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A VERDADE SOBRE A SEITA


TESTEMUNHAS
DE JEOVA
3

INTRODUÇÃO

Passa de 10 milhões o número de Testemunhas de


Jeová em todo o mundo. A seita tem cerca de 120 mil
congregações espalhadas em, aproximadamente, 240 países.
As Testemunhas de Jeová compõem uma religião que assegura
ser a única verdadeira e aprovada por Deus. Creem em Deus,
mas não admitem a Trindade. Não acreditam na Divindade de
Jesus, nem na do Espírito Santo. Não acreditam na existência
de espíritos, nem na existência de algum inferno antes do Juízo
Final. Para elas, o inferno será uma sentença de morte
definitiva e irreversível.

Uma Testemunha de Jeová considera apóstatas todos


aqueles que não fazem parte de sua religião. Considera-os
filhos do diabo, a quem a batalha do Armagedom está
reservada, onde Jeová os matará. Segundo a sua doutrina,
Deus exterminará exatos 99,9% da população da Terra,
condenando-os à aniquilação eterna. Restarão vivas apenas as
Testemunhas de Jeová.

Desde quando uma pessoa se converte e passa a ser


Testemunha de Jeová, aprende a considerar seus familiares e
4

amigos como más companhias, pelo fato destes não estarem


envolvidos também na religião. Procuram evitá-los, pois os
membros da seita passam a ser sua nova família. Isto
prejudica os laços familiares, além de fazer com que as
Testemunhas de Jeová percam a habilidade de fazer novas
amizades.

Elas possuem práticas e costumes excêntricos e, às


vezes, impiedosos, intolerantes e cruéis. Só quem está lá
dentro, ou quem já saiu de lá, sabe o que as Testemunhas de
Jeová passam.

Mas as Testemunhas de Jeová não são pessoas más.


Geralmente, são honestas e de boa índole. Quando elas batem
à sua porta, fazem-no por três motivos:

1) Levar um convite, para que você também se torne uma


delas e seja salvo da aniquilação no último dia. A intenção
é boa.
2) Garantir que elas também sejam salvas e não morram no
Armagedom. A salvação delas depende disto.
3) Cumprir a obrigação de estarem ali. Para continuarem
sendo membros da seita, têm que realizar esta tarefa.

As Testemunhas de Jeová não são autoras, nem


responsáveis pelas práticas hediondas da Torre de Vigia. Na
verdade, são vítimas da Organização. Tudo o que fazem é
5

porque são obrigadas a fazer. As Testemunhas de Jeová não


são culpadas destas coisas, pois não conhecem sua própria
seita. O passado podre e repleto de erros lhes é escondido.
Foram enganadas. Só lhes é revelado aquilo que a Torre de
Vigia quer que elas saibam.

A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados publica


duas revistas: Despertai! (nos dias 8 e 22 de cada mês) e A
Sentinela (nos dias 1 e 15 de cada mês). Ambas, em conjunto
com livros, brochuras e folhetos, funcionam como a Bíblia das
Testemunhas de Jeová. O que o Corpo Governante decreta é lei
de cumprimento obrigatório e inquestionável, cuja vigência
abrange toda a igreja das Testemunhas de Jeová.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................... 3

ESSÊNCIA DA SEITA TESTEMUNHAS DE JEOVÁ............... 11

Costumes e proibições da religião..................................... 19

DESMASCARANDO A HISTÓRIA........................................... 25

VERSÃO BÍBLICA.................................................................. 31

DIVINDADE DE JESUS.........................................................35

Hebreus, capítulo 1 ......................................................... 111

A idade de Jesus e a idade dos anjos.............................. 141

Data da criação dos anjos............................................... 147

Jesus é Miguel?............................................................... 155

Orar somente a Deus....................................................... 163

DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO..................................... 181

Trindade Santa................................................................. 203

Qualidades pessoais do Espírito Santo............................. 213

O MALFEITOR CRUCIFICADO.............................................225

O PEQUENO REBANHO E AS OUTRAS OVELHAS...............243

Diferenças entre os dois grupos....................................... 267

Os salvos habitarão nos céus............................................283

Os salvos do Velho Testamento também morarão no céu . 295


8

DISSOCIAÇÃO E DESASSOCIAÇÃO.................................... 299

PROFECIAS ERRADAS........................................................ 335

A Bíblia desclassifica estas profecias................................ 363

TRANSFUSÃO DE SANGUE.................................................381

Termo de responsabilidade...............................................387

Vacinas e transplantes de órgãos..................................... 391

Erros científicos escandalosos......................................... 399

O pacto de Gênesis 9 ........................................................ 415

Sangue é alimento?.......................................................... 419

Significado de sangue em Gênesis 9 ................................. 425

Flexibilidade na execução das ordens............................... 431

“Abster-se” de sangue.......................................................435

Nem mesmo comer sangue é pecado................................ 445

Sangue é o símbolo da vida...............................................459

Seguir a lei como os judeus..............................................467

Sem explicação................................................................. 469

Vida é sangue?................................................................. 475

COMO A MENTIRA É VISTA.................................................481

COMO É A VIDA DE UMA TESTEMUNHA DE JEOVÁ........ 489

Como vivem os filhos das Testemunhas de Jeová 517


9

FESTAS COMEMORATIVAS............................................... 535

CRUZ OU ESTACA?............................................................ 543

O NOME JEOVÁ................................................................. 557

CONCLUSÃO...................................................................... 563

BIBLIOGRAFIA................................................................... 567
10
11

ESSÊNCIA DA SEITA TESTEMUNHAS DE


JEOVÁ

Geralmente, as seitas têm muitas características em


comum, de forma que é possível identificar uma seita pelos
padrões de seus dogmas. E a religião Testemunhas de Jeová
possui similaridades inegáveis com as seitas.

Abaixo se relacionam algumas das características da


religião denominada Testemunhas de Jeová:

1) Seus líderes centrais, que estão na cúpula, possuem a


autoridade divina para decretar ordens e leis. São
considerados representantes de Deus na Terra. São
infalíveis e suas ordens devem ser obedecidas,
inquestionavelmente, como ao próprio Deus.
2) É uma seita exclusiva, afirmando que não existe salvação
eterna fora dela. Qualquer pessoa que não estiver inscrita
em seu rol de membros está condenada por Deus.
3) Afirma que seguir a Bíblia não basta para se adequar aos
padrões divinos. É necessário que o fiel busque
informações na literatura da seita, para complementar o
sentido da Bíblia, pois é a seita, e não a Bíblia, quem
12

determina o que é verdade e o que é mentira. De maneira


que a observância aos preceitos bíblicos é inútil, se o fiel
não seguir as orientações da seita.
4) Ao fiel é vetado o direito de pensar por si só, no que se
refere à pratica dos costumes e leis impostas pelo Corpo
Governante. Todos são obrigados a pensar de forma igual à
da cúpula, sem liberdade de expressão, sem dúvidas ou
objeções.

A liderança da igreja Testemunhas de Jeová não tolera


ser contrariada. Questionar seus ensinamentos é como
questionar o próprio Deus. Qualquer atitude que pareça ser
contrária ao pensamento infalível de seus líderes é considerada
deslealdade a Jeová, falta de compromisso, falta de fé, rebelião
contra Jeová.

Ao membro é permitido dizer qualquer coisa que seja


boa, “edificante”, sobre a Torre de Vigia e o Corpo Governante.
Mas, falar algo ruim é tão proibido quanto era proibido falar
mal de Hitler, quando o ditador era vivo, ou falar mal de César
Augusto, quando o imperador ainda vivia. Se alguém ao menos
mencionar publicamente a possibilidade da Torre de Vigia estar
errada em algum ensino, essa pessoa está sujeita a ser
classificada como apóstata e ser desassociada (excomungada).
13

Este é o chamado “silêncio piedoso”, no qual a pessoa


só pode abrir a boca se tiver alguma coisa boa para falar.
Constitui-se de mais uma técnica ditatorial de manipulação,
visando podar toda liberdade de expressão.

“Quão importante é que nunca levantemos a voz para


criticar amargamente a organização do Senhor ou seus
representantes designados. Jeová é o Juiz onisciente a quem se
deverá prestar contas por tais tipos de declarações e outras,
sem proveito. -- Mateus 12:36, 37; Levítico 19:16; Judas 8. Entre
os que desprezam o ensino de Jeová há indivíduos que criticam
a organização limpa de Jeová e suas regras que mantêm a paz e
a boa ordem,. Pouca diferença separa tais indivíduos dos
categoricamente rebeldes” (A Sentinela, 15 de novembro de
1984, p. 17, §13, 14).

A seita se faz vítima, afirmando que sofre perseguições


de todos os lados, por pessoas mal intencionadas, que querem
destruí-la. Considera tais pessoas e o resto do mundo como
“servos enviados de Satanás” .

“A fé das Testemunhas de Jeová sofre ataques de todos


os lados -- do clero da cristandade que odeia a mensagem do
Reino que levamos de casa em casa, de apóstatas que
colaboram com o clero da cristandade, de autoridades médicas
que querem impor transfusões de sangue a nós e a nossos
14

filhos, de cientistas ateus que rejeitam a crença em Deus e na


criação, e daqueles que tentam obrigar-nos a violar a nossa
neutralidade. Toda essa oposição é orquestrada por Satanás” (A
Sentinela, 1.° de dezembro de 1989, p. 12, §9).

A religião assume o título de detentora da salvação.


Somente por meio dela o homem consegue se achegar a Deus.
Neste ponto, ela se assemelha à igreja Católica Romana. E,
apesar das duas seitas serem parecidas, a Católica sofre
constantemente ataques da igreja Testemunhas de Jeová, por
vários motivos. A Torre de Vigia aponta, incessantemente, erros
das outras religiões, principalmente da igreja Católica. Mas
comete os mesmos erros de sua arqui-inimiga. Observe a
declaração da revista Despertai!:

“Intolerância Católica”

“A lei canônica católica declara: “Sustente mui


firmemente, e de nenhum modo duvide, que todo herético ou
cismático há de ter parte com o Diabo e seus anjos nas chamas
do fogo eterno, a menos que, antes do fim da vida, se incorpore,
e seja restaurado, à Igreja Católica”” (Despertai!, 8 de maio de
1984, pp. 4, 5).

“A Igreja Católica ocupa posição muitíssimo significativa


no mundo, e afirma ser o caminho da salvação para centenas de
milhões de pessoas. Qualquer organização que assuma tal
15

posição deve estar disposta a ser esmiuçada e criticada”


(Despertai!, 22 de dezembro de 1984, p. 28).

Como não percebem que estão falando de si mesmos? A


Torre de Vigia declarou que qualquer organização que assuma
a posição de afirmar ser o único caminho da salvação para
centenas de milhões de pessoas deve estar disposta a ser
esmiuçada e criticada. Então todas as religiões têm também o
direito de esmiuçar e criticar a igreja Testemunhas de Jeová,
que assevera ser o único caminho para a salvação, e que todas
as outras religiões levam à perdição.

A Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados é a


entidade legal das Testemunhas de Jeová. É vista como a
agência terrestre por meio da qual Deus torna conhecida Sua
vontade para toda a humanidade.

O Corpo Governante, composto de uma dezena de


anciões em Nova York, Brooklyn, é responsável pela redação
final ou aprovação de todos os ensinamentos e regras da Torre
de Vigia. Ele alega representar, literalmente, o “escravo fiel e
discreto” da parábola de Mateus 24.45.

Não se contenta em crer somente naquilo que está


escrito na Bíblia, mas tem que ficar fazendo emendas e criando
normas, segundo suas ideias próprias. Um pequeno grupo de
homens monopoliza em suas mãos o direito de interpretar qual
16

é a vontade de Deus. Assim como a igreja Católica, o Corpo


Governante afirma ser o único capaz de compreender as
Escrituras Sagradas.

Na verdade, o Corpo Governante é um tipo de Cristo


aqui na Terra. Serve como mediador entre Deus e os homens,
no lugar de Jesus. É como o Papa dos católicos, que substitui
Jesus na ausência física dEste no planeta. O Corpo
Governante tem o poder de criar normas e dizer que foi Deus
quem orientou. É ele que toma conta dos interesses de Deus
na Terra, como se Deus precisasse de humanos mortais para
resolver Seus assuntos aqui.

“Em primeiro lugar, os seguidores ungidos de Jesus, que


fazem parte da organização terrestre de Jeová, são
“embaixadores, substituindo a Cristo” [...] Note bem que eles
não são embaixadores e enviados dum mero governo humano e
de governantes pecaminosos. Representam a Jeová, seu
enaltecido rei espiritual Jesus Cristo e o poderoso reino de Deus.
Que privilégio inestimável! Naturalmente, para se servir e louvar
o Soberano Universal, é preciso associar-se com a organização
das testemunhas cristãs de Jeová. Considere também que só a
organização de Jeová, em toda a terra, é dirigida pelo espírito
santo ou a força ativa de Deus. (Zac. 4:6) Apenas esta
organização funciona para o propósito de Jeová e para o seu
louvor. Ela é a única para a qual a Palavra Sagrada de Deus, a
17

Bíblia, nao é um livro lacrado” (A Sentinela, 1.° de janeiro de


1974, pp. 17, 18, §3, 4).

A cúpula da igreja Testemunhas de Jeová se intitula


representante legal de Jeová, substituta de Cristo, (a Quem
eles chamam de Rei espiritual de Jeová) e única dirigida pelo
Espírito Santo (a Quem eles chamam de força ativa de Deus e
que nunca escrevem com letras maiúsculas). Deve ser por isto
que a seita se incomoda tanto com a igreja Católica, pois
ambas disputam o mesmo cargo no cristianismo.
18
19

Costumes e proibições da religião

As Testemunhas de Jeová possuem costumes bastante


peculiares e restrições absurdas. Abaixo se relaciona um
resumo deles:

1) Não podem fazer transfusão de sangue, nem doar sangue,


ainda que isto custe a vida delas ou de outras pessoas.
2) Não podem falar com ex-testemunhas de Jeová, nem
cumprimentar, nem manter qualquer contato, exceto o
estritamente necessário. As Testemunhas de Jeová são
obrigadas a discriminar e odiar todo aquele que sai, ou
aquele que ataca a doutrina delas, ou até mesmo os
membros da seita, se estes começarem a negligenciar os
costumes e obrigações.
3) Os homens não podem ter barba.
4) São obrigadas a crer em tudo o que a Torre de Vigia manda
crer. São obrigadas a não crer em tudo o que a Torre de
Vigia manda não crer. Não há liberdade de expressão, nem
de pensamento, nem de credo, nem de opinião. Ninguém
pode ter opinião independente, nem questionar nada do
que lhe é ensinado.
20

5) São proibidas de ler qualquer material religioso que não


seja os fornecidos pela Torre de Vigia. Não podem ler, nem
pesquisar, nem se informar de assuntos que sejam contra a
doutrina da seita. Até mesmo a Bíblia só pode ser lida, se
acompanhada do material dos dogmas da seita. A Torre de
Vigia tem uma versão bíblica própria, criada por ela. E esta
versão (toda alterada e adulterada) é a única que deve ser
lida.
6) Não podem comemorar os aniversários delas, nem de
outras pessoas. São proibidas de participar de qualquer dia
festivo, seja Natal, dia dos pais, dia das mães ou qualquer
feriado. Não podem enviar cartões de datas comemorativas,
nem felicitar alguém por alguma data, nem ao menos
soprar uma vela.
7) Não podem participar de atividades recreativas fora do ciclo
religioso.
8) Não podem fumar.
9) Não podem jogar, nem apostar.
10) Não podem namorar com alguém que não seja Testemunha
de Jeová. Não podem namorar até mesmo com uma
Testemunha de Jeová, se não estiver apto para se casar.
11) São obrigadas a participar de cinco reuniões por semana,
fazer vários tipos de atividades e pregações, dedicar várias
horas ao estudo de todo material fornecido pela Torre de
Vigia.
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12) Não podem desenvolver talentos pessoais, tais como


música, teatro, esportes e seguir uma carreira em qualquer
dessas áreas, pois isto atrapalharia a realização das tarefas
acima citadas e o serviço de pioneiro (serviço de pioneiro
significa pregar de porta em porta).
13) Não podem cursar numa universidade pelo mesmo motivo
acima.
14) Não podem aceitar cargos políticos.
15) Não podem votar (o voto tem que ser anulado, sem indicar
nenhum nome de candidato)1. Elas negam isto, afirmando
apenas que o voto é secreto.
16) Não podem fazer parte das Forças Armadas.
17) Não podem saudar a bandeira ou cantar o hino nacional.
Estas coisas são consideradas idolatria.
18) Não podem sair ou se desmembrar da seita.
19) Podem se divorciar por motivo do cônjuge estar
atrapalhando a Testemunha de Jeová a seguir as regras
acima. Neste caso, os filhos deverão ficar com a parte que
for Testemunha de Jeová. Os mesmos serão afastados o
máximo possível do outro cônjuge.

1 A Sentinela de 1.° de setembro de 1951, página 131; WatchTower, 15 de


outubro de 1973, pág. 627; A Sentinela, 15 de junho de 1978, pág. 14; A
Sentinela, 15 de novembro de 1964, pág. 692; A Sentinela de 1° de novembro
de 1999, página 29; Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho, edição
de 1991, páginas 140,141.
22

A infração de qualquer uma das regras acima sujeita a


Testemunha de Jeová a ser discriminada, a perder privilégios,
a julgamento a portas fechadas e à desassociação
(descomunhão, expulsão).

A respeito de campanhas políticas, se um aspirante a


ser Testemunhas de Jeová perguntar em quem uma delas irá
votar, a resposta será:

“Não posso dizer, pois o voto é secreto”.

A Organização não conta para ninguém que seus


membros são proibidos de votar, principalmente para os novos
convertidos, a fim de não lhes criar obstáculo a participar da
seita, e também com o objetivo de não responder juridicamente
por estar induzindo a violação da lei que obriga a votação. Por
isto, é mais seguro transmitir a informação oralmente, do que
por escrito. Mas há livros que somente os anciãos (pastores)
das igrejas têm acesso. E neles consta tudo o que não pode ser
registrado em publicações abertas aos membros. Um deles
proíbe terminantemente o voto, sob pena de banimento do
infrator: Prestai Atenção a Vós Mesmos e a Todo o Rebanho,
edição de 1991, páginas 140,141.

As Testemunhas de Jeová não podem votar, nem


trabalhar em campanhas políticas, nem serem candidatas a
cargos públicos. Uma verdade escondida é que elas anulam o
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voto. Entram na cabine de votação, fingindo serem eleitores


normais, mas com a premeditada decisão de anularem
secretamente o voto.

Se uma Testemunha for descoberta votando, ou


apoiando algum partido, será julgada e desassociada. Todas
sabem disto. Embora a proibição de votar não seja feita por
escrito, mas se torna bem clara verbalmente. As publicações da
Torre de Vigia a esse respeito são bem disfarçadas, a fim de
não fornecerem provas de que a Sociedade impede seus
membros de exercerem o dever de votar.

Deste modo, perderia o sentido uma pessoa que


pretende se tornar Testemunha de Jeová conversar com seus
familiares e amigos sobre política e sobre candidatos. Por isto,
ela não é informada de que, se ingressar na seita, será proibida
de votar. Esta é apenas uma das coisas que lhes são ocultas no
início, para não “espantar o freguês”.

Outra coisa que é escondida aos aspirantes a membros


é que as Testemunhas de Jeová são supervisionadas,
observadas rigidamente, e punidas nos casos em que a seita
julga ser cabível. Cada membro é vigia e delator de seu irmão.
Qualquer infração é comunicada aos anciãos da Organização.
Se alguém souber de um pecado e não comunicar, será punido
com a mesma intensidade que o praticante do pecado.
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A informação de que é proibido fazer transfusões


também é oculta aos novos membros. Os iniciantes são levados
a estudarem, por seis meses, um livro preparado especialmente
para eles. Neste livro só há coisas boas, não sendo reveladas as
verdades do que realmente significa ser uma Testemunha de
Jeová. É uma armadilha bem engendrada para capturar os
membros de forma lenta e gradual. Quando eles perceberem o
em que realmente estão se metendo, já estarão presos de forma
irreversível.
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DESMASCARANDO A HISTÓRIA

Um breve resumo.

Em 1879, com a idade de 27 anos, Charles Taze


Russell, fundador da Torre de Vigia de Bíblias e Tratados,
começou a publicar A Torre de Vigia de Sião e Arauto da
Presença de Cristo. Nasceu em Allegheny, Pensilvânia em
1852.

Foi criado como Presbiteriano e, mais tarde, afiliou-se à


Igreja Congregacional. Porém, por volta dos 16 anos de idade,
teve uma crise de fé e abandonou sua religiosidade. Ele tinha
começado a duvidar, não só dos credos e doutrinas da igreja,
mas também de Deus e da própria Bíblia. Cerca de um ano
depois, em 1869, recobrou a fé após assistir a um culto
Adventista, em uma sala na rua do comércio dos Russell. Ele
criaria seu próprio grupo no ano seguinte: “Estudantes da
Bíblia Internacionais”, nome pelo qual as Testemunhas de
Jeová eram conhecidas antes de 1931.

Ao longo de 10 anos, antes de iniciar a publicação de


artigos da A Sentinela, Russell estudou com um grupo
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dissidente dos Segundos Adventistas e foi fortemente


influenciado pelos seus ensinos contra a vinda corpórea de
Cristo e a imortalidade da alma humana.

Charles Taze Russell não cria na existência de espíritos,


nem na existência de algum inferno antes do Juízo Final. Esta
é até hoje a crença das Testemunhas de Jeová, herdada dos
Adventistas. Ele também era calvinista, ou seja, cria na
predestinação de Deus.

Russell se denominava (pensava que era) o “sétimo


mensageiro”, o anjo da sétima igreja de Apocalipse (Ap 3.14).

Porém, ao contrário do que muitos supõem, Russell


ensinava que o Senhor Jesus deveria ser adorado e que Ele não
é o arcanjo Miguel. E isto é o oposto do que a seita
Testemunhas de Jeová ensina hoje. Para o Corpo Governante
atual, Jesus não é Deus, mas apenas o arcanjo Miguel.

Russell também não era contra celebrar aniversários,


festividades e feriados. Isto só veio a ser proibido muito depois
de sua época para as Testemunhas de Jeová. Mas esta
informação também foi oculta pela Torre de Vigia.

Ele fazia ainda outras coisas que hoje não são


aprovadas pela seita Testemunhas de Jeová: não proibia comer
27

sangue, aceitava envolvimento militar, envolvia-se com o


ocultismo e assinava os livros de que era autor.

Russell estudava a grande pirâmide de Gizé, e baseava-


se nisto para fazer profecias2. Calculava o cumprimento dos
corredores e outras coisas para, com isto, tirar suas conclusões
acerca das previsões. Isto foi aceito e seguido pelos Estudantes
da Bíblia durante, aproximadamente, 50 anos.

O que a maioria não sabe é que seus ensinos sobre a


grande pirâmide de Gizé foram fortemente rejeitados em 1928
por Rutherford, seu sucessor, e também pelos presidentes
seguintes3. Rutherford lutou para a erradicação dos dogmas e
crenças de Russell. Desta forma, aquele que se intitulava
infalível e detentor da voz de Deus na Terra foi combatido e
contrariado pelos seus próprios sucessores no Corpo
Governante.

Até esconderam a biografia dele:

2 Livro: Thy Kingdom Come, volume 3 de Estudos das Escrituras, 1891.


3 The Watch Tower, 15 de Novembro de 1928, página 341, 344; The Golden
Age, 13 de Março de 1935, página 355; The Golden Age, 10 de Abril de 1935,
página 445; The Watchtower, 1 de Maio de 1935, página 142; The Watchtower,
15 de Maio de 1936, página 153; The Watchtower, 15 de Novembro de 1955,
página 697; The Watchtower, 15 de Maio de 1956, páginas 298-300.
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“Mas, é verdade que nunca publicaram uma biografia do


Pastor Russell? ... Isso mesmo. As Testemunhas de Jeová
admiram as qualidades que ele possuía como homem, mas se
fossemos dar a honra e o crédito ao Pastor Russell, estaríamos
dizendo que as obras e o sucesso foram seus, mas as
testemunhas de Jeová acreditam que é o espírito de Deus que
orienta e dirige o seu povo” (As Testemunhas de Jeová no
Propósito Divino, 1959, pág. 63).

Mas isto é uma mentira, pois a biografia de Russel já


fora publicada pelo livro O Plano divino das Eras, de 1886, logo
na primeira página, e recebeu nova edição em 1925. No
entanto, anos depois, a Torre de Vigia não quis mais que seus
fiéis conhecessem quem foi Charles Taze Russell, seu próprio
fundador.

O nome da religião “Testemunhas de Jeová” foi


escolhido em 1931, numa convenção na cidade de Columbus,
Ohio. A resolução se baseou em Isaías 43.10:

“Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, o meu


servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e
entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum
se formou, e depois de mim nenhum haverá” (Is 43.10).

Porém a decisão não foi muito acertada, pois o versículo


acima se refere aos israelitas, e não à igreja. A igreja é a noiva
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de Cristo4, assim como Israel era a esposa (infiel, na maioria


das vezes) de Deus5. Portanto, as verdadeiras testemunhas de
Jeová são os israelitas, enquanto que nós somos testemunhas
de Cristo:

“Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito


Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como
em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8).
“A este Jesus Deus ressuscitou, do que todos nós somos
testemunhas” (At 2.32). “Dessarte, matastes o Autor da vida, a
quem Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos
testemunhas” (At 3.15). “Então, vi a mulher embriagada com o
sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus;
e, quando a vi, admirei-me com grande espanto” (Ap 17.6).
“Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte
do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará
testemunho de mim.; e vós também testemunhareis, porque
estais comigo desde o princípio” (Jo 15.26,27). “Antes, porém,
de todas estas coisas, lançarão mão de vós e vos perseguirão,
entregando-vos às sinagogas e aos cárceres, levando-vos à
presença de reis e governadores, por causa do meu nome e isto
vos acontecerá para que deis testemunho” (Lc 21.14,13).

4 Mt 9.15; 25.1-10; Mc 2.19,20; Lc 5.34,35; Jo 3.29; Ef 5.25; Ap 19.7; 22.17.


5 Is 1.1,21; 47.7-9; 54.5,6; 66.7-9; Jr 3.1-13; 4.30,31; 22.20,22; Ez 16.3,7-63;
23.2-45; Os 2.1-12,16,19; 3.1-3; 9.1; Mq 4.9,10; 5.3; Ap 12.1.
30

Paulo também era testemunha de Jesus:

“Então, ele disse: O Deus de nossos pais, de antemão, te


escolheu para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires
uma voz da sua própria boca, porque terás de ser sua
testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens
visto e ouvido” (At 22.14,15).

João de igual forma:

“Eu, João, irmão vosso e companheiro na tribulação, no


reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada
Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de
Jesus” (Ap 1.9).

Antipas também:

“Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de


Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé,
ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual
foi morto entre vós, onde Satanás habita” (Ap 2.13).

Mas as Testemunhas de Jeová não querem ser


testemunhas de Jesus, não querem adorá-lO, nem orar a Ele.
E estão, a cada dia, escrevendo mais um capítulo tenebroso de
sua história. O que será que vão proibir agora? Quando será a
próxima data da previsão da vinda de Cristo?
31

VERSÃO BÍBLICA

Em 1950, a Sociedade Torre de Vigia lançou a sua


própria tradução da Bíblia, a Tradução do Novo Mundo, a qual
é vista pelas Testemunhas de Jeová como a mais exata e
imparcial tradução disponível. A Sociedade afirma que o
Comitê da Tradução do Novo Mundo foi composto de eruditos
altamente versados em grego.

São anônimos, e o motivo para não se identificarem é


que querem atribuir glória somente a Deus. Foi dito pelo
Comitê que o crédito da tradução deve ser dado a Jeová, e não
aos tradutores.

Entretanto, esta não foi verdadeira razão pela qual


foram escondidos os nomes dos membros do Comitê. Suas
identidades não foram reveladas para que ninguém
respondesse pelos erros grotescos (muitos deles intencionais,
para defender suas doutrinas). E, quando alguém se depara
com tais erros, procura saber a idoneidade dos tradutores,
para ver se, realmente, são gabaritados.
32

Não foram revelados os autores porque eles


compreendem um grupo de perfeitos patetas, leigos do grego e
hebraico, que são as línguas dos escritos originais bíblicos.
Eram totalmente desqualificados para realizarem a tradução.
Cinco dos seis membros do Corpo Governante que estavam no
Comitê não tiveram qualquer treinamento em grego e hebraico.
O sexto, Frederick William Franz, (ex-membro do Corpo
Governante e presidente da Torre de Vigia de 1977 a 1992)
acabou admitindo que frequentou a faculdade, mas não se
formou. Confessou que não fala hebraico e que não teve a
disciplina de tal idioma enquanto universitário. Franz não foi
capaz ao menos de traduzir para seu entrevistador o quarto
versículo do segundo capítulo de Gênesis, coisa que qualquer
amador iniciante seria capaz de fazer facilmente.

Observe então a base na qual se firmam os pilares da


religião Testemunhas de Jeová. Fundamentam-se numa versão
bíblica de péssima qualidade que, além de ter sido mal
traduzida, traz todos os tipos de adulterações propositais, com
o fim de não contrariar as heresias da seita. Procuraram, com
parcialidade e falta de escrúpulos, adaptar e moldar as
palavras da Bíblia aos ensinamentos da Torre de Vigia. E esta
versão bíblica continua sendo modificada e atualizada com o
passar dos anos, a fim de se defender de ataques doutrinários.
As últimas alterações foram as de 1986 e a de 2015.
33

Se um médico se recusasse a mostrar seus diplomas,


você confiaria em deixar que ele seja seu médico? Quanto mais
grave seria no que se refere à vida espiritual e eterna? Você
aceitaria ser guiado por uma versão bíblica, cujos autores se
negam a revelar sua identidade?
34
35

DIVINDADE DE JESUS

A falta de consideração que uma Testemunha de Jeová


tem por Jesus e pelo Espírito Santo é notória. Veja como são
grafados com letras maiúsculas nas versões bíblicas normais
que usamos:

“A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para


ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e
quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se,
lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se
transformem em pães” (Mt 4.1-3 RA).

Agora compare com a versão bíblica da Torre de Vigia:

“Jesus foi então conduzido pelo espírito ao ermo, para


ser tentado pelo Diabo. Depois de ter jejuado por quarenta dias
e quarenta noites, ele teve fome. Veio também o Tentador e
disse: “Se tu és filho de Deus, dize a estas pedras que se
transformem em pães.”” (Mt 4.1-3 TNM).

É de tirar o fôlego o tamanho do atrevimento! Jesus e o


Espírito Santo são grafados com letra inicial minúscula,
enquanto que o tentador e o diabo recebem letra inicial
36

maiúscula, sendo que a palavra “tentador” é, no grego, um


verbo (peirazo), e a palavra “diabo” é um adjetivo (diabolos)!
Nenhuma destas duas é substantivo próprio, o que aponta na
tradução proposta (com letras maiúsculas) dois erros
ortográficos gravíssimos.

As Testemunhas de Jeová não acreditam que Jesus é


Deus, mas sim um anjo específico: Miguel. E, para tentarem
obrigar a Bíblia a concordar com elas, sua versão bíblica
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas adulterou
os originais, como veremos adiante.

Na audácia de chamar Jesus de anjo, deram um


colossal tropeção e O chamaram até de demônio, sem saber
que estavam falando de um demônio:

“Leiamos: Jesus, como “anjo do abismo” e “Destruidor”,


deveras soltará um ai atormentador sobre a cristandade”
(REVELAÇÃO, Seu Grandioso Clímax Está Próximo!, p. 148
STV).

O texto bíblico de base é Apocalipse capítulo 9, onde há


dois anjos que merecem nossa atenção. Um deles é o que abriu
o abismo para que saíssem demônios de lá. O outro é o rei
daqueles demônios:
37

“O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída


do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela
abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de
grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se
o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra;
e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra [...]
E tinham sobre eles, como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome
em hebraico é Abadom, e em grego, Apoliom” (Ap 9.1-3,11).

Um é o anjo que tocou a trombeta, outro é a estrela


cadente que, tendo as chaves do abismo, abriu-o. E outro é o
anjo que estava no abismo: o rei dos demônios que subiram à
terra em forma de gafanhotos. Quanto a este, não há dúvidas,
é um demônio, pois era o rei dos gafanhotos. Além disto, estava
preso no abismo, coisa que só acontece com espíritos
malignos. Acrescenta-se também que o significado de seu nome
é “destruidor”.

Como Jesus poderia ser o anjo do abismo, se este


estava preso no abismo? O anjo do abismo é um demônio. Seu
nome é Abadom e Apoliom, que significa “destruidor”.

Já o anjo que caiu do céu, abrindo o abismo, é um anjo


de Deus. Note que ele estava no céu, e não no abismo.
Ademais, ele possuía as chaves do poço do abismo.
Provavelmente, é o mesmo anjo que aprisionará Satanás, no
38

capítulo 20 de Apocalipse. Mas o fato é que este anjo não foi


comparado a Jesus na publicação da Torre de Vigia, e sim o
“anjo destruidor”. Que descuido!

A confusão foi porque, no mesmo texto bíblico, aparece


também o anjo que tem as chaves. E, como Jesus é o dono das
chaves, foi confundido com ele. Mas este equívoco é duplo, pois
errou nos dois lados:

1) O anjo das chaves, que soltou o anjo do abismo, é diferente


do anjo do abismo, que estava preso. Um é o que soltou e
outro é o que estava preso. Jesus, infelizmente, foi
comparado ao que estava preso.
2) A chave do abismo não pertence ao anjo que soltou o outro,
mas apenas lhe será concedida durante a Grande
Tribulação. A posse da chave será delegada ao anjo que
cumprirá o simples papel de abrir a porta do abismo. Tal
abertura será autorizada por Aquele que lhe dará a chave.
Assim, segue-se que a real posse das chaves é de Deus e de
Jesus. Não é do diabo, nem do anjo do abismo, nem mesmo
do anjo “carcereiro”, o qual será meramente o portador da
chave. Se, por exemplo, um senhor possui um celeiro com
as chaves, é normal concedê-las a um funcionário para que
o mesmo realize tarefas. Assim também Deus não precisa
fazer tudo pessoalmente, visto que tem servos para isto.
Portanto, delegou as chaves do abismo para que um anjo
39

Lhe prestasse um serviço. Não significa que o anjo seja o


dono das chaves.

Mas Jesus não é Abadom, nem Miguel, nem outro anjo.


Ele é Deus, como vemos em Cl 2.9:

“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua


filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens,
conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo;
porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da
Divindade” (Cl 2.8,9).

Não tinha como o texto ser mais claro. Em Jesus habita


toda a plenitude da Divindade.

A palavra “plenitude” é pleroma, no grego, e dá a ideia


de preenchimento total, plenitude, abundância.

A palavra “Divindade” é, em grego: Theotes, que


significa, segundo o léxico de James Strong: “divindade; o
estado de ser Deus; Deus” .

Joseph Henry Thayer (1828 - 1901) foi um estudioso de


grego, autor do léxico grego-inglês de Thayer do Novo
Testamento. Ele afirma que a palavra grega usada aqui
40

(Theotes) significa literalmente: “divindade, o estado de ser


Deus, Deus”6.

É um vocábulo derivado de Theos (Deus). Theotes é


sinônimo de Theiotes, o qual se observa em:

“Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu


eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente
se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos
por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por
isso, indesculpáveis” (Rm 1.20).

Por esta razão, a Divindade de Cristo deve ser


reconhecida da mesma maneira que a Divindade do Pai.

Porém, a versão bíblica das Testemunhas de Jeová


traduz o versículo com menos peso:

“Porque é nele que mora corporalmente toda a plenitude


da qualidade divina” (Cl 2.9 TNM).

Ao invés de traduzir “Divindade” como as outras versões


bíblicas, a Tradução do Novo Mundo escreveu “qualidade
divina”. Mesmo assim não foi o suficiente para excluir a
Divindade de Cristo. Observe que o versículo mantém a
expressão “toda a plenitude”, que garante que tudo de Deus

The New Thayer’s Greek English Lexicon o f the New Testament, 1974 pg. 288.
41

está em Jesus. E, se atentarmos à nota de rodapé da Tradução


do Novo Mundo, veremos que a mesma admite que a palavra
grega Theotes significa Divindade.

No que diz respeito a Jesus ter essência Divina,


apreciemos este versículo:

“Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação


ser igual a Deus” (Fp 2.6).

De acordo com o texto, Jesus subsiste em forma de


Deus, apesar de não ser tão grande e poderoso quanto o Pai.
Jesus admite que o Pai é maior do que Ele (Jo 14.28). Mas,
mesmo assim, Jesus possui forma de Deus.

Jesus é Deus:

“Aguardando a bendita esperança e a manifestação da


glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13
RA).

Paulo afirmou que Jesus Cristo é nosso grande Deus e


Salvador. Mas esta frase foi violada pela Tradução do Novo
Mundo:

“Ao passo que aguardamos a feliz esperança e a gloriosa


manifestação do grande Deus e do nosso Salvador, Jesus
Cristo” (Tt 2.13 TNM).
42

A Tradução do Novo Mundo acrescentou a palavra “do”,


que não existe no original, para transmitir informação
enganosa. Com esta alteração, fica parecendo que o texto fala
de duas pessoas diferentes: o grande Deus e o Salvador Jesus.
Mas a leitura correta aponta para uma única pessoa, chamada
de grande Deus e Salvador.

Há alguns motivos para crermos que Pedro trata apenas


de uma única pessoa, que é Jesus:

1) Não existe a preposição “de”, nem o artigo “o” no versículo


original grego. Os mesmos foram inseridos traiçoeiramente
na versão bíblica das Testemunhas de Jeová.
2) A regra de Granville Sharp7 declara que, quando há dois
nomes, os quais não são nomes próprios, que estão
descrevendo uma pessoa, e os dois nomes são conectados
pela palavra “e”, e o primeiro nome tem o artigo “o”
enquanto que o segundo não possui, ambos os nomes estão
se referindo à mesma pessoa. A regra de Sharp é válida
apenas para singulares, não plurais; e não tem intenção de
ser aplicada a nomes próprios. É aplicada apenas a
pessoas, não coisas.

7 Granville Sharp, filho de Judith Wheler (d. 1757) e Thomas Sharp (1693­
1759), era um estudioso bíblico, um classista e um músico talentoso. Um dos
livros de Granville Sharp: R e m a rk s o n th e U ses o f th e D e fin itiv e A rtic le in the
G re e k T e x t o f th e N e w T esta m en t, 1774.
43

Foi o que aconteceu com Tt 2.13. A palavra “Deus” possui o


artigo e é seguida pela palavra “e”, ao passo que a palavra
“Salvador’ não tem o artigo. Pela regra, ambos os nomes se
referem à mesma pessoa, que é Jesus. Esta regra não
possui exceções, nenhuma sequer. Podem pesquisar e
tentar achar alguma falha, que não encontrarão.
3) O contexto fala de apenas uma pessoa, como se pode ver no
versículo seguinte:
“O qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de
toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo
exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14 RA).
Quem, de fato, entregou-se por nós, a fim de nos remir de
toda iniquidade e nos purificar? Jesus, obviamente.
4) O próprio versículo 13 esclarece de quem se está falando:
“Aguardando a bendita esperança e a manifestação da
glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt
2.13 RA).
A quem aguardamos? A Jesus. Quem há de se manifestar
(epiphaneia)? Jesus.

Portanto, o versículo não fala do Deus Pai, mas apenas


de Jesus, O qual foi chamado de grande Deus.

A regra de Granville Sharp também ocorre em cinco


passagens na segunda epístola de Pedro:
44

“Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que


conosco obtiveram fé igualmente preciosa na justiça do nosso
Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1 RA).

Jesus é Deus e Salvador ao mesmo tempo na frase.

Porém, a mesma adulteração foi feita na Tradução do


Novo Mundo:

“Simão Pedro, escravo e apóstolo de Jesus Cristo, aos


que adquiriram uma fé tão preciosa como a nossa por meio da
justiça do nosso Deus e do Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1
TNM).

Inseriram mais uma vez a preposição e o artigo onde o


original grego não comporta. E, de novo, o sentido da frase
passou a dizer que há duas pessoas diferentes: Deus e o
Salvador Jesus.

Outra construção frasal exatamente igual a esta se


encontra no versículo 11:

“Pois desta maneira é qpe vos será amplamente suprida


a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo” (2Pe 1.11).
45

Desta vez, como o versículo não chamou Jesus de Deus,


mas de Senhor, a Tradução do Novo Mundo resolveu concordar
com ele, sem deturpá-lo:

“De fato, assim vos será ricamente suprida a entrada no


reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.11
TNM).

Porém a formação gramatical original grega de 2Pe 1.11


é exatamente idêntica à de 2Pe 1.1, com a qual a Tradução
do Novo Mundo não concorda:


... tou theou hemon kai sotaros Iesou Christou” (2Pe
1.1).


... tou kuriou hemon kai sotaros Iesou Christou” (2Pe
1.11).

Veja que os originais dos dois versículos não diferem em


nada um do outro, exceto as palavras theou e kuriou (Deus e
Senhor). Todas as palavras são iguais e ordenadas da mesma
maneira. Então, se a Tradução do Novo Mundo concordou com
a tradução de 2Pe 1.11, obrigatoriamente, deveria concordar
também com a de 2Pe 1.1, que é igual. Sintaxicamente, assim
como 2Pe 1.11 diz que Jesus é nosso Senhor e Salvador, 2Pe
1.1 afirma que Jesus é nosso Deus e Salvador. É impossível
quebrar uma regra em apenas uma de duas frases idênticas.
46

Ou ambas concordam que “Senhor (ou Deus) e Salvador” são


qualidades de Jesus, ou ambas concordam que apenas
“Salvador” seja uma qualidade de Jesus. Porém, a TNM usou
critérios diferentes para interpretar frases iguais.

A segunda epístola de Pedro é tão pequena, mas possui


5 destas construções gramaticais. Além das duas vistas acima,
há estas três:

“Portanto, se, depois de terem escapado das


contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e
Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são
vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro” (2Pe
2.20). “Para que vos recordeis das palavras que, anteriormente,
foram dita.s pelos santos profetas, bem como do mandamento do
Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos [...] Antes,
crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no dia eterno”
(2Pe 3.2,18).

Nenhuma destas referências foi contestada, nem


adulterada pela Tradução do Novo Mundo. A Torre de Vigia
aceita que Jesus seja chamado de Senhor e Salvador, mas não
aceita que seja chamado de Deus e Salvador. Ela não admite,
nem mesmo, que a própria Bíblia o faça. Por isto, subiu a um
patamar superior ao dos Escritos Sagrados, elevando a palavra
47

do Corpo Governante acima da Palavra de Deus, julgando-se


no direito de alterar a Bíblia a seu bel prazer.

Mas é uma quebra de regra grotesca, apesar de


intencional, traduzir quatro expressões iguais de uma maneira,
enquanto traduz apenas um versículo de outra maneira
diferente, sendo que os cinco possuem a mesma composição
original.

Um versículo que as Testemunhas de Jeová usam para


tentar diminuir Jesus é este:

“Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de


todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça
de Cristo” (1Co 11.3).

Mas nós já sabemos que Deus é o cabeça de Cristo. Isto


não tira dEste a Divindade, nem faz dEle um ser distinto, como
um anjo. Ser o cabeça tem relação com liderança e com
superioridade, mas não implica em transformar as pessoas
envolvidas em seres diferentes. O próprio versículo afirma que
o homem é o cabeça da mulher. Contudo, a mulher também é
um ser humano como o homem. Ela não é de uma espécie
diferente, não é um símio inferior. Assim também, Jesus não
precisa ser um anjo para ter Deus como cabeça.

O mesmo se aplica a este texto:


48

“Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas,


então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as
coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos” (1Co
15.28).

O fato do Filho Se sujeitar a Deus não faz dEle um anjo.


Jesus é menor do que o Pai, mas continua sendo Deus. Veja
que Ele também Se sujeitava a Maria e José:

“E desceu com eles para Nazaré; e era-lhes submisso.


Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração” (Lc
2.51).

Jesus era submisso a seus pais carnais, mas não


significa que era inferior a eles. E a palavra original de Lc 2.51
é a mesma de 1Co 15.28: hupotasso. Por isto, não se pode
tentar tirar a Divindade de Jesus pelo fato dEle ser submisso
ao Pai.

Jesus é Deus Forte:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o


governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz” (Is 9.6).
49

As Testemunhas de Jeová admitem que o versículo


acima chama Jesus de Deus, porém alegam que é um deus
com letra minúscula, assim como vários deuses existentes:

“Porque, ainda que há também alguns que se chamem


deuses, quer no céu ou sobre a terra, como há muitos deuses e
muitos senhores, todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de
quem são todas as coisas e para quem existimos; e um só
Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós
também,, por ele” (1Co 8.5,6).

Até o diabo é chamado de deus:

“Nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos


incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus” (2Co 4.4).

Então, segundo a Torre de Vigia, Jesus não seria Deus,


mas meramente um deus.

Comparemos Isaías 9.6, que fala de Jesus, com Isaías


10.20,21, que se refere a Jeová:

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o


governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz” (Is 9.6).
50

“Acontecerá, naquele dia, que os restantes de Israel e os


da casa de Jacó que se tiverem salvado nunca mais se
estribarão naquele que os feriu, mas, com efeito, se estribarão
no SENHOR, o Santo de Israel. Os restantes se converterão ao
Deus forte, sim,, os restantes de Jacó” (Is 10.20,21). Ver também
Jr 32.18.

No capítulo 9.6, Jesus é chamado de Deus Forte e, no


capítulo 10.21, Jeová é chamado de Deus Forte. E os
vocábulos originais são exatamente os mesmos: ‘el (Deus), e
gibbowr (forte). Então os nomes dados a Jesus e a Jeová são
idênticos no original hebraico. Não há diferença entre ambos.
Somente pisoteando as Escrituras e a gramática seria possível
discernir que um Deus é diferente do outro nestas passagens.

Quando a Bíblia chama Jesus de Senhor, ou de Deus,


não exclui a pessoa de Jeová, que também é Senhor e Deus. De
igual modo, quando a Bíblia chama Jeová de Senhor, ou de
Deus, não exclui a pessoa de Cristo.

É a mesma coisa que acontece em 1Co 8.6:

“Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são


todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele”
(1Co 8.6).
51

Há um só Deus, o Pai. As Testemunhas de Jeová usam


o versículo para afirmar que Jesus não é Deus. Poderíam
também utilizar o mesmo versículo para assegurar que o Pai
não é Senhor, visto que o mesmo texto bíblico declara: “há um
só Senhor, que é Jesus”.

Mas a Bíblia insiste em dizer que Deus é Senhor, em


centenas de versículos. Portanto, a expressão “há um só
Senhor, que é Jesus” é metafórica. Do mesmo modo, a
expressão “há um só Deus, o Pai” não exclui Jesus.

O método das Testemunhas de Jeová de interpretar é


desonesto. Quando a Bíblia diz que só existe um Deus, que é o
Pai, elas entendem que Jesus não é Deus. Mas, quando a
Bíblia diz que só há um Senhor, que é Jesus, elas mudam a
forma de interpretar, a fim de não afirmarem que o Pai não é
Senhor. Seria mais justo se usassem o mesmo método para
todos os casos. Porque dizer que só existe um Deus não exclui
a pessoa de Cristo, nem dizer que só existe um Senhor exclui a
pessoa do Pai. Ambos são Deus e ambos são Senhor. Os dois
são um:

“Eu e o Pai somos um” (Jo 10.30).

“Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo,


ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em
teu nome, que me deste, para que eles sejam um assim como
52

nós [...] a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em
mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo
creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que
me tens dado, para que sejam um como nós o somos” (Jo
17.11,21,22).

Jesus e Deus formam um só. Os dois compartilham da


Divindade.

Porém, outra vez a Tradução do Novo Mundo adulterou


o texto bíblico. Veja diferença:

“A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em


mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo
creia que tu me enviaste” (Jo 17.21 RA).

“Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em
união comigo e eu estou em união contigo, para qpe eles
também estejam em união conosco, a fim de qpe o mundo
acredite que tu me enviaste” (Jo 17.21 TNM).

Ser um só é mais profundo do que, simplesmente, estar


em união. Mas a Torre de Vigia quis trazer essa ideologia, a fim
de aniquilar a possibilidade de se crer na Trindade. Porém, não
consta a expressão “união com” no original grego. Isto foi
invenção dos tradutores.
53

O mesmo aconteceu com os outros versículos de João:

“Mas, se faço, e não me credes, crede nas obras; para


que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e eu
estou no Pai” (Jo 10.38 RA). “Não crês que eu estou no Pai e que
o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo por
mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim,, faz as suas
obra.s. Crede-me que estou no Pai, e o Pai, em mim,; crede ao
menos por causa das mesmas obras” (Jo 14.10,11 RA).

Com a deturpação da tradução das Testemunhas de


Jeová, ficou assim:

“Mas, se eu as faço, mesmo que não acreditem em mim,,


acreditem nas obras, para que saibam e acreditem que o Pai
está em união comigo e eu em união com o Pai” (Jo 10.38 TNM).
“Você não acredita que eu estou em união com o Pai e que o Pai
está em união comigo? O que eu lhes digo não se origina de
mim,, mas o Pai, que permanece em união comigo, está fazendo
as Suas obras” (Jo 14.10,11 TNM).

Por que inseriram a palavra união, se ela não está no


original grego? Foi uma manobra estratégica para diminuir a
intimidade e semelhança entre Jesus e o Pai.

O Filho e o Pai são um. Veja que a Bíblia não Os


diferencia em certos casos:
54

“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o


Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja
de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At
20.28).

Quem comprou a igreja com seu próprio sangue: Deus


Pai ou Jesus? Jesus! E de quem é a igreja? Do Pai, ou do Filho,
tanto faz. O fato é que, ou Jesus foi chamado de Deus, ou
Jesus foi comparado ao Pai como sendo a mesma pessoa, pois
o versículo diz que Deus derramou Seu próprio sangue.

E este é mais um versículo adulterado pela Tradução do


Novo Mundo. Observe como ficou:

“Prestem atenção a si mesmos e a todo o rebanho, sobre


o qual o espírito santo os designou como superintendentes, para
pastorearem a congregação de Deus, que ele comprou com o
sangue do seu próprio Filho” (At 20.28 TNM).

No manuscrito grego não existe a palavra “Filho” . Só há


uma pessoa participante da compra, e não dois. O original
compara o Pai com o Filho, como se estivesse falando de uma
única pessoa. Mas a Tradução do Novo Mundo não admite que
ninguém diga que Jesus é Deus, nem mesmo a Bíblia. Por isto,
violou mais uma vez o original.
55

Voltando ao texto base, observe que Jesus não foi


chamado de um dos vários senhores que existe. Ele foi
chamado de único Senhor que existe. Não dá para negar isto
sem deturpar o versículo:

“Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são


todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele”
(1Co 8.6).

Jesus é o Senhor de todos:

“Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel,


anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo.
Este é o Senhor de todos” (At 10.36).

Mas, a Tradução do Novo Mundo adulterou o versículo:

“Ele enviou a palavra aos filhos de Israel, para declarar-


lhes as boas novas de paz por intermédio de Jesus Cristo: Este
é Senhor de todos íos demais]” (At 10.36 TNM 1986).

Foi enxertada a expressão “os demais”, para tentar


diminuir o tamanho do elogio “Senhor de todos”. Tal expressão
não está no original grego.

Jesus é mais do que Senhor. Ele é Senhor dos


senhores:
56

“Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os


vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão
também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (Ap
17.14). “Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir
as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e,
pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus
Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome
inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES” (Ap
19.15,16).

Para ser Senhor dos senhores e Rei dos reis é


necessário ser Deus. Nenhum anjo pode ser chamado destes
títulos, razão pela qual Jesus não é um anjo.

Entretanto, a Tradução do Novo Mundo também


adulterou este versículo, ficando assim:

“Estes batalharão contra o Cordeiro, mas, porque ele é


Senhor dos senhores e Rei dos reis, o Cordeiro os vencerá.
Também [o farão] com ele os chamados, e escolhidos, e fiéis” (Ap
17.14 TNM).

O mal intencionado Comitê de tradutores inseriu as


palavras “porque” e “ele”, não constantes no original. E assim,
quando se lê “porque ele”, refere-se a Jeová.
57

Também mudou a ordem em que o Cordeiro aparece na


frase, ficando depois da expressão “Rei dos reis” . Isto fez
parecer que existem duas pessoas: o Rei dos reis e o Cordeiro.
Neste caso, o Cordeiro não é o Rei dos reis. Mas Jeová,
chamado de “Ele” no versículo, é quem ostenta o título.

Nós sabemos que Deus é Senhor dos senhores e Rei dos


reis (Dt 10.17). No entanto, Jesus também é, como se ilustra
claramente em Ap 17.14. Mas a Torre de Vigia deturpou o
versículo para dar exclusividade ao Pai.

Assim não dá! Eu já combati várias heresias evangélicas


e de outras religiões, onde seus defensores fazem a Bíblia dizer
o que eles querem que ela diga. Mas, no caso das Testemunhas
de Jeová, é literal! Elas, literalmente, pegam a borracha e a
caneta e obrigam a Bíblia dizer o que elas querem!

A gravidade deste erro é comparada a um carteiro que


abre a carta e lhe altera o teor, antes de entregá-la ao
destinatário. Desta forma, este recebe uma carta adulterada. E,
pensando que está lendo uma mensagem do emitente, está, na
verdade, lendo uma mensagem do carteiro.

Deste modo, podemos afirmar seguramente que as


Testemunhas de Jeová obedecem à Bíblia, mas somente à
Bíblia delas, e não aos escritos originais. Construíram sua
própria Bíblia, para a seguirem, parecendo-se com os idólatras
58

do Velho Testamento, que construíam seus próprios deuses.


Qual seria a vantagem de me curvar diante de um deus falso
que eu mesmo criei? Outrossim, qual é a vantagem de seguir
uma bíblia falsa confeccionada por homens? Por acaso,
fazendo isto, estariam seguindo a Deus? Não. Estariam antes
seguindo aos homens.

