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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO SÃO LUÍS

CURSO DE JORNALISMO

LICYA ADRIANNE MARQUES SANTOS

MECANISMO DE CONTROLE E REDES SOCIAIS NA INTERNET:


A VIGILÂNCIA NA ATUALIDADE

SÃO LUÍS
2020
CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO SÃO LUÍS
CURSO DE JORNALISMO

LICYA ADRIANNE MARQUES SANTOS

MECANISMO DE CONTROLE E REDES SOCIAIS NA INTERNET:


A VIGILÂNCIA NA ATUALIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário
Estácio São Luís, como requisito à
obtenção do título de Bacharel em
Jornalismo.

Orientador: Profº. Me. Ricardo Costa


Alvarenga

São Luís
2020
LICYA ADRIANNE MARQUES SANTOS

MECANISMO DE CONTROLE E REDES SOCIAIS NA INTERNET:


A VIGILÂNCIA NA ATUALIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Centro Universitário
Estácio São Luís, como requisito à
obtenção do título de Bacharel em
Jornalismo.

Aprovado em: _____/______/_______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________
Profº. Me. Ricardo Costa Alvarenga
Centro Universitário Estácio São Luís

__________________________________________________
1° Examinador (a)

__________________________________________________
2° Examinador (a)
À minha família, que sempre me
encorajou na concretização do meu
grande sonho.
AGRADECIMENTOS

A Deus, o autor e consumador da vida, pela força, discernimento e


inteligência para a finalização deste trabalho, e para a conclusão do meu curso.
Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
Agradeço de especial modo ao refúgio da minha vida, minha mãe Marinelia
Marques, que com suas orações me deu força para continuar a jornada acadêmica
em meio aos percalços. Também ao meu pai José Santos, que sempre investiu e
incentivou os meus estudos. À minha irmã Lais Alaine, que me ajudou com maestria
em toda a jornada acadêmica, com seus ensinamentos e incentivo.
Agradeço ao grande amor da minha vida, meu marido, que esteve sempre
presente em minha trajetória acadêmica, apoiando-me e me dando coragem para a
minha formação. Amo você!
Exemplo de grandes profissionais, agradeço aos meus professores: Paulo
Pellegrine, Lila Antoniere, Amarilis Cardoso, Poliana Sales; vocês merecem o
mundo e são minhas inspirações. Em especial, agradeço ao meu orientador Ricardo
Alvarenga, que foi fundamental para a construção desse trabalho e é um grande
mestre para mim.
“Nossa sociedade não é aquela do
espetáculo, mas aquela da vigilância”
(Michel Foucault)
RESUMO

O presente estudo objetiva refletir sobre a vigilância nas redes sociais na internet.
Para tanto, a pesquisa pauta-se em discutir sobre os novos modelos de vigilância e
controle na vida dos indivíduos na atualidade, no ciberespaço. O embasamento
teórico desta pesquisa dá-se apartir de Deleuze (1990), na perspectiva da sociedade
de controle, dialogando com Foucault (2014), a respeito da sociedade disciplinar e
relações de poder na sociedade. Utilizamos Recuero (2009), com foco nas redes
sociais, Cassino (2018), com reflexões sobre modulação e Bruno (2018), na
perspectiva da vigilância digital. O procedimento da pesquisa é de cunho
bibliográfico e de campo evidenciado por um questionário online com 10 perguntas,
que objetivou identificar a relação das redes sociais como ferramentas de vigilância.
Os resultados desta pesquisa apontaram o fato de que a vigilância ganhou novos
sentidos na internet, com termos como stalkear e cancelar, além de uma vigilância
acarretada pela própria empresa e pelos seus pares que têm ciência de que as
redes sociais podem monitorar e acompanhar o cotidiano e as interações de cada
indivíduo.

Palavras - Chave: Sociedade de Controle. Vigilâncias. Redes Sociais. Internet.


Controle.
ABSTRACT

This study aims to reflect on social networking surveillance on the Internet. This way,
the research is based on discussing the new models of surveillance and control in
people’s lives today in the cyberspace. The theoretical foundation of this research
covers Deleuze (1990) regarding the perspective of the control society as well as
Foucault (2014) concerning the disciplinary society and power relations in society.
Recuero (2009) focusing on social networking, Cassino (2018) regarding reflections
on modulation and Bruno (2018) working on the perspective of digital surveillance
were also referenced. The research methodology is through bibliographic and field
evidenced by a 10-question online quiz, aiming to identify the relationship of social
networking as a surveillance tool. As a result, it was noticed the fact that surveillance
reached new feelings on the internet, with words such as: stalk and cancel, in
addition to surveillance carried out by companies themselves and their peers, who
are aware that social networking can monitor and follow the daily life and interactions
of each individual.

Key Words: Control Society. Surveillance, Social Networking, Internet. Control.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Modulação Deleuzeana por João Cassino ................................................ 40


Figura 2 - Capa da folha de São Paulo ..................................................................... 46
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 -Gênero dos Participantes ......................................................................... 47


Gráfico 2 - Idade dos Participantes ........................................................................... 47
Gráfico 3 - Utilização de redes digitais pelos participantes ....................................... 48
Gráfico 4 - Cancelamento e bloqueio de alguém em redes sociais pelos participantes
............................................................................................................... 49
Gráfico 5 - Stalkear nas Redes Sociais ..................................................................... 50
Gráfico 6 - Anúncios personalizados em Redes Sociais ........................................... 51
Gráfico 7 - Compartilhamento de dados pessoais..................................................... 53
Gráfico 8 - Rastreamento e mapeamento através das redes sociais ........................ 54
Gráfico 9 - Conteúdos impactados no feed ............................................................... 55
Gráfico 10 - Vigilância nas Redes Sociais Digitais .................................................... 56
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 11

2 MECANISMOS DE CONTROLE ........................................................................ 14


2.1 Relações de poder na sociedade ............................................................ 14
2.2 Sociedade Disciplinar .............................................................................. 15
2.3 Sociedade de Controle ............................................................................. 20

3 REDES SOCIAIS NA INTERNET ....................................................................... 24


3.1 Os elementos das redes sociais na internet .......................................... 24
3.2 Redes Sociais como Capital Social ........................................................ 28
3.3 Redes Sociais Digitais: Facebook e Instagram ..................................... 29

4 A VIGILÂNCIA NA ATUALIDADE ..................................................................... 37


4.1 Redes Sociais Digitais e Modulação ....................................................... 37
4.2 Estrutura da Modulação Deleuzeana ...................................................... 39
4.3 Jornalismo como estratégia de modulação ........................................... 42
4.3.1 MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÃO NA MÍDIA ........................................ 44
4.4 As novas estruturas de controle e vigilância ......................................... 47

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 58

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 61

APÊNDICE ................................................................................................................ 64
APÊNDICE A – Perguntas do questionário online ......................................... 64
11

1 INTRODUÇÃO

A Sociedade de Controle, nascida no período pós - guerras mundiais, traz


características intrínsecas ao seu sistema de funcionamento que se amplia com o
advento da internet e, com isso, a popularização das redes sociais digitais. Neste
sentido, esta monografia é resultado da pesquisa que trata sobre as novas formas
de controle e vigilância na atualidade. Com a popularização das redes sociais na
internet, ficou mais fácil vigiar os agentes presentes nesse espaço, que a todo
momento estão compartilhando, postando, curtindo e interagindo com seus pares.
As redes sociais digitais sempre vão precisar de ao menos dois atores para a
concretização do processo comunicacional interativo, mediado pelo computador. A
partir do momento que o agente interage, cria conexões, relações e laços sociais, a
vigilância aumenta, pois o ator passa a ser controlado e vigiado a cada movimento
dentro da rede e a cada postagem, é uma espécie de "vigilância participativa"
conforme Baumam (2001), na qual todos vigiam todos em um processo contínuo.
O tema a ser estudo neste trabalho foi escolhido pela grande relevância que o
campo filosófico traz para a reflexão de uma sociedade de controle que é permeada
por uma vigilância constante, através, principalmente, das redes sociais digitais tão
comuns no cotidiano dos indivíduos. Discutir este pressuposto significa compreender
como as redes sociais digitais possibilitam uma multifacetada vigilância entre os
próprios pares da rede, que muitas vezes passa despercebida, dada ao próprio
caráter das redes sociais na internet.
Neste trabalho, o interesse volta-se à dimensão vigilante das redes sociais na
atualidade, por entendermos que a vigilância opera cada vez mais de maneira
inerente no ciberespaço. Por isto, o estudo debruça-se em compreender a seguinte
problemática: como as redes sociais digitais na internet representam novos modelos
de vigilância e controle na vida dos indivíduos na atualidade?
No intuito de buscar respostas a esse problema, definimos como objetivo
geral: Analisar as mídias sociais digitais como as novas ferramentas de vigilância na
atualidade; e objetivos específicos: Discutir, a partir da categoria conceitual
sociedade de controle de Deleuze, a vigilância por meio das redes sociais digitais e,
ainda, Problematizar a vigilância no âmbito digital, regulada não apenas pela
empresa detentora das Redes, mas também pelos próprios indivíduos.
12

O referencial teórico utilizado para o alcance dos objetivos se concentra nas


premissas de Deleuze (1990), Foucault (2014), Recuero (2009), Cassino (2018),
Correia (2014) e Bentes (2018), além de outros autores referidos.
O presente trabalho propõe-se abordar como a vigilância é característica
inevitável das redes sociais na internet, levando em consideração que as redes
funcionam como instrumento de vigilância interiorizada. Por isto que é mais fácil
vigiar e ser vigiado pelos agentes neste espaço, devido a sua carga de total fluidez.
Para melhor compreensão, organizamos o trabalho em três capítulos.
No primeiro capítulo, utilizando os pressuposto de Foucault e Deleuze,
discorremos sobre as relações de poder, que estão presentes em todas as esferas
sociais e que por isso são múltiplas e funcionam como uma rede que integram toda
a sociedade, sendo assim, adentrando no campo de dois conceitos específicos:
sociedade disciplinar e a sociedade do controle.
No segundo capítulo, abordaremos as características particulares das redes
sociais na internet, levando em consideração os atores, as interações, as conexões,
as relações, o estabelecimento de laços sociais fortes ou fracos e o capital social
particular a essas redes, neste sentido, destacaremos a gênese e as características
interativas do Facebook e do Instagram, redes estudadas neste trabalho.
No terceiro capítulo, refletiremos sobre a noção de modulação deleuzeana
nas redes sociais e no jornalismo, que é característica primordial da sociedade do
controle. E, por fim, destacaremos a caracterização da pesquisa por meio de análise
sobre as novas formas de controle e vigilância na atualidade.
Para que pudéssemos refletir sobre as novas formas de vigilância e controle
na atualidade, levando em conta as redes sociais na internet, optamos pela
abordagem qualitativa, por trabalhar com a articulação de conceitos como sociedade
de controle, modulação e redes sociais na internet, estabelecendo relação com a
teoria de Deleuze e Foucault, pautada pela revisão bibliográfica e pesquisa de
campo. Quanto aos procedimentos do estudo, será realizada pesquisa de campo,
instrumentalizada por questionários online, contendo perguntas fechadas,
direcionadas aos usuários dessas redes, objetivando obter uma resposta mais
evidente sobre a temática da pesquisa.
Com este trabalho, espera-se contribuir com os estudos de comunicação, no
fato de que estudar a sociedade de controle é compreender como a vigilância digital
tem uma presença marcante no cotidiano dos atores, além de entender como a
13

sociedade pós-moderna se comporta e se estrutura imersa em um ambiente digital


vigilante que atua de forma fluída e interiorizada.
14

2 MECANISMOS DE CONTROLE

2.1 Relações de poder na sociedade

Historicamente, os estudos sobre as relações de poder na sociedade, até os


anos 1960, concentravam-se em duas perspectivas fundamentais: 1) o poder visto
como caráter centralizador do governo, ou Estado sobre o cidadão; e 2) a ideia
marxista da luta entre burguesia e proletariado. Essas conversões tendiam a
analisar o poder em seu nível primário, suprimindo o exercício do poder em níveis
mais baixos das relações sociais. No entanto, Michel Foucault (2017) preconizava
que o poder não é apenas exercido pelo Estado, mas sim em todas as instâncias da
sociedade, sendo assim, o poder estaria em toda esfera social.

Creio que deva ser analisada a maneira como os fenômenos, as técnicas e


os procedimentos de poder atuam nos níveis mais baixos; como esses
procedimentos se deslocam, se expandem, se modificam; mas sobretudo
como são investidos e anexados por fenômenos mais globais; como
poderes mais gerais ou lucros econômicos podem inserir-se no jogo das
tecnologias de poder que são, que são ao mesmo tempo autônomas e
infinitesimais (FOUCAULT, 2017, p.285).

Neste sentido, Foucault entendia que era necessário fazer um estudo


ascendente do poder, partindo de mecanismos ínfimos que possuem uma história,
um percurso para refletir como esses mecanismos de poder são utilizados e
transformados por mecanismos cada vez mais universais. Deve-se sublinhar que,
para Foucault, o poder não deve ser entendido apenas com um viés negativo, ele
"exclui", "reprime", "recalca", "censura", "abstrai", “mascara”, "esconde"
(FOUCAULT, 2014, p.189). Na verdade, o poder também é positivo, pois ele cria
sociedades, saberes e resistências, estando imbricado nas relações cotidianas.
É notório que as relações de poder estão em todos os níveis da
sociedade, exemplificando, temos; uma relação de poder existente entre os
indivíduos e o Estado, bem como temos também uma relação do indivíduo com
sua família, seus amigos, seus empregados, por isso que as relações de poder
são multifacetadas e funcionam como uma rede, pois circulam de um polo a outro
da sociedade.

