também o
fator climático da região. A junção desses dois fatores essenciais resulta em energia potencial
(movimento da água), que gera uma energia mecânica (movimento dos motores),
consequentemente gerando energia elétrica (geradores). Cada UHE possui seu arranjo
baseado no relevo local. (DINIZ, 2010).
O sistema hidráulico de uma usina hidrelétrica é composto basicamente pelos
seguintes componentes:
i) Barragens e vertedouros: parte a montante da usina hidrelétrica, onde as águas
do rio principal e seus afluentes são represados. Conseguindo assim controlar a inclinação
desejada e a vazão que será designada às turbinas. (DINIZ, 2010).
ii) Grades: estruturas que tem como função, filtrar grandes partículas, que
possuem excesso de vegetação, troncos e galhos de árvores que possam gerar danos nas
turbinas. (DINIZ, 2010).
iii) Sistemas adutores: estruturas que realizam a condução do fluxo de água
(vazão), que será turbinada. (DINIZ, 2010).
iv) Casas de força: Local onde ficam instalados turbinas, geradores,
transformadores, resfriadores e outros equipamentos elétricos e hidráulicos. (DINIZ, 2010).
v) Canais de fuga: estruturas que guiam a água turbinada para o leito do rio que
está a jusante da usina. (DINIZ, 2010).
Por ter característica séssil, o Mexilhão Dourado pode fixar em qualquer superfície
rígida e no caso das hidrelétricas, pode ser encontrado em todas as estruturas que ficam
submersas. Outra característica do mexilhão dourado é ser gregário, formando aglomerações
de indivíduos, fato esse que ocasiona os maiores problemas nas usinas hidrelétricas.
O primeiro lugar onde eles podem se fixar é nas grades, que ficam à jusante da
barragem. Com a aglomeração desordenada, os moluscos podem diminuir a vazão da água,
prejudicando a produção de energia. Porém, o maior contratempo, é quando chegam nas

11
tubulações do sistema de resfriamento das turbinas. Com a obstrução das tubulações, ocorre o
superaquecimento das turbinas, o que ocasiona a parada da geração de energia. Já em usina de
menor porte, os mexilhões podem obstruir o interior da caixa espiral, que é responsável por
distribuir da mesma forma a água na entrada e saída da turbina. (FELIPPO, 2004). A Figura 2
demonstra nos itens A e B, a fixação do Limnoperna fortunei em uma escada metálica (peça
de uma usina hidrelétrica), em ângulos diferentes; além de apresentar em C e D, imagens da
população de mexilhão dourado incrustados sobre si mesmos, ilustrando as massas densas que
eles podem formar.

Figura 2: Incrustação de Limnoperna fortunei em usinas hidrelétricas

A B

C D

Fonte: Grupo Integrado de Aquicultura e Estudos Animais (GIA), 2020

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3 METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

As amostras da espécie de Limnoperna fortunei (mexilhão dourado) foram coletadas


no trecho de coordenadas central (22°29’59”S, 48°33’24”W), do Rio Tietê que passa em
Barra Bonita, município do estado de São Paulo, na região próxima à Usina Hidrelétrica de
Barra Bonita e estiveram armazenadas para estudos na residência do aluno Jader Mota
Cândido (20°0’59,58”S, 45°31’23,92”W), na cidade de Lagoa da Prata-MG, localizada no
Centro-Oeste de Minas Gerais, com uma população estimada de 52.165 habitantes segundo o
IBGE no ano de 2019. A Figura 3 demonstra a localização do endereço onde a espécie está
acondicionada 2.
Figura 3: Localização onde as amostras estiveram acondicionadas

Fonte: Google Earth, 2020

3.2 Coleta de dados

No dia 29/08/2020, foi realizada a visita em campo no município de Barra Bonita/SP,


no trecho às margens do rio Tietê, conforme demonstra a localização na Figura 4, com a

2
Deve-se salientar que o intuito da pesquisa era que as amostras de mexilhão dourado fossem acondicionadas no
Centro Universitário UNA- Campus Bom Despacho, mas devido à pandemia de COVID- 19 e a suspensão das
aulas presenciais, foi necessário que a fase inicial dos estudos acontecesse na residência do aluno Jader.

