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Exame & Repescagens dos Testes

Física Estatística
MEFT
2 de Julho de 2018, 15h00
Duração Testes: 1h30
Duração Exame: 3h00
Prof. Responsável: João P. S. Bizarro

ATENÇÃO: Não é permitido o uso de calculadoras nem de formulários.

1º Teste

[Cotação: a) 1.0; b) 1.0; c) 1.0; d) 1.0.]


1- A função de partição para um sistema magnético, válida numa certa gama de temperaturas T e
campos magnéticos H, pode-se escrever na forma kBlnZ=(V/2T2)(b+aH2), sendo V o volume
ocupado pelo sistema, kB a constante de Boltzmann, e a, b e C constantes.

a) Calcule, directamente a partir de lnZ, a energia média E do sistema.


R: Tem-se E =−∂lnZ/∂β(0.50)=kBT2∂lnZ/∂T=−(V/T)(b+aH2)(0.50).

b) Calcule, directamente a partir de lnZ, a magnetização M do sistema (que é a força


generalizada conjugada ao parâmetro externo H).
R: Tem-se M=(1/β)∂lnZ/∂H(0.50)=aVH/T(0.50).

c) Calcule a entropia S do sistema.


R: Tem-se S=kB(lnZ+β E )(0.50)= −(V/2T2)(b+aH2) (0.50).

d) Mostre que se tem para a dispersão relativa na energia deste sistema (ΔE)2 /( E )2=kBT/| E |.
R: Tem-se (ΔE)2 =∂2lnZ/∂β2(0.50)=−∂ E /∂β=kBT2∂ E /∂T=kBV(b+aH2)(0.25), donde (ΔE)2
/( E )2=kBT/| E |(0.25).

[Cotação: a) 1.5; b) 1.0; c) 1.0.]


2- Considere N moléculas de um gás ideal em equilíbrio térmico a uma temperatura absoluta T. O
gás está confinado numa caixa cúbica de aresta L, com duas das faces paralelas à superfície da
Terra, e sob a acção de um campo gravítico de aceleração constante g.

a) Mostre que se tem n(z)=(N/L3)(mgL/kBT)exp(–mgz/kBT)/[1–exp(–mgL/kBT)] para a densidade


dessas moléculas em função da altura z na caixa.
R: O gás distribui-se em altura de acordo com uma distribuição canónica, ou seja,
n(z)=Cexp(−mgz/kBT)(0.50), com C uma constante de normalização dada por
∫0 dx∫0 dy∫0 dz n(z)=L2∫0 dzn(z)=N(0.50). C−1=(N/L2)−1∫0 dzexp(−mgz/kBT)
L L L L L
Calculando,
=N−1(kBT/mg)[1–exp(–mgL/kBT)](0.50), donde o resultado pretendido n(z)=(N/L2)(mg/kBT)
exp(−mgz/kBT)/[1–exp(–mgL/kBT)].

b) Para que valores tende n(z) quando mgz≫kBT? Interprete fisicamente o resultado.
R: Neste limite, exp(–mgL/kBT)→0 e n(z)≃(N/L3)(mgL/kBT)exp(−mgz/kBT)(0.25), que tende
para 0 se z≠0(0.25) e para ∞ se z=0(0.25), ou seja, n(z)≃(N/L2)δ(z) com δ(z) um delta de
Dirac. Fisicamente, e como se espera a muito baixas temperaturas, as partículas encontram-
se praticamente todas no estado de menor energia (potencial, neste caso), que corresponde
a z=0(0.25).

c) Para que valores tende n(z) quando mgz≪kBT? Interprete fisicamente o resultado.
R: Neste limite, exp(–mgL/kBT)≃1–mgL/kBT(0.25) e n(z)≃(N/L3)(mgL/kBT)/(mgL/kBT)≃N/L3
(0.25), que corresponde a uma distribuição de densidade uniforme(0.25) na caixa.
Fisicamente, e como se espera a muito altas temperaturas, as partículas distribuem-se
uniformemente por todas as energias (potenciais) acessíveis (i.e., todas as alturas dentro da
caixa)(0.25).

[Cotação: a) 1.0; b) 1.5.]