O poder deve ser analisado como algo que circula, ou melhor, como algo
que só funciona em cadeia. nunca está localizado aqui ou ali, nunca está
nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem. O
15

poder funciona e se exerce em rede. Nas suas malhas, os indivíduos não só


circulam, mas estão sempre em posição de exercer esse poder e de sofrer
sua ação; nunca são o alvo inerte ou concedido do poder são sempre
centros de transmissão (FOUCAULT, 2017, p. 284).

As relações de poder que penetram toda a malha social não se localizam em


um lugar específico ou funcionam como um sistema de dominação de um sobre
outro, mas atuam através de mecanismos multifacetados e de pontos de correlação.
Foucault pensou poder como uma relação, e é nesse sentido que as relações
de poder cercam o discurso, para ele, o discurso é determinado pelo controle que a
sociedade tem sobre as ações, práticas e ideias das pessoas, o discurso, portanto,
seria "preposições que adquirirem caráter de verdade, passando a construir
princípios aceitáveis de comportamento" (FOUCAULT apud SILVA, 2014, p.03). O
discurso acaba por moldar o comportamento do individuo ao estabelecer
pensamentos, normas e regras que devem ser seguidas, nessa instância, as
pessoas participam de um sistema de relações de poder que as condicionam a
aceitar certas concepções, definindo, inclusive, o que é certo e o que é errado.
É fundamental ressaltar que as relações de poder estão presentes em toda e
qualquer sociedade, mas, como tudo, elas sofrem uma nova reconfiguração com a
passagem de tempo e as próprias transformações sociais. Se na Sociedade
Disciplinar essas relações eram bem observáveis, individuo-instituição, opressor-
oprimido; na Sociedade de Controle, as relações se estabelecem principalmente
através dos meios tecnológicos, sem muitas vezes ser sentida, por isso que é fluida,
rápida e detentora de uma capacidade de controle inimaginável.

2.2 Sociedade Disciplinar

É sabido que as práticas de poder estão em toda parte, no entanto, elas


mudaram significativamente através do passar do tempo, neste sentido, é importante
refletir sobre a Sociedade de Soberania, pois é através de seu enfraquecimento que
a Sociedade Disciplinar floresce.
Michel Foucault, ao analisar estas práticas na Sociedade de Soberania que se
estrutura na época medieval, aponta que ela se dá efetivamente através das práticas
de suplícios. Foucault, tomando como base Jaucourt, explica que o suplício "é a
pena corporal, dolorosa, mais ou menos atroz; e acrescenta: é um fenômeno
16

inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a barbárie e a crueldade"


(FOUCAULT, 2014, p.36).
Nas Sociedades de Soberania, o poder estava centralizado na figura do
soberano, era ele quem detinha o controle sobre a vida e a morte de seus súditos,
caso alguém cometesse algum crime ou desrespeitasse alguma norma, era punido
de acordo com a gravidade do delito cometido, e quanto maior a pena fosse, o
sofrimento aumentaria significativamente, por isso, quando a pena era supliciante,
havia um código jurídico da dor que correspondia:

Número de golpes de açoite, localização do ferrete em brasa, tempo de


agonia na fogueira ou na roda (o tribunal decide se é o caso de estrangular
o paciente imediatamente, em vez de deixá-lo morrer, e ao fim de quanto
tempo esse gesto de piedade deve intervir), tipo de mutilação a impor (mão
decepada, lábios ou língua furados). Todos esses diversos elementos
multiplicam as penas e se combinam de acordo com os tribunais e os
crimes (FOUCAULT, 2014, p.37).

Assim, o suplício fazia parte de um espetáculo que deveria ser suntuoso e


notado por todos, como forma de demonstração de poderio de quem pune. A própria
demasia da violência seria uma espécie de glória. O fato do condenado gritar com
os golpes que levava, não significava algo deplorável, mas sim a justiça que se
demonstrava em sua força, em todo o caso, as práticas de suplícios deveriam deixar
marcas que não poderiam ser anuladas, não só nos corpos dos condenados, mas
também na mente das pessoas que guardariam as lembranças das torturas
expostas.
"O suplício penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma
produção diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das
vítimas e a manifestação do poder que pune" (FOUCAULT, 2014, p.37).
No tocante, o poder do soberano, era constatado mediante ao sofrimento que
ele pode causar através da liturgia punitiva, ao arruinar o corpo do indivíduo com
enforcamento ou esquartejamento, ele está mostrando sua força e efetivação do
exercício do poder sobre a vida dos seus súditos. Portanto, nota-se que na
Sociedade de Soberania, o poder era totalmente aparente e que, para tanto, sua
efetivação dependia de sua integral visibilidade.
A partir da metade do século XVIII, gradativamente a punição vai
desaparecendo, mais do que isso, anula-se o corpo supliciado, marcado com ferrete,
decapitado, esquartejado, "desapareceu o corpo como alvo principal da repressão
17

penal" (FOUCAULT, 2014, p.13). Agora, sentia-se a necessidade de punir


moderadamente, pois o suplício era expressão máxima de sofrimento e espetáculo,
tornou-se intolerável.
Nos séculos XVII e XVIII, observa-se uma nova ocorrência de poder, díspar
às praticadas na Sociedade de Soberania, no lugar das rígidas punições que os
corpos sofriam, surgiu um novo tipo de poder contínuo e permanente: a disciplina
que se constitui em decorrência da revolução industrial.

O aparecimento, ou melhor a invenção de uma nova mecânica de poder,


com procedimentos específicos, instrumentos totalmente novos e aparelhos
bastante diferentes, o que é absolutamente compatível com as relações de
soberania. [...]. Esse novo tipo de poder, que não pode mais ser transcrito
nos termos da soberania, é uma das grandes invenções da sociedade
burguesa. Ele foi um instrumento fundamental para constituição do
capitalismo industrial e do tipo de sociedade que lhe é correspondente; esse
poder não soberano, alheio à forma da soberania, é o poder disciplinar
(FOUCAULT, 2017, p.290-291).

Da passagem de uma Sociedade de Soberania para a Disciplinar tem-se uma


nova configuração das relações de poder. Na Sociedade Disciplinar, torna-se mais
eficaz punir os indivíduos afim de docilizar os corpos para o trabalho fabril, isso é
preciso devido ao crescimento do capitalismo industrial, assegurar de maneira
racional a sanção dos sujeitos, pois agora é necessário punir para o exercício
disciplinar de adestramento, para que se possa inserir novamente o indivíduo no
ambiente de trabalho.
Segundo Foucault, bem no início do século XVII, falava-se da correta
disciplina, como uma arte do bom adestramento, "o poder disciplinar é, com efeito,
um poder que, em vez de se apropriar e de retirar, tem como função maior adestrar.
[...] a disciplina ‘fabrica’ indivíduos; ela é uma técnica específica de um poder que
toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de seu
exercício" (FOUCAULT, 2014, p.167).
Na Sociedade Disciplinar, a vigilância e a punição tornaram-se ferramentas de
poder, aplicadas para adestrar os indivíduos, objetivando que se ajustem às regras
estipuladas pelas instituições. Nessa sociedade, o que se destaca é o confinamento
dos indivíduos, nas organizações dos quais vão fazer parte como; escolas, fábricas,
prisões, hospitais, todas essas instituições tem o intuito de corrigir a conduta dos
sujeitos e mais que isto, monitorar e controlar as suas ações.
18

Foucault analisa a disciplina, em primeiro lugar, como a distribuição dos


indivíduos nos espaços, para isso "[...] a disciplina às vezes exige a cerca,
especificação de um lugar heterogêneo a todos os outros e fechado em si mesmo.
Local protegido da monotonia disciplinar. houve o grande "encarceramento" dos
vagabundos e dos miseráveis; houve outros mais discretos, mais insidiosos e
eficientes" (FOUCAULT 2014, p.139).
É certo que a Sociedade Disciplinar por meio das instituições visa à
ordenação dos indivíduos em espaços de confinamento, a fim de lhes colocar em
um lugar definido de observação contínua de suas ações. Pode-se dizer que esta
sociedade é essencialmente arquitetural, pois, para funcionar, precisa de
organizações e de um aparelho que vê e vigia permanentemente em silêncio, é um
olhar que está sempre atento:

O que permite o poder disciplinar ser absolutamente indiscreto, pois está


em toda parte sempre alerta, pois em princípio não deixa nenhuma parte às
escuras e controla continuamente os mesmos que estão encarregados de
controlar; e absolutamente "discreto", pois funciona permanentemente e em
grande parte em silêncio. [...]. Graças as técnicas de vigilância a "física" do
poder, o domínio sobre o corpo se efetua segundo as leis da ótica e da
mecânica, segundo um jogo de espaços, de linhas, de telas, de feixes, de
graus (FOUCAULT, 2014, p.174).

A vigilância é uma característica intrínseca da Sociedade Disciplinar e, para


tanto, Foucault atribui como aspecto primordial dessa sociedade o Panoptismo. O
panóptico é um elo de visão total entre quem vigia e quem é vigiado. Com o advento
da modernidade, introduziu-se a organização do espaço social e, por isto, era
necessário encontrar práticas que disciplinassem os corpos já que a agressividade
utilizada pela sociedade de soberania era muito trabalhosa e incompatível com um
cenário cada vez mais numeroso. Nesse sentido, era imprescindível utilizar
mecanismos que pudessem ajustar os indivíduos conjuntamente; o panóptico era
esse aparelho eficaz de vigilância e disciplinamento, ele foi desenvolvido pelo
filósofo britânico Jeremy Bentahm, como eficiente modelo de prisão.

O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro,


uma torre: esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face
interna do anel; a construção periférica é dividida em celas cada uma
atravessando toda espessura da construção; elas têm duas janelas, uma
para interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que da para o
exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta colocar um
vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um
condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contra luz pode-se
19

perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade as pequenas


silhuetas cativas nas celas da periferia (FOUCAULT, 2014, p.194).

Apesar do panóptico ter sido pensado como modelo prisional, ele pode e foi
incorporado por outras corporações sociais baseadas nos princípios de vigilância e
controle; asilos, escolas, hospícios, fábricas. Este modelo pode ser entendido como
uma máquina disciplinar que está em toda parte vigilante.
Sendo assim, é relevante ressaltar que o panóptico é uma figura
essencialmente arquitetural, que tem como característica principal convencer o
detento de que ele está sendo vigiado o tempo todo, mesmo que não esteja, até
porque seria pouco provável que o prisioneiro fosse observado sem ser parado por
um vigia. O mais efetivo é que o detendo internalize a ideia de uma contínua
visibilidade, para que assim fosse possível sustentar e consolidar a dinâmica de
controle e poder. De acordo com Foucault, Bentham sugeriu que o princípio de
poder no panóptico deveria ser visível e verificável:

Visível: sem cessar o detendo terá de ante dos olhos a alta silhueta da torre
central, de onde é espionado. Inverificável: o detendo nunca deve saber se
está sendo observado; mais deve ter certeza de que sempre pode sê-lo.
[...]. O panóptico é uma máquina de dissociar o par ver-ser visto: o anel
periférico, se é totalmente visto, sem nunca ver; na torre central, ver-se
tudo, sem nunca ser visto (FOUCAULT, 2014, p.195).

A Sociedade Disciplinar elencada por Foucault ainda tem traços marcantes na


sociedade atual, afinal, em vários espaços públicos existem câmeras que nos vigiam
24 horas, é o famoso olhar que vê sem ser visto, afinal, não podemos ter certeza de
quem nos vigia pelas câmeras, apesar da presença daqueles que nos vigiam ser
sempre pressentida. Como bem pontua Foucault, "o olhar está alerta em toda parte”
(2014, p. 190).
É fato que o principal objetivo da Sociedade Disciplinar era fazer com que os
indivíduos moldassem o seu comportamento a partir da possibilidade de estar a ser
vigiado a todo instante por um olhar anônimo e onipresente. Nessa sociedade, o
poder se encontra em vários pontos: nos confinamentos, nas instituições e nas
disciplinas, que ao incidir sobre os corpos, procuram torná-los dóceis e úteis para o
ambiente fabril.
20

2.3 Sociedade de Controle

Em favor das novas forças que se introduziram depois da Segunda Guerra


Mundial, as Sociedades Disciplinares conheceriam uma crise, passamos desta para
uma Sociedade de Controle (DELEUZE, 1990). O controle atua para além das
instituições disciplinares de confinamento, o poder agora deixa de situar-se em
lugares físicos para transpor-se em redes flexíveis.
Nesta sociedade, os mecanismos de controle acabam por tornarem-se
intrínsecos aos corpos dos indivíduos, além de penetrar no cérebro das pessoas, a
fim de modular seus comportamentos. Nesse sentido, o poder na Sociedade de
Controle se dá de maneira diferenciada; muitas vezes não é sentido, pois atua em
um ambiente aberto e fluido, a vigilância também é particular a essa sociedade, só
que agora ela não precisa mais de uma presença física (Panóptico), mas sim de
rastros em registros deixados pelos indivíduos no âmbito digital.