A versão bíblica da Torre de Vigia, melhor seria


chamada de perversão do que de versão. Seus tradutores e
editores pagarão muito caro por alterarem assim as palavras
de Deus (Ap 22.18,19; Pv 30.5,6).

A mesma estratégia que a Torre de Vigia usou para


deturpar Isaías 9.6, que chama Jesus de Deus Forte, foi
aplicada também no Evangelho de João:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o


Verbo era Deus [...] Ninguém jamais viu a Deus; o Deus
unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.1,18).
“Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu!” (Jo 20.28).

A seita admite que Jesus é Deus, mas com letra


minúscula, assim como os inúmeros deuses existentes. Jesus
seria um deus, e não o Deus. Mas observe, no último versículo
acima, que Tomé chamou Jesus de “o Deus”, e não de “um
deus”. Se fosse um deus, Tomé não O teria reverenciado.
59

Entretanto, para deixar clara a posição da Torre de


Vigia, a Tradução do Novo Mundo até modificou um pouco,
transcrevendo com letras minúsculas:

“Nenhum homem jamais viu a Deus; o deus unigênito,


que está ao lado do Pai, é quem O revelou” (Jo 1.18 TNM).

Mas não era necessário escrever “deus unigênito”, com


iniciais minúsculas, visto que a palavra “Deus” nem ao menos
está no original, onde se registra: “Filho unigênito”. O Comitê
de tradutores nem percebeu isto, o que prova que não tem
intimidade com o original grego.

Mas a Torre de Vigia ainda apresenta outra queixa


contra João 1.18:

“Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está


no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1.18).

A Bíblia diz que ninguém viu Deus, ao passo que Jesus


foi visto. A solução para o paradoxo seria afirmar que Jesus
não é Deus.

Porém, isto não significa que Jesus não seja Deus. Em


primeiro lugar, porque Ele fora visto apenas quando nasceu da
virgem com corpo humano, com a intenção proposital de ser
visto. Em segundo, quando se diz que ninguém viu Deus,
60

refere-se ao Deus Pai. O Deus Filho pode ser visto. Por estas
razões, o fato de ninguém ver Jeová, mas ver Jesus, não tira a
Divindade de Jesus, pois Eles são um.

Quanto a João 1.1, houve nítida adulteração. Veja a


diferença entre o original e o da Tradução do Novo Mundo:

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o


Verbo era Deus” (Jo 1.1 RA).

“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava com


Deus, e a Palavra era um deus” (Jo 1.1 TNM).

O artigo indefinido “um” não existe no original grego


deste versículo. Mas foi inserido desonestamente, com o intuito
de enganar os leitores. Pode-se dizer que se trata de uma
mentira, e não de um equívoco, visto que foi proposital.

A Torre de Vigia admite que inseriu o artigo “um” sem


que ele exista no original. Mas se justifica, dizendo que o fez
pelo fato de não ter o artigo “o” adjunto à palavra Deus. Na
primeira ocorrência de “Deus” há o artigo definido “o”,
enquanto que, na segunda ocorrência, não há nada. Por isto,
os tradutores se viram no direito de inserir o artigo indefinido
“um”, a fim de diferenciar as duas palavras “Deus” contidas no
versículo.
61

Esta não é uma maneira prudente, tampouco


responsável de se traduzir esse tipo de texto. Para demonstrar
isto, analisemos o versículo abaixo:

“Sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e


que ele viera de Deus, e voltava para [o] Deus” (Jo 13.3).

Está escrito que Jesus veio de Deus e voltou para Deus.

Assim como em João 1.1, aqui há duas vezes a palavra


“Deus”, sendo que apenas uma delas possui o artigo “o”. Mas é
óbvio que, mesmo assim, trata-se do Deus verdadeiro nos dois
casos. Jesus veio de Deus e voltou para o mesmo Deus.
Portanto, a ausência do artigo não nos dá o direito de
pensarmos que se trata de um deus qualquer. Se a Tradução
do Novo Mundo fizesse com este versículo o mesmo que fez
com João 1.1, ficaria assim:

“Sabendo este que o Pai tudo confiara às suas mãos, e


qpe ele viera de um deus, e voltava para Deus” (Jo 13.3).

Jesus teria vindo de um deus qualquer e voltado para o


Deus verdadeiro. Não teria a menor lógica. E isto prova que
está errada essa maneira de inserir artigo indefinido quando
não há artigo definido.
62

E casos como estes são abundantes na Bíblia. Para


encontrar mais versículos de Jeová sendo chamado de Deus
sem artigo nem precisamos sair do capítulo 1 de João:

“Houve um homem enviado por Deus cujo nome era João


[...] Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu
nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da
carne, nem da vontade do homem, mas de Deus [...] Deus nunca
foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai,
esse o revelou” (Jo 1.6,12,13,18).

Não tem artigo em nenhuma das ocorrências acima.


Mas, nem por isto, Jeová passa a ser um deus comum.

No Novo Testamento, existem 245 versículos como


estes, em que Jeová está sendo chamado de Deus sem artigo.
Não vou escrever todos aqui porque são muitos:

Mt 4.4; 5.9; 6.24; 12.28 (Espírito de Deus); 14.33;


19.26; 22.32 (Deus dos mortos); 27,43,46,54; Mc 11.22; 12.27
(Deus de vivos); 15.39; Lc 1.35,78; 2.14,40,52; 3.2; 4.4; 11.20
(dedo de Deus); 12.21; 16.13; 20.38; Jo 1.6,12,13,18; 3.2,21;
6.45; 8.54; 9.33; 10.33; 13.3 (saído de Deus); 16.30; 19.7;
20.17; At 5.29,39; 7.55 (glória de Deus); 12.22; At 20.28; Rm
1.1,4,7,16,17,18,19; 2.17; 3.5,18,21,22; 4.17; 7.25 (Lei de
Deus); 8.7 (contra Deus); 8.8,9,14,16,17,27,33; 9.5,16,26;
63

10.2,17; 11.22,33; 13.1 (não venha de Deus); 13.4,6;


15.7,8,19,32; 16.27; 1Co 1.1,3,18,24,30; 2.5; 2.7 (sabedoria de
Deus); 3.7,9; 3.16 (templo de Deus); 3.23; 4.1; 6.9,10,19;
7.7,19,24,40; 8.4,6; 9.21; 10.20,31; 11.7; 12.3,6; 15.10 (graça
de Deus); 15.34,50; 2Co 1.1 (vontade de Deus); 1.2; 1.3 (Deus
de toda consolação); 1.12; 1.20 (promessas de Deus); 1.21;
2.17 (como de Deus); 3.3; 5.1,5,11,13,19,21; 6.4,7,16;
7.1,9,10; 8.5; 11.2; 13.4; Gl 1.1,3; 2.6,19; 3.26; 4.7,8,9,14;
5.21; 6.7; Ef 1.1,2; 2.8; 4.6; 5.5; 6.17,23; Fp 1.2,11,28;
2.6,11,15; 3.3; Cl 1.1,2; 1Ts 1.1,4; 1.9 (Deus vivo); 2.5; 2.13
(Palavra de Deus); 2.15; 4.1,16; 5.18; 2Ts 1.1,2,6,8; 1Tm
1.1,2,4,11,17; 2.3,5; 3.5,15,16; 4.4,5,10; 2Tm 1.1,2,8; Tt
1.1,2,3,4,7,16; 2.10; 3.4,8; Fm 1.3; Hb 1.6; 2.9; 3.4,12;
6.1,5,18; 8.10; 9.14 (Deus vivo); 10.31; 11.13; 11.16 (chamar
seu Deus); 12.22,23; Tg 1.1,5; 1.13 (Deus sou tentado);
1.20,27; 1Pe 1.2,5,21,23; 2.4,5,10,16,19,20; 3.5,21; 4.2,6,10;
4.11 (oráculos de Deus); 2Pe 1.17,21; 1Jo 3.1,2; 4.12 (viu a
Deus); 2Jo 1.3,9; Jd 1.21,25; Ap 7.2; 21.7.

No Novo Testamento existem 245 versículos em que a


palavra Deus se refere ao Pai e, mesmo assim, não possui
artigo. O número total seria ainda maior, pois alguns
versículos possuem duas ou três ocorrências. Isto quer dizer
que, se a forma de interpretar da Torre de Vigia fosse correta,
seriam 245 motivos para pensarmos que Jeová não seja o Deus
64

Todo Poderoso, mas sim um deus qualquer. E isto seria um


absurdo!

Em todos estes 245 casos em que não há o artigo


definido “o” na palavra “Deus”, trata-se do Deus Todo Poderoso
com letra maiúscula. Então porque somente em Jo 1.1 seria
diferente? É uma discriminação tendenciosa e injustificável,
visando obrigar a Bíblia a concordar com ideologias pessoais de
um grupo religioso.

Possuir ou não o artigo é uma questão de critérios


sintáticos. São critérios que têm relação direta com o contexto
adjacente na frase, e não exatamente com a identidade de
Deus. Por exemplo, quando se fala da glória de Deus, ou da
vontade de Deus, geralmente, não tem artigo; quando se diz
“Filho”, ou “filhos de Deus”, não há artigo; quando se lê “da
parte de Deus” e também “Deus Salvador” não tem artigo;
quando se diz “Deus vivo”, geralmente, não há artigo. Outras
expressões também podem causar a ausência do artigo, como
“servos de Deus”, “poder de Deus”, “fé em Deus”, “graça de
Deus”. Quando o original diz “Espírito de Deus”, pode ter dois
artigos (um para cada palavra), ou pode ter somente na palavra
“Espírito”, ou pode não ter nenhum.

O Deus é o mesmo, mas possui artigo em algumas


ocasiões, enquanto que em outras não, por causa da exigência
65

da sintaxe grega. Por isto, não devemos pensar que, se a


palavra “Deus” não tiver o artigo, trata-se de um deus falso.
Esta é uma possibilidade, mas não uma regra. Muito pelo
contrário, geralmente, quando a Bíblia chama o Senhor de
Deus vivo, não possui o artigo:

“E no lugar em que se lhes disse: Vós não sois meu povo,


ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo” (Rm 9.26). Pois
eles mesmos, no tocante a nós, proclamam que repercussão teve
o nosso ingresso no vosso meio, e como, deixando os ídolos, vos
convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro”
(1Ts 1.9). “Para que, se eu tardar, fiques ciente de como se deve
proceder na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, coluna e
baluarte da verdade” (1Tm 3.15). Ver também: Mt 22.32; Mc
12.27; Lc 20.38; 1Tm 4.10; Hb 3.12; 9;14; 10.31; 12.22; Ap
7.2.

O original é zao (verbo viver). Quando o verbo possui


artigo, a palavra “Deus” também possui (Mt 16.16; 26.63; At
14.15). Mas sempre quando falta artigo no verbo “viver”, falta
também em “Deus”. Deus vivo é o oposto de deus falso. Mas
está sem o artigo, o que contraria a regra de tradução
inventada pela Tradução do Novo Mundo.

Quanto a João 1.1, que a TNM inseriu a palavra “um”


antes de “Deus”, esta é a sua grafia original:
66

και θεός ήν ό λόγος (e Deus era o Verbo).

Só há estas palavras, e exatamente nesta ordem.

Existe uma regra do idioma grego de concordância


regencial dos verbos de ligação: quando o predicativo nominal
(no caso, Deus) vem antes do verbo (no caso, ser), antecedendo,
portanto, ao sujeito (no caso, Verbo), dispensa-se o artigo
definido. Desta feita, a falta de artigo não traz prejuízo à
“Divindade” do sujeito, mas sim representa uma observância à
regra gramatical. Se o próprio Deus Jeová estivesse ali descrito,
também viria sem o artigo.

É possível também encontrar a palavra Deus, referindo-


se a Jeová, com o acompanhamento da palavra “um” no
original:

Jeová sendo chamado de um Deus:

“Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são


todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também, por ele”
(1Co 8.6). “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age
por meio de todos e está em todos” (Ef 4.6).

E observe que Jesus já foi chamado de Deus com


artigo:
67

“Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu e [o] Deus meu!” (Jo


20.28).

Se existe o artigo na palavra “Deus”, que é dirigida a


Jesus, qual razão teria para que Ele seja considerado um deus
qualquer? Que artimanha da Torre de Vigia seria capaz de
modificar este versículo?

Tomé não acreditava que a pessoa que os apóstolos


tinham visto era o Senhor Jesus. Mas, quando Tomé O viu,
admitiu e O chamou pelas credenciais “Senhor meu e Deus
meu”, mostrando que O havia reconhecido. E a palavra “Deus”
possui o artigo no original.

Isto não quer dizer que Jesus seja o próprio Pai, mas
sim que seja Deus, assim como o Pai. São duas pessoas
diferentes, mas com essência Divina.

Essa regra criada pela Torre de Vigia, que diz que um


substantivo sem artigo é indefinido, não é real. O fato de um
nome não ter artigo não transforma esse nome em algo
comum. Por exemplo, nomes próprios não passam a ser
indefinidos pela falta de artigo:

“Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho


amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos
em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja”
68

(1Co 4.17). “Não tive, contudo, tranquilidade no meu espírito,


porque não encontrei o meu irmão Tito; por isso, despedindo-me
deles, parti para a Macedônia” (2Co 2.13). “Contudo, a respeito
dele, nada tenho de positivo que escreva ao soberano; por isso,
eu o trouxe à vossa presença e, mormente, à tua, ó rei Agripa,
para que, feita a arguição, tenha eu alguma coisa que escrever”
(At 25.26).

Os substantivos próprios, às vezes, têm artigo:

“Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou


a [o] Filipe, não o vendo mais o eunuco; e este foi seguindo o seu
caminho, cheio de júbilo” (At 8.39). “A seguir, Agripa, dirigindo-
se a [o] Paulo, disse: É permitido que uses da palavra em tua
defesa. Então, [o] Paulo, estendendo a mão, passou a defender-
se nestes termos” (At 26.1).

Mas a presença do artigo não é uma exigência de nomes


próprios. Eles continuarão sendo próprios e definidos,
independentemente de terem o artigo. A falta do artigo não tem
força para tornar um substantivo definido em indefinido. Pelo
contrário, os substantivos indefinidos são os que mais têm o
artigo, como se pode ver no mesmo versículo que acabamos de
ler:
69

“Quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou


a Filipe, não o vendo mais o eunuco; e este foi seguindo o seu
caminho, cheio de júbilo” (At 8.39).

E agora que já conhecemos um pouco sobre esse tipo de


construção frasal, voltemos à lógica do argumento. A Torre de
Vigia assevera que Jesus não é o Deus Todo Poderoso, e sim
um deus qualquer. Cabe aqui a pergunta:

“Existem quantos deuses verdadeiros?”

Prontamente as Testemunhas de Jeová responderiam:

“Existe somente um Deus, que é Jeová”.

Então isto quer dizer que os outros deuses são falsos?


Jesus é um deus falso, assim como o diabo?! Se Jesus não é o
Deus verdadeiro, logo seria um dos deuses falsos criados por
Satanás!

De fato, só existe um Deus:

“Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, o meu


servo a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e
entendais que sou eu mesmo, e que antes de mim deus nenhum
se formou, e depois de mim nenhum haverá” (Is 43.10). “Não
vos assombreis, nem temais; acaso, desde aquele tempo não vo-
lo fiz ouvir, não vo-lo anunciei? Vós sois as minhas testemunhas.
70

Há outro Deus além de mim? Não, não há outra Rocha que eu


conheça” (Is 44.8). “Quem desde aquele tempo o anunciou?
Porventura, não o fiz eu, o SENHOR? Pois não há outro Deus,
senão eu, Deus justo e Salvador não há além de mim. Olhai
para mim e sede salvos, vós, todos os limites da terra; porque eu
sou Deus, e não há outro” (Is 45.21,22). “E a vida eterna é esta:
que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo,
a quem enviaste” (Jo 17.3). “No tocante à comida sacrificada a
ídolos, sabemos que o ídolo, de si mesmo, nada é no mundo e
que não há senão um só Deus [...] Todavia, para nós há um só
Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem
existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as
coisas, e nós também, por ele” (1Co 8.4,6). “Há um só Senhor,
uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é
sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4.5,6).
“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os
homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm 2.5).

Segundo a Bíblia, se só existe um Deus verdadeiro, os


demais são, necessariamente, falsos.

Percebem que não é possível contradizer Isaías e João,


sem colocar Jesus no time do diabo? Porque, se dissermos que
Jesus é um deus comum, automaticamente, estaríamos
afirmando que Ele é um deus falso. O mais correto seria
concordar com os versículos e reconhecer que os mesmos
71

atestam a Divindade de Cristo, fazendo-o Deus verdadeiro,


formando unidade com o Pai.

Enquanto as Testemunhas de Jeová, sem querer, dizem


que Jesus é um deus falso, veja o que diz a Bíblia:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único


Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

João afirmou que Jeová é o único Deus verdadeiro.

E o que João disse sobre Jesus? Ele é Deus verdadeiro


ou deus falso? Aqui está a resposta:

“Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem


dado enten.dim.ento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos
no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo. Este é o verdadeiro
Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20 RA).

João disse que Jesus é Deus verdadeiro, e não um deus


falso. Não somos politeístas, para crer em vários deuses. Só
existe um Deus verdadeiro, na pessoa da Trindade.

Mas a Tradução do Novo Mundo, novamente adulterou


o versículo, fazendo-o assim:

“Mas, sabemos que o Filho de deus veio e nos deu


capacidade intelectual para podermos obter conhecimento do
72

verdadeiro. E nós estamos em união com o verdadeiro, por meio


do seu Filho Jesus Cristo. Esse é o verdadeiro Deus e a vida
eterna” (1Jo 5.20 TNM).

As alterações dos originais são bem sutis, para não


chamarem muita atenção. A Torre de Vigia quer, através de
alterações da Bíblia, ocultar suas heresias, mas sem espantar
o freguês. Por isto, modifica somente pequenos detalhes, a fim
de que ninguém perceba a malícia de sua tradução.

No primeiro exemplo, na versão Revista e Atualizada de


Almeida, há duas frases que dizem que Jesus é o verdadeiro:

Primeira frase:


... e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo”
(RA).

Está claro que Jesus foi chamado de verdadeiro aqui.


Todavia, com a modificação da Tradução do Novo Mundo, ficou
assim:

"... estamos em união com o verdadeiro, por meio do seu


Filho Jesus Cristo” (TNM).

Note que Jesus não é mais o verdadeiro, segundo a


TNM. A expressão “por meio de” faz de Jesus uma mera
ferramenta para que estejamos em união com o Pai, que é o
73

verdadeiro. Tal expressão não consta no texto original, nem


passou perto de lá. E o Comitê de tradutores da versão TNM
sabia perfeitamente disto. Também não há a palavra “com” no
original. Ao invés dela, existe duas vezes a preposição “em”, as
quais foram omitidas na TNM. Uma delas foi trocada pela
palavra “com”, e a outra, pela expressão “por meio de”.

Não se discute que Deus também seja verdadeiro. Mas o


texto em questão afirma que Jesus é verdadeiro, o que está
sendo ocultado pela TNM.

Segunda frase:

“Este é o verdadeiro Deus” (RA).

“Esse é o verdadeiro Deus” (TNM).

A Bíblia da Torre de Vigia preferiu traduzir como “esse”,


que é um pronome que se refere à pessoa ou termo mais
distante na frase. E o pronome “este” se aplica ao sujeito mais
próximo, que, no caso, é Jesus.

O fato é que Jesus está sendo chamado de Deus em


diversas partes da Bíblia. Mas, se as Testemunhas de Jeová
dizem que Ele é deus com letras minúsculas, é correta uma
das duas opções: ou estão dizendo que são politeístas (que
74

creem em vários deuses verdadeiros), ou estão afirmando que


Jesus é um deus falso, ou um ídolo pagão.

Na lista de adulterações da TNM, aqui vai mais um


versículo:

“Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu


o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9).

“Por essa razão, Deus o enalteceu a uma posição


superior e lhe deu bondosamente o nome que está acima de todo
outro nome” (Fp 2.9 TNM).

Que necessidade há de adulterar a Palavra de Deus


para informar que o nome de Jesus não é maior do que o nome
de Jeová? Todos já sabem disto. O comitê de tradutores
deturpa os originais até quando não tem precisão.

No que se refere aos nomes do Pai e do Filho, repare


que Jesus disse que é o EU SOU, em João 8.58:

“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos


digo: antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.58 RA).

João usou um advérbio que denota passado: prin, que


significa “antes” . Conectado a ele, usou o verbo no presente:
“sou”. Por quê? Há uma razão para João ter usado o verbo no
presente, mesmo diante de um advérbio de tempo passado. Ele
75

queria demonstrar que Jesus é o EU SOU. É uma formação


singular, peculiar, que não é feita com outras pessoas, mas
somente com Jesus e com Jeová.

Observe o que Deus disse de Si mesmo em Êxodo 3.14:

“Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais:


Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós
outros” (Ex 3.14 RA).

Mas a Tradução do Novo Mundo alterou os termos


originais, para que seus fiéis evitassem a comparação de Jesus
com Deus:

“Jesus disse-lhes: “Digo-vos em toda a verdade: Antes de


Abraão vir à existência, eu tenho sido”. ” (Jo 8.58 TNM 1986).

E a versão de 2015 assim transcreve:

“Jesus lhes disse: Digo-lhes com toda a certeza: Antes de


Abraão vir à existência, eu já existia” (Jo 8.58 TNM 2015).

As duas versões são erradas, pois estão incompatíveis


com o original. A tradução de ego eimi é “eu sou”. Jamais
poderia ser “eu tenho sido”, pois inclui o verbo ter. Também
não poderia ser “já existia”, visto que substitui o verbo “ser”
pelo “existir” e acrescenta o advérbio “já” . E as duas formas
76

também erraram no tempo verbal, porque o original consta o


tempo presente, e não o passado.

O versículo de Êxodo 3.14 também foi adulterado,


tornando bem diferente a identificação de Deus da de Jesus:

“Então disse Deus a Moisés: “MOSTRAREI SER O QUE


EU MOSTRAR SER.” E acrescentou: “Isto é o que deves dizer aos
filhos de Israel: ‘MOSTRAREI SER enviou-me a vós’.”” (Ex 3.14
TNM 1986).

“Deus disse então a Moisés: “Eu Me Tornarei O Que Eu


Decidir Me Tornar.” E acrescentou: “Isto é o que você deve dizer
aos israelitas: ‘“Eu Me Tornarei” me enviou a vocês.’”” (Ex 3.14
TNM 2015).

Onde está escrito no original hebraico EU SOU, foi


traduzido incorretamente como “mostrarei ser” e depois como
“eu me tornarei”, ou “eu decidir me tornar”. Toda a construção
da frase é alheia ao original, enxertada sem explicação
gramatical plausível e sem motivo, conforme a imaginação dos
tradutores.

A palavra hebraica traduzida por “SOU” é hayah, cujo


sentido é: “ser, ter, estar”. Equivale ao verbo inglês “to be”, o
qual pode ser visualizado na versão King James.
77

Por mais que o proteste a Torre de Vigia, há de se


admitir que o original hayah não tem poder para transmitir o
significado de “tornar-se”. Esse não é o significado real da
palavra. O sentido de “tornar-se” só pode ser subtraído do texto
se a construção gramatical da frase o exigir, isto é, tem que
estar implícito no contexto, e não propriamente no verbo
hayah.

De fato, “ser” e “tornar” possuem significados tão


distintos, que um único vocábulo de qualquer idioma não seria
suficiente para representar ambos ao mesmo tempo. O hayah
hebraico equivale exatamente ao eimi grego. O significado de
eimi é “ser, estar, ou haver”, em todas as suas 136 ocorrências.
Não pode subentender “tornar-se” . Muito menos, poderia ser
trocado pelos verbos “decidir”, ou “mostrar”. Quando a isto,
nem é necessário discutir.

Apesar da tentativa de diferenciar Êxodo 3.14 de João


8.58, a Torre de Vigia admite que os originais de ambos os
versículos são iguais. A sua “Tradução Interlinear do Reino das
Escrituras Gregas” de 1985 mostra, no rodapé, que Jesus falou
em João 8.58: égo eimi (EU SOU). E a edição de 1984 da
“Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com
Referências” tem uma nota de rodapé em Êxodo 3.14,
afirmando que seu hebraico seria traduzido em grego como Ego
eimi (EU SOU).
78

Deste modo, uma Testemunha de Jeová bastaria ler


isto, já que é proibida de ler de outras fontes.

São quatro os versículos de EU SOU, semelhantes a


Êxodo 3.14, que João escreveu a respeito de Jesus:

“Por isso, eu vos disse que morrereis nos vossos


pecados; porque, se não crerdes que EU SOU, morrereis nos
vossos pecados (...) Disse-lhes, pois, Jesus: Quando levantardes
o Filho do Homem, então, sabereis que EU SOU e que nada faço
por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou (...)
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu vos digo:
antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8.24,28,58). “Desde já
vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer,
creiais que EU SOU” (Jo 13.19).

Mas todos eles foram traduzidos de forma diferente pela


Tradução do Novo Mundo. Já apreciamos o que a Torre de
Vigia fez com João 8.58. Vejamos agora os demais versículos:

“Então Jesus disse: Depois que vocês tiverem erguido o


Filho do Homem, então saberão que eu sou ele e que não faço
nada de minha própria iniciativa, mas falo aquilo que o Pai me
ensinou” (Jo 8.28 TNM).
79

O original grego não tem a palavra “ele”, a qual foi


inserida com o único propósito de desviar o sentido de EU
SOU.

“É por isso que eu lhes disse: Vocês morrerão nos seus


pecados. Pois, se vocês não acreditarem em quem eu sou,
morrerão nos seus pecados” (Jo 8.24 TNM).

A palavra grega que está no original é hoti, a qual não é


o pronome “quem”, mas sim a conjunção “que”. Além disto,
não há a preposição “em” . Diga-se de passagem que esta
preposição ocorre duas vezes neste versículo: “em vossos
pecados” e “em vossos pecados”. Só isto. Mas não se encontra
próximo à conjunção “que”.

Portanto, a construção correta seria “acreditarem que


eu sou”, e não “acreditarem em quem eu sou” .

Esse mesmo artifício foi empregado também aqui:

“Digo-lhes isso agora, antes que ocorra, para que,


quando ocorrer, acreditem em quem eu sou” (Jo 13.19 TNM).

O correto seria “acreditem que eu sou”

Numericamente, é interessante salientar que a


Tradução do Novo Mundo só modificou o sentido de “eu sou”
nestes quatro versículos. Porque existem 74 versículos em que
80

o pronome “eu (ego)” está relacionado com o verbo “ser (eimi)”,


no tempo presente, assim como nos quatro versículos de EU
SOU. Mas nenhum deles foi burlado, ou traduzido de forma
errada, exceto, justamente, estes quatro. Eis os versículos:

Mt 8.9; 20.15; 22.32; 24.5; 26.22,25; Mc 6.5; 13.6;


14.62; Lc 1.18,19; 7.8; 19.22; 21.8; 22.27,70; 24.39; Jo
1.20,27; 3.28; 4.26; 6.20,35,41,48,51; 7.34,36;
8.12,18,23,24,28,58; 9.9; 10.7,9; 10.11,14; 11.25; 12.26;
13.19; 14.3,6; 15.1,5; 17.16,24; 18.5,6,8,35,37; At 9.5; 10.21;
18.10; 21.39; 22.3,8; 23.6; Rm 7.14; 11.1,13; 1Co 1.12; 3.4;
15.9; 1Tm 1.15; 1Pe 1.16; Ap 1.8,17; 2.23; 21.6; 22.13,16.

Apenas para amostra, vou colocar exemplares do


mesmo capítulo de João 8, traduzidos pela TNM:

“Então Jesus se dirigiu novamente a eles e disse: “Eu


sou a luz do mundo. Quem me segue de modo algum andará na
escuridão, mas terá a luz da vida”” (Jo 8.12 TNM).

“Eu sou um que dá testemunho de mim mesmo, e o Pai,


que me enviou, dá testemunho de mim,” (Jo 8.18 TNM).

Observe que não houve aqui tentativa de fazer


artimanha, ou de burlar alguma coisa. Traduziram
corretamente, sem nenhuma preocupação. Se o leitor verificar
versículo por versículo, verá que nenhum dos 74 foi traduzido
81

como “tenho sido”, nem como “já existia”, nem como “em
quem”, salvo os quatro que dizem EU SOU para Jesus, que se
assemelham com o EU SOU de Jeová em Êxodo 3.14.

De todas as formas, a sintaxe nos obriga a crer que


Jesus é o EU SOU, assim como Jeová. Foi desta maneira que o
apóstolo João, bem como todos os teólogos, copistas,
tradutores, hebraístas e helenistas de todos os tempos
interpretaram. E, não somente eles, mas também até mesmo
os judeus que ouviam Jesus entenderam assim. Repare que,
quando Jesus lhes disse que é o EU SOU, em João 8.58, os
judeus, imediatamente, pegaram em pedras para o
apedrejarem:

“58 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade eu


vos digo: antes que Abraão existisse, EU SOU. 59 Então,
pegaram em pedras para atirarem nele; mas Jesus se ocultou e
saiu do templo” (Jo 8.58,59).

Por que os Judeus reagiram assim? Foi porque Jesus


disse que é mais velho do que Abraão? Não. Isto não é motivo
suficiente para o apedrejamento. Na verdade, foi porque eles
ouviram Jesus dizer “EU SOU”, assim como Jeová disse em
Êxodo 3.14. Os judeus entenderam que Jesus fazia Deus a Si
mesmo. Por isto quiseram apedrejá-lO, em obediência à lei:
82

“Aquele que blasfemar o nome do SENHOR será morto;


toda a congregação o apedrejará; tanto o estrangeiro como o
natural, blasfemando o nome do SENHOR, será morto” (Lv
24.16).

Se Jesus tivesse dito que é um anjo e que, por isto, é


mais velho do que Abraão, ninguém tentaria apedrejá-lO, pois
não é blasfêmia se autodenominar um anjo. No entanto,
autodenominar-se Deus era e é considerado uma blasfêmia.
Cabe, portanto, a pena de morte por apedrejamento.

Isto significa que até a reação dos judeus serve para nos
provar que Jesus, realmente, queria dizer que é o EU SOU.

“Responderam-lhe os judeus: Não é por obra boa que te


apedrejamos, e sim por causa da blasfêmia, pois, sendo tu
homem, te fazes Deus a ti mesmo” (Jo 10.33).

Está clara a acusação que os judeus faziam a Jesus.


Acusavam-No de dizer ser Deus. Jesus dizia que era Deus, e
Ele fazia isto o tempo todo. Só as Testemunhas de Jeová não o
perceberam.

“Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-


lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia cue
Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18).
“Responderam-lhe os judeus: Temos uma lei, e, de conformidade
83

com a lei, ele deve morrer, porque a si mesmo se fez Filho de


Deus” (Jo 19.7).

Os judeus acusavam Jesus de se fazer Deus. Porque,


quando o Mestre dizia que Deus é Seu Pai, não estava
referindo-Se a um tipo de paternidade genérica, que faz todos
os homens filhos de Deus. Estava realmente Se incluindo na
Divindade do Pai. Do contrário, os judeus não se importariam
se Jesus fosse apenas mais um dos milhões de filhos de Deus.

Quando Jesus Se dizia Filho de Deus, fazia-Se


semelhante a Deus, com qualidades Divinas. Desta feita, é
muito diferente dos versículos que afirmam que os homens e os
anjos são filhos de Deus. Jesus é diferente.


Ou não lestes na Lei que, aos sábados, os sacerdotes no
templo violam o sábado e ficam sem culpa? Pois eu vos digo:
aqui está quem é maior que o templo” (Mt 12.5,6).

Jesus se denominada Deus a todo instante, razão pela


qual os judeus O acusavam de blasfêmia e tentavam apedrejá-
lO. Aliás, esta foi a causa também de Sua crucificação. Se
Jesus tivesse dito que era apenas um anjo, ninguém O teria
entregue a Pilatos.
84

Mas, se Jesus tivesse vindo em nossos dias, seriam as


Testemunhas de Jeová quem primeiro pegariam em pedras
para tentar matá-lO, sob a acusação de Se dizer Deus!!!

A propósito, a versão bíblica das Testemunhas de Jeová


adulterou também este versículo:

“Ou não leram na Lei que, nos sábados, os sacerdotes no


templo violam o sábado e permanecem sem culpa? Mas eu lhes
digo que algo maior do que o templo está aqui” (Mt 12.6 TNM).

A palavra “algo” não existe no original. Mas foi inserida


desonestamente no texto, para desviar a grandeza de Jesus e
transferi-la exclusivamente ao Pai.

Aproveitando esta comparação feita, abrirei um


parêntese para ilustrar outras comparações entre Jesus e o
Pai. Eis abaixo mais um versículo utilizado pela Torre de Vigia
para dizer que Jesus não é Deus:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único


Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

A teoria das Testemunhas de Jeová apregoa que, se


Deus é o único Deus verdadeiro, Jesus não pode ser Deus.

Mas isto não exclui a pessoa de Cristo, que também é


Deus junto com o Pai. Porque, se excluísse Jesus como
85

coparticipante da Divindade, o versículo abaixo também


excluiría a pessoa do Pai:

“Pois certos indivíduos se introduziram com


dissimulação, os quais, desde muito, foram antecipadamente
pronunciados para esta condenação, homens ímpios, que
transformam em liberti.na.gem a graça de nosso Deus e negam o
nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (Jd 4).

O versículo assegurou que Jesus é nosso único


Soberano e Senhor. Mas isso tira Deus Pai da jogada? De
maneira nenhuma, pois ambos compõem a mesma Trindade.
Portanto, não se pode interpretar textos como estes com
exclusividade literal. Jesus é o único Senhor e Soberano, mas
Jeová também é Senhor e Soberano. Do mesmo modo, Jeová é
o único Deus verdadeiro, mas Jesus também é Deus
verdadeiro.

Outra comparação:

“Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há salvador”


(43.11). “Todavia, eu sou o SENHOR, teu Deus, desde a terra do
Egito; portanto, não conhecerás outro deus além de mim, porque
não há salvador, senão eu” (Os 13.4).

A Bíblia diz que Jeová é o único Salvador. Todavia,


conhecemos várias dezenas de versículos que falam que Jesus
86

é Salvador. Portanto, quando se diz que Jeová é o único Deus


verdadeiro, também não se exclui Jesus Cristo.

Comparemos agora o poder de perdoar. De acordo com


o conhecimento dos escribas, somente Deus pode perdoar
pecados:

“Por que fala ele deste modo? Isto é blasfêmia! Quem


pode perdoar pecados, senão um, que é Deus?” (Mc 2.7).

Mas Jesus também pode perdoar:

“Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus


pecados estão perdoados [...] Ora, para que saibais que o Filho
do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados
— disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e
vai para tua casa” (Mc 2.5,10,11).

Um anjo jamais teria o poder de perdoar pecados, até


porque ninguém peca contra os anjos. Só podemos perdoar
alguma falta que seja cometida contra nós mesmos. Contudo,
pecados cometidos contra Deus, somente Deus pode perdoar.
Jesus é Deus e, por isto, perdoa qualquer pecado, como os que
o paralítico da história acima tinha. Tal paralítico não havia
pecado contra a pessoa de Jesus. Ele tinha uma multidão de
pecados diversos, acumulados de toda sua vida, desde a
87

infância. E, exatamente, todos aqueles pecados foram


perdoados por Jesus.

Se observarmos bem, a Bíblia nunca disse que um anjo


pode perdoar pecados. Uma aparente exceção pode ser
encontrada em:

“Eis que eu envio um Anjo adiante de ti, para que te


guarde pelo caminho e te leve ao lugar que tenho preparado.
Guarda-te diante dele, e ouve a sua voz, e não te rebeles contra
ele, porque não perdoará a vossa transgressão; pois nele está o
meu nome” (Ex 23.20,21).

Mas algumas ressalvas devem ser feitas. A primeira é


que está escrito que tal anjo não perdoará os pecados. O
significado disto é que o anjo punirá os pecados. Só isto. “Não
perdoar” quer dizer que o anjo tinha ordens para castigar as
transgressões de Israel.

A segunda ressalva é que os anjos no Velho Testamento


representavam Deus, falavam em nome de Deus, como se
fossem o próprio Deus. Portanto, até recebiam adoração e, se
preciso fosse, poderiam perdoar pecados e realizar milagres,
visto que era a pessoa de Deus que estava ali, representada por
um mensageiro. Mas um anjo, por si só, não tem autoridade
para perdoar pecados cometidos contra Deus. Só Jesus tem.
88

E, além de perdoar pecados, Jesus possui outra


qualidade Divina: a autoridade para dar vida eterna:

“Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém


as arrebatará da minha mão” (Jo 10.28). “Aquele, porém, que
beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo
contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar
para a vida eterna” (Jo 4.14). “Eu sou o pão vivo que desceu do
céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu
darei pela vida do mundo é a minha carne” (Jo 6.51). “Disse-lhe
Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim,, ainda
qpe morra, viverá” (Jo 11.25). “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o
caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por
mim” (Jo 14.6). “Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que
o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para
serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até
à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2.10).

Somente Deus pode conceder a vida.


Consequentemente, Jesus é Deus.

Jesus, assim como Deus, é onipresente:

“Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu


nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20). “Ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que
89

estou convosco todos os dias até à consumação do século” (Mt


28.20).

Como um anjo podería estar em todos os lugares da


Terra em que estiverem duas pessoas reunidas em seu nome?
Nem Miguel seria capaz de fazer isto. A todo instante, vários
milhões de pessoas estão reunidos em oração, em milhões de
pontos diferentes, ao mesmo tempo. Somente um Deus
onipresente poderia estar em todos estes lugares.

Jesus, além de onipresente, é também onisciente:

“Para que o coração deles seja confortado e vinculado


juntamente em amor, e eles tenham toda a riqueza da forte
convicção do enten.dim.ento, para compreenderem plenamente o
mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl 2.2,3).

Em Jesus estão todos os tesouros do conhecimento e


da sabedoria.

No entanto, a versão bíblica das Testemunhas de Jeová


fez uma leve alteração no texto original, para desviar de Jesus
essa sabedoria. Observe:

“Meu objetivo é que o coração deles seja consolado, que


eles sejam harmoniosamente unidos em amor e que tenham
90

todas as riquezas que resultam da plena certeza do seu


entendimento, a fim de obter um conhecimento exato do segredo
sagrado de Deus, a saber, Cristo. Cuidadosamente ocultos nele
se acham todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Cl
2.2,3 TNM).

Foi inserido um ponto para separar os dois versículos,


quebrando a sequência da frase, sendo que os originais nem
possuíam pontuação. Foram colocadas também as palavras
“cuidadosamente” e “nele”, para que não ficasse determinado
em qual dos Dois está a sabedoria, se é no Filho, ou no Pai.
Obviamente, as Testemunhas apontarão o versículo a Jeová, e
não a Jesus.

Os originais foram adulterados. No grego se encontra,


além da preposição “em”, o pronome “quem”, e não o pronome
“ele”, como sugeriu a TNM. E a frase não termina na palavra
“Cristo”, mas possui uma continuidade, demonstrando que é
em Cristo que está a sabedoria: “Cristo, em quem todos os
tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos”.

Mas, para tentar negar a onisciência de Jesus, as


Testemunhas de Jeová citam o versículo:

“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem


os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36).
91

De fato, concordamos que, naquela época, Cristo não


sabia o dia de Sua volta, visto que era homem, feito inferior aos
anjos, temporariamente. No entanto, assim que ressuscitou,
reassumiu Sua Divindade e, sendo Deus, já sabe de todas as
coisas. Depois de ressurrecto, os discípulos lhe fizeram uma
pergunta sobre o mesmo assunto. E Jesus não respondeu que
não sabia. Antes falou:

“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram,:


Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?
Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou épocas
qpe o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At 1.6,7).

Jesus sabia exatamente qual é o dia, mas não quis


revelar aos discípulos. E Jesus também não falou “não nos
compete conhecer”. Ao invés disso, falou “não vos compete
conhecer” . Jesus já sabia.

Deus é imutável:

“Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto,


descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação
ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Ver também Ml 3.6.

Jesus também é imutável, assim como Deus:


92

“Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para


sempre” (Hb 13.8).

Portanto, Jesus é Deus.

Mais uma comparação. Sabemos que os anjos, bons ou


maus, não podem ler mentes. Anjos necessitam que os homens
pronunciem palavras para saber o que eles pensam.

Porém, Deus não necessita disto, pois conhece os


pensamentos:

“Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os


pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto das suas ações” (Jr 17.10).

E Jesus, como Deus, também esquadrinha o coração e


os pensamentos:

“Ao anjo da igreja em Tiatira escreve: Estas coisas diz o


Filho de Deus, que tem os olhos como chama de fogo e os pés
semelhantes ao bronze polido [...] Matarei os seus filhos, e todas
as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e
corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obra.s” (Ap
2.18,23).
93

Jesus, assim como o Pai, sonda a mente do homem.


Este é um atributo Divino. Os anjos não podem fazer isto,
razão pela qual Jesus não é um anjo.

Observe ainda que o versículo informa que Jesus


matará os filhos de Jezabel e todos os que com ela se
prostituem. Um ato punitivo como este só pode ser feito por
Deus. Não cabe a anjos decidir quem vive e quem morre.

E, no mesmo versículo, Jesus recompensará cada um


de acordo com suas obras. Isto também é uma prática da
competência Divina. É Deus quem retribui segundo o bem ou o
mal que Suas criaturas tiverem praticado. Podemos ver isto no
versículo acima citado, que repetirei aqui:

“Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os


pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu
proceder, segundo o fruto das suas ações” (Jr 17.10).

Nisto se percebe a semelhança entre Deus e Jesus, pois


ambos sondam mentes e corações, e ambos retribuirão
segundo as obras dos homens e dos anjos. Sondar mentes é
um atributo Divino. Ninguém mais pode fazer isto.

Eis outra coisa que só pode se referir a Deus:


94

“Pois quem despreza o dia dos humildes começos, esse


alegrar-se-á vendo o prumo na mão de Zorobabel. Aqueles sete
olhos são os olhos do SENHOR [Javé], que percorrem toda a
terra” (Zc 4.10).

De acordo com o versículo, os sete olhos são do Senhor.


Em Apocalipse, são de Cristo:

“Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e


entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele
tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos
de Deus enviados por toda a terra” (Ap 5.6).

Os sete olhos são Espíritos de Deus, que percorrem


toda a terra. Portanto, Jesus é Deus.

Outra comparação entre Jesus e Deus está no fato de


quem pode ser glorificado:

“Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória,


pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de
escultura” (Is 42.8). “Por amor de mim, por amor de mim, é que
faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha
glória, não a dou a outrem” (Is 48.11).
95

Deus não divide Sua glória com ninguém. Mas veja uma
exceção:

“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos


guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas
dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão
de vir. Ele me alorificará, porque há de receber do que é meu e
vo-lo há de anunciar” (Jo 16.13,14). “Tendo Jesus falado estas
coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora;
glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti [...] e,
agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória que eu
tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Jo 17.1,5).
“Quando ele saiu, disse Jesus: Agora, foi glorificado o Filho do
Homem, e Deus foi glorificado nele; se Deus foi glorificado nele,
também Deus o glorificará nele mesmo; e glorificá-lo-á
imediatamente” (Jo 13.31,32).

Jesus sempre teve glória junto de Deus, desde antes do


princípio da eternidade. Jeová não divide Sua glória com
deuses falsos, mas, com Jesus, sim. Jesus é Deus verdadeiro
e, deste modo, o próprio Jeová é quem O glorifica. De acordo
com os versículos acima, glorificar a Jesus é o mesmo que
glorificar a Deus.

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de


graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do
96

unigênito do Pai” (Jo 1.14). “Ao receber a notícia, disse Jesus:


Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus,
a fim de que o Filho de Deus seja por ela alorificado” (Jo 11.4).
“Antes, crescei na graça e no conhecimento de nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, tanto agora como no
dia eterno” (2Pe 3.18). “Proclamando em grande voz: Digno é o
Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e
sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que
toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e
sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que
está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a
glória, e o domínio pelos séculos dos séculos” (Ap 5.12,13).

Jesus é e deve ser gloriíicado. Portanto, é Deus.

Entretanto, a Tradução do Novo Mundo adulterou João


1.14:

“De modo que a Palavra se tornou carne e residiu entre


nós, e nós vimos a sua glória, uma glória como a de um filho
unigênito de um pai; ele estava cheio de favor divino e de
verdade” (Jo 1.14 TNM).

No original não se encontram as palavras “um”, que


generalizam o substantivo próprio, transformando-o em
comum. Com esta alteração, a glória de Jesus, que era como a
97

do único Filho de Deus, fica meramente igual à de qualquer


filho unigênito do mundo.

Até o momento, a Tradução do Novo Mundo ainda não


deturpou os demais versículos. Portanto, Jesus deve ser
glorificado como Jeová.

E, assim como Um glorifica o Outro, Um dá testemunho


do Outro. As Testemunhas de Jeová dizem que Jesus foi a
primeira Testemunha de Jeová, reduzindo-O assim, a alguém
igual a elas. Para se fundamentarem, usam o versículo
seguinte:

“Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Estas coisas diz


o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação
de Deus” (Ap 3.14).

Porém, se Jesus é testemunha de Deus, é importante


ressaltar que Deus também é testemunha de Jesus:

“Se admitimos o testemunho dos homens, o testemunho


de Deus é maior; ora, este é o testemunho de Deus, que ele dá
acerca do seu Filho. Aquele que crê no Filho de Deus tem, em si,
o testemunho. Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso,
porque não crê no testemunho que Deus dá acerca do seu Filho”
(1Jo 5.9,10).
98

Deste modo, se ambos são testemunhas Um do Outro,


logo ambos são Deus, sem diferença alguma.

Prosseguindo com as comparações, veremos que Jesus


é sobre todos, assim como Deus é sobre todos.

Deus Pai:

“Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por


meio de todos e está em todos” (Ef 4.6).

Deus Filho:

“Deles são os patriarcas, e também deles descende o


Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para
todo o sempre. Amém!” (Rm 9.5). “Pois a nossa pátria está nos
céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus
Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para
ser igual ao corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que
ele tem de até subordinar a si todas as coisas” (Fp 3.20,21).

Não há ninguém acima de Jesus, exceto Jeová. Jesus é


sobre todos, assim como Seu Pai. Ser sobre todos é uma
qualidade Divina.

E o mais importante: Jesus foi chamado de Deus no


versículo acima.
99

Mas, como era de se esperar, a Tradução do Novo


Mundo adulterou este versículo, mudando-lhe completamente
o sentido:

“A eles pertencem os patriarcas e deles descendeu o


Cristo segundo a carne. Deus, que está sobre tudo, seja louvado
para sempre. Amém” (Rm 9.5 TNM).

A fim de não reconhecer que Jesus é Deus, não admitir


que Ele está sobre todos, nem que Ele deve ser louvado, a
Tradução do Novo Mundo inseriu duas palavras que não estão
no original “que” e “seja” . Além disto, o deslocamento do verbo
“estar” na frase desempenhou a função de transformar a
palavra “Deus” num sujeito e redirecioná-la à outra oração.
Sendo assim, a palavra “Deus” deixou de ser uma
característica de Cristo, e passou a representar outra pessoa,
que é Jeová.

E a TNM, não satisfeita, fez outra alteração. Deslocou a


palavra “Deus” para antes da expressão “o qual é sobre todos”,
com o objetivo de tirar até mesmo essa característica de Cristo
e redirecioná-la somente a Jeová.

Eu não sei qual é a vantagem das Testemunhas de


Jeová em acreditarem numa doutrina que foi inventada por
elas mesmas. De que vale crer na Bíblia, se esta não é a Bíblia
autêntica? Pergunte a uma Testemunha de Jeová:
100

‫״‬Quem disse que Jesus nao é Deus?”

A resposta seria:

‫״‬A Bíblia”.

Mas que Bíblia? A de Deus ou a que foi distorcida e


moldada pela própria religião das Testemunhas de Jeová?
Porque não adianta nada crer numa bíblia falsa, que não foi
escrita por Deus.

Outra equiparação entre Jesus e Deus Pai pode ser


encontrada numa profecia de Isaías:

‫״‬No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado


sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes
enchiam o templo [...] Então, disse eu: ai de mim.! Estou perdido!
Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um
povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o SENHOR
dos Exércitos! [...] Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia:
A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui,
en.via.-me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi,
ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna
insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e
fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a
ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta,
e seja salvo” (Is 6.1,5,8-10).
101

Mas, no Novo Testamento, descobrimos quem Isaías


viu:

“Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos


torneis filhos da luz. Jesus disse estas coisas e, retirando-se,
ocultou-se deles. E, embora tivesse feito tantos sinais na sua
presença, não creram nele, para se cumprir a palavra do profeta
Isaías, que diz:: Senhor, quem creu em nossa pregação? E a
qpem foi revelado o braço do Senhor? Por isso, não podiam crer,
porque Isaías disse ainda: Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes
o coração, para que não vejam com os olhos, nem entendam com
o coração, e se convertam, e sejam por mim curados. Isto disse
Isaías porqpe viu a glória dele e falou a seu respeito” (Jo 12.36­
41).

De quem Isaías viu a glória? Do Senhor. Este Senhor foi


traduzido como “Jeová” pela própria Tradução do Novo Mundo.
Mas, em João, está escrito que Isaías viu a glória de Jesus e
falou a Seu respeito. A pessoa de quem Isaías viu a glória é a
mesma de quem falou a respeito, pois ambas as informações se
encontram anexas na mesma frase. Foi sobre Jesus que o
profeta escreveu, como se pode ver nos versos 37 e 38 de João
12.

Jesus foi chamado de Jeová Justiça Nossa em Jeremias


23.5,6:
102

“Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que levantarei a


Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará, e agirá sabiamente,
e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será
salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que
será chamado: SENHOR, Justiça Nossa” (Jr 23.5,6).

Quem é o Renovo de Davi? É Jesus, sem dúvidas. Mas


este Renovo recebeu um nome bastante Divino: Javé Justiça
Nossa. Este nome também foi dado a Jerusalém (Jr 33.16).

Veja o que diz a profecia de Zacarias:

“Fugireis pelo vale dos meus montes, porque o vale dos


montes chegará até Azal; sim, fugireis como fugistes do
terremoto nos dias de Uzias, rei de Judá; então, virá o SENHOR
[Javé], meu Deus, e todos os santos, com ele” (Zc 14.5).

Javé virá junto com todos os santos. Mas veja quem


virá com os santos:

“Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu


Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme
as suas obra.s” (Mt 16.27). “Quando vier o Filho do Homem na
sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no
trono da sua glória” (Mt 25.31). “Porque qualquer que, nesta
geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das
minhas palavra.s, também o Filho do Homem se envergonhará
103

dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos” (Mc
8.38). “A fim de que seja o vosso coração confirmado em
santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na
linda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos” (1Ts
3.13). “E a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente
conosco, quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os
anjos do seu poder” (2Ts 1.7). “Quanto a estes foi que também
profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que
veio o Senhor entre suas santas miríades” (Jd 14). “Pelejarão
eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor
dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados,
eleitos e fiéis cue se acham com ele” (Ap 17.14).

Até a Tradução do Novo Mundo reconhece que Jeová


virá com os santos anjos, como se pode observar na sua versão
bíblica:

“Vocês fugirão para o vale dos meus montes, pois o vale


dos montes se estenderá até Azel. Vocês terão de fugir, assim
como fugiram por causa do terremoto nos dias de Uzias, rei de
Judá. E Jeová, meu Deus, virá, e todos os santos estarão com
ele” (Zc 14.5 TNM). “O sétimo homem na linhagem de Adão,
Enoque, também profetizou a respeito deles quando disse:
“Vejam,! Jeová veio com as suas santas miríades” (Jd 14 TNM).
104

Então, se vier Jeová, ou Jesus, tanto faz, pois ambos


são um. É possível encontrar a palavra “Jeová” na Bíblia
referindo-se a Jesus, como acabamos de provar várias vezes.

Várias são as equiparações que a Bíblia faz entre Jesus


e o Pai. Entendamos de uma vez que Jesus é Deus. Para os
cristãos primitivos ele Era Deus. Para os patriarcas e profetas,
Ele era Deus. A Divindade de Cristo é tão evidente, que se a
Bíblia dissesse apenas “Deus” no mesmo versículo em que
Jesus está, ficaria parecendo que o Filho não possui Deidade.
E é por isto que, quando a palavra “Deus” se encontra no
mesmo versículo que o nome de Jesus, o autor faz questão de
escrever “Deus Pai”, para não O confundir com o Filho, que
também é Deus.

Observe que, em todas as referências que contêm a


expressão “Deus Pai”, Jesus está por perto. Porque, se os
autores dissessem apenas “Deus”, ficaria dando a impressão de
que Jesus não é Deus:

“Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são


todas as coisas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus
Cristo, pelo qual são todas as coisas, e nós também,, por ele”
(1Co 8.6).
105

“Paulo, apóstolo, não da parte de homens, nem por


intermédio de homem algum, mas por Jesus Cristo e por Deus
Pai, que o ressuscitou dentre os mortos” (Gl 1.1).

“Paz seja com os irmãos e amor com fé, da parte de Deus


Pai e do Senhor Jesus C risto” (Ef 6.23).

“E toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para


glória de Deus P a i” (Fp 2.11).

“E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação,


fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus
P a i” (Cl 3.17).

“Paulo, Silvano e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses


em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo, graça e paz a vós
outros” (1Ts 1.1).

“Graça e paz a vós outros, da parte de Deus Pai e do


Senhor Jesus C risto” (2Ts 1.2).

“A Timóteo, verdadeiro filho na fé, graça, misericórdia e


paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor”
(1Tm 1.2).

“Ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia e paz, da


parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor” (2Tm 1.2).
106

“A Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e


paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador”
(Tt 1.4).

“Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em


santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do
sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas”
(1Pe 1.2).

“Pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória,


quando pela Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este
é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (2Pe 1.17).

“A graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e


de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e
amor” (2Jo 1.3).

“Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago, aos


chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus
Cristo” (Jd 1.1).

E ainda há muitos outros versículos dessa natureza,


que eu não quis escrever aqui para não ser prolixo.

Quando alguém ergue a voz no meio da rua e clama


“Maria”, várias mulheres olham, pois muitas têm o mesmo
nome Maria. Por esta razão, quando alguém quer chamar uma
107

Maria tem que mencionar também seu sobrenome, a fim de


especificar. É isto o que acontece nas cartas de Paulo, Pedro,
João, Judas e outros. Se eles tivessem dito apenas “Deus”
ficaria com sentido confuso e os leitores não saberiam de quem
se falava. Por esta razão, foi necessário especificar “Deus Pai”,
para que não seja confundido com o Deus Filho.

Ademais, quando o nome de Deus aparece em conjunto


com o nome de Jesus, a própria especificação já é uma prova
da Divindade. Observe os dois casos:

“Deus e Jesus”.

“Deus Pai e Jesus”.

No primeiro caso, Jesus não é Deus, pois não foi


chamado de Deus. Porém, no segundo caso, Jesus também é
Deus, pelo que foi necessário especificar “Deus Pai”, a fim de
diferenciar do Deus Filho. E este segundo caso é o que ocorre
frequentemente nas Escrituras.

Como as Testemunhas de Jeová esperam que seu Deus


as salve, se elas nem sabem quem é seu Deus? Não reconhecer
a Divindade de Jesus e do Espírito Santo é o mesmo que não
Os conhecer. E Jesus lhes responderá:

‘Em verdade vos digo que nao vos conheço” (Mt 25.12).
108

Para ter a vida eterna, temos que conhecer o Pai e


também o Filho:

“E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único


Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

Se conhecermos somente o Pai, não estamos aptos para


a vida eterna.

Para ter o Pai, é necessário ter o Filho:

“Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora,


os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o
enganador e o anticristo. Acautelai-vos, para não perderdes
aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes
completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de
Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na
doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2Jo 1.7-9). “Quem
é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este
é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo a.quele que nega o
Filho, esse não tem o Pai; a.quele que confessa o Filho tem
igualmente o Pai” (1Jo 2.22,23).

Quem nega o Filho pode ser chamado de anticristo.

Jesus é Deus Todo Poderoso, é Deus verdadeiro, é Filho


Unigênito de Deus, é Soberano, Salvador, Rei dos reis, Senhor
109

dos senhores, o qual é sobre todas as coisas. É a Bíblia que o


afirma.
110
111

Hebreus, capítulo 1

Para ser comprovada a Divindade de Cristo, o livro de


Hebreus é uma das peças chaves. Nele são resumidas as
qualidades de Jesus e todas as doutrinas atinentes.
Seguiremos um esboço destas doutrinas ao longo dos nove
primeiros versículos, com exceção do primeiro, que é
introdutório.

Hebreus 1.2.

No primeiro capítulo de Hebreus, seu autor nos faz


conhecer a essência de Jesus, dando detalhes de como Ele é.

Jesus é Criador:

“Nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem


constituiu herdeiro de todas as coisas, p elo qual também fez o
universo” (Hb 1.2).

Foi pelo Filho que o Pai fez o universo.


112

Mas alguém, porventura, poderia argumentar dizendo


que o autor de Hebreus utilizou as palavras “pelo qual”,
significando que Jesus foi apenas um meio através do qual
Deus fez o universo. Deste modo, Jesus não seria cocriador.

Porém, ressalta-se que as mesmas palavras também


foram empregadas referindo-se ao Deus Pai como Criador:

“Porque convinha que aquele, por cuja causa e p o r


quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à
glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da
salvação deles” (Hb 2.10).

Tanto em Hb 1.2, quanto em Hb 2.10, foram usados os


mesmos vocábulos:

Dia, que significa: através de, por causa de.

Hos, que significa: quem, que, o qual.

E ambos os versículos falam da criação. Portanto, se a


expressão “pelo qual” desqualificasse Jesus como Criador,
também desqualificaria o próprio Pai de igual forma. Não dá
para interpretar construções gramaticais idênticas de formas
diferentes. Ambas devem ser interpretadas com o mesmo
critério.
113

No que diz respeito a Jesus ter criado o universo, a


Tradução do Novo Mundo traduziu diferente:

“Agora, no fim destes dias, ele nos falou por meio de um


Filho, a quem designou herdeiro de todas as coisas e por meio
de quem fez os sistemas de coisas ” (Hb 1.2).

“Sistema de coisas” é a forma que a TNM traduz a


palavra grega aion (século). Mas as notas de rodapé admitem
que estes sistemas de coisas “referem-se a todas as coisas
criadas, incluindo o Sol, a Lua, as estrelas e a própria Terra, nos
casos de Hb 1.2 e Hb 11.3”.

Jesus é criador:

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou


para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a
remissão dos pecados. Este é a imagem do Deus invisível, o
primogênito de toda a criação; pois, nele, foram criadas todas as
coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis,
sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer
potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes
de todas as coisas. Nele, tudo subsiste.” (Cl 1.13-17).

Tudo, sem exceção, foi criado por meio de Jesus.

Mas a Tradução do Novo Mundo deturpou o texto:


114

“Pois por meio dele foram criadas todas as outras coisas


nos céus e na terra, as coisas visíveis e as coisas invisíveis, quer
sejam tronos, quer domínios, quer governos, quer autoridades.
Todas as outras coisas foram criadas por meio dele e para ele.
Também, ele já existia antes de todas as outras coisas, e por
meio dele todas as outras coisas vieram a existir” (Cl 1.16,17
TNM).

O objetivo desta versão bíblica para estes versículos é


obrigar o leitor a crer que Jesus é um Ser criado. Por isto,
foram inseridas quatro palavras “outras”, para mostrar que
Jesus é uma essas coisas criadas.

Bom, muitos teólogos sérios admitem que Jesus foi


criado. No entanto, ninguém tem o direito de adulterar os
Escritos Sagrados, para tentar provar isto. Além do mais, o fato
de Jesus ter sido gerado por seu Pai não é razão para que não
seja Criador.

“Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem


ele, nada do que foi feito se fez [...] O Verbo estava no mundo, o
mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o
conheceu” (Jo 1.3,10 RA).

João 1.3,10 concorda com Hebreus 1.2 que tudo foi


feito por intermédio de Jesus.
115

“Também disse Deus: Façamos o homem à nossa


imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra” (Gn 1.26).

O verbo fazer está no plural. Deus não criou sozinho,


pois Jesus e o Espírito Santo estavam lá.

“Ainda ele não tinha feito a terra, nem as amplidões,


nem sequer o princípio do pó do mundo. Quando ele preparava
os céus, aí estava eu; quando traçava o horizonte sobre a face
do abismo; quando firmava as nuvens de cima; quando
estabelecia as fontes do abismo; quando fixava ao mar o seu
limite, para que as águas não traspassassem os seus limites;
quando compunha os fundamentos da terra.; então, eu estava
com ele e era seu arquiteto, dia após dia, eu era as suas
delícias, folgando perante ele em todo o tempo” (Pv 8.26-30).

Jesus (sabedoria) era o arquiteto, o artífice, por meio de


quem Deus criou o universo.

E o que devemos fazer com o Criador?

“Pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira,


adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é
bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25).
116

O Criador deve ser adorado e servido. Por isto, Jesus


deve ser adorado.

Ainda considerando Hebreus 1.2, observe que Jesus é


herdeiro máximo:

“Nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem


constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o
universo” (Hb 1.2).

Ser herdeiro é ser Filho. Deus não daria todo o universo


visível, nem todo o universo invisível, nem todos os reinos da
Terra e dos céus ao arcanjo Miguel. Jesus é Filho de Deus de
forma diferente que os anjos e os homens são filhos.

Hebreus 1.3.

Jesus, como Deus, tem todo o poder:

“Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do


seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1.3).

Sustentar todas as coisas é o limite máximo de poder.


Não há como ter mais poder do que isto.
117

“Jesus, aproximando-se, falou-lhes, dizendo: Toda a


autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mt 28.18).

Possuir toda a autoridade no céu e na Terra é o máximo


que se pode ter. Não há dúvidas de que precisa ser Deus para
possuir tal poder e autoridade.

Essa autoridade foi comprovada quando Jesus, no


sermão do monte, alterou algumas leis do Velho Testamento:


Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem
matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo
aquele que sem motivo se irar contra seu irmão estará sujeito a
julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará
sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará
sujeito ao inferno de fogo” (Mt 5.21,22).

Antes era proibido matar, mas, depois de Jesus, ficou


proibido até mesmo se irar com, ou insultar o irmão.

Jesus não disse como os profetas e anjos diziam:


“assim diz Jeová”. Não. Mas, como possui autoridade Divina,
falou por Si próprio. E isto se repetiu por todo o sermão:

“Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos


digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura,
no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.27,28).
118

“Também foi dito: Aquele que repudiar sua mulher, dê-


lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar
sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe
a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada
comete adultério” (Mt 5.31,32).

“Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás


falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus
juramentos. Eu, porém,, vos digo: de modo algum jureis; nem
pelo céu, por ser o trono de Deus” (Mt 5.33,34).

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu,
porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que
te ferir na face direita, volta-lhe também a outra” (Mt 5.38,39).

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o


teu inimigo. Eu, porém,, vos digo: amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem” (Mt 5.43,44).

A autonomia de Jesus era grande, a ponto de modificar


leis antigas de Deus. É uma autoridade semelhante àquela que
o Corpo Governante pensa que tem, ao modificar os versículos
da Bíblia que não lhe agradam.

Como Jesus poderia ter feito isto, se não fosse Deus?


Que autoridade Ele teria para modificar leis Divinas, se fosse
apenas um anjo?
119

Hebreus 1.3 ainda nos diz mais. Jesus é o resplendor


da glória de Deus e a expressão exata do Seu ser:

“Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do


seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder,
depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à
direita da Majestade, nas alturas” (Hb 1.3).

Sendo o resplendor da glória de Deus e a expressão


exata do Pai, Jesus se assentou à direita da Majestade de
Deus. Quem teria tanto privilégio para se assentar ao lado do
Altíssimo? Somente o Filho de Deus, alguém que possui o
resplendor da glória de Deus e a expressão exata do Pai. Um
arcanjo não possui tamanho privilégio.

“Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e


não me tens conhecido? Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes
tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14.9). “Este é a imagem do Deus
invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1.15).

Jesus é a expressão exata do Pai, a imagem do Pai, de


forma que, quem O vê, vê o Pai.

Não deixaremos de notar que a Tradução do Novo


Mundo traduziu de forma diferente. Ao invés de dizer que
Jesus é o resplendor da glória de Deus, afirmou que Ele é o
reflexo da glória de Deus:
120

“Ele é o reflexo da glória de Deus e a representação


exata do seu ser; e sustenta todas as coisas pela sua poderosa
palavra. E, depois de ter feito uma purificação dos nossos
pecados, sentou-se à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1.3
TNM).

Há sempre tentativas da Torre de Vigia no sentido de


diminuir Jesus o máximo possível. Contudo, a palavra “reflexo”
não é a mais apropriada para traduzir apaugasma, que tem
melhor equivalência a “resplendor”, ou a “fulgor”, ainda mais
em se tratando de Jesus, que tem luz própria.

“A cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe


darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é
a sua lâmpada” (Ap 21.23).

Jesus é a lâmpada de Deus, e não Seu espelho.

“De novo, lhes falava Jesus, dizendo: Eu sou a luz do


mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário,
terá a luz da vida” (Jo 8.12).

Jesus é luz, de forma que não anda em trevas aquele


que O segue. Ele tem luz própria.
121

Hebreus 1.4.

Jesus é superior aos anjos:

“Tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou


mais excelente nome do que eles” (Hb 1.4).

Ele não pode ser meramente um anjo, visto que é


superior aos anjos. Observe que não está escrito “superior aos
outros anjos”, e sim “superior aos anjos”. O autor não incluiu
Jesus no grupo de anjos, mas afirmou que Jesus é superior à
classe dos anjos em geral.

E essa superioridade foi manifesta em Apocalipse


5.3,5,8:

“Ora, nem no céu, nem sobre a terra, nem debaixo da


terra, ninguém podia abrir o livro, nem mesmo olhar para ele [...]
Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão
da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os
seus sete selos [...] e, quando tomou o livro, os quatro seres
viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do
Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro
cheias de incenso, que são as orações dos santos” (Ap 5.3,5,8).

Ninguém no céu, nem na Terra foi capaz de ao menos


olhar para o livro. Nenhum anjo era forte, nem digno o
122

suficiente. No entanto, Jesus foi capaz de, não somente olhar


para o livro, como também de tomá-lo e de abri-lo. Jesus é
Deus.

E o versículo 8 informa que a reação de todos no céu foi


prostrarem-se diante dEle para adorá-lo. Se Jesus fosse
mesmo Miguel, os exércitos do céu não teriam se prostrado
diante dEle.

Hebreus 1.4, quando disse que Jesus é superior aos


anjos, automaticamente, afirmou que Ele não é um anjo, visto
que foi mencionado de forma separada. Não está escrito
“superior aos outros anjos”, e sim “superior aos anjos”.

E esta não é uma peculiaridade apenas de Hebreus 1.4.


Outras partes das Escrituras também diferenciam Jesus dos
anjos:

“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem


os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36).

Veja mais uma vez que Jesus foi mencionado


separadamente dos anjos. Ele não estava incluído na classe
angelical, pois especificou: nem os anjos, nem o Filho. Repare
também que os anjos não foram chamados de filhos de Deus,
embora eles, de fato, sejam. Somente Jesus foi chamado de
Filho. E isto significa que Ele é o único Filho com essência
123

Divina. Esta concepção fica ainda mais clara no versículo


seguinte de Hebreus.

Hebreus 1.5.

“Pois a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, eu


hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei Pai, e ele me será Filho?”
(Hb 1.5).

É uma citação de Salmos 2.7. Aqui está escrito que


Deus jamais chamou algum anjo de Filho. Portanto, ao chamar
Jesus de Filho, Deus está explicitando que Jesus não é um
anjo. Você pode verificar isto comparando alguns versículos em
que os anjos são chamados de filhos de Deus com os versículos
que dizem que Jesus é o único Filho.

Anjos sendo chamados de filhos de Deus:

“Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se


perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles” (Jó 1.6).
“Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se
perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles apresentar-
se perante o SENHOR” (Jó 2.1). “Quando as estrelas da alva,
juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de
Deus?” (Jó 38.7).
124

Jesus como único Filho de Deus:

“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de


graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do
unigênito do Pai [...] Ninguém jamais viu a Deus; o Deus
unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo
1.14,18). “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu
o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça,
mas tenha a vida eterna [...] Quem nele crê não é julgado; o que
não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito
Filho de Deus” (Jo 3.16,18). “Nisto se manifestou o amor de
Deus em nós: em ha.ver Deus enviado o seu Filho unigênito ao
mundo, para vivermos por meio dele” (1Jo 4.9).

Jesus não é apenas um Filho de Deus. Ele é o único


Filho de Deus. A palavra “unigênito” quer dizer exatamente
isto. Para fim de comparação, seu original pode ser encontrado
também em:

“Como se aproximasse da porta da cidade, eis que saía o


enterro do filho único de uma viúva; e grande multidão da
cidade ia com ela” (Lc 7.12). “Pois tinha uma filha única de uns
doze anos, que estava à morte. Enquanto ele ia, as multidões o
apertavam” (Lc 8.42). “E eis que, dentre a multidão, surgiu um
homem, dizendo em alta voz: Mestre, suplico-te que vejas meu
filho, porque é o único” (Lc 9.38). “Pela fé, Abraão, quando posto
125

à prova, ofereceu Isaque; estava mesmo para sacrificar o seu


unigênito aquele que acolheu alegremente as promessas” (Hb
11.17).

Em todos os exemplos acima o filho era o único do pai


ou da mãe. Isaque, de fato, era o único filho. Ismael, seu irmão,
nem foi mencionado como filho de Abraão, pois fora gerado
pela serva de Sara. Isaque era, realmente, unigênito, pois seus
futuros irmãos foram gerados muito depois daquele episódio,
pela concubina Quetura (Gn 25.2; 1Cr 1.32).

Jesus é unigênito. E o que isto quer dizer? Significa que


os outros filhos de Deus não possuem a mesma característica
Divina que Jesus tem. Jesus é diferente de todos os outros
filhos, a ponto de ser chamado de único Filho.

Veja a diferença:

“Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porqpe ainda


não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-
lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso
Deus” (Jo 20.17).

Jesus poderia muito bem ter dito: “vou ao nosso Pai”,


ou “vou ao Pai de todos”. Mas, ao invés disto, Ele disse: vou a
meu Pai e vosso Pai. Cristo se destacou da irmandade.
Significa que Ele é um Filho diferente dos demais filhos.
126

Hebreus 1.6.

Os anjos não podem receber adoração nem mesmo de


humanos (Ap 19.10; 22.8,9). Mas Jesus é adorado até pelos
anjos:

“E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo,


diz: E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6).

Até os anjos adoram a Jesus. Com certeza, eles sabem


quem deve e quem não deve ser adorado. Afinal são anjos de
Deus. Quanto às pessoas humanas que adoraram a Jesus,
nunca foram repreendidas. Mas as que adoraram a um anjo ou
aos apóstolos foram repreendidas.

Ressalta-se que o original do verbo “adorar”, de Hb 1.6,


é o mesmo de Ap 19.10; 22.8,9 (proskuneo). Portanto, a
adoração que os anjos não podem receber é a mesma que
devem conferir a Jesus. E, se Jesus pode ser adorado, mas os
anjos não, conclui-se que Jesus não é um anjo.

É comum as Testemunhas de Jeová, em suas visitações


de porta em porta, utilizarem o versículo seguinte, para dizer
que os verdadeiros adoradores adoram somente o Pai:
127

“Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros


adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são
estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.23).

O texto está dizendo que devemos adorar ao Pai, mas


não está especificando que Jesus não pode ser adorado. Note
que não está escrito “adorarão somente ao Pai”, dando
exclusividade à adoração ao Pai. Está registrada apenas a
forma em que o Pai deve ser adorado, que é em espírito e em
verdade.

Mas é interessante passarmos mais uma página do


mesmo livro de João, para lermos:

“E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo


julgamento, a fim de que todos honrem o Filho do modo por que
honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai qpe o
enviou” (Jo 5.22,23).

Se, de fato, as Testemunhas de Jeová desejam fazer a


vontade do Pai, devem honrar o Filho do mesmo modo por que
honram o Pai. Se alguém não honrar o Filho, não honra o Pai
que O enviou. Então, para cumprir João 4.23, é necessário
proceder de acordo com João 5.23.

Jesus deve ser adorado:


128

“E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos


judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para
adorá-lo [...] E, enviando-os a Belém, disse-lhes: Ide informar-
vos cuidadosamente a respeito do menino; e, quando o tiverdes
encontrado, avisai-me, para eu também ir adorá-lo [...] Entrando
na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o
adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas
ofertas: ouro, incenso e mirra” (Mt 2.2,8,11). “E eis que um
leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo: Senhor, se
quiseres, podes purificar-me” (Mt 8.2). “Enquanto estas coisas
lhes dizia, eis que um chefe, aproximando-se, o adorou e disse:
Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe a mão sobre
ela, e viverá” (Mt 9.18). “E os qpe estavam no barco o adoraram,
dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!” (Mt 14.33). “Ela,
porém, veio e o adorou, dizendo: Senhor, socorre-me!” (Mt
15.25). “Então, se chegou a ele a mulher de Zebedeu, com seus
filhos, e, adorando-o, pediu-lhe um favor” (Mt 20.20). “E eis qpe
Jesus veio ao encontro delas e disse: Salve! E elas,
aproximando-se, abraçaram-lhe os pés e o adoraram [...] E,
quando o viram, o adoraram; mas alguns duvidaram” (Mt
28.9,17). “Quando, de longe, viu Jesus, correu e o adorou” (Mc
5.6). “Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e,
pondo-se de joelhos, o adoravam” (Mc 15.19). “Então, eles,
adorando-o, voltaram para Jerusalém, tomados de grande
júbilo” (Lc 24.52). “Então, afirmou ele: Creio, Senhor; e o adorou”
129

(Jo 9.38). “E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo,


diz: E todos os anjos de Deus o adorem” (Hb 1.6).

Só para constar, a Tradução do Novo Mundo traduziu


todos os versículos acima como “prestar homenagem”, ao invés
de “adorar”. E isto apesar do original do verbo “adorar” ser o
mesmo utilizado na Bíblia original para Deus e para o diabo:
proskuneo. E, em todos os casos que proskuneo é aplicado a
Deus ou ao diabo, a Tradução do Novo Mundo traduziu como
“adorar”, normalmente.

Observe:

Referindo-se a Jesus:

“Dizendo: “Onde está aquele que nasceu para ser rei dos
judeus? Pois vimos a sua estrela quando estávamos no Oriente e
viemos lhe prestar homenagem”” (Mt 2.2 TNM). “Ma.s, ao trazer
novamente o seu Primogênito à terra habitada., ele diz: “Que
todos os anjos de Deus lhe prestem homenagem”” (Hb 1.6 TNM).
Ver também: Mt 2.8,11; 8.2; 9.18; 14.33; 15.25; 20.20;
28.9,17; Mc 5.6; 15.19; Lc 24.52; Jo 9.38.

Referindo-se ao diabo:

“E disse-lhe: “Todas estas coisas te darei, se te


prostrares e me fizeres um ato de a.doração. ” (Mt 4.9 TNM).
130

“Mas as outras pessoas que não foram mortas por essas pragas
não se arrependeram das obras das suas mãos; não pararam
de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre,
de pedra e de madeira, que não podem ver, nem ouvir, nem
andar” (Ap 20.4 TNM). Ver também: Lc 4.7; At 7.43; Ap 9.20;
13.4,8,12,15; 14.9,11; 16.2; 19.20.

Referindo-se a Deus:

“Jesus disse-lhe então: “Vai-te, Satanás! Pois está


escrito: ‘É a Jeová, teu Deus, que tens de adorar e é somente a
ele que tens de prestar serviço sagrado.’”” (Mt 4.10 TNM). “Os
segredos do seu coração serão então revelados, de modo que ele
se prostrará com o rosto por terra e adorará a Deus, declarando:
“Deus está realmente entre vocês”” (1Co 14.25). Ver também Lc
4.8; Jo 4.20,21,22,23,24; 12.20; At 8.27; 24.11; Hb 11.21; Ap
4.10; 5.14; 7.11; 11.1,16; 14.7; 15.4; 19.4,10; 22.8,9.

A Tradução do Novo Mundo adulterou os originais para


fazer parecer que a Bíblia não ensina adorar Jesus. Mas o
mesmo vergo grego usado para adorar Deus ou o diabo, é
traduzido como “prestar homenagem” em absolutamente todas
as vezes que se refere a Jesus. Isto é deslealdade, enganação.

Posteriormente, a edição de 2015 da TNM, vendo que a


discriminação ficou muito alarmante, resolveu traduzir
proskuneo referente a Jesus como “curvar-se”, deixando a
131

expressão “prestar homenagem” em apenas alguns versículos.


Mas continuam traduzindo de forma diferente, quando se trata
de Deus ou do diabo, utilizando para estes a palavra “adorar” .
Tal palavra jamais foi direcionada a Jesus na versão bíblica
das Testemunhas de Jeová. Da mesma maneira, “curvar-se” ou
“prestar homenagem” nunca foram utilizadas para Deus, ou
para o diabo na TNM.

Mesmo com toda essa discriminação, é impossível


desviar-se da verdade, pois, além dos versículos acima, há
outros que não utilizam diretamente a palavra proskuneo:

“Para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos


céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que
Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai.” (Fp 2.10). “E,
quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e
quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um
deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as
ora.ções dos santos [...] proclamando em grande voz: Digno é o
Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e
sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que
toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e
sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que
está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a
glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres
132

viventes respondiam: Amém! Também os anciaos prostraram-se


e adoraram” (Ap 5.8,12-14).

Os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos se


prostraram e adoraram o Cordeiro, dizendo que a Ele pertence
todo poder, honra, glória, louvor, riqueza, sabedoria e domínio.
Mesmo sem a palavra original de “adorar”, Jesus é
reverenciado e adorado no céu e na Terra.

Como está escrito em Fp 2.10,11, acima, ao nome de


Jesus se dobrará todo joelho no céu, na Terra e debaixo da
Terra, e toda língua confessará. Esta mesma frase foi dita para
Jeová em Isaías:

“Por mim mesmo tenho jurado; da minha boca saiu o que


é justo, e a minha palavra não tornará atrás. Diante de mim se
dobrará todo joelho, e jurará toda língua.” (Is 45.23).

Paulo, quando falava de Jesus, estava citando Isaías


45.23, ou então estava glorificando Jesus com a mesma glória
que cabe a Deus. Jesus é Deus, e todos Lhe adorarão no céu e
na Terra, assim como adorarão ao Pai.

Foi demonstrado aqui que Deus é o único que pode ser


adorado. Entrementes, Jesus também pode ser adorado, o que
significa que Ele também é Deus.
133

Hebreus 1.7.

“Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos


faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo” (Hb 1.7).

É uma citação do Salmo 104.4. Jesus não é um anjo.


Deus faz dos anjos vento e labareda, mas deu reino eterno a
Jesus (verso 8).

Hebreus 1.8.

“Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o


sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino” (Hb 1.8).

Lembremo-nos de que toda a afirmação dos versículos


de 5 a 13 são palavras de Jeová dirigidas a Jesus. Podemos
constatar isto pelas seguintes frases:

“Porque a qual dos anjos disse jamais:” (v. 5).

“E, quando outra vez introduz no mundo o Primogênito,


diz:” (v. 6).

“E, quanto aos anjos, diz:” (v. 7).

‘Mas, do Filho, diz:” (v. 8).


134

“E : ” (v. 10).

“E a qual dos anjos disse jamais:” (v. 13).

Significa que o próprio Jeová chamou Jesus de Deus,


quando disse:

“Mas acerca do Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o


sempre; e: Cetro de equidade é o cetro do seu reino” (Hb 1.8).

Mas veja como os originais foram deturpados


propositalmente pela Tradução do Novo Mundo:

“Mas, com referência ao Filho: Deus é o teu trono para


todo o sempre, e [o] cetro do teu reino é o cetro da retidão” (Hb
1.8 TNM).

Na frase original, o sujeito da oração é “o teu trono”. E,


na frase adulterada, o sujeito passa a ser “Deus”, enquanto
“trono” se torna o objeto direto. Isto muda tudo!

No original, Deus aparece em segunda pessoa (pessoa


com quem se fala), enquanto que, na Tradução do Novo
Mundo, Deus aparece como terceira pessoa (pessoa de quem se
fala).

A palavra “Deus”, neste versículo, deve ser transliterada


como segunda pessoa. Como resultado, Jeová chama Jesus de
135

Deus. Mas, pela versão bíblica das Testemunhas de Jeová, o


que ocorre é completamente diferente: Jeová está dizendo para
Jesus que Deus é o trono de Jesus. O sentido da frase muda:

Original: “o trono de Deus (Jesus) dura para sempre”.

Falsificado: Deus é o trono de Jesus para sempre”.

Pode até ser verdade que Deus seja o trono de Jesus.


Mas não é isto o que diz o texto. Ali está escrito apenas que o
trono dura para sempre, cujo sentido aponta para o reino de
Jesus, que é eterno. Não há a informação de que Jeová seja o
trono.

Hebreus 1.9.

“Amaste a justiça e odiaste a iniquidade; por isso, Deus,


o teu Deus, te ungiu com o óleo de alegria como a nenhum dos
teus companheiros” (Hb 1.9).

Mais uma vez, Jesus está sendo chamado de Deus. A


informação central é que o Deus do Deus Jesus O ungiu com
óleo.

Todavia, novamente a Tradução do Novo Mundo


adulterou o texto:
136

“Amaste a justiça e odiaste o que é contra a lei. É por


isso que Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de exultação mais
do que a teus associados” (Hb 1.9 TNM).

O resultado foi que a informação agora retira o nome


“Deus”, ora conferido a Jesus.

Nas versões bíblicas normais, a primeira palavra “Deus”


é um vocativo, ou seja, um chamamento, uma invocação ou
um apelo. O vocativo é usado quando o falante se dirige ao
ouvinte.

E a segunda palavra “Deus” é o sujeito da oração.

Porém, na Tradução do Novo Mundo, o sujeito passa a


ser a primeira palavra “Deus”, enquanto que a segunda palavra
“Deus” se torna um aposto.

Na TNM, as duas palavras “Deus” ocupam a posição de


terceira pessoa (de quem se fala). Uma funciona como
repetição da outra, reforçando-lhe o sentido.

Nas demais traduções bíblicas, bem como no original


grego, a primeira menção da palavra “Deus” ocupa o lugar de
segunda pessoa (com quem se fala), e a segunda palavra
“Deus” está na terceira pessoa (de quem se fala). Assim, Jesus
está sendo chamado de Deus. O versículo informa que há um
137

Deus e um Deus de Deus. Jeová é Deus do Deus Jesus. Esta é


a mensagem original.

Para tirarmos a prova, basta lermos o texto do Velho


Testamento, de onde o autor de Hebreus tirou estas palavras,
pois Hb 1.8,9 é uma citação de Sl 45.6,7:

“O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de


equidade é o cetro do teu reino. Amas a justiça e odeias a
iniquidade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com o óleo de
alegria, como a nenhum dos teus companheiros” (Sl 45.6,7 RA).

A grafia hebraica confirma a grega com exatidão. A


mensagem dos versículos é que o trono do Deus Jesus dura
para sempre, e o Deus do Deus Jesus O ungiu com óleo.

Mas, é claro que a Tradução do Novo Mundo tratou de


adulterar também a referência Sl 45.6,7, para ficar igual a Hb
1.8,9:

“Deus é o seu trono para todo o sempre; O cetro do seu


reino é um cetro de retidão. Ó rei, o senhor amou a justiça e
odiou a maldade. É por isso que Deus, o seu Deus, o ungiu com
óleo de alegria mais do que aos seus companheiros” (Sl 45.6,7
TNM).
138

Deste modo, se o infeliz membro da Sociedade só tem o


direito de ler a Tradução do Novo Mundo, permanece na
ignorância para sempre, ainda que consulte o texto de Salmos
citado pelo autor de Hebreus.

Hebreus 1.10.

Deus chamou Jesus de Senhor:

“E: Tu, Senhor, no princípio, fundaste a terra, e os céus


são obra de tuas mãos” (Hb 1.10).

Além de chama-lo de Senhor, chamou-O também de


Criador, pois fundou a terra e os céus.

Hebreus 1.11.

Jesus é eterno e permanece para sempre:

“Eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles,


como roupa, envelhecerão” (Hb 1.11).
139

Hebreus 1.12.

Mais uma vez, Jesus é eterno e permanece para


sempre:

"... e, como um manto, os enrolarás, e, como uma veste,


se mudarão; mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão”
(Hb 1.12).

Jesus não terá fim de anos. Ele é o mesmo, o que


significa que é imutável e assim permanecerá para sempre.

Hebreus 1.10-12 é uma citação de Salmos 102.25-27.

Hebreus 1.13.

“E a qual dos anjos disse jamais: Assenta-te à minha


destra, até que ponha os teus inimigos por escabelo de teus
pés?” (Hb 1.13).

A pergunta do versículo tenta excluir Jesus da classe de


anjos, pois, ao citar Salmos 110.1, o autor de Hebreus informa
que Jeová nunca dissera o mesmo a qualquer anjo. Deus
colocará todos os inimigos de Jesus abaixo de Seus pés, coisa
que não fez com nenhum anjo.
140

O objetivo do primeiro capítulo de Hebreus é estabelecer


a soberania de Jesus sobre todo o exército dos céus (excluindo
o próprio Jeová, naturalmente), qualificando-O, descrevendo-O
e exaltando-O.
141

A idade de Jesus e a idade dos anjos

Um parâmetro de comparação entre Jesus e Deus é a


idade dEles. O dia do nascimento dos anjos data dos seis dias
da criação do universo (que provaremos biblicamente no
próximo capítulo). Mas Jesus, mesmo sendo gerado, existe
antes de todos os tempos eternos. Ele é transcendente ao
tempo. É maior do que as grandezas que medem a eternidade.
Ele é o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim:

“E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão


que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. Eu
sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim.
Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no
sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da
vida, e entrem na cidade pelas portas. Fora ficam os cães, os
feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatra.s e todo aquele
que ama e pratica a mentira. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para
vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração
de Davi, a brilhante Estrela da manhã” (Ap 22.12-16).

O versículo 16 deixa claro que Jesus é o autor das


palavras acima, pois diz em primeira pessoa: “Eu, Jesus”. E o
142

versículo 12 diz que Ele vem sem demora. Quem vem ao


mundo é Jesus. Se lermos até o versículo 20, veremos que
Jesus disse: “Certamente, venho sem demora”. Quem virá sem
demora, se não for Jesus? E a resposta de João foi: “Amém!
Vem, Senhor Jesus!” Por isto, do versículo 10 ao 20, são
palavras de Jesus, proferidas pela boca do anjo, o qual disse:

“Eu sou o Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Último, o


Princípio e o Fim,” (v. 13).

Jesus é o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o


princípio e o fim. Estas características o qualificam como Deus.

“Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs
sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro
e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo
pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do
inferno” (Ap 1.17,18). “Ao anjo da igreja em Esmirna escreve:
Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou
a viver” (Ap 2.8).

Quem é o primeiro e o último nestes versículos? É


aquele que esteve morto e tornou a viver: Jesus. Não pode ser
Jeová, pois Este nunca morreu, para que necessitasse tornar a
viver. Jesus é o primeiro e o último.
143

Se retrocedermos uma página da nossa Bíblia


encontraremos:

“4 João, às sete igrejas que se encontram na Ásia, graça


e paz a vós outros, da parte daquele que é, que era e que há de
vir, da parte dos sete Espíritos que se acham diante do seu trono
5 e da pa rte de Jesus Cristo, a Fiel Testemunha, o Primogênito
dos mortos e o Soberano dos reis da terra. Àquele que nos ama,
e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, 6 e nos
constituiu reino, sa.cerdotes para o seu Deus e Pai, a ele a glória
e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém! 7Eis que vem com
as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E
todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente.
Amém! 8 Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que
é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso” (Ap 1.4-8).

Jesus é o alfa e o ômega, o Senhor Deus, o Todo


Poderoso.

Mas a Tradução do Novo Mundo transcreve:

“Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Jeová Deus”.

Trocou a palavra “Senhor” por Jeová, ferindo assim, o


original grego Kurios, que quer dizer Senhor. Esta é mais uma
das várias dezenas de adulterações feitas para negar a
Divindade de Cristo.
144

Porém, lendo o contexto, você pode perceber que, desde


o versículo 5, todo o trecho fala de Jesus, pois diz: “da p a rte
de Jesus C risto”. Tudo o que se segue, portanto, refere-se a
Jesus. Leia também que a pessoa de que trata o texto é o
Primogênito dos mortos (Jesus), que nos libertou pelo seu
sangue (Jesus), que nos constituiu sacerdotes para Seu Deus
(Jesus), que vem com as nuvens e todo olho o verá (Jesus), que
foi transpassado (Jesus). Obviamente, a continuação também
se refere a Ele (alfa e ômega).

Jesus é o alfa e o ômega. Compararemos isto com


outros versículos que falam a mesma coisa de Jeová:

“Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o


Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça
da fonte da água da vida” (Ap 21.6). “Assim diz o SENHOR, Rei
de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o
primeiro e eu sou o último, e além de mim não há Deus” (Is
44.6). “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu
sou o mesmo, sou o primeiro e também o último” (Is 48.12).

Da mesma maneira que Deus é o alfa e o ômega, Jesus


também é. Portanto, ambos são Deus.

Jesus, apesar de ter sido criado, é transcendente ao


tempo. Ele existia antes dos tempos eternos, antes da criação
145

da dimensão do tempo, quando todos os anjos só existiam na


mente de Deus.

“E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como


grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em
Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os
dia.s da eternidade” (Mq 5.2). “No princípio era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no
princípio com Deus” (Jo 1.1,2). “Ele é antes de todas as coisas.
Nele, tudo subsiste” (Cl 1.17). “Sem pai, sem mãe, sem
genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de
existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus),
permanece sacerdote perpetuamente” (Hb 7.3).

Jesus não teve princípio de dias. Foi gerado por Deus


antes da eternidade. Ele estava no princípio com Deus. Se
compararmos com os anjos, cada um teve seu dia de
nascimento. Todos nasceram ao mesmo tempo, dentro dos seis
dias da criação do universo.

“Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o


governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz:” (Is 9.6).
146

Um dos nomes pelos quais Jesus foi chamado é Pai da


Eternidade. Antes dEle nada existia, exceto Jeová. Os anjos
foram criados muito depois disto.

“O SENHOR me possuía no início de sua obra, antes de


suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui estabelecida,
desde o princípio, antes do começo da terra” (Pv 8.22,23).

Salomão falava da “sabedoria”, mas muitos teólogos


associam essa sabedoria à pessoa de Jesus. Neste caso, prova­
se que Ele é mais antigo do que tudo o que há.
147

Data da criação dos anjos

Os anjos não são seres eternos, no que se refere ao


princípio, pois são criaturas (Ne 9.6; Jó 38.4,7; Sl 148.2,5; Cl
1.16). Porém, são eternos em relação ao futuro. Somente Deus,
a Trindade Santa, transcende o tempo no passado. Deus não
teve princípio, mas Ele mesmo é o criador de todas as coisas, e
conferiu aos anjos a imortalidade, a fim de que nunca morram
(Lc 20.36).

No que diz respeito ao dia do nascimento dos anjos, a


maioria dos teólogos acha impossível precisar a data.
Entretanto, tal data não está longe de nossa compreensão. É
possível mensurá-la pela análise das Escrituras. Vejamos,
primeiramente, o que Deus falou a Jó:

“Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da


terra? Dize-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas,
se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre
que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a
pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas, alegremente
cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?” (Jó 38.4-7).
148

O Senhor aqui nos deu a conhecer mais alguns detalhes


sobre a época criação da Terra, que é justamente a pauta desta
discussão. A expressão “filhos de Deus” está se referindo aos
anjos, pois eram os únicos seres que existiam durante a
fundação do mundo. De modo algum suponhamos que
humanos estavam presentes observando a criação e
rejubilando-se.

Outro detalhe que os caracteriza como anjos é que são


chamados de “estrelas da alva”.

Estes versículos foram transcritos aqui com o objetivo


final de mostrar que os seres presentes na época do
nascimento do universo visível estavam alegremente cantando
e rejubilando. A Bíblia não afirma em parte alguma que tais
seres nasceram há bilhões de anos.

“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o


seu exército [tsaba]” (Gn 2.1).

Isto é o que se sabe sobe o hexameron. Deus criou todo


seu exército durante seis dias. Mas que exército? Estaria o
versículo se referindo aos anjos, ou às estrelas? Os anjos foram
criados na primeira semana da Terra?

A palavra tsaba está em 461 versículos e, segundo


Strong, significa: —
o que vai adiante, exército, guerra, arte da
149

guerra, tropa”. Quando adota o sentido de “exército” pode


referir-se às estrelas e, às vezes, aos anjos.

Com o sentido de estrelas, temos alguns exemplos:

“Levantai ao alto os olhos e vede. Quem criou estas


coisas? Aquele que faz sair o seu exército de estrelas, todas bem
contadas, as quais ele chama pelo nome; por ser ele grande em
força e forte em poder, nem uma só vem a faltar” (Is 40.26). E
também: Dt 4.19; Sl 33.6; Is 34.4.

Agora com sentido de anjos:

“Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus


exércitos” (Sl 148.2). E também: 1Rs 22.19; Sl 24.10; 46.7,11;
48.8; 59.5; 69.6; 80.4,7,14,19; 84.1,3,8,12; 89.8; 103.21.

Retomando o versículo em análise:

“Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o


seu exército [tsaba]” (Gn 2.1).

Foi assim que foram acabados os céus, a terra e todos


os exércitos, tanto de estrelas, quanto de anjos. Assim como? O
versículo se refere ao contexto, o qual explica o que ocorreu
nos seis dias da criação. Portanto, os exércitos de Deus foram
concluídos dentro do hexameron.
150

O seguinte versículo dá uma grande luz à questão:

“Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o


seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo
quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército
dos céus te adora” (Ne 9.6).

Se os seres em questão podem adorar, certamente são


anjos, e não estrelas. Mas como saberemos se as duas palavras
se referem ao mesmo exército?

Há aqui a menção dupla da palavra tsaba. Na primeira


vez, Deus declara que criou seu exército. Na segunda, que tal
exército O adora. É uma indicação de que se trata da mesma
tropa.

A oração “e tu os preservas a todos com vida” faz ligação


entre a primeira e a segunda frase, isto é, entre a criação e a
adoração, tornando iguais os exércitos citados.

Observe que o começo do versículo relata a criação do


exército ao lado da criação dos céus e da terra, assim como
descrito em Gênesis 2.1. Isto é uma importante evidência de
que o versículo de Gênesis também trata de anjos. Todavia, o
que mais se destaca é a primeira frase:
151

“Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o


seu exército”.

A frase dá a indicação de que os anjos foram criados


após a criação dos céus, os quais foram feitos (bara) no
primeiro dia da primeira semana do universo.

Este é o momento propício para revermos a passagem


de Jó 38:

“Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da


terra? Dize-mo, se tens entendimento. Quem lhe pôs as medidas,
se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre
que estão fundadas as suas bases ou quem lhe assentou a
pedra angular, quando as estrelas da alva, juntas, alegremente
cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus?” (Jó 38.4-7).

Clareados pela compreensão destes versículos, é


possível posicionar a criação dos anjos no início do primeiro
dia. O texto bíblico informa que estes seres viram a criação e
rejubilaram.

É importante relembrar que toda a obra criadora


ocorreu dentro de seis dias:

“Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre;


porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, e, ao sétimo
152

dia, descansou, e tomou alento” (Ex 31.17). “Porque, em seis


dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há
e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia
de sábado e o santificou” (Ex 20.11).

A palavra “tudo” inclui também os seres celestiais. Ver


Cl 1.16. A criação não foi feita em duas etapas. Deus não criou
os anjos separadamente, para depois criar as outras coisas.
Tudo foi feito dentro dos seis dias da primeira semana.

Estavas no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras


preciosas te cobrias: o sárdio, o topázio, o diamante, o berilo, o
ônix, o jaspe, a safira, o carbúnculo e a esmeralda; de ouro se te
fizeram os engastes e os ornamentos; no dia em que foste
criado, foram eles preparados” (Ez 28.13).

O versículo traz a importante informação de que


Satanás foi criado no mesmo dia em que as pedras preciosas
do jardim do Éden foram preparadas.

Diante de todas as evidências acima, é sensato


presumir que os anjos nasceram no dia da fundação da Terra.
Sim, os anjos têm a mesma idade do homem, com diferença de
alguns dias! Mas por que os teólogos insistem em dizer que os
anjos participaram de longas eras da eternidade, antes do
homem surgir? Fazem isto por duas razões:
153

1) Desconhecem os versículos acima citados.


2) É mais emocionante crer que os anjos são mais antigos. A
história ficaria mais bonita e com um ar de mistério. Não
tem a menor graça crer que eles são novos assim como a
humanidade. E assim, muitos teólogos creem no que
querem, no que convém, e não no que está escrito.

Não é herético concluir que os anjos vieram a existir no


primeiro dia do hexameron. A Bíblia fala que eles foram criados
simultaneamente com o restante do universo. Eles
testemunharam a criação dos céus e da terra, os quais foram
criados no primeiro dia. Satanás nasceu no mesmo dia em que
as pedras do Éden foram preparadas. E a totalidade da obra
criadora de Deus foi feita dentro daqueles seis dias.

Mas Jesus não surgiu nos seis dias da criação. Ele não
teve princípio de dias. Ele é o alfa e o ômega, o princípio e o
fim, o primeiro e o último. Jesus é Deus, e não um anjo.
154
155

Jesus é Miguel?

Quem é Miguel? Nós acreditamos que é um arcanjo.


Entretanto, para os Adventistas do Sétimo Dia, Miguel é Jesus.
Para as Testemunhas de Jeová, muito pior: Jesus é Miguel!8
Qual é a diferença entre “Jesus ser Miguel” e “Miguel ser
Jesus”? Se dissermos que Miguel é Jesus, estaremos
assegurando que Miguel é o Filho de Deus, que no Velho
Testamento, disfarçou seu nome como Miguel. Porém, se
dissermos que Jesus é Miguel, estamos afirmando que Jesus é
um arcanjo, criatura de Deus que, ao nascer da virgem Maria,
mudou o nome para Jesus.

Todavia, as duas opções são inaceitáveis. A primeira


razão para não associarmos Miguel com Jesus é a falta de
estar isto registrado na Bíblia. Não existe um único versículo
sequer que faça, ao menos, uma comparação entre ambos.
Então, pela falta de provas, cai a teoria.

Provavelmente, o significado do nome Miguel deve ter


corroborado este equívoco. Seu nome significa: “que é

A Sentinela, 01 de novembro de 1995, p. 8.


156

semelhante a Deus” . Sabemos que ninguém é semelhante a


Deus, exceto Jesus. No entanto, isto depende de qual
parâmetro está sendo usado como comparação. Em glória e
poder, ninguém é semelhante a Deus. Porém, em outros
aspectos, Jesus é semelhante ao filho do homem (Ap 1.13;
14.14). Deus também é semelhante ao homem (Gn 1.27).

Desta feita, o significado do nome de Miguel não é


suficiente para tirarmos uma conclusão precipitada, haja vista
que tal significado possui duas vertentes, dependendo do ponto
de vista do intérprete: “que é semelhante a Deus” ou “quem é
semelhante a Deus?” . O nome dele pode ser uma pergunta de
resposta óbvia: ninguém é semelhante a Deus. Em todos os
casos, o argumento não permanece, por não ter base sólida.

Outro motivo que deve ter desencadeado a crença da


grandeza de Miguel é a interpretação errada de um versículo de
Daniel:

“Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o


defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia,
qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo;
mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for
achado inscrito no livro” (Dn 12.1).

O versículo confere muita majestade a Miguel, de forma


que certas pessoas o confundiram com Jesus Cristo. Ali está
157

escrito que Miguel é o grande príncipe, defensor de Israel. Lê-se


ainda que, quando Miguel se levantar, haverá tempo de
angústia e também de salvação.

Porém, vejamos o que, de todos estes acontecimentos, é


da autoria de Miguel. Quando o versículo diz “naquele tempo”,
refere-se ao tempo da Grande Tribulação, que foi retratada nos
versículos anteriores, juntamente com a aparição da besta
apocalíptica, figurada por Antíoco IV Epifânio. O conteúdo do
capítulo 11, a partir do versículo 21, começa referindo-se às
batalhas e ações de Epifânio, e termina narrando a atuação da
besta.

Será tempo de Grande Tribulação na Terra. Mas


sabemos que Israel escapará dela (Jr 30.7; Ap 12.6,14). E
Miguel é o anjo responsável pela segurança deste povo durante
todo período citado. O versículo também diz que, naquele
tempo, serão salvos os que estiverem inscritos no Livro da
Vida, mas não diz que é Miguel o autor da salvação.

E, se na referência acima Miguel é o grande príncipe, no


versículo abaixo ele é apenas um dos príncipes:

“Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e


um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para
ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia” (Dn
10.13).
158

Se Miguel fosse Jesus, seria o Príncipe, e não um dos


príncipes. Não seria um dentre vários outros iguais. Além disto,
se fosse Jesus, seria o primeiro príncipe, e não um dos
primeiros. Qual teria surgido antes dEle?

Miguel não pode ser Jesus porque contendia com o


diabo (Jd 9). Jesus não precisaria rebaixar-Se ao nível de
contender com ele, como se fossem dois seres de igual poder. A
Bíblia diz que Jesus é capaz de derrotar o iníquo com o simples
sopro que sai de Sua boca (2Ts 2.8).

Observe ainda que Miguel, quando contendia com o


diabo, disse: “o Senhor te repreenda”. Se fosse Jesus, Ele
próprio teria autoridade para repreendê-lo, e não teria dito que
o Senhor o repreenderia. Quando Jesus foi tentado no deserto,
Ele mesmo repreendeu Satanás. Quando Jesus expulsava
demônios, Ele próprio expulsava, ao invés de dizer “o Senhor te
repreenda”, ou “sai em nome de Jeová”.

No versículo que acabamos de ler (Jd 9), está escrito


que Miguel é um arcanjo, em praticamente todas as versões
bíblicas. E o que mais importa é que no original grego também
há a palavra archaggelos. Se é a própria Bíblia que diz que
Miguel é arcanjo, quem somos nós para dizer que não? O
arcanjo tem seu nome, que é Miguel, e não Jesus (nome grego),
não Josué (hebraico), não Jesua (aramaico). E sabemos que
159

Jesus não pode ser arcanjo, porque é Deus. Ele é Criador de


todas as coisas.

Jesus não pode ser Miguel, pois é diferenciado dos


anjos no livro de Hebreus:

“Tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou


mais excelente nome do que eles. Pois a qual dos anjos disse
jamais: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe
serei Pai, e ele me será Filho? E, novamente, ao introduzir o
Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem.
Ainda., quanto aos anjos, diz: Aquele que a seus anjos faz
ventos, e a seus ministros, labareda de fogo; mas acerca do
Filho: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; e: Cetro de
equidade é o cetro do seu reino [...] Ora., a qual dos anjos jamais
disse: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus
inimigos por estrado dos teus pés?” (Hb 1.4-8,13).

Há várias afirmações importantes no trecho. Jesus é


superior aos anjos. Deus não chama nenhum anjo de Filho. Os
anjos devem adorar Jesus. Deus faz dos anjos labareda, mas
deu reino eterno a Jesus. Deus colocará todos os inimigos de
Jesus abaixo de Seus pés, coisa que não fez com nenhum anjo.

A primeira epístola aos Tessalonicenses também


distingue Jesus do arcanjo, mostrando que são duas pessoas
diferentes:
160

“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e


com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que
morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (1Ts 4.16).

Na ocasião do arrebatamento e da primeira


ressurreição, o arcanjo tocará a trombeta. Ao som deste toque,
o Senhor Jesus Cristo descerá para Se encontrar conosco nos
ares. São duas pessoas diferentes, mencionadas distintamente
no versículo.

Porém, as Testemunhas de Jeová argumentam dizendo


que Jesus é arcanjo, pois o versículo atesta que Ele descerá
com voz de arcanjo. Mas, convenhamos, se o fato de descer
com voz de arcanjo faz com que Jesus seja arcanjo, temos que
concordar que o fato de descer com trombeta de Deus faz com
que Jesus seja Deus. Porque os originais são os mesmos:

“Com [en] voz de arcanjo”.

“Com [en] trombeta de Deus”.

En é uma preposição grega, que significa: em, por, com


etc.

Sintaticamente, a chance de Jesus ser um arcanjo é a


mesma de ser Deus, se fosse correta essa maneira de
161

interpretar. E admitir que Jesus é Deus não está nos planos


das Testemunhas de Jeová.

Mas o verdadeiro significado do texto é que um é o que


descerá, outro é o que tocará a trombeta e outro é o que fará
som de alarido. São pessoas diferentes.

Por estas razões, Jesus não pode ser chamado, nem


comparado com Miguel. Tampouco, Miguel pode ser chamado
de Jesus.
162
163

Orar somente a Deus

Um fato interessante é que certas Testemunhas de


Jeová argumentam que Jesus orava ao Pai. Se Ele fosse Deus,
não precisaria orar, nem pedir nada, mas Ele próprio realizaria
Seus desejos.

É necessário salientar, primeiramente, que nós nunca


dissemos que Jesus é o próprio Pai, mas sim que ambos
compartilham da mesma Divindade.

Em segundo lugar, Jesus orava ao Pai apenas quando


estava aqui na Terra. E foi naquele tempo que Jesus deixou,
temporariamente, de ser Deus, para se tornar um homem (Is
53.2,3; Rm 8.3; Fp 2.5-8; Hb 2.7,9,17; 1Jo 4.2; 2Jo 7). E, como
homem, necessitava orar. Todavia, ao ser ascendido ao céu,
reassumiu Sua forma Divina e não necessita mais orar ao Pai
(Hb 1.1-4).

E o assunto da oração envolve mais outra pauta. As


Testemunhas de Jeová creem que Deus só responde às orações
feitas em nome de Jeová. Por isto, sempre iniciam suas orações
dizendo: “Deus Jeová”. Se alguém se referir a Ele como Senhor,
164

ou como Deus, não terá sua oração ouvida por Deus. Para as
Testemunhas de Jeová, quem ora a Deus ou ao Senhor, sem
dizer o nome Jeová, está orando a Satanás, um falso deus.

A base bíblica que encontraram foi unicamente uma


interpretação forçada de Êxodo 3.15:

“Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aos filhos


de Israel: O SENHOR [Javé], o Deus de vossos pais, o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós
outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado
de geração em geração” (Ex 3.15).

Parece que se esqueceram de consultar as passagens


bíblicas que realmente têm relação com o assunto:

“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos


céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6.9).

Foi desta maneira que Jesus ensinou a orar. Este


versículo sim delimita a forma correta de orar. Mas, quanto a
Êxodo 3.15, o tema é completamente alheio a orações. Ali Deus
apenas expressa Sua grandeza e o valor de Seu nome, sem
especificar qual tratamento deve receber nas orações.

“Porque não recebestes o espírito de escravidão, para


viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de
165

adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai” (Rm 8.15). “Para


resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebéssemos a
adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso
cora,ção o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai! De sorte
qpe já não és escravo, porém filho; e, sendo filho, também
herdeiro por Deus” (Gl 4.5-7).

Nós clamamos Aba, Pai, pois é bíblico assim fazermos.


As palavras de Paulo confirmam o ensinamento de Jesus,
dizendo que podemos chamar Deus de Pai, sem
necessariamente falarmos Seu nome.

