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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

NÚCLEO DE ENGENHARIA DE MATERIAIS

ESTRUTURA DOS MATERIAIS:


Direções e planos cristalográficos

Profa: Michelle Cardinale Macedo


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Roteiro da aula

• Fenômeno de Polimorfismo e alotropia dos materiais.


• Índices de Miller
• Direções cristalográficas para sistemas Cúbico e hexagonal
• Planos cristalográficos
• Densidade linear e planar
• Estruturas compactas
• Anisotropia e Isotropia
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POLIMORFISMO E ALOTROPIA

Polimorfismo: Característica das substâncias compostas que têm


mais de um tipo de estrutura cristalina. Ex: materiais cerâmicos:
sílica (SiO2) e Zircônia (Zr02)

Alotropia: Característica de elemento puro que possui mais de uma


estrutura cristalina. Ex: Fe e Ti.

Tanto o polimorfismo como alotropia são dependente da


temperatura e da pressão.

As transformações polimórficas resultam em mudanças nas


propriedades dos materiais e formam a base dos tratamentos
térmicos de aços e de várias outras ligas.
Variações alotrópicas do ferro puro 4

CCC

Ferrita
CFC

Austenita

CCC

Ferrita
CARACTERISTICAS DAS FORMAS ALOTROPICAS DO FERRO
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Ferrita ou ferro  (CCC)


 Somente pequenas concentrações de C são solúveis na estrutura
CCC, a solubilidade máxima é de 0,022%;
 Esse material é particularmente macio e magnético.

Austenita ou ferro  (CFC)

 Solubilidade máxima do C na austenita é 2,14%,


aproximadamente 100 vezes maior do que o valor máximo para a
ferrita com estrutura CCC.
 Esse material é mais duro que a ferrita  e não é magnético

Ferrita  ou ferro  (CCC)


 A ferrita  é virtualmente a mesma que a ferrita , exceto pela
faixa de temperatura que cada uma existe.
Solubilidade máxima de C nesse material é 0,09%
 Esse material não é de qualquer importância tecnológica porque é
Somente estável em temperaturas relativamente elevadas.
Variações Polimórficas da zircônia 6

Transformação reversível Transformação acompanhada de um


acompanhada de um aumento de volume de 2,5% durante
aumento de volume de o aquecimento.
4,5% durante o
resfriamento.
A maioria das cerâmicas é bastante frágil e não pode resistir a mudanças de volumes
superiores a 0,1%
Formas alotrópicas de alguns metais 7
8

Exemplo 1: Acima de 882 C, o titânio tem estrutura cristalina


CCC, com a= 0,332 nm. Abaixo desta temperatura ele se
organiza numa estrutura HC, com a= 0,2978 nm e c= 0,4735
nm. Determine a variação percentual de volume quando o
titânio CCC se transforma em titânio HC. Ocorre contração ou
expansão?
Dados: VHC= a2c cos 30.
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DIREÇÕES E PLANOS
CRISTALOGRÁFICOS
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Direções e planos Cristalográficos


Coordenadas de pontos
É possível localizar pontos na célula unitária construindo o sistema de
coordenadas. A distância é medida em termos do número de
parâmetros de rede. As coordenadas são expressas como três
distâncias separadas por vírgulas.

. .
Z
0,0,1

1,1,1 Direção cristalográfica- é uma


linha entre dois pontos ou um
vetor.

1,0,0 . . . 0,0,0
Y
1/2,1,0

X 1,1,0
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Direções e planos Cristalográficos

Procedimento para determinação dos índices de Miller de uma


direção cristalográfica:

1) Com um auxílio de um sistema de coordenadas positivamente orientadas,


determine as coordenadas de dois pontos situados nesta direção;
2) Subtraia as coordenadas do ponto final das coordenadas do ponto inicial a
fim de obter o número de parâmetros de rede percorridos na direção de
cada eixo do sistema de coordenadas;
3) Elimine frações por meio de divisão/multiplicação dos resultados da
subtração para obter os menores números inteiros possíveis;
4) Coloque os índices entre colchetes [ ]. Caso haja algum sinal negativo,
represente-o com uma barra sobre o número. Os índices não são
representados por vírgulas.
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Exemplo 2: Determine os índices de Miller para a direção
mostrada.

Projeção sobre o eixo x


(a/2) Projeção sobre o eixo y
(b)

x y z

projeções 1a 1b 0c
2
projeções em 1 1 0
termos de a,b e c 2

redução a mínimos
1 2 0
inteiros
notação  [120]
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Exemplo 3: Determine os índices de Miller de direção A, B e C
da célula unitária abaixo.