Nas sociedades de controle, ao contrário, o essencial não é mais uma


assinatura e nem um número, mais uma cifra: a cifra é uma senha, ao
passo que as sociedades disciplinares são reguladas por palavras de ordem
(tanto de ponto de vista da integração quanto da resistência). A linguagem
numérica do controle é fita de cifras, que marcam o acesso à informação ou
a rejeição. Não se está mais diante do par massa indivíduo. Os indivíduos
tornaram-se "dividuais", diviseis e as massas tornaram-se amostra, dados,
mercados ou "bancos" [...]. O homem da disciplina era um produtor
descontinuo de energia, mais o homem do controle é antes ondulatório,
funcionando em orbita, num feixe contínuo (DELEUZE, 1990, p.02).

Vivemos em um contexto social que é totalmente permeado por tecnologias


digitais, no qual, quase todo processo social se dá virtualmente. As Redes Sociais
na internet são um grande exemplo da Sociedade de Controle, já que rastreiam os
dados dos indivíduos, vigiando-os diariamente através da internet. É possível
perceber que a vigilância tem sido realizada com o auxílio das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs).
De acordo com Bruno (2008, p.11), a definição de vigilância digital pode ser
entendida como "Monitoramento sistemático, automatizado e a distância de ações e
informações de indivíduos no ciberespaço, com o fim de conhecer e intervir nas suas
condutas ou escolhas possíveis". A vigilância digital também funciona como
organismo, ela precisa das pessoas que são vigiadas, para que elas usem as TIC’s
e, assim, deixem o seu rastro de acesso.
21

Barrichello e Moreira (2015) pontuam sobre isso ao afirmarem que, “se os


usuários não usarem a rede, inviabilizam a vigilância digital" (p. 73). A vigilância em
nosso tempo presente se dá de forma discreta, sem que seja percebida, para
funcionar satisfatoriamente. Diferentemente da Sociedade Disciplinar apresentada
por Foucault, a vigilância na Sociedade do Controle não demanda presença física o
que contribui para que passe despercebida.
Ainda segundo Barrichello e Moreira (2015), "continuamos, ainda, a viver
numa sociedade da vigilância. Hoje, ela apresenta novas características, atua num
ambiente digital e se dá sobre as comunicações" (p.73).
Em suas reflexões a respeito da Sociedade de Controle, Gilles Deleuze
aponta a existência de novos dispositivos de controle, os chamados controlatos, que
são mais tecnológicos e menos arquitetônicos, já que "as sociedades de controle
operavam por máquinas de uma terceira espécie, máquinas de informática e
computadores" (DELEUZE, 1990, p.03).
Nota-se, portanto, que os mecanismos de controle são cada vez mais sutis,
portáteis e fluidos, dentre suas principais características; está a sua relação maior
com o tempo do que com espaço, por isso são essencialmente tecnológicos de
caráter digital, informativo. Como observa Deleuze, os mecanismos de controle são
modulações, trazendo-nos uma reflexão importante do que vem ser um dispositivo:

É antes de mais nada um conjunto multilinear, composto por linhas de


natureza diferente. E, no dispositivo, as linhas não delimitam ou envolvem
sistemas homogêneos por sua própria conta, como o objeto, o sujeito, a
linguagem etc., mas seguem direções, traçam processos que estão sempre
em desequilíbrio, e que ora se aproximam ora se afastam uma das outras
(DELEUZE, 1996, p.01)

Na Sociedade de Controle, as instituições operam através de tecnologia a


distância, principalmente da internet, que não necessita de presença real e concreta,
e é por isto que, nessa sociedade, a disciplina se dá virtualmente. Lazzarato (2006),
apoiando-se em Gabriel Tarde, aponta três fenômenos que caracteriza a sociedade
de controle, desde seu nascimento até seu desenvolvimento na segunda metade do
século XX.

(1) a emergência da cooperação entre cérebros e seu funcionamento por


fluxos e por redes, networks e patchworks; (2), dispositivos tecnológicos
arrojados que agem a distância é que dobram e amplificam a potência de
ação das manadas, tais como o telégrafo, o telefone, o cinema, a televisão,
a internet; (3) os correspondentes processos de subjetivação e sujeição: a
22

formação dos públicos, ou seja, a constituição do que tem lugar no tempo


(LAZZARATO, 2006, p.76).

Deleuze, em seu pós-escrito sobre a Sociedade de Controle, estabelece


distinções entre esta e a Sociedade Disciplinar, sendo assim, nesta segunda o
indivíduo não parava de recomeçar, seja da escola ao quartel, ou do quartel à
fábrica, enquanto na Sociedade de Controle nunca se finaliza nada, a escola, o
serviço, a formação. As Sociedades Disciplinares viram o enfraquecimento de todos
os meios de confinamento, hospital, prisão, família, escola, não se cessou de
procurar reformas indispensáveis, reformou-se a indústria, a escola, a prisão, com o
intuito de ocupar as pessoas até o estabelecimento de novas forças que se
manifestaram: o controle.

Por exemplo, na crise do hospital como meio de confinamento, a


setorização, os hospitais-dia, o atendimento a domicílio puderam marcar de
início novas liberdades, mais também passaram integrar mecanismo de
controle que rivalizavam com os mais duros confinamentos. Não cabe temer
ou esperar, mais buscar novas armas (DELEUZE, 1990, p.1).

O capitalismo acabou por forjar profundamente a Sociedade de Controle e fez


surgir um homem endividado, que busca constantemente o consumo desenfreado
de bens, a força dessa sociedade é tão orquestrada, que fez com que a captura dos
desejos dos indivíduos seja um circuito de lucro, afinal, qualquer pessoa é um
consumidor em potencial. Isto faz com que elas sempre procurem comprar os
dispositivos tecnológicos de última geração, por achar que um novo é o melhor, o
indivíduo vai, assim, tornando-se cada vez mais preso a essas novas forças de
controle.

É o dinheiro que talvez melhor exprima a distinção entre as duas


sociedades, visto que a disciplina sempre se referiu a moedas cunhadas em
ouro-que servia de medida padrão-, ao passo que o controle remete a
trocas flutuantes, modulações que fazem intervir como cifra uma
porcentagem de diferentes amostrar de moedas. A velha toupeira monetária
é o animal dos meios de confinamento, mais a serpente ué das sociedades
de controle. [...]. Passamos de um animal a outro, da toupeira à serpente,
no regime em que vivemos, mais também na nossa maneira de viver e nas
nossas relações com outrem (DELEUZE, 1990, p.2).

No tocante à configuração da Sociedade de Controle, ela se dá através de


nossas relações de poder. Os dispositivos não estão mais em espaços fechados,
mas sim em espaços abertos, com total fluidez. Os mecanismos de controle são
23

sutis, portáteis e ambíguos em sua utilidade, pois a posição vigilante-vigiado é


subjetiva e permite uma relação que o indivíduo controla e é controlado ao mesmo
tempo.
Nesta sociedade, o controle do sujeito se dá, sobretudo, pelas redes sociais
na internet, que na verdade são mecanismos de controles virtuais. Somos vigiados
constantemente pelos algoritmos presentes nessas redes (Facebook e Instagram).
Quanto mais deixamos nossas informações registradas no ciberespaço, mais
podemos navegar com autonomia na internet. "Nesta lógica, a liberdade de
navegação é proporcional ao controle exercido e à vigilância da rede. Trata-se aqui
da dinâmica de controle, que opera pela sedução à máxima visibilidade e pela oferta
de "liberdade de navegação" (ROSA; CHEVITARESE, 2017, p. 64).
As Redes Sociais digitais são caracterizadas pelas interações entre os pares
que procuram gerar conexões para além do ambiente virtual. Neste sentido, as
relações tendem a transforma-se em forte, e o ator passa a acompanhar os amigos
e seguidores nas redes sociais. Os sistemas de controle presentes nessas redes
fazem com que os autores sejam modulados e vigiados pelos próprios amigos
virtuais.
24

3 REDES SOCIAIS NA INTERNET

3.1 Os elementos das redes sociais na internet

A World Wide Web revolucionou a forma de produzir e consumir informações.


Se, antes, acreditava-se que o indivíduo recebia uma mensagem passivamente, e
que esta era aceita por todos de igual modo, semelhante a uma agulha hipodérmica
que perfuraria a pele sem dificuldade, deixando nítido o lugar que corresponderia ao
indivíduo, ou de emissor ou de receptor. o que se vê, no entanto, com o surgimento
da internet, é uma troca constante entre os papéis de consumidores e produtores de
informações, que estão a toda hora exercendo papel de dualidade, afinal, agora, o
sujeito é emissor-receptor e receptor-emissor.
É neste cenário que as redes sociais digitais ganham protagonismo, ao
proporcionar que os atores criem conteúdo, interagindo com outras pessoas através
de uma troca contínua. Em seu livro Redes Sociais na Internet, Recuero (2009)
aborda que através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador, que
promoveram uma sociabilização e conversações, observou-se que, devido aos
rastros deixados no ciberespaço pelos agentes, os padrões de suas conexões e a
visualização de suas redes sociais foram reconhecidos mais rapidamente.
Uma rede social é envolvida por seus elementos e processos específicos,
sendo assim, Recuero destaca como primeira característica de uma rede social na
internet, os atores. Estes atores são, portanto, os indivíduos que estão presentes e
implicados nas redes, eles são parte do sistema “os atores atuam de forma a moldar
as estruturas sociais, através da interação e da constituição de laços sociais”
(RECUERO, 2009, p.25). Por estarmos falando de redes sociais na internet, a
interação entre os indivíduos se dá, sobretudo, através do distanciamento, neste
caso, os atores não são imediatamente discerníveis, trabalha-se com
representações de atores sociais ou composições no ciberespaço de identidades
(RECUERO, 2009).
Ao adentrar no ciberespaço, não se tem como, de maneira inicial, projetar a
identidade desse ator sem antes ter analisado seu perfil ou ter estabelecido uma
interação efetiva, por isso que a exposição pessoal é tão relevante para a conexão
entre os atores. Em outras palavras, para o ator existir na internet, ele precisa ser
visto e percebido constantemente das mais variadas maneiras. Afinal, na internet, o
25

indivíduo é identificado e julgado por suas palavras e ideias, devido a inexistência de


uma interação face a face que gere uma constituição do “Eu” automática e presente.
De acordo com Recuero, parafraseando Judith Donath (1999):

É preciso, assim colocar rostos, informações que gerem individualidade e


empatia, na informação geralmente anônima do ciberespaço. Este requisito
é fundamental para que a comunicação possa ser estruturada. Essas
questões são importantes porque trazem a necessidade de que blog
identifique, de alguma forma, o indivíduo que se expressa através dele, de
modo a proporcionar pistas para a interação social. (DONATH, 1999, apud
RECUERO, 2009, p.27).

Neste sentido, as redes sociais digitais apresentam-se como espaços de


percepções e construções de perfis dos atores, pois, é através da construção
identitária no ciberespaço que as redes acabam por lhe sugerir amigos ou
seguidores, baseados nos perfis pessoais ou nas pessoas que o ator já acompanha;
a partir disto, é comum que os indivíduos estabeleçam um processo de comunicação
baseado nas evidências que os atores sociais engrenam quando começam a
atividade interativa.

Por tanto através da observação das formas de identificações dos usuários


na internet, é possível perceber os atores e observar as interações e
conexões entre eles. Assim todo o tipo de representação de pessoas pode
ser tomado como um nó de rede social: weblogs, perfis no orkut, fotoblogs,
nicknames, etc. Compreender como os atores constroem esse espaço e
que tipo de representações e percepções são colocadas é fundamental.
(RECUERO, 2009, p.28).

Sendo os atores parte integrantes do processo característico das redes


sociais na internet, as conexões que eles estabelecem com os outros atores, é o que
propicia as interações no ciberespaço. Portanto, a partir do momento que um ator
deixa rastros na internet e que esses rastros, através de palavras, ações e fatos são
reconhecidos por outros atores, as conexões entre os pares começam a existir. “Em
termos gerais, as conexões em uma rede social são constituídas dos laços sociais,
que por sua vez, são formados através da interação social entre os atores”.
(RECUERO, 2009, p. 10).
Se a conexão entre os atores se dá através da interação, laços e relações
sociais, a interação é a que caracteriza e fortifica as duas últimas. Sendo assim, a
interação é fator primordial dos estudos das redes sociais na internet; vai ser esta
26

característica que diferencia as redes digitais atuais dos meios tradicionais antigos
que possuíam quase ou nenhuma interação.
Com a evolução da internet e a criação de novas interfaces, o que se nota é
uma explosão interativa, que sempre vai representar um processo de comunicação
entre os atores, gerando, assim, laços e relações de natureza sociais. Por isto, para
a interação ser existente, sempre haverá a presença mesmo que distante de outro
ator que estabelecerá uma troca de sentidos e mensagens, a fim de garantir uma
atividade comunicativa entre os pares.
As ferramentas que compõem os processos de interação de acordo com
Recuero (2009) no ciberespaço possuem especificidades características: a primeira
é que os atores não são conhecidos imediatamente, pois não se tem conhecimento
para além da linguagem não verbal, não tem como saber os gestos e feições do
outro ator, pois a interação é mediada pelo computador.
A segunda particularidade é a influência das possibilidades de comunicação
que as ferramentas vão oferecer para os atores. Por isso, é muito comum que a
interação continue acontecendo mesmo depois do indivíduo estar off-line no
ciberespaço. “A interação social, no âmbito do ciberespaço, pode dar-se de forma
síncrona ou assíncrona” (REID, 1991 apud RECUERO, 2009, P. 32). Essa distinção
remonta a diferença de construção temporal causada pela mediação, atuando na
expectativa de resposta de uma mensagem.
A comunicação síncrona (RECUERO, 2009) é aquela caracterizada pela
interação rápida, por ser em tempo real, na qual o indivíduo envolvido tem a
expectativa de uma resposta, imediata em virtude de ambos estarem online, já na
comunicação assíncrona o ator não está presente no momento da mensagem e,
assim sendo, pode responder depois.
O interessante ressaltar é que a interação entre os agentes não acontece
exclusivamente em uma só plataforma, mas sim em várias, afinal, o ator tende a
migrar de uma plataforma a outra criando laços duradouros.