Daniel não chamou Deus de Jeová em sua oração:

“Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de


eternidade a eternidade, porque dele é a sabedoria e o poder;
[...] A ti, ó Deus de meus pais, eu te rendo graças e te louvo,
porque me deste sabedoria e poder; e, agora, me fizeste saber o
que te pedimos, porque nos fizeste saber este caso do rei” (Dn
2.20,23).

Será que é inteligente falarmos que Daniel estava


orando a Satanás, ou a um falso deus, pelo fato dele não ter
dito o nome Jeová? Obviamente não.

O versículo acima está em aramaico. Mas isto não é


razão para não encontrarmos o nome Jeová, pois há exemplos
166

de versículos de Daniel, em grego, nos quais ele não chama


Deus pelo nome:

“Orei ao SENHOR, meu Deus, confessei e disse: ah!


Senhor [‘Adonavl! Deus [‘Eli grande e temível, que guardas a
aliança e a misericórdia para com os que te amam e guardam os
teus mandamentos [...] A ti, ó Senhor [‘Adonavl, pertence a
justiça, mas a nós, o corar de vergonha, como hoje se vê; aos
homens de Judá, os moradores de Jerusalém, todo o Israel, quer
os de perto, quer os de longe, em todas as terras por onde os
tens lançado, por causa das suas transgressões que cometeram
contra ti [...] Na verdade, ó Senhor [‘Adonay], nosso Deus, que
tiraste o teu povo da terra do Egito com mão poderosa e
ganhaste para ti nome, como se vê neste dia, pecamos;
procedemos impiamente. Ó Senhor [‘Adonay], segundo todas as
tuas justiças, aparte-se a tua ira e o teu furor da tua cidade de
Jerusalém, do teu santo monte; porquanto, por causa dos nossos
pecados e por causa das iniquidades de nossos pais, tornou-se
Jerusalém e o teu povo um opróbrio para todos os que estão em
redor de nós. Agora, pois, ó Deus [‘Elohiyml nosso, ouve a
omção do teu servo e as suas súplicas e sobre o teu santuário
assolado faze resplandecer o teu rosto, por amor do Senhor
[‘Adonay]. Inclina, ó Deus [‘Elohiyml meu, os teus ouvidos e
ouve; abre os teus olhos e olha para a nossa desolação e para a
cidade que é chamada pelo teu nome, porque não lançamos as
nossas súplicas perante a tua face fiados em nossas justiças,
167

mas em tuas muitas misericórdias. Ó Senhor [‘Adonavl. ouve; ó


Senhor [‘Adonay], perdoa; ó Senhor [‫״‬Adonavl, atende-nos e
opera sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus [‫״‬Elohivml meu;
porque a tua cidade e o teu povo se chamam pelo teu nome. ” (Dn
9.4,7,15-19).

Como se pode ver, mesmo nos versículos gregos, há


registros de orações de Daniel sem a necessidade de
pronunciar “Jeová” constantemente.

Veja como Jesus começava Suas orações:

“Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai,


Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos
sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11.25).
“Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando
e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!
Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres [...]
Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é
possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a
tua vontade [...] Deixando-os novamente, foi orar pela terceira
vez, repetindo as mesmas palavras” (Mt 26.39,42,44).
“Contudo, Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem. Então, repartindo as vestes dele, lançaram sortes [...]
Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tua.s mãos entrego o
meu espírito! E, dito isto, expirou” (Lc 23.34,46). —
Tiraram,
168

então, a pedra. E Jesus, levantando os olhos para o céu, disse:


Pai, graças te dou porque me ouviste” (Jo 11.41). ‫״‬Agora, está
angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta
hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora.
Pai, glorifica o teu nome. Então, veio uma voz do céu: Eu já o
glorifiquei e ainda o glorificarei” (Jo 12.27,28). “Tendo Jesus
falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é
chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te
glorifique a ti” (Jo 17.1). Ver também: Mc 14.36; Lc 10.21; 11.2;
22.42.

O nome real de Deus jamais aparece no Novo


Testamento. Nem mesmo a Tradução do Novo Mundo traduz os
versículos acima com a palavra Jeová. Sim, todas as
passagens bíblicas acima estão traduzidas como “Pai” na Bíblia
das Testemunhas de Jeová. Portanto, basta somente que elas
leiam a própria Bíblia, para saberem que não é obrigatório
orarmos dizendo o nome de Jeová, para que nossas orações
sejam ouvidas.

E os exemplos bíblicos de antepassados que oraram


sem pronunciar “Jeová” são vastos:

Abraão:

“E disse: Senhor meu, se acho mercê em tua presença,


rogo-te que não passes do teu servo [...] Disse mais Abraão: Eis
169

que me atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza [...]


Insistiu: Não se ire o Senhor, falarei ainda: Se houver,
porventura, ali trinta? Respondeu o SENHOR: Não o farei se eu
encontrar ali trinta. Continuou Abraão: Eis que me atrevi a falar
ao Senhor: Se, porventura, houver ali vinte? Respondeu o
SENHOR: Não a destruirei por amor dos vinte. Disse ainda
Abraão: Não se ire o Senhor, se lhe falo somente mais esta vez:
Se, porventura, houver ali dez? Respondeu o SENHOR: Não a
destruirei por amor dos dez” (Gn 18.3,27,30-32).

Abimeleque:

“Ora, Abimeleque ainda não a havia possuído; por isso,


disse: Senhor, matarás até uma nação inocente?” (Gn 20.4).

Moisés:

“Então, disse Moisés ao SENHOR: Ah! Senhor! Eu nunca


fui eloqüente, nem outrora, nem depois que falaste a teu servo;
pois sou pesado de boca e pesado de língua. Ele, porém,
respondeu: Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos
a mim” (Ex 4.10,13). “Então, Moisés, tornando-se ao SENHOR,
disse: Ó Senhor, por que afligiste este povo? Por que me
enviaste?” (Ex 5.22). “E, imediatamente, curvando-se Moisés
para a terra, o adorou; e disse: Senhor, se, agora, achei graça
aos teus olhos, segue em nosso meio conosco; porque este povo é
de dura cerviz. Perdoa a nossa iniquidade e o nosso pecado e
170

toma-nos por tua herança” (Ex 34.8,9). “Senhor, tu tens sido o


nosso refúgio, de geração em geração” (Sl 90.1).

Gideão:

“Ah! Senhor, que direi? Pois Israel virou as costas diante


dos seus inimigos!” (Js 7.8).

Manoá, pai de Sansão:

“Então, Manoá orou ao SENHOR e disse: Ah! Senhor


meu, rogo-te que o homem de Deus que enviaste venha outra vez
e nos ensine o que devemos fazer ao menino que há de nascer”
(Jz 13.8).

Neemias:

“Ah! Senhor, estejam,, pois, atentos os teus ouvidos à


oração do teu servo e à dos teus servos que se agradam de
temer o teu nome; concede que seja bem sucedido hoje o teu
servo e dá-lhe mercê perante este homem. Nesse tempo eu era
copeiro do rei” (Ne 1.11).

Davi:

“Até quando, Senhor, ficarás olhando? Livra-me a alma


das violências deles; dos leões, a minha predileta” (Sl 35.17).
“Na tua presença, Senhor, estão os meus desejos todos, e a
171

minha ansiedade não te é oculta [...] Apressa-te em socorrer-me,


Senhor, salvação minha” (Sl 38.9,22). “E eu, Senhor, que
espero? Tu és a minha esperança” (Sl 39.7). “Eu sou pobre e
necessitado, porém o Senhor cuida de mim.; tu és o meu amparo
e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” (Sl 40.17).
“Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os
teus louvores” (Sl 51.15). “Destrói, Senhor, e confunde os seus
conselhos, porque vejo violência e contenda na cidade” (Sl 55.9).
“Não os mates, para que o meu povo não se esqueça; dispersa-
os pelo teu poder e abate-os, ó Senhor, escudo nosso” (Sl 59.11).
“E a ti, Senhor, pertence a graça, pois a cada um retribuis
segundo as suas obras” (Sl 62.12). “Compadece-te de mim, ó
Senhor, pois a ti clamo de contínuo. Alegra a alma do teu servo,
porque a ti, Senhor, elevo a minha alma. Pois tu, Senhor, és bom
e compassivo; abundante em benignidade para com todos os
que te invocam [...] Não há entre os deuses semelhante a ti,
Senhor; e nada existe que se compare às tuas obras. Todas as
nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti, Senhor, e
glorificarão o teu nome [...] Dar-te-ei graças, Senhor, Deus meu,
de todo o coração, e glorificareipara sempre o teu nome [...] Mas
tu, Senhor, és Deus compassivo e cheio de graça, paciente e
grande em misericórdia e em verdade” (Sl 86.3-5,8,9,12,15).

Os filhos de Corá:
172

“Desperta! Por que dormes, Senhor? Desperta! Nao nos


rejeites para sempre!” (Sl 44.23).

Asafe:

“Como ao sonho, quando se acorda, assim, ó Senhor, ao


despertares, desprezarás a imagem deles” (Sl 73.20). “Retribui,
Senhor, aos nossos vizinhos, sete vezes tanto, o opróbúo com
que te vituperaram” (Sl 79.12).

Etã:

“Que é feito, Senhor, das tua.s benignidades de outrora,


juradas a Davi por tua fidelidade? Lembra-te, Senhor, do
opróbrio dos teus servos e de como trago no peito a injúria de
muitos povos” (Sl 89.49,50).

Salmista anônimo:

“Escuta, Senhor, a minha voz; estejam alerta.s os teus


ouvidos às minhas súplicas” (Sl 130.2).

Isaías:

“Então, disse eu: até quando, Senhor? Ele respondeu:


Até que sejam desoladas as ádades e fiquem sem habitantes,
as casas fiquem sem moradores, e a terra seja de todo
assolada” (Is 6.11).
173

Jeremias:

“Pleiteaste, Senhor, a causa da minha alma, remiste a


minha vida” (Lm 3.58).

Pelo visto, nunca foi obrigatório pronunciar “Jeová” nas


orações, nem mesmo no Velho Testamento. Algumas delas
tinham o nome santo de Deus, mas outras contavam apenas
com as palavras “Senhor” e “Deus” . Desta feita, a ordem da
Torre de Vigia para pronunciarmos “Jeová” nas orações não
possui razão de existir.

E quanto às orações feitas a Jesus?

As Testemunhas de Jeová não podem orar a Jesus, pois


creem que só Deus pode receber orações. Elas oram somente
“através do nome de Jesus”. Se algum membro for flagrado
orando a Jesus, será julgado por um comitê judicial e
desassociado (expulso da Organização, para morrer no
Armagedom).

Podemos orar a Jesus. Estêvão falou com Jesus em


oração:

“E apedrejavam Estêvão, que invocava e dizia: Senhor


Jesus, recebe o meu espírito! Então, ajoelhando-se, clamou em
174

alta voz: Senhor, nao lhes imputes este pecado! Com estas
palavras, adormeceu.” (At 7.59,60).

Ele falou a Jesus duas vezes. Na primeira pediu para


que Jesus recebesse seu espírito. Na segunda, pediu para que
Jesus não imputasse este pecado aos seus assassinos.

A Torre de Vigia traduziu a palavra “Senhor” do verso


60 como Jeová:

“Enquanto apedrejavam Estêvão, este fez o apelo:


“Senhor Jesus, receba o meu espírito. ” Então, ajoelhando-se, ele
clamou com voz forte: “Jeová, não os condenes por este pecado.”
E, dizendo isso, adormeceu na morte” (At 7.59,60 TNM).

Foi uma tradução errada, pois, no original grego, está


Kurios (Senhor). Mesmo assim, a TNM manteve o nome de
Jesus no verso 59.

No entanto, as Testemunhas de Jeová argumentam


dizendo que Estêvão não estava orando, mas falando com
Jesus numa visão.

Para responder a isto, consideremos dois pontos:

1) A visão que Estêvão teve foi dentro do sinédrio, e não fora.


Após ter a visão, ele foi arrastado de dentro do sinédrio,
passou por todas as ruas, até sair da cidade e, finalmente,
175

foi apedrejado. Algum tempo se passou durante esse


processo. A visão não se estendera por tão longo período.
2) Não importa se Estêvão podia ver Jesus enquanto Lhe fazia
súplicas. Um humano pedir algo a Deus é considerado
oração, independentemente de estar numa visão, ou não.

As pessoas que Saulo perseguia também oravam a


Jesus:

“Ananias, porém, respondeu: Senhor, de muitos tenho


ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos
teus santos em Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos
principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu
nome [...] Ora, todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam:
Não é este o que exterminava em Jerusalém os que invocavam o
nome de Jesus e para aqui veio precisamente com o fim de os
levar amarrados aos principais sacerdotes?” (At 9.13,14,21).

Paulo também orou a Jesus:

“Então, ele disse: O Deus de nossos pais, de antemão, te


escolheu para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires
uma voz da sua própria boca, porque terás de ser sua
testemunha diante de todos os homens, das coisas que tens
visto e ouvido. E agora, por que te demoras? Levanta-te, recebe o
batismo e lava os teus pecados, invocando o nome dele. Tendo
eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo,
176

sobreveio-me um êxtase, e vi aquele que falava comigo: Apressa-


te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu
testemunho a meu respeito. Eu disse: Senhor, eles bem sabem
que eu encerrava em prisão e, nas sina.goga.s, açoitava os que
criam em ti” (At 22.14-19).

Ananias disse para Paulo invocar o nome de Jesus, o


que significa orar. E Paulo orou, chamando Jesus de Senhor,
como podemos ver no versículo 19.

“E, para que me não exaltasse pelas excelências das


revelações, foi-me dado um espinho na carne, a saber, um
mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me
exaltar. Acerca do qual três vezes orei ao Senhor, para que se
desviasse de mim. E disse-me: A minha graça te basta, porque o
meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me
gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder
de Cristo” (2Co 12.7-9).

O poder do Senhor é o mesmo poder de Cristo. Significa


que Paulo orara a Jesus diretamente.

Como sabemos disto? Primeiramente, o texto diz: “orei


ao Senhor, para que se desviasse de mim”. Depois o mesmo
Senhor respondeu: “E disse-me: A minha graça te basta, porque
o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. E, acerca desse poder
do Senhor, Paulo disse: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas
177

minhas fraquezas, para que em mim habite o voder de Cristo”.


Portanto, Cristo é o dono do poder que antes fora chamado de
poder do Senhor. E foi para este Senhor que Paulo orou.

João orou a Jesus:

“Aquele que dá testemunho destas coisas diz:


Certamente, venho sem demora. Amém! Vem Senhor Jesus!”
(Ap 22.20).

Jesus ensinou orarmos a Ele próprio:

“Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”


(Jo 14.14).

Se bem que a Tradução do Novo Mundo, novamente,


adulterou o versículo, retirando o pronome “me”, para mudar a
informação de que as pessoas deveriam pedir a Jesus. Veja:

“Qualquer coisa que vocês pedirem em meu nome, eu


farei” (Jo 14.14 TNM).

Mas o original possui o pronome:

’Εάν τι αϊτήσητέ με έν τω όνόματί μου, έγώ ποιήσω.

Palavra por palavra, fica assim traduzido:

Se alguma coisa pedir me em o nome meu, eu farei.


178

Por exemplo, é o mesmo pronome usado em Mateus


25.43:

“Sendo estrangeiro, nao me recolhestes; estando nu, nao


me vestistes; e enfermo, e na prisao, nao me visitastes” (Mt
25.43).

Quando os cabritos não recolhiam O rei, ou quando não


O vestiam, ou quando não O visitavam, estavam produzindo
ações diretamente à pessoa do Rei (a pessoa que fala), e não a
uma terceira pessoa. Da mesma maneira, em João 14.14,
quando Jesus disse para orar, disse para orar a Ele mesmo,
diretamente à Sua pessoa (a pessoa que fala). Isto é uma
questão de gramática, não de teologia. Ninguém precisa ser
teólogo para chegar a esta conclusão.

De acordo com outros textos bíblicos, nós podemos orar


a Jesus:

“Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e,


em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos,
serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a
boca se confessa a respeito da salvação. Porquanto a Escritura
diz: Todo aquele que nele crê não será confundido. Pois não há
distinçao entre judeu e grego, uma vez que o mesmo é o Senhor
de todos, rico para com todos os que o invocam. Porque: Todo
aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10.9-13).
179

“À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados


em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que
em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
Senhor deles e nosso” (1Co 1.2).

Em suma, é a Bíblia que afirma que podemos orar a


Jeová sem pronunciarmos Seu santíssimo nome. Também
podemos orar a Jesus, pedindo coisas para Ele e em nome
dEle.
180
181

DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo é uma pessoa e é, sobretudo, Divino.


Mas não é uma pessoa distinta do Deus Pai. Jesus é distinto
do Pai, e até se assenta num trono à direita dEste. Entretanto,
o Espírito Santo não tem trono, pois faz parte da essência do
próprio Deus Pai. E não tem nome próprio, exceto a designação
“Espírito de Deus”, ou “Espírito de Jesus”.

Quero esclarecer que o Espírito Santo não é filho de


Jeová, nem irmão de Jeová, nem irmão de Jesus. Jesus é o
Primogênito da criação. Mas o Espírito não foi gerado por
Deus, nem antes, nem depois de Jesus, visto que faz parte do
Pai. O Espírito Santo é como se fosse o próprio Deus. É uma
parte do Pai enviada para desempenhar importantes funções
na Terra.

Quando o Espírito Santo fala, é Deus Pai quem está


falando. Ambos são um, apesar de poderem estar separados.
Adorar o Espírito Santo é como adorar o Pai. Blasfemar contra
o Espírito Santo é como blasfemar contra Deus Pai. E adorar o
Pai é como adorar o Espírito Santo. Por isto, não precisamos
182

fazer cultos especificamente direcionados ao Espírito, pois Ele


recebe Sua parte quando cultuamos o Pai.

As Testemunhas de Jeová negam a Divindade do


Espírito Santo. Para elas, o Espírito não é uma pessoa da
Trindade, e sim um fluido que emana de Deus, uma força
ativa, como a eletricidade.

“Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas


aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cuja.s
sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o
Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).

Para negar a Divindade do Espírito Santo, a Torre de


Vigia fez uma manobra antiética no versículo acima, utilizando
jogos de palavras. O argumento foi:

“João, o Batista, disse que Jesus iria batizar no espírito


santo, assim como João havia batizado em água. Assim, da
mesma maneira que a água não é uma pessoa, o espírito santo
também não é uma pessoa (Mat. 3:11)” (You Can Live Forever in
Paradise on Earth, 1982, p.40).

Esta técnica de interpretação não funciona. Observe


que, se a utilizarmos, negaremos até que Jesus é uma pessoa:
183

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”
(Mt 28.19). “Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos
batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?” (Rm
6.3). “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo
vos revestistes” (Gl 3.27).

O batismo não é apenas no Espírito Santo, mas


também no Pai e no Filho. Deste modo, as chances do Espírito
Santo não ser uma pessoa são as mesmas do Pai e do Filho.

E a confusão se estende ao segundo capítulo de Atos:

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a


falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que
falassem” (At 2.4).

Analise o argumento da Torre de Vigia a respeito disto:

“‘Todos eles ficaram cheios do Espírito Santo’. (At.2:4).


Eles ficaram ‘cheios’ de uma pessoa? Não, mas ficaram cheios
da força ativa de Deus. Portanto, os fatos tornam claro que a
trindade não é um ensinamento bíblico... Como o espírito santo
podería ser uma pessoa, sendo que encheu cerca de 120
discípulos ao mesmo tempo?” (You Can Live Forever in Paradise
on Earth, 1982, p.40-41).
184

Entretanto, se esta fosse a maneira correta de


interpretar, chegaríamos à conclusão de que Paulo também
não é uma pessoa:

“Não obstante, mesmo que eu esteja sendo derramado


como oferta de bebida sobre o sacrifício e serviço público a que
vos conduziu a fé, regozijo-me e alegro-me com todos vós” (Fp
2.17 TNM). “Pois, já estou sendo derramado como oferta de
bebida, e o tempo devido para o meu livramento é iminente”
(2Tm 4.6 TNM).

De acordo com a própria Tradução do Novo Mundo,


Paulo também foi derramado, assim como o Espírito Santo.
Portanto, ambos são pessoas, ou ambos não são. A
interpretação tem que ser a mesma para os dois casos.

O mesmo ocorre com Jesus e Davi:

“Fui derramado como água, e todos os meus ossos foram


separados uns dos outros. Meu coração ficou como cera;
Derreteu-se fundo nas minhas entranhas” (Sl 22.14 TNM).

O versículo foi transcrito aqui exatamente como aparece


na versão bíblica das Testemunhas de Jeová. Cristo e Davi
também foram derramados. Porém, não significa que eles
sejam fluidos. Continuam sendo pessoas.
185

Não é algo impossível para um Deus estar dentro de


120 pessoas ao mesmo tempo. De forma que o Espírito Santo
habita, não somente neles, mas em todo aquele que é servo de
Deus. Para Deus nada é impossível.

A Bíblia diz que o Espírito Santo habita em nós, mas


isto não faz dEle um fluido impessoal. Note que Jesus e Jeová
também habitam em nós:

Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a


minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos
nele morada” (Jo 14.23). “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo,
na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito é
vida, por causa da justiça” (Rm 8.10). “Logo, já não sou eu
quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora,
tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a
si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20). “E, assim, habite
Cristo no vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e
alicerçados em amor” (Ef 3.17). “Um só Deus e Pai de todos, o
qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef
4.6). “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé;
provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo
está em vós? Se não é que já estais reprovados” (2Co 13.5).
186

De acordo com os versículos acima, Jesus está em nós,


Jesus vive em nós e faz morada em nós. Apesar disto, Ele é
uma pessoa. Portanto, o Espírito Santo também é uma pessoa.

Mas a Tradução do Novo Mundo adulterou também


todos estes textos:

“Jesus lhe respondeu: “Se alguém me amar, obedecerá à


minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós iremos a ele e
faremos a nossa morada com ele”” (Jo 14.23 TNM).

No original consta a preposição “em”, e não “com”. Esta


foi uma alteração proposital, com o fim de não deixar que
pensemos que Jesus faz morada em nós.

“Se, porém, Cristo está em união com vocês, o corpo está


morto por causa do pecado, mas o espírito é vida por causa da
justiça” (Rm 8.10 TNM).

A palavra “união” também não está no original grego.


Foi adicionada, indevidamente, pela Tradução do Novo Mundo,
assim como nos demais versículos:

“Estou agora pregado na estaca com Cristo. Quem vive


não sou mais eu, mas é Cristo que vive em união comigo. De
fato, a vida que agora vivo na carne, eu vivo pela fé no Filho de
Deus, que me amuou e se entregou por mim” (Gl 2.20 TNM).
187

“Persistam em examinar se estão na fé; persistam em pôr à


prova o que vocês mesmos são. Ou não reconhecem que Jesus
Cristo está em união com vocês? A menos que estejam
reprovados” (2Co 13.5 TNM).

Jesus estar em união com alguém é bem diferente de


estar nele. Jesus faz morada no coração do homem, assim
como o Espírito Santo. Se a frase “Jesus está em nós” deve ser
compreendida simbolicamente, também teríamos que entender
simbolicamente quando a Bíblia diz a mesma coisa sobre o
Espírito Santo. Não podemos interpretar os versículos de Jesus
de forma simbólica, se interpretarmos literalmente os textos do
Espírito Santo.

Continuando com as provas, veremos que, não só o


Espírito Santo nos enche, mas Jesus também:

“E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o


cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, a qual é o seu
corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas”
(Ef 1.22,23).

Satanás também enche o coração:

“Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás


teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando
parte do valor do campo?” (At 5.3).
188

Satanás, apesar de ter enchido o coração de Ananias, é


uma pessoa. Nem tudo o que enche o homem pode ser
chamado de “isto”, ou de “coisa”. Por isto, o Espírito Santo
também é uma pessoa.

Entretanto, a Tradução do Novo Mundo adulterou mais


este versículo, tornando-o assim:

“Mas Pedro disse: “Ananias, como Satanás levou você a


mentir de forma descarada ao espírito santo e ficar
secretamente com parte do valor do campo?”” (At 5.3 TNM).

No original grego não há as palavras “como”, “levou”,


“você”, “a” “de” “forma” “descarada”. Tudo isto foi enxertado
no texto para que ninguém entenda que Satanás enche o
coração de alguém. Seria mais digno ensinar o correto do que
deturpar a Palavra de Deus, “mentindo de forma descarada” .

O original da palavra “encher”, que está em Atos 5.3, é o


mesmo que se encontra em Efésios 1.23, que diz que Jesus a
tudo enche em todas as coisas.

Ainda em Atos 5.3, analisemos a frase: “mentisses ao


Espírito Santo”. Ninguém mente a uma força, ou a um fluido.
Só é possível mentir a uma pessoa.
189

Leiamos também o verso seguinte, para ver quem é essa


pessoa:

“Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido,


não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no coração
este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (v. 4).

A Bíblia disse que Ananias mentiu ao Espírito Santo.


Depois, no versículo seguinte, disse que Ananias mentiu a
Deus. Que outra conclusão poderíamos tirar disto, senão que o
Espírito Santo é Deus? Pedro falou claramente que o Espírito
Santo é Deus.

Para que o Espírito Santo consiga encher as pessoas,


ou para que Ele habite dentro delas, não precisa ser um fluido,
nem uma energia informe. Ora, o Espírito Santo é um Espírito
e, como tal, tem a propriedade de possuir corpos humanos,
assim como fazem os espíritos malignos.

“Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe


estremeceu no ventre; então, Isabel ficou possuída do Espírito
Santo” (Lc 1.41). “Chegando eles a Gibeá, eis que um grupo de
profetas lhes saiu a.o encontro; o Espírito de Deus se apossou de
Saul, e ele profetizou no meio deles” (1Sm 10.10).

Os espíritos malignos também possuem corpos:


190

“Ora, Satanás entrou em Judas, chamado Iscariotes, que


era um dos doze” (Lc 22.3).

Mas Satanás não é um fluido sem forma. É uma pessoa.


Então por que o Espírito Santo não seria uma pessoa? A
diferença física que há entre o Espírito Santo e um demônio é
que Aquele é um Espírito benigno, enquanto que este é um
espírito maligno. Mas ambos possuem forma e personalidade.

Para confirmar a Trindade, observemos que o Espírito


Santo de Deus é o mesmo Espírito de Jesus:

“Defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o


Espírito de Jesus não o permitiu” (At 16.7). “Vós, porém, não
estais na carne, mas no Espírito, se, de fato, o Espírito de Deus
habita em vós. E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele” (Rm 8.9). “E, porque vós sois filhos, enviou Deus
ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!”
(Gl 4.6). “Porque estou certo de que isto mesmo, pela vossa
súplica e pela provisão do Espírito de Jesus Cristo, me
redundará em libertação” (Fp 1.19). “Investigando, atentamente,
qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas
pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão
testemunho sobre os sofrimentos referntes a Cristo e sobre as
glórias que os seguiríam” (1Pe 1.11).
191

Está explicitamente declarado acima que o Espírito de


Jesus supervisiona os passos dos cristãos e lhes provê em suas
necessidades, assim como sabemos que faz o Espírito Santo.
Da mesma maneira, a Bíblia também diz que o Espírito de
Jesus habita no coração do homem. Então se conclui que o
Espírito de Jesus é o autêntico Espírito Santo, que também é o
Espírito de Deus.

“E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido


impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia,
defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de
Jesus não o permitiu” (At 16.6,7).

Note que Lucas, autor de Atos até mistura o Espírito


Santo com o Espírito de Jesus, demonstrando que são o
mesmo Espírito.

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de


fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9).

Paulo também associou os dois Espíritos como sendo o


mesmo. Escreveu “Espírito de Deus” e “Espírito de Cristo” ao
mesmo tempo, como que falando de um só. Tanto faz dizer
Espírito Santo, como dizer Espírito de Cristo.

Jesus e o Pai compartilham do mesmo Espírito, o que


significa que Jesus não pode ser apenas um arcanjo, mas um
Deus.
192

Voltando a falar da Divindade do Espírito, há outra


evidência importante para conseguirmos identificar o Espírito
Santo: o fato dEle ser vítima de blasfêmia. Blasfêmia significa:
“ultraje proferido contra a Divindade”.

“Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não


expele demônios senão pelo poder de Belzebu, maioral dos
demônios [...] Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de
Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós [...] Por
isso, vos declaro: todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos
homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada.
Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem,
ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito
Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no
porvir” (Mt 12.24,28,31,32).

Jesus expulsava demônios pelo Espírito Santo. Mas os


fariseus acusaram-nO de expulsar demônios por Belzebu. Este
ato de falar contra o Espírito Santo foi considerado por Jesus
como blasfêmia. E não é possível existir blasfêmia, senão
contra Deus. Portanto, o Espírito Santo é Deus.

As Testemunhas de Jeová afirmam que o Espírito Santo


é uma energia, uma força, um poder de Deus. Mas isto não faz
sentido quando lemos a presença do Espírito Santo distinta do
poder de Deus:
193

“Então, Jesus, no poder do Espírito, regressou para a


Galiléia, e a sua fama correu por toda a circunvizinhança” (Lc
4.14). “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz
no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do
Espírito Santo” (Rm 15.13).

Não faz muito sentido o Espírito Santo ter o poder e ser


o poder ao mesmo tempo.

“Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito


Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem
e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com
ele” (At 10.38). “A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em
demonstração do Espírito e de poder” (1Co 2.4).

O Espírito Santo foi diferenciado do poder, o que nos dá


a entender que Ele não é o poder.

Veja o que Paulo disse do Espírito Santo, quando fez


citação de Isaías 6.8-10:

“E, havendo discordância entre eles, despediram-se,


dizendo Paulo estas palavras: Bem falou o Espírito Santo a
vossos pais, por intermédio do profeta Isaías, quando disse: Vai
a este povo e dize-lhe: De ouvido, ouvireis e não entendereis;
vendo, vereis e não percebereis. Porquanto o coração deste povo
194

se tornou endurecido; com os ouvidos ouviram tardiamente e


fecharam os olhos, para que jamais vejam com os olhos, nem
ouçam com os ouvidos, para que não entendam com o coração, e
se convertam, epor mim sejam curados” (At 28.25-27).

Tudo isto é uma referência ao livro do profeta Isaías. Foi


Deus quem disse as palavras que o Espírito Santo disse:

Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem


enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-
me a mim. Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e
não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível
o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os
olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os
ouvidos e a entender com o cora.ção, e se converta, e seja salvo”
(Is 6.8-10).

Paulo afirmou que foi o Espírito Santo quem disse as


palavras proferidas pelo Senhor. Portando, o Espírito Santo é o
Senhor. Mas que Senhor? Se lermos o início do texto, veremos
quem está sendo chamado de Senhor:


No ano da morte do rei Uzias, eu vi o Senhor assentado
sobre um alto e sublime trono, e as abas de suas vestes
enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um
tinha seis asas: com dua.s cobria o rosto, com duas cobria os
seus pés e com dua.s voava. E clamavam uns para os outros,
195

dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR [Javél dos Exércitos:


toda a terra está cheia da sua glória. As bases do limiar se
moveram à voz do que clama.va, e a casa se encheu de fumaça.
Então, disse eu: ai de mim.! Estou perdido! Porque sou homem de
lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e
os meus olhos viram o Rei, o SENHOR [Javél dos Exéràtos!” (Is
6.1-5).

O Senhor estava sobre um alto e sublime trono. A glória


de Suas roupas enchia o templo. Serafins estavam por cima
dEle, os quais adoravam Javé. Isaías viu o Senhor nesse trono
e disse que viu Javé. Esse mesmo personagem foi tido como o
Espírito Santo por Paulo, em Atos dos apóstolos, como
acabamos de ver. Da mesma forma, foi chamado de Jesus em
Jo 12.36-41. Isto significa que os autores dos evangelhos e
epístolas do Novo Testamento consideravam essas três pessoas
como sendo uma só.

Há um caso semelhante em Hebreus:

“E disto nos dá testemunho também o Espírito Santo:


porquanto, após ter dito: Esta é a aliança que farei com eles,
depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as
minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei, acrescenta:
Também de nenhum modo me lembrarei dos seus pecados e das
suas iniquidades, para sempre” (Hb 10.15-17).
196

Isto é uma citação do Velho Testamento, onde quem diz


é Deus:

“Porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de


eu os haver desposado, diz o SENHOR [Javé]. Mas este é o
concerto que farei com a casa de Ismel depois daqueles dias, diz
o SENHOR [Javé]: porei a minha lei no seu interior e a escreverei
no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.
E não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém, a seu
irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me
conhecerão, desde o menor deles até ao maior, diz o SENHOR;
porque perdoarei a sua maldade e nunca mais me lembrarei dos
seus pecados” (Jr 31.32-34).

A pessoa de Deus, em Jeremias, foi trocada pela do


Espírito Santo, em Hebreus. Isto quer dizer que não faz
diferença entre dizer “Deus”, ou dizer “Espírito de Deus”, pois
ambos são a mesma pessoa.

Outra equiparação feita entre o Espírito Santo e Deus


se encontra em:

“Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito


de Deus habita em vós?” (1Co 3.16).

Somos santuários de Deus, significa que Deus habita


em nós. O versículo acima afirma que o Espírito de Deus
197

habita em nós. E o Espírito de Deus é o mesmo Espírito Santo.


Deste modo, o Espírito Santo e Deus são a mesma pessoa.

“Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do


Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus,
e que não sois de vós mesmos?” (1Co 6.19).

E agora o versículo disse que somos santuários do


Espírito Santo, enquanto que, a três capítulos atrás, Paulo
dissera que somos santuário de Deus. Isto implica que Deus e
o Espírito Santo são a mesma pessoa.

O mesmo caso se confirma na segunda carta de Paulo


aos coríntios:

“Ora, o Senhor é o Espírito; e, onde está o Espírito do


Senhor, aí há liberdade. E todos nós, com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria imagem,
como pelo Senhor, o Espírito” (2Co 3.17,18).

O texto assevera, literalmente, que o Senhor e o Espírito


são a mesma pessoa. Uma das coisas que garantem isto é a
presença do artigo “o”. Observe que a tradução correta não é:

“Senhor é Espírito”.

Mas sim:
198


O Senhor é O Espírito”.

Se a primeira forma fosse a correta, a frase teria o


sentido de que o Espírito Santo é Senhor, ou de que o SENHOR
possui natureza espiritual. Contudo, no original grego do
versículo há a presença do artigo “o” na palavra “Senhor” e
também na palavra “Espírito” . Estes artigos dão personalidade
própria a cada um dos dois. E o sentido da frase é que o
SENHOR e o Espírito Santo são a mesma pessoa.

Não somente pelos artigos, mas também pela


continuação do texto, que diz:


... e, onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade”.


... como por espelho, a glória do Senhor”.

A primeira frase prova que o Espírito Santo está


presente no versículo. E a segunda frase prova que o Senhor
está presente no versículo. Há dois personagens no texto, e não
apenas um.

E o verso 18 termina com um comportamento diferente


dos demais no original. Todos os versículos que dizem, em
grego, “Espírito do Senhor” possuem o original assim:
199

πνεύμα κυρίου (Espírito Senhor)9.

Mas o final do verso 18 apresenta ordem inversa:

κυρίου πνεύματος (Senhor Espírito).

Isto assegura a Divindade do Espírito Santo. Porque,


quando se diz “Espírito do Senhor”, é o mesmo que dizer
“Espírito Santo” . Porém, quando se diz “Senhor Espírito”, está-
se elevando a posição do Espírito a Senhor, ou então se está
afirmando que o Senhor é o Espírito.

Tudo isto pode ser confirmado pela própria Tradução do


Novo Mundo, que, desta vez, resolveu não adulterar o texto,
exceto pela troca da palavra “Senhor” pelo nome “Jeová” :

“Ora, Jeová é o Espírito, e onde está o espírito de Jeová,


ali há liberdade. E todos nós, ao passo que com o rosto
descoberto refletimos como um espelho a glória de Jeová, somos
transformados nessa mesma imagem, com mais e mais glória,
exatamente como Jeová, o Espírito, o fa z” (2Co 3.17,18 TNM).

Com esta versão, ficou ainda mais claro que Deus é o


Espírito Santo.

9 Ver Lc 4.18; At 5.9; 8.39; 2Co 3.17.


200

Ainda em tempo, vejamos que o Espírito Santo é


onipresente:

“Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde


fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha
cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as
asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá
me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá” (Sl
139.7-10).

Ele está em todos os lugares. Para onde quer que o


salmista for, encontrar-se-á com o Espírito de Deus.

É também onisciente:

“Pois Deus no-las revelou a nós pelo Espírito; porque o


Espírito tudo esquadrinha, até as coisas profundas de Deus.
Qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do
homem que nele está? assim também as coisas de Deus
ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1Co 2.10,11).

Ele sabe de todas as coisas. Ninguém sabe tudo de


Deus, exceto o Seu Espírito.

“Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu


conselheiro, o ensinou?” (Is 40.13).
201

Ninguém pode ensinar, nem aconselhar, nem guiar o


Espírito Santo, pois Ele já sabe de tudo. E a onisciência, bem
como onipresença, são atributos exclusivos de Deus.
202
203

Trindade Santa

As Testemunhas de Jeová chegam ao ponto de


blasfemarem, chamando a Trindade Santa de “monstro de três
cabeças”, atribuindo a doutrina do Deus Trino a Satanás10. E
Rutherford, o segundo presidente da torre de Vigia, escreveu:

“Bem,, podería alguém perguntar: se Deus não é o autor


desta doutrina confusa, quem é? [...] A conclusão óbvia,
portanto, é que Satanás deu origem à doutrina da trindade”
(Seja Deus Verdadeiro, 1952, 2a Edição em Port., págs. 97-98).

No entanto, a Bíblia é a real fonte do conhecimento,


para decidirmos a questão. E ela é o melhor intérprete de si
mesma. Podemos começar com o primeiro capítulo da Bíblia,
onde vemos que Deus não estava sozinho quando criava o
universo:


Também disse Deus: Façamos o homem à nossa
imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais

10 O Caos das Seitas - Um estudo sobre os “irmos” modernos” , J. K. Van


Baalen, 1a Edição, 1974, Imprensa Batista Regular, São Paulo, pág. 189.
204

domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que


rastejam pela terra” (Gn 1.26).

O verbo “fazer” está no plural, indicando que mais


pessoas, além de Deus, empenhavam-se na tarefa criadora.
Veja quem mais estava lá:

“A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas


sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre
as águas” (Gn 1.2).

O Espírito Santo estava presente no ato da criação.

Podemos ver também em Jó e em Salmos que o Espírito


Santo é “criador de vidas”, ao invés de ser “vida criada”:

“O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso


me dá vida” (Jó 33.4). “Envia.s o teu Espírito, eles são criados, e,
assim, renovas a face da terra” (Sl 104.30).

A Tradução do Novo Mundo não adulterou Gn 1.26,


mas o fez em Gn 1.2, quando chamou o Espírito de Deus de
“força ativa”:

“A terra era vazia e deserta, e havia escuridão sobre as


águas profundas; e a força ativa de Deus movia-se sobre as
águas” (Gn 1.2 TNM).
205

O original é ruwach e ‘elohiym, que quer dizer “Espírito


de Deus”. “Força ativa”, além de ser um apelido desrespeitoso,
é uma expressão que não consta no original.

O que Deus faz tem a participação do Espírito Santo e


de Jesus. Observe que as frases, novamente, estão no plural:

“Então, disse o SENHOR Deus: Eis que o homem se


tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal; assim,
que não estenda a mão, e tome também da árvore da vida, e
coma, e viva eternamente” (Gn 3.22). “Vinde, desçamos e
confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a
linguagem de outro” (Gn 11.7).

Mas alguém poderia contra-argumentar, dizendo que


esse plural se refere aos anjos. Entretanto, a mesma frase que
diz “façamos o homem (no plural)” também diz “façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”. Ora,
os homem possuem aparência física e semelhança de Deus, e
não dos anjos.

E Deus não precisou de anjos para criar nada:

“Assim diz o SENHOR, que te redime, o mesmo que te


formou desde o ventre materno: Eu sou o SENHOR, que faço
todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espraiei
a terra” (Is 44.24).
206

Deus criou tudo sozinho, e isto elimina a participação


angelical na criação.

Além disto, que participação criaturas poderiam ter na


criação? E que entendimento os anjos teriam para aconselhar
ou para ajudar Senhor a criar o universo? Veja como Deus fez
tudo sozinho, sem a ajuda de criaturas:

“Quem na concha de sua mão mediu as águas e tomou a


medida dos céus a palmos? Quem recolheu na terça parte de um
efa o pó da terra e pesou os montes em romana e os outeiros em
balança de precisão? Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou,
como seu conselheiro, o ensinou? Com quem tomou ele conselho,
para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do
juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de
entendimento?” (Is 40.12-14).

Isaías está afirmando que, no ato da criação da terra e


das águas, ninguém instruiu o Senhor, nem O aconselhou. Por
isto, é descabida a ideia de que os anjos estavam lá, ajudando
no ato da criação. Deus é o oleiro, e não precisa da ajuda de
criaturas para criar. Desta feita, se Eles (no plural) criaram o
universo, só pode significar que são pessoas da Trindade
Divina, e não anjos.

Ainda analisando o mesmo texto, tente descobrir quem


é o sujeito da criação. A resposta está no versículo 13. Examine
207

e verá que o autor da criação é o Espírito do Senhor. Isto


prova tudo o que acabamos de demonstrar: que o Espírito
Santo, como Deus, teve participação na obra criadora.

Os três sempre andam juntos:

“Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe


abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba,
vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16,17). “Respondeu-
lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do
Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o
ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus” (Lc
1.35). “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a
fim de que esteja para sempre convosco [...] Mas o Consolador, o
Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos
ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos
tenho dito” (Jo 14.16,26). “Declarado Filho de Deus em poder,
segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos,
-Jesus Cristo Nosso Senhor” (Rm 1.4). “O mesmo Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. E, se nós
somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus e
co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para
que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8.16,17). “Para
que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no
sagrado encargo de anunciar o evangelho de Deus, de modo que
208

a oferta deles seja aceitável, uma vez santificada pelo Espírito


Santo” (Rm 15.16). “Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor
Jesus Cristo e também pelo amor do Espírito, que luteis
juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor” (Rm 15.30).
“Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também
há diversidade nos serviços, mas o Senhor [Cristo] é o mesmo. E
há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem
opera tudo em todos” (1Co 12.4-6). Mas aquele que nos
confirma convosco em Cristo e nos ungiu é Deus, que também
nos selou e nos deu o penhor do Espírito em nosso coração” (2Co
1.21,22). “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a
comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2Co 13.14).
“Porque, por ele [Cristo], ambos temos acesso ao Pai em um
Espírito” (Ef 2.18). “Por esta causa, me ponho de joelhos diante
do Pai, de quem toma o nome toda família, tanto no céu como
sobre a terra, para que, segundo a riqueza da sua glória, vos
conceda que sejais fortalecidos com poder, mediante o seu
Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no vosso
coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor”
(Ef 3.14-17). “Há somente um corpo e um Espírito, como também
fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um
só Senhor [Cristo], uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai
de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em
todos” (Ef 4.4-6). “Porque Deus vos escolheu desde o princípio
para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade,
209

para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho,


para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo” (2Ts
2.13.14) . “Quando, porém, se manifestou a benignidade de
Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por
obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua
misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós
ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 3.4-6).
“Muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si
mesmo se ofereceu sem mácula a Deus, purificará a nossa
consciência de obras morta.s, para servirmos ao Deus vivo!” (Hb
9.14) . “De quanto mais severo castigo julgais vós será
considerado digno aquele que calcou aos pés o Filho de Deus, e
profanou o sangue da aliança com o qual foi santificado, e
ultrajou o Espírito da graça? Ora, nós conhecemos aquele que
disse: A mim pertence a vingança; 1.eu retribuirei. E outra vez: O
Senhor [Deus Pail julgará o seu povo” (Hb 10.29,30). “Eleitos,
segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito,
para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo,
graça e paz vos sejam multiplicadas” (1Pe 1.2). “Porque também
Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos,
para levar-nos a Deus; mortifica.do, na verdade, na carne, mas
livificado pelo Espírito” (1Pe 3.18). “Que creiamos em o nome de
seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo
o mandamento que nos ordenou. E aquele que guarda os seus
210

mandamentos permanece em Deus, e Deus, nele. E nisto


conhecemos que ele permanece em nós, pelo Espírito que nos
deu” (1Jo 3.23,24). “Mas vós, amados, edificando-vos a vós
mesmos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo,
conservai a vós mesmos na caridade de Deus, esperando a
misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna”
(Jd 20,21).

Até o batismo é em nome dos três:

“Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações,


batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”
(Mt 28.19).

Por que o batismo tem que ser em nome dos três? Que
autoridade Jesus e o Espírito Santo teriam para fazerem parte
de tão importante cerimônia, junto com o Pai, se ambos não
fossem Deus?

“Pois há três que dão testemunho no céu: o Pai, a Palavra


e o Espírito Santo; e estes três são um. E três são os que
testificam na terra: o Espírito, a água e o sangue, e os três são
unânimes num só propósito” (1Jo 5.7,8).

O texto fala que os três são um. E isto é uma verdade.


No entanto, toda a parte sublinhada não consta nos
211

manuscritos mais antigos. Somente a partir do século X os


copistas começaram a transcrever nestes termos.

Mas, apesar de 1Jo 5.7,8 ser um texto duvidoso, a


doutrina da Trindade é verdadeira porque é bíblica. Como
pudemos ver, Jesus e o Espírito são Deus. E, como só existe
um Deus, conclui-se que os três são um.
212
213

Qualidades pessoais do Espírito Santo

Para termos a certeza de que o Espírito Santo é uma


pessoa, e não uma coisa, vejamos que Ele tem características
de pessoa.

O Espírito Santo tem vontade própria:

“Mas um só e o mesmo Espírito realiza todas estas


coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um,
individualmente” (1 Co 12.11).

“Pois pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos


impor maior encargo além destas coisas essenciais” (At 15.28).

Da mesma maneira que a palavra “nós” trata de


pessoas (os apóstolos), o Espírito Santo também é uma pessoa,
pois tomou uma decisão, segundo Sua vontade, assim como os
apóstolos.

O E spírito Santo p ossu i intenção:


214

“E aquele que examina os corações sabe qual é a


intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos
santos” (Rm 8.27).

O original de “intenção” é phronema, que significa,


segundo Strong: “o que alguém tem em mente, os pensamentos
e propósitos”. Apenas uma pessoa possui pensamentos e
intenções.

O Espírito Santo intercede por nós:


Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em
nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o
mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos
inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a
mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele
intercede pelos santos” (Rm 8.26,27).

Interceder é qualidade de pessoa. Interceder significa:


“Pedir, rogar, suplicar (por outrem); intervir (a favor de alguém
ou de algo)”. Somente um ser vivo dotado de personalidade
pode interceder.

Jesu s, com o o E spírito Santo, in terced e por nós:


215

“Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou,


antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também
intercede por nós” (v. 34).

Se Jesus e o Espírito Santo executam a mesma tarefa, é


plausível concluir que Eles são como uma única pessoa. Tanto
faz dizermos que o Espírito Santo intercede por nós, como
dizermos que Jesus intercede por nós. E, se Jesus é uma
pessoa, o Espírito Santo também é.

O Espírito Santo pode falar e dar ordens:

“Então, disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro


e acompanha-o” (At 8.29). “Enquanto meditava Pedro acerca da
visão, disse-lhe o Espírito: Estão aí dois homens que te
procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada
duvidando; porque eu os enviei” (At 10.19,20). “E, servindo eles
ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora,
Barnabé e Saulopara a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).
Ver também: 2Sm 23.2; Ez 11.5; Mt 10.20; Lc 2.26; Jo
16.14,15; At 1.16; 20.23; 21.11; 28.25; Rm 8.16; Hb 3.7; 9.8;
Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22; 14,13; 22.17.

“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos


guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas
dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que hão
de vir” (Jo 16.13).
216

De acordo com o texto acima, o Espírito Santo, além de


falar e dar ordens, pode também guiar, ouvir e anunciar.

O Espírito Santo guia:

“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são


filhos de Deus” (Rm 8.14).

Dá testemunho:

“Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei


da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse
dará testemunho de mim” (Jo 15.26). “E disto nos dá
testemunho também o Espírito Santo; porquanto, após ter dito”
(Hb 10.15). “Este é aquele que veio por meio de água e sangue,
Jesus Cristo; não somente com água, mas também com a água e
com o sangue. E o Espírito é o que dá testemunho, porque o
Espírito é a verdade” (1Jo 5.6).

Também clama:

“E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração


o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (Gl 4.6).

O E spírito Santo ama:


217

“Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e


também pelo amor do Espírito, que luteis juntamente comigo nas
orações a Deus a meu favor” (Rm 15.30).

O Espírito Santo, assim como uma pessoa, pode ficar


triste:

“Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito


Santo, pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou
contra eles” (Is 63.10). “E não entristeçais o Espírito de Deus, no
qual fostes selados para o dia da redenção” (Ef 4.30).

Dá vida:

“Porque o que semeia para a sua própria carne da carne


colherá corrupção; mas o que semeia para o Espírito do Espírito
colherá vida eterna” (Gl 6.8).

Perscruta, esquadrinha, conhece:

“Pois Deus no-las revelou a nós pelo Espírito; porqpe o


Espírito tudo esquadrinha, até as coisas profundas de Deus.
Qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do
homem que nele está? assim também as coisas de Deus
ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus” (1Co 2.10,11).

A mesma coisa foi dita de Jesus:


218

“Todas as coisas me foram entregues por meu Pai: e


ninguém conhece o Filho senão o Pai; e ninguém conhece o Pai
senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt
11.27).

Quando a Bíblia diz que ninguém conhece o Pai, senão


o Espírito, e depois diz que ninguém conhece o Pai, senão o
Filho, está dizendo que o Espírito e o Filho são como a mesma
pessoa. Nisto se conhece a Trindade.

O Espírito Santo ensina:

“Mas o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai


enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos
fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26).

“Quando vos levarem às sinagogas e perante os


governadores e as autoridades, não vos preocupeis quanto ao
modo por que respondereis, nem quanto às coisas que tiverdes
de falar. Porque o Espírito Santo vos ensinará, naquela mesma
hora, as coisas que deveis dizer” (Lc 12.12).

O versículo fala que o Espírito Santo nos ensinará o que


respondermos quando formos levados às sinagogas, perante as
autoridades.

Comparemos com o que Jesus disse de Si mesmo:


219

“Antes, porém, de todas estas coisas, lançarão mão de


vós e vos perseguirão, entregando-vos às sinagogas e aos
cárceres, levando-vos à presença de reis e governadores, por
causa do meu nome; e isto vos acontecerá para que deis
testemunho. Assentai, pois, em vosso coração de não vos
preocupardes com o que haveis de responder; porque eu vos
darei boca e sabedoria a qpe não poderão resistir, nem
contradizer todos qpantos se vos opuserem” (Lc 21.12-15).

Jesus disse que Ele mesmo nos ensinará o que


respondermos quando formos levados às sinagogas, perante as
autoridades. É a mesma coisa que o Espírito Santo fará.
Portanto, ambos são como que uma única pessoa.

Veja a semelhança entre Jesus e o Espírito Santo,


sendo ambos enviados por Deus no mesmo texto e contexto:


Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a
palavra qpe estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me
enviou. Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas o
Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu
nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de
tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.24-26).

O Espírito Santo foi enviado assim como Jesus. E


Espírito Santo foi enviado justamente para substituir Jesus
após Sua partida, para desempenhar as mesmas funções na
220

Terra (Jo 14.16,26; 15.26; 16.7). Até a palavra utilizada para o


Espírito Santo (Consolador) foi a mesma usada para Jesus em:

“Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não


pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado
[parakletos: Consolador] junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”
(1Jo 1.2.1).

Portanto, se Jesus é uma pessoa, o Espírito Santo


também é. Ambos são membros da Trindade Santa.

O Espírito Santo impede:

“E, percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido


impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia,
defrontando Mísia, tentavam ir para Bitínia, mas o Espírito de
Jesus não o permitiu” (At 16.6,7).

Convence:

“Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá,


porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se,
porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier, convencerá o
mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.7,8).

Expulsa demônios:
221

“Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus,


certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28).

Pode se irritar:

“Tais coisas anunciadas não alcançarão a casa de Jacó.


Está irritado o Espírito do SENHOR? São estas as suas obras?
Sim, as minhas palavras fazem o bem ao que anda retamente”
(Mq 2.7).

Conduz, arrebata:

“Depois, o Espírito de Deus me levantou e me levou na


sua visão à Caldéia, para os do cativeiro; e de mim se foi a visão
que eu tivera” (Ez 11.24). “Veio sobre mim a mão do SENHOR;
ele me levou pelo Espírito do SENHOR e me dexou no meio de
um vale que estava cheio de ossos” (Ez 37.1). “E logo o Espírito
o impeliu para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, sendo
tentado por Satanás; estava com as feras, mas os anjos o
serviam” (Mc 1.12,13). “Quando saíram da água, o Espírito do
Senhor arrebatou a Filipe, não o vendo mais o eunuco; e este foi
seguindo o seu caminho, cheio de júbilo” (At 8.39). “Enviados,
pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram
para Chipre” (At 13.4). Ver também 1Rs 18.12; 2Rs 2.16.

Comissiona:
“Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o
Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja
de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” (At
20.28).

Gera vida:

“O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso


me dá vida” (Jó 33.4). “Enquanto ponderava nestas coisas, eis
que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José,
filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que
nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20).

Conforta:

“A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia,


Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do
Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At
9.31).

Enfim, o Espírito Santo lava, regenera, unge, dá paz,


descanso, alegria, dons, esperança, força, poder, temor do
Senhor, conselho, habilidade, sabedoria, inteligência e
conhecimento e muitas outras coisas (Ex 35.31; Jz 14.6,19;
15.14; Is 11.2; 63.14; Mq 3.8; Lc 4.18; At 1.8; Rm 14.17;
15.13; 1Co 12.8-10; 1Ts 1.6; Tt 3.5 etc.).
223

Por isto, não podemos chamar o Espírito Santo de


“isto”, ou de “aquilo” . O Espírito Santo não é uma coisa, um
objeto, mas uma pessoa. E, mais do que isto, o Espírito Santo
é Deus.
224
225

O MALFEITOR CRUCIFICADO

Por falar em adulteração de versículos bíblicos, há


ainda um que tem criado muita polêmica.