3- Considere a expressão geral para a entropia S= –kB∑r PrlnPr e um sistema que se distribui pelos
seus estados acessíveis r de acordo com uma distribuição de probabilidades arbitrária Pr.
Pretende-se comparar esta distribuição com a distribuição canónica Pr(0)=exp(–βEr)/Z, com
Z=∑r exp(–βEr), correspondente à mesma energia média, ou seja, ∑r Pr(0)Er=∑r PrEr= E . Tem-se,
obviamente, ∑r Pr(0) =∑r Pr=1.

a) Com S e S(0) as entropias correspondentes a Pr e Pr(0), respectivamente, mostre que se tem


S–S(0)= kB∑r Prln(Pr(0)/Pr). [Sugestão: comece por mostrar que se tem ∑r PrlnPr(0)=∑r Pr(0)lnPr(0).]
R: É imediato verificar que (S–S(0))/kB=∑r Prln(Pr(0)/Pr)+∑r (Pr–Pr(0))lnPr(0)(0.25). Ora,
escrevendo lnPr(0)=–βEr–lnZ(0.25), vem ∑r (Pr–Pr(0))lnPr(0)=∑r (Pr–Pr(0))(–βEr–lnZ)=–β(∑r PrEr–
∑r Pr(0)Er)(0.25)–lnZ(∑r Pr–∑r Pr(0))(0.25)=0, donde (S–S(0))=kB∑r Prln(Pr(0)/Pr).

b) Mostre que se tem sempre S(0)≥S [use a desigualdade universal lnx≤x–1]. Justificando
devidamente, diga em que condições se tem S=S(0). Comente.
R: Tem-se, então, (S–S(0))/kB=∑r Prln(Pr(0)/Pr)≤∑r Pr[(Pr(0)/Pr)–1](0.25)=(∑r Pr(0)–∑r Pr)=0(0.25).
Tem-se ainda S=S(0) quando Pr=Pr(0)(0.25), o que confirma mais uma vez que a distribuição
canónica(0.25) maximiza a entropia(0.25) nos casos em que a energia média do sistema é
especificada(0.25).

2º Teste

[Cotação: a) 1.0; b) 1.0; c) 1.0; d) 1.0.]


4- Considere N partículas de um gás ideal quântico não relativista, com massa m e contidas numa
caixa cúbica de lado L. Os possíveis níveis de energia para uma partícula são da forma
εr=εnx,ny,nz=(ħ2π2/2mL2)(nx2+ny2+nz2), com nx=ny=nz=1,2,3,…, sendo a respectiva ocupação Nr e a
respectiva contribuição para a pressão macroscópica do gás dada por pr=–∂εr/∂V. Pretende-se
comparar o comportamento de bosões com o de fermiões a 0 ºK (zero absoluto).

a) Comece por mostrar que se tem para a pressão macroscópica do gás p=(2/3)( E /V), em que
V é o volume da caixa e E a energia média do gás.
R: A pressão macroscópica é uma média sobre os possíveis níveis de energia εr, i.e.,
p=∑r Nrpr(0.50)=–∑r Nr∂εr/∂V=–(∂L/∂V)∑r Nr(∂εr/∂L)=(1/3)(1/V)2/3∑r (2/L)Nrεr=(2/3)(∑r Nrεr/L3)=
(2/3)(∑r Nrεr/V)(0.25)=(2/3)( E /V)(0.25).

b) Obtenha a expressão que dá a pressão pB0 de um gás de bosões a 0 ºK. Dê o resultado em


função das constantes físicas e parâmetros macroscópicos do gás. Como é que pB0 depende
de N e de V?
R: A 0 ºK têm-se todos os bosões no estado de mais baixa energia(0.25), i.e., E =Nε1(0.25)
com ε1=(3ħ2π2/2mL2)(0.25) a energia do estado fundamental (nx=ny=nz=1), donde
2 2 5/3
pB0=(2/3)( E /V)=(ħ π /m)(N/V )(0.25).
c) Sabendo que para um gás de fermiões a 0 ºK a energia média por partícula é (3/5)εF, com
εF=(ħ2/2m)(3π2N/V)2/3 a energia de Fermi, obtenha a expressão que dá a pressão pF0 de um
gás de fermiões a essa temperatura.
R: A 0 ºK tem-se para os fermiões E =N(3/5)εF(0.50), donde pF0=(2/3)( E /V)=(2/5)(N/V)εF=
(ħ2/5m)(3π2)2/3(N/V)5/3(0.50).