A interação mediada pelo computador é também geradora e mantenedora


de relações complexas e de tipos de valores que constroem e matem as
redes sociais na internet. Mas, mais do que isso, a interação mediada pelo
computador é geradora de relações sociais que, por sua vez, vão gerar
laços sociais (RECUERO, 2009, p. 36).
27

A análise característica de uma rede social abarca ainda dois fatores que
estão intimamente imbricados: as relações sociais e os laços sociais. As relações no
ciberespaço dizem respeito ao relacionamento entre dois ou mais atores na
comunicação mediada pelo computador. As associações sociais nas redes se
constituem de maneira bastante diferenciada se comparada à relação face a face.
Neste sentido , no ciberespaço, os vínculos são construídos, através do anonimato
e da ideia que se tem da pessoa pela representação em seu perfil, sendo assim, as
relações, podem efetivar-se ou não, se caso o ator se sentir interessado pelo perfil
ou Feed de outro agente. As conexões podem ser iniciadas, mas se suas ideias não
forem compatíveis, isto gera influência e as relações sociais não acontecem. “Logo,
é mais fácil iniciar e terminar relações, pois muitas vezes, elas não envolvem o “eu”
físico do ator” (RECUERO, 2009, p.37).
A partir das relações sociais, os laços sociais nas redes são uma espécie de
elo entre os atores, eles possibilitam uma conexão mais potente e ativa, no entanto,
para que isto aconteça, é necessária a construção de interações sociais, mas não só
para se tornar um laço entre atores e grupos, tem que haver, prioritariamente, um
sentimento de pertencimento e de familiaridade com as trocas comunicacionais.
Recuero, citando os estudos de Gran Granovetter, destaca que os laços
sociais podem ser fortes ou fracos. Portanto, “laços fortes são aqueles que se
caracterizam pela intimidade, pela proximidade e pela intencionalidade em criar e
manter uma conexão entre duas pessoas. Os laços fracos, por outro lado,
caracterizam-se por relações esparsas, que não traduzem proximidade e intimidade”
(RECUERO, 2009, p.41). Nesse sentido, é muito comum ver nas redes sociais
digitais a constituição desses dois tipos de laços, quanto maior for a troca de
informação e ideias, mais fortalecido o laço vai ser; por isso, as conexões devem ser
múltiplas, mútuas e constantes.
No entanto, quando as relações não são de aproximação e intimidade e
tornam-se dispersas, os laços tendem a enfraquecer, contudo, um laço depende do
outro, eles estão correlacionados, afinal, uma relação social, para constituir-se em
um laço forte e íntimo, tem que passar inicialmente por uma conexão entre os atores
esparsos, que vai gerar gradativamente uma aproximação nas redes sociais digitais,
portanto; “tanto laços fracos quanto fortes podem ser suportados pelas redes sociais
na internet, embora ressalte que essas redes parecem mais configuradas para
28

suportar a participação esparsa, decorrente dos laços fracos”. (WELLMAN, 1997,


apud RECUERO, 2009, p.43).
Uma rede social na internet é permeada por particularidades e é necessária a
presença constante de atores, para que se gere uma interação e conexão, que vai
se efetivar em processos comunicacionais, mediados pelo computador, neste
sentido, as interações geram e constituem-se em relações e laços sociais. Neste
caso, os laços sociais são essenciais para a formação do capital social, nas redes
sociais mediada pela internet.

3.2 Redes Sociais como Capital Social

São nas interações e experiências com o meio e pessoas que criamos nosso
repertório social e redes de amizade, tais vivências acumuladas determinam nosso
poder de circulação, troca de valores, envolvimento e participação em grupos que
comungam de ideologias convergentes.
Essa sociabilidade formada naturalmente chamamos de Capital Social, no
qual Coleman (1988, apud RECUERO, 2009, p.50) define:

Capital social como um conjunto de recursos de um determinado


grupo(recursos variados e dependentes de sua função, como afirma
Coleman) que pode ser usufruído por todos os membros do grupo, ainda
que individualmente, e que está baseado na reciprocidade. Ele está
embutido nas relações sociais (como afirma Bourdieu) e é determinado pelo
conteúdo dela.

Logo, capital social perpassa as estruturas sociais, pois se forma através de


ordenamento das organizações sociais com canais de informações e obrigações
recíprocas.
Quanto a isso, Bourdieu (1980) dialoga com Coleman (1988) quando
explicitou que como "o agregado dos recursos efetivos ou potenciais ligados à posse
de uma rede durável de relações mais ou menos institucionalizadas de
conhecimento ou reconhecimento mútuo" (BOURDIEU, 1980, p.248).
As relações sociais são construídas entre pessoas por interesses e
estratégias de investimentos que buscam seus benefícios e, assim, geram grupos.
Para tanto, em época que as redes sociais pautam nossas vidas no modo online por
meio de postagens e publicações, aqueles que reúnem maior número de "amigos"
ou "seguidores" desenvolvem capital social em larga escala através das
29

visualizações, comentários, curtidas, por isso, "é preciso operacionalizar a ideia para
trabalhar com as redes sociais, que parte da definição de Coleman, que explica que
capital social é heterogêneo" (RECUERO, 2009, p.50).
Essa heterogeneidade designa acervos de benefícios individuais ou coletivos
provenientes da participação nas redes sociais e se transfigura em categorias:

(...) que podem ser compreendidas como os recursos a que os indivíduos


tem acesso através da rede e seriam : a)relacional- que compreenderia a
soma de relações , laços e trocas que conectam os indivíduos de
determinada rede; b)normativa-que compreenderia as normas de
comportamento de um determinado grupo e os valores deste grupo;
c)cognitivo -que compreenderia a soma do conhecimento e das informações
colocadas em comum por determinado grupo; d) confiança no ambiente
social- que compreenderia a confiança no comportamentos dos indivíduos
em um determinado ambiente; e)institucional -que incluiria as instituições
formais e informais, que se constituem na estruturação geral dos grupos ,
onde é possível conhecer as regras da" interação" social , e onde o nível de
cooperação e coordenação é bastante alto (RECUERO, 2009, p.50-51)

Tais aspectos do Capital Social são vivenciados pelos indivíduos na vida


diária sob a ótica de cooperação, simpatia, confiança, já que o tamanho da rede de
contatos determina o volume de capital social do indivíduo, até porque o "capital
social auxilia na compreensão de laços sociais e do tipo de rede social formada
através das ferramentas sociais observadas na internet" (RECUERO, 2009, p. 54).

3.3 Redes Sociais Digitais: Facebook e Instagram

Com a consolidação da chamada web 2.0, o que se observa são


modificações profundas em nossa sociedade. Dentre essas mudanças, temos as
redes sociais digitais, que revolucionaram a forma de comunicação, consumo e
produção da informação. Com o surgimento destas redes na internet, ficou mais fácil
socializar compartilhando em tempo real fotos, vídeos e textos com qualquer pessoa
que esteja conectado na web.
Sendo assim, as redes sociais digitais são um meio de interação social entre
os atores que estão presentes no ciberespaço e que, portanto, são partes
integrantes deste processo de troca de mensagens e de todo e qualquer recurso
midiático. O Facebook desponta como uma das redes mais usadas em todo mundo,
são cerca de 2,7 bilhões de usuários ativos.
30

Na sua página oficial, o Facebook define-se como um serviço que cria


tecnologias para que as pessoas possam se conectar umas às outras, criar
comunidades e expandir seus negócios, em síntese, esta rede permite que a
experiência dos atores seja permeada por publicações de informações em seus
Feeds de notícias, criação de grupos, postagens de anúncios e interações com
outros autores.
Para entender o funcionamento do Facebook e suas características
predominantes, é necessário perpassar por uma síntese de sua história. A gênese
dessa rede social digital (CORREIA; MOREIRA, 2014) está atrelada à origem do
chamado Facemash, um website colocado no ar no dia 28 de outubro de 2013 por
Mark Zuckerberg, na qual seu objetivo era que os visitantes da página votassem na
pessoa mais atraente da Universidade Harvard. As fotos eram colocadas lado a lado
e foram conseguidas com base nos dados de identificação dos alunos daquela
instituição. Esse website foi um sucesso, tanto é que, nas primeiras horas, foram
identificadas 20.000 visualizações das fotos em apenas quatro horas online.
No entanto, dias depois, o Conselho administrativo da Havard entendeu que
aquela plataforma violava regras de segurança e privacidade e acabou desativando-
a. Em janeiro de 2004, Zuckerberg com a ajuda de Dustim Moskovitz e Chris
Hughes, deu início a uma nova plataforma: o The Facebook, que mais tarde seria
simplesmente Facebook. A plataforma foi ganhando novas funcionalidades e acabou
expandindo-se, transcendendo os muros da Universidade. "A última grande
expansão do Facebook ocorreu em 2006, com o alargamento da permissão de
acesso a qualquer internauta com idade superior a 13 anos e com um endereço de
e-mail válido" (CORREIA; MOREIRA, 2014, p.171)
Desde a sua criação até os dias de hoje, o Facebook ganhou uma Gama de
usuários ativos, que se utilizam das funcionalidades variadas, dessa rede para
interagir com outros atores. As características relevantes que promovem o processo
comunicacional do Facebook são, antes de tudo, os pedidos de amizade, que
correspondem a um ator enviar a outro um pedido que pode ser aceito ou não. Se
caso o for, os dois atores são considerados amigos nesta rede social digital,
podendo estabelecer interações, relações e criar laços sociais, se os laços se
constituírem como fracos, o agente tem a opção de remover o amigo da sua rede.
31

Um estudo sobre as motivações inerentes à remoção de amigos no


Facebook identificou a ausência de afinidade, particularmente entre idades,
e o número reduzido de amigos em comum como fatores determinantes
desse processo. É de notar que todos estes casos refletem um declínio
dessas mesmas relações em contexto offline (QUERCIA, 2012 apud
CORREIA; MOREIRA, 2014, p.173).

Ao acessar o Facebook, o que se observa inicialmente é o feed de notícias,


com uma listagem das ações e atividades feitas pelos amigos na rede, que são
atualizadas a todo o momento. Através desse recurso, o ator tem conhecimento de
tudo o que o outro agente posta e pensa. O autor também pode utilizar a ferramenta
"no que você está pensando", que consiste em uma caixa de texto que pode ser
inserido mensagens, foto, vídeo, marcação de amigos, localização e até mesmo
descrever sentimentos e atividades.
A partir do momento que uma postagem é publicada, começa um processo
primário de interação, na qual outro ator pode curtir, reagir com emojis, ou comentar
na publicação. O processo de interação no Facebook sempre vai corresponder a
dois atores ou mais, nessa rede social é muito comum a criação de grupos como
forma de estabelecer conexões duradouras. Neste espaço, os agentes tendem a
compartilhar Informações, estimular ideias e estabelecer debates. Normalmente, um
indivíduo só vai fazer parte de um grupo se este tiver um sentimento de
pertencimento e se sentir atraído pela causa do grupo.

Os grupos são usados para discussões e eventos, e constituem uma forma


muito particular de permitir que um certo número de pessoas possa juntar-
se online, em simultâneo, para partilhar informação e discutir temas
específicos (...) Concretamente, um grupo inclui, não só os seus membros,
como conteúdo de notícias recentes, conteúdos de murais, fotografias,
vídeos e todos os comentários que lhes estão associado (CORREIA;
MOREIRA, 2014, p.176).

Os grupos no Facebook podem ser públicos, com a adesão de qualquer ator,


ou privados, na qual o agente tem que solicitar a sua entrada. O processo interativo
nesses espaços acontece com publicações e comentários dos atores, que tendem a
discutir assuntos pertinentes com que o grupo propõe em sua descrição. No que diz
respeito aos utilizadores dessa rede, eles podem pertencer a quantos grupos
quiserem, estabelecendo conexões e laços em distintos grupos. Quanto maior for o
número de grupos que o agente pertence, mais processos interativos ele vai ter.
Outra forma que os atores utilizam para estabelecer um processo
comunicacional mais amplo é o messenger, que é uma plataforma própria do
32

Facebook. Nela, os agentes podem interagir através de mensagens de texto, de


áudios, chamadas de vídeos em grupo e criações de sala. Todas essas
funcionalidades têm o intuito de possibilitar uma interação mais completa para os
atores, a fim de criar uma maior intimidade e proximidade, estabelecendo a
construção de laços fortes que tendem a transcender os ambientes virtuais.