Quando Jesus estava prestes a partir desta vida,


prometeu a um dos malfeitores que estavam crucificados que o
levaria ao paraíso no mesmo dia. Isto entra em contradição
com a Torre de Vigia, a qual alega que o malfeitor só poderá ir
ao paraíso no dia da ressurreição.

Segundo o seguinte versículo, quem morre com Cristo


vai direto ao paraíso:

“Jesus lhe respondeu: em verdade te digo que hoje


estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43).

Não é possível contradizer este versículo sem deturpá-


lo. Para os que não creem na imortalidade do espírito, a versão
apresentada de tradução é: “em verdade te digo hoje, que
estarás comigo no paraíso”. Esta versão contraria a maioria dos
intérpretes, que acredita que a palavra “hoje”, como advérbio,
relaciona-se a “estarás”, e não a “digo” .

Podemos ver isso em incontáveis versões bíblicas de


todos os idiomas. Eu poderia citar exemplos aqui, mas
226

cansaria o leitor, de tão vastos que são. Tradutores,


experientes com o idioma grego, unânimes, aceitam que o
advérbio “hoje” está se referindo ao verbo “estar”, da segunda
oração da frase.

A única versão bíblica acessível, que coloca “dois


pontos” adiante da palavra “hoje” é a Tradução do Novo Mundo
das Escrituras Sagradas, da Editora Sociedade Torre de Vigia
de Bíblias e Tratados. É a versão das Testemunhas de Jeová,
que, nem preciso dizer, não merece nenhum resquício de
crédito, dado o número de absurdos de traduções mal
intencionadas que sua versão traz. Sua tradução fica assim:

“Deveras, eu te digo hoje: Estarás comigo no Paraíso”.

Nos manuscritos originais não havia pontuação. Os


sinais de pontuação só foram criados vários séculos depois
daquele tempo. E a frase “te digo hoje estarás comigo no
paraíso” necessita impreterivelmente de pontuação, aliás muito
forçada, para ter o sentido de que “hoje” se refira a o verbo
“dizer”, e não ao verbo “estar”.

Há também a Tradução Trinitariana em português,


editada em 1883 pela “Trinitarian Bible Society” de Londres. Lá
está escrito: “Na verdade te digo hoje, que serás comigo no
Paraíso”. Colocaram a vírgula depois da palavra “hoje”, sendo
que nos originais não tinha pontuação, e colocaram também a
palavra “que”, a qual é inexistente no original.
227

Além disso, na versão atual da própria SBTB (Sociedade


Bíblica Trinitariana do Brasil), eles se retrataram e corrigiram
esse impasse, traduzindo agora da seguinte forma: “E disse-lhe
Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso”.
Não resta, portanto, outra versão bíblica que tenha cometido
esse erro de tradução que tanto anelam os mortalistas.

A falta de pontuação daria aos leigos duas


possibilidades de interpretação do versículo. No entanto, o
Novo Testamento, bem como toda a Bíblia, não foi traduzido
por leigos, mas por eruditos, professores altamente
capacitados, os quais sabem pontuar corretamente o texto. A
pontuação, embora inexistente, está implícita e visível aos
olhos de intérpretes experientes. E exatamente todos eles
concordam indubitavelmente que a forma correta de pontuar é
a que relaciona a palavra “hoje” ao verbo “estar”.

Creio eu que até mesmo os tradutores da Bíblia das


Testemunhas de Jeová sabem disso. Contudo, como eu já disse
anteriormente, sua versão bíblica nunca teve a pretensão de
retratar a verdade, mas sim de adequá-la à doutrina de sua
religião.

Mesmo que não discorramos sobre como estão os


originais e as traduções, consideremos três coisas:

1) A palavra “hoje” tornar-se-ia desnecessária, caso a


promessa de Jesus ao malfeitor fosse futurista. Se tal
228

revelação fosse uma referência ao dia da ressurreição final,


a palavra “hoje” seria tão inútil na frase quanto sal
insípido!
2) Não há razão para Jesus dizer ao malfeitor que era “hoje”
que Ele estava dizendo aquilo, pois era óbvio que dissera
naquele mesmo dia. Ficaria sem sentido uma declaração
dessas. Raciocinemos francamente: para que, raios, Jesus
necessitaria ter dito: “em verdade te digo hoje”?! Para quê?
Por que Ele faria isso? É como se Jesus tivesse dito algo
errado noutro dia, e que “hoje” precisasse retratar-Se. Seria
a única explicação. Mas é claro que não foi isso o que
aconteceu.
3) Por outro lado há um motivo bastante convincente para
que Jesus tenha proferido “hoje” em relação a “estarás”,
pois que, no versículo anterior, o malfeitor tinha dito:
“Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino”. A
palavra “quando” demonstra que a resposta de Jesus devia
abranger também o tempo. Precisava de esclarecimento no
que se refere ao tempo em que o Mestre se lembraria do
malfeitor. E Jesus, não somente disse que se lembraria
dele, como também que o tempo em que isso iria acontecer
seria naquele mesmo dia. Isto indica que a palavra “hoje”
era literal e temporal, não apenas uma força de expressão.
229

E, no que diz respeito ao versículo anterior, temos ali a


frase dita pelo malfeitor, que vale fazermos algumas
observações:

“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, guando


entrares no teu Reino” (Lc 23.42).

Há uma polêmica sobre suas palavras. Alguns dizem


que o verbo é “vir”, outros dizem que o verbo é “entrar”, para
determinar o tempo em que o Mestre entraria no seu reino.
Algumas versões bíblicas traduzem como “vir”, enquanto que
outras traduzem como “entrar”. Isto delimitaria o tempo em
que Jesus estaria com o malfeitor a salvo no paraíso.

O fato é que muitos estudiosos superestimam a frase


proferida pelo condenado, como se ela fosse fator determinante
para a interpretação de qual seria o tempo do reino de Deus.
Questionam se Jesus poderia, ou não, estar no paraíso naquele
exato dia, pois teria que estar cronometricamente ligado ao
tempo em que entraria no reino de Deus. Tal polêmica é
sobremodo desnecessária. O que importa o que disse o
malfeitor? Qual palavra é mais digna de credibilidade: a do
malfeitor, ou a de Jesus? Devemos abortar a crença nas
palavras de Jesus para crer nas do malfeitor? Qual dos dois
sabia mais a respeito do mundo espiritual? O fato de o
malfeitor crer que sua salvação seria no dia do reino não
implica em nada. O que importa aqui é a resposta do próprio
230

Mestre, porque palavra de Deus é aquela que é proferida por


Deus ou por seus profetas. Não se toma por verdade qualquer
afirmação bíblica que tenha sido feita por pessoas não
convertidas.

Alguns mortalistas arriscam afirmar que Jesus só falou


a palavra “hoje” para reforçar a importância do significado. É o
que chamamos de “idiotismo”, que significa basicamente:
expressões de fala específicas de uma pessoa; bordão; forma de
se expressar.

Dizem que existem vários desses idiotismos com a


palavra “hoje” na Bíblia. O curioso é que, embora os
mortalistas digam que existam inúmeras dessas expressões, só
conseguem apresentar quatro: Dt 4.26; 30.19; At 20.26 e Zc
9.12. São os únicos versículos que, ao menos de longe,
parecem-se com a forma de linguagem usada em Lc 23.43.

Porém, eu vos afirmo com certeza: nenhum desses


exemplos são idiotismos! A palavra “hoje”, usada em tais
versículos, é requerida de fato, com seu sentido literal e
necessário. Não é apenas uma forma de linguagem.

E, mesmo se existisse na Bíblia várias expressões de


linguagem como esta, não redundaria em prova de que Jesus
também usava esse tipo de idiotismo. Se queremos conhecer os
bordões, ou as formas de linguagem de Jesus, temos que
231

procurar nas próprias palavras dEle, e não no Velho


Testamento.

Pois bem, aqui estão todas as ocorrências de “em


verdade te/vos digo” ditas por Jesus: são 75. E nenhuma
delas com a palavra “hoje”, exceto duas: a de Lc 23.43, que é a
que pretendem atacar, e também a seguinte:

“Respondeu-lhe Jesus: em verdade te digo que hoje,


nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás
três vezes” (Mc 14.30).

Embora os originais das duas referências não sejam


exatamente iguais, não significa que a palavra “hoje” se refira
ao verbo “dizer”. O que se quer provar aqui é que Jesus nunca
usou a palavra “hoje” em sentido simbólico, para reforçar a
importância da expressão “em verdade te digo”. Ele sempre a
usou em sentido literal. Só poderemos acreditar que seja um
idiotismo, se forem amplamente usados pelo próprio Jesus, no
decorrer dos quatro Evangelhos, de forma simbólica.

Se o versículo fosse assim: “Respondeu-lhe


Jesus: em verdade te digo hoje que um dia tu me negarás três
vezes”, seria um exemplo (um único exemplo) de que Jesus
usou a palavra “hoje” metaforicamente, apenas para dar ênfase
à frase. Mas, observa-se claramente que “hoje” se refere ao
verbo “negar”, e não ao verbo “dizer”. Foi usada em sentido
literal e temporal para afirmar exatamente o dia em que iria
232

acontecer o que foi descrito na frase. Pedro foi informado de


que seria “hoje” o dia em que ele negaria a Cristo. Não houve
simbolismo.

É impressionante que, dentre 75 ocorrências, nenhuma


tenha idiotismo com a palavra “hoje”. E ainda tem gente que
insiste em crer que, unicamente em Lucas 23.43, trata-se de
um idiotismo. Pior cego é o que não quer enxergar! Admitam de
uma vez, ao invés de citarem apenas 4 versículos do Velho
Testamento, os quais, além de não terem sido ditos por Jesus,
não se constituem figura de linguagem enfática.

O que podemos chamar de força de expressão é o


bordão largamente usado por Jesus: “em verdade, em
verdade”. Isto sim, Ele falava bastante. Mas, quanto à frase
“em verdade te digo hoje”, Ele jamais falou metaforicamente. O
sentido de “hoje” sempre foi literal e relativo ao tempo.

Há ainda outro argumento para tentar negar o versículo


de Lc 23.43. Os mortalistas afirmam que o malfeitor não
poderia ter subido com Cristo no mesmo dia, porque só morreu
dias depois. Citam este versículo:

“Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no


sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele
dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem
as pernas, e fossem tirados dali” (Jo 19.31).
233

Antes de tudo, que fique bem claro que nós, os


imortalistas, sabemos que era comum os crucificados
permanecerem vivos por mais de um dia. Não é necessário
tentar provar isso.

Afirmam que não quebraram as pernas de Jesus,


porque Ele já estava morto. Para os mortalistas, isto é uma
prova de que os outros crucificados estavam vivos e
permaneceríam assim por vários dias. Embora Jesus estivesse
morto, o malfeitor não estava e, consequentemente, não
poderia ter ido ao paraíso naquele dia.

Entretanto, seria uma prova se os soldados não


tivessem quebrado as pernas dos malfeitores. Eles
permaneceriam vivos por mais algum tempo se não tivessem as
pernas quebradas. Mas o próprio versículo registra que o
motivo por que lhes quebraram as pernas era o fato de estarem
vivos e que precisavam morrer antes de chegar o sábado. Os
soldados jamais quebrariam as pernas dos malfeitores se os
mesmos já estivessem mortos, como Jesus. É tanto, que as de
Jesus não foram quebradas. Também não haveria necessidade
de quebrar-lhes as pernas se não fosse véspera de sábado.

“Chegando-se, porém, a Jesus, como vissem que já


estava morto, não lhe quebraram aspernas” (Jo 19.33).

Ainda que concordemos que as pernas dos crucificados


foram quebradas não para matá-los, e sim para deixá-los
234

morrer, a questão é que eles morreram logo em seguida, quer


na cruz ou fora dela. O quebrar das pernas tira-lhes o sustento
do peso corporal, tornando a pressão nos braços ainda maior.
Soma-se a isto a dor e os prejuízos físicos que as pernas
quebradas causam. O fato é que não durariam vivos por muito
tempo depois de terem as pernas quebradas. Na verdade, antes
de tudo, a falta de apoio dos pés os mataria por asfixia, devido
à posição da caixa toráxica. Os crucificados precisam apoiar os
pés no madeiro, a fim de conseguirem respirar. E, sem a
respiração, devido às pernas quebradas, quanto tempo
permaneceriam vivos aqueles corpos já dilacerados pela cruel
punição que receberam? E os soldados sabiam muito bem que
a sobrevivência dos crucificados dependia do apoio das pernas,
razão pela qual optaram por quebrá-las.

Desta forma, entendemos que o quebrar de pernas foi


para apressar a morte dos malfeitores, e que estes morreram
ainda na sexta feira, no mesmo dia em que Jesus morreu.
Morreram na cruz para cumprir a pena de “morte de cruz” e,
depois de mortos foram retirados, para atender ao pedido dos
judeus de não deixar corpos na cruz no sábado. Se os judeus
não tivessem feito esse pedido a Pilatos, os soldados não teriam
quebrado as pernas dos crucificados, e estes teriam
permanecido vivos por ainda alguns dias.
235

Se o quebrar de pernas não fosse para apressar a morte


de cruz de quem estivesse vivo, os soldados teriam feito uma
dessas coisas:

1) Teriam quebrado também as pernas de Jesus. Mas só não


o fizeram por Ele já estar morto (Jo 19.33).
2) Ou não precisaria quebrar as pernas de ninguém, uma vez
que a pressa seria apenas para tirar os corpos da cruz e
não para vê-los mortos. Teriam apenas tirado os homens da
cruz e os deixado morrer no chão ou no cárcere, durante o
tempo em que pudessem.

Sabe-se que a pena que os malfeitores tiveram foi a de


“morte de cruz”. Morte de cruz significa que foram mortos nela
e por ela. Como, pois, sairiam da cruz para ficarem agonizando
sob o Sol durante dias? Para cumprirem sua pena, tiveram as
pernas quebradas e morreram na própria cruz, na sexta feira,
antes de serem retirados. O objetivo de quebrar as pernas é
matar os crucificados.

Diriam alguns, porém: “mas, se fosse para matá-los,


enfiar-lhe-iam uma lança, como fizeram com Jesus”. A resposta
está na Bíblia. A lança foi usada para se certificar de que Jesus
estava realmente morto, e não para matá-lo:

“Chegando-se, porém, a Jesus, como vissem que já


estava morto, não lhe quebraram as pernas. Mas um dos
236

soldados lhe abriu o lado com uma lança, e logo saiu sangue e
água” (Jo 19.33,34).

Então, se os malfeitores também estivessem mortos,


teriam igualmente recebido uma lança, ao invés de terem as
pernas quebradas.

É necessário agora discutirmos sobre outro argumento


apresentado com o intuito negar a imortalidade da alma de
Jesus. O Mestre, depois de ressurrecto, disse a Maria
Madalena:

“Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda


não subi para meu Pai” (Jo 20.17a).

Este versículo é usado pelos mortalistas para afirmar


que Jesus não poderia der subido ao Pai no mesmo dia em que
morreu, pois passou 40 dias na Terra. Ora, se Jesus veio à
Terra depois de sua ressurreição, não é inerente ao tema
tratado. O que nos interessa neste momento é o que aconteceu
antes de sua ressurreição. Porque, na verdade, Jesus não
ressuscitara no mesmo dia em que morrera, mas três dias
depois. Quando chegou o dia de Jesus ressuscitar, Ele já havia
cumprido a promessa de estar com o malfeitor no mesmo dia
no paraíso.

Ou pensas que não? O que Jesus estaria fazendo aqui


na Terra parado por dois dias? É claro que, partindo do
237

pressuposto de que Ele não morreu espiritualmente, Ele teria


subido ao céu e retornado no dia em que ressuscitou.

O sentido de “ainda não subi”, dito a Maria, é um


sentido presente e futuro, não passado. A expressão pode
muito bem ser lida dessa forma: “ainda não vou subir agora,
não se preocupe”, significando que ainda dava tempo suficiente
para que ela anunciasse a seus irmãos, para que estes também
pudessem vê-Lo. Leiamos o versículo completo, pelo menos:

“Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda


não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-
lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso
Deus”.

Se Jesus fosse subir naquele instante, não daria tempo


para que Maria fosse informar aos irmãos. É, portanto, uma
frase futurista.

Maria estava querendo ficar o máximo de tempo com


Jesus, antes que Ele suba. Ela queria voltar a ter comunhão
com Ele, do mesmo jeito que tinham antes da crucificação. Por
isto, não estava querendo deixá-lo ir. Assim, foi preciso que o
Senhor lhe diga (interpretado por minhas palavras):

“Não me detenhas, pois não pretendo subir agora, não se


preocupe. Dá tempo para você chamar os irmãos”.
238

Jesus ainda não havia subido definitivamente ao céu.


Digamos que Ele foi ao céu apenas de passagem, como uma
visita temporária. E foi isso o que Ele disse a Maria. A
assunção completa de Jesus, com corpo e Espírito, ainda não
se realizara. Mas Jesus não precisava responder com tantos
detalhes, pois sabia que a pretensão de Maria era permanecer
mais tempo com Ele. Portanto, respondeu segundo a dúvida
que pairava no coração dela. Maria não havia perguntado coisa
alguma. Apenas estava atônita, pensando que o Mestre logo
subiria e que ninguém mais poderia vê-Lo. Desta feita, a
resposta de Jesus foi de encontro à verdadeira preocupação
dela.

Nós também, no dia a dia, quando vamos responder


alguma coisa, não tecemos nossa resposta baseada
unicamente na pergunta, mas sanamos a dúvida real que
achamos que a pessoa tem. É normal alguém perguntar algo e,
ao invés de receber a resposta direta de sua pergunta, receber
a resposta de sua dúvida, pois quem responde analisa aonde o
perguntante quer chegar com a pergunta. Por exemplo, alguém
indaga:

“O que esta ferramenta faz no lixo?”

A resposta literal deveria ser:

“Ela não está fazendo nada. Está parada no lixo.”

Porém, ao invés disso, respondemos:


239

“Porque está quebrada.”

Pelo contexto, Jesus não queria entrar em detalhes


desnecessários, porque, para Maria não importava saber o que
fazia e onde estava a alma de Jesus antes daquele dia. Se ela
tivesse perguntado ao Mestre onde Ele estivera durante os três
dias, seria cabível entender que a resposta: “ainda não subi”
seja realmente uma referência ao passado.

Se quisermos algumas provas bíblicas, vejamos que o


espírito de Jesus repousava no céu, ao lado de Deus, junto
com o espírito do malfeitor, enquanto aguardava a ressurreição
de seu corpo ao terceiro dia:

“Então, Jesus clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos


entrego o meu espírito! E, dito isto, expirou” (Lc 23.46).

Foi o que disse Jesus no momento de sua morte.


Entregou o espírito. E, como foi uma entrega nas mãos do Pai,
é óbvio que não se trata de fôlego de vida, mas da própria
pessoa de Cristo.

“Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus que era


chagada sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo
amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim ” (Jo
13.1).

A expressão “passar deste mundo para o Pai” não se


refere à ascensão de Jesus, que ocorreu depois de quarenta
240

dias de aparições. Refere-se à hora imediata de sua morte, pois


tal expressão está precedida da palavra “hora”, a qual foi
proferida na mesma noite em que foi traído. Portanto, Jesus
passou para o Pai no exato momento de sua morte e não no dia
em que foi erguido entre as nuvens.

“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos


pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto,
sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1Pe 3.18).

Se é que podemos interpretar este versículo de forma


material, Jesus só estava morto na carne, não no espírito. Seu
corpo havia morrido, mas não seu Ser espiritual.

Ao morrer materialmente, Jesus reassumiu Sua forma


Divina. Atentemos ao fato de que, se não houvesse alma
imortal, Ele teria desaparecido por dois dias. Como poderia um
Deus deixar de existir por dois dias? Deus é onipresente e
onipotente. Já não basta que Cristo tenha se rebaixado a ponto
de ser um humano? Como se isso fosse pouco, ainda querem
acreditar que Ele tenha abandonado sua consciência e sua
própria existência, para ficar morto por dois dias! Deus não
pode morrer! Logo, a doutrina da morte de espiritual de Jesus
por dois dias é uma heresia e uma blasfêmia!

Podemos concluir, portanto, que Jesus foi realmente ao


paraíso no mesmo dia em que sofreu óbito corporal.
Juntamente com Ele também foi o malfeitor crucificado, visto
241

que igualmente morrera no mesmo dia. Entre as razões para


crermos na veracidade da interpretação apresentada, ressalta-
se que a palavra “hoje” foi usada de forma literal e temporal, e
se refere ao verbo estar, ao invés do verbo dizer.

Quanto à doutrina da imortalidade da alma após a


morte física, não discorrerei na presente obra. O assunto foi
pormenorizado em meu livro “Provas Bíblicas da Existência de
Espíritos” . Este tema é tão abrangente que, sozinho, gerou 700
páginas.
242
243

O PEQUENO REBANHO E AS OUTRAS


OVELHAS

As Testemunhas de Jeová estão divididas em dois


grupos: o pequeno rebanho e as outras ovelhas. Para ilustrar
isto, vejamos os versículos nos quais se baseiam:

Pequeno rebanho:

“Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se


agradou em dar-vos o seu reino” (Lc 12.32).

“Então, ouvi o número dos que foram selados, que era


cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de
Israel” (Ap 7.4).

Segundo as Testemunhas de Jeová, o pequeno rebanho


corresponde aos 144000 israelitas.

Outras ovelhas:

“Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim


me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá
um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).
244

“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que


ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (Ap 7.9).

As outras ovelhas são a grande multidão de Apocalipse.

A Torre de Vigia acredita que os 144000 são a igreja, a


qual começou com os apóstolos em Pentecostes e terminou de
preencher as vagas no ano de 1935 11. Estes 144000 irão
morar no céu com Jesus, enquanto que o restante das
Testemunhas de Jeová habitará na Terra. Os convertidos desta
época em diante terão que permanecer na Terra e sobreviver ao
Armagedom. A grande multidão permaneceria na Terra para
sempre, pois, desde 1935, Jesus deixou de chamar pessoas
para o céu e passou a chamá-las para a vida eterna na Terra.

Joseph Franklin Rutherford, o segundo presidente da


Torre de Vigia, foi quem profetizara que, em 1935, surgiria a
“grande multidão”, os herdeiros do paraíso terrestre, descrita
em Apocalipse. Essa profecia foi necessária para explicar o fato
das Testemunhas de Jeová estarem alcançando rapidamente o
número 144000. Naquela época, a seita ensinava que este era

11 A S e n tin e la , 0 1 d e fev ereiro d e 1 9 8 2 , p. 2 8 , p a rá g ra fo 16, e d iç ã o n o rte -


a m e ric a n a ; A S e n tin e la , 0 1 d e m a rç o d e 1 9 8 5 , p. 14, p a rá g ra fo 12, e d iç ã o
n o rte -a m e ric a n a .
245

o número máximo de pessoas que seriam salvas no Novo


Testamento. Mas, como o número de membros logo
ultrapassaria 144000, foi necessário inventarem essa desculpa
para se justificarem e para garantirem a salvação a todas as
Testemunhas de Jeová.

Vamos começar dando explicação à teoria do pequeno


rebanho. O texto de Apocalipse diz claramente: “de todas as
tribos dos filhos de Israel”. Significa que precisa ser israelita
para fazer parte deste grupo. As Testemunhas de Jeová alegam
que se trata do Israel espiritual. No entanto, além da Bíblia
dizer “de todas as tribos dos filhos de Israel”, os versículos
seguintes são ainda mais específicos:

“Da tribo de Judá foram selados doze mil; da tribo de


Rúben, doze mil; da tribo de Gade, doze mil; da tribo de Aser,
doze mil; da tribo de Naftali, doze mil; da tribo de Manassés,
doze mil; da tribo de Simeão, doze mil; da tribo de Levi, doze mil;
da tribo de Issacar, doze mil; da tribo de Zebulom, doze mil; da
tribo de José, doze mil; da tribo de Benjamim foram selados
doze mil” (Ap 7.4-8).

É um número literal. Não há simbolismo aqui. Cada


uma das doze tribos de Israel tem participação igual no grupo
dos 144000. Os nomes das tribos foram mencionados, para
246

deixar bem claro que é uma referência a membros do Israel


material, e não espiritual.

Entretanto, a Torre de Vigia afirma que cada um dos


doze mil não pode ser parte do Israel material. Um dos
argumentos é que todas as vezes que aparece 12000 em
Apocalipse 7.4-8 é simbólico. Mas, quando o mesmo capítulo
diz 144000, é literal. Como pode isto? Ou ambos os números
são simbólicos, ou ambos são literais. Hermeneuticamente
falando, é impossível atribuir simbolismo a uma parte do texto,
preservando a outra literal.

O outro argumento é que a relação dos nomes das


tribos “diverge da costumeira listagem Tribal” 12. Costumeira? E
existe lista costumeira? Veja no quadro abaixo que várias listas
existem e que nenhuma é igual à outra.

12 R ev elaç ã o - S e u G ra n d io s o C lím a x E s t á P róxim o!, p á g in a 117, p a r. 12.


Portas da Nova Terra de Israel
Jerusalém antes do exílio
Ap 21 Js 13

‫ך‬ ‫ש‬ M AN ASSES 1/2 DÃ


‫ך‬ ‫־‬£ οι
‫ס‬ Gade ‫ש‬ Aser
Z _l
‫ך‬ Rúben IMaftal i O
CL

M AN ASSES do
Ol
‫ך‬ Naftali EFRAIM ‫—ז‬1
Sul

‫ך‬ Aser Rúben


‫ך‬ Zebulem Judá

247
Issacar
? ‫ש‬
‫ש‬
M AN ASSES 1/2 Benjamim
‫ך‬ 0‫־‬1 ‫ש‬ o
‫ש‬ EFRAIM ‫ס‬ Simeão CL
_‫ו‬ _>
‫ך‬ Dã Issacar s_
do
Ol
Benjamim Zebulom CN

‫ך‬ Judá Gade


‫ש‬
‫ך‬ ‫רס‬ Simeão
‫ש‬
‫ס‬
‫ך‬
Ordem para
Filhos de Jacó
05 144.000 marchar e
Gn 29; 30; 35;
Ap 7 para acampar
49; Dt33
Nm 2

M AN ASSES Dã Dã

Norte
Aser Aser Aser
Naftali Naftali Naftali

Rúben Rúben Rúben

Sul
Simeão Simeão Simeão
Gade Gade Gade

Judá Judá Judá

Leste
Issacar Issacar Issacar
Zebulom Zebulom Zebulom

LEVI LEVI EFRAIM Oeste


JO SÉ JO SÉ M AN ASSES
Bemjamim Bemjamim Bemjamim
248

Os nomes das doze tribos foram mencionados em


Apocalipse 7, mas falta a tribo de Dã. Em seu lugar está
Manassés. Se, no lugar de Dã, foi inserido Manassés, filho de
José, o normal seria acrescentar também o nome de seu outro
filho Efraim. Mas, em vez disso, o nome do próprio José está lá.
As tribos de Dã e de Efraim não foram escolhidas. A razão
dessa exclusão deve ter sido sua idolatria e imoralidade: Jz
18.14-20,30,31; 1Rs 12.28-30; Os 4.17; 7.8; 11.12; 13.2,12. E
isto faz sentido, pois os 144 mil são imaculados (Ap 14.5).

O fato é que não existe lista costumeira. Nenhuma lista


é igual à outra. Não existe um padrão. Desta feita, o argumento
da Sociedade é vão. E, mesmo se todas as listas fossem iguais,
exceto a de Apocalipse 7, ainda assim não seria justificativa
par crer que não se trata de israelitas literais. Queremos
provas bíblicas, e não desculpas a versículos bíblicos.

A Torre de Vigia afirma também que somente os 144000


reinarão do céu sobre a Terra, e que foram os únicos
comprados pelo sangue de Cristo.

Mas os textos bíblicos reprovam ambas as teorias. Veja


quem realmente foi comprado com o sangue de Cristo:

“E entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o


livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo,
249

língua, povo e naçao e para o nosso Deus os constituíste reino e


sacerdotes; e reinarão sobre a terra” (Ap 5.9,10).

Os versículos acima informam que foram compradas


com o sangue de Cristo pessoas de toda tribo, língua, povo e
nação. Compare com a grande multidão:

“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que


ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos” (Ap 7.9).

A grande multidão provém de todas as nações, tribos,


povos e línguas. É óbvio que está contida no grupo de
Apocalipse 5.9,10, acima citado, pois a descrição é a mesma.
Se compararmos com os 144000, veremos que não são de toda
tribo, língua, povo e nação, mas pertencem apenas a Israel.

Isto significa que a grande multidão foi comprada pelo


sangue de Cristo, contrariando assim, a crença da Torre de
Vigia, na qual somente os 144000 foram redimidos pelo
sacrifício de Cristo.

E não nos esqueçamos de que Apocalipse 5.9,10


também diz que esta multidão reinará sobre a Terra. Portanto,
não são apenas os 144000 que reinarão. E o tal reino é o
Milênio.
250

Todavia, o Corpo Governante ensina que os 144000 são


de todos os povos, línguas e nações, apesar do texto dizer o
contrário. E, se fosse mesmo verdade que os 144000 são de
todos os povos, línguas e nações, o que os diferenciaria da
grande multidão? Absolutamente nada, pois seriam o mesmo
grupo. Desta forma, a interpretação que a Sociedade dá à
passagem bíblica redunda à inevitável conclusão de que não
existe divisão grupal. Significa que todos morarão na Terra, ou
todos no céu, visto que são ovelhas do mesmo aprisco.

Voltemos ao versículo em análise:

“Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim


me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá
um rebanho e um pastor” (Jo 10.16).

Quando Jesus disse: “tenho outras ovelhas, não deste


aprisco”, não estava falando de uma parte de salvos que
haveria de morar na Terra. Estava referindo-se aos gentios
salvos, em relação aos judeus:

“Conferem com isto as palavras dos profetas, como está


escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o
tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas,
restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e
também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o
meu nome” (At 15.15-17).
251

Tiago citava Amós 9.11,12, quando disse que os gentios


também alcançariam a salvação, assim como os israelitas.

“Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder


de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do
judeu e também do grego” (Rm 1.16).

Todo o que crê em Jesus será salvo, primeiro o judeu e


também o gentio. O Evangelho era pregado em Israel somente.
Só depois foi disseminado para além daquelas fronteiras, em
Atos dos Apóstolos. Os gentios são as outras ovelhas. Isto sim
é bíblico.

A respeito da grande multidão, a continuação do texto


de Apocalipse assim escreve:

“13 Um dos anciãos tomou a palavra, dizendo: Estes, que


se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram,? 14
Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São
estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras
e as alvejaram no sangue do Cordeiro, 15 razão por que se
acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no
seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre
eles o seu tabernáculo. 16 Jamais terão fome, nunca mais terão
sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum,, 17 pois o
Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os
252

guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará


dos olhos toda lágrima” (Ap 7.13-17).

Há muita informação aqui:

1) A grande multidão lavou suas vestes no sangue do


Cordeiro, coisa que as Testemunhas de Jeová creem que
somente os 144000 podem fazer.
2) A grande multidão se acha diante do trono de Deus. Onde
fica o trono de Deus? No céu ou na Terra? No céu.
3) A grande multidão serve a Deus no Seu santuário. Onde
fica o santuário de Deus? No céu ou na Terra? No céu.
4) Deus estenderá sobre a grande multidão o Seu
tabernáculo. Onde fica o tabernáculo de Deus? No céu ou
na Terra? No céu.
5) O Cordeiro apascentará a grande multidão. Onde fica o
Cordeiro? No céu ou na Terra? No céu, no meio do trono,
diante de Deus (v. 17).
6) O Cordeiro guiará a grande multidão às fontes da água da
vida. Onde ficam as águas da vida? No céu ou na Terra? No
céu, saindo diretamente do trono de Deus e do Cordeiro (Ap
22.1).
7) Nunca mais cairá o sol sobre a grande multidão, nem ardor
algum. Significa que não estarão mais na Terra, debaixo do
sol.
253

No próprio texto que a Torre de Vigia se baseia para


fundamentar sua teoria existem sete provas que, cada uma,
individualmente, bastaria para derrubar por terra a mesma
teoria. As cinco somadas, então, possuem o poder de
envergonhar aqueles que se atrevem a dizer que a grande
multidão morará na Terra. Por que o Corpo Governante não leu
o próprio texto que utilizou para criar uma doutrina?

Vejam os versículos que informam claramente que a


grande multidão está no céu:

“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que


ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e
línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos [...] razão por que se
acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no
seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre
eles o seu tabernáculo” (Ap 7.9,15).

A grande multidão está diante do trono, que é (para a


confusão das Testemunhas de Jeová) o mesmo lugar em que
estão os 24 anciãos:

“Todos os anjos estavam de pé rodeando o trono, os


anciãos e os quatro seres viventes, e ante o trono se prostraram
sobre o seu rosto, e adoraram a Deus” (v. 11).
254

Eu não sei como, mas a Torre de Vigia chegou,


inexplicavelmente, à conclusão de que os 24 anciãos são os
144000. Mas a Bíblia diz que os 24 anciãos estão diante do
trono, assim como a grande multidão. Por isto, não dá para
dizer que um grupo está na Terra e o outro está no céu, visto
que se encontram no mesmo lugar.

E, a respeito dos 24 anciãos serem os 144000, a Bíblia


contesta, mencionando ambos os grupos num só versículo de
maneira distinta:

“Entoavam novo cântico diante do trono, diante dos


quatro seres viventes e dos anciãos. E ninguém pôde aprender o
cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram
comprados da terra” (Ap 14.3).

Os 144000 cantavam diante dos 24 anciãos. Portanto,


não eram os mesmos indivíduos.

Há mais uma prova bíblica de que a grande multidão


está no céu:

“Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz


de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e
o poder são do nosso Deus” (Ap 19.1).
255

A grande multidão estará diante do trono no céu. É


impossível contradizer isto.

Outra prova se encontra no versículo 15, acima citado:

“Razão por que se acham diante do trono de Deus e o


servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se
assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo” (Ap
7.9,15).

Aqui está escrito que a grande multidão se acha diante


do trono, do tabernáculo e do santuário de Deus. O original de
santuário é naos, mesma palavra usada em:

“Foi-me dado um caniço semelhante a uma vara, e


também me foi dito: Dispõe-te e mede o santuário de Deus, o seu
altar e os que naquele adoram” (Ap 11.1).

A Torre de Vigia obriga seus fiéis a crerem que o


versículo acima se aplica aos 144000 13. Desde modo, ela
própria afirma (sem querer) que os 144000 estão no mesmo
lugar que a grande multidão. O lugar é o santuário (naos).

13 C lím a x d e R e v elação , p á g in a 168, p a r. 6.


256

E, para se sair desta contradição, a Torre de Vigia tenta


explicar que naos é diferente de naos 14, sendo que ambas as
passagens se encontram no mesmo livro de Apocalipse, e com
o mesmíssimo vocábulo original. Note que uma mentira sempre
precisa de outra para se fundamentar.

Outra argumentação da Sociedade é que a grande


multidão precisa estar na Terra para que os 144000 tenham
sobre quem reinar.

No entanto, isto não é preciso, visto que as


Testemunhas de Jeová acreditam que haverá sobreviventes ao
Armagedom. Então os povos que sobrarem vivos serão os
súditos do reino milenar, dispensando a necessidade da grande
multidão estar fazendo este papel.

Se quisermos ir mais além, lembremo-nos de que a


Árvore da Vida também se encontra na Jerusalém Celestial (Ap
2.7; 22.2,14). Como as Testemunhas de Jeová não creem na
imortalidade da alma, seu único recurso para explicar a vida
eterna do homem é comer da Árvore da Vida. Quem dela não
comer continua sendo mortal.

14 A S e n tin e la 15 d e ja n e iro d e 1 9 6 1 , p á g in a 4 0 ; C u m p r ir - s e - á E n tã o o M istério


d e D e u s (1971), p á g in a 2 6 0 , p a rá g ra fo 4; A S e n tin e la d e 15 d e fev ereiro de
1 9 8 1 , p á g in a 15.
257

Mas, se tal árvore se encontra na Jerusalém Celestial,


como os habitantes da Terra poderão viver eternamente?
Expliquem isto.

E mais: a Revelação informa que somente os que


lavarem suas vestes no sangue do Cordeiro terão acesso à
Árvore da Vida:

“Bem-aventurados aqueles que lavam as suas


vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o
direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas” (Ap
22.14).

Quem não se lavar nesse sangue não comerá da Árvore


da Vida. Porém, a Torre de Vigia assegura que a expiação pelo
sangue de Cristo é um privilégio apenas dos 144000. Deste
modo, as “outras ovelhas” não são por ele lavadas e,
consequentemente, jamais verão a Árvore da Vida.

A diferença de opiniões a esse respeito é que nós


tiramos nossas conclusões baseados na Bíblia, enquanto que
as Testemunhas de Jeová fomentam suas crenças a partir de
profecias de falsos profetas e de ensinamentos de falsos
mestres. O que elas creem não está na Bíblia, mas na mente de
cegos, guias de cegos.
258

A revista A Sentinela de 15 de janeiro de 1981, página


23, parágrafo 7, salienta que, quando João escreveu “ainda
tenho outras ovelhas, não deste aprisco”, tinha em mente a
profecia dos 144000, escrita por ele mesmo em Apocalipse.

Mas esse argumento é totalmente descabido, por várias


razões:

1) Isto não é uma prova, pois não está escrito. O autor do


artigo da revista A Sentinela, simplesmente, tenta adivinhar
o pensamento de João.
2) Não foi João quem disse “ainda tenho outras ovelhas, não
deste aprisco”. Ele apenas escreveu as palavras de Jesus.
De forma alguma, João poderia alterar as palavras do
Mestre, para se adequar a uma suposta lembrança do livro
de Apocalipse.
3) Não foi João quem escreveu o Evangelho Segundo João,
nem o Apocalipse. O autor foi o Espírito Santo. João
representou somente a pena utilizada por Deus para grafar
as palavras dos livros.
4) O Apocalipse foi escrito depois do Evangelho Segundo João.
Significa que João não podia ter nenhuma influência
daquele livro, enquanto escrevia este. O Apocalipse data de
96 d.C., enquanto que o Evangelho foi escrito entre 80 e 90
d.C.
259

O que podemos ver concretamente, escrito no mesmo


livro de João, é que todos os salvos deverão ir a um só lugar,
sem divisões:

“Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam


também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória
que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do
mundo” (Jo 17.24).

Todos os que Deus deu a Jesus deverão estar com Ele


onde Ele estiver.

Tais pessoas irão para o céu, pois não pertencem a este


mundo:

“Eles não são do mundo, como também eu nao sou” (v.


16).

E quem são estas pessoas? São todos os crentes:

“Não rogo somente por estes, mas também por aqueles


que vierem a crer em mim,, por intermédio da sua palavra” (v.
20).

Jesus não falava apenas dos apóstolos, mas de todo


aquele que viesse a crer nEle. Isto envolve passado, presente e
futuro. Não há distinção. Você crê em Jesus? Se a grande
multidão de Testemunhas de Jeová crer em Jesus, subirá com
260

Ele junto com os demais, e não permanecerá na Terra. Só não


subirá se não crer.

A multidão de crentes de que Jesus falava terá unidade


e permanecerá junta, de acordo com a continuação do texto:

“Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para


que eles sejam um, assim como nós [...] a fim de que todos
sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam
eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes
tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam
um, como nós o somos” (v. 11,21,22).

Jesus quer que eles sejam um, e não dois grupos


separados.

“Há somente um corpo e um Espírito, como também


fostes chamados numa só esperança da vossa vocação” (Ef 4.4).

Na nossa vocação, fomos chamados numa só


esperança. Não há duas esperanças diferentes. Como também
só existe um corpo, do qual Cristo é o cabeça.

E este grupo unido irá para o céu, conforme a


continuação da leitura de João 17:

“Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo,


ao passo que eu vou para junto de ti [...] Ma.s, agora, vou para
261

junto de ti e isto falo no mundo para que eles tenham o meu gozo
completo em si mesmos [...] Pai, a minha vontade é que onde eu
estou, esteiam também comigo os que me deste, para que vejam
a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da
fundação do mundo” (v. 11,13,24).

Jesus foi para junto de Deus no céu, fora do mundo, e


deseja que todos os que creem nEle também vão para o mesmo
lugar.

“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não


fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar” (Jo 14.2).

Jesus disse que na casa do Pai há muitas moradas. Isto


é o oposto do que a Torre de Vigia ensina. Ela assegura que as
vagas no céu são limitadas e que as últimas que restavam para
completar o número de 144000 já se esgotaram em 1935. Creio
que Jesus tem mais respaldo do que a Torre de Vigia, para
saber quantas vagas há no céu. “Muitas moradas” não são
apenas 144000. Do contrário, Ele teria mencionado isto.

“E, quando eu fo r e vos preparar lugar, voltarei e vos


receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais
vós também” (v. 3).
262

Esta foi a promessa de Jesus. Quando ele for, preparará


o lugar, voltará e nos levará para onde Ele estiver. Só podemos
acreditar no que está escrito, mas não em fontes alheias.

Estas palavras, escritas por João, têm também a


confirmação de Paulo:

“Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de


ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus,
descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro;
depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados
juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor
nos ares, e, assim,, estaremos para sempre com o Senhor” (1Ts
4.16,17).

Os mortos ressuscitarão no dia em que os vivos serão


transformados. E, tanto os ressuscitados, quanto os
transformados, irão juntos para o encontro do Senhor nos
ares. Ficarão assim para sempre.

Ainda nos escritos de Paulo, a unidade dos salvos é


confirmada:

‘n1 Portanto, lembrai-vos de que, outrora, vós, gentios na


carne, chamados incircuncisão por aqueles que se intitulam
circuncisos, na carne, por mãos humanas, 12 naquele tempo,
estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel e
263

estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança e sem


Deus no mundo. 13 Ma.s, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes
estáveis longe, fostes aproximados pelo sangue de Cristo. 14
Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos fez um; e, tendo
derribado a parede da separação que estava no meio, a
inimizade, 15 aboliu, na sua carne, a lei dos mandamentos na
forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo,
um novo homem, fazendo a paz, 16 e reconciliasse ambos em um
só corpo com Deus, por intermédio da cruz, destruindo por ela a
inimizade. 17 E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis
longe e paz também aos que estavam perto; 18 porque, por ele,
ambos temos acesso ao Pai em um Espírito. 19 Assim, já não sois
estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois
da família de Deus” (Ef 2.11-19).

A única separação que existia era entre judeus e


gentios. A Torre de Vigia considera que os 144000 compõem o
Israel espiritual.

Mas, começando pelo ministério apostólico, a parede de


separação fora quebrada, unindo os dois grupos num só corpo,
num só espírito. Todos têm acesso ao pai e compõem família de
Deus. E, se é família, todos são filhos do Pai e irmãos de Jesus.
Não existe essa ideia de que uns são filhos, enquanto que
outros são ovelhas.
264

Uma Testemunha de Jeová que tenha vontade de


compreender a escatologia fora dos padrões impostos pela
Torre de Vigia poderá buscar a resposta para a seguinte
pergunta:

“Onde está registrado na Bíblia que os 144000 serão os


únicos humanos a habitarem no céu?”

Ninguém pode responder a esta pergunta, nem mesmo


o Corpo Governante, pois a Bíblia não registra tal informação.
E a falta desta resposta já é motivo suficiente para a teoria em
questão perder a credibilidade. A estrutura da salvação
oferecida pela Torre de Vigia tem seus pilares fortemente
ligados à teoria dos 144000. Mas, no fundo, há de se admitir
que esta teoria nunca saiu da Bíblia, nem encontra nela
sustentação.

Outra pergunta:

“Onde está registrado na Bíblia que os 144000 são os


únicos participantes do Novo Pacto?”

Responda o Corpo Governante. Respondam os teólogos


da Torre de Vigia, se puderem. A Bíblia não afirmou nenhuma
vez que somente os 144000 são beneficiados com o Novo Pacto.
Os únicos lugares em que há registro dos 144000 são os
265

capítulos 7 e 14 de Apocalipse. E ali não se menciona nada


acerca da Nova Aliança. Nem ali, nem em parte alguma.

Tudo o que foi dito aqui não é apenas opinião vaga,


oriunda da minha imaginação. É antes uma surra de Bíblia
pura nas Testemunhas de Jeová. Enquanto elas creem em
palavras de homens, as demais igrejas se baseiam na Bíblia
como única regra de fé e prática.
266
267

Diferenças entre os dois grupos

As Testemunhas de Jeová não ministram a Santa Ceia


a todos os seus membros. Somente aqueles que estão
destinados a morar no céu, isto é, os que estiverem contados
entre os 144000 podem cear. O restante, chamado de “outras
ovelhas”, não é participante da Nova Aliança e, por isto, morará
eternamente na Terra. Como resultado, estatisticamente,
apenas 0,1% das Testemunhas de Jeová tiveram o direito de
cear a Santa Ceia certa vez, numa contagem feita em 1986 15.
Mas, atualmente, nenhum Testemunha de Jeová ceia a Santa
Ceia.

Porém, deixando de cear, estão desobedecendo a uma


ordem bíblica:

“Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-


o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é
o meu corpo. A seguir; tomou um cálice e, tendo dado graças, o
deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos” (Mt 26.26,27).

15 E s ta tís tic a s r e la ta d a s e m A S e n tin e la , 0 1 / 1 0 / 8 6 .


268

Todos devem beber.

Mas a justificativa apresentada pela Torre de Vigia está


no versículo 28:

“Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança,


derramado em favor de m uitos, para remissão de pecados” (Mt
26.28).

O sangue de Jesus foi derramado em favor de muitos,


não de todos. Segundo o entendimento das Testemunhas de
Jeová, somente os que habitarão no céu foram expiados pelo
sangue de Jesus. Veja a publicação do Corpo Governante:

“Foi Moisés o mediador entre Jeová Deus e a


humanidade em geral? Não, ele foi o media.dor entre o Deus de
Abraão, Isaque e Jacó, e a nação dos descendentes carnais
deles. Do mesmo modo, o Moisés Maior, Jesus Cristo, não é o
Mediador entre Jeová Deus e toda a humanidade. Ele é o
Mediador entre seu Pai celestial, Jeová Deus, e a nação do Israel
espiritual, que está limitado a 144.000 membros. Esta nação
espiritual é como um pequeno rebanho de pessoas semelhantes
a ovelhas, pertencentes a Jeová. - Romanos 9:6; Revelação
(Apocalipse) 7:4.” (Segurança Mundial sob o “Príncipe da Paz”,
269

cap. 1, pp. 10-11, par. 16). Veja também as referências no


rodapé16.

Está certo que Jesus não morreu por todos. Todavia, é


importante relatar que aqueles por quem Cristo não derramou
seu sangue não fazem parte dos eleitos e, consequentemente,
não serão salvos. A verdadeira expiação limitada exclui os
preteridos, não apenas de morar no céu, mas também de viver
eternamente. Qualquer pessoa por quem Cristo não morreu
sofrerá a segunda morte.

“Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus


e os homens, Cristo Jesus, homem, o qual a si mesmo se deu em
resgate por todos: testemunho qpe se deve prestar em tempos
oportunos” (1Tm 2.5,6).

Quando Paulo disse que Jesus é Mediador entre Deus e


os homens, não especificou um pequeno grupo de homens.
Portanto, a mediação de Cristo é por todos eles, sem exceção.

16 A S e n tin e la , 15 d e j u n h o d e 1 9 8 0 , p. 2 6 p a r. 2 1 ; A S e n tin e la 15 d e a g o s to d e
1 9 8 9 , p. 3 1 , P e r g u n ta s d o s L eito res; A S e n tin e la , 15 d e d e z e m b ro d e 1 9 8 9 , p.
3 0 L e m b ra -s e ? ; A S e n tin e la , 15 d e fev ereiro d e 1 9 8 6 , p .1 5 , e d iç ã o n o rte -
a m e ric a n a ; A S e n tin e la , 15 d e fev ereiro d e 1 9 9 1 , p. 17, p a r. 8 , “F o s te s
c o m p ra d o s p o r u m p re ç o ”; A S e n tin e la , 01 d e ja n e iro d e 1 9 9 3 , p. 5, P ro d u z id a s
n o v a s c ria ç õ e s!; E s tu d o P e rs p ic a z d a s E s c r itu r a s , p. 7 8 9 , M e d iad o r.
270

“Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e


a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim,” (Jo 14.6).

Ninguém vai ao Pai, nem participa da verdade e da vida,


se não for por Jesus. Se a “grande multidão” de Testemunhas
de Jeová não tiver Jesus como Mediador dela, não obterá a
vida, nem a verdade, nem o Pai.

Veja agora o que acontece com quem não toma parte na


Santa Ceia, ou que não participa da expiação pelo sangue de
Cristo:

“Eu sou o pão da vida. Possos pais comeram o maná no


deserto e morreram. Este é o pão que desce do céu, para que
todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu
do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão cue
eu darei pela vida do mundo é a minha carne. Disputavam, pois,
os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a comer a
sua própria carne? Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em
verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos.
Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida
eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é
verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem
comer a minha carne e beber o meu sangue permanece em mim,
e eu, nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente
271

eu vivo pelo Pai, também quem de mim se alimenta por mim


viverá. Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante
àquele que os vossos pais comeram e, contudo, morreram; quem
comer este pão viverá eternamente” (Jo 6.48-58).

Desta feita, impedindo as Testemunhas de Jeová de


cearem, a Torre de Vigia tira delas o direito de viverem
eternamente. E, com a expiação limitada, somente uma
pequena minoria se torna participante do Novo Pacto. Mas a
Bíblia é vasta em conteúdos que asseguram perdição eterna
àqueles que não forem abrangidos pela Nova Aliança. Não é
possível a salvação para quem estiver fora desse pacto.

De acordo com a seita da Torre de Vigia, as


Testemunhas de Jeová atuais têm algumas características
peculiares:

1) Não ceiam a Santa Ceia.


2) Não participam da Nova Aliança 17.
3) Não morarão no céu.
4) Não receberam o Espírito Santo.
5) Não são completamente justificadas pela fé em Jesus.
6) Não são membros do corpo de Cristo.
7) Não nasceram de novo 18.

17 A S e n tin e la d e 0 1 d e fev ereiro d e 1 9 9 8 , p á g in a 19; E s tu d o P e rs p ic a z d a s


E s c r itu r a s , vol. 3, 1 9 8 8 , p á g in a 157.
272

8) Não participam da expiação pela morte de Cristo.


9) Não têm Jesus como Mediador 1
89.
10) Não são filhas de Deus, nem irmãs de Jesus. São ovelhas20.

Estas coisas são permitidas somente aos 144000, os


quais a Torre de Vigia entende que não são israelitas de
verdade, mas o Israel espiritual. Enganaram-se, pois o Israel
espiritual é formado por todos os eleitos, enquanto que os
144000 são compostos de israelitas de sangue. Não tentarei
provar isto aqui, para não fugir do tema.

Neste momento, o que importa é revelar, à luz da Bíblia,


o quanto as dez características acima fazem com que uma
pessoa não seja salva. Já vimos, resumidamente, que não há
salvação para aquele que não come a carne de Jesus, ou não
bebe Seu sangue (metaforicamente). Foi dito ainda que é
necessário fazer parte do Novo Pacto para ter o direito à vida
eterna. E, para ser um eleito de Deus e salvo, é necessário ser
lavado pelo sangue de Cristo, através do sacrifício expiatório
que Ele fez na cruz.

18 T ESTEM U N H A S D E JE O V Á - Q u e m S ã o ? E m Q u e C re e m ? , 2 0 0 0 , p á g in a 13.
19 S e g u r a n ç a M u n d ia l s o b o “P rín c ip e d a P a z ”, 1 9 8 6 , c a p . 1, p á g in a s 10 -1 1 ; A
S e n tin e la , 15 d e A gosto d e 1 9 8 9 , p á g in a 31.
20 A S e n tin e la d e 15 d e ja n e iro d e 2 0 0 8 , p á g in a s 2 2 , 2 3 .
273

Quanto a ter o Espírito Santo, a Bíblia fala que isto é


um atributo inerente a pessoas salvas. Quem não tem o
Espírito Santo não é eleito e será condenado. Do mesmo modo,
é requisito indispensável o nascer de novo:

“A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te


digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus. Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer,
sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e
nascer segunda vez? Respondeu Jesus: Em verdade, em
verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não
pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne;
e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te
dizer: im.porta.-vos nascer de novo” (Jo 3.3-7).

É imprescindível nascer de novo, nascer do Espírito. Do


contrário, não será possível entrar, nem ver o reino de Deus.

A salvação é somente para quem crê em Jesus. As


Testemunhas de Jeová sabem disto. Mas o que elas ignoram é
que, se alguém não crê em Jesus, não é nascido de Deus:

“Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de


Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao
que dele é nascido” (1Jo 5.1).
274

A expressão “todo aquele que crê” não abre exceções.


Não há meio termo: ou a pessoa é nascida de Deus, ou não é.
Ou crê e é salva, ou não crê e é condenada. O fato é que os que
creem são os que nasceram de Deus.

E, para ser salvo, é necessário ter o Espírito Santo,


porque aquele que faz as obras do Espírito de Deus é salvo,
enquanto que o que pratica as obras da carne será condenado:

“A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que


não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque
os qpe se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne;
mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito.
Porque o pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito,
para a vida e paz. Por isso, o pendor da carne é inimizade
contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo
pode estar. Portanto, os cue estão na carne não podem agradar
a Deus” (Rm 8.4-8).

O pendor da carne dá para a morte, mas o do Espírito,


para a vida. Observe que o pendor da carne é inimizade contra
Deus, e que quem está na carne não pode agradá-Lo.
Precisamos pender para o lado do Espírito, e não para o da
carne.

Continuando o texto:
275

“Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se, de


fato, o Espírito de Deus habita em vós. E, se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (v. 9).