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finalidade de coletar amostras do Mexilhão Dourado para a pesquisa em questão. Foram
coletadas quatro pedras retiradas do rio, onde se encontravam um total de 358 indivíduos
incrustados; sendo que, essas pedras foram armazenadas em uma caixa de isopor (20 litros) e
permaneceram submersas com a água retirada do próprio rio, durante a viagem que aconteceu
entre Barra Bonita-SP até Lagoa da Prata-MG, cidade de destino onde os mexilhões
permaneceram armazenados para estudo.
Além da água utilizada dentro da caixa de isopor, foram coletados mais 30 litros de
água, para a ambientação dos crustáceos, conforme orientação do biólogo Casali (2020) que
acompanha a pesquisa. No momento da coleta, a água se encontrava a uma temperatura de
26°C.

Figura 4: Mapa de localização do ponto de coleta do Mexilhão dourado em Barra Bonita- SP

Fonte: Google Earth, 2020

Ao chegar à cidade de Lagoa da Prata, na data de 30/08/2020, os crustáceos foram


transferidos para caixa d’água de 500 litros feita em amianto, e permaneceram imersos em
uma mistura da água coletada no rio Tietê e água coletada do córrego do Pitico
(20°00’08”S,45°31’00”W), localizado na cidade em que a pesquisa é realizada (pois nessa

14
água, os moluscos tiveram todos os nutrientes necessários para sua sobrevivência, conforme
foi especificado por Casali (2020)3.
O recipiente de teste foi limitado apenas a 100 litros de água, que é completado a cada
15 dias, devido à evaporação do líquido. Foi instalada uma bomba para oxigenação e
filtragem da água com capacidade de 180 l/h.
As peças utilizadas como base da pesquisa, foram chapas de metal com dimensões de
25x50cm que sofreram em suas superfícies o tratamento anticorrosivo e aplicação da pintura
anti-incrustante pela empresa Sangalli, especializada em tratamento de peças metálicas,
instalada na cidade de Arcos-MG, localizada no Centro-Oeste de Minas Gerais, com uma
população estimada de 40.092 habitantes conforme mencionou o IBGE em 2019.
As três chapas metálicas, fabricadas com o mesmo material (Aço fino à frio 18)
passaram por métodos de tratamentos diferentes, conforme demonstra a Figura 5, sendo que,
i) a primeira peça foi submetida apenas ao jateamento abrasivo padrão SA. 2 ½ , com o intuito
de limpar as impurezas da superfície metálica e conferir aderência à mesma (informação
verbal)4; ii) a segunda chapa sofreu o tratamento anticorrosivo e realização do jateamento
abrasivo padrão SA. 2 ½, sendo que em seguida foi coberta com a tinta Revran TLS 520 (tinta
convencional de fundo para estruturas metálicas e equipamentos em geral); iii) a terceira peça,
passou pelo jateamento abrasivo padrão SA. 2 ½ e posteriormente foi tratada em duas etapas
com os produtos anti-incrustantes da marca Nanoclean (feitos a base de sílica), sendo que
primeiramente foi utilizado uma demão do Nanoclean® Antifouling Fixador, que tem como
função preparar o substrato para posterior aplicação de três demãos do Nanoclean®
Antifouling Protetor (que impede a fixação do mexilhão dourado). Entre a aplicação das
demãos dos dois produtos, esperou-se o tempo de cura de 15 minutos entre elas, como
proposto pelo fabricante. A Figura 5 apresenta as três chapas metálicas (25x50 cm) após
serem submetidas aos tratamentos citados acima, sendo o mesmo feito pela empresa Sangalli.

3
Informação verbal
4
O jateamento abrasivo é um processo de limpeza das superfícies metálicas, que garante aderência às peças. O
grau de jateamento “SA 2.1/2” corresponde a um jato capaz de eliminar óxidos e partículas estranhas que
estejam presentes nas peças, de modo que a superfície fique livre dos resíduos visíveis. O processo de jateamento
abrasivo é feito com silicato de alumínio, por meio de ar comprimido, lançando o mesmo sobre a peça. O silicato
deve apresentar granulometria que confira à superfície o perfil de rugosidade adequado ao sistema de pintura.

