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ANÁLISE DE CANTEIRO DE OBRAS NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE

ESTADUAL DE MARINGÁ: VISÃO CRÍTICA.

Luiz Antonio Farani De Souza * , Generoso De Angelis Neto e Luciana do Nascimento1 .


1
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá-Paraná,
Brasil. e-mail: lasouza@wnet.com.br *Autor para correspondência.

1. Introdução
O canteiro de obras é um conjunto de instalações para a construção de uma
determinada edificação, que dá suporte à administração da obra, ao processo produtivo e aos
trabalhadores (SAMPAIO, 1998).
É imprescindível a constituição de um bom layout do canteiro de obra e das áreas de
vivência, de maneira a atender as necessidades de produção e dar condições adequadas de
trabalho aos operários.
A falta de planejamento do canteiro, acarreta custos adicionais, devido o aumento da
movimentação de materiais, retrabalhos, adequação, desperdícios de materiais, etc.
Em face da grande preocupação atualmente na exigência de requisitos da qualidade
para materiais, projetos e obras, este trabalho objetiva adequar e orientar no planejamento e
organização do canteiro de obra e áreas de vivência do Campus da Universidade Estadual de
Maringá.
Na Universidade atualmente há diversas obras em fase de execução, havendo dois
canteiros de obras. O objeto de análise é um canteiro fixo, responsável pelas operações de
apoio e execução de várias obras simultaneamente, como por exemplo, as obras do Bloco
H35, Bloco G34 e Bloco T33.

Figura 1 – Localização do canteiro de obras

As instalações do canteiro em questão estão localizadas ao lado do Bloco J13 e do


estacionamento, abrangendo as áreas de vivência, depósito de materiais, almoxarifado de
ferramentas e materiais e escritório do mestre de obra. Os elementos ligados à produção,
como por exemplo, as centrais de armação e carpintaria encontram-se afastadas das áreas de
vivência.
O canteiro atualmente dispõe de trinta e oito operários, sendo este contingente de
operários variável devido a constante mudança de postos de trabalhos e de canteiro de obra.
A Universidade conta com um almoxarifado central responsável pela efetuação de
compras, aquisição e armazenamento de materiais e ferramentas e pela alimentação dos dois
canteiros de acordo com a necessidade de serviços a serem executados.
Este trabalho é desenvolvido com base na Norma Regulamentadora NR 18 –
Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção. Esta Norma entrou em
vigor através da portaria n° 4 do Ministério do Trabalho, datada de 04/07/95.

2. Partes constituintes de um canteiro de obras.

Apresenta-se a seguir algumas considerações relacionadas ao canteiro de obra.