O Facebook vai muito além da interação promovida pelos usuários no seu


interior. Ele passa a organizar a experiência externa destes e a sua relação
com o tempo em termos de gestão dos contatos sociais, lembranças de
aniversários e eventos e servindo como um repositório, permitindo acesso a
memórias. No entanto, a organização dessas experiências passa por uma
estratégia de potencializar os dados produzidos, coletados e processados.
Com este intento, o Facebook tem atuado deliberadamente para ampliar o
escopo de informações capturadas de seus usuários (KAUN; STIERNSTED,
2014 apud VALENTE, 2019, p. 100).

O Facebook conta com uma Gama de informações sobre o usuário, no perfil


do Ator é comum ver dados pessoais. Informações tais como: onde estudou, onde
trabalha, onde mora, hobbies etc. Segundo a página do Facebook na sessão
políticas de dados, as informações dos atores são utilizadas "Para fornecer e
viabilizar a operação dos produtos do Facebook e serviços. Usamos as informações
que temos para oferecer nossos produtos, inclusive para personalizar recursos e
conteúdo como Feed de notícias".
Um dos principais recursos do Facebook é a linha do tempo, que é
organizada por relevância ou ordem cronológica das publicações e atividades dos
amigos, esta organização acontece por conta dos algoritmos, é ele que vai
determinar aquilo que será mostrado na timeline. O algoritmo mais relevante do
Instagram, conforme Valente (2019), foi implementado em 2011, denominado
inicialmente de edgerank e posteriormente de Newsfeed.
A lógica do algoritmo nesta rede implementa um mecanismo de seleção pré-
determinado de relevância do conteúdo que vai ser mostrado para o ator, com base
no que ele curte, no que comenta e nos perfis que segue. Nesse sentindo, se o
agente costuma curtir, comentar, compartilhar assuntos sobre o mundo fitness, o
newsfeed entende que deve priorizar essas publicações, para o ator acompanhar, a
fim de possibilitar um conteúdo personalizado, que atenda aos interesses daquele
usuário.
33

Os algoritmos usam uma “sequência de passos e instruções bem definidos


para gerar categorias com o objetivo de filtrar informações baseadas em
uma combinação de motivos sobre um resultado desejável, Eles produzem
diversos resultados, como: (1) Sugerem conteúdos solicitados por meio de
uma busca; (2) Indicam “amigos” a serem conhecidos ou potenciais pares
amorosos ou sexuais; (3) Definem os anúncios aos quais devemos ser
expostos; (4) Fixam preços e condições de determinados produtos a partir
das características pessoais, sociais ou econômicas do segmento do qual
uma pessoa faz parte ou até mesmo das próprias informações
individualizadas desta pessoa (ROSENBLAT, 2014 apud VALENTE, 2019,
p.96).

Os algoritmos do Facebook cada vez mais vêm assumindo um papel na


seleção de dados e informações que o ator vai consumir, através de filtros
específicos que acabam favorecendo determinados interesses e limitando outros. O
algoritmo utiliza-se dos dados e dos perfis processados dos atores para sugerir
serviços e anúncios e amigos. A lógica dessa ferramenta é garantir uma maior
interação entre os pares a fim de gerar popularidade e visibilidade.
Outra rede social na internet a ser analisada neste estudo é o Instagram.
Neste ano de 2020, o Instagram completou 10 anos como uma das redes sociais
mais utilizadas no mundo, são 1 bilhão de usuários ativos por mês. Antes de chegar
ao formato que se conhece hoje, esta rede passou por mudanças significativas.
A gênese do Instagram, segundo Bentes (2018), está atrelada ao aplicativo
Burbn, que tinha como objetivo oferecer aos usuários a possibilidade do
compartilhamento de fotos juntamente com geolocalização, como naquele momento
a qualidade das imagens do celular destoavam das imagens das câmeras digitais,
os criadores resolveram aplicar filtros às fotos para garantir uma qualidade melhor e
atrair mais usuários, no entanto, mesmo com essas possibilidades, os seus
criadores, o brasileiro Mike Krieger e o americano Kevin Systrom, entenderam que a
interface era muito complicada, assim sendo, o aplicativo foi repensado até chegar a
matriz do que se conhece hoje pelo Instagram.
Inicialmente este aplicativo só se encontrava disponível para download aos
usuários de aparelhos da Apple. Logo no ano do seu lançamento, a rede contava
com 1 milhão de usuários. Só depois, em meados de 2012, ocorreu o lançamento da
versão do aplicativo para sistemas Android. Este fato foi a primeira grande mudança
que o Instagram passou no percurso de sua popularização. "Em 9 de abril de 2012,
foi anunciada a segunda e mais relevante mudança na história do aplicativo até
então: o Instagram é vendido ao Facebook, em uma avaliação de aproximadamente
34

1 bilhão de dólares em dinheiro e ações de sua empresa compradora" (BENTES,


2018, p.26).
Sob a égide do Facebook, o Instagram ganha constantes atualizações e
ferramentas indispensáveis para o seu uso, o seu serviço baseia-se, segundo a
página da rede, na inclusão de todos os produtos, recursos, aplicativos, tecnologias
e software do Instagram, que fornecemos para promover a missão da rede :
fortalecer seus relacionamentos com as pessoas e com as coisas que você adora.
O Instagram é uma forma específica de compartilhar momentos através de
fotos. Bentes (2019), neste sentido, diz que deve-se levar em conta três aspectos
relacionados ao seu funcionamento, o primeiro é que ele é uma materialidade,
através do qual, o ator é capaz de contar a sua própria história, ele também é um
aplicativo que engloba recursos técnicos como; interfaces, softwares e algoritmos.
Segundo aspecto, para que o Instagram seja colocado em uso, precisa de
funcionários, programadores, discursos, por isso é uma empresa. E o terceiro
aspecto envolve os atores que utilizam esta rede para contar ou compartilhar
experiências e gerar interações.
O processo interativo do Instagram entre os atores se dá principalmente por
meio de comentários em fotos e vídeos, e pelo botão de curtir, vai ser através
dessas ferramentas que os atores mensuram as reações de aprovação ou não dos
seus seguidores em relação aos conteúdos postados.

Os álbuns de perfis ininterruptamente alimentados, o número de seguidores,


a quantidade de curtidas, de comentários, de visualizações a cada nova
publicação, entre outras ferramentas: todos elementos da interface que
participam dos modos de ações e interações entre os administradores de
perfis do Instagram (BENTES, 2018, p.30).

Portanto, são essas funcionalidades do Instagram que garantem um processo


comunicacional entre os pares no ciberespaço, quando o agente aceita o pedido de
um seguidor, automaticamente ele pode estabelecer conexões e construir laços
fortes ou fracos dependendo da aproximação e da reciprocidade. As interações no
Instagram se dão principalmente através da dualidade da posição seguidor e
seguido que o ator desempenha ao mesmo tempo,

Enquanto seguido, tornam visíveis aspectos de seu cotidiano e de sua


intimidade através de ferramentas de produção, edição e compartilhamento
de imagem, atualizando os modos de operação do espetáculo. Já na
qualidade de seguidor, os usuários passam a conhecer e acompanhar
35

múltiplos aspectos da vida alheia, conferindo novos sentidos a vigilância


(BENTES, 2018, p. 15).

Circunscritos nessa dupla posição, os atores consomem uma quantidade


significativa de imagens, tanto no Feed quanto nos stories, e quando postam algo,
sempre esperam que as interações aconteçam em um nível elevado com curtidas e
comentários. Normalmente, essas interações acontecem ao ator para tornar visível o
seu dia a dia e sua intimidade, quanto mais fotos e stories se publica, mais interação
o indivíduo vai ter, portanto, nesta rede é necessário que o ator seja visto
constantemente e de variadas maneiras.
No Instagram, a exposição de si tornou-se naturalizada e é exatamente esse
fator que gera seguidores ávidos por acompanhar e seguir o cotidiano,
principalmente, das celebridades, que fazem dessa plataforma representações
diárias de suas vidas. O Instagram projetou uma nova forma de celebridades na
internet, são os chamados influenciadores digitais, que contam com milhões de
seguidores e são verdadeiros fenômenos dessas redes.
Esses novos ídolos:

Normalmente jovens com menos de vinte até trinta e poucos anos-, ao


conquistarem um amplo público de seguidores, capitalizam sua visibilidade
para publicidade tornando o compartilhamento de conteúdo em seus meios
de comunicação uma atividade extremamente lucrativa (BENTES, 2018, p.
70).

Os influenciadores digitais despertam e influenciam os atores do Instagram,


que passam a acompanhar as redes deles como se fosse uma novela, cada dia com
um capítulo diferente, os agentes tornam-se, assim, seguidores fiéis que interagem
em cada foto e vídeo postado. Aqui, a interação é primordial, pois é ela que garante
que os atores sejam vistos e percebidos por essas novas celebridades.
A dimensão - chave da interação e da construção de laços sociais, nessa
rede, é o acompanhamento diário das postagens feitas pelos atores, pois, seguir
alguém é querer ver o que outro está fazendo, por onde viaja, com quem anda,
quais seus hobbies, e ser seguido é tornar sua experiência do dia a dia visível para
os atores. Todo esse processo interativo é dado também pela frequência com que
o ator publica em seu perfil, quantos mais postagens, mais interações através de
curtidas e comentários.
36

No Instagram, os laços sociais costuram-se pelo interesse de acompanhar


regularmente o conteúdo publicado por aqueles que segue e de ser
acompanhado por aqueles que te seguem - é não por uma relação social
que se dê a priori. Portanto, o interesse em seguir é a premissa dos modos
de interação no aplicativo, designado a cada usuário a possibilidade de
observar aqueles que segue e de ser observado por aqueles que te seguem
(BENTES, 2018, p.32).

O Instagram é uma rede social na internet exclusiva para o compartilhamento


de fotos e vídeos, neste sentido, as publicações que aparecem no Feed dos atores
são ordenadas em função dos algoritmos. Através de alguns pilares o algoritmo
escolhe o que deve aparecer primeiro na página do usuário, sendo assim, apesar do
Feed não seguir mais a cronologia, as postagens mais recentes tendem aparecer
primeiro no perfil dos atores, por isso, é tão importante manter a assiduidade nas
publicações.
Outro fator extremamente importante para o algoritmo é a interação, quanto
mais o ator mostra interesse em uma publicação curtindo, comentando, salvando,
compartilhando, mais essas postagens tendem a aparece em Feed.

Esse fator é tão primordial que o Instagram mostra os atores na qual se teve
poucas interações e também os mais mostrados no Feed.” Baseado nos
históricos de curtidas, comentários e outras interações no aplicativo, o
sistema algoritmo infere as preferências de cada usuário para ofertar e
sugerir a eles conteúdos que provavelmente gostariam de ver (BENTES,
2018, p. 33).

Tanto o Facebook como o Instagram são redes sociais na internet e possuem


características e funcionalidades específicas já citadas nesse capítulo, ambas
contam com a predileção algorítmica que acaba por modular os comportamentos
dos atores.
A modulação em si é um processo, como destaca Silveira (2018), de controle
de visualização, seja de imagens, mensagens ou vídeos. Neste sentido, o algoritmo
atua exatamente no processo modular, de observar o comportamento dos atores,
através de suas curtidas, comentários, compartilhamento, oferecendo-lhes mundos e
atualizando em seus Feeds, publicações que seriam de seu interesse, sendo assim,
para que a modulação seja eficaz, é necessário conhecer muito bem os agentes que
interagem nessas redes.
37

4 A VIGILÂNCIA NA ATUALIDADE

4.1 Redes Sociais Digitais e Modulação

Sendo a modulação Deleuzeana característica indispensável da Sociedade


de Controle, entende-se que a noção de modulação é fundamental para entender
como as Redes Sociais na Internet se comportam em nossa sociedade marcada
pela difusão das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), como já vimos
no primeiro capítulo deste trabalho.
Deleuze em seu Post-Scriptum, ao falar sobre os modos de controle, aponta:
"os confinamentos são moldes, distintas moldagens, mas os controles são uma
modulação, como uma moldagem alto-deformante que mudasse continuamente, a
cada instante ou como umas peneiras cujas malhas mudassem de um ponto ao
outro" (DELEUZE, 2000, p.2).
O autor dá um exemplo claro sobre a noção de modulação ao pontuar que a
empresa, ao substituir a fábrica, modula o salário do empregado a partir de uma
formação permanente, o princípio modulador do ‘salário por mérito’. Deleuze ainda
destaca que:

sem dúvida a fábrica já conhecia o sistema de prêmios, mais a empresa se


esforça mais profundamente ao impor uma modulação para cada salário,
num estado de perpetua metaestabilidade, que passa por desafios,
concursos e colóquios extremamente cômicos (DELEUZE, 2000, p.2).

Dessa forma, não se trata mais de moldar o indivíduo, mas sim de modulá-lo
a fim de modificar o seu comportamento. As redes sociais digitais apresentam um
ambiente que passa sensação de liberdade, ao mesmo tempo restringem alguns
caminhos que serão percorridos.
Segundo Machado (2018, p.59):

[...] as dinâmicas de uso propostas pelas plataformas de mídias sociais


como facebook parecem potencializar o paradoxo da liberdade controlada.
Elas oferecem ambientes onde o usuário é incentivado a compartilhar, mais
só recebe a informação que uma serie de algoritmos decidiu ser mais
relevante para ele . É incentivado a se expressar, mas seguindo regras de
conduta, ou escolhendo dentre seis emoções que representam o que está
sentindo.
38

Este novo tipo de controle que cria uma ilusória impressão de autonomia, na
verdade, nutre um ambiente regulador, isso:

[...] devido à falta de regras rígidas(equivaleria à moldagem), o sujeito


concebido em termos de modulação e processos modulatórios parece ter a
liberdade de agir, mesmo que essa liberdade já seja antecipada por
sistemas reguladores, e os próprios atos são modulados de tal maneira que
assumem um caráter regulador (MACHADO, 2000, p.60 apud HUI, 2015,
p.83) .