d) Mostre que se tem pB0/pF0~N–2/3. Interprete fisicamente o facto de, no limite termodinâmico e a
0 ºK, a pressão de um gás de bosões ser desprezável quando comparada com a de um gás
de fermiões.
R: Tem-se, então, pB0/pF0~(N/V5/3)/(N/V)5/3(0.25)=N–2/3. A pressão resulta de uma transferência
média de momento das partículas por unidade de tempo(0.25). Ora, em consequência do
princípio de exclusão de Pauli, os fermiões ocupam todos os N estados de mais baixa energia
(enquanto todos os bosões estão no nível de mais baixa energia)(0.25), o que faz com que a
razão entre as respectivas energias médias seja ε1/εF~N–2/3≪1, tendo pois os fermiões um
momento médio muitíssimo superior (~N1/3) ao dos bosões(0.25).

[Cotação: a) 1.0; b) 1.0; c) 1.0; d) 1.0.]


5- Um filme fino adsorvido numa superfície de área A é constituído por N moléculas que se podem
mover livremente sobre essa superfície e que podem ser tratadas como um gás clássico a duas
dimensões. As moléculas interagem por meio de um potencial u(R) que depende apenas da
distância de separação mútua R entre duas moléculas. Como se viu no último teste, a pressão
deste gás (desenvolvida até ao segundo coeficiente do virial) é dada por p/kBT≃n+B2(T)n2, com
n=N/A a densidade superficial de átomos, T a temperatura absoluta e
B2(T)=−π∫0 {exp[−u(R)/kBT]−1}RdR. Para u(R) assume-se um potencial de discos (‘esferas’ a

duas dimensões) rígidos da forma u(R)= ∞ para R<R0 e u(R)=−u0(R0/R)s para R>R0, com s>2.

a) Mostre que, para βu0≪1, se tem B2(T)≃(πR02/2){1−[2/(s−2)](u0/kBT)}.


R: Se βu0≪1, então exp[−u(R)/kBT]−1≃−u(R)/kBT(0.25) para R>R0 e B2(T)≃π∫0R0RdR+
π∫R0 [u(R)/kBT]RdR(0.25)=(πR02/2)−π(u0/kBT)R0s∫R0 R−s+1dR=(πR02/2)(0.25)−[πR02/(s−2)]
∞ ∞

(u0/kBT)(0.25)=(πR02/2){1−[2/(s−2)](u0/kBT)}.

b) Escreva, então, a equação de estado na forma (p+a’n2)≃nkBT(1+b’n)≃nkBT/(1−b’n). Quais as


expressões para a’ e b’? Dê uma interpretação física à aproximação b’n≪1.
R: Substituindo B2(T) na expansão do virial para a pressão, tem-se
p≃nkBT+(πR02/2)[kBT−2u0/(s−2)]n2, ou p+(πR02/2)[2u0/(s−2)]n2≃nkBT[1+(πR02/2)n], equivalente
a (p+a’n2)≃nkBT(1+b’n), com b’=πR02/2(0.25) e a’=2u0b’/(s−2)(0.25). Se b’n≪1,
(1+b’n)≃(1−b’n)−1 e (p+a’n2)(1−b’n)≃nkBT, significando a condição b’n=(πR02/2)(N/A)≪1, ou
N(πR02/2)≪A(0.25), que (à parte um factor irrelevante 1/2) a área efectiva das N moléculas
(NπR02) é muito menor que a área da superfície onde estão adsorvidas(0.25) (i.e., o gás é
muito diluído).

c) Reescreva a última equação na forma de Van der Waals (p+a/v2)(v−b)≃RT, com v a área
molar, R=NAkB e NA o número de Avogadro. Escreva a e b em função, respectivamente, de a’
e b’.
R: Sendo v a área molar (i.e., a área ocupada por uma mole de moléculas), v=(A/N)NA=NA/n,
ou n=NA/v(0.25), donde (p+a’NA2/v2)(1−b’NA/v)≃NAkBT/v(0.25) ou (p+a/v2)(v−b)≃RT, com
a=a’NA2(0.25) e b=b’NA(0.25).

d) Neste modelo de discos rígidos, qual seria a ‘linha’ eficaz total de colisão (em lugar da secção
eficaz total de colisão num gás a três dimensões)? Justifique devidamente.
R: A ‘linha’ eficaz total de colisão corresponde à distância mínima de separação entre os
centros de duas moléculas (tomadas como discos) que permite a interacção (colisão) entre
elas(0.50), ou seja, a R0(0.50).