2.1 - Áreas de vivência
Conforme a NR 18, os canteiros de obras devem dispor das seguintes áreas de
vivência: alojamento; cozinha, quando houver preparo de refeições; refeitório; ambulatório,
quando se tratar de frentes de trabalho com 50 (cinqüenta) ou mais trabalhadores; área de
lazer; instalações sanitárias; vestiário; lavanderia.
A área de vivência referente ao alojamento, lavanderia e área de lazer é obrigatória a
suas instalações no caso de haver trabalhadores residentes na obra.
a) Instalações sanitárias: o seu dimensionamento depende exclusivamente da
quantidade de pessoas que as utilizam. A NR 18 determina que a instalação sanitária deve ser
constituída de lavatório, vaso sanitário e mictório, na proporção de 1 (um) conjunto para cada
grupo de 20 (vinte) trabalhadores ou fração, bem como de chuveiro, na proporção de 1 (uma)
unidade para cada grupo de 10 (dez) trabalhadores ou fração.
b) Vestiário: o vestiário deve ser dotado de armários individuais com fechadura ou
cadeado e ter bancos em número suficiente para atender aos usuários, com largura mínima de
0,30 (trinta centímetros) (SAMPAIO, 1998).
A NR 18 prescreve que a localização do vestiário deve ser próxima aos alojamentos
e/ou entrada da obra, sem ligação direta com o local destinado às refeições.
c) Refeitório: um dos requisitos mais importantes no canteiro de obras é que tenha
capacidade para atender a todos os trabalhadores no horário das refeições. O refeitório deve
ser bem iluminado e ventilado. Precisa dispor de lavatórios para que os funcionários lavem as
mãos antes e depois de comer (SAMPAIO, 1998).
Conforme a NR 18, o refeitório deve ter local exclusivo para aquecimento de
refeições, dotado de equipamento adequado e seguro para o aquecimento.
d) Fornecimento de água potável, fresca e filtrada: a NR 18 determina a
obrigatoriedade de fornecimento de água potável, fresca e filtrada para os trabalhadores por
meio de bebedouros de jato inclinado ou equipamento similar que garanta as mesmas
condições; na proporção de 01 (um) para cada grupo de 25 (vinte e cinco) trabalhadores ou
fração.
2.2 - Diretrizes quanto aos elementos ligados à produção.
a) Central de Argamassa (SOUZA et al., 1997): localizar: nas proximidades do
estoque de areia, de preferência em local coberto (para viabilizar trabalho mesmo com chuva);
número de betoneiras é função da demanda da obra por argamassa (mesmo que a obra só
demande um, é conveniente ter uma para o caso de emergências); prever tablado para estoque
dos sacos de aglomerante necessário para o dia de trabalho.
b) Central de Armadura (SOUZA et al., 1997): localizar o processamento do aço
(corte/desdobramento/pré-montagem) nas proximidades do estoque; cobertura seria o ideal,
mas é obrigatória apenas sobre eventual policorte.
c) Central de Carpintaria (SAMPAIO, 1998): o local destinado a carpintaria deve ter
cobertura; na carpintaria deve haver sinalização e cartazes sobre a utilização de equipamentos
de proteção individual (EPI), proibição de fumar, localização de extintor de incêndio, energia
elétrica etc.
Toda máquina ou equipamento deve estar em ambiente com iluminação natural e/ou
artificial adequada à atividade, em conformidade com a NBR 5.413/91 da ABNT.
Quando as lâmpadas estiverem localizadas próximas à mesa e sujeitas a impactos pela
projeção de partículas, estas devem ser protegidas.
2.3 - Diretrizes quanto aos elementos de apoio à produção.
a) Almoxarifado de ferramentas (SOUZA et al., 1997).
- Guarda de ferramentas de propriedade da construtora, EPI, estoques pequenos de
alto valor unitário.
- Localização: próximo das entradas; local de fácil acesso pelos operários.
b) Estocagem de materiais.
- Os materiais devem ser separados por classe, tamanho e comprimento, para que
sejam acomodados e empilhados ordenadamente, com escoramento e suportes que facilitem a
estabilidade do conjunto (SAMPAIO, 1998).
- Recomenda-se que o local de estocagem seja planejado com antecedência, a fim de
evitar o armazenamento em áreas que interfiram com outros trabalhos ou serviços da obra
(SOUZA et al., 1996).
- Recomenda-se que a definição do local de estocagem de materiais não obstrua
equipamentos de combate a incêndio e de portas ou saídas consideradas de emergência
(SAMPAIO, 1998).
- Os materiais não podem ser empilhados diretamente sobre o piso instável, úmido ou
desnivelado (SAMPAIO, 1998).
2.4 - Diretrizes quanto a outros elementos.
a) Tapume (SAMPAIO, 1998).
O tapume é necessário para impedir o acesso de pessoas estranhas aos serviços,
tornado-se obrigatório a colocação de tapumes e barreiras para garantir o isolamento ao
público.
A construção e fixação do tapume ao solo deve ser feita de maneira resistente e
garantir a sua estabilidade. Ter altura mínima de 2,20m (dois metros e vinte centímetros) em
relação ao nível do solo.
b) Ligações de água, energia e esgoto.
c) Portão de materiais (SOUZA et al., 1997).
- Largura não menor que 4,40 m (quatro metros e quarenta centímetros).
- Se possível criar mais de um para melhor acessar diferentes partes do canteiro.
d) Portão de pessoal (SOUZA et al., 1997).
- Localizar de maneira a ter-se controle sobre o acesso de pessoal e de maneira a se ter
menor risco de acidentes.
2.5 - Diretrizes quanto aos elementos de apoio técnico/administrativo.
a) Escritório do engenheiro e estagiário / sala de reuniões / escritório do mestre e
técnico (SOUZA et al., 1997).
- Criar dois diferentes ambientes: “sala técnica” e “sala administrativa”.
- Sala técnica: engenheiro, mestre e estagiário juntos; com mesa para reuniões e
prancheta; prever sanitário; visibilidade quanto ao canteiro.
b) Chapeira de ponto (SOUZA et al., 1997).
- Localização de maneira a permitir controle quanto a atividade de bater cartão.
- Se possível, em local que implique em se bater o cartão após trocar de roupa (no
início do turno) e antes de entrar no vestiário (no final do turno).