15
Figura 5: Peças metálicas tratadas, antes de serem imersas no tanque de pesquisa

Chapa metálica tratada com Chapa metálica sem


Chapa metálica tratada
com Nanoclean® Tinta Convencional – tratamento, apenas com o
Revran TLS 520 jateamento abrasivo
Antifouling
Fonte: Autores, 2020

3.3 Análise de dados

A fim de analisar os dados, desenvolveu-se uma planilha para controle da população


de mexilhão dourado no tanque de armazenagem da pesquisa; sendo quinzenalmente
contabilizadas às quantidades de indivíduos encontrados nas quatro pedras coletadas no
município de Barra Bonita-SP, para que pudesse haver um controle da reprodução ou
mortalidade da espécie, com o objetivo de verificar se os mesmos estariam se adaptando ao
novo ambiente em que foram inseridos e em seguida, gerar um gráfico para uma melhor
visualização das informações obtidas.
Após o tratamento feito com as três chapas metálicas e a inserção das mesmas no
tanque de pesquisa, criou-se uma planilha para monitoramento da quantidade de Limnoperna
fortunei que foram encontrados fixados em cada peça (com tratamentos diferentes),
relacionando a população e o período de incrustação dos mesmos nas superfícies metálicas.
Vale ressaltar que no primeiro dia do experimento, a taxa de coletividade do mexilhão
dourado em todas as chapas foi de 0 (zero) indivíduos.

16
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A primeira etapa da pesquisa baseou-se na observação quanto à adaptação dos 358


mexilhões coletados, no novo ambiente que foram inseridos (tanque de pesquisa), pois,
segundo o biólogo Casali (2020) a mudança sofrida pelo transporte, temperatura da água e
incidência de luz poderiam afetar os indivíduos menos resistentes, restando apenas
exemplares mais “fortes”. Dessa maneira, para que pudesse haver um controle de mortalidade
ou reprodução da espécie, foi analisada periodicamente a quantidade de moluscos fixados nas
quatro pedras, encontrando os seguintes resultados: i) Dia 12/09/2020: 292 crustáceos; ii) Em
26/09/2020: 211 Limnoperna fortunei; iii) 07/10/2020: 177 indivíduos. Visto que o índice de
perda foi relativamente pequeno, notou-se que os mesmos estavam se habituando no espaço
de armazenamento.
Conforme orientações de Casali (2020)5 alguns peixes foram inseridos no recipiente
de teste, com a finalidade de deixar o habitat o mais aproximado da realidade que os
mexilhões dourados se encontravam, pois, o somatório de dejetos liberados pelos peixes e luz
solar, são fatores essenciais para a proliferação de microalgas, que são a base alimentar dos
moluscos. Em contrapartida, no dia 02/10/2020, detectou-se uma perda considerável dos
exemplares; dessa maneira, entrando em contato com o biólogo sobre as possíveis causas, foi
aconselhada a retirada dos peixes para uma segunda observação. As principais hipóteses para
esse alto índice de mortalidade foram apontadas como sendo: i) a alta temperatura da água
que chegou aos 34°C no dia 02/10/2020, devido ao aumento da temperatura do ar na cidade
de Lagoa da Prata neste dia; ii) os peixes terem se alimentado dos indivíduos (teoria menos
provável).
Após terem sido realizadas as mudanças propostas, no dia 17/10/2020 verificou-se a
contagem dos mexilhões dourados, que contabilizaram um total de 164 indivíduos jovens e
adultos. A Figura 6 apresenta nos itens A e B, a incrustação da espécie em duas amostras de
pedras coletadas e consequente quantidade de moluscos fixados nas mesmas.
De acordo com o andamento da pesquisa e observação quinzenal dos mexilhões,
fizeram-se as seguintes contagens de quantidades de indivíduos: i) No dia 01/11/2020,
somou-se 211 moluscos; ii) Em 15/11/2020 foram contabilizados 225 crustáceos; iii) Dia
20/11/2020 foi realizada a última contagem totalizando 227 indivíduos.

5
Informação verbal
17
Figura 6: Pedras onde os mexilhões estão incrustados e quantificados

A B

Fonte: Autores, 2020

Entre os dias 17/10/2020 à 01/11/2020, pode-se notar um aumento de 47 moluscos,


sendo esse crescimento ocasionado devido à reprodução da espécie, pois, decorridos mais de
30 dias do momento de coleta, os mexilhões que se encontravam em fase larval, acharam
condições favoráveis para sua reprodução: qualidade da água, alimento e espaço. A Figura 7
apresenta o gráfico, desenvolvido para análise e controle da quantidade de Limnoperna
fortunei encontrados no tanque de pesquisa, de acordo com as observações feitas de
agosto/2020 a novembro/2020.

