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www.fotografemelhor.com.br
n0 293 | Ano 25
Os retratos
ousados de
Betina Polaroid
As ruas de Curitiba
pelo olhar de
Daniel Castellano
TOGRAFE
GALERIA FO
de
Duas fotos TTO
O L E
MÁRCIA F 50 g em Paisagem
em pap el 2
x 26 cm
formato 20 NE! com tele
COLECIO
Segredos do
processo criativo
Inspire-se em quatro grandes fotógrafos
para conseguir escapar do lugar-comum
Grandes fotógrafos da edição: Adriano Gambarini Adriano Machado Betina Polaroid Cácio Murilo
Daniel Castellano Guy Veloso Lara Merlin Márcia Foletto Nicholas Nixon Príamo Melo Werther Santana
Fundador
Aydano Roriz
Diretores
Luiz Siqueira
carta ao leitor
F
Tânia Roriz
oram inúmeras as vezes que escutei que tal coisa era fruto de
determinado percentual de inspiração e outro tanto de transpiração.
Diretor Executivo: Luiz Siqueira Podia ser 10% contra 90% ou 20% diante de 80% ou no máximo
Diretor Editorial e Jornalista Responsável:
Roberto Araújo – MTb.10.766 – araujo@europanet.com.br 30% frente a 70%. Em termos médicos, inspirar (do latim inspirare)
nada mais é do que sorver o ar para dentro dos pulmões e depois liberá-lo,
Redação ou seja, expirar. Mas quem trabalha com o subjetivo, com a criação, com a
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br)
imaginação, com a invenção precisa ter inspiração, a outra, a que gera uma
Editora de arte e capa: Izabel Donaire
Editor convidado: Érico Elias sensação de prazer, de orgulho, de satisfação quando chega de repente ou
Colaboradora especial: Livia Capeli quando se faz presente em um ciclo de ideias e concepções.
Colaborou nesta edição: Príamo Melo
Revisão de texto: Denise Camargo Pintores, escritores, compositores, escultores, jornalistas, publicitários,
músicos, atores, cartunistas, poetas, artistas em geral e, claro, fotógrafos
Publicidade
publicidade@europanet.com.br precisam de inspiração. É o tal do processo criativo, da fagulha que incendeia
São Paulo a mente, do caminho que leva para além do horizonte, do fio que tece a teia
Equipe de Publicidade: Angela Taddeo, Elisangela Xavier, do saber. Mas inspiração não chega assim, de graça, do nada. A transpiração
Ligia Caetano, Renato Perón e Roberta Barricelli
pode ser vista aí não como um esforço físico que provoca suor, mas sim
Outras Regiões
Head de Publicidade Regional: Mauricio Dias (11) 98536-1555 como o exercício mental de criar repertório para inspirar-se: ler bons livros,
Brasília: New Business – (61) 3326-0205 ver exposições de arte, ir ao teatro, ver bons filmes, escutar boa música, ouvir
Santa Catarina: MC Representações – (48) 9983-2515 boas palestras, estudar a história da arte, buscar referências na fotografia, ver
Publicidade – EUA e Canadá: Global Media, +1 (650) 306-0880
e analisar boas imagens... enfim, se retroalimentar de outras inspirações para
assinaturas e Atendimento ao leitor
Gerente: Fabiana Lopes (fabiana@europanet.com.br) semear a própria inspiração, gerando um ciclo para o processo criativo, que
Coordenadora: Tamar Biffi (tamar@europanet.com.br)
Equipe: Josi Montanari, Camila Brogio e Bia Moreira
logo vira broto e dá flor (ou fruto).
Nesta edição, falamos sobre processo criativo com quatro fotógrafos
atendimento a Livrarias e bancas – (11) 3038-5100
Equipe: Paula Hanne (paula@europanet.com.br) de áreas diferentes e ainda apresentamos outros, em matérias distintas, que
Europa Digital (www.europanet.com.br) também abordam o tema. Entrevistamos quatro, mas poderiam ser 40, ou 400.
Gerente: Marco Clivati (marco.clivati@europanet.com.br)
Equipe: Anderson Ribeiro, Anderson Cleiton e Adriano Severo
Cada fotógrafo tem sua forma de criar, de tentar fugir do lugar-comum, de
escapar de clichês – e essa é uma missão nada fácil para qualquer profissional
Produção, eventos e marketing
Gerente: Aida Lima (aida@europanet.com.br) que trabalha com criação. É certo que muitos não se esforçam a contento,
Arte: Jeff Silva
Equipe: Beth Macedo (produção) e Laura Araújo (arte)
se apegam a receitas que dão certo e vivem em uma zona de conforto que
embala o ego e paga as contas no fim do mês. Porém, mesmo esses, lá no
DISTRIBUIÇÃO E Logística
Coordenação: Henrique Guerche
fundo, ainda sonham com um momento de inspiração.
(henrique.moreira@europanet.com.br) O que buscamos com a matéria é incentivar você a não se acomodar, a não
Equipe: Gabriel Silva e Henrique Kenji
se prender a padrões e sempre tentar ir um pouco mais além, ousar, mesmo
Administração
Gerente: Renata Kurosaki
que não dê certo na primeira vez. Faz parte do jogo o vaivém de tentativa e
Equipe: Paula Orlandini erro. Exercitar a imaginação não faz mal a ninguém e, no caso da fotografia,
Desenvolvimento de pessoal o mundo digital possibilita inúmeras formas de criar, recriar e criar de novo e
Tânia Roriz e Elisangela Harumi
deletar tudo e começar do zero. Inspire-se.
Rua Alvarenga, 1.416 – São Paulo/SP, CEP: 05509-003
Telefone: 0800-8888-508 (ligação gratuita) e
(11) 3038-5050 (cidade de São Paulo)
Pela Internet: www.europanet.com.br
E-mail: atendimento@europanet.com.br
A Revista Fotografe Melhor é uma publicação da Editora Europa Ltda.
(ISSN 1413-7232). A Editora Europa não se responsabiliza pelo
conteúdo dos anúncios de terceiros.