[Cotação: a) 1.0; b) 1.0.]


6- Um gás ideal de bosões é constituído por N partículas e ocupa um volume V. Por causa do
comportamento ‘gregário’ dos bosões, é preciso ter em conta numa colisão entre dois bosões
não apenas a probabilidade de ocupação do estado inicial de velocidade v, dada por f(r,v,t), mas
também a maior probabilidade de transição para o estado final de velocidade v’ se este já estiver
ocupado, efeito introduzido pelo factor 1+f(v’,t). Assim sendo, define-se H(t)=
∫d3v {f(v,t) lnf(v,t)−[1+f(v,t)] ln(1+f(v,t))} e, na equação de Boltzmann df/dt=(∂f/∂t)col., o termo de
colisões escreve-se (∂f/∂t)col.=∫d3v’∫d3v1∫d3v’1w(v,v1→v’,v’1){f(v’,t) f(v’1,t)[1+f(v,t)][1+f(v1,t)]
−f(v,t)f(v1,t)[1+f(v’,t)][1+f(v1’,t)]}, com o ‘kernel’ de colisão w(v,v1→v’,v’1)≡|v−v1|σ’(v,v1→v’,v’1)
uma quantidade não-negativa. De forma mais sintética (∂f/∂t)col.
=∫d3v’∫d3v1∫d3v’1w(v,v1→v’,v’1)[f ’f1’(1+f)(1+f1)−ff1(1+f ’)(1+f1’)]. Nestas condições, mostra-se que
dH/dt=−(1/4)∫d3v∫d3v’∫d3v1∫d3v’1 w(v,v1→v’,v’1)[f f1(1+f ’)(1+f1’)−f ’f1’(1+f)(1+f1)]{ln[f f1/(1+f)(1+f1)]–
ln[f ’f1’/(1+f ’)(1+f1’)]}.

a) Mostre que a integranda em dH /dt é sempre não-negativa, logo dH/dt≤0.


R: Reescrevendo dH /dt = −(1/4) ∫d3v ∫d3v’ ∫d3v1 ∫d3v’1 w(v,v1→v’,v’1)(1+f)(1+f1)(1+f ’)(1+f1’)
[f f1/(1+f)(1+f1)−f ’f1’/(1+f ’)(1+f1’)] {ln[f f1/(1+f)(1+f1)] − ln[f ’f1’/(1+f ’)(1+f1’)]} (0.25) e notando que
qualquer dos factores (1+f) será sempre positivo(0.25), assim como o ‘kernel’ w(v,v1→v’,v’1),
o sinal da integranda será dado pelo sinal do termo
[f f1/(1+f)(1+f1)−f ’f1’/(1+f ’)(1+f1’)] {ln[f f1/(1+f)(1+f1)]−ln[f ’f1’/(1+f ’)(1+f1’)]}(0.25), que é da forma
(x−y)(lnx−lny), quantidade que é sempre positiva ou nula dado que o logaritmo é uma função
crescente do seu argumento(0.25).

b) Mostre, finalmente, que a distribuição de equilíbrio se pode escrever na forma


feq.(v)=1/{exp[−β(µ−mv2/2+mv.u)]−1}, com β, µ e u constantes. Comente o resultado.
R: No equilíbrio dH /dt=0, o que implica a integranda em dH /dt ser identicamente nula dado
que é sempre não-negativa(0.125); sendo a integranda nula, tem-se necessariamente
ln[feq./(1+feq.)]+ln[feq.1/(1+feq.1)]=ln[feq.’/(1+feq.’)]+ln[feq.1’/(1+feq.1’)](0.125), o que implica ser
ln[feq./(1+feq.)] uma quantidade conservada numa colisão(0.25), podendo assim ser expressa
de forma geral como uma combinação linear das quantidades conservadas numa colisão, as
quais são quaisquer constantes, o momento linear mv e a energia cinética mv2/2 (0.125),
donde ln[feq./(1+feq.)]=β(µ−mv2/2+mv.u)(0.125), ou feq.=1/{exp[−β(µ−mv2/2+mv.u)]−1},
recuperando-se a distribuição de equilíbrio de Bose-Einstein(0.25).

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