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ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.9681-89824-1-ED.

1004sup201616

Gomes ATL, Silva MF, Morais SHM de et al. Erro humano e cultura de segurança à luz da...

ARTIGO ANÁLISE REFLEXIVA


ERRO HUMANO E CULTURA DE SEGURANÇA À LUZ DA TEORIA “QUEIJO
SUÍÇO”: ANÁLISE REFLEXIVA
HUMAN ERROR AND SAFETY CULTURE IN APPROACH OF THE "SWISS CHEESE'S" THEORY: A
REFLECTIVE ANALYSIS
ERROR HUMANO Y LA CULTURA DE LA SEGURIDAD A LA LUZ DE LA TEORÍA "QUESO SUIZO": UN
ANÁLISIS REFLEXIVO
Andréa Tayse de Lima Gomes1, Micheline da Fonseca Silva2, Soraya Helena Medeiros de Morais3, Flávia
Barreto Tavares Chiavone4, Soraya Maria de Medeiros5, Viviane Euzébia Pereira Santos6
RESUMO
Objetivo: apresentar um ensaio teórico à luz da Teoria “Queijo suíço”. Método: estudo descritivo, tipo
ensaio teórico reflexivo, elaborado à luz da Teoria do “Queijo suíço”, proposta por James Reason.
Resultados: 1) A Teoria do “Queijo suíço” demonstra o quanto o rompimento das defesas por uma trajetória
de falhas pode conduzir ao erro; 2) A segurança do paciente à luz da Teoria do “Queijo suíço”: a atuação
sobre as condições que o ser humano trabalha produz defesas no sistema, diminuindo os erros; e, 3) A
emergência de um novo paradigma: cultura de segurança, cultura de notificação, justiça e imparcialidade,
flexibilidade e aprendizagem compõem a cultura de segurança. Conclusão: o sistema de saúde encontra-se
em crise paradigmática no que concerne a segurança do paciente, portanto, é relevante a transição do
paradigma punitivo para outro voltado à educação dos profissionais. Descritores: Segurança do Paciente;
Sistemas de Saúde; Cultura; Pessoal de Saúde.
ABSTRACT
Objective: to present a theoretical essay about the "Swiss cheese's" Theory. Method: a descriptive study,
reflective theoretical essay type, drawn from the Theory of "Swiss cheese", proposed by James Reason.
Results: 1) The theory of the "Swiss cheese" shows how the disruption of the defenses by a history of failure
can lead to error; 2) Patient safety in light of the Theory of "Swiss cheese": the work on the conditions that
the human being works produces defenses in the system, reducing errors; and, 3) The emergence of a new
paradigm: security culture, notification culture, justice and fairness, flexibility and learning make the culture
of safety. Conclusion: the health system is in paradigmatic crisis with respect to patient safety. So, it is
important to transition from punitive paradigm to another aimed at education professionals. Descriptors:
Patient Safety; Health Systems; Culture; Health Personnel.
RESUMEN
Objetivo: presentar un ensayo teórico acerca de la teoría "Queso suizo". Método: este es un estudio
descriptivo y reflexivo, del tipo de ensayo teórico, elaborado a la Teoría del "Queso suizo", propuesto por
James Reason. Resultados: 1) La teoría del "queso suizo" muestra cómo la alteración de las defensas por una
historia de fracaso puede conducir a error; 2) La seguridad del paciente a la luz de la teoría del "Queso suizo"
- el trabajo en las condiciones que el ser humano funciona produce defensas en el sistema, reduciendo los
errores; y, 3) La emergencia de un nuevo paradigma: la cultura de seguridad, la cultura de notificación, la
justicia y la equidad, la flexibilidad y el aprendizaje constituyen la cultura de seguridad. Conclusión: el
sistema de salud está en crisis paradigmática con respecto a la seguridad de los pacientes, por lo que es
importante para la transición de paradigma punitivo a otro dirigido a profesionales de la educación.
Descriptores: Seguridad del Paciente; Sistemas de Salud; Cultura; Personal de Salud.
1
Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/PGENF, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal
(RN), Brasil. E-mail: andrea.tlgomes@gmail.com; 2Enfermeira, Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/PGENF,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: michelinefonseca@yahoo.com.br; 3Discente, Graduação
em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. Natal, Rio Grande do Norte (RN), Brasil. E-mail:
soraya.rn@hotmail.com; 4Discente, Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil.
E-mail: flavia_tavares@hotmail.com; 5Enfermeira, Professora Doutora, Graduação e Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem/PPGENF, Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: sorayamaria_ufrn@hotmail.com;
Enfermeira, Professora Doutora, Graduação e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem/PPGENF, Universidade Federal do Rio Grande
do Norte/UFRN. Natal (RN), Brasil. E-mail: vivianeepsantos@gmail.com