Distribuidor exclusivo para o Brasil
Total Publicações
Juan Esteves
branco@europanet.com.br
24
Edição 293
Werther Santana
Fevereiro/Março
2021
Foto de capa:
Cacio Murilo
52
Betina Polaroid
6 Grande Angular
Notícias e novidades
34
Príamo Melo
18 Portfólio Fotografe
Márcia Foletto, fotojornalismo na veia
20 Fotoclube no MoMA
Fotoclubismo brasileiro ganha mostra 44
24 Processo criativo
Fotógrafos indicam alguns caminhos
34 Betina Polaroid
Daniel Castellano
58
52 Paisagem com tele
Aprenda com as dicas de Príamo Melo
Macro com
O trabalho documental de
Nixon tem séries dedicadas
a famílias americanas
e retratos tomados de
maneira intimista
Imagem captada no centro de São Paulo nos anos 1970 por Carlos Moreira
Acervo de Moreira
entre dois amigos
Em matéria sobre o fotógrafo Antunes e Moreira se conheceram
Carlos Moreira (1936-2020) publicada em 1976, quando o fotógrafo fazia
na edição 292 de Fotografe foi imagens no Parque do Ibirapuera,
mencionado que seu acervo, após na capital paulista. Antunes tinha 16
sua morte, passou a ser cuidado anos e os dois viveram uma intensa
pela amiga e sócia Regina Martins. A relação afetiva nos anos que se
matéria não menciona, no entanto, seguiram. Antunes acompanhou o
Pedro Antunes, também fotógrafo e curso de Moreira na Universidade de
amigo de Carlos Moreira, igualmente São Paulo, como aluno ouvinte, em
beneficiário do acervo, direito 1985. Também posou para inúmeros
oficializado em testamento. retratos feitos por Moreira, alguns
deles publicados em revistas e
incluídos em exposições.
Formado em Educação Física e
Psicologia, Pedro Antunes decidiu
dedicar-se plenamente à fotografia a
partir de 1999. A relação afetiva com
Carlos Moreira se transformou com o
tempo em uma amizade.
Carlos Moreira era filho único
e não teve filhos. Seu acervo foi
deixado meio a meio em testamento
para os dois amigos de uma vida,
Pedro Antunes e Regina Martins. Os
dois agora avaliam qual o melhor
destino a ser dado ao vasto material
visando à conservação e à difusão.
Boa parte das imagens permanece
inédita, informa Regina.
Fotos: Divulgação
Alpha A1, a nova top
de linha da Sony
A Sony lançou a Alpha A1, câmera resolução, com limite de 155 imagens Acima, a Sony A1 vista de frente
mirrorless top de linha que alia um em RAW por disparo e 165 em e de trás; abaixo, ilustração do
sensor full frame de 50 megapixels JPEG. O modelo vem equipado com novo visor eletrônico com taxa
de atualização de 240 frames por
com captura de vídeo em 8K/30p e sistema de estabilização de imagem
segundo e captura sem blackout
4K/120p. O modelo é o mais avançado baseado em cinco eixos.
da marca lançado até o momento. O sistema de foco automático
Tem corpo construído sobre chassi híbrido funciona por fase e
de liga de magnésio com vedação contraste, e está baseado em 1.184
contra poeira e chuva. Traz dois slots pontos, distribuídos em 92% do
para cartão de memória nos padrões enquadramento. A Sony Alpha A1 vem
UHS-II SD e CFexpress. repleta de conexões. Tem conector USB
Conta com visor eletrônico OLED 3.2 tipo C, que atinge velocidade de
de 9,44 milhões de pontos e taxa transferência de 10 Gbps e também
de atualização de 240 frames por permite recarregar a bateria. Oferece
segundo, além de monitor articulado ainda saída HDMI, conector Ethernet,
de três polegadas (1,4 milhão de conexão Wi-Fi de alta velocidade,
pontos) sensível ao toque. Segundo entrada para microfone e saída para
a Sony, o obturador mecânico fone de ouvido. A Sony também lançou a
construído em fibra de carbono tem A Sony Alpha A1 atende lente 35 mm f/1.4 GM, fixa de alta
vida útil estimada em 500 mil ciclos a fotógrafos e videomakers qualidade óptica voltada a câmeras
e funciona de maneira silenciosa e que buscam alta qualidade e de sensor full frame. Pesando 524 g,
sem trepidações, realizando disparos desempenho. Seus recursos são ela tem 14 elementos dispostos em
contínuos de até 10 imagens por condizentes com o preço: US$ 6,5 10 grupos e conta com diafragma
segundo na máxima resolução. mil no mercado americano. de 11 lâminas. Oferece
Usando o obturador eletrônico, distância mínima
a Sony Alpha A1 é capaz de capturar de foco de 25 cm,
30 imagens por segundo na máxima gerando magnificação
máxima de 0,26x. O
preço de mercado nos
Estados Unidos é de
US$ 1,4 mil.
Detalhes da nova
Sony Alpha A1, que é
altamente conectada
e registra até 30
imagens por segundo
Fotos: Divulgação
Fujifilm lança médio Nova câmera de médio
formato da Fuji tem sensor
de 44 x 33 mm e gera
formato com 102 MP arquivos de até 400 MP
A Fujifilm lançou a GFX A GFX 100S oferece visor da Fujifilm dispõe de duas entradas
100S, câmera de médio formato eletrônico OLED de 3,68 milhões para cartões de memória UHS-
com sensor BSI CMOS de 102 de pontos, com magnificação -II SD. A bateria NP-W235, a
megapixels (44 x 33 mm). O de 0,77x. Conta com monitor mesma usada no modelo X-T4, tem
modelo possui a maioria dos articulado de 3 polegadas com autonomia de 460 disparos por
recursos já existentes na GFX 2,36 milhões de pontos sensível ao carga (CIPA). Vendida por
100, caso do sensor, mas tem toque. Faz disparos automáticos US$ 6 mil no mercado americano,
um corpo menor, pesando 900 de até 5 imagens por segundo e a GFX 100S é uma câmera para
gramas. Conta com sistema é capaz de filmar em 4K/30p. No poucos. Ainda assim, representa
de estabilização de imagem modo multi-shot, voltado a temas um ótimo negócio quando
baseado em cinco eixos, capaz de estáticos, gera imagens de 400 MP. comparada à GFX 100, que tem o
compensar até 6 pontos de luz. A nova médio formato digital mesmo sensor e custa US$ 10 mil.
Uma olho-de-peixe
pequena e barata
Esta estranha objetiva A Pergear lançou uma objetiva distância focal de 10 mm e abertura fixa
olho-de-peixe recebe o olho-de-peixe para câmeras de sensor de f/8, ela tem cinco elementos dispostos
apelido de “panqueca” APS-C que mais parece uma tampa de em quatro grupos e pesa apenas 80
lente, de tão estreita e pequena. Com gramas. Apesar do tamanho reduzido, a
Pergear conseguiu encaixar nela um anel
de foco, que cobre de 30 cm ao infinito.
Em câmeras com baioneta Fujifilm X,
Sony E e Nikon Z, ela tem distância focal
equivalente a uma lente de 15 mm, já em
câmeras de baioneta Micro Four Thirds
tem distância focal equivalente a uma
objetiva de 20 mm. A nova e estranha
olho-de-peixe da Pergear é vendida no
site da fabricante por US$ 79.