Há duas informações importantes. A primeira é que os


crentes da igreja de Roma, para quem a carta foi direcionada,
não estavam na carne, mas no Espírito. Assim nós devemos
também estar. A segunda informação é que, se se alguém não
tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dEle. Como se pode ver,
não há meio termo. É necessário ter o Espírito Santo para ser
salvo.

Prosseguindo na leitura:

“Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a


Jesus dentre os mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo
Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal,
por meio do seu Espírito, que em vós habita [...] Porque, se
1iverd.es segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se,

pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente,


vivereis” (v. 11,13).

Só seremos ressuscitados para a vida se o Espírito de


Deus estiver em nós. Sem o Espírito, não há ressurreição. Com
o Espírito há vida, mas com a carne há morte. O Espírito é o
oposto da carne. Se você não está com o Espírito, está fazendo
os desejos da carne.
276

Continuando:

“Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são


filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão,
para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o
espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai. O
próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de
Deus” (v. 14-16).

Você é guiado pelo Espírito de Deus, ou pela carne? Só


pode ser uma das duas opções. O verso 14 explicou que quem
não é guiado pelo Espírito não é filho de Deus. Não somos
escravos do pecado, pois recebemos o Espírito de adoção, que
nos faz filhos de Deus. Sem isto, é impossível ser salvo, pois a
continuação do texto diz:

“Ora, se somos filhos, somos também herdeiros,


herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele
sofremos, também com ele seremos glorificados” (v. 17).

Somente os filhos herdarão de Deus. Os demais são


bastardos ou órfãos. Se alguém diz ser bastardo ou órfão
admite não ser herdeiro de Deus, nem salvo.

Para finalizar o capítulo 8 de Romanos:


277

“Na esperança de que a própria criação será redimida do


cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus” (v. 21).

A redenção da criação será para os filhos de Deus. Se


alguém não for filho de Deus, não será redimido do cativeiro da
corrupção.

“Não vos dexarei órfãos, voltarei para vós outros” (Jo


14.18).

Se Jesus prometeu, certamente cumprirá. Quem for


órfão não se beneficiará com a volta de Jesus.

“Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que


vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis
no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual
resplandeceis como luzeiros no mundo” (Fp 2.14,15).

Os filhos de Deus fazem tudo sem murmurações, nem


contendas. São irrepreensíveis, inculpáveis e funcionam como
luz para o mundo.

“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto


de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de
Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não
o conheceu a ele mesmo. Amados, agora, somos filhos de Deus,
278

e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos


que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo se purifica
todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1Jo
3.1-3).

Se você não é filho de Deus não se purifica e não tem a


esperança de ser semelhante a Cristo. João deu a certeza de
que a igreja a quem sua carta era endereçada se compunha de
filhos de Deus.


Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do
diabo: todo aquele que não pratica justiça não procede de Deus,
nem a.quele que não ama a seu irmão” (1Jo 3.10).

Ou alguém é filho de Deus, ou é filho do diabo. Os filhos


de Deus são os que praticam justiça e os que amam seu irmão.
De quem você é filho? Se responder que não é de Deus, estará
afirmando que não pratica a justiça, nem ama seu irmão. E
ainda: tem como não ser filho de Deus e, ao mesmo tempo, não
ser filho do diabo? De acordo com o versículo acima, não.

As Testemunhas de Jeová se chamam de irmãs


mutualmente, mas negam ter o mesmo pai, que é Deus. Que
contradição!
279

“Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em


Cristo Jesus” (Gl 3.26).

Você tem fé em Jesus? Se sim, é filho de Deus. Mas, se


não for filho, não tem fé em Cristo.

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de


serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu
nome...” (Jo 1.12).

Quem crê no nome de Jesus é filho de Deus. E sabe


quem são estes? São os que nasceram de novo:


... os quais não nasceram do sangue, nem da vontade
da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (v. 13).

O texto informa que quem crê em Jesus nasceu de novo


e é filho de Deus.

“Bem-aventurados os pacificadores, porque serão


chamados flh os de Deus” (Mt 5.9).

Se você não for filho de Deus, não é pacificador.

“Mas os que são havidos por dignos de alcançar a era


vindoura e a ressurreição dentre os mortos não casam, nem se
dão em casamento. Pois não podem mais morrer, porque são
280

iguais aos anjos e sao filhos de Deus, sendo filhos da


ressurreição” (Lc 20.35,36).

Os filhos de Deus são dignos de alcançar a era


vindoura. Os filhos de Deus alcançarão a ressurreição. Os
filhos de Deus não poderão mais morrer. Significa que quem
não é filho de Deus não ressuscitará, não alcançará a era
vindoura, mas sofrerá a segunda morte.

“Ora, ele não disse isto de si mesmo; mas, sendo sumo


sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer
pela nação e não somente pela nação, mas também para reunir
em um só corpo os filhos de Deus, que andam dispersos” (Jo
11.51,52).

Jesus morreu por Israel e também pelos gentios salvos


que andam dispersos pelo mundo. Fazendo isto, o corpo de
Cristo será unido como filhos de Deus.

A diferenciação entre os salvos, ficando um grupo para


morar no céu e outro para habitar na Terra, não existe na
Bíblia. E a seita Testemunhas de Jeová não pode sustentá-lo,
senão por acreditar cegamente nas palavras do Corpo
Governante.

E as características do suposto grupo terrestre o


desqualificam para ser salvo. Porque não há salvação sem
281

participar da Nova Aliança, sem a presença do Espírito Santo,


sem a justificação pela fé em Jesus, sem ser membro do corpo
de Cristo, sem ter Jesus como Mediador e sem ser filho de
Deus.
282
283

Os salvos habitarão nos céus

A Bíblia nos dá várias evidências de que viveremos aqui


na Terra, relatando fatos terrenos que se cumprirão após a
vinda de Cristo. Talvez seja isto o que confunde a mente de
muitos estudiosos. No entanto, sabemos que tais fatos são
referentes ao Milênio, e não à vida eterna. Jesus reinará
juntamente com seus santos servos sobre as nações ímpias por
mil anos.

Está escrito que a Nova Jerusalém descerá à Terra. Mas


aquele que não sabe que tal descida se cumprirá no Milênio
terá grande tendência em acreditar que a habitação da
humanidade será neste planeta para sempre.

E tudo isto baseado em absolutamente nada,


construindo uma teoria fundamentada num alicerce de vácuo.
Porque não há versículo nenhum na Bíblia que, pelo menos,
sugira que devemos acreditar que o capítulo 21 de Apocalipse
terá cumprimento só depois do capítulo 20.
284

Nós, porém, cremos que a Nova Jerusalém descerá à


Terra no início do Milênio, e não após ele. A Cidade Santa
descerá do céu temporariamente, para que seja possível reinar
sobre as nações vivas. Mas, quando o Senhor julgá-las e
condená-las, ela voltará a seu lugar de origem. Após o Milênio,
seremos certamente transportados para o terceiro céu, onde
viveremos para sempre. Embora a Bíblia não registre essa
ascensão, mostra que a Terra estará fora de cena ao terminar o
Milênio, no momento do Juízo Final:

“Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta,


de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar
para eles” (Ap 20.11).

A terra e o céu não terão lugar na presença de Deus no


tempo do Juízo Final, que ocorrerá muito depois do Milênio.

Ademais, qualquer estudante de astronomia sabe que


este planeta, assim como o universo, não é eterno. Ele
envelhecerá. É claro que Deus poderia intervir nesse desgaste
temporal, se quisesse. No entanto, ao que parece, Ele não quer:

“Levantai os olhos para os céus e olhai para a terra


embaixo, porque os céus desaparecerão como a fumaça, e a
terra envelhecerá como um vestido, e os seus moradores
285

morrerão como mosquitos, mas a minha salvaçao durará para


sempre, e a minha justiça não será anulada” (Is 51.6).

Com base neste versículo e no de Apocalipse, somos


levados a crer que este mundo não durará para sempre, pois
esta não é a vontade de Deus.

A informação de que a Nova Jerusalém voltará ao céu


está implícita nas referências que dizem que os salvos
habitarão no céu durante toda a eternidade:

“Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o


meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se
empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui” (Jo 18.36).

Embora Jesus reinará aqui por mil anos, Seu reino


principal não é daqui, mas do céu, durante toda a eternidade.
A palavra “daqui” expressa lugar, e não tempo.

Além disto, note que João não usou palavras de tempo,


e sim de lugar para descrever o mundo. No original, a palavra
mundo, dita por Jesus, não é aion, mas kosmos. Aion é uma
palavra de tempo, que significa século. Muitas vezes é
traduzida por “mundo” em português. E a palavra kosmos
286

significa literalmente “mundo, universo” . E foi esta a palavra


que Jesus usou na ocasião. Por isto, quando Jesus disse que
Seu reino não é daqui, referia-se a este mundo (planeta), e não
a este mundo (tempo presente).

Observe que nossa morada definitiva será no céu:

“E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por


sermos revestidos da nossa habitação celestial” (2Co 5.2). “E,
juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos
lugares celestiais em Cristo Jesus” (Ef 2.6). Ό Senhor me
livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o
seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos.
Amém!” (2Tm 4.18). “Ma.s, agora, aspiram a uma pátria
superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha
deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma
cidade” (Hb 11.16). “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde
também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp
3.20). “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus
vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à
universal assembleia” (Hb 12.22).

Como se pode ver, a Bíblia usa diversas formações de


palavras para descrever que nossa morada será no céu:
“habitação celestial, lugares celestiais, reino celestial, pátria
287

celestial, Jerusalém celestial”. E, além disso, temos também as


referências a “reino dos céus” :

“Nem todo o que me diz; Senhor, Senhor! entrará no reino


dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está
nos céus” (Mt 7.21). E também: Mt 3.2; 4.17; 5.3,10,19,20;
8.11; 10.7; 11.11,12; 13.11,24,31,33,44,45,47,52; 16.19;
18.1,3,4,23; 19.12,14,23; 20.1; 22.2; 23.13; 25.1; Jo 18.36.

Deste modo, fica esclarecido que o reino de Deus é


natural do céu, e é assim que permanecerá para sempre. Da
mesma forma, a própria a essência do ser humano é dividida
em duas etapas durante o ciclo de sua vida. O homem com
corpo carnal é terreno, enquanto que o homem com corpo de
glória é celestial:

“O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o


segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno,
tais são também os demais homens terrenos; e, como é o homem
celestial, tais também os celestiais” (1Co 15.47,48).

Quando, finalmente, obtivermos nosso corpo


incorruptível, estaremos aptos para habitar naturalmente no
céu, lugar que está destinado para nós desde antes da
fundação do mundo.
288

E assim, como nossa pátria será no céu, nosso galardão


também está lá. É no céu que desfrutaremos plenamente dele:

“Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso


galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que
viveram antes de vós” (Mt 5.12). “Vendei os vossos bens e dai
esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem,
tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a
traça consome” (Lc 12.33). “Ouvindo-o Jesus, disse-lhe: Uma
coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e
terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me” (Lc 18.22).
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se
desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por
mãos, eterna, nos céus” (2Co 5.1). “Por causa da esperança que
vos está reservada nos céus, da qual já, antes, ouvistes pela
palavra da verdade do evangelho” (Cl 1.5). “Porque também vos
compadecestes dos que estavam nas prisões, e com gozo
permitistes a espoliação dos vossos bens, sabendo que em vós
mesmos tendes nos céus uma possessão melhor e permanente”
(Hb 10.34). “Para uma herança incorruptível, sem mácula,
imarcescível, reservada nos céus para vós outros” (1Pe 1.4).

Além de todos os versículos acima, ainda há outros que


provam que nós habitaremos no céu após o Milênio: Mt 3.17;
5.16,45,48; 6.1,9,14,20,26,32; 7.11; 7.21; 10.32,33; 12.50;
289

15.13; 16.17,19; 18.10,14,18,19,35; 22.30; 23.9; 24.36; 28.2;


Mc 1.11; 10.21; 11.25,26; 12.25; 13.32; 16.19; Lc 2.13; 3.22;
6.23; 10.18,20; 11.13; 15.7; 22.43; Jo 1.32; 3.12,13,15,27,31;
6.31-58; 8.23; 19.11; 12.28; At 1.2,9,11; 2.2; 4.8; 7.42; 11.9;
26.19; 1Co 15.40,49; 2Co 12.2-4; Gl 1.8; Ef 1.3,20; 2.6; 6.9;
Fp 2.10; Cl 4.1; 1Ts 1.10; 4.16,17; 2Ts 1.7; Hb 1.3; 3.1; 6.4;
8.1,5; 9.23; 12.23,25; 1Pe 1.12; 2Pe 1.18; 1Jo 5.7; Ap 4.1,2;
5.13; 11.13,19; 13.6; 14.17; 16.11; 19.14.

Não se pode aceitar a ideia de que a Terra está


reservada para um grupo distinto, enquanto que o céu está
reservado para os outros salvos. Há, pelo menos, três razões
para isso:

Primeira razão

A Bíblia não diferencia um grupo de outro, no que se


refere ao lugar que herdarão para morada eterna. Se essa
diferença não está nas Escrituras, é considerada antibíblica e
infundada.

O grupo que as Testemunhas de Jeová creem que ficará


na Terra também faz parte da Igreja. Não há distinção. A
salvação para ele também é pela graça, mediante a fé. Os que
não crerem sofrerão a morte. E, de igual forma, os que crerem
290

terão o mesmo destino dos salvos: habitarão nos céus, na Nova


Jerusalém, formando o Israel espiritual.

Ora, a Igreja não pode ficar dividida, com uma parte no


céu e outra na Terra. Cristo não ficará com apenas uma parte
de Sua esposa. Ambos os grupos habitarão nos céus
juntamente com os outros.

Segunda razão

A Nova Jerusalém conterá todos os convertidos. Ela


será habitada por todos os salvos:

“Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que


descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada
para o seu esposo [...] Nela, nunca jamais penetrará cousa
alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira,
mas somente os inscritos no livro da vida do Cordeiro” (Ap
21.2,27).

Todo aquele que estiver como o nome inscrito no Livro


da Vida terá parte na Nova Jerusalém. É uma exigência do
texto acima. Se dissermos que um grupo ou outro morará na
Cidade Santa, estaremos afirmando que apenas um deles tem
291

o nome no Livro da Vida. E é impossível haver salvação fora do


livro.

E, se lermos novamente o versículo, veremos que aquele


que não estiver na Nova Jerusalém é porque está contaminado,
ou pratica abominação e mentira. Portanto, só há dois
destinos: a Nova Jerusalém, ou o Lago de Fogo.

Terceira razão

As profecias de vida terrena falam da Nova Jerusalém


durante o Milênio. Portanto, não estão tratando da eternidade,
como pensam alguns, e sim do Milênio.

É relevante ainda frisarmos que tais profecias falam de


nações do mundo inteiro, as quais só permanecerão na Terra
até o término do Milênio. Se a Terra fosse mesmo nossa eterna
habitação, quem seriam essas nações ímpias que estão nesses
textos? Abaixo se observa que a Nova Terra não pode ser a
morada eterna, pois, no tempo em que for constituída, haverá
nações ímpias em toda parte do planeta:

“Porque conheço as suas obras e os seus pensamentos e


venho para ajuntar todas as nações e línguas; elas virão e
contemplarão a minha glória. Porei entre elas um sinal e alguns
292

dos que foram salvos enviarei às nações, a Társis, Pul e Lude,


que atiram com o arco, a Tubal e Javã, até às terras do mar
mais remota.s, que jamais ouviram falar de mim,, nem viram a
minha glória; eles anunciarão entre as nações a minha glória.
Trarão todos os vossos irmãos, dentre todas as nações, por
oferta ao Senhor, sobre cavalos, em liteiras e sobre mulas e
dromedários, ao meu santo monte, a Jerusalém, diz o SENHOR,
como quando os filhos de Israel trazem as suas ofertas de
manjares, em vasos puros à Casa do Senhor. Também deles
tomarei a alguns para sacerdotes e para levitas, diz o Senhor.
Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer,
estarão diante de mim, diz o Senhor, assim há de estar a vossa
posteridade e o vosso nome. E será que, de uma Festa da Lua
Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar
perante mim, diz o Senhor” (Is 66.18-23).

E ainda há inúmeras outras referências que mostram a


presença das nações ímpias convivendo com os santos, e
levando sua glória à Nova Jerusalém. Não as transcreverei aqui
porque são muitas. Mas o certo é que as promessas de Novo
Céu e Nova Terra não podem tratar da eternidade, mas do
Milênio, pois na eternidade as nações estarão no Lago de Fogo,
e não no globo terrestre. E aquelas belas ilustrações dos livros
e folhetos das Testemunhas de Jeová, que mostram o paraíso,
293

com leões perto de ovelhas e de crianças, terão cumprimento


no Milênio apenas.

Por estas razões é conveniente crermos que não existem


dois grupos, e que todos morarão no céu, durante a eternidade.
A distinção entre os lugares de habitação encontraria muitas
controvérsias e problemas de adaptação às exigências bíblicas.
294
295

Os salvos do Velho Testamento também


morarão no céu

A Torre de Vigia ensina que Abraão, Isaque, Jacó, os


profetas e todos os salvos do Velho Testamento também
morarão na Terra.

Mas não existem textos bíblicos que possam ter dito isto
ao Corpo Governante. Decretar tal fato foi uma atitude
independente dele, sem relação com a Bíblia.

O que se pode encontrar nas páginas das Escrituras é


exatamente o contrário. Abraão, Isaque e Jacó estarão para
sempre no reino celestial:

“Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e


tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos
céus. Ao passo que os filhos do reino serão lançados para for-a,
nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 8.11,12). E
também: Lc 13.28; 16.22.
296

Abraão, Isaque e Jacó estarão no céu, no momento em


que os ímpios serão lançados nas trevas, onde há choro e
ranger de dentes. Sabemos que choro e ranger de dentes
acontece unicamente no Lago de Fogo, lugar que só será
habitado após o Milênio, com exceção da besta e do falso
profeta. Isto significa que o tempo em que Abraão estará no céu
não é apenas hoje, mas também na eternidade, quando as
nações forem lançadas no Lago de Fogo. E quem não estiver
com ele no reino dos céus será lançado para fora nas trevas.
Não há outra opção.

Outro sinal de que os israelitas habitarão na Nova


Jerusalém é o fato da cidade ter doze portas, que representam
as doze tribos:

“Tinha grande e alta muralha, doze portas, e, junto às


portas, doze anjos, e, sobre elas, nomes inscritos, que são os
nomes das doze tribos dos filhos de Israel” (Ap 21.12).

No Velho Testamento, os salvos faziam parte das doze


tribos de Israel, enquanto que no Novo Testamento a igreja
apostólica é formada por judeus e gentios.

Portanto, não faria sentido a Jerusalém Celestial ter


todas as doze portas com os nomes das tribos israelitas, se os
297

salvos de Israel estiverem na Terra, a anos-luz de distância. É


claro que os israelitas também estarão na cidade que tem
homenagens aos nomes deles.

O capítulo 11 do livro de Hebreus fala dos heróis da fé


do Velho Testamento: os antigos (v. 2), Abel (v. 4), Enoque (v.
5), Noé (v. 7), Abraão (v. 8), Isaque e Jacó (v. 9), Sara (v. 11) e
outros.

Acerca de Abraão e de seus descendentes, o texto


prossegue dizendo:

“Porque os que falam desse modo manifestam estar


procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem
daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Ma.s,
agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso,
Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus,
porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11.13-16).

O objetivo dos patriarcas era a pátria celestial. Observe


no texto que, enquanto a Torre de Vigia que eles fiquem aqui
na Terra, Deus lhes preparou uma cidade. Que cidade seria
esta? É claro que se trata da Jerusalém Celestial.

E ainda:
298

“Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra


alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com
ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem
fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (v. 9,10).

A cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o


arquiteto e edificador, é a Nova Jerusalém, que está no céu,
descerá durante o Milênio e depois retornará ao céu.

Conclui-se que são várias as evidências bíblicas que


provam que os salvos do Velho Testamento também morarão
no céu, junto com os outros salvos.
299

DISSOCIAÇÃO E DESASSOCIAÇÃO

Em 1952, a religião Testemunhas de Jeová oficializou o


direito de excomungar seus membros. Assim, aqueles que não
estiverem de acordo com os dogmas da Organização, puderam
e podem até hoje ser expulsos da igreja.

Desassociação é o ato da igreja excluir alguém de seu


rol de membros. Dissociação é o abandono voluntário do
indivíduo. Na prática, ambos os conceitos acabam se
misturando, tornando-se a mesma coisa. Alguém que quer se
dissociar basta viver normalmente, sem cumprir os
mandamentos da seita. A partir do momento em que infringe a
primeira regra, ou começa a faltar às reuniões, a própria igreja
o considera dissociado. Se, por exemplo, o indivíduo aceita
transfusão de sangue, é como se ele já estivesse apostatado,
considerando a si mesmo excluído. Porque, se não tiver a
disposição para cumprir as leis da igreja, está demonstrando
que não quer fazer parte da mesma.

O tema deste capítulo não diz respeito ao direito de


expulsar alguém da igreja. Antes se concentra na maneira que
é feita essa exclusão. A forma que as Testemunhas tratam os
300

desassociados e dissociados é cruel e, acima de tudo,


antibíblica. Os membros da igreja não podem dirigir a palavra,
nem ao menos cumprimentar os que saíram. São chamados de
apóstatas. Ninguém pode sequer orar por eles, o que difere
grandemente do ensinamento de Jesus de orarmos até pelos
nossos inimigos.

“Isso talvez resulte numa provação para os cristãos


quando o cônjuge, o filho, o pai, a mãe, ou outro parente próximo
é desassociado ou se dissocia da congregação. ...Esses
princípios aplicam-se tanto para os que foram desassociados
como para os que se dissociaram. ...Assim, evitamos também o
convívio social com quem foi expulso. Isso significa que não
vamos com ele a piqueniques, festas, jogos, compras, ao cinema,
nem tomamos refeições com ele, quer em casa quer num
restaurante” (Nosso Ministério do Reino, 8 de Agosto, 2002,
págs. 3, 4).

“E todos sabemos de experiência no decorrer dos anos


que um simples “Oi” dito a alguém pode ser o primeiro passo
para uma conversa ou mesmo para amizade. Queremos dar este
primeiro passo com alguém desassociado?” (A Sentinela, 15 de
Dezembro, 1981, pág. 21).

“Portanto, João pode ter usado deliberadamente khaí-ro


em 2 João 10, 11 em vez de a-spá-zo-mai ( versículo 13). Se
301

assim for, João não estava exortando os cristãos daquele tempo


a evitar meramente saudar calorosamente (com abraço, beijo e
conversa) uma pessoa que ensinasse falsidades ou que
renunciasse à congregação (apostatasse). Em vez disso, João
disse que não deviam nem mesmo cumprimentar tal pessoa com
khaí-ro, um comum “bom dia”. A seriedade deste conselho
evidencia-se nas palavras de João: “Quem o cum.prim.enta é
partícipe das suas obras iníquas.” Nenhum cristão verdadeiro
desejaria que Deus o encarasse como partícipe de obras iníquas
por associar-se com um transgressor que foi expulso ou com
alguém que rejeitou a congregação Dele” (A Sentinela de 15 de
julho de 1985, página 32).

“Os pais dela haviam sido desassociados. Ela não o foi,


mas dissociou-se voluntariamente por escrever à congregação
uma carta retirando-se dela. ...Ela se mudou, mas anos depois
voltou e verificou que as Testemunhas locais não conversavam
com ela. ...Tal rejeição é apropriada também para com todo
aquele que repudia a congregação. . Pense também em como se
sentiam os irmãos, as irmãs ou os a.vós do transgressor.
Todavia, colocarem a lealdade ao seu justo Deus à frente da
afeição familiar podia salvar-lhes a vida. ...Assim, um homem
que é desassociado ou que se dissociou ainda pode morar com a
sua esposa cristã e seus filhos fiéis. O respeito pelos
julgamentos de Deus e pela ação da congregação induzirá a
esposa e os filhos a reconhecerem que ele, pelo seu proceder,
302

alterou o vínculo espiritual que existia entre eles. Todavia, visto


que a desassociação dele não rompe seus vínculos
consanguíneos ou seu relacionamento marital, os tratos e as
afeições familiares normais podem continuar. A situação é
diferente quando o desassociado ou dissociado é um parente
que vive fora do círculo familiar imediato ou no mesmo lar.
Poderá ser possível ter quase nenhum contato com tal parente.
Mesmo que houvesse alguns assuntos familiares que exigissem
contato, este certamente ficaria reduzido ao mínimo, em
harmonia com o princípio divino: “!Cessai] de ter convivência
...nem sequer comendo com tal homem”” (A Sentinela, 15 de
Abril, 1988, págs. 26-28).

“No caso em que um pai ou mãe, filho ou filha é


desassociado, como deve ser tratada tal pessoa pelos membros
da família no seu vínculo familiar? ..A lei de Deus não permite
ao parceiro casado mandar embora seu cônjuge devido a ele ter
sido desassociado ou apostatar. ...Um pai pode não mandar
embora de sua casa seu filho menor porque ele apostatou ou foi
desassociado, e uma criança menor ou crianças não podem
abandonar seu pai e sua mãe apenas porque se tornam infiéis a
Deus e à sua organiza.ção teocrática. ...É claro, se o filho for
maior de idade, então poderá ocorrer separação e rompimento e
laços familiares em sentido físico, porque os laços espirituais já
foram desfeitos. Se os filhos forem maiores de idade e
continuarem a associar-se com um parente desassociado.
303

Então elas devem considerar até que ponto os seus interesses


espirituais estarão em perigo por continuarem debaixo deste
arranjo desigual... A influência de Satanás, através do membro
da família desassociado irá fazer com que o outro membro ou
membros da família que estão na verdade se juntem a ele na
sua posição contra a organização de Deus. Fazer isto seria
desastroso, e por isso o membro fiel da família deve reconhecer
e aderir à ordem de desassociação” (A Sentinela, 15 de
Novembro, 1952, págs. 703, 704).

“É realmente necessário evitar todo e qualquer contato


com a pessoa? Sim,... Membros leais de uma família cristã não
procuram desculpas para ter tratos com um parente
desassociado que não more na mesma casa” (Mantenha-se no
amor de Deus, 2008, página 207).


Não procure desculpas para se associar com um
membro da família desassociado, como, por exemplo, trocando
e-mails” (A Sentinela de 15 de janeiro de 2013, página 16).

Imagine as consequências devastadoras que isto causa


em uma família, onde um membro abandona a seita. Como
conviver dentro da mesma casa sem se comunicar? Pais
rejeitando filhos, filhos rejeitando pais. Dois cônjuges estariam
separados dentro do lar. Unidos pelo casamento e, ao mesmo
tempo, divorciados pela proibição de se comunicarem e de
304

fazerem suas refeições à mesma mesa. Amigos importantes,


bem como primos, cunhados, irmãos ficam proibidos de dirigir
a palavra aos desassociados ou dissociados. Avôs ficam
proibidos de verem seus netos, pois seus filhos não podem
mais visitá-los. Desta forma, até mesmo a geração seguinte,
que não praticou o ato da dissociação, é penalizada. Os netos
crescem sendo excluídos da família. Casam-se, e passam toda
a vida como se fossem estranhos. Os pais não ficam sequer
sabendo do nascimento de netos. Os filhos deixam de atender
ao telefone ou aos e-mails, deixam de dar notícias, deixam de
procurar ajuda dos pais, mesmo em casos de grande
necessidade, deixam de convidar membros da família para
eventos importantes, como casamento, formatura. Pessoas
passam a se considerar estranhos e intrusos dentro da própria
casa.

“Uma refeição é uma ocasião de descontração e contato


social. Portanto, a Bíblia exclui aqui também a associação social,
tal como participar com o expulso num piquenique ou em festa,
jogo de bola, ida à praia ou ao cinema, ou tomar uma refeição
com ele” (A Sentinela de 15 de dezembro de 1981, página 20).

Se uma Testemunha de Jeová for flagrada à mesma


mesa com um desassociado, será também desassociada. E, por
“flagrada” quero dizer flagrada pelos próprios familiares, visto
que todas as Testemunhas de Jeová são espiãs de si mesmas.
305

Qualquer uma que vir algo que julga ser errado dedurará aos
anciãos.

Em 1985, um casal do Maine, que deixara a vida hippie


para tornar-se Testemunha de Jeová, escreveu sobre terem
sido atraídos para a Organização por causa da aparente
cordialidade e flexibilidade. Mas uma carta relata:

“Ela começou a chorar logo no início da conversa. Ela ia


de carro para o trabalho todas as manhãs com o filho
desassociado, e com todo o “novo entendimento” [a norma mais
dura da Sociedade, de 1981, para com pessoas desassociadas]
ela estava com terríveis problemas no relacionamento com ele.
Outro filho dela era ancião da nossa congregação e seguia a
linha dura, e um outro estava morrendo de câncer. A ideia de
rejeitar o filho desassociado era maior do ctue ela podia
suportar. Meu marido [Kim] comentou depois que se uma
organização estivesse realmente ensinando o amor que Cristo
nos ensinou a ter, uma ocasião como aquela jamais teria
surgido, por que nesta não havia compaixão. ”

Este é apenas um dos milhões de exemplos de que o


tratamento conferido a um ex-membro é desumano e
totalmente contra a lei do amor e da compaixão. É feito um
“apedrejamento” figurativo do condenado, tratando-o como a
um morto. É muito doloroso uma mãe ser obrigada a rejeitar
306

seu filho, tratando-o como um estranho desconhecido.


Também é um sofrimento indizível um filho ter que rejeitar a
própria mãe.

Até os patrões que são Testemunhas de Jeová devem


demitir aqueles que deixaram a Organização. O ostracismo é
completo em todas as áreas da vida. Um estudante não
conseguirá ter seus amigos presentes na sua formatura. Um
casal de noivos não verá seus familiares e amigos na cerimônia
do casamento. Sua vida está, definitivamente, desligada da
família e amigos, tanto na esfera pessoal, quanto profissional e
religiosa.

E aqueles que saem da igreja não podem sequer


escrever cartas ou e-mails para tentar expor seu ponto de vista
e procurar justificar-se. Porque os membros da seita são
proibidos de abrir correspondências de ex-membros, bem como
ler e-mails ou qualquer outra forma de comunicação.

O ex-membro, na maioria das vezes, saiu da Sociedade


por motivo de ter descoberto verdades bíblicas não praticadas
pela seita. Mas ele não tem como alertar sua família, para lhe
abrir os olhos acerca dos erros doutrinários, visto que todos os
seus familiares não lhe podem dar ouvidos, nem falar com ele.

Lembremo-nos também de que não é preciso alguém


cometer pecado, para ser desassociado. Ainda que tal pessoa
307

tenha uma vida digna e santa, se infringir as leis das


Testemunhas de Jeová será desassociada e sofrerá e desprezo.

Um membro pode ser expulso se cometer qualquer


destes atos:

1) Fazer transfusão de sangue.


2) Fumar.
3) Jogar.
4) Apostar.
5) Votar ou apoiar partido político.
6) Servir às Forças Armadas.
7) Namorar com alguém que não for Testemunha de Jeová.
8) Não cortar relações com os excomungados21.
9) Ler qualquer literatura que seja contra a religião das
Testemunhas de Jeová.
10) Discordar de qualquer doutrina ou atitude da Torre de
Vigia.

Há uma confissão de fé das principais doutrinas da


Torre de Vigia. Se um membro decide não crer em um único
ponto destes dogmas, também está sujeito a desassociação.
Mesmo que o tal seja crente em Deus e em Jesus, seja homem

21 Livro se c re to : P a s to re ie m o R e b a n h o d e D e u s , e d iç ã o d e 2 0 1 0 , p á g in a 116.
308

reto de boas obras, mas cometer qualquer destas infrações, ou


se não crer em tudo o que prega a Torre de Vigia, será expulso.

Não é assim que a Bíblia autoriza expulsar um irmão da


igreja. As regras bíblicas para este caso são muito diferentes
das que acabamos de ler. Isto dá a entender que a Torre de
Vigia é tão importante, ou mais do que a Bíblia, tendo em vista
que a infração de seus costumes, ainda que não por meio de
pecado, seja motivo para a excomunhão.

Algumas das Testemunhas de Jeová não concordam


com estas regras, mas não podem contradizê-las, nem deixar
de cumpri-las. Porque os que o fazem são chamados de fracos
espiritualmente e de desleais a Jeová. Quem for pego falando
com desassociados, também está sujeito a ser desassociado.
Então, por medo de serem rechaçadas, unem-se aos mais
fortes, oprimindo os mais fracos.

O resultado disto é que os membros da seita se sentem


presos a ela. Não podem sair, a menos que estejam preparados
para enfrentar a exclusão social, a perca da família e o total
desprezo durante décadas infindáveis.

Essa punição, dizem as Testemunhas de Jeová, é um


ato de “amor”. O objetivo disto seria incentivar a pessoa a
voltar para a Organização, além de servir para moralizar os
costumes da igreja. No entanto, é inconcebível que tal gesto
309

possa ser, ao menos, comparado ao amor. O amor une as


pessoas, e não o inverso. Jesus não mandou desprezar os
pecadores, mas amá-los.

O ostracismo é, em última análise, uma declaração de


inimizade, onde as Testemunhas de Jeová se veem no direito
de repudiar uma pessoa quando sai. As publicações das
Testemunhas de Jeová, como se não bastasse excluir os ex-
membros, incentiva a odiá-los. Sim, a palavra utilizada é
realmente “ódio”. É o que eles chamam de “ódio piedoso”, um
ódio que não deseja o mal, mas que procura proteger as
Testemunhas de Jeová contra as transgressões. Dizem eles que
os ex-membros odeiam Jeová. Portanto, devem também ser
odiados. Não sei como podem dizer que fazem isto por amor.
Odeiam por amor?

“Mais do que isso, queremos odiar aqueles que


voluntariamente se mostram odiadores de Jeová e odiadores do
que é bom,. ...Nós os odiamos, não no sentido de querer
prejudicá-los ou de desejar-lhes o mal, mas, no sentido de evitá-
los assim como evitaríamos veneno ou uma cobra venenosa,
porque eles podem envenenar-nos, em sentido espiritual” (A
Sentinela, 15 de Dezembro, 1980, pág. 8).

“Eles não podem aguentar ter mesmo o seu próprio filho


falando falsidades em nome de Jeová. Eles têm de o trespassar
310

devido ao seu falso profetizar. Eles têm de considerá-lo como


espiritualmente morto para si mesmos, como alguém com quem
não se deve ter qualquer associação religiosa e convivência e
cujas profecias devem ser rejeitadas” (The Watchtower, 1.° de
outubro de 1961, p. 596).

“Odiadores de Deus e do seu povo devem ser odiados,


mas isto não significa que aproveitaremos qualquer
oportunidade para provocar dano fisico a eles num espírito de
malícia ou rancor, pois tanto a malícia como o rancor pertencem
ao Diabo, ao passo que o ódio puro não pertence. Temos de
odiar no sentido mais verdadeiro, que é encarar com extrema e
ativa aversão, considerar como uma abominação, odioso,
nojento, detestar. Seguramente quaisquer odiadores de Deus
não merecem viver nesta bela terra” (The Watchtower, 1.° de
outubro de 1952, p. 599).


O ódio piedoso é uma proteção poderosa contra a
transgressão... Estamos fazendo isso? ... Os apóstatas estão
incluídos entre os que mostram seu ódio por Jeová por se
revoltarem contra ele. A apostasia é, na realidade, uma rebelião
contra Jeová. ...Outros afirmam crer na Bíblia, mas rejeitam a
organização de Jeová e tentam ativamente obstaculizar a sua
obra. ...o cristão precisa odiar (no sentido bíblico da pala.vra.) os
que se agarraram inseparavelmente à maldade” (A Sentinela, 1
de Outubro, 1993, pág. 19).
311

Firmaram sua base nos versículos:

“Não aborreço eu, SENHOR, os que te aborrecem? E não


abomino os que contra ti se levantam,? Aborreço-os com ódio
consumado; para mim são inimigos de fato” (Sl 139.21,22 RA).

Os mesmos foram publicados na versão Tradução do


Novo Mundo das Escrituras Sagradas, pela revista A Sentinela,
de 1° de outubro de 1993, página 19:

“Acaso não odeio os que te odeiam intensamente, ó


Jeová, e não tenho aversão aos que se revoltam contra ti?
Odeio-os com ódio consumado. Tornaram-se para mim
verd.a,deiros inim igos” (Sl 139.21,22 TNM).

As palavras “aborrecer” e “odiar” possuem o mesmo


original hebraico. Mas tal palavra não pode ser traduzida
meramente como ódio, pois o ódio que conhecemos no idioma
português tem relação direta com o desejar o mal aos odiados.
Na Bíblia, as palavras “amor” e “ódio” têm os significados
respectivos de aceitação e rejeição.

As passagens bíblicas que dizem acerca do ódio de Deus


não devem ser entendidas literalmente sem ressalvas. São
textos que trazem um significado mais profundo,
demonstrando a preferência de Deus pelo justo do que pelo
injusto. O ódio é uma figura da ação de Deus deixar de
312

abençoar e, ao mesmo tempo, punir com Sua ira o pecador.


Neste caso, amar e odiar significam aceitar e rejeitar. É uma
forma figurada de Deus dizer que gosta ou não de certas
práticas humanas. Quando a Bíblia diz que Deus odeia, é
apena uma forma simbólica de dizer que Ele prefere certos
homens em relação a outros. É uma maneira metafórica de
demonstrar do que Ele gosta e do que Ele não gosta, para que
saibamos como proceder em nossas atitudes.

Mas não nos aprofundaremos teologicamente neste


assunto, pois é muito vasto. Para o momento, basta sabermos
que os versículos apresentados pela Torre de Vigia pertencem
ao Velho Testamento, à Antiga Aliança, ao tempo em que os
homem amavam somente os amigos e odiavam os inimigos.

No Novo Testamento, porém, Jesus mudou essa regra:

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o


teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai
pelos que vos perseguem;” (Mt 5.43,44).

Este é o novo mandamento, reformulado por Jesus. É


este que vigora até os dias de hoje, regendo nossa conduta.
Ainda que alguém nos odeie, devemos amá-lo. Mesmo que
alguém odeie Deus, devemos amá-lo, assim como Deus
também o ama.
313

“Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor


procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e
conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois
Deus é amor [...] E nós conhecemos e cremos no amor que Deus
tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor
permanece em Deus, e Deus, nele” (1Jo 4.7,8,16).

Quem permanece no amor permanece em Deus.


Consequentemente, não permanecer no amor significa apartar-
se de Deus. Porque aquele que não ama “não conhece Deus”, e
somente o que ama é “nascido de Deus”.

O amor é um requisito do verdadeiro cristão. Ninguém


pode ser considerado salvo ou membro da igreja de Cristo, se
não praticar o amor. E o ódio, por sua vez, é uma prova de que
o tal não é de Deus. Deus é amor. Se quisermos ter alguma
comunhão com ele devemos amar, e nunca odiar.

“Todavia, não o considereis por inimigo, mas adverti-o


como irmão” (2Ts 2.15). “Acolhei ao que é débil na fé, não,
porém, para discutir opiniões” (Rm 14.1).

Os que saem não devem ser odiados, nem tratados


como inimigos. A melhor atitude da parte daqueles que não
caíram é a instrução com amor, as tentativas incessantes de
fazê-los voltar para a igreja.
314


Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade,
e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador
do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá
multidão de pecados” (Tg 5.19,20).

Quando alguém se desvia da verdade, a obrigação da


igreja é tentar convertê-lo, orar por ele, ensinar-lhe o caminho
correto e tentar trazê-lo de volta. Mas quando a igreja se afasta
e corta a comunicação, fica impossível resgatar o pecador.

A Bíblia, realmente, tem alguns versículos que nos


ensinam evitar aqueles que são contra a doutrina de Cristo. No
entanto, as Testemunhas de Jeová exageraram na
interpretação deles e fizeram sua execução ao extremo,
causando graves efeitos colaterais.

Comecemos analisando uma série de versículos mal


lidos e mal compreendidos:


Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos
pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja
anátema. Assim,, como já dissemos, e agora repito, se alguém
vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja
anátema” (Gl 1.8,9). —
Se alguém não ama o Senhor, seja
anátema. Maranata!” (1Co 16.22).

Se alguma pessoa não ama o Senhor, seja anátema. Ser


anátema significa, aproximadamente, “ser amaldiçoado”. O que
315

isto quer dizer? Que nós devemos amaldiçoá-la? A Bíblia não


diz isso. Em nenhuma parte está escrito que somos nós os
incumbidos de amaldiçoar quem não ama o Senhor.

Sabemos que todo aquele que se aparta da sã doutrina


deve ser punido e lançado no Lado de Fogo. Mas cabe a nós
fazermos isto? “A mim pertence a vingança”, diz o Senhor. Ele
pode punir, vingar, lançar no Lago de Fogo. Mas nós devemos
amar e tratar bem. Isto sim é bíblico.

“Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira


e segunda vez, pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive
pecando, epor si mesma está condenada” (Tt 3.10,11).

A palavra “evitar”, no original grego, não tem o sentido


de excluir. Além disto, os versículos autorizam evitar, não os
que saíram da igreja, mas aqueles que são facciosos. É de vital
importância ler minunciosamente, para perceber a diferença. O
que Paulo queria que Tito evitasse eram as discussões e
contendas, como se lê no versículo 9.

Vejamos agora Romanos 16.17:

“Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam


divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que
aprendestes; afastai-vos deles” (Rm 16.17).
316

Temos um mandamento para nos afastarmos. Mas nos


afastarmos de quem? Dos que saíram da igreja? Não. Devemos
nos afastar dos que provocam divisões e escândalos. É preciso
interpretar o texto com justiça.

“Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus


Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande
desordenadamente e não segundo a tradição que de nós
recebestes [...] Caso alguém não preste obediência à nossa
palavra dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com
ele, para que fique envergonhado. Todavia, não o considereis
por inimigo, mas a.dverti-o como irmão” (2Ts 3.6,14,15).

Desta vez, temos a ordem expressa de Paulo para os


Tessalonicenses se apartarem e não se associarem. E a
pergunta que deve ser feita é a mesma: “apartar-se de quem?”.
Será que o apóstolo se referia a ex-membros? Porventura, pelo
menos, passou pela cabeça de Paulo aludir aos que se
desviaram e deixaram a igreja? Não!

Paulo se referia a pessoas de dentro. Note que tais


indivíduos foram chamados de irmãos nos versos 6 e 15. E
veja o que está expresso no verso 11:

“Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há


pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando antes,
se intrometem na vida alheia”.
317

As pessoas que devem ser evitadas estão entre os


irmãos da igreja. São os de dentro, e não os de fora. Não são
excomungados, como pensam as Testemunhas de Jeová. São
pessoas que não trabalhavam, mas usufruiam do trabalho
alheio. Era contra isto que Paulo lutava. Observe o restante do
contexto:

“Nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo


contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a
fim de não sermos pesados a nenhum de vós [...] Porque,
quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer
trabalhar, também não coma. Pois, de fato, estamos informados
de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente,
não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia. A elas,
porém, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que,
trabalhando tranquilamente, comam o seu próprio pão. E vós,
irmãos, não vos canseis de fazer o bem,” (v. 8,10-13).

Paulo, de maneira nenhuma, estava falando sobre as


pessoas que saíram da igreja. Era contra os que não
trabalhavam que ele pregava.

Veja o versículo 13, acima. O apóstolo teve que dar este


incentivo aos irmãos, pois os mesmos, cansados de sustentar
os preguiçosos que não trabalhavam, já estavam prestes a
abandonar a obra da caridade. Mas Paulo disse para eles
continuarem com seus donativos aos necessitados ( “não vos
318

canseis de fazer o bem”), mas que evitassem os que não


trabalhavam. É tudo uma questão de saber interpretar.

E, para que não reste nenhuma dúvida, releiamos os


versículos 14 e 15 sob outra perspectiva:


Caso alguém não preste obediência à nossa palavra
dada por esta epístola, notai-o; nem vos associeis com ele, para
que fique envergonhado. Todavia, não o considereis p o r
inim igo, mas adverti-o como irm ã o” (2Ts 3.14,15).

Será que essa parte em negrito passou desapercebida


pelas Testemunhas de Jeová? Está no mesmo texto que elas
usam para justificar o ódio aos que odeiam Jeová. E a clareza
da mensagem de Paulo é indiscutível. É a palavra dele contra a
palavra do Corpo Governante. Decidam qual tem maior peso.

É importante também analisarmos os versículos


seguintes, os quais são usados pelas Testemunhas de Jeová
para apoiar o desprezo aos que apostatam:


Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os
impuros [...] Mas, agora, vos escrevo que não vos associeis com
alguém que, dizendo-se irmão, fo r impuro, ou avarento, ou
idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal,
nem ainda comais” (1Co 5.9,11).
319

Paulo sempre tem dado advertências para a igreja se


apartar, evitar, não se associar. Todavia, devemos procurar
saber de quem devemos nos apartar. Isto não dá a liberdade
para cortarmos a comunicação e o relacionamento com aqueles
que saíram da igreja. Não é contra estes que o apóstolo
escrevia.

Observe o contexto:

“Já em carta vos escrevi que não vos associásseis com os


impuros; refiro-me, com isto, não propriamente aos impuros
deste mundo, ou aos avarentos, ou roubadores, ou idólatras;
pois, neste caso, teríeis de sair do mundo. Mas, agora, vos
escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se
irmão, for impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou
beberrão, ou roubador; com esse tal, nem ainda comais. Pois
com que direito havería eu de julgar os de fora? Não julgais vós
os de dentro? Os de fora, porém,, Deus os julgará. Expulsai, pois,
de entre vós o malfeitor” (v. 9-13).

Se tivéssemos que nos afastar de todos os impuros,


teríamos que sair deste planeta, como diz o versículo 9. Não
era contra todos os impuros que Paulo falava, mas somente
contra aqueles que se diziam irmãos. Estavam dentro da igreja,
mas eram impuros.
320

E Paulo ainda reforçou dizendo que só podemos julgar


os de dentro da igreja, pois ele mesmo não julgava os de fora.
Esta advertência não abrange os que estavam fora, no mundo
pecaminoso, mas apenas os de dentro da igreja, que se
disfarçavam de irmãos.

É por isto que as Testemunhas de Jeová não podem


usar este texto para tentar apoiar o ostracismo que praticam
contra os que saíram, mas contra os de dentro.

Observe, no versículo 13, que Paulo até autorizou


expulsar um irmão de dentro da igreja. Expulsar pode, mas
cortar relações após a expulsão é extrabíblico.

Outra coisa que não deve ser ignorada é que as razões


da rejeição devem ter como base o pecado contra Deus, e não
infrações a regras humanas criadas pelo Corpo Governante.
Paulo permitiu a rejeição àqueles “que, dizendo-se irmão, for
impuro, ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão,
ou roubador”. É contra este tipo de gente que o apóstolo falava,
e não contra aqueles que não seguiam à risca as doutrinas
extrabíblicas criadas pela Torre de Vigia.

Jesus contou uma história acerca disto, a qual foi


objeto de vários equívocos:

“Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer
paz, mas espada. Pois vim causar divisão entre o homem e seu
321

pai; entre a filha e sua mae e entre a nora e sua sogra. Assim,
os inimigos do homem serão os da sua própria casa” (Mt 10.34­
36).

As Testemunhas de Jeová, lendo este texto, sentem-se à


vontade para rejeitar seus amigos e familiares após terem eles
sido expulsos da Organização. Porque foi o próprio Jesus que
trouxe a espada, ao invés da paz. Então, se é de Jesus, está
aprovado.

Entretanto, há uma coisa muito importante, que a Torre


de Vigia esqueceu de observar: Jesus, apesar de ter trazido a
guerra para dentro dos lares, não disse que estão aprovados os
que a praticam, mas sim as vítimas dela. Esta conclusão está
somente na cabeça da Torre de Vigia.

O texto é, de fato, uma espécie de briga ou disputa por


religião. Aquele que decide servir a Deus pode encontrar
repressão por parte da família. Nem todas as famílias aceitarão
de boa vontade a nova opção de fé de seus membros. E é este o
sentido do texto de Mateus. É assim que a figura da espada
representa a guerra dentro dos lares.

Uma família de católicos praticantes, por exemplo,


jamais aceitará que um de seus membros se converta a outra
religião. Tampouco uma família de Testemunhas de Jeová
concordará com isto. Se fosse uma família de ateus,
322

certamente também reprovariam quando algum deles cresse.


Sempre haverá repreensões e tentativas árduas da família para
fazer com que aquele membro que se converteu retorne aos
deuses antigos.

Mas um detalhe que deve ser observado é que o texto


não alude conflito por causa da saída de alguém da igreja. Pelo
contrário, o conflito se deve à introdução de uma pessoa na
igreja. É pela conversão, que o indivíduo passa a sofrer
desaprovação e até mesmo rejeição dos da sua própria casa, e
não pela apostasia. A desaprovação por alguém que
abandonou sua fé não existe no texto.

Desta forma, o panorama da parábola de Jesus não


consiste em Testemunhas de Jeová rejeitando seus familiares
por terem abandonado a igreja delas. Ao contrário, consiste em
Testemunhas de Jeová rejeitando seus familiares por terem
ingressado na igreja verdadeira de Cristo. A parábola se volta
contra elas mesmas, tornando-as as vilãs da história.

Em nenhum momento, Jesus falou que quem estava


certo eram os que repudiavam, ao invés dos que sofriam
repúdio. De acordo com o âmago das escrituras, os que sofrem
são os inocentes. Os injustiçados são os aprovados por Deus, e
não aqueles que os ferem.
323

“Bem-aventurados os que choram, porque serão


consolados [...] Bem-aventurados os perseguidos por causa da
justiça, porque deles é o reino dos céus” (Mt 5.4,10). “Bem,-
aventurados sois quando os homens vos odiarem e quando vos
expulsarem da sua companhia, vos injuriarem e rejeitarem o
vosso nome como indigno, por causa do Filho do Homem” (Lc
6.22). “A tal ponto que nós mesmos nos gloriamos de vós nas
igrejas de Deus, à vista da vossa constância e fé, em todas as
vossas perseguições e nas tribulações que suportais” (2Ts 1.4).

É chorando que se torna bem-aventurado. Chorando, e


não fazendo as pessoas chorarem. A parte inocente é a que
sofre, e não a que causa sofrimento. E assim, as Testemunhas
de Jeová são protagonistas da parábola de Jesus, servindo de
exemplo de como não se deve fazer. São modelos de má
conduta, a qual deve ser evitada.

Na sequência do mesmo texto, Jesus continuou


desenvolvendo esta pauta, quando disse:


Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não
é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a
mim não é digno de mim ” (v. 37).

Estas frases ajudam a interpretar a frase anterior, que


já lemos acima:
324

“Assim, os inimigos do homem serão os da sua própria


casa” (v. 36).

O versículo 37 exprime uma escolha. O novo convertido


ao cristianismo está diante de um dilema dentro de sua própria
casa. Ele tem que escolher entre seus pais e Jesus. Seus pais o
desprezam por causa de sua conversão, e fazem de tudo para
que ele negue sua fé nova, a fim de voltar para a fé antiga.

Então, se houver este tipo de dilema nalguma casa,


Jesus quer ser O escolhido. Devemos amá-lo mais do que
amamos nossos pais. A palavra “amor” na Bíblia faz referência
à aprovação, enquanto que o ódio sugere rejeição. Desta forma,
se o indivíduo ama mais seus pais e escolhe voltar para eles,
abandonará o Caminho da vida. Por outro lado, se ele ama
mais Jesus, perseverará na fé, apesar de sofrer repressão de
seus familiares.

E é justamente este sofrimento que faz o homem ser


bem-aventurado. Observe o que diz o versículo seguinte:

“e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é


digno de mim ” (v. 38).

Carregar a própria cruz (estaca de tortura) significa


sofrer por amor a Cristo. Jesus disse que quem prefere os pais
não é digno. Disse também que quem não toma sua cruz não é
325

digno. Logo, temos a conclusão de que tomar a cruz é sinônimo


de escolher Cristo ao invés de escolher a própria família. O
cristão novo convertido aguenta injúrias por causa de sua fé,
mas não a abandona. Permanece sofrendo dentro de sua casa,
porém, continua firme seguindo Jesus. Esta é a cruz que ele
tem que levar por toda vida, ou só até seus pais se
conformarem com sua escolha.

“Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde


a vida por minha causa achá-la-á” (v. 39).

Se o novo convertido sacrifica a própria vida, preferindo


sofrer a deixar Cristo, ganhará sua vida, será salvo. No
entanto, se ele amar mais sua vida do presente e escolher
seguir seus familiares, perderá a vida eterna. É este o
verdadeiro sentido Mateus 10.34-36, texto usado pelas
Testemunhas de Jeová para tentar aprovar a rejeição aos que
saem da igreja.

Em vista disso, podemos concluir que a vítima é a parte


rejeitada, e não a parte que rejeita. As Testemunhas de Jeová,
voluntariamente, preferem ocupar a posição de quem rejeita,
tornando-se a parte que não é salva. As Testemunhas de
Jeová, ao invés de carregarem a cruz, servem de cruz para os
rejeitados por eles, os quais, se tiverem ingressado numa igreja
verdadeira, serão os salvos.
326

Todas as inferências acima são decorrentes de fidedigna


interpretação de texto, sem deturpação. Isto é bíblico e correto,
pois foi Jesus quem ensinou.

Por que as Testemunhas de Jeová agem desta maneira,


evitando falar e se relacionar com qualquer ex-membro de sua
Organização? Será que encontraram algum versículo bíblico
que apoie tal atitude?

Analisemos o texto a seguir:

“Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina,


não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas. Porquanto
aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras
más” (2Jo 10,11).

Talvez o objetivo das Testemunhas de Jeová seja não se


tornarem cúmplices dos dissociados, baseadas nos versículos
acima. Por isto não falam, nem cumprimentam os
desassociados.