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Reconhecendo a magnitude do problema, a


INTRODUÇÃO
Organização Mundial de Saúde estabeleceu em
A problemática do erro humano e da 2004 a Aliança Mundial para a Segurança do
Segurança do Paciente (SP) no sistema de Paciente (World Alliance for Patient Safety), a
saúde vem sendo tema de vários estudos, qual é voltada para a elaboração de
dentre eles, destaca-se a divulgação do programas e diretrizes que visam sensibilizar e
relatório intitulado To err is human: building a mobilizar profissionais de saúde e a população
safer healthcare system, publicado para a busca de soluções que auxiliemna
pelo Institute of Medicine (IOM), considerado efetividade da SP, a partir da divulgação de
marco para a SP no panorama mundial.1-2 conhecimentos e desenvolvimento de
A publicação do IOM evidenciou que o ferramentas que possibilitem a mudança da
número de mortes decorrentes de erros realidade no cenário mundial.10-2
durante a assistência à saúde é maior que as Em resposta a essa crescente mobilização
relacionadas aos acidentes de automóvel, associada à SP, emerge um novo paradigma
câncer de mama e Síndrome da denominado modelo de Cultura de Segurança,
Imunodeficiência Adquirida combinados. o qual foi idealizado pela United Kingdom
Enfatiza-se que, nos Estados Unidos, cerca de National Health Service, Joint Commission for
98.000 pessoas morrem por ano em the Accreditation of Healthcare Organizations,
decorrência de falhas na assistência à saúde.3 Agency for Healthcare Researchand Quality e
Dados divulgados pelo Sistema de United States National Quality Forum.8
Informação Hospitalar do Sistema Único de As ideias propostas por estas organizações
Saúde (SIH/SUS), em 2011 apontam que versavam sobre a adesão da cultura de
ocorreram 11.117.837 internações no Brasil, segurança pelos serviços de saúde, a fim de
com uma estimativa de 844.875 (7,6%) EA. substituir “a culpa e a vergonha” por um
Destes, estima-se que 563.575 (66,7%) foram “repensar os processos assistenciais”, com o
eventos evitáveis, os quais contribuíram para desígnio de antecipar a ocorrência dos erros
o óbito de quase 40% dos casos.4 antes que causem danos.13
Atrelado a essa realidade, as temáticas Os inúmeros EA e erros evitáveis ocorridos
relacionadas aos Eventos Adversos (EA) e as nos serviços de saúde são veementemente
iatrogenias configuram-se em um grave capazes de gerar incapacidades físicas
problema de saúde pública e, envolvem todo o irreparáveis e óbitos e este fato demonstra a
cenário mundial, uma vez que o risco e a importância da discussão teórica desta
ocorrência destes acidentes têm aumentado problemática. Além disso, a contribuição para
substancialmente nos ambientes da saúde.5 a ocorrência de tais eventos pode estar
Os EA são responsáveis por causar danos relacionado à estrutura inadequada das
permanentes e/ou mortes e podem ocorrer instituições de saúde, deficiência de recursos
por falhas no processo assistencial, na humanos e materiais, comunicação não
organização dos serviços (estrutura), na falta efetiva entre os profissionais, sobrecarga de
de liderança e/ou de atitudes que modifiquem trabalho, bem como habilidades e
as realidades existentes nas instituições de conhecimentos insuficientes por quem presta
saúde.6-7 o atendimento, ou seja, relacionada ao erro
humano.4,11
Diante desse cenário, é perceptível que,
embora o cuidado em saúde traga amplos OBJETIVO
benefícios a todos os envolvidos, a ocorrência
de erros é possível, e os pacientes podem ● Apresentar um ensaio teórico à luz da
sofrer graves consequências, inclusive evoluir Teoria do “Queijo suíço”.
ao óbito. À vista disto, pesquisadores, MÉTODO
gestores e profissionais passaram a demandar
maior preocupação no que diz respeito a SP, e Estudo descritivo, tipo ensaio teórico
este assunto tornou-se prioritário na área da reflexivo, conduzido em três tópicos, a saber:
saúde.8 1) a Teoria do “Queijo suíço”; 2) a segurança
Assim, a SP pode ser definida do paciente à luz da Teoria do “Queijo suíço”
sucintamente, como a redução a um mínimo e, por fim, 3) a emergência de um novo
aceitável, do risco de dano desnecessário paradigma: cultura de segurança.
associado ao cuidado em saúde. E, este dano
RESULTADOS E DISCUSSÃO
diz respeito ao comprometimento de
estrutura(s) ou função(ões) do organismo  A Teoria do “Queijo suíço”
humano, seja físico, social ou psicológico.9
James Reason, professor de psicologia da
Universidade de Manchester, Reino Unido,
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propôs um modelo que se conforma em um parte dos pacientes; as falhas ativas