Foto do Mês/Arfoc-SP
Papai-Noel
na pandemia
Fim de ano em Brasília (DF), as pautas
políticas dão lugar à cobertura de temas
Adriano Machado
mais amenos. Em 2020, foi diferente, já que
o mês de dezembro foi marcado por uma
segunda onda de infecções pela covid-19
no Brasil. Adriano Machado, stringer da
Reuters na capital federal, ficou sabendo que
em alguns shoppings da cidade estavam sentiu que ela se aproximava da bolha para O toque na mão
adotando medidas de distanciamento social tentar interagir. Trocou rapidamente a lente do Papai-Noel
no tradicional encontro do Papai-Noel com grande angular por uma meia-tele 135 mm dentro da bolha
as crianças. Após aprovada a proposta de f/2. Abaixou-se para registrar a cena, mas a de segurança foi
uma imagem que
pauta, no dia 15 de dezembro ele foi até o primeira imagem ficou muito aberta. Ele deu marcou o Natal
shopping Pátio Brasil, no centro da cidade, e um passo para frente e registrou a mãozinha de 2020 devido
ali encontrou uma cena bastante peculiar. da criança no momento em que toca a mão à pandemia de
O Papai-Noel ficava dentro de uma do personagem. Feita em f/2, a foto explora o covid-19
grande bolha de plástico e interagia com desfoque das luzes do shopping como fundo.
as crianças por meio de um microfone: sua “Consegui registrar na foto a vontade
voz era ouvida no ambiente. Mesmo com a que as crianças tinham, mesmo em
barreira de plástico, as crianças buscavam se tempo de pandemia, usando máscara e
aproximar do “bom velhinho”, encarnado por se protegendo, de tentar um contato e
Abilio da Cruz Pinto, aposentado de 77 anos. fortalecer essa crença no Papai-Noel e na
Machado acompanhava uma das crianças e magia do Natal”, resume Machado.
Israel Carlito
Tire suas dúvidas sobre o
Grande Prêmio Fotografe 2021
C om inscrições abertas até
31 de maio de 2021, o
Grande Prêmio Fotografe
2021 é um concurso que busca dar
visibilidade a trabalhos fotográficos
a menos que isso faça parte da
proposta do Ensaio.
Já a categoria Imagem Destacada
é voltada a fotos únicas que
contenham um potencial narrativo.
Na categoria Ensaio, as imagens
são avaliadas na ordem enviada e
como um conjunto. Todos os Ensaios
com três ou mais votos “sim” são
pré-selecionados. Na categoria
com tema livre. Todos os pré- Quem se inscreve na categoria Imagem Destacada, as fotos são
-selecionados são publicados no site pode enviar de uma a três imagens. avaliadas separadamente, na ordem
da revista, os finalistas farão parte Recomenda-se que sejam enviadas enviada. No caso de mais de uma
de um livro e os ganhadores, de três, pois assim aumentam as imagem ter três ou mais votos, a
uma exposição. Para ajudar no envio chances de pré-seleção. As imagens pré-selecionada será aquela com
das inscrições, a organização do GP enviadas podem ser sobre o mesmo mais votos. Somente uma foto pode
Fotografe 2021 separou algumas tema ou não. É possível misturar ser pré-selecionada por inscrição.
questões recorrentes enviadas por cor e P&B, pois as imagens serão Cada membro da Comissão
leitores da revista interessados em avaliadas separadamente. de Pré-Seleção tem seu próprio
participar do concurso. entendimento e autonomia de
Como funciona a pré-seleção de avaliação. Por essa razão, não é
Como escolher entre Ensaio imagens? possível à Comissão emitir pareceres
ou Imagem Destacada? A Comissão de Pré-Seleção sobre trabalhos que não foram
A categoria Ensaio é voltada para é formada por cinco membros pré-selecionados.
conjuntos de seis a dez imagens que experientes e de reconhecido mérito
formam uma narrativa visual sobre na fotografia, cujos nomes serão Tenho que escolher uma
determinado dado. Por isso, é muito divulgados ao final do processo, subcategoria?
importante a coesão do conjunto. A para evitar qualquer tipo de pressão Escolher “corretamente” a
imagem de abertura, que introduz indevida. A ficha de inscrição é enviada subcategoria em que melhor
o tema, deve ser forte e sintética, a ao júri sem o nome do fotógrafo, se encaixa o trabalho inscrito
ordem das imagens deve ser pensada constando apenas título, descrições não é uma exigência que possa
e deve ser evitada a redundância. (caso haja) e link para as imagens na comprometer a avaliação das
Não é indicado misturar cor e P&B, ordem em que foram submetidas. imagens. A Comissão de
Pré-Seleção avalia em primeiro lugar do evento, além da premiação dos momento, respeitando o prazo final
e acima de tudo o mérito fotográfico, participantes. As inscrições podem de 31 de maio de 2021.
a qualidade na forma e no conteúdo. ser adquiridas em pacotes de uma Quem faz duas ou mais
Os títulos, as descrições e as legendas até cinco, por valores que vão de inscrições pode escolher diferentes
fornecidos ajudam a realçar as R$ 59 a R$ 199. Todos os inscritos categorias/subcategorias para
imagens na medida em que trazem ganham de brinde acesso a edições cada inscrição enviada. Veja o
mais informações que não podem ser digitais completas de Fotografe. regulamento completo e os links
visualizadas e dão suporte à melhor O processo de compra do pacote e para os pacotes de inscrição no
compreensão do significado. o envio das inscrições são separados. Grande Prêmio Fotografe em:
A subcategoria não é avaliada Uma vez adquiridas as inscrições, as fotografemelhor.com.br/premio/
pela Comissão de Pré-Seleção e a fotos podem ser enviadas a qualquer regulamento.
curadoria do GP Fotografe se reserva
o direito de alterar a subcategoria de
um trabalho pré-selecionado caso
entenda que ele se encaixa melhor em
outra que não a indicada na inscrição.
A subcategoria terá um peso
importante no processo de escolha
dos finalistas, uma vez que serão
apontados seis finalistas em
cada uma das 10 subcategorias.
Dessa forma, você pode observar
quais subcategorias estão menos
representadas dentre os pré-
-selecionados e dar preferência
para se inscrever nelas.
O fotojornalismo é uma
convicção para Márcia
Foletto desde a época
em que cursava Jornalismo em
Santa Maria (RS), sua cidade natal.
Márcia começou a carreira no
jornal A Razão, de Santa Maria.
Passado um ano de trabalho,
conseguiu um lugar no jornal O
Pioneiro, em Caxias do Sul (RS),
onde permaneceu por mais um
ano. O próximo passo seria o Diário
Catarinense, de Florianópolis (SC),
quando começou a fazer coberturas
de pautas de importância nacional.
Ela até tentou seguir carreira como
jornalista de texto, mas a experiência
serviria para indicar que o caminho Uma das fotos da reportagem
Os Miseráveis, trabalho
era mesmo a fotografia. Desde 1991
ganhador do Prêmio Rei da
como repórter fotográfica do jornal Espanha em 2016
O Globo no Rio de Janeiro (RJ), essa
gaúcha enfrenta diariamente as
tensões e as alegrias da cobertura do
cotidiano de uma das cidades mais
complexas do mundo. Os olhos dela
miram tanto a euforia do Carnaval
quanto a tragédia dos confrontos
armados envolvendo traficantes,
milícias e policiais nas favelas da
cidade. Ultimamente, andam focados
na tragédia da pandemia de covid-19.