Porém, esta interpretação falha em dois pontos. O


primeiro é que a ordem de João não foi para não falar com as
pessoas, e sim para não recebê-las em casa. É diferente. Não
há fundamento bíblico para deixar de falar com seus
familiares, nem com seus amigos. Ninguém tem o direito de
deixar de ser amigo de outrem por motivo de seu afastamento
327

da igreja. Pelo contrário, devemos amá-los e tratá-los com a


mesma cordialidade de antes.

O segundo ponto é a identidade daqueles que não


devem ser recebidos em casa. Podemos ler no próprio texto
acima que eles são os que “não trazem esta doutrina” . Os
versículos anteriores esclarecem quem são:

“Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora,


os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o
enganador e o anticristo. Acautelai-vos, para não perderdes
aquilo que temos realizado com esforço, mas para receberdes
completo galardão. Todo aquele que ultrapassa a doutrina de
Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na
doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (v. 7-9). “Quem é o
mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o
anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o
Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem
igualmente o Pai” (1Jo 2.22,23).

As pessoas que não devem ser recebidas em nossas


casas são os anticristos, ou seja, os que negam que Cristo veio
em carne, os que não têm a doutrina de Cristo, os que não têm
tanto o Pai como o Filho. Não são, de maneira nenhuma,
pessoas que, simplesmente, desobedeceram às ordens da Torre
328

de Vigia, criadas segundo preceitos humanos. Anticristos são


pessoas contra Cristo, e não contra os dogmas de uma religião.

Sabemos exatamente quem são os anticristos dos dias


atuais. As Testemunhas de Jeová não têm tanto o Filho como o
Pai e negam a divindade de Cristo.

O texto de João não incentiva rejeitarmos, odiarmos,


nem pararmos de falar com aqueles cuja doutrina não
concordamos. Ensina antes que devemos nos proteger, não
recebendo em casa pessoas que trazem doutrina estranha,
perigosa. Para o nosso bem e de nossa família (e também para
não sermos cúmplices), não podemos deixar entrar aqueles que
trazem heresias, ensinando contra a doutrina de Cristo.

Porventura, isto significa que não podemos receber em


casa as Testemunhas de Jeová (visto que não têm tanto o Pai
como o Filho)? Não exatamente. Se for uma visita sem o
propósito religioso, podemos recebê-las, sermos educados e nos
comunicarmos normalmente. Mas, se elas estiverem a
trabalho, trazendo seus ensinamentos, não devemos recebê-
las, nem ouvi-las acerca de suas doutrinas, visto que não
pregam a Cristo, o Filho de Deus. É isto o que diz João nos
versículos acima.
329

Mas a suma é que o texto de João não apoia o


ostracismo contra os dissociados ou desassociados. É uma
referência aos anticristos, e não aos ex-membros da igreja.

Devemos ainda considerar o que disse Jesus em Mateus


18, pois Suas palavras foram mal interpretadas por muitos:

“Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só.
Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir,
toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo
depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se
recusar ouvir também a igreja, considera-o como gentio e
publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra
terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá
sido desligado nos céus” (Mt 18.15-18).

O pastor, ou presbítero, ou qualquer irmão, tem apenas


a tarefa de tentar convencer o homem de seu pecado, a fim de
incentivá-lo a se arrepender. Cabe à igreja utilizar todas as
alternativas possíveis de tentar redimir o pecador, promovendo
meios para que ele se arrependa. Se ele se arrepender, a igreja
o aceita no seu seio. É assim que se liga alguém na Terra e no
céu.

A igreja tem a autonomia dada por Jesus de admitir


como membro aquele que demonstrar verdadeiro
330

arrependimento. Tem também a autorização de excluir de seu


rol de membros aquele que não produz frutos dignos de
arrependimento. Isto pode ser feito. Até aqui, há respaldo
bíblico. Tomar alguém como gentio e publicano é, em outras
palavras, considerá-lo como alguém que não faz parte da
igreja.

O que não está correta é a maneira como se trata


alguém que não é da igreja. A frase de Jesus “considera-o como
gentio e publicano”, de maneira alguma, dá à igreja o direito de
repudiar e de manter afastados os membros excluídos. Qual é
a maneira correta de tratar os gentios e publicanos? Amando,
orando por eles, ensinando-os e, antes de tudo, sendo
educados e gentis. Não falar com um ente querido pelo resto da
vida, além de ser uma penalidade incabível é uma questão de
falta de educação e de bom senso. Não tem nada a ver com
considerar alguém como gentio e publicano.

“E sucedeu que, estando ele em casa, à mesa, muitos


publicanos e pecadores vieram e tomaram lugares com Jesus e
seus discípulos” (Mt 9.10).

“Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem: Eis


aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e
pecadores! Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (Mt
11.19).
331

Jesus era amigo de publicanos e ainda comia com eles,


apesar da não aprovação dos fariseus. O fato deles serem
pecadores não é razão para que sejam rejeitados. Os
publicanos iam a Jesus para ouvi-lo, e Jesus os recebia. Até
mesmo o apóstolo Mateus era publicano, quando foi escolhido
pelo Mestre.

Portanto, de acordo com o nosso texto, a forma que


devemos tratar um desassociado é a mesma que cabe aos
pecadores que nunca fizeram parte da igreja. Isto, de nenhuma
forma, assemelha-se ao ostracismo imposto pelas Testemunhas
de Jeová.

A mulher samaritana de João 4 era bastante pecadora.


Além de ser samaritana (os samaritanos eram desprezados
pelos judeus), divorciou-se cinco vezes e estava vivendo com
um homem sem estar casada com ele. Isto era motivo para
apedrejamento e morte, mas só no passado, na época da Lei.
Hoje é diferente, pois se sobressaem o perdão e o amor. O que
Jesus fez com a mulher? Não passou de largo sem falar com
ela, como era esperado. Ao invés disso, recebeu-a, ofereceu-lhe
palavras de vida.

A mulher aceitou as palavras do Mestre. Mas, mesmo se


ela tivesse se recusado a ouvi-lO, Jesus não a teria apedrejado,
como nunca ordenou apedrejamento, nem ao menos rejeição
332

alguma. Jesus perdoou e amou até mesmo os que O


crucificaram. É notório que os que entregaram Jesus à morte
eram inimigos do reino. Mas, nem por isto, foram odiados por
Jesus. Não devemos odiar os inimigos do reino.

Os religiosos da época de Jesus tinham o hábito de


repudiar os samaritanos, que eram considerados pagãos ou
impuros. Mas Jesus era diferente daqueles religiosos, e se
aproximava dos pecadores e dos samaritanos, sem restrição e
sem preconceito. São dois tipos de exemplos a serem seguidos.
A Torre de Vigia escolheu seguir a atitude dos religiosos
daquela época, os quais contrariavam Jesus. E você, quem
escolhe seguir: Jesus ou os religiosos que se baseavam na lei
veterotestamentária do ódio aos inimigos?

Ainda no texto em questão, a forma correta de expulsar


um membro da igreja deve ser conforme os versículos já
citados:

“E, se ele nao os atender, dize-o à igreja; e, se recusar


ouvir também a igreja, considera-o como gentio e publicano” (Mt
18.17.

E ainda:

‘Basta-lhe apuniçaopela maioria” (2Co 2.6).


333

A igreja toda tem que decidir, e não apenas a “comissão


judicativa” das Testemunhas de Jeová, a qual só tem, no
máximo, três anciãos. As reuniões que eles fazem para
desassociar um membro é secreta, sem a participação da
igreja, o que difere dos textos bíblico.

Se algum membro da igreja se extravia ou comete


infrações graves, nossa atitude em relação a ele deve ser de
amor:

“Ora, se alguém causou tristeza, não o fez apenas a


mim, mas, para que eu não seja demasiadamente áspero, digo
que em parte a todos vós; basta-lhe a punição pela maioria.. De
modo que deveis, pelo contrário, perdoar-lhe e confortá-lo, para
que não seja o mesmo consumido por excessiva tristeza. Pelo
que vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor” (2Co
2.5-8).

É o perdão e o amor que devem ser administrados


nesses momentos. A rejeição e a exclusão jamais poderiam ter
algum efeito positivo. Ninguém vai voltar para a igreja por ter
sido desprezado pelos irmãos. Pelo contrário, sentirá repulsa
ao ver que está sendo mal tratado.

Ao ingressarem na igreja, os prosélitos, vítimas das


Testemunhas de Jeová, são ludibriados com todo tipo de
atenção e com sorrisos largos encantadores. Começar a fazer
334

parte dessa religião é muito fácil. Em pouco tempo, o membro


já está completamente envolvido e preso, como uma mosca na
teia de aranha. Libertar-se dela é que é difícil.

E as Testemunhas de Jeová, que passaram toda a vida


rejeitando e evitando seus familiares e amigos, quando decidem
sair, não têm para quem voltar. Passam a ser rejeitados pelos
familiares, além de serem ostracizados pelos ex-companheiros
de religião. Não têm mais a habilidade de fazer novas amizades,
nem de se aproximar das pessoas, visto que eram obrigadas a
não se relacionarem com “descrentes”. Romperam os antigos
laços familiares e, após saírem da Organização, perderam
também a estima e o respeito dos irmãos Testemunhas de
Jeová. Estão sozinhos agora.
335

PROFECIAS ERRADAS

Logo nas primeiras décadas de sua existência, a recém-


chegada ao mundo religião Testemunhas de Jeová conseguiu
bater recordes mundiais de falsas profecias. É impressionante
como um grupo de estudantes da Bíblia tenha se reunido por
tanto tempo, com o único propósito de estudar datas! Será que
não tinha outro assunto para estudarem? Não se deram conta
de que as datas foram reservadas ao conhecimento exclusivo
de Deus?

Infelizmente, aquele grupo não percebeu nada disto, e


produziu inúmeras profecias, das quais nenhuma se cumpriu.

Tudo começou quando William Miller, um dos


principais precursores das igrejas Adventista e Testemunhas
de Jeová, havia predito que Jesus voltaria em março de 1843.
Nesta data, Cristo voltaria de maneira pessoal e visível, nas
nuvens, a Terra seria destruída pelo fogo, os ímpios seriam
destruídos e o Milênio bíblico teria início.

Como nada disto ocorreu, tal data foi adiada para


março de 1844, e depois para o outono de 1844. Tudo em vão,
336

pois Jesus não voltou e ninguém foi destruído, tampouco o


Milênio começou.

Charles Taze Russell, fundador da Torre de Vigia e da


respectiva religião, fundamentou-se na igreja Adventista para
seus estudos. Ele aprovava o cálculo adventista que havia
previsto a vinda de Jesus para 1874.

Porém, Jesus não voltou, e a desculpa dada pela revista


adventista The Herald of the Morning foi que Cristo tinha,
realmente, voltado em 1874, mas de forma invisível. A seita
Testemunhas de Jeová se justifica dizendo que Jesus apareceu
mesmo em 1874, de maneira incontestável, e que esteve
presente na Terra desde então.

Russell escreveu um livro, em conjunto com o


adventista Nelson H. Barbour: Three Worlds and the Harvest of
This World (Três Mundos e a Colheita Deste Mundo). Neste
livro, nas páginas 84 e 124, ele profetizou que os cristãos iriam
para o céu no ano seguinte, em 1878. O livro foi publicado em
1877, dois anos antes da fundação da Torre de Vigia.

Porém, ninguém foi arrebatado ao céu em 1878. E, para


tentar se justificar deste erro, foi dito que, em 1878, houve o
despertar dos santos adormecidos.
337

Em dezembro de 1880, Charles Taze Russell tornou a


profetizar o dia em que os cristão seriam arrebatados ao céu. A
data prevista era 1881, quando os santos seriam ressuscitados
na Terra. Mas, os únicos cristãos que partiram para o céu
naquele ano foram os que morreram. Foi outro fracasso de
profecia.

A justificativa dada é que, em 1881, aconteceu o fim da


Chamada do Alto.

Insistente, o mesmo Russell, baseado no comprimento


dos corredores da Grande Pirâmide de Gizé, profetizou que o
arrebatamento ocorreria em 1910. Foi no lançamento do seu
livro Estudos das Escrituras, Vol. III - Venha o Teu Reino,
1891, página 364.

Novamente o arrebatamento não aconteceu.

Russell voltou a profetizar. Calculou que a tão esperada


data ocorreria em 1914. Ele escreveu isto em alguns livros e
artigos. Um deles foi a revista periódica que ele mesmo criou: A
Torre de Vigia de Sião (hoje conhecida como A Sentinela), 15 de
Julho de 1894, páginas 226 e 1677.

Registra-se também, no livro O Tempo Está Próximo, de


1889, nas páginas 76 a 77 da edição de 1912, que ocorreriam
sete eventos em 1914:
338

1) O Reino de Deus terá obtido controle completo, universal, e


que será então “posto” ou firmemente estabelecido na
Terra, sobre as ruínas das instituições atuais.
2) O Senhor estará presente na terra, por um período
considerável antes dessa data.
3) Algum tempo antes do fim de 1914, o último membro da
divinamente reconhecida Igreja de Cristo será glorificado
como o Cabeça.
4) Daquela época em diante Jerusalém não será mais pisada
pelos Gentios.
5) A cegueira de Israel começará a ser retirada.
6) O grande “tempo de tribulação tal como nunca ocorreu
desde que existe nação”, alcançará a sua culminação num
reinado mundial de anarquia.
7) Antes daquela data, o Reino de Deus estará na Terra, então
atingirá e esmagará a imagem gentia e consumirá
completamente o poder destes reis. Aquela data será o
limite final do governo dos homens imperfeitos.

Observe o número e o grau dos detalhes especificados


acima. Tudo isto deveria ter acontecido em 1914. Russell
demonstrou muita certeza e convicção sobre sua cronologia e
sobre os eventos que ocorreriam. E ele ainda reafirmou, em
publicações posteriores, a exatidão de tudo o que dissera.
339

Chegou até a mencionar que eram “datas de Deus, e não


dele”.22

Mas, com o passar do tempo, Russell começou a


demonstrar dúvida e cautela, tanto mais quanto se aproximava
o ano de 1914, temendo que as coisas não se cumprissem.
Aquilo que ele tinha certeza absoluta e que ele dizia que eram
“datas de Deus”, passou a ser chamado de “nossa opinião” .
Suas publicações foram mais discretas do que as que ele fazia
há anos atrás. Chegou a usar palavras como “provavelmente” e
a deixar escapar a possibilidade dele estar errado. Sua fé nas
profecias diminuiu bastante no ano de 1914.

Mas aí, por pura coincidência, teve início a Primeira


Guerra Mundial em julho de 1914. Eu não diria que foi sorte,
porque, em qualquer data que a guerra tivesse irrompido, iria
coincidir com uma das várias datas de previsão de Russell.
Praticamente, ele mudava a data a cada dois ou três anos. Por
isto, não se dá nenhum crédito ao profeta que profetiza tudo
em todos os anos. Porque qualquer coisa que venha a
acontecer será interpretada como o cumprimento de uma das
profecias, pois estas apontam para todas as datas.

O certo é que o início da guerra lhe deu uma injeção de


ânimo, pois algo diferente aconteceu no ano profético. Então

22 A T o rre d e V igia d e S ião d e 15 d e j u lh o d e 1 8 9 4 , p á g in a 2 2 6 .


340

Russell passou a dizer que a profecia se referia àquela Guerra


Mundial e que a guerra representa o início da batalha que
destronaria os gentios e o cristianismo falso. Portanto, ele
distorceu tudo o que tinha previsto, e reformulou suas ideias.

Como os requisitos profetizados para 1914 não foram


atingidos, foi dada a justificativa de que no ano 1914 Deus
estabeleceu Seu Reino no céu, longe das nossas vistas. Foi
mais outra distorção dos fatos. Eles sempre preveem alguma
coisa e, depois que ela não se cumpre, dizem que tinham
previsto outra. Na verdade, Russell nunca dissera que o ano de
1914 marcaria a data do estabelecimento do Reino de Deus no
céu, porque, para ele, isto já tinha acontecido em 1878, de
acordo com as publicações que ele fizera23. Segundo suas
publicações antigas, o que aconteceu de forma invisível em
1878 (como a vinda de Cristo e o estabelecimento do Reino),
ocorreria em 1914 na Terra, palpável e visível a todos os olhos
humanos.

“O nosso Senhor, o Rei designado, está agora


presente, desde Outubro de 1874, A.D., segundo o
testemunho dos profetas, para aqueles que têm ouvidos para

23 P rim e iro v o lu m e d a sé rie A u r o r a d o M ilê n io (E s tu d o s d a s E s critu ra s ),


p u b lic a d o o rig in a lm e n te e m 1 8 8 6 , p á g in a s 9 1 , 9 5 e 3 0 7 d a e d iç ã o d e 1903;
v o lu m e s e g u in te d a sé rie , O T e m p o E s tá P ró x im o , d e 1 8 8 9 , p á g in a s 101 a 110,
3 3 6 e 3 3 7 ; O T e m p o E s tá P ró x im o , d e 1 8 8 9 , p á g in a 101 d a e d iç ã o d e 1908.
341

ouvir: e a inauguração fo rm a l do seu cargo real data de


A b ril de 1878, A.D.: e o primeiro trabalho do Reino, conforme
mostrado pelo nosso Senhor, nas suas parábolas e profecias (o
ajuntamento dos “seus eleitos”) está agora em progresso. “Os
mortos em Cristo levantar-se-ão primeiro”, explicou o Senhor
através do Apóstolo; e a ressurreição da Igreja será num
momento. Consequentemente o Reino, conforme representado
no nosso Senhor, e os santos adormecidos já aptos e preparados
e achados dignos de serem membros do “seu corpo”, a “noiva”,
f o i estabelecido em 1878; e a única coisa que falta fazer para
estar completo é o “ajuntamento no Senhor” daqueles dos
“eleitos” que estão vivos e permanecem -- cujo julgamento ainda
não está completo” (The Battle of Armageddon, 1913, páginas
621 a 622).

“Esta presença de Cristo desde 1874 estava sendo


proclamada: A prova escritural [bíblica] é que a segunda
presença do Senhor começou em 1874” (livro Prophecy, de
J. F. Rutherford, p. 65).

Este é apenas um dos vários exemplos de que a


expectativa de Russell mirava a data de 1878, e não 1914.

O próprio Russell admitiu seu erro em 1916:

“O autor reconhece que apresenta neste livro o


pensamento de que os santos do Senhor poderiam esperar estar
342

com Ele em glória no fim dos tempos dos gentios. Este foi um
erro natural no qual se pode cair, mas o Senhor o invalidou para
a bênção de Seu povo. O pensamento de que a Igreja seria toda
ajuntada em glória antes de outubro de 1914, teve certamente
um efeito muito estimulante e santificador sobre milhares, todos
os quais podem con.sequentem.ente louvar ao Senhor - até
mesmo pelo erro. Muitos, inclusive, podem expressar-se como
estando gratos ao Senhor que a culminação das esperanças da
Igreja não foi atingida no momento em que esperávamos, e que
nós, como povo do Senhor, temos oportunidades adicionais de
aperfeiçoar a santidade e de sermos participantes com nosso
Mestre na divulgação adicional de Sua Mensagem ao Seu povo. ”
(O Tempo Está Próximo, prefácio à edição de 1916, página IV).

A previsão de 1914 foi uma das últimas de Russell. E,


assim como todas as demais, não se concretizou. Ele morreu
derrotado em 1916.

Mas ele não foi um charlatão aos olhos das


Testemunhas de Jeová, não de todas. A partir do ano de 1914,
a Torre de Vigia começou a ensinar que Russell não errara,
mas que tinha previsto a Primeira Guerra Mundial (que se
chamava Guerra das Guerras, pois ninguém imaginava que
haveria outra depois dela). Para Russell aquela guerra era o
Armagedom.
343

Mas os relatos acima citados são claros. Russell


especificou sete coisas que iriam acontecer naquela dada. E
nenhuma delas se concretizou. Além disto, ele salientou, no
livro O Plano Divino das Eras, páginas 307 e 308, que o “Dia
da Ira” começara em 1874, não em 1914.

Analise também outra de suas citações:


... com o fim de 1914, o que Deus chama de Babilônia, e
que os homens chamam de Cristandade, terá passado,
conforme já mostrado a com base na profecia” (livro de Russell:
Venha o Teu Reino, de 1891, página 153).

Antes de chegar a data, o profeta dizia que Babilônia,


chamada de Cristandade, acabaria em 1914. Sua mentira foi
desmascarada, pois o cristianismo que ele considerava pagão
nunca deixou de existir até hoje. Porém, depois de chegado o
ano 1914, ele passou a dizer que 1914 era a data do começo
da batalha.

a ‘guerra do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso’


(Rev. 16:14), que acabará em A.D. 1914 com a completa
destruição dos atuais governos da terra, já começou” (O Tempo
Está Próximo, 1886, página 101).

Isto é o contrário do que aconteceu, pois a guerra


começou em 1914.
344

E aqui está outra afirmação clara:

“Consideramos uma verdade estabelecida que o fin a l


completo dos reinos deste mundo, e o pleno estabelecimento do
Reino de Deus, será efetuado por volta do fim de 1914” (livro
Está Próximo o Tempo, página 99).

Segundo o trecho acima, Russell esperava acontecer


duas coisas antes do fim de 1914:

1) o final completo dos reinos deste mundo,


2) e o pleno estabelecimento do Reino de Deus.

Mas os reinos não foram exterminados em 1914. Pelo


contrário, começava uma Guerra Mundial. E todos os reinos
sobreviveram até hoje. Para Russell o Dia da Ira de Deus tinha
começado em 1874 e terminaria em 1914. Não faz sentido,
portanto, afirmar que ele previra o início da Primeira Guerra
em 1914, período no qual ele supunha que teria início o Reino
de paz de Deus.

Isto também se observa na citação:

“A data do encerramento dessa “batalha” está


definitivamente marcada nas Escrituras para outubro de 1914.
Ela já está em andamento, datando seu in ício de outubro de
1874. Até agora, tem sido principalmente uma batalha de
345

palavras e um tempo para organização de forças - capital,


trabalho, exércitos e sociedades secretas” (A Torre de Vigia de
Sião de 15 de janeiro de 1892, páginas 21 a 23).

A profecia foi muito clara, quando disse que as guerras


começaram em 1874 e que terminariam em 1914, data em que
começava a Guerra Mundial.

“Uma atmosfera explosiva de rivalidade nacional se


desenvolveu em todo o mundo, e a campanha febril dos líderes
políticos e comerciais em sua louca corrida armamentista estava
sendo totalmente apoiada pelo clero de todas as terras. França e
Alemanha foram acumulando um enorme potencial bélico,
enquanto a Grã-Bretanha e os Estados Unidos foram se
fortalecendo também. Verdadeiramente, as massas da
humanidade foram sendo arrebanhadas em campos de guerra.
Satanás, como governante deste mundo, foi juntando suas
forças para o fim que ele sabia que deveria vir em 1914” (livro
TJPD, página 53).

Estava, portanto, previsto que, em 1914, viria o fim da


era de Satanás, e não o começo.

“De acordo com nossas expectativas a tensão do tempo


de tribulação estará logo sobre nós, em algum momento entre
1910 e 1912 - culminando com o fim dos “Tempos dos Gentios”,
outubro de 1914” (livro: A Nova Criação, de 1904, página 579).
346

Russell não pode ter previsto a Primeira Guerra


Mundial, porque, de acordo com o texto, a Grande Tribulação
deveria ter iniciado em 1910 e terminado em 1914, ao passo
que a Primeira Guerra mundial teve seu início em 1914.

Observe o teor do que está escrito abaixo:

“...a ‘guerra do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso’


(Rev. 16:14), que acabará em A.D. 1914, com a completa
destruição dos atuais governos da terra, já começou” (O Tempo
Está Próximo, vol. 2, 1886, edição 1911, página 101).

Em 1915, Russell, ao reimprimir nova edição, adulterou


os dados da primeira. Ele usou de má fé e mudou a data que
era 1914, para 1915:

‫״‬...a ‘guerra do grande dia de Deus, o Todo-Poderoso’


(Rev. 16:14), que acabará em A.D. 1915, com a completa
destruição dos atuais governos da terra, já começou” (O Tempo
Está Próximo, edição 1915, página 101).

Veja que até a edição de 1911 sustentava a data 1914.


Mas, em 1915, ao se passar a data prevista, Russell riscou o
número 1914 e escreveu 1915. Isto é trapaça!

Porém, até mesmo a segunda previsão não se


concretizou, pois a Guerra das Guerras não acabou em 1915,
347

mas em 1918. E também não ocorreu a completa destruição


dos atuais governos da Terra.

Acerca de 1914, temos também:


... o testemunho do reino das testemunhas de Jeová
desde 1914 tem sido algo muito diferente daquilo que os
missionários da cristandade têm publicado tanto antes quanto
desde 1914. “Diferente” - como assim? ... O que as testemunhas
de Jeová têm pregado ao mundo desde 1918 é algo único... a
pregação dessas boas-novas do reino messiânico como tendo
sido estabelecido nos céus em 1914...” (A Sentinela, 01 de
outubro de 1980, p. 28-29, edição norte-americana).

Afirma a Torre de Vigia que seu testemunho, isto é,


suas boas novas, seu evangelho são diferentes do Evangelho
pregado pelos apóstolos e pelos discípulos da igreja primitiva.
As Testemunhas de Jeová trazem notícias mais atuais e
relevantes, pois proclamam que Jesus veio em 1914 e que
estabeleceu Seu reino desde então. O que elas anunciam é o
reino de Jesus que já começou.

Mas sabemos o que a Bíblia adverte sobre a pregação de


evangelhos diferentes:

“Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos


pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja
348

anátema. Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém


vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja
anátema” (Gl 1.8,9).

Anátema quer dizer “maldito”, como confirma a própria


Tradução do Novo Mundo. O único Evangelho que temos que
acreditar e anunciar é aquele que recebemos da boca de Cristo
e dos apóstolos desde o princípio da igreja.

Ao se passar a data, desmascarando todos os erros


proféticos, Russell editou todos os livros e artigos anteriores,
modificando conteúdo, amenizando os detalhes de suas
respectivas profecias e alterando o sentido que fora escrito
antes. Tudo isto para tentar camuflar, ao máximo, o erro
cometido e para nos fazer acreditar que ele previra a Primeira
Guerra Mundial.

Russell morreu em 1916 e a Guerra das Guerras


terminou em 1918. Após o término da guerra, os resultados
foram muito diferentes dos sete eventos previstos por ele. Não
ocorreu o fim do tempo dos Gentios, os ímpios não foram
destruídos, o Reino de Deus não se estabeleceu visivelmente na
Terra, Jesus não desceu visivelmente e as igrejas cristãs, bem
como toda religião pagã, continuaram existindo. A Guerra das
Guerras não foi o Armagedom esperado. O mundo continuou
sua vida normalmente e houve a Segunda Guerra Mundial.
349

Hoje em dia as Testemunhas de Jeová são ensinadas


que a Primeira Guerra Mundial foi prevista por Russell, e que
marcou o início da conclusão deste sistema, isto é, o início da
conclusão do fim dos tempos. Também são obrigadas a crer
que, em 1914, houve o nascimento do reino de Deus no céu,
tendo Cristo Jesus como Rei24. E a Torre de Vigia ainda se
orgulha dizendo:

“Pense só nisso! Jeová concedeu tal conhecimento a Seu


povo cerca de quatro décadas antes de tais tempos expirarem”.

Fazia parte da profecia modificada o cumprimento do


versículo:

“Em verdade vos digo que não passará esta geração sem
que tudo isto aconteça” (Mt 24.34).

As Testemunhas de Jeová receberam a instrução de que


muitas pessoas que estavam presentes em 1914 presenciariam
vivas o dia final do arrebatamento. A frase “Milhões Que Agora
Vivem Jamais Morrerão” foi proclamada por décadas. Seus
profetas mantiveram essa profecia em vigor até o ano 199 125.

24 A n u á rio d a s T e s te m u n h a s d e J e o v á d e 1 9 7 6 , p á g in a 37.
25 A S e n tin e la , 15 d e fev ereiro d e 1 9 2 7 , p á g in a 6 2 ; A S e n tin e la , 0 1 d e ju lh o d e
1 9 5 1 , p á g in a 4 0 4 ; A S e n tin e la , 0 1 d e S e te m b ro d e 1 9 5 2 , p á g in a 5 4 3 ; P a ra ís o
P e rd id o a o P a ra ís o R e c u p e ra d o , 1 9 5 8 , p á g in a 2 0 5 ; D e sp e rta i!, 2 2 d e s e te m b ro
d e 1 9 6 2 , p á g in a 2 7 ; D e sp e rta i!, 0 8 d e o u tu b r o d e 1 9 6 8 , p á g in a s 13 e 14;
350

Sofreram outra decepção, pois todas aquelas pessoas já


faleceram. Foi por isto que, a partir de 1995, a Torre de Vigia
não pôde mais sustentar essa mentira, devido ao avanço da
idade das testemunhas da Primeira Guerra. Foi então que
mudou sua versão26. Passou a afirmar que “geração” significa a
vida de outros ungidos. Mas antes, a expectativa era de que a
vinda de Cristo se daria em 1984, ou então em 1994,
dependendo do tamanho de uma geração, se é de 70 ou de 80
anos.

A Torre de Vigia sempre usou e ainda usa a mentira


para disfarçar seus próprios erros e para enganar seus fiéis,
impondo-lhes o que eles devem crer.

Após a morte de Russell, seu sucessor Joseph Franklin


Rutherford também fez algumas previsões erradas:

1) Milhões de membros das igrejas seriam mortos em 1918, e


os que restarem reconheceriam as obras de Russell27.

D e sp e rta i!, 0 8 d e a g o s to d e 1 9 7 1 , p á g in a 2 6 ; A S e n tin e la , 0 1 d e o u tu b r o d e


1 9 7 8 , p á g in a 3 1 ; A S e n tin e la , 0 5 d e o u tu b r o d e 1 9 8 0 , p á g in a 3 1 ; A S e n tin e la ,
15 d e n o v e m b ro d e 1 9 8 4 , p á g in a 5; D e sp e rta i!, 0 8 d e a b ril d e 1 9 8 8 , p á g in a 14;
A S e n tin e la , 15 d e a b ril d e 1 9 9 1 , p á g in a 7.
26 A S e n tin e la , 01 d e n o v e m b ro d e 1 9 9 5 , p á g in a 19, p a rá g ra fo 12 e p á g in a 20;
D e sp e rta i!, 8 d e n o v e m b ro d e 1 9 9 5 , p á g in a 4; A S e n tin e la , 15 d e fev ereiro d e
2 0 0 8 , p á g in a 2 4 ; A S e n tin e la , 15 d e a b ril d e 2 0 1 0 , p á g in a 10.

27 O M isté rio C o n s u m a d o , 1 9 1 7 , p á g in a 4 8 5 .
351

2) Ocorrería anarquia a nível mundial em 1920, no outono. As


repúblicas desapareceriam.
3) Fechamento do Caminho Celestial em 1921.
4) O reino seria estabelecido no ano de 1925. “Marcará a volta
às condições de perfeição humana, de Abraão, Isaque, Jacó
e os antigos profetas fiéis... o grande ciclo do jubileu deve
principiar em 1925. Nesta data a parte terrestre do Reino
será reconhecida... 1925 será a data marcada para a
ressurreição dos anciãos dignos e fiéis”.
5) Baseado na profecia de 1925, foi determinado que “milhões
que agora vivem jamais morrerão”28.
6) Surgimento da “Grande Multidão”, os herdeiros do paraíso
terrestre, em 1935.
7) Depois de a França ter caído em poder da Alemanha em
1940, Rutherford profetizou que a Grã-Bretanha também
cairia em poder dos Nazis.
8) Em 1941 começaria o Armagedom29.
9) Previu que o homem nunca chegaria à Lua.

Nenhuma destas profecias se cumpriu. Rutherford


depois admitiu, a respeito da data de 1925: “Sei que fiz papel
de tolo”. Esta frase foi dita a Frederick Franz, vice-presidente

28 M illions N ow L iving W ill N ever D ie, 1 9 1 8 , e d iç ã o 1 9 2 0 , p á g in a s 8 9 -9 0 .


29 T h e W a tc h to w e r, 15 d e a g o sto d e 1 9 4 0 , p á g in a 2 4 6 ; T h e W a tc h to w e r, 0 1 d e
s e te m b ro d e 1 9 4 0 , p á g in a s 2 5 9 -2 6 0 , 2 6 5 -2 6 6 ; A S e n tin e la , 15 d e S e te m b ro ,
1 9 4 1 , p á g in a 2 8 8 .
352

da Sociedade Torre de Vigia, o qual a divulgou em seu discurso


numa série de assembleias em 1975, na Austrália.

Mas, em 1922, as publicações da Torre de Vigia


atribuíam a Deus as profecias de 1874, 1914, 1918 e 1925,
dizendo que estas não podem errar porque foram ditas pelo
próprio Deus:

“Existem aí, portanto, relações bem-estabelecidas entre


as datas da cronologia da verdade atual. Estas ligações
internas de datas dão uma força muito maior do que a que se
pode encontrar em outras cronologias. Algumas delas são de
caráter tão notável de maneira a indicar claramente que esta
cronologia não é de homem, e sim de Deus. Sendo de origem
divina e divinamente comprovada, a cronologia da verdade atual
se mantém por si mesmo numa categoria absoluta e
indiscutivelmente correta... Na cronologia da verdade atual,
existem tantas relações internas entre as datas que não se trata
de mera sequência de datas, nem de uma corrente, mas de um
cabo de fios firmemente entrelaçados - um sistema divinamente
unificado, com a maioria das datas tendo relações tão notáveis
com outras, que sela o sistema como não sendo de origem
humana... Será mostrado claramente que a cronologia da
verdade atual mostra evidência incontestável de presciência
divina das principais datas, e que isso é prova de origem divina,
e que o sistema não é uma invenção humana mas uma
353

descoberta de verdade divina... cremos que ela leva o selo de


aprovação do Deus Todo-Poderoso. Seria absurdo alegar que a
relação descoberta não foi o resultado de arranjo divino” (A
Torre de Vigia de 15 de julho de 1922, título: “O Cabo Forte da
Cronologia”).

Porém, como nenhuma profecia se cumpriu, é uma


prova incontestável de que não foi Deus quem falou na boca
desses profetas.

Em 1925, Abraão, Isaque, Jacó e os fiéis profetas da


antiguidade não retornaram, como Rutherford havia previsto
30. Também não ocorreu a ressurreição dos anciãos dignos e
fiéis.

E a justificativa dada ao fracasso de 1925 foi dada


antes mesmo do ano acabar:

“Podemos razoavelmente esperar que 1925 será um ano


muito ativo para os santos deste lado do véu; e também que o
adversário estará cada vez mais ativo em sua oposição, já que
ele sabe que seu tempo está encurtando... Ninguém pode
predizer com segurança exatamente o que vai acontecer, até
mesmo no próximo ano, mas Deus forneceu indicações gerais em
sua Palavra sobre muitas coisas cque ainda vão acontecer”.3
0

30 M illions N ow L iving W ill N ever D ie, 1 9 1 8 , p á g in a 8 9 .


354

É aquela mesma técnica de prever alguma coisa e,


depois que ela não se cumpre, dizer que a previsão era outra
diferente.

Joseph Franklin Rutherford, dando continuidade à sua


fracassada carreira de profeta, previu e anunciou inúmeras
vezes que, quando terminar a Segunda Guerra Mundial, a paz
seria por breve período (poucos meses) e se sucederia
imediatamente o Armagedom31.

Errou mais uma vez, pois houve longo tempo de paz, o


maior da história entre os Estados mais poderosos.

Rutherford morreu em 1942, durante a Segunda Guerra


Mundial.

A partir de 1966, Frederick William Franz, o quarto


presidente da Torre de Vigia, previu (antes de se tornar
presidente) que Deus acabaria com o mundo em 1975. A
previsão foi calculada a partir do princípio de que, em 1975
completar-se-iam 6000 anos de humanidade na Terra. Nada
mais lógico seria para ele supor que o próximo período de 1000
anos, ou seja, o Milênio, ocorresse após isto. O cálculo

31 F o lh e to G u e rra U n iv e rs a l P ró x im a , d e 193 5 , p á g in a 2 6 ; livro S a lva çã o , d e


1 9 3 9 , p á g in a s 2 7 5 e 3 1 8 ; livro R e lig iã o , d e 1 9 4 0 , p á g in a s 2 9 0 e 2 9 2 ; re v is ta A
S en tin ela , d e 1° d e s e te m b ro d e 1 9 4 0 , p á g in a 2 6 5 ; re v is ta A S en tin ela , d e 15 d e

s e te m b ro d e 1 9 4 1 , p á g in a 2 8 8 .
355

assegurava que cada dia da criação durara 7000 anos. Desta


forma, os seis dias duraram 42000 anos. Assim que Jeová
criou Adão e Eva, começou a contar o dia de sábado, que é o
dia do descanso de Deus, o qual também equivale a 7000 anos.
Resumindo, os 6000 anos de Adão até nós fazem parte do dia
de descanso de Deus, restando apenas 1000 anos para
terminar o dia sétimo32.

Na verdade, ele citou a profecia como probabilidade, e


não como certeza. Mas seus fiéis seguidores, que cuidavam
estar sendo orientados por Deus, tomaram tal previsão como
verdade inquestionável. Foram muitos anos de grande

32 Livro V id a E te r n a - N a L ib e rd a d e d o s F ilh o s d e D e u s , d e 1 9 6 6 , p á g in a s 2 6 a
3 0 ; A re v is ta A S en tin ela , d e 15 d e fev ereiro d e 1 9 6 7 , p á g in a s 124 a 127;
r e v is ta D es p erta i!, d e 2 2 d e a b ril d e 1 9 6 7 , p á g in a 2 0 ; p e rió d ic o M in is té rio do
R e in o , d e m a io d e 1 9 6 8 , p á g in a 4; re v is ta A S en tin ela , d e 1° d e n o v e m b ro de

1 9 6 8 , p á g in a s 6 5 9 a 6 6 1 ; re v is ta A S en tin ela , d e 15 d e fev ereiro d e 196 9 ,


p á g in a s 104 a 117; r e v is ta D e s p e rta i!, d e 2 2 d e a b ril d e 1 9 6 9 , p á g in a s 13 e 14;
fo lh eto A P a z d e M il A n o s Q u e S e A v iz in h a , d e 1 9 6 9 , p á g in a s 2 4 a 2 6 ; O
M in is té rio d o R e in o , d e d e z e m b ro d e 1 969; p u b lic a ç ã o A ju d a a o E n te n d im e n to

d a B íb lia , d e 1 9 7 1 , p á g in a 3 3 3 ; O M in is té rio d o R e in o , d e ju lh o d e 197 4 ; livro O

P ro p ó s ito E te r n o ’ d e D e u s T riu n fa A g o r a P a r a o B e m d o H o m e m , d e
— 197 4 ,
p á g in a 51; d is c u r s o d e F re d F ra n z , p ro fe rid o e m Los A n g e les S p o rts A re n a , e m
10 d e fev ereiro d e 1 9 7 5 ; re v is ta A S e n tin e la d e 15 d e m a rç o d e 1 9 7 5 , p á g in a s
189 e 190; r e v is ta A S e n tin e la d e 15 d e s e te m b ro d e 1 9 7 5 , p á g in a 5 5 2 ; re v is ta
A S e n tin e la d e 1° d e o u tu b r o d e 1 9 7 5 ; livro A s T e s te m u n h a s d e J e o v á e a
E s p e c u la ç ã o P ro fé tic a , v e rs ã o re v is a d a d e d e z e m b ro d e 1 9 7 5 , p á g in a s VII e
VIII.
356

expectativa. A Torre de Vigia publicava constantemente artigos


a respeito de 1975. Esse ano foi, provavelmente, a data mais
esperada pelas Testemunhas de Jeová.

Fred Franz, praticamente, levou a que se


desassociassem pessoas só por não acreditarem que 1975 ia
ser o fim. Franz foi o inventor da desassociação.

Entretanto, em 1975, a profecia não se cumpriu. E o


resultado foi um uma grande decepção, como a ocorrida em
1914 e em 1925. E, tal como houve uma perca de 75% dos
membros da seita no final da década de 1930, as Testemunhas
de Jeová tornaram a sofrer grande baixa em seu número.
Houve inúmeros cristãos decepcionados com as previsões
falsas. Foram dez anos de expectativa para a gloriosa data de
1975, os quais encheram o coração das Testemunhas de Jeová
de fé e esperança. No entanto, tudo foi perdido. A frustação
levou muitos membros a se debandarem.

Dois anos depois, com a morte do presidente Nathan H.


Knorr, Frederick W. Franz assumiu a presidência.

E a Torre de Vigia ainda não aprendera a lição, pois


continuou a fazer profecias. Mais tarde, com base em
interpretações equivocadas de Daniel 11, foi profetizado que,
em 1991, a União Soviética invadiria país após país, até ao fim,
e obteria “o controle sobre os tesouros de ouro, de prata e de
357

todas as coisas preciosas deste mundo, comercializado e


materialista, inclusive sobre o petróleo”33. Mas, ao invés dela
fazer isto, foi extinta. Isto tornou impossível o cumprimento da
profecia.

Foi esperado também pela Torre de Vigia que a Vinda de


Cristo ocorreria no ano 2000. Várias publicações foram feitas
naquela época, dando esperanças a esta data3
34.
3

Mas Jesus não veio em 2000.

Durante um século de profecias erradas, a Torre de


Vigia adicionou mais outras ao rol. Trata-se do cumprimento
das palavras de Paulo:


Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que
lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto
à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (1Ts
5.3).

Sempre foi profetizada essa paz ao longo das épocas


anteriores, dizendo que a destruição seria repentina logo após.

33 Livro S e ja F e ita a T u a V o n ta d e n a T e rra , c a p ítu lo 11, 1 9 8 7 , p á g in a s 2 6 5 , 2 7 5


a 278 e 281.
34 T h e W a tc h to w e r, 1.° d e M a rço d e 1 9 8 4 , p á g in a s 18 -1 9 ; A S e n tin e la , 1.° d e
J a n e ir o d e 1 9 8 9 , p á g in a 12, p a rá g ra fo 8; A n u á rio d a s T e s te m u n h a s d e Je o v á ,
1 9 8 9 , p á g in a 3 , p a rá g ra fo 3.
358

Contudo, sempre que havia paz, e toda vez que era proclamada
paz mundial, nada acontecia em seguida. As datas para as
tentativas de cumprir esse versículo bíblico foram marcadas e
remarcadas em: 1899, 1914, 1918, 1936, 1940, 1945, 1975,
1984, 1986, 1988, 1991.35

No decorrer da história, cada vez que era prevista uma


data para o fim, as Testemunhas de Jeová eram movidas a
vender as suas casas, abandonar o curso de suas formações
educacionais e abdicar de ter filhos. A aparente iminência do
fim do mundo era crida com muita fé.

35 R e s p o s ta d e C h a rle s T aze R u ss e ll, n u m a s e s s ã o d e p e r g u n ta s e r e s p o s ta s


n u m c o n g re s s o e m 191 5 ; livro W h a t P a s to r R u s s e ll S a id , p á g in a 5 2 9 ; T h e
W a tc h T ow er, 0 1 d e ja n e iro d e 1 9 1 7 , p á g in a s 4 -5 ; T h e W a tc h T ow er, 0 1 d e
d e z e m b ro d e 1 9 1 7 , p á g in a 3 5 8 ; fo lh eto d e R u th e rfo rd : C h o o sin g R ic h e s o r
R u in ? , 193 6 ; livro d e R u th e rfo rd : E n e m ie s , 1 9 3 7 , p á g in a s 2 9 1 -2 9 4 ; T h e
W a tc h to w e r, 15 d e a g o s to d e 1 9 4 0 , p á g in a 2 4 6 ; T h e W a tc h to w e r, 0 1 d e
s e te m b ro d e 1 9 4 0 , p á g in a s 2 5 9 -2 6 0 , 2 6 5 -2 6 6 ; fo lh eto P e a ce - C a n It L ast? ,
1 9 4 2 , p á g in a 2 6 ; D e sp e rta i! d e 2 2 d e a b ril d e 1 9 7 3 , p á g in a s 4 e 9; livro:
A p ro x im o u -se o R ein o d e D e u s d e M il A n o s, 1 9 7 5 , p á g in a 3 6 5 ; A S e n tin e la , 15
d e ju lh o d e 1 9 8 2 , p á g in a 14; A S e n tin e la d e 15 d e n o v e m b ro d e 1 9 8 4 , p á g in a
6; A S e n tin e la d e 0 1 d e o u t u b r o d e 1 9 8 5 , p á g in a 18; V e rd a d e ira P a z e
S e g u r a n ç a - C om o P o d e rá E n c o n trá -la ? , 1 9 8 6 , p á g in a 8 5 ; A S e n tin e la , 15 d e
fev ereiro d e 1 9 8 6 , p á g in a 6; A S e n tin e la , 15 d e m a io d e 1 9 8 7 , p á g in a 19;
D e sp e rta i!, 8 d e a b r il d e 198 8 , p á g in a 14; D e sp e rta i! d e 8 d e d e z e m b ro d e
1 9 8 9 , p á g in a 2 4 ; A S e n tin e la d e 0 1 d e a b ril d e 1 9 9 0 , p á g in a 9; A S e n tin e la d e
15 d e a b ril d e 199 0 ; livro: O H o m e m e m B u s c a d e D e u s , 199 0 , p á g in a 3 7 1 .
359

Por exemplo, a respeito da data de 1975, a Torre de


Vigia publicou, com louvor, que seus fiéis até abdicaram de
bens materiais para se dedicarem exclusivamente ao serviço de
pioneiro:

“Sim, o fim deste sistema está muitíssimo próximo! Não é


isto motivo para aumentarmos nossa atividade?... Receberam-se
notícias a respeito de irmãos que venderam sua casa e
propriedade e que planejam passar o resto dos seus dias neste
velho sistema de coisas empenhados no serviço de pioneiro. Este
é certamente um modo excelente de passar o pouco tempo que
resta antes de findar o mundo iníquo” (O Ministério do Reino, de
julho de 1974, páginas 3 e 4).

Para disfarçar toda a derrota nas previsões falsas, as


publicações da Torre de Vigia foram sempre se atualizando,
criando novas edições modificadas e adulteradas. Tais edições
afirmam que todos os eventos previstos se cumpriram. Como
não podem mudar os fatos que ocorreram no mundo,
mudaram o teor das previsões, para que elas se adaptassem
aos fatos. Os profetas da Torre de Vigia sempre foram muito
bons em profetizar coisas que já aconteceram, mas nunca em
profetizar sobre o futuro.

Hoje em dia, as Testemunhas de Jeová são instruídas a


crer que a presença de Jesus começou em 1914 e que, desde
360

essa data, Ele é Rei “invisível” nos céus. Porém, antigamente,


elas acreditavam que a presença de Cristo invisível começou
em 1874, pois era o que Russell previra.

As Testemunhas de Jeová que se converteram nas


últimas décadas não sabem de nada da verdade acerca
destas profecias. Tudo o que elas conhecem sobre as datas de
1878, 1914, 1925 e 1975 é o que a Torre de Vigia quer que elas
saibam. Os livros eram apreendidos e reescritos vezes sem
conta, invariavelmente reeditados, sem que se reconhecesse ter
sido feita qualquer alteração36.

Se as Testemunhas de Jeová solicitarem à Torre de


Vigia material, ou livro, ou publicações antigas que vierem a
desabonar as profecias, é praticamente impossível
conseguirem. Elas só têm acesso a material novo e editado.

“De vez em quando, nos salões do Reino ou


pessoalmente, se recebem ofertas de particulares que animam a
adquirir publicações da Sociedade que já não se reim prim em
p o r diversas razões. Oferecem-se fotocópias ou CD-ROM e
quem assim procede o fa z sem autorização da Sociedade. Os
membros da congregação reconhecem que tem tudo o que
necessitam através do “escravo fiel e discreto” [escravo fiel e
discreto significa o Corpo Governante], o qual supre ‘o alimento

36 G eorge O rw ell, 1 9 8 4 (L isboa: E d iç õ e s A n tíg o n a , 1 991), p á g in a 4 6 .


361

no tempo apropriado’, por causas teocráticas estabelecidas


(Mateus 24:45-47)” (Ministério do Reino).

Além de não terem acesso a materiais antigos, as


Testemunhas de Jeová são proibidas de ler qualquer literatura
incriminatória, que seja contra sua religião37.

A Torre de Vigia tem o livre arbítrio para se arrepender


de seus erros proféticos a qualquer momento e descobrir que
errou. Isto já foi feito algumas vezes. Mas, se um membro
dessa seita chegasse a descobrir mesma coisa antes dela, seria
desassociado e considerado um condenado à morte eterna.
Ninguém tem o direito de descobrir que as profecias estão
erradas, senão os próprios falsos profetas. A Torre de Vigia
sempre tem razão, mesmo quando não tem razão. E é assim
que ela faz das Testemunhas de Jeová vítimas indefesas da
dominação mental.

37 A S e n tin e la , e d iç ã o n o r te - a m e r ic a n a , 0 1 d e m a io d e 1 9 8 4 , p .3 1 .
362
363

A Bíblia desclassifica estas profecias

Os erros da Torre de Vigia não foram meramente de


profetizar coisas que não acontecem. Porque, além de suas
profecias não baterem com a realidade, diferem também das
doutrinas bíblicas.

A Torre de Vigia assegura que, em 1914, Jesus foi


entronizado nos céus e passou a governar sobre os reinos do
mundo. Mas a Bíblia informa uma data bem anterior:

“Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono,


assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu
tro n o ” (Ap 3.21). “E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel
testemunha, o primogênito dos mortos e o p rín cip e dos reis da
terra. Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos
nossos pecados” (Ap 1.5). “Jesus, aproximando-se, falou-lhes,
dizendo: Toda a autoridade me f o i dada no céu e na te rra ”
(Mt 28.18).

Jesus já se assentara no trono desde quando venceu a


morte e foi assunto ao céu. Naquela época, Ele já se tornara
príncipe dos reis da Terra e já recebera toda autoridade no céu
364

e na Terra. Não tem como Jesus receber mais autoridade do


que “toda” autoridade. A palavra “toda” expressa que não falta
mais nenhuma autoridade a receber.

Isto se comprova ainda com o seguinte texto:

“Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras,


eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro
as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de
barro; assim como também eu recebi de meu Pai, dar-lhe-ei
ainda a estrela da manhã” (Ap 2.26-27).

Jesus declarou que já recebeu, no passado, autoridade


sobre as nações, para regê-las e para reduzi-las a pedaços (a
carta foi escrita em 96 d.C). Não faltava, pois, nenhuma
autoridade a receber.

Sendo assim, a informação dada às Testemunhas de


Jeová contraria a Bíblia em dois pontos o primeiro é que Jesus
já estava entronizado, e o segundo é que Ele já era o príncipe
dos reis da Terra e já tinha autoridade total sobre o céu e a
Terra. Isto ele não adquiriu só em 1874 ou em 1914.

A cúpula da Torre de Vigia se confundiu com o trecho


de Apocalipse 11.15-17, que diz que os reinos da Terra serão
do Senhor. Porque o texto se refere ao dia da vinda de Cristo,
365

quando ele encerrará o tempo dos gentios e estabelecerá o


Milênio:

“O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes


vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e
do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos. E os vinte
e quatro anciãos que se encontram sentados no seu trono,
diante de Deus, prostraram-se sobre o seu rosto e adoraram a
Deus, dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso,
que és e que eras, porque assumiste o teu grande poder e
passaste a reinar. Na verdade, as nações se enfureceram;
chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem
julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os
profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, tanto aos
pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem
a terra” (Ap 11.15-18).

As Testemunhas de Jeová dizem que Jesus só passou a


reinar em 1914, porque o texto bíblico afirma que Ele não
reinava antes.

Mas a revelação de Apocalipse não pode estar se


referindo ao ano 1914. Acompanhe o texto acima, para ver que
é isto o que ocorrerá quando, realmente, cumprir-se a profecia
de Apocalipse:
366

1) Os mortos serão julgados (Mas ainda houve o Juízo Final


em 1914).
2) O galardão será dado aos santos (Mas Os santos nem
sequer foram ressuscitados ainda. Quanto mais ter
recebido galardão em 1914?).
3) Serão destruídos os que destroem a Terra (Mas os ímpios
ainda vivem no planeta até hoje).

Se prestarmos bastante atenção, nenhuma destas três


coisas previstas em Ap 11.15-18 aconteceu em 1914. Tudo o
que houve foi uma guerra. Qualquer estudante da Bíblia que
tenha bom senso admitiria que estas três coisas só ocorrerão
no dia da vinda real de nosso Senhor.

Houve também outro equívoco quando a Torre de Vigia


mencionou que, em 1914, Jesus teve Seus inimigos debaixo de
Seus pés, como profetiza Hebreus 10.12,13.

Todavia, esta profecia bíblica também se refere ao


tempo do retorno de Jesus à Terra:

“E, então, virá o fim , quando ele entregar o reino ao


Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem
como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até
que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O últim o
inim igo a ser destruído é a m orte” (1Co 15.24-26).
367

De acordo com o trecho acima, quando Jesus terá seus


inimigos debaixo de Seus pés?

1) Quando vier o fim. Mas não houve fim em 1914.


2) Quando Ele tiver reinado até o dia em que haja posto todos
os inimigos debaixo dos pés. Isto significa que Ele já estava
reinando antes.
3) Quando Ele entregar o reino ao Deus e Pai, ou seja, depois
de já ter reinado.
4) Quando Ele houver destruído todo principado, potestade e
poder. Mas isto ainda não aconteceu até hoje.
5) No tempo em que a morte for destruída. Mas a morte não
foi destruída em 1914. Pelo contrário, teve um impulso
muito maior do que antes.

Todas estas coisas deverão acontecer no tempo em que


os inimigos de Jesus forem postos debaixo de seus pés.
Significa que nem precisaríamos examinar as outras partes das
Escrituras acerca disto, pois 1Co 15.24-26 já é suficiente para
entendermos que a profecia se refere ao futuro do nosso tempo,
e não a uma data passada.

A Torre de Vigia possui um conjunto de falsos profetas


que, desde o princípio, tem previsto fatos que não se
realizaram. O pior de tudo é que esses falsos profetas
368

asseguraram estar falando em nome de Deus, e obrigaram


todos os membros a acreditarem em suas palavras.