3. Estudo de caso: O Campus da Universidade Estadual de Maringá.

Apresenta-se na seqüência a situação atual de produção nos canteiros de obras


existentes no Campus da Universidade Estadual de Maringá.
Longe de ser uma crítica isolada ou um caso particular, o que se retrata a seguir reflete
uma situação bastante comum na construção civil brasileira.
3.1 - Áreas de vivência.
Pelo fato dos operários não estarem alojados, o canteiro de obra abrange as seguintes
áreas de vivência: instalações sanitárias, vestiário e refeitório.
As áreas de vivência estão subdimensionadas, isto é, não atendem suficientemente o
número total de trabalhadores no canteiro, conforme preconiza a norma NR 18.
As instalações sanitárias compreendem um lavatório, dois vasos sanitários, um
mictório e dois chuveiros, não atendendo adequadamente os trabalhadores.
O local destinado às instalações sanitárias compreende dois compartimentos
independentes. Num deles existem (1) um vaso sanitário e 1 (um) mictório, não havendo
separação entre ambos de forma a garantir o resguardo conveniente aos usuários. No outro
compartimento, existem 2 (dois) chuveiros, 1 (um) lavatório e 1 (um) vaso sanitário. O local
destinado à instalação do vaso sanitário não atende a área mínima de 1,00m2 (um metro
quadrado), não há divisórias com altura mínima de 1,80m (um metro e oitenta centímetros) e
porta com trinco interno.
No local onde estão instalados os chuveiros, o piso não apresenta estrados de madeira
ou revestimento com piso cerâmico antiderrapante. Também não há suporte para sabonete
correspondente a cada chuveiro.
O vestiário não tem armários individuais dotados de fechadura ou dispositivo com
cadeado, garantindo a segurança ao usuário, bem como bancos em número suficiente para
atender a todos os operários.
O refeitório não tem a capacidade para atender a todos os trabalhadores no horário das
refeições. Outro problema verificado é em relação a má ventilação e ao espaço reduzido,
causando desconforto durante as refeições.
Em relação ao fornecimento de água potável, filtrada e fresca, há no canteiro somente
a instalação de um bebedouro de jato inclinado, não atendendo suficientemente aos
trabalhadores. Devido à distância de algumas obras em relação ao canteiro de obra fixo, o
trabalhador acaba deslocando-se do posto de trabalho ao bebedouro numa distância superior a
100m. O ideal seria a instalação de bebedouros de jato inclinado ou equipamento similar na
própria obra, ou na impossibilidade de instalação de bebedouro dentro dos limites da obra,
garantir o suprimento de água potável, filtrada e fresca em recipientes apropriados, portáteis e
hermeticamente fechados, vedando a utilização de copos coletivos.
3.2 - Tapume.
Outro problema verificado nas próprias obras é a inexistência de tapumes, com a
finalidade de impedir a entrada de pessoas estranhas e de proteção ao público.
3.3 - Armazenagem de materiais.
Como o canteiro é fixo e dá suporte nas operações de apoio e execução de mais de
uma obra ao mesmo tempo, alguns materiais, como por exemplo, areia, brita, telhas de
fibrocimento, tijolos cerâmicos etc. são estocados na própria obra e no próprio canteiro.
Porém há muito desperdício de materiais devido ao procedimento incorreto de armazenagem
e à falta de planejamento em relação ao local.
Podemos citar, por exemplo, a areia. No armazenamento da areia, não foram
providenciadas baias cercadas em três laterais, em dimensões compatíveis com o volume,
evitando-se, assim, o espalhamento e o carreamento da mesma em épocas de chuvas
torrenciais.
3.4 - Central de Carpintaria.
Dentre as diversas ferramentas utilizadas nos serviços de carpintaria, a serra circular é
a que mais oferece riscos de acidentes no trabalho.
Por isso deve-se dar uma atenção especial no local destinado a sua instalação bem
como serem providas dos dispositivos de segurança e dispositivos auxiliares.
As instalações atuais da carpintaria existem alguns problemas, como podemos citar:
> Local de difícil acesso para o transporte e descarga de materiais;
> Instalação da serra circular desprovida de dispositivos de segurança, como por
exemplo, cutelo divisor e coifa protetora, bem como a ausência de dispositivos auxiliares para
facilitar durante a operação de corte e evitar acidentes;
> Não há a instalação de extintor de incêndio do tipo CO2 próximo à mesa, como
medida de prevenção e combate a incêndio;
> Não há sinalização e cartazes sobre a utilização de equipamentos de proteção
individual (EPI), proibição de fumar, localização de extintor de incêndio, energia elétrica,
etc.;
> Ausência de piso firme, nivelado e antiderrapante no local onde estão assentadas as
bancadas;
> Ausência de coletor de serragem na mesa onde está instalada a serra;
> Armazenamento inadequado de madeira, não sendo o estoque tabicado por bitola e
tipo de madeira, e nem o local apropriado para evitar a ação da água, extravio, roubo e outros
inconvenientes;
3.5 - Central de Armadura.
Alguns problemas são verificados quanto às instalações da central e armazenagem de
vergalhões de aço, como segue:
> Local de armazenagem de vergalhões de aço afastado do local de processamento
(corte/dobramento/pré-montagem);
> Extremidades das barras não estão protegidas para evitar lesões aos operários;
> Ausência de piso firme, nivelado e antiderrapante no local onde estão assentadas as
bancadas;
> Não foi previsto local para o armazenamento das sobras durante o corte das barras,
armazenadas por bitola e comprimento, o que permite melhor reaproveitamento destas;
> Não existem sinalização e cartazes sobre a utilização de equipamentos de proteção
individual (EPI), proibição de fumar, localização de extintor de incêndio, energia elétrica,
etc.;