19
Cultura
Prédio do Ministério
da Educação na cidade
do Rio de Janeiro
em foto de Thomaz
Farkas feita em 1945
Thomaz Farkas
Fotoclube brasileiro
no MoMa
Exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York reúne
imagens feitas por membros do Foto Cine Clube Bandeirantes
e comprova a qualidade da produção fotoclubista no Brasil
no centro de São
Paulo em foto de
André Carneiro,
também de 1951
21
Cultura
Gertrudes Altschul
Em busca de renovação
José Luiz Pedro conta que o fotoclubismo
brasileiro viveu uma crise nos anos 1990.
O alto preço pago pelo equipamento
e pelos insumos fotográficos no Brasil
espantou parte do público entusiasta. Com
a popularização da fotografia digital a partir
do início dos anos 2000, o movimento
fotoclubista viveu uma renovação.
No caso do Foto Cine Clube Bandeirante,
após a presidência de Eduardo Salvatore, que
permaneceu no cargo de 1943 até 1990, o
fotoclube quase chegou a fechar as portas. O
resgate começou em 1998, com a mudança
da sede do bairro da Aclimação para a Rua
Augusta, em endereço próximo à Avenida
Paulista, quando as atividades começaram a ser
retomadas praticamente do zero.
Pedro conta que, desde a sua origem, o
fotoclube é um ambiente muito frequentado
por pessoas com mais de 30 anos. Em geral,
fotógrafos entusiastas com uma carreira
profissional consolidada e que conquistaram
uma estabilidade financeira. "Esse panorama
mudou um pouco com a era digital, mas ainda
se discute como podemos fazer para atrair
pessoas mais jovens”, afirma o presidente.
Além de reunir apaixonados por fotografia,
fotoclubes em geral são locais propícios
Palmira Puig-Giró
Obra Arranha-céus,
de Roberto Yoshida,
registrada em 1959
para a troca de informações e mensais gratuitos e também cursos do Brasil e promove bienais de
desenvolvimento do conhecimento e palestras pagos. Já os associados, fotografia (cor em anos ímpares
técnico, teórico e prático da arte que contribuem com R$ 350 para e P&B em anos pares), sediadas
de fotografar. O Foto Cine Clube manutenção do fotoclube por ano em cidades que tenham ao menos
Bandeirante, por exemplo, promove e têm 20% de desconto em cursos, um fotoclube – a mais recente foi
concursos, passeios fotográficos, palestras e outros eventos pagos. a Bienal P&B de 2020 em Amparo
exposições, workshops e palestras. O Bandeirante é filiado à (SP). As informações completas
Os interessados podem participar Confederação Brasileira de Fotografia sobre as atividades da Confoto e dos
de duas maneiras: não filiados podem (Confoto), que reúne fotoclubes fotoclubes associados podem ser
frequentar os passeios fotográficos espalhados por todas as regiões obtidas no site confoto.art.br.
Segredos do
processo criativo Por Livia Capeli
Quatro renomados
fotógrafos mostram
trabalhos inspiradores
E m algumas situações,
afundado na rotina de
produção constante,
o fotógrafo acaba, sem querer,
reprimindo a criatividade para
“ON”, já que uma mente cheia de
preocupações, prazos e estresse
pode sabotar a gestação de
ideias essenciais para expandir
os horizontes da imaginação.
que indicam como é cumprir apenas os compromissos O primeiro passo para se livrar
possível desbloquear a diários. Quando o bloqueio do freio criativo é lembrar que
acontece é fundamental lembrar a fotografia pode ser feita sem
mente para se reinventar que o processo criativo precisa de comprometimento, apenas com
e fazer diferente um tempo para entrar no modo o entusiasmo de clicar para
Pequenas coisas:
Cacio Murilo
Luz, ovo e prato: Com uma concepção artística
com Cacio Murilo, bem-humorada e muito criativa,
detalhes do cotidiano o fotógrafo publicitário paraibano
também podem Cacio Murilo ficou conhecido por
virar arte
transformar vegetais, legumes e
frutas em animais com a série Fauna
Vegetal, que valeu a ele a publicação
do livro infantil Tem planta que virou
bicho!, volumes 1 e 2, em parceria
Observe com a publicitária Alda de Miranda.
muito, dê atenção Filho de fotógrafos, formado em
aos detalhes, use a Biologia pela Universidade Federal da
memória afetiva, Paraíba e com uma forte ligação com a
viaje, conheça natureza, Murilo sempre está conectado
com o universo de fotos de animais,
novos lugares e livros de zoologia e documentários
liberte-se da sobre natureza e vida selvagem.
rotina para ser São todas essas imagens que ficam
mais criativo guardadas no inconsciente dele que
afloram na hora de criar cada produção.
Cacio Murilo A inspiração pode surgir de várias
Sereia fotografada em
cachoeira na Chapada dos
Guimarães (MT) e ensaio no
estilo donzela do século 19 digital
Fundos podem
novas referências, estudar detalhes ser aplicados em
e características do trabalho de alguns casos e há
profissionais que admira. “No forte tratamento
entanto, é preciso ter cuidado. nas imagens
Há uma linha muito tênue entre
inspiração e imitação. Podemos
buscar inspiração em outros
artistas, desde que nos esforcemos
em transformar tais referências em
algo exclusivo, inédito e autêntico”,
lembra ela.
Para desbloquear o processo
criativo, a fotógrafa sugere acessar
a todo tipo de material que possa
ampliar a perspectiva visual: assistir a
séries, filmes de época com grandes
produções, estudar sobre culturas
diferentes, ler livros de literatura, de
contos de fadas, de mitologia, bem
como interessar-se pelas obras de
grandes artistas da pintura.
Para Lara Merlin, quanto mais
um fotógrafo nutrir a mente com
conhecimento e informações,
maior será o acervo criativo. “Ao
aguçar a sensibilidade por meio
de estudo e observação de tudo
aquilo com que o fotógrafo se
identifica, esses elementos podem
ser incorporados instintivamente ao
trabalho, tornando-o único, distinto
e incomparável”, argumenta.
29
Matéria de capa
Fotos: Guy Veloso
A luz em imagens
feitas por Guy Veloso
pode vir de um
problema no filme
(acima) ou de um
carro que ilumina
grupo de penitentes
Para Werther
Santana buscar
a criatividade no
fotojornalismo Desafio diário:
é um excercício
diário e ela leva
Werther Santana
Com uma carreira construída desde de cada pauta. Há 12 anos fazendo parte
muito a sério, 1999 na rotina de jornal, iniciada no da equipe do jornal O Estado de S. Paulo,
pois sai para Diário de Suzano, passando pelo Diário Santana está habituado em expandir a
fotografar até de São Paulo e pela Folha de S.Paulo, o criatividade cotidianamente.
repórter fotográfico Werther Santana Ele ressalta que o trabalho de um
quando está de precisa ter o faro ligado diariamente para fotojornalista começa no momento
folga no jornal atender o ritmo frenético de produzir em que recebe a pauta. No entanto, o
boas imagens para atender à demanda profissional precisa estar atento sempre
ao que está ao seu redor. Às vezes, um
insight nasce em um bate-papo no
boteco ou na padaria da esquina, sempre
na hora da descontração, quando a
mente está relaxada. “Acredito que a
criatividade surge com o exercício diário.
