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Taxonomia
Endêmico da ilha Rodrigues (em destaque)
Sinónimos
Lista
Em 1874, o zoólogo francês Alphonse Milne-Edwards conectou o relato de Leguat com três ossos subfósseis
(um esterno, um tarsometatarso e um crânio fragmentado) encontrados em cavernas da região de Plaine Corail,
em Rodrigues. Ele reconheceu sua semelhança com os da galinhola-vermelha, embora notasse que
supostamente tinha um bico mais reto (conforme descrito por Leguat). Milne-Edwards cunhou o nome
genérico Erthyromachus a partir das palavras gregas eruthros (vermelho) e makhç (batalha), em referência ao
comportamento agressivo da ave em relação a objetos vermelhos, e o epíteto específico leguati para
homenagear Leguat. O termo Erythromachus foi incorretamente explicado como se referindo ao mar da
Eritréia pelo ornitólogo americano Charles Wallace Richmond em 1908.[3][4][5] O nome Miserythrus, de
"vermelho" e "ódio", foi usado pelo ornitólogo inglês Alfred Newton em 1874 (originalmente apenas em um
manuscrito) e também se refere ao comportamento da ave frente à cor vermelha, mas por ser um termo mais
recente, é hoje um sinônimo júnior.[3] Milne-Edwards não selecionou um espécime como holótipo para a
espécie dentre os ossos que pegou emprestado do Museu de Zoologia da Universidade de Cambridge para seu
estudo, mas uma série de síntipos foi listada posteriormente a partir de espécimes da instituição,
presumivelmente por Alfred Newton.[5]
Em 1875, A. Newton também identificou uma referência à ave no relato de 1726 do viajante francês Julien
Tafforet, que havia sido recentemente redescoberto.[6][7] Em 1879, mais fósseis, incluindo crânios, foram
descritos pelos zoólogos Albert Günther e Edward Newton (irmão de Alfred), que confirmaram que a ave era
um ralídeo, e também notaram que alguns espécimes tinham bicos tão curvos quanto os da galinhola-
vermelha.[8] Em 1921, o linguista americano Geoffroy Atkinson questionou a existência da ave, em um artigo
que duvidava da veracidade das memórias de Leguat. O ornitólogo americano James Greenway sugeriu em
1967 que a descrição de Leguat se referia a caimões (Porphyrio) vagantes que chegaram na ilha trazidos por
correntes de ar, uma vez que a palavra cinza às vezes é usada como sinônimo de azul em descrições antigas.[9]
Esta ideia não foi corroborada por outros especialistas.[10] Hoje, é amplamente aceito que as memórias de
[11]
Leguat representam observações confiáveis de aves locais em vida.[11]
Evolução
Os ossos associados aos membros anteriores eram geralmente pequenos em proporção à ave. A escápula era
pequena e estreita, com 4,5 cm de comprimento. O coracoide era curto, mas largo, e o esterno também era
pequeno. O úmero era muito pequeno, seu eixo era curvo de cima para baixo e variava de 4,5 a 5 cm. O rádio
e a ulna (ossos do antebraço) eram curtos, e este último era fortemente arqueado de cima para baixo, variando
de 3,7 a 4,2 cm. A pelve era grande e fortemente construída em proporção ao tamanho da ave, tinha 5,7 mm
de comprimento, 2 cm de largura na frente e 3,6 cm no dorso. Os elementos dos membros posteriores eram
geralmente muito robustos. O fêmur (osso da coxa) era muito robusto, com um eixo curvo e variando de 5,6 a
6,3 cm de comprimento. O tibiotarso (osso da perna) era curto, mas robusto, e variava de 8,4 a 10,1 cm. A
fíbula também era curta e robusta. O tarsometatarso era curto, mas muito robusto, variando de 5,2 a 6,0 cm de
comprimento.[5][16] As proporções das pernas, pelve e sacro de E. leguati e da galinhola-vermelha eram
geralmente semelhantes.[16][18] E. leguati diferia da galinhola-vermelha por ter um crânio mais largo e curto,
narinas mais longas e inferiores, um úmero proporcionalmente mais longo, um fêmur mais curto e robusto,
bem como uma plumagem consideravelmente diferente, com base nas primeiras descrições.[3][12] O ornitólogo
holandês Marc Herremans sugeriu em 1989 que essas duas espécies eram neotênicas, com características
juvenis como aparatos peitorais fracos e plumagem felpuda.[19]
Relatos contemporâneos
O Erythromachus leguati foi mencionado pela primeira vez por
François Leguat em seu livro de memórias de 1708, A New Voyage to
the East Indies. Leguat era o líder de um grupo de nove huguenotes
franceses refugiados; o grupo, pioneiro na colonização de Rodrigues,
viveu na ilha entre 1691 e 1693, depois que foram abandonados lá
por seu capitão.[10][20][21] As observações de Leguat são
consideradas algumas das primeiras descrições coesas de
comportamento animal na natureza.[15] Ele descreveu a ave da
seguinte maneira:
Mapa de Rodrigues feito por Leguat.