4. Conclusão

Com o intuito de aumentar os índices de produtividade e qualidade no setor da


construção civil, bem como proporcionar segurança no trabalho e melhor qualidade de vida
aos trabalhadores, é de suma importância o planejamento e a racionalização do canteiro de
obra.
Nesse sentido, deve-se procurar por um layout de um canteiro de obra modelo para
Universidade Estadual de Maringá, de forma a adequar e padronizar as instalações das áreas
de vivência, bem como atender às necessidades de produção.
O dimensionamento das áreas de vivência depende exclusivamente da quantidade de
operários instalados no canteiro. Para as instalações das mesmas em relação ao canteiro deve-
se adotar um número apropriado de operários para fim de projeto.
Com observações realizadas in loco das instalações das áreas de vivência do canteiro
atual e das obras em execução, deve-se buscar adequar as instalações das áreas de vivência
em conformidade com a Norma Regulamentadora NR 18. Por exemplo, as instalações
sanitárias devem ser projetadas de forma que as unidades (vaso sanitário, mictório, lavatório e
chuveiro) atendam suficientemente em número os trabalhadores, garantam o resguardo
pessoal convenientemente e tenham requisitos mínimos de conforto e higiene.
Em relação aos elementos ligados à produção, como as centrais de argamassa,
armação e carpintaria, deve-se procurar adequar as instalações observando-se o local de
armazenamento de materiais próximo à respectiva unidade de produção e principalmente,
assegurar que as instalações estejam em conformidade com a segurança, conforme preconiza
a NR 18.
Deve-se procurar o procedimento correto para armazenamento de materiais e
preocupar-se com o local de estocagem, de forma a não haver interferência entre serviços.
Assim, busca-se mudar a imagem de canteiros de obras onde a desordem, a falta de
segurança, o descaso com os trabalhadores, a baixa produtividade e o desperdício são
características da obra-padrão brasileira.

5. Bibliografia

SAMPAIO, J. C. DE A. – Manual de Aplicação da NR 18. São Paulo, PINI, 1998.


SOUZA, R. & MEKBEKIAN, G. – Qualidade na Aquisição de Materiais e Execução de
Obras. São Paulo, PINI, 1996.
SOUZA, U. E. L.; FRANCO, L. S.; PALIARI, J. C. & CARRARO, F. – Recomendações
Gerais quanto à Localização e Tamanho dos Elementos do Canteiro de Obras. Boletim
Técnico da Escola Politécnica da USP (São Paulo): 1-20, 1997.

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