paradigma voltado para a análise de eventos consistem em atos inseguros ou omissões
envolvendo a SP. Este modelo, que também é cometidas pelos profissionais de saúde, cujas
conhecido como a Teoria do “Queijo suíço”, consequências geram efeitos adversos
compara as vulnerabilidades do sistema de imediatos para o paciente. Estas falhas podem
saúde aos buracos de um queijo suíço. A assumir diferentes formas, como deslizes,
representação deste demonstra o quanto o lapsos, perdas, erros e violações de
rompimento das defesas por uma trajetória de procedimentos; e, as falhas latentes dizem
falhas pode levar a ocorrência de um erro.11-4 respeito a problemas já existentes no sistema,
Ressalta-se que para a ocorrência do erro decorrentes de decisões ou medidas adotadas
faz-se necessário o alinhamento de diversos antes do acidente e, relacionam-se à
orifícios (Figura 1). E, cada “queijo suíço” estrutura e o processo nos serviços de saúde,
representa uma etapa desse sistema complexo os quais permanecem ocultos, até que um
denominadas em: fonte do problema, falhas evento ou acidente ocorra e os exponham.11,15-
6
ativas e falhas latentes.11,15-6
A fonte do problema pode ser Destaca-se que as falhas ativas não podem
frequentemente desencadeada por múltiplos ser facilmente previstas, entretanto, as
fatores, como: falhas estruturais ou pontuais, latentes podem ser identificadas e corrigidas
prática inadequada ou descuido dos antes que um EA ocorra. Esta compreensão
profissionais de saúde, comportamentos possibilita que o gerenciamento do cuidado
inseguros ou comportamento de risco por seja proativo ao invés de reativo.17

Fonte: Google imagens18


Figura 1. Modelo do “queijo suíço”. Natal/RN, Brasil, 2016.

