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Rapé Parte1 1
Rapé Parte1 1
Medicinal do Rapé
O Rapé
A palavra rapé vem do francês “râper” (raspar). Basicamente, é tabaco
moído, raspado ou pilado até se transformar em um pó fino e aromático que é
aspirado ou soprado adentro das narinas. Até o início do século XX, era bastante
comum o uso de rapé no Brasil. Costumava ser vendido em caixinhas
(semelhantes às de fósforo) ou estojos. Seu uso, neste caso, não é ligado a
rituais (espirituais). O rapé elaborado puramente de tabaco está associado ao
tabagismo e pode causar dependência e doenças associadas ao seu uso
demasiado. Porém, o rapé utilizado para fins espirituais é composto por outras
plantas
Seu uso é ancestral e já esteve bem presente em diversos lugares e
épocas. Porém seu aspecto mais interessante é o uso pelas tribos indígenas e
pelos caboclos da floresta, que o utilizam para diversos fins, entre eles
medicinais e cerimoniais.
Para os huni kuin (kaxinawás) é uma medicina de poder que te conecta a
energia de Youshibu (Deus da Criação).
Geralmente o rapé dos huni kuin contém tabaco. O tabaco utilizado é
aquele cultivado nas aldeias e após a colheita das folhas e seu curtimento é
enrolado na borracha. Esse tabaco é picado e levado ao sol até secar. Depois é
moído e peneirado diversas vezes até ficar em pó. As outras plantas podem
variar entre pxuri, murici, cacau do mato, canela de veio, e muitas outras, sendo
que cada uma delas tem sua medicina especifica. Podem ser usadas as folhas,
as cascas, sementes e até as cinzas destas plantas.
Na maior parte das tradições que fazem uso ritualístico do tabaco, ele
jamais é tragado – é considerado um desrespeito com o espírito ancestral desta
planta sagrada.
O tabaco d’água é o tabaco preparado pela sua infusão em água (por
alguns dias) e inalado via nasal ou oral (de acordo com o ritual). O tabaco da
terra é tabaco seco mascado e cuspido (ritual da mascada) e o tabaco do ar é
uso ritualístico do rapé (aspirado via nasal). O tabaco ainda é muito utilizado para
oferenda (para a terra e para o fogo), considerado como uma forma de
agradecimento ou oração.
Quando o tabaco é utilizado espiritualmente, traz purificação,
centramento, transforma energias negativas em positivas, serve de mensageiro.
Ao utilizar o rapé também pode-se entoar cantos de cura e de pajelança,
pois segundo os huni kuin o rapé nos põe em contato com os espíritos da
floresta. A combinação das plantas contidas no rapé irá determinar se o rapé tem
poderes de curas, de concentração, de caça ou de outras crenças. Assim o rapé
pode além da cura física, colocar nosso espírito nos encantos da floresta nos
trazendo poder e força.
A Utilização
Os huni kuin usam a expressão “passar rapé” quando sentem vontade de
usar a medicina. Essa expressão é utilizada porque o rapé é assoprado no nariz
de quem deseja, e tem que ser assoprado nas duas narinas, pois eles dizem que
é para equilibrar a energia da natureza. Se você assoprar em uma narina
apenas, você ficará desequilibrado com a floresta. Isso pode ser de duas formas:
individual ou em dupla. A forma individual é quando você mesmo assopra o rapé
em suas narinas através do “curipa”, um instrumento feito de bambu, taboca ou
osso, de tamanho pequeno em formato de V, onde de um lado você coloca sua
boca e do outro você encaixa em uma das narinas. Já para passar o rapé em
dupla usa-se o “tipi” também em formato de V e feitos com taboca, bambu ou
ossos, onde um assopra na narina do outro.
Dentro da tradição indígena, não se "aspira" o rapé. Ele é sempre
"soprado" por outra pessoa ou por quem vai tomar o rapé. Soprado para dentro
das narinas e aplicado por um pajé ou por outra pessoa, e provoca uma forte
reação nos mais inexperientes. Seu efeito é rápido e após isso sente-se um
grande bem-estar e disposição, fora a limpeza das vias aéreas, que ele
proporciona. Importante ressaltar que quando se vai receber o rapé, tem que
tomar bastante cuidado de quem se vai receber, pois se o aplicador tiver algum
tipo de desequilíbrio, pode ser físico ou emocional, na hora de aplicar o receptor
pode se desequilibrar e até receber a doença do aplicador, é preferível se auto
aplicar, quando não se tem confiança no aplicador ou segurança em vários
aspectos.
Relatam que o rapé se usa para esfriar o corpo, pois quando se trabalha
muito debaixo do sol, ao ir tomar banho de água fria das cacimbas, pode-se
pegar um resfriado, e é bom cheirar rapé antes, porém o resfriamento não é
Arquivo compilado por Renato Figueiredo