Eu fotografo até quando estou de folga.
Também sou curioso: quando uma foto
me chama muito a atenção procuro saber
como ela foi feita e isso ajuda muito no
processo criativo”, comenta.
Criatividade sem
fronteira de gênero
Conheça a produção provocativa de Betina Polaroid, alter ego criado pelo fotógrafo
carioca Beto Pêgo para registrar a cena drag carioca e se autorretratar
imagens ao estilo
Polaroid é uma
característica dos
autorretratos
produzidos pela
drag queen
O processo criativo em
fotografia vai muito
além da escolha do
equipamento e da temática, podendo
envolver até mesmo a concepção
vivendo abertamente sua
sexualidade, Pêgo diz que negava
sua identificação com tudo que era
associado ao feminino, forjando
um padrão minimamente aceitável
algum tempo para ter coragem de
sair de casa “montada” e lançar-se
em sua nova forma física e artística.
“Beto era meu disfarce. Betina, a
super-heroína que se escondia atrás
de um alter ego. Foi assim com Beto de masculinidade – até por defesa da câmera. Como Peter Parker, o
Pêgo, fotógrafo carioca de 44 anos contra a homofobia. “Assim fui me fotógrafo que esconde os poderes de
que criou em 2015 a personagem mantendo protegido na minha bolha Homem Aranha, eu escondia... Sarah
Betina Polaroid, fotógrafa drag queen de privilégios sociais. Mas fotografar Jessica Parker”, brinca.
cuja produção está centrada no a cena queer como alguém que
retrato e no autorretrato, usando a vem de fora era muito conflitante.
estética das câmeras instantâneas Sabia que aquele era meu lugar e
com filmes em papel. que aquela era minha gente. Estava
Pêgo decidiu encarnar a apontando a lente para meu desejo.
personagem depois de redescobrir a Permanecer como mero voyeur,
arte drag em 2014, quando o reality protegido pela câmera, jamais daria
show americano RuPaul's Drag Race conta. Eu precisava sair do armário de
se popularizou e começou a atrair os novo”, explica Pêgo.
holofotes do mainstream. Naquela Contando sempre com o apoio
mesma época, passou a frequentar e a participação do marido, Pêgo
festas promovidas pelo coletivo aprendeu maquiagem seguindo
Drag-se, no Rio, encontrando um tutoriais em redes sociais. Levou
ambiente propício para desenvolver
um projeto pessoal, pois permitia Hoje Beto Pêgo usa câmera
assumir sua homossexualidade sem Polaroid e DSLR, mas se
qualquer tipo de repressão. mantém fiel à proposta que o
Mesmo depois de 20 anos destacou na cena queer
Antes de
decidir virar
Polaroid, Betina Estética Polaroid
pensou em
A primeira ideia de nome foi Betina algumas caixas com a ajuda de amigos
usar o nome de Photoshop. Mas, no processo de que vivem em Berlim”, lembra. Pêgo logo
Photoshop. Mas concepção da personagem, Pêgo saiu descobriu que seria inviável fotografar
o presente de em busca de materiais fotográficos que apenas com a Polaroid porque o custo era
poderiam usar na produção do figurino muito alto: 20 euros cada filme. “Imagina
uma amiga e ganhou de presente da fotógrafa Ana cobrir um evento com um equipamento
mudou toda a Limp uma Polaroid 600, edição limitada, que não oferece quase nenhum controle
história dela feita em parceira com a Mattel, fabricante de exposição, tem um flash pífio e filmes
da Barbie. “A câmera rosa com estampa com uma química imprevisível, gastando
de flores era a alegoria perfeita para o mais de cem reais a cada oito cliques?
resgate da criança viada interior, quando Seria loucura e minha falência”, comenta.
a espontaneidade ainda não tinha sido Mas Betina usa e abusa da estética
represada pela reprovação social”, conta. Polaroid, mesmo quando fotografa
A Polaroid representou também a usando uma Canon EOS 5D. Ao tratar as
reconciliação de Pêgo com a fotografia imagens com uso de filtros e molduras
voltada à experimentação artística, em aplicativos, cria Polaroids “virtuais”.
experiência vivida pela primeira vez em Também usa câmeras e filmes do sistema
1995, quando ainda cursava graduação Fujifilm Instax e um equipamento da
No alto, alguns em Publicidade e Propaganda e fez já extinta Impossible Project chamado
retratos feitos por um curso na Escola de Artes Visuais do Impossible Lab, câmera que “analogiza”
Betina Polaroid em Parque Lage, no Rio. “Quando nasceu a imagens digitais ao fotografar a tela de
eventos ou festas
que reúnem drags Betina, a Polaroid não produzia mais, mas dispositivos móveis com filme Polaroid.
promovidos pelo uma empresa alemã, Impossible Project, “Com ele otimizo o aproveitamento
coletivo Drag-se fabricava filmes compatíveis. Consegui dedicando os filmes às fotos favoritas,
37
Retrato
confusão e curiosidade, trazendo à tona softboxes para evitar linhas de expressão Ao lado e abaixo,
questões sobre sexualidades, expressões e e imperfeições da pele geralmente imagens de ensaios
feitos para o
identidades de gênero”, compara. indesejadas. Uso muitos filtros e luzes
programa Drag
Ao produzir como Betina, Pêgo se coloridas também, escolhendo entre cores Photo Studio que
inspira em fotógrafos que se tornaram frias ou quentes para provocar sensações Betina Polaroid
ícones da arte queer, desde Andy Warhol ou criar uma ambientação”, explica. criou no YouTube
e Robert Mapplethorpe (que também se
autorretrataram maquiados e montados
e utilizaram Polaroid) até o casal Pierre e
Gilles, que abusa da estética do universo
drag e também cria molduras decoradas
para suas imagens.
Além dos autorretratos, Betina Polaroid
fotografa outras drags. No início, fazia a
cobertura fotográfica das festas do coletivo
Drag-se. Com o tempo, reduziu um pouco
o ritmo do trabalho documental em
eventos e aproveitou o canal criado pelo
Drag-se no YouTube para fazer seu próprio
programa, o Drag Photo Studio, onde
conversava com artistas drags sobre suas
referências e produzia um ensaio inspirado
nos temas trazidos. Depois veio o projeto
Hall of Fame para o concurso drag da festa
Queens, em que as vencedoras ganham
uma sessão de fotos.