Conforme demonstra a Figura 1, ao ocorrer O erro humano tem enfoque no indivíduo e


o alinhamento dos orifícios dos “queijos fundamenta-se na concepção de que o ser
suíços”, o EA acomete o paciente e, a SP é humano é falível e, portanto, sujeito a falhas
imediatamente afetada.11 Diante disto, em suas atribuições cotidianas. Destarte,
denota-se que as falhas na SP têm um caráter embora não seja possível modificar a condição
multifatorial e não depende apenas dos humana, é viável atuar naquelas sobre as
profissionais, mas também dos pacientes e, quais os seres humanos trabalham, com vistas
principalmente, dos serviços de saúde no que a produzir defesas no sistema. Com isto, o
diz respeito à estrutura e aos processos erro pode ser discutido sob duas perspectivas-
disponíveis. abordagem pessoal e sistêmica.17,19
 A segurança do paciente à luz da A abordagem pessoal, que corresponde as
Teoria do “Queijo suíço” falhas ativas, caracteriza-se por enfatizar os
erros nos indivíduos envolvidos diretamente
O conceito atual de SP associado à Teoria
na assistência, depreendendo que estes erros
do “Queijo suíço” aponta como principais
fatores (fonte dos problemas) responsáveis são originados de processos mentais, como:
esquecimento, desatenção, desmotivação,
pela ocorrência de EA, as deficiências do
descuido, negligência, imprudência e fadiga.
sistema de prestação de cuidados de saúde, a
Além destes, inclui-se os fatores ambientais,
organização e o funcionamento, ao invés de
psicológicos e fisiológicos como coadjuvantes
responsabilizar os profissionais ou produtos
isoladamente.11,17 para a ocorrência de erros,17,20-1 de acordo
com o exposto na Figura 2.
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FONTE: Adaptado20-2
Figura 2. Fatores que contribuem para a ocorrência de erros. Natal/RN, Brasil,
2016.
Em referência a abordagem sistêmica, que inicia desde a disposição dos materiais a
condiz com as falhas latentes, uma das serem utilizados à capacitação profissional.22
propostas contemporâneas de enfrentamento Ainda que o profissional seja a última
ao erro é a dos estudiosos,15-6,23 em que as barreira no seguimento do cuidar em saúde,
medidas de prevenção ao erro são baseadas ou seja, este atua após o alinhamento de
em modificações nas condições de trabalho todos os outros mecanismos do sistema, esse
oferecidas pelos serviços de saúde. Este ponto deve manter a atenção, a fim de colaborar
de vista sistêmico considera os erros como para a efetividade da SP. Assim, é inegável
consequências ao invés de causas, bem como que os erros não eximem o profissional da
não estão associadas às falhas humanas.17 responsabilidade, todavia, o sistema deve
A ideia da concepção sistêmica é dispor de medidas de proteção para que a SP
proporcionar a defesa através da criação de seja preservada.22
um sistema de barreiras e retaguardas, que Diante da proposição que errar é humano,
atuem nas múltiplas etapas do cuidado, a fim insta que a organização do sistema de saúde
de evitar erros. E, quando estes vierem a seja efetiva, com o propósito de contribuir
ocorrer, interessa saber “como” e “por que” para que os orifícios do queijo suíço não se
as defesas falharam, não importando quem as alinhem, tendo em vista a prestação de um
tenha cometido,17 vislumbrando a substituição cuidado seguro e livre de erros. A partir da
da “vergonha e punição” pela cultura de compreensão de que é possível a ocorrência
segurança. destes eventos, as instituições devem buscar a
Então, compreende-se que a complexidade adesão de uma nova cultura de SP e
das organizações de saúde e o encadeamento profissional, gestão da qualidade,
de fatores sistêmicos contribuem gerenciamento de riscos e aprendizagem a
consideravelmente para a ocorrência dos EA. partir dos erros cometidos, para que o
Tais fatores incluem: as estratégias adotadas sentimento de culpa se transforme em ações
por uma instituição, a cultura, as práticas de que preservem a vida do paciente.22
trabalho, a gestão da qualidade, a prospecção  A emergência de um novo paradigma:
de riscos e a capacidade de aprendizagem a cultura de segurança
partir dos erros.11-2,17
Os erros relacionados à assistência à saúde
Diante do exposto, reforça-se que a SP não
são culturalmente abordados de maneira
depende exclusivamente dos profissionais, um punitiva, acusando o profissional responsável
dos fatores que garantirá a boa qualidade da pelo cuidado direto ao paciente. A maioria dos
assistência é o processo administrativo do
erros são cometidos por profissionais
trabalho, isto é, a rotina do cuidar, que se comprometidos e bem treinados, sendo
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improvável que punições evitem a ocorrência baseados em seus valores e em suas atitudes,
de novos erros. Deste modo, evitar a os quais determinam o comprometimento e o
exposição dos pacientes a situações de risco estilo de uma organização. Diante disto,
depende da criação de estratégias que instituições que apresentam uma cultura de
antecipem, previnam e bloqueiem os erros segurança positiva são caracterizadas por
antes de causarem danos.24 comunicações baseadas em confiança mútua,
Destarte, é notória a necessidade da compartilhamento da percepção sobre a
substituição do paradigma punitivo por uma importância da segurança e convicção quanto
cultura voltada para a educação, promoção e à eficácia das medidas preventivas
16,26
avaliação da assistência à saúde. Daí, a adotadas.
importância da adoção da cultura de Neste sentido, a cultura de segurança é
segurança pelos serviços de saúde, a qual composta por quatro principais pilares:
consiste em um paradigma emergente.1,8,11,25 cultura de notificação, justiça e
A cultura de segurança é definida como o imparcialidade, flexibilidade e
produto de valores individuais e da aprendizagem,16 as quais atuam como
coletividade, atitudes, competências e barreiras contra a ocorrência dos EA em
padrões de comportamento, que podem ser saúde, conforme demonstrado na Figura 3.

FONTE: Adaptado15-6,18
Figura 3. Elementos da cultura de segurança associados ao modelo do queijo suíço.
Natal/RN, Brasil, 2016.

Diante deste cenário, a cultura de fisiológicos; bem como das condições de


segurança deve ser construída e alicerçada trabalho oferecidas pelas instituições de
nos elementos da relação interpessoal, a saúde.
saber: confiança, comunicação e cooperação. Assim, denota-se que o sistema de saúde
Visto que, os indivíduos tornam-se mais encontra-se em um momento de crise
solícitos para fornecer informações diante de paradigmática no que diz respeito a SP. É
um clima de credibilidade e colaboração no nitidamente visível a importância da transição
ambiente. Por outro lado, um sistema de do paradigma punitivo para outro que seja
informações deficiente compromete voltado à educação dos profissionais. Daí urge
substancialmente a cultura de segurança, a veemente necessidade de adoção da cultura
porquanto, inviabiliza o aprendizado a partir de segurança pelos serviços de saúde.
das falhas.16 Ressalta-se que esta nova abordagem
CONSIDERAÇÕES FINAIS cultural proporcionará às instituições de saúde
um ambiente mais seguro, visando: a
A Teoria do “Queijo suíço” evidencia que comunicação efetiva entre os profissionais; a
os EA em saúde atrelados aos erros humanos proatividade frente aos EA que possam vir a
constituem-se em problemáticas advindas, acontecer, propiciando, assim a
principalmente, da estrutura e do processo exequibilidade de uma cultura voltada para a
inerentes aos próprios serviços de saúde, diminuição dos acidentes atrelados aos erros
sendo representados pelos orifícios do queijo humanos; e, a notificação de EA, incentivada
suíço, os quais constituem fragilidades do por uma cultura não punitiva, mas que
sistema. Neste contexto, os erros também contribui para a aprendizagem baseada nos
podem ser provenientes de processos mentais; próprios erros.
fatores ambientais, psicológicos e/ou
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Submissão: 08/07/2015
Aceito: 12/02/2016
Publicado: 15/09/2016
Correspondência
Andréa Tayse de Lima Gomes
Rua Severino Soares, 76 – Dix-Sept Rosado
CEP 59052-450 ― Natal (RN), Brasil
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 10(Supl. 4):3646-52, set., 2016 3652

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