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578/2019-7
TC-013.578/2019-7
RELATÓRIO
9.1.1.3. apure as responsabilidades pela causa dos problemas, inclusive quanto ao indício
de deficiência na fiscalização da execução desses contratos e termos de cooperação, em
conformidade com o art. 66 da Lei 8.666/93;’
33. Em cumprimento a essa determinação, o DNIT produziu a Nota Técnica por meio da
comissão instituída pela Portaria 329, de 21/2/2017. Segundo o subitem 12.2.1.1.1, a causa n° 1
da degradação precoce do pavimento da Rodovia 163/PA é a seguinte (Evidência 04, p. 102):
‘Inadequabilidade do projeto ao adotar metodologia de execução de pavimento em duas
etapas, com intervalo de 2 anos entre elas, utilizando o método empírico, uma vez que, ao
ser o submetido ao método mecanístico, este comprova que a espessura do pavimento
adotada para a primeira etapa entraria em colapso antes dos dois anos previstos.’
34. Dada a similaridade entre os projetos das obras da BR-163/PA, incluído este trecho a
cargo do Exército, km 354,9 - km 419,9, percebe-se a possibilidade de que a degradação precoce
do pavimento evidenciado nas obras anteriores possa novamente vir a aparecer para esta obra.
Diante disso, entendeu-se por bem enviar ofícios de requisição ao DNIT para aferir essa eventual
fragilidade dos trabalhos.
35. De início, foram pedidos os estudos ‘sobre a adequabilidade do pavimento da rodovia à
metodologia mecanística de avaliação estrutural, em cumprimento à Nota Técnica
CGDESP/DPP/DNIT 123/2014, uma vez que o número N é superior a 5x10 7’.
36. Em resposta, o DNIT sede, por meio da Coordenação de Obras Delegadas, argumentou
que não há no âmbito do TED com o Exército Brasileiro contratos que atendam tempestivamente
à modelagem numérica solicitada, mesmo porque não há centros laboratoriais que atendam a
essa demanda atualmente no país. Acrescentou que o método numérico está em fase de
homologação pelo Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR) do DNIT e que a nota técnica da
CGDESP se refere à orientação particular para comparativo facultativo no aspecto qualitativo
para aceitação de projetos no âmbito da contratação integrada
37. Afirmou também que:
‘É público o programa de concessões do governo federal, com previsão de concessão da
rodovia em tela para o primeiro semestre de 2020 (..). Dado lapso temporal e condições
climáticas, todos os envolvidos têm somados esforços para concluir a primeira camada de
asfalto, até assunção do trecho, propiciando aos cidadãos usuários essa importante obra
rodoviária pavimentada (...). Portanto a execução da segunda camada asfáltica, ou
soluções alternativas; serão encargos da garantia de performance da concessão.’ (...)
(Evidência 05, p. 1). (grifos nossos)
38. Dado que o pavimento em execução não passou pelo crivo da análise mecanística e,
portanto, poderia apresentar as degradações precoces decorrentes de um lapso temporal entre as
execuções da primeira e da segunda camada de CBUQ, foi elaborado o Ofício de Requisição 06-
140/2019 em que se questionou (Evidência 06):
a) as razões pelas quais optou-se, durante esta etapa da obra, por executar apenas a camada
de CBUQ, faixa ‘B’, do pavimento em análise?
b) quais as consequências para longevidade do pavimento decorrentes da liberação para o
tráfego com a pista executada somente com a camada da faixa ‘B’?
c) em que momento se pretende executar o CBUQ, faixa ‘C’ deste trecho?
39. Para a primeira pergunta, o DNIT afirmou que a conclusão da camada de ligação,
CBUQ faixa ‘B’, é importante sobre dois aspectos (Evidência 03, p. 1):
‘Evitar pontos críticos em trechos terrosos aproveitando a janela climática da região
amazônica na qual os serviços de terraplenagem e camadas da base e sub-base da
pavimentação precisam ser executados no período de estiagem.’
40. Quanto à segunda questão, em resumo, afirma que se o cronograma for mantido, com a
execução das duas camadas de revestimento asfáltico, o parâmetro de referência para
longevidade da pavimentação continuará sendo o ‘N’ de projeto.
VOTO
13. Essa constatação gerou incerteza acerca da qualidade do pavimento que seria
disponibilizado ao tráfego, uma vez que poderia apresentar degradações precoces decorrentes do hiato
existente entre as execuções da primeira e da segunda camadas de CBUQ, notadamente porquanto as
obras da BR-163/PA têm histórico comum de adotar metodologia de pavimento em duas etapas, com
intervalo de dois anos entre elas, fato que dá causa a problemas na rodovia, conforme já apontado por
esta Corte, mediante o Acórdão 3.290/2014 – Plenário (rel. min. Walton Alencar Rodrigues).