Betina também mantém uma produção
espontânea, que nasce das relações
afetivas criadas com outras drags. “No
estúdio eu procuro que a minha iluminação
corresponda com o trabalho de luz e
sombra da maquiagem, que na drag tem
a função de esconder algumas feições e
dar a ilusão de outro rosto. A luz errada
pode não só revelar os truques, como
destruir completamente o efeito criado.
Evito luzes duras, a não ser em makes
artísticas, em que a textura é um elemento
a ser destacado. Priorizo a luz suave dos
39
Retrato
De Beto a Betina
Formado em Publicidade e jovens profissionais para atuar nas com a ONG Viva Rio e depois
Propaganda, Beto Pêgo começou revistas e publicações da Editora conquistando clientes comerciais do
a carreira na fotografia em 1995. Abril. Dali surgiram os primeiros mercado de decoração, de cama,
Trabalhou como assistente de frilas na área editorial. mesa e banho, o que envolvia muita
fotógrafos experientes, dentre eles Ao longo de duas décadas, Pêgo foto de produto, de ambientes
Ricardo Pimentel e Christian Gaul. Em desenvolveu uma carreira versátil, decorados, de design de interiores
1998, foi selecionado para o Curso publicando em revistas, realizando e arquitetura. Também assinou
Abril, programa de treinamento de fotografia still de cinema, colaborando trabalhos para marcas de cosméticos,
Um olhar sobre
a cidade
O fotógrafo Daniel Castellano documenta Curitiba há 15 anos
e se desafia a buscar quase todo dia ângulos inusitados e
soluções criativas na paisagem urbana da capital paranaense
N o corre-corre da vida em
grandes cidades, a maioria
das pessoas não consegue
enxergar a beleza que às vezes está
diante dos olhos. Felizmente, existem
apresentando a terra onde nasceu e
cresceu vista do alto, entre gotas de
chuva ou refletida em simples poças
de água na rua.
Foi entre uma pauta e outra
explorar o espaço urbano quanto
para atender o ritmo diário de sair
em busca de novas imagens para o
periódico. Atualmente vivendo como
fotógrafo documental independente,
fotógrafos talentosos que sabem o como repórter fotográfico do Castellano soma cerca de um milhão
quanto é importante parar e perceber jornal curitibano Gazeta do Povo de imagens sobre o tema e acredita
o encanto das paisagens urbanas, durante 13 anos que Castellano se que não é preciso, necessariamente,
caso de Daniel Castellano, de 40 anos, habituou a exercitar a criatividade viajar o mundo para fazer grandes
que há 15 tem fotografado Curitiba para escapar do lugar-comum – imagens: muitas vezes, uma boa foto
(PR) por meio de um olhar criativo, guiado tanto pela curiosidade de pode estar ao dobrar a esquina.
Castellano fotografa o Esse trabalho quase cotidiano de de água como inspiração); além de dois
mesmo lugar em estações registrar cenas na capital paranaense deu projetos que envolvem registros da periferia,
diferentes do ano e sabe origem a sete séries fotográficas: Confissões Aldeia Universal e Hortas Urbanas.
que o outono dá um da Luz (sobre sombras e luzes da cidade),
clima europeu para a Rua
Heitor Alencar Furtado Periscópio Urbano (em que a cidade é Exercício diário
fotografada de cima), Natureza Urbana Para Daniel Castellano, a primeira
(mostra a relação entre cidade e natureza), máxima para quem deseja conseguir fotos
Atemporal (foca no cotidiano nos dias criativas de paisagens urbanas é manter
chuvosos), Reflexos do Cotidiano (usa poças a rotina de sair a campo diariamente.
Para fotografar
No alto e acima, duas imagens que fazem constantemente
parte da série Reflexos do Cotidiano, feitas
sempre com base em poças de água uma cidade é
preciso que o
Mesmo não fazendo nenhum clique, retornar ao local durante ou após a fotógrafo tenha
é fundamental o exercício diário de chuva, bem como em todas as estações
contemplar a cidade. Outro segredo do ano – no caso de Curitiba, existe a
disciplina para
é voltar sempre no lugar escolhido perspectiva de fotografar a cidade sob sair quase todo
em horários diferentes e observar a nevoeiro, muito comum na cidade, o que dia e muita
iluminação tanto do Sol quanto da Lua cria um clima misterioso.
– como ela se modifica e interfere nas Madrugar em um local para fotografar criatividade para
construções, no asfalto, na calçada e até virou rotina para o especialista, que não se repetir
nos pedestres. Também é interessante costuma se organizar fazendo uma lista
Dança típica realizada por descendentes de poloneses no Bosque do Papa, em Curitiba, em captura feita com drone
dos lugares para o qual precisa retornar. outros ângulos, de cima para baixo, sob
“Estudo a luz por muito tempo, e sei que passarelas, viadutos e coberturas de prédios,
em determinados dias do ano o Sol irá assim como de baixo para cima, colocando
se alinhar naquela determinada rua da a câmera rasante ao chão, aproveitando o
cidade. Saio de casa por volta das 5h da reflexo de poças de água”, ensina.
É preciso manhã e, se não chover ou amanhecer Outro exercício importante é, sempre
estudar a luz dos nublado, consigo fotografar na hora que a que possível, conhecer novos lugares
lugares onde se luz fica mais atraente”, explica. para renovar o repertório visual: “Quando
quer fotografar e Castellano acredita que um fotógrafo frequentamos o mesmo ambiente
isso exige tempo e jamais deve fazer uma imagem e achar durante muito tempo, não conseguimos
que ela é definitiva: a luz, o lugar, as mais enxergar novas possibilidades,
dedicação, pois é construções, a natureza e até a habilidade ficamos com o olhar habituado.
preciso voltar lá da pessoa em fotografar se modificam Porém, quando saímos da nossa zona
várias vezes com o passar do tempo. Por isso, é preciso de conforto, como acontece quando
voltar periodicamente para aperfeiçoar viajamos para um lugar novo, podemos
Daniel Castellano as escolhas. “Procure fazer imagens de expandir nossos horizontes, e isso acaba
modificando para sempre o que somos. Um deles é buscar referências de imagens, O movimento noturno
O que enxergávamos antes passa a ser tanto de outros fotógrafos quanto das em dia de chuva na Rua
visto com outro olhar”, acredita. produzidas por ele mesmo anteriormente, São Francisco (acima)
procurando realizar uma avaliação do que e o movimento diurno
na Rua XV (abaixo) em
Ferramentas criativas pode ser melhorado. Ele também se inspira dia ensolarado: o clima
Daniel Castellano conta que costuma nos trabalhos de nomes como o americano na capital paranaense
acessar alguns canais de inspiração para David Alan Harvey e o franco-americano também pauta fotos
ativar o processo criativo na hora de fazer Elliot Erwit, assim como nos brasileiros
a documentação do cotidiano da cidade. Tuca Vieira, Cassio Vasconcelos, Custódio
49
Vida de fotógrafo
Acima, imagem realizada Coimbra, Araquém Alcântara, Cláudio O drone é uma delas, que leva a visão do
com drone na periferia Edinger e João Bruschz. fotógrafo para o alto de ruas e avenidas,
de Curitiba para a série Além do olhar apurado e do empenho explorando a ousadia da arquitetura ou
Hortas Urbanas e, abaixo,
diário para conseguir um resultado criativo, as linhas e formas urbanas, com muitos
a luz na calçada de luz
na Rua Cândido Lopes, Castellano conta com algumas ferramentas grafismos quando a cidade é vista de cima.
