“Não haverá borboletas se a vida não passar

por longas e silenciosas metamorfoses”

Rubem Alves

É com esta frase que começo nossa história.

2020 foi um ano pelo qual passamos por grandes mudanças. Sentimentos confusos, entre
medos e coragens, alegrias e tristezas profundas, sonhos adiados e perdas inesperadas. O
mundo todo se modificando não de forma planejada, mas em função da necessidade de rever
hábitos tão comuns de nossa rotina. Viver a vida como vivíamos não era mais possível diante do
que estava acontecendo. Alguma coisa para além do significado que pensávamos saber colocou
abaixo certezas já enraizadas.

Isso nos fez perceber que nada é definitivo, nada é nosso e nada está sob o nosso controle.

A vida é um instante e cada momento é único, e sob perspectiva foi se construindo um novo
olhar. Um olhar que trouxe a consciência do quanto somos frágeis e de que a arrogância nos
torna pequenos.

Diante desse cenário, a educação foi repensada. Professores se reinventaram e o fizeram

reconstruindo-se psicológica, tecnológica e emocionalmente. Ensinar a distância não substitui o
efeito mágico do acolhimento e da segurança.

A criança constrói significados através das experiências culturais, de linguagens e das

diferenças, aumentando o seu repertório e colocando-se como sujeito no mundo. Através da
ludicidade, dos jogos e brincadeiras, das histórias e da simbolização, são construídos seus
sentidos, seus significados as suas experiências. A socialização é a ponte que liga todos estes
contextos, unindo o sujeito com uma outra realidade diferente da sua, o que possibilita o
desenvolvimento emocional para resolução de conflitos e adaptação a ambientes e pessoas.
Como sujeitos sociais e nesta perspectiva, manifesta-se a necessidade por vínculos, por trocas e
pela segurança de um ambiente cheio de afetos.

O ano de 2020 termina e com ele descobrimos que a educação também se dá em outros
ambientes. Essa foi a grande mudança para todos: pais, professores, alunos. Descobrimos que é
necessário ampliar nossa visão sobre a aprendizagem. Aprender é apreender conhecimentos,
não somente os curriculares, mas também os conhecimentos que se dão nas conversas ao
redor da mesa, nas histórias contadas pelos avós, na leitura de um poema feito pelas mães, pais
e cuidadores. A aprendizagem passa pela autonomia do aluno quando este estabelece horários
de estudos, rotinas que antes eram ditadas pelos professores.
Não foi um ano fácil, perdemos muito! Todavia é importante também um olhar para o grande
legado que o ano de 2020 nos deixará: a transformação dos saberes.

Parafraseando Guimarães Rosa: A educação se dá em horinhas de descuido.