Seu assentamento está marcado no
Nossas galinhas são gordas durante todo o ano e de um nordeste da ilha.
sabor mais delicado. Sua cor é sempre de um cinza
brilhante, e há muito pouca diferença na plumagem entre
os dois sexos. Elas escondem seus ninhos tão bem que
não conseguimos encontrá-los, e, consequentemente, não
provamos seus ovos. Têm uma área nua e vermelha ao
redor dos olhos, seus bicos são retos e pontiagudos, com
cerca de dois e dois quintos de polegada de
comprimento, e vermelhos também. Elas não podem
voar, sua gordura faz com que fiquem pesadas demais
para isso. Se você mostrar-lhes qualquer coisa vermelha,
elas ficam tão irritadas que vão pra cima de você para
tentar arrancar de sua mão, e no calor do combate temos
a oportunidade de pegá-las com facilidade.[22][nota 1]
Outra descrição da aparência e comportamento da ave é encontrada num documento anônimo chamado
Relation de l'Ile Rodrigue, que foi redescoberto em 1874 e atribuído a Julien Tafforet, que, em 1726, também
foi abandonado em Rodrigues:
Existe uma espécie de ave, do tamanho de uma galinha jovem, que tem o bico e pés vermelhos.
Seu bico é um pouco parecido com o de um maçarico, exceto por ser um pouco mais grosso e
não tão longo. Sua plumagem é manchada com branco e cinza. Eles geralmente se alimentam de
ovos de tartarugas terrestres que encontram no solo, o que as torna tão gordas que muitas vezes
têm dificuldade para correr. Elas são muito boas para comer, e sua gordura tem uma tonalidade
vermelha amarelada, que é excelente para as dores. Têm pequenos pinions [asas], sem penas, o
que explica o porquê de não poderem voar; mas, por outro lado, elas correm muito bem. Seu grito
é um assobio contínuo. Quando elas vêem qualquer pessoa que as persegue produzem outro tipo
de barulho, parecido com o de uma pessoa com soluços.[5][nota 2]
Ao contrário da galinhola-vermelha e de outras aves extintas das ilhas Mascarenhas, o Erythromachus leguati
não foi ilustrado por artistas da época. O ornitólogo Storrs L. Olson qualificou como "fantasiosos" os desenhos
feitos para os livros Extinct Birds (1907), de Walter Rothschild, e The Dodo and kindred birds (1953), de
Masauji Hachisuka.[23] O artista inglês Frederick William Frohawk, que fez a ilustração para a obra de
Rothschild, baseou sua restauração numa antiga gravura, que por sua vez teve como modelo um esboço do
século XVII de Thomas Herbert. Sabe-se hoje que tal esboço retrata uma galinhola-vermelha.[3][22] Hermann
Schlegel pensou, erroneamente, que a imagem mostrava um tipo de dodô que vivia em Rodrigues (batizando-o
de Didus herbertii em 1854) e que era essa a ave mencionada por Leguat.[24]
Comportamento e ecologia
Segundo o relato de Tafforet, Erythromachus leguati se alimentava de
ovos das já extintas tartarugas gigantes Cylindraspis, das quais três
espécies viviam em Rodrigues. Por aproveitar sua época de reprodução,
Hume considerou a ave um predador oportunista, que talvez também se
alimentasse de tartarugas recém-nascidas. Uma antiga área de reprodução
de tartarugas em Plaine Corail mostra que locais desse tipo estavam
concentrados em uma pequena área contendo um grande número de
ovos; o osso da falange de um E. leguati foi encontrado entre os restos de
ovos. Os ralídeos teriam engordado sazonalmente, mas em outras épocas
do ano, provavelmente se alimentavam de caracois e diversos
invertebrados, bem como de colônias de aves marinhas necrófagas. A
ave provavelmente se alimentava de vermes, como Kontikia whartoni e o
já extinto Geonemertes rodericana, sondando a serapilheira ou a madeira
apodrecida. O dimorfismo sexual pode ter refletido diferenças na dieta
entre os sexos.[5] Suas vocalizações eram um assobio contínuo, e tinha
um chamado (som de alarme) staccato parecido com um soluço.[7] Desenho dos primeiros ossos
encontrados da espécie.