Z
Direção A 0,0,1
[100]

Direção B 1,1,1
[111]

Direção C
[122]
c
0,0,0
Y

½, 1,0

X 1,0,0
b
Exemplo 4: Quais pontos da rede se encontram na direção [110]14nas
células unitárias CFC e OFC ?
Z
1

CFC

..
[000]

. [110]

[110]

X
OFC
15
Z

[000]

.. Y

. [110]

X [110]
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Diversos aspectos sobre o uso dos índices de Miller


para direções precisam ser observados:
 Como as direções são vetores, determinada direção e seu negativo
não são idênticos.
 Toda direção e seu múltiplo são idênticos;
Certos grupos de direções são equivalentes. Os grupos de direções
equivalentes são chamados de família de direções.
Z Z
Família de direções 110

[100] Y X [010]
X Y
Equivalência das direções cristalográficas
em sistemas cúbicos.
CRISTAIS HEXAGONAIS 17

Foi concebida uma série especial de índices de Miller-Bravais para


células unitária hexagonais, devido a sua simetria.
 O sistema de coordenadas emprega quatro eixos ou sistemas
coordenados de Miller-Bravais, em vez de três para o sistema cúbico;
 Os três eixos a1, a2 e a3 estão todos contidos dentro de um único
plano (chamado de plano de base), e a 120 em relação um ao outro.
O eixo Z é perpendicular a base.
 Os índices Bravais serão representados por quatro índices, no
formato [uvtw]; por convenção, os três primeiros índices dizem
respeito a projeções ao longo dos respectivos eixos a1, a2 e a3 no
plano da base.
Conversão do sistema com três índices para o sistema 18
com quatro índices.

É feita mediante o uso das seguintes fórmulas:

OBS: Os índices marcados com “linha” estão


associados ao sistema com três índices , e os
índices sem linha estão associados ao novo
sistema com os quatro índices de Miller- Bravais.
n é um fator que pode ser necessário para
reduzir u, v, t e w aos menores números inteiros.
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Exemplo5 : Converta a direção [010] na direção [1210]


para um sistema hexagonal .
Planos cristalográficos 20

O procedimento para encontrar os índices de Miller que são


utilizados como notações abreviadas para identificar os planos
cristalográficos:
1) Identificar os pontos nos quais os planos interceptam as
coordenadas x, y e z em termos do número de parâmetros de
rede. Se o plano passar pela origem, a origem das coordenadas
terá de ser deslocada;
2) Quando um plano não intercepta um eixo ele é considerado
como tendo uma interseção no infinito e, portanto, um índice
igual a zero;
3) Calcular os inversos dessas interações;
4) Eliminar as frações, mas sem arredondar para os números
inteiros mais baixos;
5) Colocar os números resultantes entre parêntese ( ). Expressar
os números negativos com uma barra sobreposta. Não utilizar
vírgula para separar os índices;
REPRESENTAÇÕES DE UMA SÉRIE DE PLANOS 21

CRISTALOGRÁFICOS
Plano (001) com referência à origem no ponto O. Plano (110) com referência à origem no
ponto O.

Outros planos (110) equivalentes

Outros planos (001)


equivalentes. Plano (111) com referência à origem
no ponto O.

Outros planos (111) equivalentes.


Exemplo 6: Determine os índices de Miller para os
seguintes planos
(001) (101)
(110)
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Exemplo 7:Determine os índices de Miller para os seguintes planos
(011)
(a) (b)
(131)

(112)
(102)
(d)
(C)
(123)

(122) (111) (013)


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Aspectos importantes dos índices de Miller para os planos

1) Os planos e seus negativos são idênticos ( o que não ocorre com as


direções. Portanto, (020)= (020).

2) Os planos e seus múltiplos não são idênticos ( o que também difere


do que vimos com as direções). Podemos demonstrar esse fato
definindo as densidades planares e frações de empacotamento
planar;

3) Em cada célula unitária, as famílias de plano representam grupos


de planos equivalentes que têm índices específicos, devido à
orientação das coordenadas. Representamos esses grupos de planos
similares por meio da notação { }. De forma, as famílias de planos
{110} em sistemas cúbicos são (110), (101), (011),(110), (101) e (011).

4) No caso de sistemas cúbicos, uma direção com os mesmos índices de


uma plano é perpendicular a esse plano.
ARRANJOS ATÔMICOS
25

O arranjo atômico para um plano cristalográfico, depende da estrutura


cristalina. Os planos atômico (110) para as estruturas cristalinas CFC e
CCC, apresentam empacotamento atômico, densidade linear e planar
diferente. (110)

Célula unitária CFC, mostrando


o empacotamento atômico de
um plano 110.

(110)

Célula unitária CCC, mostrando


o empacotamento atômico de
um plano 110.
26

DIREÇÕES PARA O SISTEMA CCC

• No sistema CCC os átomos se


tocam ao longo da diagonal do
cubo, que corresponde a família
de direções <111>
• Então, a direção [111] é a de
maior empacotamento atômico
para o sistema CCC
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DIREÇÕES PARA O SISTEMA CFC

• No sistema CFC os átomos se


tocam ao longo da diagonal da
face, que corresponde a
família de direções <110>
• Então, a direção [110] é a de
maior empacotamento
atômico para o sistema CFC
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Densidade Atômica Linear (DL)

Definição: Número de átomos por unidade de comprimento


ao longo de uma direção considerada.