14. Diante desse contexto, a equipe direcionou alguns questionamentos à Superintendência
Regional do DNIT em Belém (Ofício de Requisição 06-140/2019, peça 8) e obteve as informações
(peça 12) que podem ser assim resumidas:
14.1. quais as razões para optar, durante esta etapa da obra, por executar apenas a camada
de CBUQ, faixa B, do pavimento em análise? – resposta: a conclusão da camada de ligação, CBUQ
faixa B, é importante para “evitar pontos críticos em trechos terrosos aproveitando a janela climática
da região amazônica na qual os serviços de terraplenagem e camadas da base e sub-base da
pavimentação precisam ser executados no período de estiagem”;
14.2. quais as consequências para longevidade do pavimento decorrentes da liberação para
o tráfego com a pista executada somente com a camada da faixa B? – resposta: se o cronograma for
mantido, com a execução das duas camadas de revestimento asfáltico, o parâmetro de referência para
longevidade da pavimentação continuará sendo o mesmo indicado no projeto;
14.3. qual momento se pretende executar o CBUQ, faixa C do trecho de referência?. –
resposta: “logo após a conclusão da camada de CBUQ faixa B, de acordo com a previsão do
cronograma físico proposto pelo Exército Brasileiro.”
15. Como bem alertou a unidade técnica, o DNIT produziu a Nota Técnica por meio da
comissão instituída pela Portaria 329/2017, apontado que a causa principal da degradação precoce do
pavimento da Rodovia 163/PA (subitem 12.2.1.1.1 da Nota) é a “inadequabilidade do projeto ao adotar
metodologia de execução de pavimento em duas etapas, com intervalo de 2 anos entre elas, utilizando
o método empírico, uma vez que, ao ser submetido ao método mecanístico, este comprova que a
espessura do pavimento adotada para a primeira etapa entraria em colapso antes dos dois anos
previstos.”
16. A exposição, por longo tempo, da faixa B, tanto às intempéries quanto ao tráfego pesado
de caminhões carregados, fatos comuns no trecho em exame, pode comprometer a durabilidade do
pavimento, uma vez que essa camada (de 6,5 cm) possui 52% da espessura total projetada para o
pavimento, que é de 12,5 cm após a aplicação da camada final de 6,0cm de CBUQ, além de possuir
granulometria mais aberta, e por isso estaria mais vulnerável à penetração de água ou líquidos
corrosivos.
17. Percebe-se que a camada B, por si só, não tem capacidade estrutural compatível com o
tráfego habitual região, conforme se depreende do dimensionamento de projeto.
18. Apesar dessa conclusão, creio que a resposta trazida ao autos pela Superintendência
Regional do DNIT em Belém, de que pretende empreender o CBUQ, faixa C, assim que findar a
camada de CBUQ faixa B (v. subitem 14.3. acima), atenua a falha encontrada pela equipe de campo.
19. Diante desse contexto, na linha do que sugeriu a SeinfraRod, dever ser dada ciência ao
DNIT e ao 8º BEC de que deixar de executar a segunda camada da capa asfáltica (faixa C) logo após a
execução da primeira camada (faixa B) compromete a vida útil do pavimento, bem como contraria o
projeto executivo da obra e o disposto no art. 66 da Lei 8.666/1993, que consagra a obrigatoriedade
geral de as partes cumprirem com o que fora acordado (pacta sunt servanda), impondo-lhes
responsabilidade pelas consequências da execução parcial do empreendimento.
20. O outro achado decorre da análise ao edital da Concorrência 1/2018. Rememora-se que o
certame foi despoletado pelo 8º BEC, e resultou na contratação da empresa JM Terraplenagem e
Construções Ltda. para executar os serviços previstos no segmento 4 da obra, compreendendo um
trecho de 28,8 km, pelo valor de R$ 72.041.081,60. No caso, constatou-se impropriedade no quesito
qualificação técnico-profissional (condição 7.3.3.2, alínea b, do instrumento convocatório, peça 19, p.
41), uma vez que previa a exigência de quantidades mínimas de alguns itens de serviços, em desacordo
com o inciso I do § 1º do art. 30 da Lei 8.666/1993.
21. A aludida qualificação, como indica o nomen juris, refere-se ao profissional detentor do
correspondente atestado que atua na empresa, verbis:
“Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:
(...)
II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em
características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações
e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do
objeto da licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica
que se responsabilizará pelos trabalhos;
(...)
