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ABSTRACT
Brazilian railway modal suffer with a lack of good physical structure and logistic planning, besides the fact that
few efforts are made to solve the situation of this mode of transport so important for the economic development
of the country. The purpose of this article is to approach a major impasse for the integration of the Brazilian rail
network, such as for standardization from a physical structure standpoint, which is the issue of the track gauges
adopted by the concessionaires operating this type of service within the national territory, considering the
emergence and historical events involving this sector. Will be presented the mainly barriers caused by this
problem, that is, without an alternative that reconciles interests of all related parties. Besides, sought to relate
some measures, based on international experiences that might be helpful in solving or at least attenuation of
Brazil’s structural railway problems.
1. INTRODUÇÃO
Durante o Governo Imperial, foi autorizada a construção e exploração de estradas, através de
uma Carta Lei, com o intuito de promover uma interligação entre as regiões do Brasil. Em
relação ao incentivo à construção de estradas de ferro, as primeiras iniciativas datam de 1828.
Porém, apenas em 1835, por meio da Lei n° 101, foi consolidada a concessão com prazo de
40 anos para as empresas que se interessassem pela construção de estradas de ferro. Apesar
dos incentivos, não houve o resultado desejado devido à baixa perspectiva de lucros à
primeira vista. A inauguração da primeira ferrovia brasileira ocorreu somente em meados do
século XIX, mais especificamente em 1854, no estado do Rio de Janeiro, quando foi
implementada a Estrada de Ferro de Mauá, com um trecho de 14,5 km em bitola 1,68 m. Após
a implementação da primeira estrada de ferro, as seguintes ferrovias foram inauguradas, todas
em bitola 1,60 m: Recife ao São Francisco, D. Pedro II, Bahia ao São Francisco, Santos a
Jundiaí e Companhia Paulista. Posteriormente, até o final do século XIX, outras concessões
foram outorgadas em bitola métrica, são elas: Companhia Mogiana, Companhia Sorocabana,
Central da Bahia, Santo Amaro, Paranaguá a Curitiba, Porto Alegre a Novo Hamburgo, Dona
Tereza Cristina e Corcovado (DNIT, 2009).
Define-se como bitola a distância situada entre as faces internas dos trilhos medida
perpendicularmente ao sentido longitudinal da via (ALBUQUERQUE, 2011). Como podemos
observar, a diversidade de bitolas é um vício presente desde a construção das primeiras
ferrovias brasileiras, e que perduram até os dias de hoje, visto que a malha nacional atual
opera em bitola métrica (1,00 m), larga (1,60 m) ou mista, sendo esta última composta por
vias combinadas das duas anteriores em alguns trechos. Um exemplo semelhante, no qual
houve expansão ferroviária em bitolas diferentes, é o da América do Norte (Estados Unidos e
Canadá) entre os anos de 1830 e 1890. Conhecendo o histórico de outros países que já
sofreram com as dificuldades de integração e padronização em suas linhas férreas, torna-se
mais fácil a visualização de medidas que possam contribuir para o melhor funcionamento de
um setor ferroviário que se encontra em descompasso em relação à sua estrutura física, como
é o caso do Brasil.
Ao compreendermos o processo de origem das ferrovias brasileiras, é possível identificar as
principais causas que levaram à atual situação no que diz respeito à integração ferroviária
nacional. O objetivo deste trabalho é a seleção de técnicas que possam ser vantajosas para
solucionar os problemas estruturais do ponto de vista da unificação e da padronização das
bitolas ferroviárias. Ao final do artigo serão listadas algumas opções com potencial benefício
ao desenvolvimento do transporte ferroviário.
3. A DIVERSIDADE DE BITOLAS
Como foi mencionado anteriormente, a padronização de bitolas na construção de ferrovias já
era um fator desprezado, do ponto de vista de projeto e eficiência, desde a construção das
primeiras estradas de ferro brasileiras. Os padrões observados atualmente apontam para um
alto nível de competitividade, além de oferecer operações com qualidade que permitem maior
agilidade quanto à integração multimodal (CURI, 2009).
Entretanto, o sistema ferroviário nacional ainda carece de estudos e alternativas que atraiam,
tanto o Estado, quanto às empresas privadas atuantes no setor, no que se refere à unificação e
à padronização das bitolas. O problema desta diversidade data do século XIX, pois não havia
uma preocupação por parte do governo em coordenar esforços visando a padronização das
vias em relação às tendências mundiais. Observava-se, inclusive, um debate que buscava
definir qual das bitolas (métrica ou larga) seria a mais benéfica. A preferência pela bitola
larga se dava em função da maior velocidade operacional, além de permitir maior capacidade
de tráfego, enquanto a opção pela métrica era justificada pela maior facilidade das condições
geométricas e economia na construção (CURI, 2009; LANG, 2007).
De modo semelhante ao caso brasileiro, as medidas entre os trilhos adotadas na América do
Norte eram determinadas individualmente pelas companhias privadas, com algumas
regulações governamentais em alguns casos. Entretanto, o principal critério para a adoção de
uma determinada bitola por parte dos engenheiros era o embasamento em construções
anteriores executadas pelos mesmos. Como exemplo, tem-se o caso da Baltimore and Ohio
Railroad, cujos engenheiros responsáveis já haviam adotado a bitola padrão na construção das
primeiras ferrovias na região da Nova Inglaterra (PUFFERT, 2000).