DL  L C

L l

Onde Lc- comprimento linear total que intercepta os círculos;


Ll- Comprimento linear dentro da célula unitária.
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Exemplo 8: Calcule a densidade linear para a direção [100] em
uma estrutura cristalina CCC e uma estrutura cristalina CFC.

DL  L C

L l

a
[100]
[100]

Dados
Aresta CFC Aresta CCC
4R
a  2R 2 a
3
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Densidade Atômica Planar (DP)

Definição: Número de átomos por unidade de área,


considerando que seus centros estão situados no plano em
questão.

DP  A C

A P

Onde:
Ac- Área total de círculos
Ap- Área planar da célula unitária
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Exemplo 9: Calcular a densidade planar para o plano na
direção [110] em uma estrutura cristalina CFC.

Ac- área total de círculos


Ap- área planar da célula unitária
DP  A C

A P

Dados:
Aresta da CFC Área do círculo=  r2
a  2R 2
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SIGNIFICADO DAS DIREÇÕES
CRISTALOGRÁFICAS
 O fato de saber como descrever tais direções pode ser útil em
varias aplicações:
· Para a deformação plástica
A deformação plástica (permanente) dos metais ocorre pelo deslizamento dos
átomos, escorregando uns sobre os outros no cristal. Os metais se deformam mais
facilmente nas direções onde os átomos estão mais compactados.
· Para as propriedades de transporte
Em certos materiais, a estrutura atômica em determinados planos causa o
transporte de elétrons e/ou acelera a condução nestes planos, e, relativamente,
reduz a velocidade em planos distantes destes.
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Sistemas de escorregamento para metais CFC, CCC e HC

Planos de Direções de N de sistemas de


Metais
Escorregamento Escorregamento Escorregamento
Cúbico de faces centradas

Cúbico de corpo centrado

Hexagonal compacto
Estruturas Compactas
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As estruturas cristalinas CFC e HC têm o mesmo FEA


(0,74), isso não é uma coincidência.

A seqüência de empilhamentos de planos cristalinos na


direção da diagonal do cubo da estrutura CFC e na direção
perpendicular à base da estrutura HC apresentam arranjos
atômicos de mesma natureza.

A diferença entre as duas estruturas concentra-se no


posicionamento dos átomos destes planos em relação a um
ponto de referência.
Estruturas Compactas
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B
C

Representação de uma fração de um


plano compacto de átomos; as
posições B e C estão indicadas.

Representação para a sequência de


empilhamento AB para planos
atômicos compactos.
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ESTRUTURA HEXAGONAL COMPACTA

Seqüência de empilhamento de planos compactos para a estrutura


hexagonal compacta.
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ESTRUTURA CÚBICA DE FACES CENTRADAS

(a) Seqüência de empilhamentos de planos compactos para a estrutura Cúbica de


faces centradas.
Estrutura Cristalina da compactação densa de 38
ânions
A medida que os planos são empilhados uns sobre os outros,
pequenos sítios intersticiais são criados entre eles, onde os cátions
podem ser alojados.

Três átomos em um plano e um único átomo Três íons em cada um dos planos e o
no plano adjacente. O cátion ocupa a posição cátion ocupa a posição intersticial
intersticial tetraédrica. octaédrica. Número de coordenação para
Número de coordenação para o cátion é 4. o cátion é 6.
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Exemplo10:O sulfeto de ferro (FeS) pode formar uma
estrutura cristalina que consiste em um arranjo HC de íons
S2-.

a) Qual o tipo de sítio intersticial que os íons Fe2+ irão ocupar?

b) Qual fração desses sítios intersticiais disponível será ocupada


pelos íons Fe2+?
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MATERIAIS CRISTALINOS E POLICRISTALINOS

• MONOCRISTALINOS: Constituídos por um único cristal em toda a


extensão do material, sem interrupções.

• POLICRISTALINOS: Constituído de vários cristais ou grãos, cada um


deles com diferentes orientações espaciais.
Diagramas esquemáticos dos vários estágios na solidificação de uma
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material policristalino
(b)
(a)

Crescimento dos cristalitos; a obstrução de alguns


Pequenos núcleos de cristalização. grãos que são adjacentes uns aos outros também é
mostrada.

(c)

Ao se completar a solidificação, ocorreu a A estrutura de grãos como ela apareceria


formação de grãos que possuem formatos em um microscópio. As linhas são os
irregulares. contornos de grãos.
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Anisotropia: Efeito de direcionalidade das propriedades devido à


variação do espaço atômico ou iônico em função da direção
cristalográfica. A magnitude e extensão dos efeitos de anisotropia em
materiais cristalinos são função da simetria da estrutura cristalina.
Ex. módulos de elasticidade, condutividade elétrica e índices de refração
diferentes nas direções [100] e [111].
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• Isotropia: materiais que apresentam propriedades idênticas


independentes de direções cristalográficas.

• Amostras policristalinas com orientações cristalográficas aleatórias se


comportam como isotrópicas. Por que?

• Quando os grãos apresentam uma orientação cristalográfica


preferencial, diz-se que o material policristalino, nesse caso, apresenta
textura.

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