A modulação nas redes sociais digitais acontece através de algoritmos, pois


são eles que definem quais informações são relevantes para aparecer em um feed
de redes como Facebook e Instagram e quais não devem aparecer.

Os algoritmos não possuem uma função meramente organizacional ou de


facilitação do uso dessas plataformas pelos usuários. Eles vão além,
possibilitam também a coleta e análise massiva e automatizada de dados, o
que os tornou tecnologias essenciais para o modelo de negócio das
principais plataformas digitais utilizadas nos últimos anos (MACHADO,
2000, p.49).

Com o capitalismo de vigilância (SHOSHANA; ZUBOFF, 2015), o que se


assiste é um grande mercado de dados pessoais na qual as plataformas digitais se
alimentam, a propósito de criar perfis de seus usuários para lhe venderem anúncios
ou serviços personalizados. Quanto a isso, Amadeu (2018, p.35) afirma:

[...] podemos realçar que a grande concentração das atenções e do dinheiro


dos demais seguimentos da economia nas plataformas se da porque elas
conseguem modulares as percepções e os comportamentos em escala
inimagináveis até a sua existência.

Os algoritmos são peças fundamentais num processo de modulação, mas não


são os únicos, a modulação para ser eficaz precisa conhecer bem cada usuário que
interage nas plataformas digitais.
Para tanto Amadeu (2018, p.35) afirma:

O processo de modulação começa por identificar e conhecer precisamente


o agente modulável. O segundo passo é a formação do seu perfil e o
terceiro é construir dispositivos e processos de acompanhamento de
cotidiano constantes, se possível pervasivos. O quarto passo é atuar sobre
o agente para conduzir o seu comportamento ou opinião.

O processo de modulação concentra-se basicamente em agir a distância,


penetrando na mente dos indivíduos, com a finalidade de antever e modificar o
39

comportamento humano. Exemplificando, temos o caso da empresa Cambridge


Analytica1, que se utilizou de algoritmos para elaborar perfis psicológicos de usuários
do Facebook através de suas interações, com a finalidade de publicar milhares de
anúncios na plataforma, focando em tipos de personalidade específicas a fim de
ajudar Donald Trump a ganhar as eleições presidenciais, fato este que se
consolidou, de acordo com um depoimento feito por Brittany Kaiser, ex-funcionária
da Cambridge Analytica (2014). "Você envia seus dados, eles são analisados, e
volta para você como uma mensagem direcionada para mudar o seu
comportamento".
Logo, modular o comportamento do usuário que utiliza as redes sociais
digitais significa aumentar exponencialmente o mercado de dados pessoais.

Gerado pelas identidades e comportamentos, pelos indivíduos e suas ações


em redes digitais, os dados pessoais são a moeda paga pelo uso gratuito
de plataformas, sites e serviços online . Dados pessoais se tornaram um
importante bem econômico. A quantidade de dados pessoais captados e
armazenados para o uso pelo capital aumenta quanto mais cresce o uso
das redes de serviço, informações e entretenimento (SIVEIRA; AVELINO;
SOUZA, 2016, p.220).

4.2 Estrutura da Modulação Deleuzeana

De maneira detalhada, Cassino (2018) explana que a modulação deleuzeana


significa ocupar espaço nos cérebros a distância, recorrendo a técnicas de
enquadramento mental de agendamento temático e de conservar atenção do
consumidor a fim de criar mundo e vender oceanos azuis. No interior da modulação
está "indubitavelmente contida a ação de manipular conteúdo de mídia, sejam
tradicionais, eletrônicos ou digitais" (2018, p.22). Cassino propõe uma estrutura de
quatro subconjuntos que compõem a modulação Deleuzana:

1 Empresa americana de Marketing político.


40

Figura 1 - Modulação Deleuzeana por João Cassino

MODULAÇÃO DELEUZEANA

JORNALISMO PROPAGANDA
INFORMATIVO MARKENTING

MODULAÇÃO
MANIPULAÇÃO ALGORÍTMICA
DE MÍDIA

Fonte: Elaborada pela autora

O autor aborda quatros itens que formam a modulação deleuzeana, conforme


o gráfico acima. No entanto, para este estudo teremos somente como abordagem,
em pauta, o jornalismo informativo e a manipulação da mídia. O primeiro item a ser
evidenciado é o jornalismo informativo que é a base do jornalismo diário e tem como
função principal levar informação de qualidade à sociedade.
Sobre as características do jornalismo informativo, Posselt (2017, p.43) afirma
que a produção deve ter como base a realidade. "Portanto, as narrativas deveriam
ser compostas pela imparcialidade, veracidade e objetividade. Porém, escrever é um
processo de escolha e eliminação de matérias, excluindo infinitas possibilidades
devido ao foco do redator”.
É sabido que os jornalistas escolhem algumas notícias em detrimento de
outras, muitas vezes baseados em critérios de noticiabilidade, como, relevância do
fato, importância do indivíduo (figura pública), proximidade geográfica. De acordo
com a teórica do Gatekeeper, a técnica de transformação dos fatos em notícia é um
processo de escolhas, na qual a notícia tem que passar por diversos “gates"
(portões), até sua publicação.
41

Segundo Vera, “as pesquisas recentes sobre o tema indicam que, em


algumas situações, as ações dos gatekeepers não são, de fato, atos de manipulação
e sim distorções involuntárias e inconsistentes” (2017, p.5).
O segundo item de composição da modulação Deleuzeana é a manipulação
de mídia que está imbricada com o jornalismo.

Uma das principais características do jornalismo no Brasil hoje, praticado


pela maioria da grande imprensa, é a manipulação da informação. [...] A
manipulação da realidade, pela imprensa, ocorre de várias e múltiplas
formas. É importante notar que não é todo o material que toda a imprensa
manipula sempre (ABRAMO, 2016, p.37).

A manipulação de mídia, atualmente, tem várias nuances, pois a mídia


tradicional compete com a mídia digital pela atenção do público, hoje, a televisão,
revistas, jornais não são os únicos responsáveis por formações de opinião, com o
advento da internet, ficou mais fácil formar opinião através das redes sociais digitais,
um exemplo, são os chamados digitais influencers e youturbers.
“A manipulação de mídia é uma técnica bastante utilizada tanto no meio
tradicional quanto nos meios digitais. Surgem, porém, com a mídia broadcast. [...] o
caminho de broadcast é de mão única: parte de um mediador e atinge um receptor"
(CASSINO, 2018, p.23).
Em termos simplistas, broadcast diz respeito à transmissão em larga escala
de qualquer conteúdo via satélite, rádio, fibras ópticas e cabos, as principais mídias
broadcast são as emissoras de televisão e rádio, isso porque:

[...] mídia clássica ou tradicional, composta pelos jornais, revistas, televisão


e rádio adotavam na era pré-internet, o formato de broadcast e da
comunicação unidirecional. Havia pouco ou nenhum espaço para o
protagonismo das pessoas comuns, no sentido de difusão e
compartilhamento de suas ideias e pensamento (TERRA, 2017, p.86).

Contudo, mesmo a mídia tradicional tem adotado recursos das mídias digitais
para seus formatos, por meio de uma maior interação e participação do seu público.
De acordo com Cassino (2018, p.23) “A mídia limitada pelo broadcast precisa lançar
mão de estratégias e táticas diversas para atingir seus objetivos de modulação. A
manipulação é uma delas".
O Fato é que tanto as mídias tradicionais como as digitais procuram modular
o comportamento dos indivíduos mesmo a distância, e esta modulação pode ser
42

feita tanto pela mão de um editor, quanto no âmbito virtual por mediação de
algoritmos.

4.3 Jornalismo como estratégia de modulação

A Sociedade de Controle descrita nos estudos de Deleuze é intrínseca ao


final do século XX e início do século XXI. Assim, os seus escritos contemplam de
maneira satisfatória a discussão sobre a modulação nas mídias tradicionais, sociais
e digitais, sendo assim, Lazzarato (2006, p.86) aponta que “[...] as sociedades de
controle modulam os cérebros, constituindo hábitos, sobretudo na memória mental”.
Dessa forma, a sociedade de controle atua de forma sutil e a distância, a fim de
penetrar nos cérebros e engendrar nas mentes dos indivíduos suas ferramentas de
influência.
Corroborando a isso, Castells (2017) explana como se dá o funcionamento do
enquadramento da mente, para ele, o processo de informações que relacionam o
conteúdo e o formato da mensagem com molduras (frames) são ativados por
mensagens geradas na esfera da comunicação. O poder de quem gera essas
informações, no entanto, é limitado no que tange como as pessoas selecionam e
interpretam essas informações.
Castells (2017) ainda descreve que quando mecanismos emocionais são
estimulados, o cérebro ativa a capacidade de decisão de nível superior, buscando e
dando mais atenção às informações que recebe, é por isso que o enquadramento
(framing2) é baseado na provocação de emoções.
O termo Framing foi utilizado pela primeira vez em 1974 pelo sociólogo Erving
Goffman, ele explica que o termo framing é uma forma de demonstrar como os
indivíduos compreendem e respondem às questões sociais que estão inseridos a
partir da maneira que estruturam sua vida cotidiana. A partir dos estudos de
Goffman, o termo foi incorporado nos estudos sobre notícias, audiência e mídia.
A modulação utiliza-se do framing (enquadramento) para modular o
comportamento dos indivíduos, através de palavras, expressões, questionamentos e

2 Framing (quadros em português) neste estudo, é entendido como uma abordagem da


comunicação ainda recente, que estuda o campo jornalístico das notícias (enquadramento
noticioso) a partir dos estudos de Erving Goffman.
43

abordagem que moldam os acontecimentos, tornando inteligível alguns aspectos e


outros não.

A modulação deleuzeana, base da sociedade de controle, que disputa os


espaços nos cérebros das pessoas, usando para tal técnicas de
enquadramento emocional (framing) e de imposição de temas na agenda de
debates da vida cotidiana da sociedade (agenda setting) é tanto um recurso
de poder político , social e tecnológico quanto um modelo de negócios
altamente lucrativo que sustenta o enorme conglomerado de mídia mundial
(CASSINO, 2018, p.17).

Para a modulação deleuzeana, um dos formatos mais preponderantes de


influência da mídia sobre seus receptores é a hipótese chamada de Agenda Setting.
O termo é usado para definir que os consumidores de notícia têm a tendência a
considerar mais relevantes os assuntos que são veiculados pela imprensa,
sugestionando que os meios de comunicação de massa agendam nossas
conversas.
De acordo com Brum (2003, p.02):

Os pesquisadores Maxwell McCombs e Donald Shaw, pioneiros na


apresentação da hipótese do agendamento, ao tratar deste tema,
confirmam que a mídia tem a capacidade de influenciar a projeção dos
acontecimentos na opinião pública, estabelecendo um pseudo-ambiente
fabricado e montado pelos meios de comunicação.

A hipótese da Agenda Setting tem como entendimento que a mídia pauta as


nossas discussões sociais cotidianas. Então, se a mídia tradicional veicula matérias
sobre a possibilidade da vacina contra o COVID-19 estar no SUS em Dezembro de
2020, espera-se que a sociedade em casa, nos escritórios, nas universidades
também debatam sobre o tema.
A modulação deleuzeana acontece no agendamento, na medida em que as
notícias veiculadas pela mídia tradicional penetram no imaginário das pessoas,
moldando seus comportamentos para debaterem sobre assuntos que a mídia pauta
em nosso cotidiano, dessa forma, “[...] a modulação, portanto, tem poder modular,
cristaliza uma determinada subjetividade desejada na memória, no cérebro das
pessoas” (CASSINO, 2018, p.15).
Apesar de a mídia conseguir pautar alguns temas na agenda do debate
público, não se espera que o agente aguarde de forma passiva pelo agendamento
da mídia, até porque hoje em dia, com a internet, as informações estão em todos os
cantos e em tempo real, sendo assim, no universo da web você pode escolher ler ou
44

não uma notícia de acordo com seu grau de interesse, pois “o padrão de cobertura
da mídia para alguns temas ressoa no público. Para outros temas, não há
ressonância” (MCCOMBS, 2004, p. 32). A todo instante estamos imersos no mundo
de informações que chegam até nós das mais variadas formas, a fim de chamar
nossa atenção, “enquanto muitos temas competem pela atenção do público,
somente alguns são bem sucedidos em conquistá-lo, e os veículos noticiosos
exercem influência significativa sobre nossas percepções sobre quais os assuntos
mais importantes” (MCCOMBS, 2004, p.19). Assim, a modulação deleuzeana
através do agendamento adentra nos cérebros mesmo a distância, a fim de modular
gostos, percepções e assuntos a serem debatidos.
É fato que a hipótese da agenda setting evidencia que os editores de matérias
constroem e escolhem os assuntos que serão noticiados para o público e assuntos
que não serão, e esta escolha dos editores acaba por modular o comportamento do
público ao achar que aquela matéria e não outra é relevante e digna de atenção:

Esta construção da realidade social operada pelos meios de comunicação,


por intermédio de uma seleção e uma hierarquização arbitrária de eventos,
produz efeitos: promove discussões sociais encapsuladas pela barreira do
desconhecimento dos temas jogados no lixo das reuniões de pauta dos
jornais, ou dos que nem chegaram a ela (BARROS,1996, p.28).