A análise comparativa de possibilidades a serem estudadas para o caso brasileiro será feita em
relação às medidas adotadas na América do Norte, com foco no caso dos Estados Unidos. Tal
exemplo para comparação é favorecido pelo fator territorial, pois ambos os países possuem
dimensões continentais, o que requer uma malha consideravelmente maior que a de países de
menores extensões, como é o caso dos países da Europa Ocidental. Outro histórico a ser
analisado é o da Argentina, país com dimensões consideráveis, além de ser um importante
parceiro comercial do Brasil.
5.1. Unificação
O processo de unificação consiste na escolha de uma bitola que irá compor o sistema
ferroviário de uma região ou país. Um exemplo disso é o caso do Japão, o qual optou pela
unificação da maioria de suas bitolas em 1.067 mm no início do século XX, com exceção dos
trens-bala Shinkansen e algumas linhas em bitola padrão. Outro caso de unificação é o da
Finlândia, que adotou a bitola de 1.524 mm em sua rede (LACERDA, 2009). Dessa forma, a
unificação se difere da padronização pelo fato de não exigir uma medida específica, ficando a
cargo de cada administração a escolha da bitola que melhor se adeque a situação de sua
localidade.
5.1.1. Bitola mista
Esta medida consiste em alterações na via permanente, sendo utilizado um terceiro trilho que
possibilita a movimentação de conjuntos de locomotivas e vagões projetados com bitolas
diferentes em uma mesma via (Figura 1), sendo muito utilizado no Brasil em locais onde há
encontro das bitolas de 1.600 mm e de 1.000 mm. Porém, esse método requer grandes
investimentos e aumenta as interrupções de tráfego para sua implantação (DOMINGO et al.,
2018; SANTOS, 2011).
Outro ponto importante a ser levantado é o fato de a implantação de um terceiro trilho ser
desvantajosa para quem opera as vias de bitola larga. Isso acontece devido à facilidade de se
instalar bitola métrica em faixas mais largas, visto que o comprimento dos dormentes e a
largura de distribuição do lastro permitem tal ação. Já nas vias de bitola estreita isso não seria
possível, sendo necessária a substituição dos dormentes em operação por novos de maior
comprimento, além de maior custo para implantação de mais material para composição do
lastro e maiores movimentações de terra para cortes e aterros. Assim, a passagem de trens
com eixo de bitola métrica seria realizada em vias largas, não ocorrendo com mesma
facilidade para trens de bitola larga que necessitem passar por vias de bitola métrica
(LACERDA, 2009; PELLEGRIN, 2014).
Outra alternativa, ainda considerando um terceiro trilho, é o Novo Sistema de Implementação
do Terceiro Trilho. Neste modelo, um bloco de concreto que visa suportar o terceiro trilho
(Figura 2) é inserido entre os dormentes já assentados anteriormente. Este procedimento
alternativo apresenta a vantagem de evitar as interrupções e reduzir os custos de implantação,
visto que os dormentes já instalados ainda podem ser aproveitados (DOMINGO et al., 2018).
5.2. Padronização
Quanto ao processo de padronização, este se mostra inegavelmente mais difícil que a
unificação. Isso ocorre pelo fato de não haver sequer uma linha operando em vias
padronizadas dentro do território nacional atualmente. Isso impede que o Brasil parta do
mesmo ponto inicial observado na América do Norte no século XIX, onde a utilização da
medida padrão já era difundida em regiões inteiras, por exemplo.
Como já mencionado anteriormente, a bitola estreita apresenta a vantagem de menor custo de
construção, enquanto a bitola larga favorece maiores velocidades operacionais e capacidade
de carga. Por ser uma medida intermediária, a bitola padrão é uma grande vantagem para a
implantação de trens de alta velocidade, por exemplo, visto que a bitola métrica não comporta
tal operação e a bitola larga representaria um custo maior. Países como Espanha, Coreia do
Sul, Taiwan, Japão, entre outros, adotam a bitola padrão para seus trens de alta velocidade,
sendo esta uma opção atrativa para implantação desta tecnologia no Brasil (LACERDA, 2008,
2009).
6. CONCLUSÃO
Podemos concluir que o Brasil ainda necessita de grandes investimentos em seu setor
ferroviário, dada suas dimensões e sua posição no comércio internacional. Evidentemente, um
dos entraves é proporcionado pela adoção majoritária de bitola estreita, que restringe muito as
operações de carga. Já por volta de 1869, era considerada duvidosa a ideia defendida por
alguns engenheiros britânicos, cuja preferência se dava pelas bitolas estreitas, de que os custos
de construção e operação são proporcionais à bitola adotada (PUFFERT, 2000).
Consequentemente à necessidade de maiores investimentos, há de serem realizados maiores
estudos acerca do impacto da escolha da bitola que compõe as vias, dada a natureza de cada
uma. Este é um tema que não recebe a devida atenção desde o início da implantação das
ferrovias brasileiras, tendo trazido consequências até os dias atuais para esta modalidade de
transporte. Não necessariamente uma única medida pode ser adotada para a resolução desta
variedade, devendo-se levar em conta, também, que esse processo é algo a ser concretizado a
longo prazo.
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