Figura 7: Gráfico da Quantidade de Indivíduos x Data coleta de dados

358
Quantidade de indivíduos

292

211 211 225 227


177 164

Data coleta de dados


Fonte: Autores, 2020

18
No dia 27/10/2020, após serem submetidas aos devidos tratamentos, as três chapas
metálicas foram inseridas na caixa d’ água juntamente com os exemplares de mexilhão
dourado coletados para utilização na pesquisa, sendo que no primeiro dia do experimento a
taxa de população de Limnoperna fortunei em todas as peças foi de 0 (zero) indivíduos por
m², conforme demonstra a Figura 8. Na imagem em questão, pode-se perceber a disposição
das placas no tanque de pesquisa, próximas às pedras que contêm as amostras incrustadas.

Figura 8: Tanque de pesquisa contendo as chapas e amostras de mexilhão dourado

Fonte: Autores, 2020

A Figura 9 demonstra as análises feitas nas três peças, cada qual com o devido
tratamento, identificando o aparecimento e fixação dos crustáceos conforme observação final.

19
Figura 9: Chapas metálicas após análise final

Fonte: Autores, 2020

Após observações feitas no dia 20/11/2020 notou-se que a peça metálica submetida à
aplicação da pintura anti-incrustante Nanoclean® Antifouling, não apresentava nenhum foco
de incrustação do mexilhão dourado, sendo então observada a ausência da espécie em sua
superfície. Em contrapartida, na chapa que sofreu apenas o jateamento abrasivo padrão SA. 2
½ foram detectados a presença de três indivíduos incrustados e na peça que foi tratada
somente com a camada de tinta convencional para estruturas metálicas (Revran TLS 520),
identificou-se a existência de apenas um exemplar de Limnoperna fortunei.
De acordo com a programação inicial da pesquisa, as amostras de mexilhão dourado
deveriam ter sido coletadas no mês de abril/2020, para que as chapas metálicas pudessem ser

20
tratadas até maio/2020 e dessa maneira, permanecerem mais tempo imersas dentro do
reservatório para que os resultados fossem mais satisfatórios; mas, devido à pandemia de
COVID-19 e a suspensão das aulas presenciais, houve alguns atrasos em relação à solicitação
da tinta anti-incustante à empresa Nanoclean, além da demora no envio e entrega da mesma.
Contudo, só foi possível que a coleta dos moluscos fosse realizada em agosto/2020 e
posteriormente as chapas metálicas foram tratadas. Deve-se ressaltar que mesmo após a
finalização do Trabalho de Conclusão de Curso, as pesquisas e o estudo sobre o mexilhão
dourado irão continuar afim de que o artigo possa ser publicado, pois o tema é de extrema
importância no âmbito econômico e ambiental.

5 CONCLUSÕES

Por meio da pesquisa em questão, conclui-se que a aplicação da pintura anti-


incrustante Nanoclean® Antifouling tende a ser efetivamente viável na eliminação do
problema de fixação da espécie de Mexilhão Dourado nos equipamentos metálicos em usinas
hidrelétricas, uma vez que a peça submetida ao tratamento com a tinta específica não
apresentou nenhum foco de incrustação e nas demais chapas metálicas houve fixação da
espécie. Sendo assim, até mesmo a tinta convencional, nesse caso, Revran TSL 520, não é tão
eficaz na prevenção da incrustação de Limnoperna fortunei demonstrando a importância de se
usar Nanoclean® Antifouling no tratamento de todas as peças metálicas que fazem parte da
estrutura de uma UHE.
Tendo em vista que a principal fonte energética do Brasil é advinda das usinas
hidrelétricas devem-se levar em consideração os impactos causados pelo molusco
Limnoperna fortunei no ambiente. Dessa maneira, torna-se importante a aplicação da pintura
anti-incrustante nas peças e equipamentos metálicos para evitar que haja a incrustação do
mexilhão dourado em suas superfícies e consequentes paradas para manutenções e limpeza
dos sistemas, haja vista que o mesmo causa o entupimento ou redução da seção de tubulações,
aumento da corrosão e diminuição da vida útil dos equipamentos nas UHE.

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