§ 1º A comprovação de aptidão referida no inciso II do caput deste artigo, no caso das
licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por pessoas
jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais
competentes, limitadas as exigências a:
I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu quadro
permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de nível superior ou
outro devidamente reconhecido pela entidade competente, detentor de atestado de
responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes,
limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do
objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos
máximos.”
22. Além de contar com previsão expressa na lei de referência, o magistério jurisprudencial
desta Casa de Contas tem entendido que a imposição de quantidades mínimas, no quesito de
capacitação técnico-profissional, divorcia-se do disposto no art. 30, §1º, inciso I, da Lei 8.666/1993,
consoante se depreende dos excertos de julgados colhidos da ferramenta de pesquisa do Tribunal
(“jurisprudência selecionada”) que bem ressaltam essa interpretação:
“É ilegal a exigência de comprovação de capacitação técnico-profissional e técnico-
operacional relativamente à execução de serviços de pequena representatividade no
cômputo do valor global do objeto licitado.” (Acórdão 2.303/2015 – Plenário, rel. min.
José Mucio).
“A exigência de quantitativo mínimo, para fins de comprovação da capacidade técnico-
profissional, contraria o estabelecido no art. 30, § 1º, inciso I, da Lei 8.666/1993.”
(Acórdão 165/2012 – Plenário, rel. min. Aroldo Cedraz).
23. Nada obstante essa situação fático-jurídica constatada no edital da Concorrência 1/2018
conduzida pelo 8º BEC, a SeinfraRod registrou algumas circunstâncias que minoram a gravidade da
falha: “os quantitativos exigidos no edital são de serviços comuns na engenharia rodoviária, que
representam entre 30 e 50% do quantitativo previsto para um trecho de 28,8km (Evidência 10, p. 7-8),
o que permite inferir que boa parte dos profissionais que atuam no setor possuem atestados de
responsabilidade técnica por execução de obra com quantitativos equivalentes ou superiores ao exigido
na concorrência realizada pelo 8º BEC. Ademais, não há registro de recursos de licitantes contra esse
item do edital.”
24. A essa atenuante acrescento que, no caso concreto, pode-se compreender que não houve
limitação ao caráter competitivo do certame, haja vista que quatro empresas acorreram ao torneio
licitatório. De mais a mais, na análise de preço do Contrato 20/18 (decorrente do edital precitado)
efetuada pela equipe da unidade técnica (peça 20), consta que os valores dos itens de serviços
contratados ficaram abaixo do preço total de referência adotado pelo Tribunal.
25. Em consequência, entendo suficiente dar ciência ao 8º BEC de que exigir quantitativo
mínimo de serviço relativo à qualificação técnico-profissional em processos licitatórios regidos pela
Lei 8.666/1993 vai de encontro ao disposto no inciso I do §1º do art. 30 dessa lei.
Pelo exposto, voto por que seja adotada a Deliberação que ora submeto a este Colegiado.
1. Processo TC-013.578/2019-7.
2. Grupo: I; Classe de Assunto: V – Relatório de Auditoria.
3. Interessado: Tribunal de Contas da União.
4. Entidade/Órgão: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes – DNIT; e 8º Batalhão de
Engenharia de Construção – 8º BEC, do Comando do Exército.
5. Relator: Ministro-Substituto Marcos Bemquerer Costa.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil –
SeinfraRod.
8. Representação legal: não há.
9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos do Relatório da Auditoria de conformidade
realizada pela Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Rodoviária e de Aviação Civil – SeinfraRod,
no período de 5/6 a 30/8/2019, com objetivo de avaliar o Termo de Execução Descentralizada de
Crédito (TED) 308/2017, firmado entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e o
8º Batalhão de Engenharia de Construção, para a execução das obras e serviços remanescentes da
implantação e pavimentação da BR-163/PA, no segmento do km 354,9 ao km 419,9, com extensão
total de 65 km.
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão do
Plenário, ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. nos termos do art. 7º da Resolução TCU 265/2014, dar ciência:
9.1.1. ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e ao 8º Batalhão de
Engenharia de Construção de que deixar de executar a segunda camada da capa asfáltica (faixa C) logo
após a execução do binder (primeira camada – faixa B) compromete a vida útil do pavimento, bem
como contraria as especificações previstas no projeto executivo e o comando do art. 66 da Lei
8.666/1993, que impõe responsabilidade às partes pelas consequências da não execução parcial da
obra;
9.1.2. ao 8º Batalhão de Engenharia de Construção de que exigir quantitativo mínimo de
serviço relativo à qualificação técnico-profissional em processos licitatórios regidos pela Lei
8.666/1993 vai de encontro ao disposto no inciso I do §1º do art. 30 dessa lei;
9.2. arquivar este processo, com fundamento no art. 169, inciso V, do Regimento Interno
do Tribunal.
Fui presente:
(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral