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Matemática e Leitura

Um pouco da gramática relativa ao Tratamento da Informação


Maria Ignez Diniz - Coordenadora do Mathema
O Tratamento da Informação é uma das áreas do conhecimento matemático que tem sido
valorizada nas atuais propostas curriculares de diferentes países, inclusive o Brasil. Isso
porque saber ler e interpretar diferentes textos em diferentes linguagens, saber analisar e
interpretar informações, fatos e idéias, ser capaz de coletar e organizar informações, além de
estabelecer relações, formular perguntas e poder buscar, selecionar e mobilizar informações,
são habilidades básicas para o exercício da cidadania tanto quanto para a vida escolar.

Devido a isso, muitos textos didáticos têm dado alguma abordagem a tabelas e gráficos e ao
cálculo de freqüências e médias. Mas, será que nossos alunos conhecem as regras que
permitem a escolha adequada do tipo de gráfico para cada levantamento de informações? Será
que eles conhecem as regras que estruturam os textos gráficos e as tabelas? Será que eles
conhecem a gramática desta linguagem?

Os objetivos essenciais deste conteúdo são a leitura e a interpretação de gráficos e tabelas


como textos de divulgação de informação presentes na mídia e em quase todos os textos
informativos. A construção de gráficos é uma estratégia muito interessante para permitir que os
alunos se apropriem destes textos, pois eles vivenciam todo o processo de levantamento de
informações e têm que escolher a melhor forma para comunicar suas conclusões. Além disso,
mesmo quando os alunos utilizam o computador para a construção de seus gráficos é
importante que eles saibam escolher adequadamente o tipo de gráfico e as informações que
devem aparecer nele para que possa comunicar o que deseja.

Vamos nos deter em conhecer melhor os elementos dos textos tabelas e gráficos, e as regras
que devem ser analisadas quando da produção e leitura destes textos.

Tabelas A produção de tabelas deve seguir algumas regras sobre os elementos que compõem este tipo
de texto.

Título - indica o assunto tratado ou pode ser apenas ter a função de chamar a atenção do leitor.
Subtítulo ou texto explicativo - explicita o tema da tabela e contextualiza a situação.
Cabeçalho e colunas indicadoras - correspondem aos títulos dos conteúdos das colunas e
linhas, respectivamente.

Corpo - os dados da tabela.

Fonte - que possui a mesma função que nos gráficos e que usualmente aparece no rodapé da
tabela.
São muitas as oportunidades para a produção de tabelas em sala de aula assim como é
comum aparecerem tabelas nos textos didáticos de quase todas as disciplinas. No entanto é
preciso avançar além das propostas dos textos didáticos onde aparecem tabelas de dupla
Produção e entrada com apenas duas variáveis.
Leitura de
tabelas
Na mídia as tabelas assumem formas mais complexas e sua leitura muda em função da
informação que buscamos. Vejamos no exemplo:

A inclusão digital no Brasil Dependendo da informação procurada é preciso


uma leitura diferente da tabela:

Em qual faixa etária as pessoas possuem mais


computadores no Brasil? Esta informação deve ser
procurada na segunda coluna, comparando-se os
valores, a resposta é encontrada na primeira coluna:
pessoas entre 45 e 50 anos.Se nos perguntarmos,
jovens ou idosos têm maior acesso à internet?
Como a pergunta é vaga precisamos tomar algumas
decisões para tentar responde-la. Podemos
considerar jovens as pessoas com menos de 20
anos e idosos aquelas acima de 60 anos. Neste
caso, a leitura da tabela deve ser feita na primeira
coluna selecionando-se as linhas que interessam,
depois os dados são colhidos na terceira coluna,
adicionados e comparados. Temos então que:
São elementos de um gráfico:

Título - em geral na forma de frase curta e chamativa, para despertar o interesse do leitor.

Subtítulo ou texto explicativo - essencial para a compreensão do gráfico. Nele encontramos o


assunto de que trata o gráfico, aonde e quando foi feita a pesquisa e muitas vezes as unidades
escolhidas para uma ou para as duas variáveis envolvidas.

Fonte - identificação do órgão ou instituição que fez a pesquisa de dados. A fonte valida a
pesquisa e permite que o leitor possa confiar nas informações descritas pelo gráfico.

Gráficos

Onde é representada a variável independente que pode ser do tipo qualitativa ou quantitativa.
Este eixo pode ser visível ou não, no entanto quando tratamos com variável quantitativa ela
Eixo deve ser organizada neste eixo em ordem crescente de valores, enquanto no caso de variáveis
Horizontal qualitativas elas podem ser dispostas no eixo em qualquer ordem.

Dados
qualitativos:
a ordem não
importa

Gráfico retirado da revista Aprender de maio/junho de 2003

Dados
quantitativos:
ordem
crescente
dos dados
com
espaçamento
proporcional
entre eles Gráfico retirado da revista Veja de 2/7/2003
Com dados numéricos, o espaçamento entre eles, ou a escala de construcao do gráfico, deve
ser constante de modo que o leitor tenha a exata dimensão da distância entre as tomadas de
informações. Caso contrário podemos ter uma distorção da informação. Um exemplo disso
pode ser visto nos seguintes gráficos que retratam o mesmo conjunto de dados, mas que
podem ou não dar a impressão de maior ou menor crescimento do número total de linhas
telefônicas no mesmo período de tempo.

Gráficos retirados de prova do ENEN

No caso de dados com muita dispersão de valores, como é o caso, por exemplo, de tendência
das alturas ou pesos de alunos de uma sala de aula, quando encontramos muitos valores e
poucos alunos para cada valor, os dados devem ser agrupados em intervalos de modo que o
gráfico possa ser lido facilmente e comunique rapidamente o que se deseja. Por exemplo, se
em uma classe encontramos os seguintes dados para as alturas de 26 alunos, descritos na
tabela pelos seus números e com suas alturas em metros:

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
1,60 1,61 1,75 1,67 1,81 1,62 1,79 1,66 1,72 1,70 1,57 1,73 1,74

14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26
1,68 1,70 1,75 1,67 1,69 1,88 1,66 1,68 1,69 1,74 1,75 1,82 1,56
Alturas no intervalo (em
Total de alunos com essa altura
m)
1,55 a 1,59 2
1,60 a 1,64 3
1,65 a 1,69 8
1,70 a 1,74 6
1,75 a 1,79 4
Acima ou igual a 1,80 3
Cujo gráfico de barras seria:

Gráfico com
dados
agrupados:

comunicação
adequada
da informação

Este eixo também pode estar ou não explicitamente desenhado, mas a unidade utilizada deve
ser cuidada dependendo do intervalo de sua variação. Um exemplo disso está na seqüência de
gráficos que seguem e que mostram a variação de diversos indicadores econômicos no mesmo
período de cinco dias. Observamos que em cada um deles a unidade do eixo vertical é
diferente em função do intervalo dos dados. Além disso, para facilitar a comunicação, a
numeração não se inicia de zero, mas se restringe ao intervalo de números em que varia o
indicador econômico.

Eixo Vertical

Gráficos extraídos da Folha de São Paulo de 14/09/2003

Cada tipo de gráficos tem uma função diferente, basicamente eles são de três tipos: em barras,
em linha ou segmentos ou em setores.
Tipos de
Gráficos Os gráficos em barras, em que os dados são representados por retângulos verticais (colunas)
ou horizontais (barras), são utilizados sempre que temos variáveis qualitativas, ou ainda para
representar dados numéricos colhidos de diversas populações.

Gráfico em
barras
horizontais:

Fonte: MEC
Gráfico retirado do jornal Folha de São Paulo de 14/05/2003
Gráfico retirado da revista Aprender março/abril de 2003

Uma variação do gráfico de barras é o gráfico em barras múltiplas que é empregado quando
desejamos comparar dados em duas ou mais populações.

Gráfico em
barras
verticais:

Gráfico retirado do jornal Folha de São Paulo de 14/9/2003

Muito usados nos meios de comunicação são os gráficos pictóricos, nos quais os retângulos
das colunas ou barras soa substituídos por desenhos relacionados ao tema do gráfico, como
pode ser vista a seguir:

Gráfico retirado da revista Super Interessante de fevereiro/2003

Neste último exemplo, a ilustração impediu que o gráfico respeitasse a proporcionalidade dos
dados. Isso pode ser visto, por exemplo, nas colunas que correspondem a 20,1 e a 10,6
bilhões de dólares que no desenho são praticamente da mesma altura.

O gráfico em linha ou de segmentos possui uma função bem definida, ele é utilizado para
representar a variação de uma única grandeza em relação ao tempo. Ou seja, a variável do
eixo horizontal é sempre tempo. Podemos assim acompanhar o crescimento ou decrescimento
da grandeza que estamos pesquisando ao longo do tempo seja ele medido em dias, anos,
décadas, horas, ...

Exemplos típicos são as pesquisas eleitorais sobre a intenção de votos aos candidatos, que
mostram claramente a evolução dessa tendência ao longo de um período de tempo. Outros
exemplos são comuns no acompanhamento da inflação, valor das moedas estrangeiras,
mortalidade infantil, taxa de desemprego, e muitas outras informações que são acompanhadas
ao longo do tempo, para que se possa verificar tendência de aumento ou diminuição, pontos
críticos de maior ou menor valor da grandeza em estudo.
Gráfico retirado da revista Aprender março/abril de 2003

Gráfico retirado do jornal Folha de São Paulo de 14/9/2003

O gráfico em setores é construído tendo como base um círculo e o ângulo central de cada setor
corresponde ao valor da variável. Este tipo de gráfico tem como objetivo mostrar o todo da
população investigada, na forma do círculo, e muitas vezes esconde os dados brutos
investigados fornecendo resultados em porcentagens.

Podemos observar que todo gráfico de barras simples pode ser representado também em
setores. Já os gráficos em linha, apesar de poderem ser descritos em barras simples, com o
cuidado de ordenar a variável tempo no eixo horizontal, nessa forma têm sua comunicação
visual prejudicada.

Por outro lado, não faz sentido transcrever gráficos em linha para setores.

Concluindo a habilidade de ler e interpretar tabelas e gráficos, exige o conhecimento de regras


que regem essas estruturas de textos, para que o aluno possa ultrapassar o senso comum e
analisar criticamente as informações à sua volta.

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