A partir do momento que os meios de Comunicação tradicionais vinculam


uma notícia, é fato que outras serão esquecidas, mas isso não significa dizer que
necessariamente o público não terá acesso a elas, o que acontece é o efeito de que
as notícias vinculadas na empresa tradicional têm mais probabilidade de se
transformarem em agenda para o público.

4.3.1 MANIPULAÇÃO DE INFORMAÇÃO NA MÍDIA

O jornal Folha de São Paulo encomendou ao Data Folha uma pesquisa sobre
a popularidade dos então Presidentes do Brasil, Dilma Rousseff e Michel Temer, e
acabou por modular completamente os resultados publicados como manchete na
edição de domingo, dia 17 de julho de 2016.
A manchete da capa intitulava-se “Cresce otimismo com economia diz Data
Folha”. A chamada trazia como foco o fato de que a pesquisa Data Folha constatou
45

que 50% defendiam manter o presidente interino Temer, 32% preferiam a volta de
Rousseff e apenas 3% queriam uma nova eleição.
Em um artigo publicado em 27 de julho de 2016 pelo The Intercept Brasil,
assinado por Glen Greenwald, com o seguinte título "A fraude jornalística da folha é
ainda pior: Surgem novas evidências, é possível identificar que a Folha de São
Paulo ocultou os dados da pesquisa que mostravam que a grande maioria dos
eleitores sugeriam a renúncia de Temer; seriam 62% dos brasileiros que
demonstravam predileção para ambos abnegarem da presidência, ao contrário dos
3% mencionados pelo Jornal sobre novas eleições.
Com resposta ao artigo, o Instituto de Pesquisa Data Folha acabou por
publicar um comunicado à imprensa anunciando que 60% dos brasileiros queriam
novas eleições, estes dados foram publicados pelo Instituto e logo depois foram
retirados do ar, como afirma Glenn Greenwald, no artigo descrito acima.
Em seu artigo, Greenwald destaca, ainda, que a resposta do diretor executivo
da Folha de São Paulo foi de que os dados ocultados não “eram jornalisticamente
relevantes”. Mediante ao exemplo explicitado, observa-se que a manipulação de
informação se deu porque o editor da matéria em questão apresentava a
intencionalidade de modular e distorcer os fatos a favor do Presidente Michel Temer,
como forma de consolidar o seu mandato, além de influenciar os seus leitores sobre
a sua popularidade para permanecer como chefe de Estado.
Quanto a isso, Cassino (2018) pontua que a manipulação precisa ter a
intenção de ludibriar a interação humana, mesmo que fazendo uso de recursos
tecnológicos de comunicação. É preciso realizar a ação de manejar, de pôr em
prática, de colocar deliberadamente em funcionamento uma dinâmica que induza
que iluda.
Vale salientar a publicação das duas manchetes alocadas no blog The
Intercept . A primeira, noticiada com equívocos do Jornal Folha de São Paulo sobre
os dados percentuais sob ótica de inversão, no qual demonstrava que 3% dos
brasileiros queriam novas eleições, no entanto, posteriormente, foi desconstruída
pelo próprio Instituto Data Folha, por meio da emissão de comunicado com a
correção que 60% da população vislumbrava novas eleições, vejamos imagens:
46

Figura 2 - Capa da folha de São Paulo

Fonte: the intercept brasil

É notório que em muitas publicações jornalísticas a mídia de massa busca


expor noticiais que adentrem no cotidiano e nos cérebros do indivíduo, a fim de
gerar mudanças de pensamentos e comportamentos, muitas vezes essas notícias
acabam por serem manipuladas para se chegar a um objetivo, que é o de convencer
quem está lendo sobre o assunto, mesmo que de certa forma distorcida, por isto que
o processo de modulação é característico à manipulação midiática, pois o que está
em jogo é a modulação de opiniões e gostos dos sujeitos.
Nas sociedades de controle, o seu traço particular é a conexão por
tecnologias cibernéticas, principalmente pelas redes sociais na internet, que se
apresentam como plataformas de interação, conexão, relações sociais e laços.
Estas redes acabam sendo intermediárias de uma ordem de afetos e interesses dos
indivíduos. A vigilância pode ser elencada como uma das principais operações
47

nestas plataformas, pois atua de modo despretensioso. A vigilância atual, nestas


redes, ocorre pela própria empresa, pelos algoritmos e pelos agentes.

4.4 As novas estruturas de controle e vigilância

Dada a abordagem do estudo monográfico, pautado na problemática "como


as redes sociais digitais na internet representam novos modelos de vigilância e
controle na vida dos indivíduos na atualidade?", sob o aporte de um questionário
online com 10 perguntas fechadas, de cunho objetivo, chegou-se ao resultado da
pesquisa com um público do gênero masculino e feminino, com maior incidência de
participação do gênero feminino e faixa etária entre 18 e 25 anos, como nos gráficos
abaixo.

Gráfico 1 -Gênero dos Participantes

Fonte: Elaborado pela autora

Gráfico 2 - Idade dos Participantes

Fonte: Elaborado pela autora


48

Observa-se que os dados registrados denotam uma participação significativa


de mulheres jovens com um recorte geral de 105 pessoas. Neste sentido, a camada
mais jovem de mulheres responde a uma geração altamente presente nas redes
sociais digitais.
Para início da pesquisa, a pergunta inicial explicitada foi: "Quais as redes
sociais digitais que você mais utiliza?". O levantamento e identificação de uso das
redes sociais é demonstrada no gráfico, majoritariamente facebook e instagram.

Gráfico 3 - Utilização de redes digitais pelos participantes

Fonte: Elaborado pela autora

Entendendo que as redes sociais digitais são "sites na internet que permitem
a criação e o compartilhamento de informações e conteúdos pelas pessoas e para
as pessoas, nas quais o consumidor é, ao mesmo tempo, produtor e consumidor da
informação” (TORRES, 2009, p.113). As redes sociais na internet possibilitaram
uma troca contínua de informações entre os pares, sendo que agora o indivíduo tem
uma posição dual de emissor e receptor da informação. De acordo com o gráfico
acima, o público da pesquisa utiliza-se mais das redes facebook e Instagram com
uma porcentagem de 63,5%.
Para a professora e pesquisadora Raquel Recuero (2009), uma rede social é
definida como um agrupamento de dois componentes: os atores que são, na
verdade, as pessoas, grupos, instituições e suas conexões, que são por finalidade
as interações ou laços sociais. Neste sentido, as redes sociais são permeadas pela
interatividade entre os pares, que criam o estabelecimento de novas relações e
49

laços sociais no ciberespaço. Se os laços sociais na internet se confirmarem como


fracos, é muito comum que o indivíduo bloqueie ou cancele o outro ator, como no
gráfico.

Gráfico 4 - Cancelamento e bloqueio de alguém em redes sociais pelos participantes

Fonte: Elaborado pela autora

De acordo com o gráfico acima, nota-se que, entre os respondentes do


questionário, é quase uma unanimidade a ação de bloquear ou cancelar algum ator
nas redes sociais na internet, portanto, dentre os motivos de bloquear alguém está a
questão de Limeira (2019) discursos de ódio, ofensas e xingamentos, principalmente
porque as redes digitais dão margem para o anonimato. Ainda segundo Limeira
(2019), a ação de bloquear acaba sendo a mais dura ferramenta que impede o
usuário (bloqueado) de ter acesso ao perfil social de quem bloqueou.
Um dos fatores responsáveis pelas novas práticas de vigilância na atualidade
é a ação de stalkear alguém, fato comum para os integrantes de uma rede social,
como no gráfico.
50

Gráfico 5 - Stalkear nas Redes Sociais

Fonte: Elaborado pela autora

A vigilância nas redes sociais pode acontecer através de diferentes formas,


ações, como a de stalkear, portanto;

Stalkear seria um comportamento repetitivo de entrar e buscar informações


sobre o perfil observado constantemente. Neste termo apropriado da língua
inglesa que originalmente significa “perseguidor”, nas práticas de ver e ser
visto na internet, ele guarda sentidos semelhantes, mas é empregado
enquanto “ato de perseguir” , de “espionar” de forma relativamente mais
branda (BENTES, 2018, p.76).

O ato de stalkear é um dos modos de olhar o outro, de buscar informações de


forma voluntária sobre alguém, atuando, assim, de maneira dinâmica em um
contexto cada vez mais fluido, que busca vigiar todos a qualquer momento. Neste
sentindo, a vigilância sai de contornos hierarquizados, para atuar em espaços livres
e abertos, passando a ter novos sentidos.

stalkear atualizam os sentidos da vigilância enquanto modo de olhar


frequente às normas de comportamento no aplicativo. Assim, o
entrecruzamento de microespetáculos e microvigilâncias do dia a dia
conferem à visibilidade o parâmetro valorativo de reconhecimento social
eprofissional (BENTES, 2018, p.68).

É notório que o ato de stalkear alguém sugere a curiosidade de conhecer o


perfil do ator e a representação de seu cotidiano através das redes sociais, a fim de
formar conhecimentos sobre os stalkeados, vigiando-os constantemente, neste
sentido, "Ao conhecer os índices do real da vida alheia, os stalkers podem exercer
51

controle mesmo que parcial sobre a vida daqueles que observam" (BENTES, 2018,
p.85).
Se o ato de stalkear diz respeito aos próprios atores das redes sociais, que
vigiam todos continuamente, a própria rede digital na internet é detentora de uma
vigilância inerente, como no gráfico abaixo, ao demonstrar que, das 105 pessoas
que responderam o questionário, 86,7 notam a presença de anúncios que lhes
interessam, com conteúdo personalizados de acordo com o seu perfil. Vejamos.

Gráfico 6 - Anúncios personalizados em Redes Sociais

Fonte: Elaborado pela autora

As redes sociais digitais, levando em consideração o Facebook e Instagram,


utilizam-se com grande frequência de anúncios personalizados que aparecem no
Feed dos usuários, de acordo com os seus gostos e perfis. As plataformas acabam
por armazenar os dados dos atores, vigiando-os no ciberespaço para gerar uma
publicidade direcionada. "As plataformas ganharam ainda poder quanto mais
armazenavam dados dos seus clientes para construírem amostras que permitiam as
empresas de marketing atingirem com precisão aqueles que eles buscavam
influenciar" (SILVEIRA, 2018, p. 34).
Em uma sessão sobre configuração de anúncios na página do Facebook, a
empresa demonstra quais informações são usadas para mostrar anúncios para os
usuários. "Nós mostramos anúncios com base nas informações que temos sobre
você e sua atividade, como curtidas em páginas como o Facebook. Também
podemos usar as informações que temos sobre outras pessoas e suas atividades
para mostrar a você anúncios mais relevantes".
52

O Facebook estabelece em sua página, como visto acima, mecanismos de


vigilância que utiliza para gerar anúncios para os indivíduos, que muitas vezes são
distribuídos em bolhas. As bolhas são amostras, como afirma Silveira (2017), são na
verdade os perfis analisados e reunidos conforme os dados pessoais do atores. A
palavra de ordem empregada pelo marketing é “melhorar a experiência do usuário”.
Na verdade, as bolhas melhoram a ação da publicidade. Os usuários têm seus
dados pessoais processados para a formação de amostras “em tempo real” para
vendedores de anúncios nas redes” (SILVEIRA, 2017, p. 61).
Em consonância com o Facebook o Instagram em uma sessão de política de
privacidade, sobre os anúncios destaca que "usamos as informações que temos
sobre você, inclusive informações sobre seus interesses, ações, conexões, para
selecionar e personalizar anúncios, ofertas e outros conteúdos patrocinados que
exibimos para você."
O Fato é que a própria rede social vigia os indivíduos e os caminhos que eles
percorrem nas redes para distribuir anúncios direcionados para os atores, no
entanto, esses dados que a rede armazena só são válidos para os anunciantes,
porque informam sobre o perfil de quem eles pretendem atingir. "Qualquer conjunto
de dados só ganha sentido se for analisado e classificado de modo a produzir
conhecimento sobre a realidade ou os indivíduos a que se referem" (BRUNO, 2018,
p.12).
A sociedade do controle orienta a conduta dos indivíduos em espaços livres e
amplos, isto faz com quem os atores ao acessar as redes compartilhem com
frequência os seus dados pessoais, afinal, esses dados são premissas básicas para
se ter uma conta em qualquer rede social. Para tanto, como nos mostra o gráfico
abaixo, as pessoas não têm tranquilidade em compartilhar seus dados pessoais,
seja em determinado site ou plataforma digital.
53

Gráfico 7 - Compartilhamento de dados pessoais

Fonte: Elaborado pela autora

No gráfico, a porcentagem nos mostra que 84,6 % , ou seja , 88 pessoas têm


inquietações ao compartilhar seus dados pessoais. No entanto, qualquer que seja a
posição que o indivíduo exerce na sociedade, seja de artistas digitais, influencers ou
cidadão comum, ele pode estar sendo vigiado e monitorado através dos dados que
compartilha.

Os rastros que este indivíduo deixa ao realizar compras pela internet, ao


trocar mensagens com amigos pelas redes sociais ou ao visitar sites e
blogs, por exemplo, podem ser capturados, armazenados e utilizados
conforme a conveniência de quem exerce está vigilância (BARRICHELLO;
MOREIRA, 2015, p.65).