Como Leguat não conseguiu localizar seus ninhos, a ave pode ter se
aninhado fora da floresta aberta facilmente acessível, como era típico em
áreas costeiras e de várzea, e aninhado profundamente em vales florestados ou colinas montanhosas do
interior, segundo Hume. Seus ninhos podem ter ficado bem escondidos na vegetação do solo, como é o caso
de outros ralídeos que não voam. Assim como a galinhola-vermelha-de-maurício, relatos apontam que E.
leguati também era atraído pela cor vermelha, mas o significado disso é desconhecido.[10] Leguat escreveu
que eram caçadas com um método semelhante ao utilizado em Maurício para pegar as galinholas-vermelhas de
lá: um pedaço de pano vermelho era mostrado às aves, que reagiam com um comportamento agressivo,
saltando sobre o pano e tentando destruí-lo. Esse comportamento levou Hume a chamá-la de "espécie
agressiva".[5] De acordo com Milne-Edwards, a ave tinha pernas "feitas para correr".[22]
Muitas outras espécies endêmicas de Rodrigues tornaram-se extintas após a chegada do homem, de modo que
o ecossistema da ilha está fortemente danificado. Antes da vinda dos humanos, as florestas cobriam a ilha por
completo, mas muito pouco resta hoje devido ao desmatamento. O Erythromachus leguati viveu ao lado de
outras aves recentemente extintas, como o solitário-de-rodrigues, o papagaio-de-rodrigues, o periquito-de-
rodrigues, o estorninho-de-rodrigues, a coruja-de-rodrigues, a garça Nycticorax megacephalus, e o pombo-de-
rodrigues. Répteis extintos incluem as tartarugas gigantes Cylindraspis peltastes e C. vosmaeri, e o lagarto
Phelsuma edwardnewtoni.[15]
Extinção
Muitos ralídeos terrestres não voam, e as populações das ilhas são particularmente vulneráveis aos impactos
ambientais causados pelo homem; como resultado, os ralídeos sofreram mais extinções do que qualquer outra
família de aves. Todas as seis espécies endêmicas de ralídeos das ilhas Mascarenhas estão extintas devido à
ação humana. Por pelo menos um século, E. leguati pode ter coexistido com ratos, que talvez tenham sido
introduzidos por um grupo de marinheiros de um navio holandês abandonado lá em 1644. Embora os ratos
estivessem bem estabelecidos e numerosos na época em que Leguat e Tafforet permaneceram na ilha, os
ralídeos também continuaram comuns, talvez devido a sua natureza agressiva.[5] Os franceses começaram a
colonizar Rodrigues em 1735 (para fornecer às ilhas Maurício carne de tartaruga), o que deve ter afetado os
ralídeos com a caça e o desmatamento, mas seu rápido desaparecimento foi provavelmente causado por gatos
a deos co a caça e o des ata e to, as seu áp do desapa ec e to o p ovave e te causado po gatos
introduzidos para controlar os ratos por volta de 1750, e a espécie pode ter sido extinta em apenas uma
década.[5] Em 1763, o astrônomo francês Alexandre Guy Pingré notou a ausência desta e de outras aves em
Rodrigues na época de sua visita para observar o trânsito de Vênus em 1761:
Não ouvi falar nem de gélinottes [E. leguati], nem de butors [Nycticorax megacephalus], nem de
alouettes [pequenas aves limícolas], nem de bécassines [cagarras ou petréis]; pode ter havido
alguns na época de François Leguat, mas eles se retiraram de suas casas ou, mais provavelmente,
as raças não sobrevivem mais, pois a ilha foi povoada por gatos.[5][nota 3]
Ver também
Lista de aves extintas
Notas
1. Tradução livre de: "Our 'gelinotes' are fat all the year round and of a most delicate taste. Their
colour is always of a bright grey, and there is very little difference in plumage between the two
sexes. They hide their nests so well that we could not find them out, and consequently did not
taste their eggs. They have a red naked area round their eyes, their beaks are straight and
pointed, near two and two-fifths inches long, and red also. They cannot fly, their fat makes them
too heavy for it. If you offer them anything red, they are so angry they will fly at you to catch it out
of your hand, and in the heat of the combat we had an opportunity to take them with ease.".
2. Tradução livre de: "There is another kind of bird, the size of a young hen, which has the beak
and legs red. Its beak is roughly like that of a curlew, except that it is a little deeper and not quite
so long. Its plumage is mottled with white and grey. They generally feed on the eggs of the land
tortoises, which they take from the ground, and makes them so fat that they often have difficulty
running. They are very good to eat, and their fat is of a yellowish-red, which is excellent for
pains. They have small pinions [wings], without feathers, so they cannot fly; but on the contrary,
they run very well. Their cry is a continual whistling. When they see somebody pursuing them
they produce another sort of noise from their bodies, like that of a person who has hiccups and
with the stomach tensed.".
3. Tradução livre de: "I heard said of neither gélinottes [Rogrigues rail], nor butors [Rodrigues
night heron], nor alouettes [small waders], nor bécassines [shearwaters or petrels]; there may
have been some at the time of François Leguat, but they have either retreated from their homes
or, more likely, the races no longer survive, since the island has been populated with cats.".
Este artigo foi inicialmente traduzido do artigo da Wikipédia em inglês, cujo título é «Rodrigues
rail», especificamente desta versão (https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Rodrigues_rail&
oldid=996019657).
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