centro da cidade importantes para captura das imagens. Com sua DSLR Canon EOS 5D Mark IV
ele ainda experimenta objetivas diferentes
para clicar o mesmo lugar, aprendendo a
Fotos: Daniel Castellano
Libere a criatividade
na teleobjetiva
Trocar uma lente de distância focal curta como a grande angular
pela de distância focal longa tira o fotógrafo da sua zona
de conforto. Mas coloca diante dele um instigante desafio
dunas
Nesta foto feita
no Dead Valley, na
Califórnia, EUA, foi
usada uma tele na
posição de
230 mm
O paradigma histórico
para a composição da
imagem em fotografia
de paisagem baseia-se no uso
de objetiva de distância focal
narrativa visual que apresenta
detalhes atraentes desde o
primeiro plano (como formações
rochosas intrigantes) até assuntos
monumentais no plano de fundo
longa, a teleobjetiva.
Do ponto de vista da
composição da imagem, há uma
grande diferença entre uma objetiva
grande angular e uma teleobjetiva
curta, conhecida como grande (como uma montanha recebendo (ou mesmo meia-tele). Na categoria
angular. Com ela, o ângulo de os últimos raios de um pôr do grande angular, que compreende
visão é ampliado, ou seja, essa sol). Porém, para uma abordagem lentes com distância focal abaixo
distância focal permite incluir menos convencional, mais criativa de 35 mm, existem ótimas objetivas
diversos elementos da cena, e desafiadora é possível fotografar com zoom, caso da Nikon 14-
abrindo oportunidade para uma com lente de distância focal mais -24 mm, da Canon 11-24 mm
54
Raios de luz entre nuvens
nas montanhas dos
Pireneus, próximo a
Benasque, Espanha: lente
em posição de 155 mm
Ao trocar a
grande angular
visão expandida da cena, com céu e principal interesse. Nesse contexto,
terra potencialmente presentes no ele também exercita o processo de
por uma tele
enquadramento. Com a escolha certa exclusão, inerente ao ato de fotografar para fotografar
de um elemento interessante para o (independentemente da distância paisagens, o
primeiro plano, o fotógrafo instiga focal). A teleobjetiva leva o observador
o observador a “participar” da cena diretamente ao detalhe da paisagem
grande desafio
ativamente, sendo que a relação entre que chama a atenção e cativa o olhar. é a redução de
os planos permite a introdução da Cabe lembrar que a distância focal elementos no
noção de tridimensionalidade. utilizada em nada se relaciona com o
Quando o fotógrafo escolhe tamanho do objeto fotografado, seja enquadramento
uma objetiva mais longa, opta por relativamente grande ou pequeno: o
interpretar a paisagem com ângulo importante é que, diante do que se
de visão mais fechado, encurtando vê, o que se registra é um fragmento
a extensão da narrativa e partindo da paisagem à frente. Belo, forte e
mais diretamente ao assunto de completo para justificar a captura.
Combinar a
maior distância
focal com
Decidido a simplificar
Com objetivas longas, a meta é fotografia de paisagem. Não por acaso,
ajuste de baixa enfatizar elementos e/ou detalhes não grandes mestres da ciência e da arte se
velocidade é devidamente percebidos na paisagem debruçaram sobre a proposição: para o
uma técnica que que uma grande angular pode capturar. físico alemão Albert Einstein, “tudo deve ser
Esse reducionismo leva a uma visão o mais simples possível, porém não mais
produz efeitos mais introspectiva e íntima, abrindo simples”; o escritor francês Antoine de Saint-
atraentes em espaço para um redescobrimento visual -Exupéry disse que “um artista sabe que
água corrente da paisagem, processo que pode levar alcançou a perfeição não quando não há
à concepção de imagens que remetem nada mais a acrescentar, mas quando não
a sensações de abstração, intriga, bem há nada mais a retirar”.
como ambiguidade, uma vez que O potencial criativo da simplificação
elementos de referência (como a linha do pode também ser conjugado com o uso
horizonte) são eliminados da cena. de longa exposição, técnica muito popular
Ao escolher um ângulo de visão mais em fotografia de paisagem. Nesse tipo de
estreito, o fotógrafo também toma decisões abordagem, é possível escolher um tempo
No alto, mar drásticas de encurtamento de narrativa: de exposição adequado para introduzir
escorrendo entre ter menos planos na imagem é uma forma uma ideia de ação à imagem. De frações de
rochas na Ilha de
de simplificar a cena pela diminuição segundo a poucos segundos, o fotógrafo
Fernando de Noronha:
ajuste de baixa da quantidade de camadas. “Simplificar consegue capturar o movimento de água
velocidade para criar para enfatizar” pode ser considerado um escoando e de folhas balançando ao vento.
o efeito na água mantra nessa abordagem mais criativa em Alternativamente, a técnica pode ser usada
Uma foto rara de um lobo-guará fêmea com seu filhote: fotógrafo passou 15 anos documentando a espécie
C om uma trajetória
de três décadas na
fotografia de natureza,
o paulistano Adriano Gambarini,
de 51 anos, consolidou um amplo
A lição é válida sobretudo na
documentação da fauna silvestre,
já que os animais não estão à
disposição do fotógrafo e na
maioria dos casos se escondem
campo, é necessário estudar os
hábitos e comportamentos das
espécies que se deseja fotografar.