São diversas as formas e os momentos de vigilância, Barrichello e Moreira


(2015) preconiza isso, e, por isso, são muitos registros feitos a respeito dos
comportamentos dos indivíduos a fim de formar um saber sobre outro para
estabelecer um método de registro de comportamento que permita o uso e a análise
efetiva das informações registradas. Por isso que vigiar significa conhecer de forma
contínua as informações dos indivíduos. "Para melhor conhecer é preciso bem
vigiar, e a efetividade da vigilância depende do entrecruzamento de formas de
vigilância e de informações " (BARRICHELLO; MOREIRA 2015, p.67).
Nas sociedades de controle, o que é essencial é uma cifra, uma senha que
marca o acesso à informação ou à rejeição, por isso, as técnicas de controle operam
54

por uma lógica de bancos de dados, e os indivíduos tornam-se divididos e as


massas se tornam amostras de dados. Vejamos o gráfico.

Gráfico 8 - Rastreamento e mapeamento através das redes sociais

Fonte: Elaborado pela autora

O gráfico acima diz respeito à seguinte pergunta: Você sente que através das
redes sociais digitais sua vida está sendo mapeada e rastreada, já que todos os
dados de acesso são arquivados? Como pontuado, Deleuze destaca que as massas
acabaram por se tornar amostras de dados, justamente porque os dados de acesso
são arquivados e a vidas das pessoas passam a serem mapeadas, conforme o
gráfico, a maioria dos respondentes (86,7%) acreditam, sim, que suas vidas estão
sendo rastreada através das redes sociais.
Neste sentido, os dispositivos de controle e vigilância acabam por
acumularem informações e registros sobre os atores." O que há de novo na
vigilância da era computacional, “[...] É a facilidade de estocar e recuperar
informações que derivam do monitoramento cotidiano das ações dos indivíduos”
(BRUNO, 2018, p.11). Fernanda Bruno ainda propõe uma definição sobre o conceito
de vigilância digital que seria o;

[...] monitoramento sistemático, automatizado e á distância de ações e


informações de indivíduos no ciberespaço, com O fim de reconhecer é
intervir nas suas condutas ou escolhas possíveis. [...] O dispositivo de
vigilância digital tem entre seus principais elementos as tecnologias de
monitoramento de ações, informações e comunicações dos indivíduos no
ciberespaço, a montagem de bancos de dados e a elaboração de perfis
computacionais (BRUNO, 2018, p.11).
55

Se a vigilância digital também diz respeito ao controle sobre as ações dos


indivíduos, o gráfico abaixo nos mostra que 88,5%, que equivale a 92 dos
respondentes, percebem que as informações compartilhadas através das redes
sociais digitais impactam nos conteúdos que são apresentados nos seus feeds das
redes. Observemos.

Gráfico 9 - Conteúdos impactados no feed

Fonte: Elaborado pela autora

Como visto no segundo capítulo, os conteúdos que aparecem no feed dos


indivíduos são induzidos pelos algoritmos que decidem através da interação, do
compartilhamento, das curtidas, comentários e postagens o que deve aparecer
como prioridade no Feed dos atores. Por isso, a vigilância digital tende a modular as
predições dos sujeitos mostrando alguns conteúdos em detrimento de outros. "A
Vigilância digital pressupõe, portanto, o reconhecimento das informações de
usuários da internet e o armazenamento de tais dados para futura utilização, a fim
de conhecer e controlar as atitudes ou preferências dos vigiados" (BARRICHELLO;
MOREIRA, 2015, p.70).
A gênese das práticas de vigilância, segundo Bentes (2018) envolve a
conexão entre três elementos fundamentais: observação, conhecimento e
intervenção. Portanto, vigiar significa observar através de diferentes dispositivos,
como mecânicos, eletrônicos e arquitetônicos e de distintos modos, a fim de
reproduzir conhecimentos sobre os vigiados através de comportamentos que, por
56

sua vez, "possibilitará formas diversas de intervenção sobre as ações, escolhas e


subjetividades" (BENTES, 2018, p.49).
Na sociedade de controle, a diversidade tecnológica se distribui intensamente,
os indivíduos passam a atuar em ar livre com total fluidez e as práticas de vigilância
proliferam pelos mais variados âmbitos, sendo assim, como mostra o gráfico a
seguir, as redes sociais digitais funcionam como ferramentas de vigilância.

Gráfico 10 - Vigilância nas Redes Sociais Digitais

Fonte: Elaborado pela autora

Dentre as 105 respostas computadas pelo questionário, 100 (95,2%) pessoas


acreditam que sim, as redes sociais são ferramentas de vigilância na atualidade,
portanto, é quase uma unanimidade entre o público desse questionário que a
vigilância nas redes sociais é presente e acontece de forma contínua, fato que este
estudo comprovou.
A vigilância nas redes sociais digitais, além de acontecer pelos próprios
mecanismos da empresa, também acontece pelo olhar de controle que os próprios
usuários acabam exercendo sobre os outros é, na verdade, uma vigilância
participativa na qual os atores vigiam os outros nas redes sociais, através de seus
perfis e informações pessoais. "Diferentes níveis de modulação da vigilância
integram-se tanto no exercício do controle que a empresa exerce sobre seus
usuários, quanto nos hábitos dos próprios usuários que controlam a si mesmos e
aos outros” (BENTES, 2018, p.58).
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As redes sociais digitais na internet tornaram-se palco de uma vigilância, na


qual os indivíduos observam e conhecem os comportamentos de outros atores,
porque são "plataformas por onde os usuários não apenas compartilham
publicamente informações íntimas de forma voluntária, mas também por onde
trocam informações sensíveis uns com os outros de forma relativamente privada"
(BENTES, 2018, p.60).
A vigilância nas redes sociais de fato é sentida pelos respondentes desse
questionário, exatamente porque é algo estrutural ao seu funcionamento, é a
"moeda paga pelo uso gratuito de plataformas e serviços online" (SOUZA, 2016, p.
20). Neste sentido, o uso tão naturalizado das redes pelos indivíduos, faz com quem
a vigilância atue em um ambiente totalmente fluido, sem empecilhos. Por isso "a
vigilância se confunde hoje com a própria paisagem do ciberespaço" (BRUNO, 2006,
p. 154).
A vigilância nas redes sociais na internet atua de forma pressentida pelos
atores, mas, muitas vezes eles não têm real dimensão da vigilância, pois continuam
a usar as plataformas diariamente. O que se nota é que as novas formas de controle
e vigilância atuam no ciberespaço de distintas maneiras, sejam por stalker, cancelar,
bloquear alguém na internet seja por anúncios personalizados que são enviados
para os Feed dos atores. A vigilância pode acontecer por parte da própria empresa
detentora da rede através dos rastros e informações deixados pelos usuários, ou
pelos próprios amigos virtuais que vigiam uns aos outros periodicamente.
58

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa aqui apresentada visou analisar as novas formas de vigilância e


controle que estão presentes nas redes sociais, partindo de uma análise sociológica
sobre a prática da vigilância na atualidade. Por isso, o norteamento dessa pesquisa
se deu pela reflexão da sociedade de controle como meio de expressão tecnológica,
que culminou na utilização das redes sociais na internet, que mudaram as formas de
comunicação e produção de informações, agora, todos os sujeitos que desejarem
podem gerar seus próprios conteúdos.
Diferentemente da sociedade disciplinar, que precisa de uma presença física
para exercer vigilância e docilizar os corpos dos indivíduos, a sociedade de controle
se configura em espaços abertos com diversos pontos de vigilância que,
normalmente, podem ser pressentidos, mas nem sempre verificados.

Não há mais um olhar centralizador para nos sentirmos vigiados. Não é


mais possível ver claramente os pontos de vigilância. Nesse sentido, a
vigilância aumenta com o advento das redes sociais, pois somos
controlados e vigiados a cada movimento, a cada post (ROSA;
CHEVITARESE, 2017, p.65).

As redes sociais digitais também representam as relações de poder


modernas, pois elas funcionam por pontos de correlações e estão presentes no
cotidiano dos sujeitos, sendo assim, essas plataformas modulam as ações dos
indivíduos conduzindo-os conforme os percursos oferecidos pelos algoritmos
presentes nestas redes. O conceito de modulação é característico da sociedade de
controle, e nesse estudo, foi utilizado também para pensar o jornalismo como
processo de modulação, que visa adentrar no pensamento dos indivíduos,
oferecendo mundos e agenda temática de algumas notícias em detrimento de
outras.
Analisar as redes sociais na internet é compreender que elas possuem
especificidades como: os atores que são os próprios sujeitos que permeiam esse
universo, a interação entre os pares, as conexões, as relações e os laços sociais
que representam proximidade e fluxos de informações que geram o capital social.
A grande questão posta em perspectiva pelo presente trabalho girou em torno
de analisar, através do questionário online, se as pessoas consideram que as redes
sociais são ferramentas de vigilância na atualidade. Este fato foi comprovado, pois
59

95,2% dos respondentes acreditam que as redes sociais são formas de vigilância,
no entanto, um fato curioso é notar que 84,6% das pessoas não tem tranquilidade
em compartilhar os seus dados pessoais nestas plataformas.
Neste sentido, nota-se que, apesar dos sujeitos estarem cientes da vigilância,
ainda é um desconforto ter que compartilhar os seus dados, pois não se tem uma
comprovação dos fins para os quais eles são usados. Os dados pessoais são um
fator preponderante para os atores criarem uma rede social, lhes é solicitado nome,
e-mail, número de telefone, é como alerta Souza "os dados pessoais são a moeda
paga pelo uso gratuito de plataformas, sites e serviços online".
A pesquisa visou também comprovar que a vigilância ganhou novos sentidos
com as redes sociais digitais, na atualidade, o sujeito vigia o outro através da ação
de stalkear. Das pessoas que responderam o questionário, 67,6% já realizaram essa
ação. Portanto, o ato de stalkear é comum nas redes sociais, através dela os
indivíduos exercem a vigilância sobre os seus próprios amigos e/ou seguidores
digitais, pois ficam informados sobre tudo o que a pessoa posta e faz.
É evidente que através do questionário dos 105 respondentes, 99 já
cancelaram ou bloquearam alguém de suas redes sociais, essas ações também
dizem respeito ao ato de vigiar constantemente os pares nas redes, os sujeitos
estão sempre atentos e observando tudo o que outro escreve, defende e apoia,
para, enfim, efetivar ou não o ato de bloquear e/ou cancelar.
A vigilância também ocorre pelos próprios mecanismos das redes sociais,
através do questionário, podemos observar se o ato de vigiar da rede para com os
indivíduos, que percebem com frequência anúncios personalizados. Foram 91
pessoas que notaram tal atividade e 91 também sentem que suas vidas são
mapeadas e registradas, pois todos os dados são arquivados. Nota-se que é quase
uma unanimidade a percepção dos indivíduos sobre a vigilância que sofrem da
própria rede através das informações, perfis pessoais e registros que deixa ao
entrar no ciberespaço.
As considerações que chegamos nesta pesquisa é que as redes sociais na
internet são novas formas de estabelecer vigilância, principalmente porque se você
não paga pelo produto, você é o produto, a vigilância é a engrenagem de lucros das
plataformas digitais. Consideramos, também, que a vigilância nas redes sociais, fato
já comprovado nesse estudo, acontece prioritariamente pelos os próprios atores que
estão presentes nas redes, é a concreta assertiva: todos vigiam todos.
60

Esta monografia fica, portanto, como um estudo que visa agregar para as
pesquisas futuras análises comprobatórias sobre a vigilância digital, bem como
salientar a inclinação de pesquisas sobre a vigilância em outras plataformas.
Também reconhecemos que possíveis lacunas podem ter sido deixadas no decorrer
do desenvolvimento do nosso trabalho, porém, pretende-se desenvolver outras
pesquisas em âmbito de pós-graduação.
61

REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

APÊNDICE A – PERGUNTAS DO QUESTIONÁRIO ONLINE

1.Qual o seu gênero?

( ) Masculino?
( ) Feminino?
( ) Prefiro não responder
( ) Outro

2. Qual a sua idade?

( ) 18 a 25
( ) 26 a 30
( ) 31 a 45
( ) 46 ou mais

3. Quais as redes sociais digitais que você mais utiliza?

( ) Facebook e Instagram
( ) Instagram e Twitter
( ) Facebook e Twitter
( ) Outras

4. Você já cancelou ou bloqueou alguém em suas redes sociais?

( ) sim
( ) não

5. Você já stalkeou alguém em suas redes sociais digitais?

( ) sim
( ) não

6. Você percebe anúncios que lhe interessam? Conteúdo personalizado de


acordo com o seu perfil em redes sociais digitais considerando o Facebook
e o Instagram?

( ) sim
( ) não

7. Ao acessar um determinado site ou plataforma digital, você compartilha


com tranquilidade os seus dados pessoais?

( ) sim
( ) não
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8. Você sente que através das redes sociais digitais sua vida está sendo
mapeada e rastreada, já que todos os dados de acesso são arquivados?

( ) sim
( ) não

9. Você percebe que as informações compartilhadas através das redes


sociais digitais impactam nos conteúdos que são apresentados nos seus
feeds das redes?

( ) sim
( ) não

10. Você considera que as redes sociais digitais podem funcionar como
ferramentas de vigilância na atualidade?

( ) sim
( ) não

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