Por conta de uma escolha pessoal,
Gambarini não usa a técnica
portfólio, que inclui imagens de quando identificam presença conhecida como câmera trap
vida selvagem, cavernas, paisagens humana. É preciso muita dedicação (armadilha, em inglês), que consiste
e aéreas. Defensor da técnica acima e disponibilidade para passar dias em posicionar uma câmera com
de recursos digitais, da imagem e às vezes semanas registrando sensor de movimento que dispara
fidedigna em vez de manipulação animais, só assim é possível quando percebe a movimentação
e de trabalho a longo prazo, ele obter boas imagens – segundo o de algum bicho diante das lentes.
diz que, de todas as lições que especialista, na natureza selvagem Essa técnica, muito usada para
aprendeu e incorporou ao longo não existe “instante decisivo” documentar hábitos de animais em
da jornada, nenhuma provou ser capturado instintivamente, as geral, permite fotografar sem estar
tão importante quanto um preceito imagens surpreendentes exigem presente na cena. “Não uso câmera
simples porém fundamental na sua muita dedicação. trap por um motivo simples: gosto
especialidade: saber esperar. Além do tempo dedicado em de observar antes de tudo. Talvez
minha primeira reação diante de um quinze anos fotografando lobo- mais de quatorze anos”, comenta.
animal seja mais de naturalista do -guará para produzir um livro e outros Logicamente, ele desenvolveu esses
que de documentarista”, compara. dezessete para fazer o livro sobre temas de maneira simultânea, mas
Gambarini ressalta que sua as onças-pintadas. Já o livro sobre pontua que para um fotógrafo
carreira é baseada em muitos anos cavernas foram dezoito anos. Só na realizar um trabalho de peso sobre
de estudo e planejamento, com documentação do pato-mergulhão, determinado assunto é preciso muita
trabalhos que envolvem um processo uma das aves aquáticas mais raras dedicação – confira mais detalhes
sistemático de longo prazo. “Demorei e ameaçadas do mundo, foram sobre os livros no box da pág. 57.
Tratamento x manipulação
A pós-produção tem pouca presença tempo na pós-produção é porque
no trabalho de Adriano Gambarini. Ele errei na hora do clique. Fotografia é o
mesmo trata as imagens, com ajustes produto originado na hora do clique.
Acima, uma nova espécie mínimos. Na sua opinião, é preciso Sou fotógrafo, não sou um ‘tratador’
de macaco descoberta diferenciar tratamento de manipulação. de fotos. Existe uma linha muito tênue
na Amazônia e da qual
No momento em que o fotógrafo começa entre fotografia e arte digital. Acho que
só Gambarini tem fotos;
abaixo, urso-preto nas a alterar a realidade presenciada na hora está mais do que na hora de o mercado
Great Smoky Mountains, do clique, passa a manipular. “Parto do separar fotografia de arte digital. São
Tennessee, EUA princípio que se eu tiver que ficar muito produtos distintos”, afirma.
Para Gambarini, o tratamento
digital trouxe avanços importantes
para a fotografia de um modo geral,
mas também trouxe alguns “perigos”,
principalmente fotografia de natureza,
que deve desenvolver uma abordagem
documental, ser fidedigna, segundo
ele. “Algumas pessoas perderam o bom
senso. É comum ver fotos de bichos
ou lugares que conheço, e penso:
‘Esse bicho não tem essa cor, aquela
montanha não existe ali. É impossível
uma contraluz assim’. No momento em
que a pessoa faz uma foto e manipula a
esse ponto, não considero o tratamento
digital um avanço. Isso não é fotografia
documental de natureza. Se quiser tomar
purista
Gambarini
prefere fotografar
como na época do
filme, com poucos
recursos
digitais
outro rumo, sem problemas. Mas aos inúmeros recursos trazidos por do filme. Costumo contornar as
que fique bem claro que houve modelos de câmeras digitais atuais, dificuldades inerentes em uma
manipulação”, reforça. como bracketing, HDR, captura cena por meio das regulagens e
Gambarini recorre ao flash contínua e panorâmica, nenhum técnicas convencionais da fotografia,
como luz de preenchimento ou deles faz parte de seu repertório. abertura, velocidade e luz. Temos
para iluminar em fotos de cavernas, Longas exposições ele utiliza apenas que entender a relação de luz e
uma de suas especialidades. Diz em fotos de caverna e imagens sombra, buscar o enquadramento
gostar bastante da contraluz, noturnas. “Prefiro não usar esses que se quer e esperar o momento
mas “sem firulas”, da forma mais recursos digitais. Minhas fotos são certo do clique. Ter paciência é
simples e original possível. Quanto tal qual sempre fiz, desde a época fundamental”, ensina.
Além de fotos
de cavernas,
Gambarini
também gosta
de produzir
imagens aéreas, Na mão, sem tripé
mas hoje usa A fotografia de natureza costuma equipamento. Não é o caso de Gambarini,
um drone, que exigir um grande rol de lentes, de grandes que opta por levar o equipamento mais
angulares amplas para paisagens até as compacto possível quando sai a campo.
oferece um custo superteles para registro da vida selvagem. Ele trabalha com equipamento Nikon. Tem
muito menor Muitos fotógrafos acabam atuando com três corpos de câmera, uma mirrorless Z6 e
a ajuda de um assistente, para carregar o duas DSLRs, a D4S e D850, e várias opções
de lentes, desde uma olho-de-peixe 10 mm
f/2.8 até uma 200-400 mm f/4.
Mais uma opção dele que está na
contramão da maioria dos fotógrafos
de natureza: raramente usa tripé ou
monopé, apesar de ter ambos. A lente
de 200-400 mm, segundo o fotógrafo,
dá para ser sustentada na mão. “É
pesada, mas peguei o jeito. Além disso,
em praticamente todas as situações que
vivi fotografando vida selvagem tinha
que ir atrás dos bichos e me camuflar na
mata. Simplesmente não dava tempo de
armar o tripé. Em quase todas as minhas
viagens sou contratado por instituições
e ONGs, para ir a regiões remotas. Não
tenho assistente, ou seja, carrego todo o
equipamento”, explica. Leva o tripé para
Investimento
em livros
Adriano Gambarini tem
18 livros publicados e criou
um site especialmente para
divulgá-los e vendê-los.
Dentre as publicações, merece
destaque Cavernas no Brasil
(Metalivros), de 2012, já que
Gambarini é especialista em
Espeleologia, ciência dedicada
ao estudo das cavernas. Os
livros sobre o lobo-guará e a
onça-pintada mencionados
pelo fotógrafo são Histórias
de um Lobo e Panthera onca
– À sombra das Florestas,
publicados pela editora Avis
Brasilis. Confira outros títulos
e mais detalhes no site:
gambabooks.com.br.
eventuais fotos de paisagem dentro aluguel de helicóptero, monomotor DSLR e uma lente zoom que cubra
de floresta ou cavernas, que exigem ou de ultraleve para fazer esse tipo de grande angular (para paisagens)
longa exposição. Filtros, monopé e de imagem, o que encarecia de a teleobjetiva (para cenas distantes)
teleconversor também não costuma forma significativa. A chegada dos – como as opções 18-200 mm,
usar. “Busco ser o mais sucinto drones facilitou bastante a obtenção 24-240 mm ou 28-300 mm. “Gosto
possível em termos de equipamento de tomadas aéreas. Por isso, ele usa de sugerir esse equipamento básico
pela praticidade”, conta. o modelo Mavic 2 Pro mais recente, para quem está começando porque
Gambarini também tem um fabricado pela DJI. facilita no início. Comprar muitas
extenso portfólio de imagens aéreas. Aos interessados em começar na lentes intercambiáveis pode acabar
Sempre que fazia os orçamentos fotografia de natureza, o especialista atrapalhando e até frustrando a
de viagens, buscava programar o recomenda investir em uma câmera pessoa”, explica Gambarini.