No entanto, não foi o Senhor quem lhes deu tais


profecias. Se admitíssemos isto seria o mesmo que afirmar que
Deus erra ou mente. Porém, sabemos que Ele nunca erra,
tampouco mente. Quando Deus fala, acontece:

“Sabe que, quando esse profeta falar em nome do


SENHOR, e a palavra dele se não cumprir, nem suceder, como
profetizou, esta é palavra que o SENHOR não disse; com
soberba, a falou o tal profeta; não tenhas temor dele” (Dt 18.22).

Se a profecia não se cumprir, significa que o profeta não


falou por Deus. É um falso profeta. A Torre de Vigia profetizou
em nome de Deus, assegurando que era Jeová quem lhe falava,
mas nada do que ela profetizou se cumpriu. Neste caso, deveria
cair toda a confiança que as Testemunhas de Jeová têm em
sua liderança, pois está provado que ela não é ungida de Deus.

“Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando


grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os
próprios eleitos” (Mt 24.24).

Esta profecia está sendo cumprida desde o final do


século XIX, quando se levantou Charles Taze Russell, o
primeiro dos falsos profetas da Torre de Vigia. Eles possuíam
369

as caraterísticas adequadas a falsos profetas, visto que falavam


em nome de Deus e que não se cumpria o que falavam. Porque
as profecias não eram tidas apenas como opinião particular e
sujeita a falhas dos teólogos, mas eram atribuídas ao
Altíssimo, como se Ele as tivesse proferido pessoalmente,
transmitindo a informação ao Corpo Governante, para que este
repassasse aos fiéis.

Quando Jesus estava prestes a subir às nuvens, disse


aos discípulos que aguardassem o cumprimento da promessa
de receberem o Espírito Santo. Na ocasião, foi interrogado se
naquele dia também seria restaurado o reino a Israel:

“Então, os que estavam reunidos lhe perguntaram,:


Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel?
Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou
épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade” (At
1.6,7).

Ponto final. Ninguém deve ficar calculando datas,


tentando adivinhar o dia do Reino de Cristo, pois não nos
compete conhecer tempos e épocas que o Pai reservou para
Sua exclusiva autoridade.

E, se Jesus disse que virá num dia em que ninguém O


espera, certamente não virá em nenhuma data prevista por
370

alguém, pois neste dia Ele seria esperado. Este conceito


também determina que um verdadeiro servo de Jesus não
tentaria predizer tal data, uma vez que a mesma tem que ser
inesperada. Partindo por este caminho, a Torre de Vigia
desencarrilha sua teoria, desviando-se dos padrões bíblicos, os
quais não possibilitam a previsão da chegada do Senhor Jesus.

Analisemos as palavras do próprio Mestre:

“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem


os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36).

Ninguém conhece o dia da vinda do Senhor. Nisto a


doutrina das Testemunhas de Jeová não se enquadra, pois
sempre tentou profetizar a data. O verdadeiro cristão, por sua
vez, não tem a ciência da data da vinda de Cristo, pois sabe
que tal dia virá de surpresa, assim como o dia do ladrão. Jesus
apenas nos deu algumas dicas, informando os sinais que
precederão Sua vinda. Com estes sinais, temos uma noção
distante de em que época aproximada Jesus voltará. Não são
sinais que nos permitem prever com precisão a data, assim
como a previsão que têm os líderes das Testemunhas de Jeová.
O dia da volta do Senhor é um segredo Divino.

Ninguém sabe qual será o dia, nem mesmo os anjos do


céu. Se a data fosse possível de ser prevista por cálculos
371

matemáticos, os anjos não teriam descoberto já há vários


milênios? Porém, nem os anjos, que são superiores aos
humanos em entendimento, puderam prever os movimentos de
Deus pelo simples cálculo de números bíblicos. Significa que a
resposta não está na matemática. Todavia, uma classe de
cristãos mal intencionados não cessa de tentar descobrir aquilo
que o próprio Cristo não sabia naquela época, aquilo que Ele
afirmou ser um segredo Divino. Quanta presunção!

E o erro dessa proposta é bilateral. Porque a Torre de


Vigia, além de conseguir identificar a data, tem também a
plena convicção de que ela não está iminente nos dias
distantes da data prevista. Em outras palavras, as
Testemunhas de Jeová acreditam que Jesus, com certeza, não
voltará na época que não foi prevista.

Esta é mais outra divergência com o texto bíblico, que


prossegue advertindo que o Dia do Senhor é imprevisível, e que
pode acontecer a qualquer momento:

“Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o


vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse
a que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse
arrombada a sua casa. Por isso, ficai também vós apercebidos;
372

porque, à hora em que nao cuidais, o Filho do Homem virá” (Mt


24.42-44).

A Bíblia nos ensina que devemos esperar o Dia de


Cristo, como se espera um ladrão, pois ambos virão em dia
inesperado. Ou, qual o sentido de Jesus comparar Sua vinda
com a de um ladrão? Qual o único objetivo possível que Ele
poderia querer atingir fazendo essa comparação? Sabemos que
nenhuma semelhança há entre Jesus e um ladrão, exceto,
naturalmente, que a vinda de ambos é inesperada. O Dia de
Cristo surpreenderá os menos preocupados e lhes será como
um laço. A própria necessidade de vigiar já demonstra o
quanto é inesperada a vinda de Cristo. Pelo que Jesus associou
o verbo “vigiar” à prevenção da chegada do ladrão.

Mas, supondo que todos os ladrões avisassem antes de


entrarem numa casa, ocorreriam alguns efeitos colaterais. O
primeiro seria que todos os cidadãos se protegeriam e não
permitiriam que fossem roubados.

Por outro lado, como nenhum ladrão avisa que vai


arrombar uma casa, muitos não se previnem, e não protegem
sua casa da chegada dele. É o que inegavelmente acontece com
as Testemunhas de Jeová. Elas têm a certeza de que o Senhor
não voltará em breve, pois a dada prevista não é hoje.
373

“Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual


os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se
desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela
existem serão atingidas” (2Pe 3.10). “Lembra-te, pois, do que
tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se
não vigiares, tirei como ladrão, e não conhecerás de modo
algum em cue hora virei contra ti” (Ap 3.3). “Eis que venho como
vem o ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as
suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua
vergonha” (Ap 16.15).

Se o Senhor vem inesperadamente como o ladrão,


temos que estar precavidos e preparados para qualquer
momento. Como diz a Bíblia, devemos vigiar, e não dormir:

“Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há


necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais
inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão
de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que
lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto
à qpe está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. Ma.s
vós, irmãos, não estais em trevas, para qpe esse Dia como
ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois flh os
da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas.
Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário,
374

vigiemos e sejamos sóbrios” (1Ts 5.1-6). “Acautelai-vos por vós


mesmos, para que nunca vos suceda que o vosso coração fique
sobrecarregado com as consequências da orgia, da embriaguez
e das preocupações deste mundo, e para que aquele dia não
venha sobre vós repentinamente, como um laço. Pois há de
sobrevir a todos os que vivem sobre a face de toda a terra.
Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de
todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na
presença do Filho do Homem” (Lc 21.34-36).

No mesmo texto em que Jesus disse que ninguém sabe


o dia de Sua vinda, e que Seu dia será como o dia do ladrão,
fez também outra advertência:

“Pois assim como foi nos dias de Noé, também será a


vinda do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias
anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e davam-se em
casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não o
perceberam, senão quando veio o dilúvio e os levou a todos,
assim será também a vinda do Filho do Homem” (Mt 24.37-39).

Os homens não perceberam quando Noé entrou na


arca, e a chuva lhes caiu de surpresa. Assim também será a
vinda de Cristo para os que estiverem dormindo.
375

Em Mateus 25.1-13 Jesus ensina estarmos preparados


para a Sua volta repentina e inesperada. Para isto, ilustrou
com a parábola das dez virgens, das quais cinco eram
prudentes e cinco néscias. No final Ele disse:

“Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora” (Mt


25.13).

E outra parábola contou o Mestre, para reforçar essa


ideia:

“Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis


quando será o tempo. É como um homem que, ausentando-se do
país, deixa a sua casa, dá autoridade aos seus servos, a cada
um a sua obrigação, e ao porteiro ordena que vigie. Vigiai, pois,
porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à tarde, se à
meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã; para que, vindo
ele inesperadamente, não vos ache dormindo. O que, porém, vos
digo, digo a todos: vigiai!” (Mc 13.33-37).

Só o fato dos versículos ilustrarem que existem pessoas


dormindo, sem estarem preparadas para a vinda de Cristo, é o
suficiente para contrariar a doutrina da Torre de Vigia, a qual
afirma que, na volta de Jesus, todos os vivos estarão
376

preparados automaticamente, por causa da previsão da data.


Ninguém estará dormindo, segundo a Torre de Vigia.

O Corpo Governante tem disposição e muita habilidade


para distorcer, moldar e deturpar algum versículo bíblico que
não lhe apoie. No entanto, o que poderá fazer diante de
tamanho arsenal de textos e contextos, que confirmam a
mesma coisa de forma congruente?

O erro de não crer na iminência da volta de Cristo


produz sérias consequências. A mais importante é a não
necessidade de vigiar. As Testemunhas de Jeová do século
passado, nem vigiavam no dia chamado “hoje”, nem pregavam
que o homem precisa se converter “hoje”. Não ensinavam aos
fiéis, nem aos pagãos, que o tempo está próximo, pois o dia da
vinda de Jesus se aproxima. Não ensinavam que Jesus pode
voltar a qualquer momento e que, por esta razão, devemos
estar preparados para o “hoje”. Uma Testemunha de Jeová
nunca pregava para ficarmos atentos à volta do Senhor, pois
elas já sabiam qual era a data exata. E isto diferencia sua
atitude dos ensinamentos bíblicos gerais.

Em suma, as Testemunhas de Jeová tinham a previsão


precisa do dia da volta de Cristo. Para elas, bastava ficarem
atentas ao dia em que foi previsto, que saberiam o dia exato,
377

ou pelo menos, o mês exato. Enquanto isso não ocorresse, não


tinham necessidade alguma de vigiarem, pois não havia o risco
de serem surpreendidas pela vinda inesperada de Cristo.

A ideologia do verdadeiro cristão deve ser:

“Viva o dia de hoje como se ele fosse o último”.

Isto só traz benefícios para a alma e para todos os que


nos rodeiam. Aquele que trata o seu próximo e seus familiares
como se fosse o último dia, tem redobrado amor e dedicação. O
verdadeiro cristão teme cair no pecado e sucumbir diante
vinda repentina de Cristo. Já as Testemunhas de Jeová, que
conhecem o dia a vinda do Senhor, podem sentir-se à vontade
para “espancar os empregados”, caso queiram:


Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor
confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo?
Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor, quando vier,
achar fazendo assim. Em verdade vos digo que lhe confiará
todos os seus bens. Ma.s, se aquele servo, sendo mau, disser
consigo mesmo: Meu senhor demora-se, e passar a espancar os
seus companheiros e a comer e beber com ébrios, virá o senhor
daquele servo em dia em que não o espera e em hora que não
378

sabe e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali


haverá choro e ranger de dentes” (Mt 24.45-51).

E não deixemos passar desapercebida a pergunta que


Jesus fez no início da parábola:

“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o senhor


confiou os seus conservos para dar-lhes o sustento a seu
tempo?” (Mt 24.45).

O Corpo Governante se intitula o servo fiel e prudente


desta parábola (“escravo fiel e discreto”, na versão bíblica da
Torre de Vigia). Russell, fundador da seita, acreditava que a
parábola acima era uma profecia e que se cumpre nele. Russell
entendia que ele era o escravo fiel e discreto. Errou nos dois
lados: nem a parábola é uma profecia, tampouco o
cumprimento se deu nele.

Entre 1896 e 1927, a Torre de Vigia ensinava que


Russell era esse escravo da parábola38. Porém, em 1927,

38 Z io n 's W a tc h T o w er, 1.° d e m a rç o d e 1 8 9 6 , p. 194 6 ; S tu d ie s in th e


S c rip tu re s , vol. 1, e d iç õ e s d e 1 9 2 4 -1 9 2 7 , p. 7; vol. 4 , p. 6 1 3 ; vol. 7 , p. 3, 5,
4 1 8 , 4 2 2 ; T h e W a tc h T o w er, 1.° d e m a rç o d e 1 9 1 7 , p. 6 0 4 9 ; H a rp o f G od, 1921,
p. 2 2 9 .
379

Rutherford passou a dizer que escravo fiel e discreto era a


Sociedade Torre de Vigia, e não a pessoa de seu fundador39.

Mas, na prática, o Corpo Governante age de forma


contrária. Segundo a parábola, quem é o servo fiel? Aquele que
se prepara para uma data prevista e catalogada, ou aquele que
se prepara para o presente, para o “hoje”? Se, por exemplo, a
vinda de Cristo estiver profetizada para ocorrer daqui a dez
anos, uma Testemunha de Jeová não teria a menor
necessidade de se preparar hoje. Ela poderia espancar os seus
companheiros, acreditando que o Senhor não voltará agora,
mas somente daqui a dez anos. Assim, quando a data estiver
mais próxima, a Testemunha de Jeová pode se purificar e se
preparar.

Mas observem que a parábola não dá razão ao servo


que julga ser tardia a volta de seu senhor, mas àquele que não
sabe o dia de sua volta. Desta feita, se o Corpo Governante
quiser merecer o título de servo fiel e prudente, tem que
abandonar as tentativas de prever o dia em que seu Senhor
voltará. O verdadeiro escravo fiel e discreto é o que desconhece
o dia da volta de seu Senhor, e não aquele que prevê datas

39 T h e W a tc h T o w er, 15 d e fev ereiro d e 1 9 2 7 , p. 56; A p ro x im o u -se o R ein o d e


D e u s d e Mil A n o s, 1 9 7 5 , p. 3 4 6 ; livro T e s te m u n h a s d e J e o v á - P ro c la m a d o re s
d o R eino d e D e u s , 1 9 9 3 , p. 143.
380

para Ele chegar. As Testemunhas de Jeová interpretaram


errado, portanto.

Pudemos constatar acima que existem várias


referências bíblicas que informam que ninguém sabe o dia da
volta de Jesus. Desta feita, está definitivamente provado que
Ele não voltará numa data prevista, pois, neste caso, todos
saberiam.

A data daquele dia continua sendo um mistério para


nós, sendo-nos disponibilizado apenas o conhecimento de
alguns sinais que nos dão vaga noção de proximidade.
Qualquer especulação que vá além disto vem do maligno.
381

TRANSFUSÃO DE SANGUE

Transfusão de sangue é um dos milhares de benefícios


da medicina moderna. Deus permitiu e abençoou que
cientistas descobrissem a cura para várias doenças, permitiu a
evolução da ciência de transplantes de órgãos, da descoberta
de vacinas, antibióticos e outros. Todos os benefícios tragos
pela medicina são aprovados por Deus, desde que tenham
como objetivo salvar vidas sem prejuízo de outras vidas. Desta
forma, os médicos são verdadeiros encarregados de Deus,
responsáveis pela cura das doenças e pela prevenção da vida.

A cura Divina se manifesta, não apenas de forma


sobrenatural e milagrosa. Também ocorre pelas mãos dos
médicos, através de bênçãos de Deus. Quando alguém ora ao
Pai, pedindo pela restauração da saúde de alguém, Deus
atende a oração usando a medicina humana como ferramenta.
Ele quer que façamos nossa parte de enviar o doente ao
hospital, e não apenas que oremos por sua recuperação. Se
não o fizermos, seremos culpados de sua eventual morte.

“Visto ser tão sério absorver sangue no organismo


humano por meio de uma transfusão, faria a violação das
382

Sagradas Escrituras neste respeito que o dedicado e batizado,


que recebesse uma transfusão de sangue, ficasse sujeito à
desassociação da parte da congregação cristã? As Escrituras
Sagradas respondem que sim. ...quem recebe uma transfusão
de sangue precisa ser cortado do povo de Deus pela
excomunhão ou desassociação. Se a aceitação duma transfusão
de sangue fo r a primeira ofensa dum cristão dedicado e
batizado, devido à sua falta de madureza ou falta de
estabilidade cristã, e ele compreender o erro de sua ação e se
lamentar e arrepender dela, pedindo o perdão divino e o perdão
da congregação de Deus na terra, então se deve usar de
misericórdia com ele e ele não precisa ser desassociado. Precisa
ser posto sob observação e ser instruído cabalmente pelas
Escrituras sobre este assunto, sendo assim ajudado a adquirir
força para fazer decisões segundo as normas cristãs, em
qualquer caso futuro. Se ele, porém, se negar a reconhecer que
não se está harmonizando com a exigida norma cristã... ele
precisa ser cortado dela por ser desassociado” (A Sentinela, 1
de Dezembro, 1961, págs. 735-736).


Queriam saber o qpe aconteceria se uma Testemunha
de Jeová vacilasse e aceitasse a transfusão de sangue. Seria
rejeitada pela comunidade das Testemunhas de Jeová? Isso iria
depender da situação, porque a desobediência à lei de Deus com
certeza é um assunto sério, a ser examinado pelos anciãos da
congregação... Não há dúvida de que a Testemunha de Jeová
383

nessa situação se sentiria muito mal e estaria preocupada com


sua relação com Deus. Essa pessoa talvez necessite de ajuda e
compreensão. A ordem bíblica é clara e não abre espaço para
soluções conciliatórias. (Atos 15:28, 29) Violar essa lei divina é
tão inaceitável para uma Testemunha de Jeová quanto tolerar
idolatria ou fornicação” (A Sentinela, 15 de Fevereiro, 1997,
pág. 20).

“Quão energicamente deve o cristão resistir a uma


transfusão de sangue que lhe seja ordenada ou autorizada por
um tribunal? ... Caso se peça que o cristão submeta-se a algo
que seria uma violação da lei de Deus, que é mais elevada, a lei
divina vem em primeiro lugar; ela tem primazia.. ... A mais
elevada lei do universo — a lei de Deus — exige que os cristãos
se abstenham de sangue... A lei de Deus tem de ser obedecida!”
(A Sentinela, 15 de Junho, 1991, pág. 31).

“Se você tem filhos, tem certeza de que eles concordam


com a posição bíblica a respeito de transfusões e sabem explicá-
la? Creem realmente que esta posição seja a vontade de Deus?
Estão convencidos de que violar a lei de Deus seria tão sério que
poria em risco a perspectiva de vida eterna do cristão? Pais
sábios recapitularão esses assuntos com os filhos, sejam eles
bem jovens, ou mesmo quase adultos. Os pais poderão realizar
sessões práticas em que cada filho ou filha enfrente perguntas
384

que possam ser feitas por um juiz ou por uma autoridade


hospitalar” (A Sentinela, 15 de Junho, 1991, pág. 18).

As Testemunhas de Jeová são proibidas de doar e de


receber sangue. São levadas a crer que isto lhes tiraria a
comunhão com Deus, e as tornaria inimigas dEle. Desta forma,
preferem elas perder a vida material, para poupar a espiritual.
Mas, principalmente, trazem consigo o medo da Organização,
pois sabem que todos os que aceitarem transfusões serão
expulsos, execrados e desprezados. A Torre de Vigia não perdoa
quem faz tal procedimento, exceto se manifestar clara prova de
arrependimento.

Um fato curioso é que os médicos Testemunhas de


Jeová podem realizar transfusões de sangue em pacientes que
não são da religião deles. Onde está a ética disto? Se uma coisa
é pecado para uns, não o é para outros? Se alguém abandona
seus ídolos e estátuas do catolicismo, pode dá-las a outro? Se
alguém não come um veneno, pode transferi-lo a outra pessoa?
É claro que não.

Da mesma maneira, se a transfusão for considerada


pecado pelas Testemunhas de Jeová, não deve ser feita nem
mesmo em pessoas pagãs. Do contrário, o médico peca, visto
que é o autor da transfusão e que conduz seus pacientes ao
pecado.
385

Este capítulo é apenas um resumo sobre a questão da


legalidade das transfusões de sangue. Não discorreremos sobre
detalhes de todas as resoluções da Sociedade Torre de Vigia,
nem de todas suas manifestações nas revistas Despertai! e A
Sentinela.
386
387

Termo de responsabilidade

Os novos membros das Testemunhas de Jeová, logo que


se convertem, são obrigados a assinar um tipo de contrato
específico apenas sobre o assunto de transfusão de sangue.
Funciona como um termo de responsabilidade. Possui cinco
páginas e traz o título:

“Diretrizes antecipadas relativas a tratamentos de saúde


e outorga de procuração”.

É composto de duas partes. A parte 1 deixa claro para


os médicos a firme decisão e exigência do religioso de não
aceitar transfusões, nem fazer doações de sangue. Ele não
pode sequer doar para si mesmo, armazenando seu próprio
sangue para ser utilizado durante ou após a cirurgia.

De acordo com a Torre de Vigia, o sangue não pode ser


transferido integral, nem em partes, separando componentes
como plasma, glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
plaquetas. A religião proíbe a transfusão de quaisquer destes
componentes.
388

Porém, quanto a frações de cada um dos quatro


componentes, fica a cargo da decisão do fiel. Há um espaço no
contrato para o preenchimento do outorgante, onde ele
descreverá o que ele aceita e o que não aceita das frações.

Com esta assinatura, o religioso pretende atestar aos


profissionais de saúde que é responsável pelas consequências
que isto pode causar a si mesmo, ainda que seja a morte. A
decisão é firme e permanece sólida, ainda que desaprovada por
todos os seus familiares e amigos.

Na parte 2, o contrato nomeia dois procuradores,


conferindo-lhes o direito de decisão pelo paciente, em caso da
incapacidade do mesmo de falar por si próprio. Estes serão
dois capetas decretados, que farão de tudo, atravessarão terra
e mar, para impedir transfusões àquele que lhes deu esta
procuração. Lutarão contra médicos e contra todos os
familiares e amigos do paciente, sem descanso, para garantir
que a vontade do mesmo seja feita.

Os procuradores, além de terem os poderes de decidir


sobre qualquer assunto de saúde que não esteja contemplado
no contrato, possuem autoridade para contratar, ou dispensar
os médicos que farão o tratamento. Podem hospitalizar, ou
pedir alta de qualquer hospital. São eles que decidem sobre
todos os aspectos da saúde do outorgante, quando este não
389

possuir a capacidade de fazê-lo sozinho. Podem conceder


termos de isenção de responsabilidade, quando necessários.
Têm o direito de contratar advogados que defendam a vontade
do outorgante de não fazer transfusões.

Por fim, o documento é assinado por duas testemunhas


que não são os procuradores. Estes, por sua vez, têm cópias
autenticadas do contrato, para que possam apresentá-las a
qualquer momento.

No hospital, os familiares recebem visitas regulares dos


anciãos (pastores) Testemunhas de Jeová, os quais os
pressionam a resistir firmes à vontade de fazer transfusão.
Muitas vezes, tais anciãos constrangem os pais, incitando-os a
tirar seus bebês do hospital, desobedecendo assim às regras
diretrizes do hospital e às normas jurídicas a elas atreladas.
390
391

Vacinas e transplantes de órgãos

Antes de começarmos a tratar sobre as transfusões, é


importante termos uma base acerca de assuntos correlatos, a
saber: as vacinas e os transplantes de órgãos.

Houve um tempo em que até mesmo as vacinas eram


proibidas. Em 1921, a revista que, após mudar de nome várias
vezes, é conhecida hoje no Brasil como Despertai!, publicou
nota para que os fiéis rejeitassem as vacinas. A revista taxou a
vacina como prática demoníaca e bárbara.

“A vacina nunca evitou coisa alguma e nunca o fará, e é


a prática mais bárbara... Estamos nos últimos dias e o diabo
está fazendo, no ínterim,, um esforço estrênuo para causar todo o
dano que puder e é a ele que devemos atribuir tais males... Use
seus direitos de cidadão americano para abolir para sempre a
prática demoníaca da vaána” (The Golden Age, 12 de outubro
de 1921, página 17).

Este foi apenas o começo, pois a guerra contra as


vacinas continuou sendo travada por três décadas.
Inicialmente era proibido porque, segundo a Sociedade Torre
392

de Vigia, as vacinas são uma “porcaria manufaturada” oriunda


de animais, que “poluem” a humanidade.

“Pessoas ponderadas preferiríam ter varíola em vez de


serem vacinadas, porque as vacinas propagam as sementes da
sífilis, cancros, eczema, erisipelas, escrófula, tuberculose, até a
lepra e muitas outras doenças nojentas. Portanto, a prática da
vacinação é um crime, um ultraje, e um engano” (Golden Age, 5
de Janeiro de 1929, p. 502).

Para a Torre de Vigia, as vacinas eram uma prática


diabólica, a qual foi permitida por Deus por causa do pecado
da humanidade. As vacinas eram consideradas um dos sinais
dos fins dos tempos. A Sociedade tenta se fundamentar na
passagem bíblica de Levítico 18.23,24, que diz para homens
não se deitarem com animais. Por alguma razão, ela entendeu
que a vacina contamina o homem com animais, assim como
aquele que se deita com um.

Posteriormente, o motivo da proibição das vacinas foi o


fato delas possuírem componentes derivados do sangue. Era
inaceitável misturar o sangue humano com o animal. Naquela
época as transfusões ainda não eram proibidas. Tal proibição
só ocorreu no final dos anos quarenta, pela mesma alegação
que condena as vacinas: o sangue.
393

“Visto que a vacina tornou-se tema de debate, não posso


refrear-me de escrever a respeito deste grande mal. A lei da
vacina não é uma lei justa.. Todos os pais e mães devem ter o
direito de dizer o que deve ser feito aos corpos de seus próprios
filhos; assim,, a lei da vacina reduz pais e mães à condição de
meros escravos, situação quase tão ruim quanto a das pessoas
de cor, quando seus filhos eram postos em exibição e vendidos.
Em muitos casos de venda de escravos, sequer se permitia aos
pais derramar lágrimas” (The Golden Age, de 4 de fevereiro de
1931, p. 293).

O argumento era que a vacina representa uma violação


do pacto “eterno” que Deus fez com Noé após o dilúvio. E se
fundamenta no nono capítulo de Gênesis:

“A vacina é uma violação direta do pacto eterno qpe Deus


fez com Noé após o dilúvio. Em Gênesis 9:1-17, lemos...”

Entretanto, sabemos que este capítulo bíblico não


possui qualquer relação com vacinas. Para constatar isso,
basta fazer uma leitura simples, honesta e sem ideias
preconcebidas.

Mas, em 1952, foi lançada a revista que, no Brasil, é


chamada de A Sentinela. Ali constam as primeiras orientações,
deliberando aos fiéis o direito de escolherem sobre o que era
melhor para eles acerca das vacinas. A Organização não quis
394

determinar proibição, nem se responsabilizar por qualquer


dano que o não uso das vacinas pudesse causar. “Reconheceu”
expressamente que as vacinas não são uma violação do pacto
eterno feito com Noé. Todavia não assumiu que, desde os anos
20, haviam pregado contra o que pregam hoje.

Mas como demoraram a fazer esta publicação! Quantas


pessoas morreram por falta de vacina nessas três décadas de
ignorância? Bom, pelo menos, a Torre de Vigia reconheceu o
seu erro, embora não admita culpa.

Hoje a maioria das Testemunhas de Jeová não sabe que


as vacinas eram proibidas pela Organização, nem desconfia
que o Corpo Governante é capaz de errar.

Antigamente, a religião proibia até transplantes de


órgãos, alegando que a prática se constitui em canibalismo.
Em 1967 e em 1968, a revista A Sentinela proibiu cabalmente
o transplante de órgãos, afirmando que Jeová não aprova a
introdução no homem de carne de outro homem, seja por via
oral, ou por qualquer outra. Taxou até de canibalismo, como se
um órgão transplantado fosse digerido, servido de alimento ao
corpo.

Falando acerca da permissão de Deus para matar e


comer animais, reportou-se a Torre de Vigia:
395

“Será que isto incluía comer carne humana, sustentar a


vida duma pessoa por meio do corpo ou de parte do corpo de
outro humano, vivo ou morto? Não! Isso seria canibalismo,
costume repugnante a todas as pessoas civilizadas [...] Aqueles
que se submetem a tais operações vivem às custas da carne de
outro humano. Isso é canibalesco [...] Não obstante, ao permitir
que o homem comesse carne animal, Jeová Deus não deu
permissão para os humanos tentarem perpetuar suas vidas por
receberem canibalescamente em seus corpos a carne humana,
quer mastigada quer na forma de órgãos inteiros ou partes do
corpo, retirados de outros” (A Sentinela 1° de junho de 1968, p.
349, 350).

“Não devem ser despercebidas as questões religiosas e


bíblicas envolvidas. Há aqueles, como as testemunhas cristãs de
Jeová, que consideram todos os transplantes entre humanos
como canibalismo; e não é canibalística a utilização da carne de
outro humano em benefício da vida da própria pessoa? [...]
Todavia, as testemunhas de Jeová se opõem em sã consciência
a todos os transplantes como sendo mutilação desnecessária de
seus corpos criados por Jeová, e puro canibalismo” (Despertai! 8
de dezembro de 1968, p. 22, 30).

Mas, em 1980, a mesma revista publicou a permissão


para os transplantes, reconhecendo que a Bíblia não fornece
396

base para crermos que é pecado um homem receber tecido de


outro homem.

Durante esse tempo, algumas Testemunhas de Jeová


faleceram pela recusa de transplantes. Como a Torre de Vigia
espera responder aos familiares daqueles que foram mortos por
causa desta prática? Tentar pedir desculpas não vai adiantar
(se bem que a Torre de Vigia nunca pediu desculpas), assim
como não adiantou nada a igreja Católica ter pedido desculpas
pela Inquisição. Antes a igreja achava que tinha o apoio de
Deus para matar os “hereges”. Hoje descobriu que esta não é a
vontade de Deus. Mas a retratação que fez não trouxe de volta
as vidas perdidas.

Isto nos leva ao ponto que deve ser colocado em


evidência: as contradições da Sociedade Torre de Vigia. Ela se
diz porta-voz de Deus e afirma ser infalível, confiável,
iluminada. Mas, por ventura, foi Deus quem disse, através do
Corpo Governante, que as vacinas eram diabólicas e que eram
proibidas? Se foi realmente Deus, por que se retratou
posteriormente? Deus não pode errar, mas humanos falhos
sim. Quando o Corpo Governante publica suas normas e seus
ensinamentos, não pode estar falando em nome de Deus. Suas
publicações não devem ter força de argumento igual ou
superior à Bíblia. É mister que a Torre de Vigia nunca erre,
para provar que está sendo divinamente orientada. Mas, como
397

há erros e contradições, logo não é Deus quem fala na boca de


seus líderes.
398
399

Erros científicos escandalosos

No passado a igreja Católica cometeu erros científicos,


alegando que o sol gira em torno da Terra. Isto prova que não
existe infalibilidade papal. A mesma coisa aconteceu com a
Torre de Vigia ao longo dos anos. Além de todas as
discrepâncias de que já falamos acima, a Sociedade já publicou
ensinamentos com vários erros científicos, no tocante a
vacinas, transplantes, sangue e outros.

A Torre de Vigia afirmava ser o coração o centro onde


se localizam, literalmente, os sentimentos e certas vontades
humanas. Pasmem, pois foi isto mesmo o que eu disse. Veja:

“A maioria dos psiquiatras e dos psicólogos tende a


categorizar demais a mente e admite pouca ou nenhuma
influência do coração carnal, considerando a palavra “coração”
apenas como figura de retórica, à parte de seu emprego na
identificação do órgão que bombeia nosso sangue. [...] O coração
é uma bomba muscular de projeção maravilhosa, mas, o qpe é
ainda mais significativo, estão incluídas nele nossas
faculdades em ocionais e motivadoras. O amor, o ódio, o
desejo (bom e mau), a preferência de alguma coisa dentre outra,
400

a ambição, o medo -- de fato, tudo o que serve para nos motivar


com relação às nossas afeições e aos nossos desejos se
origina do coração” (A Sentinela, 1.° de Setembro de 1971, p.
518).

É natural compreendermos que todas as vontades e


sentimentos estão no cérebro, e não no coração. Quando se diz
coração, para relacionar com os desejos da alma, está-se
fazendo uma metáfora. Não devemos entender literalmente que
a Bíblia ensina que o coração é o órgão pensante. Mas era nisto
que as Testemunhas de Jeová tinham a obrigação de crer
naquela época.

“É significativo que os pacientes de transplantes de


coração, quando se lhes cortam os nervos de ligação entre o
cora,ção e o cérebro, têm sérios problem as emocionais depois
da operação. O novo coração ainda é capaz de funcionar como
bomba, visto que tem a sua própria fonte de energia e um
mecanismo para marcar o passo independente do sistema
nervoso geral, para darem impulsos ao músculo cardíaco, mas
assim como então reage apenas vagarosamente às influências
externas, o novo coração, por sua vez, também registra poucos
ou nenhum fatores claros de motivação no cérebro. Ainda não é
claro até que ponto as terminações nervosas do corpo e do novo
coração podem estabelecer contato, com o tempo, mas isto não
pode ser excluído como um dos diversos fatores que causam
401

sérias aberrações mentais e desorientação observadas nos


pacientes de transplante de coração, segundo relatam os
médicos [...] Estes pacientes têm para seu sangue bombas
supridas por doadores, mas possuem eles então todos os fatores
necessários para se dizer que têm um “coração”? Uma coisa é
certa, que, ao perderem seu próprio coração, tirou-se lhes as
faculdades de “coração” desenvolvidas neles com o decorrer dos
anos e que contribuíram a torná-los a personalidade que eram”
(A Sentinela, 1.° de Setembro de 1971, p. 519).

Todos os argumentos e artifícios foram utilizados pela


Torre de Vigia para tentar, o máximo possível, inculcar na
cabeça das Testemunhas de Jeová que era prejudicial aceitar
transplantes de órgãos, assim como utilizou até métodos
antiéticos para condenar as vacinas. As publicações da Torre
de Vigia sempre fizeram exposição de pontos negativos das
vacinas e dos transplantes, como faz até hoje com as
transfusões. Uma dessas técnicas foi ensinar que um
transplante de coração pode mudar até mesmo o caráter e a
personalidade da pessoa, tornando-a outra diferente.

Na página 524 da mesma publicação acima, consta:

“Para ilustrar isso, suponhamos que chega a ocasião em


que tenha de decidir-se a comprar um terno ou um vestido novo.
Primeiro, a mente é confrontada com certos fatos. Talvez a roupa
402

velha já tenha perdido a utilidade ou há necessidade duma


mudança por outro motivo bom. O coração também entra nesta
questão, visto que há o desejo, no coração, de ter aparência
mais apresentável. O coração e a mente estão de acordo, de
que se compre um novo vestido ou um novo terno. A mente reúne
então informações sobre os preços, a qualidade, o estilo e assim
por diante, para que, quando fo r fazer a compra, tenha uma boa
ideia sobre que terno ou vestido comprar. Ma.s quando chega à
loja, encontra na vitrina algo que atrai muito o olhar, à espera
dum comprador impulsivo. Não é realmente prático para sua
pessoa; envolve muito mais dinheiro; é bastante avançado na
moda; mas quanto agrada ao coração! “É o deleite do
coração!” O que se fará então? Que decisão será tomada? Será
uma decisão prática, racional, ou uma segundo este novo desejo
do coração? Se não tiver muito cuidado, o coração se sobreporá
à mente” (A Sentinela, 1.° de Setembro de 1971, p. 524).

Observe que técnicas de persuasão procuram, de todas


as maneiras, dominar o pensamento das pessoas. A Torre de
Vigia tira o direito de seus fiéis de raciocinarem por si,
impondo como lei sua própria maneira de crer.

“Um fator peculiar às vezes notado é o chamado


‘transplante de personalidade'. Quer dizer, em alguns casos,
o recebedor parece adotar certos fa tores da personalidade
daquele de quem procedeu o órgão. Certa jovem promiscua,
403

que recebeu um rim de sua irmã mais velha, conservadora, bem


comportada, no princípio parecia muito perturbada. Depois
começou a imitar sua irmã em grande parte da conduta desta.
Outro paciente afirmou ter obtido um conceito mudado sobre a
vida, depois de seu transplante de rim. Após um transplante,
um homem brando tornou-se agressivo igual ao doador. O
problema talvez seja na maior parte ou inteiramente mental.
Mas, pelo menos é de interesse notar que a B íblia relaciona
intim am ente os rins com as emoções humanas” (A
Sentinela, 1.° de Março de 1976, p. 135).

“O periódico Medical World News (23 de maio de 1969),


num artigo intitulado “O Que Faz o Novo Coração à Mente?”,
noticiava o seguinte: “No Centro Médico da Universidade de
Stanford, no ano passado, um homem de 45 anos de idade
recebeu um novo coração de um doador de 20 anos de idade, e
pouco depois anunciou a todos os seus amigos que estava
celebrando seu vigésimo aniversário. Outro recebedor resolveu
viver à altura da excelente reputação do destacado cidadão local
que foi o doador. Um terceiro homem expressou grande temor de
efeminação, por ter recebido o coração duma mulher, embora se
tranquilizasse um pouco ao saber que as mulheres vivem mais
do que os homens. Segundo o psiquiatra Donald T. Lunde,
consultor da equipe de transplante do cirurgião Norman
Shumway, em Stanford, estes pacientes representavam
algumas das aberrações mentais menos severas observadas
404

na série de treze transplantes feitos por Shumway durante


os últimos dezesseis meses”. O artigo continuava: “Embora cinco
pacientes da série ainda sobrevivessem no princípio deste mês,
e quatro deles estivessem em casa, levando uma vida bastante
normal, três dos que não sobreviveram tornaram-se psicóticos
antes de falecerem no ano passado. E mais dois se tornaram
psicóticos neste ano” (A Sentinela, 1.° de Setembro de 1971, p.
519).

“O coração, no entanto, está intrincadamente conectado


ao cérebro pelo sistema nervoso e é bem suprido por terminações
nervosas sensoriais. As sensações do coração são gravadas
no cérebro. É aqui que o coração leva até a mente seus
desejos e afeições, até chegar a conclusões que tem que ver
com as motivações... Há uma estreita relação entre o coração e
a mente, mas eles são duas diferentes faculdades, centradas
em diferentes localizações. O coração... mais
significativam ente contém nossa capacidade em ocional e
nossa motivação... Uma coisa é certa, [quando os
transplantados] perdem seus próprios corações, eles perdem as
propriedades do coração neles contido ao longo dos anos e que
contribuiu para fazer deles quem são no que diz respeito à
personalidade... Devemos lembrar-nos de que o coração
também ra ciocin a ” (A Sentinela, 01 de setembro de 1971,
págs. 518 - 524).
405

É óbvio que se trata de dados burlados e falsos.

Anos depois, a Torre de Vigia resolveu isentar-se da


culpa e admitiu que o coração não pensa, mas que metáforas
foram utilizadas na Bíblia40.

Mas o fato é que antes não era crido desta maneira. E


isto configura uma prova de que o Corpo Governante não é
infalível, assim como o Papa não é. Ele erra e muito, não
podendo ser considerado um profeta de Deus. Quando Deus
fala, acontece e é verdade.

O prof. Odracir41 reuniu uma farta coleção de erros


médicos e físicos cometidos pelas autoridades infalíveis da
Torre de Vigia:

“Nós fornecemos abaixo uma cura simples para os


sintomas de apendicite. A dor na região do apêndice é causada
pela mordida de vermes próximo da junção do cólon transverso
com o intestino delgado, do lado inferior direito do abdômen.
Este remédio é também recomendado para febre tifoide, a qual
também é uma doença causada p o r vermes. A medicação é a
dose ‘Santonina’, 3 grãos, uma hora antes do desjejum;

40 T h e W a tc h to w e r, 1.° d e S e te m b ro d e 1 9 8 4 , p p . 4 , 6 , 7 ; A S e n tin e la , 1.° d e


J u n h o d e 1 9 8 6 , p. 15.
41 h ttp : //i n d i c e t j.c o m
406

repetidas por quatro manhãs, até que os sintomas


desapareçam,. Daí, uma dose por mês durante três meses para
errad icar todos os germes. Esta receita é de incalculável
valor. Não só evitará despesas, talvez de 200 dólares, com
cirurgia e internação, como evitará semanas de mal-estar,
inconveniência, convalescença e perda de salário” (Torre de
Vigia de Sião de 15 de janeiro de 1912, pág. 26).

“Alguns sentem um forte desejo de adorar a Deus, outros


sentem pouco desejo e outros não sentem desejo algum. Esta
diferença se deve ao fo rm a to do crâ n io” (Reimpressão de
Watchtower de 15 de março de 1913, pág. 5201).

“A irmã Smith de Nebraska recentemente descobriu uma


espécie de feijão, os quais ela declara ter produzido tanto que
ela os chama ‘Feijões do M ilên io’” (Torre de Vigia de Sião de
15 de janeiro de 1912, pág. 26).

O texto acima foi publicado dois anos antes da data


prevista para começar o Milênio, o qual nunca começou até
hoje.

“O uso de chupetas por bebês é uma das principais


causas de amídalas enfermas e aumentadas e adenoides
crescidas, como resultado da sucção” (A Idade de Ouro de 26
de novembro de 1919, pág. 153).
407

“O tamanho do nariz, e também o tamanho dos


olhos, não são sem significado. Um homem de nariz pequeno
não pode ter uma mente judicial, não importa que outras
virtudes tenha. E um homem de nariz arrebitado não pode
administrar justiça mais do que um buldogue pode ser pastor”
(A Idade de Ouro de 19 de janeiro de 1921, pág. 224).


Jesus era um homem perfeito e, falando em linguagem
científica, tin h a uma abundância de elétrons ... Assim, a
mulher qpe padecia de um problema sanguíneo estava em
sintonia com Jesus - ela tinha fé - e qpando tocou a aba de sua
veste, elétrons saíram dele e ela foi curada.” (A Idade de Ouro
de 20 de dezembro de 1922, pág. 177).

“A mosca foi originalmente criada p elo demônio... Os


odores qpe são altamente desagradáveis ao homem... são
agradáveis para a mosca... Provavelmente o Senhor produziu
alguns dos insetos úteis. Não há dúvida de qpe o demônio
criou alguns dos outros. O Senhor é o melhor arquiteto” (A
Idade de Ouro de 19 de dezembro de 1923, pág. 163).

“Não há alimento bom para a refeição da manhã. A hora


do desjejum não é hora para interromper o jejum. Mantenha o
jeju m diariam ente até o m eio-dia” (A Idade de Ouro de 09 de
setembro de 1925, pág. 784).
408

“A B iola E letrônica de Rádio, a qual significa vida


renovada por ondas de rádio ou elétrons. A Biola
automaticamente diagnostica e tra ta doenças pelo uso de
vibrações eletrônicas” (A Idade de Ouro de 22 de abril de 1925,
pág. 454.

“Pegadas humanas de 2,1 m de comprimento


encontradas na Califórnia [podem ser] dos gigantes
[mencionados em] Gênesis, cap. 6” (A Idade de Ouro de 13 de
janeiro de 1926, pág. 238.

“A maioria dos acidentes se devem à gravitação e seus


efeitos... Quedas de a.vião... podem ser evitadas por
dispositivos individuais de gravidade negativa” (A Idade de
Ouro de 24 de março de 1926, pág. 404).

“Deus poderá em breve fazer] um cometa [ser]


capturado pela terra... trazendo uma mudança radical no
clima... transformando a superfície de nosso planeta em um
p a ra íso” (A Idade de Ouro de 16 de junho de 1926, pág. 583).

“A pasteurização do leite e de outros alimentos é


responsável por quase todos os males físicos da humanidade
hoje” (A Idade de Ouro de 30/6/1926, pág. 623).

“O rádio está realizando uma p rofecia diante de nossos


olhos... Jesus disse que... as pedras clamariam... a galena é
409

usada na maioria dos aparelhos de rádio... galena não passa de


um pedaço de pedra... as pedras estão sendo usadas para
clamar pelo Rei dos reis...” (A Idade de Ouro de 01 de dezembro
de 1926, pág. 157).

“O rádio [poderá brevemente] transm itir... calor, luz,


visão, som e força” (A Idade de Ouro de 14 de julho de 1926,
pág. 644).

“Se um médico mais fervoroso condenar suas amídalas,


vá e se mate com uma faca de mesa. É mais barato e menos
doloroso” (A Idade de Ouro de 07 de abril de 1926, pág. 438).

“Uma cura p a ra catarro e febre do feno... 30 gramas


de casca de pimenta-da-jamaica... aspirar... alguma.s vezes por
dia...” (A Idade de Ouro de 26 de janeiro de 1927, pág. 272).

“No futuro a humanidade vai obter seu alim ento


diretam ente do sol” (A Idade de Ouro de 05 de outubro de
1927, pág. 10).

“Existe apenas uma doença, a prisão de ventre” (A


Idade de Ouro de 03 de março de 1929, pág. 434).

“O corpo humano, como tudo o mais, é composto de


elétrons... se estes átomos fo re m normais, então seus
elétrons funcionam apropriadamente e ordeiramente, a saúde é
410

usufruída. Contudo, qualquer desarranjo atôm ico causa uma


doença no corpo e seus sintomas se manifestarão...” (A Idade
de Ouro de 29 de maio de 1929, pág. 564).

“O cirurgião pode cortar fora o 'caroço' ofensivo, não


importando onde esteja, e a vítima talvez viva... todavia, mais
cedo ou mais tarde... a morte ocorrerá como resultado da
decomposição, ou da putrefação dessa m atéria m orta e
venenosa, e de sua absorção de volta ao sistema...” (A Idade de
Ouro de 30 de outubro de 1929, págs. 79-80).

Segundo Clayton Woodworth, autor do artigo, os


tumores tinham origem no acúmulo de matéria fecal ou
resíduos que caiam na corrente sanguínea, de nada
adiantando a remoção cirúrgica do tecido lesionado.

“Durma virado para a direita ou de costas, com a cabeça


virada para o norte, de modo a se beneficiar das correntes
magnéticas da te rra ” (A Idade de Ouro de 12 de novembro de
1929, pág. 107).

“Pare de usar gomas de mascar, pois você precisa da


saliva para os alimentos” (A Idade de Ouro de 12 de novembro
de 1929, pág. 107).

“Parecerá aos leitores do livro ‘Criação’ do Juiz


Rutherford que a condição atual de Vênus é semelhante à
411

da terra antes do dilúvio, e é significativo que alguns


astrônomos lançaram a ideia de que animais como os
dinossauros que, uma certa época, perambula.vam por este
planeta, estão agora encontrando em Vênus um lugar feliz
onde viver” (A Idade de Ouro de 01 de abril de 1931, pág. 428).

“Um assinante acha que uma gota ou duas de


querosene é algo excelente para limpeza rápida de pia.s e
banheiras.... e quando aplicadas em feridas, ela.s saram mais
rápido. Experimente” (Consolação de 01 de dezembro de 1931,
pág. 12).

“Tratam ento Osteopático p a ra Loucura” (A Idade de


Ouro de 26 de outubro de 1932, pág. 53).

“Quanto mais cedo na manhã tomar o banho de sol,


maior será o efeito benéfico, porque apanhará uma quantidade
m aior de raios ultravioletas, que são curativos” (A Idade de
Ouro de 13/9/1933, pág. 777).

“Apendicite: pegue 30 gramas de flor de sabugueiro,


hortelã-pimenta e pilefólio e ferva em meio-litro de água... tome
um copo de vinho cheio a cada 15 minutos... não se assuste com
a 'suadeira' que causa, ou se você vomitar. Você se sentirá
melhor se estiver de estômago vazio” (A Idade de Ouro de 19 de
dezembro de 1934, pág. 187).
412


... Muitos foram curados de problemas de fígado... Um
irmão que, por anos, sofria de dores na região do apêndice, ficou
inteiramente restabelecido pelo tratam ento com azeite” (A
Idade de Ouro de 05 de julho de 1935, pág. 632).

“Aspirina - a ameaça de doença cardíaca” (A Idade


de Ouro de 27 de fevereiro de 1935, pág. 343).

E ainda falta falar de todos os absurdos propagados


pela Torre de Vigia acerca das vacinas, dos transplantes e do
sangue. Mas isto gastaria muitas páginas e remeteria o
assunto ao nível científico.

Aproximadamente, na mesma época em que a Torre de


Vigia produziu essas pérolas da ciência, fez também a
proibição de vacinas, transplantes de órgãos e transfusões de
sangue. Estas proibições estapafúrdias ceifaram a vida de
muitos inocentes, baseando-se em conceitos científicos
arcaicos.

Diante destas evidências, podem as Testemunhas de


Jeová permitir que a Sociedade Torre de Vigia, cuja doutrina é
repleta de erros grotescos, decidir sobre assuntos de vida ou de
morte? Que crédito de confiança a Sociedade tem para
determinar quem vive e quem morre nas operações médicas?
Mas a principal pergunta é: como acreditar que o Corpo
Governante é a voz de Deus, visto que profere conceitos
413

errados? Ou Deus pode errar, ou a cúpula desta seita não é


inspirada por Ele.
414
415

O pacto de Gênesis 9

A Torre de Vigia compreende que a Lei


veterotestamentária não tem vigência na presente dispensação.
Mesmo assim, alega ser obrigatoriedade global abster-se de
sangue, pois a primeira ordem Divina a respeito foi dada em
Gênesis 9.4, quando a Lei ainda não existia:

“Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue,


não comereis” (Gn 9.4).

No entanto, as Testemunhas de Jeová, acharam por


bem revogar outra ordem de Deus, dada na mesma ocasião,
que é a de ter muitos filhos:

“Mas sede fecundos e multiplicai-vos; povoai a terra e


multiplicai-vos nela” (Gn 9.7).

A Torre de Vigia, ao contrário do que diz o versículo


acima, incentiva seus fiéis a não se casarem e também a não
terem filhos.

“Assim,, parece não haver motivo razoável ou Bíblico


para trazer filhos a este mundo imediatamente antes do
416

Armagedom, tempo em que nos encontramos” (A Sentinela, 1


Novembro de 1938, P. 324).

“Nenhum menino entrou na arca [de Noé] nem tão pouco


nasceu algum ali, e, portanto, nenhum saiu da arca Somente
oito pessoas entraram e oito saíram da arca.. Isso parecería
indicar ser próprio para aqueles que formarão a ‘grande
multidão’ esperar até depois do Armagedom para geraram
filhos... Podemos bem adiar nosso casamento até que a paz
duradoura venha à Terra” (livro “Filhos” 1941, páginas 241,
242, 283).

Também em 1988, a revista A Sentinela afirmou que ter


filhos nestes últimos dias, quando o fim do mundo está
próximo, não é compensativo. Os filhos afetariam a
participação das Testemunhas na obra de Jeová.

O fato é que a Torre de Vigia tenta cumprir uma ordem


de Gênesis 4, mas incentiva o descumprimento de outra, que
está no mesmo capítulo. Como é possível escolher qual parte
da Bíblia deve ser obedecida e qual não? Por que teríamos o
direito de supor que uma ordem Divina perdeu a vigência,
enquanto que a outra, dada no mesmo dia e hora, não?

Se esta for a maneira correta de interpretar as


Escrituras, lembremos que a ordem de Deus para circuncidar
também ocorreu bem antes do surgimento da Lei (Gn 17.10-
417

27; 21.4; 34.15-24). Então por que as Testemunhas de Jeová


não se circuncidam?

A prática dos dízimos já ocorria antes da Lei (Gn 14.18­


20; 28.22; Hb 7.1-10). Por que, então, as Testemunhas de
Jeová não dizimam? 42

O sábado já fora abençoado por Deus muito antes da


Lei (Gn 2.3). Então por que as Testemunhas de Jeová não
guardam o sábado?

Se fosse realmente necessário pegar todas as ordens


anteriores à Lei e adotá-las como regras válidas aos dias de
hoje, as Testemunhas de Jeová deveriam guardar o sábado,
dar os dízimos, circuncidar seus filhos masculinos, incentivar
seus membros a fazer muitos filhos e impedi-los de comer
sangue. Mas, como não procede este tipo de atitude, deveriam
as Testemunhas de Jeová desconsiderar todas estas coisas,
inclusive a proibição sobre o sangue.

O pacto que Deus fez com Noé em Gênesis 9 tem três


premissas:

42 S u a fo n te d e r e n d a n ã o s ã o o s d íz im o s, e s im a s v e n d a s d e m a te ria l lite rá rio


a o s m e m b ro s . M as e s s e m a te ria l p a s s o u a s e r d o a d o e m tr o c a d e c o n trib u iç õ e s
v o lu n tá r ia s . E , c o m o s ã o c o n trib u iç õ e s , a c a b a m se n d o d e v a lo r m a io r d o q u e o
q u e se p a g a r ia p e lo p re ç o ju s to . A s sim se m a n té m fin a n c e ira m e n te a s e ita d a
T o rre d e Vigia.
418

1) Não comer sangue (v. 4).


2) Não matar pessoas (v. 5,6).
3) Ter muitos filhos (v. 1,7).

Destes três, só permanece vigente o de não matar


pessoas. Por quê? Porque hoje, na dispensação da graça,
cumprimos apenas a lei do amor (Mt 22.37-40; Jo 13.34;
15.12,17; At 21.21; Rm 13.8-10; Gl 5.14; 1Tm 1.5; Tg 2.8-11;
1Jo 3.23). E quem ama não mata.

Mas a lei do amor não tem relação direta com regras de


ordem material, como a abstinência alimentar ou a decisão de
ter filhos, ou a guarda do sábado, ou a circuncisão. E não
estamos debaixo de leis materiais, mas apenas da lei do amor,
a qual nos impele a fazer coisas boas e nos veta fazer coisas
ruins, sem que, para isso, estejamos presos à letra.

Quanto à premissa de número 3, a de ter muitos filhos,


sabemos que também não se aplica hoje, pois Jesus e Paulo
incentivavam os crentes a permanecerem solteiros, caso fosse
possível. Então, das três partes do pacto entre Deus e Noé, só
sobrou a de não matar, porque abaixo provaremos que a regra
de não comer sangue também perdeu sua vigência no Novo
Testamento.
419

Sangue é alimento?

Há outra coisa importante que deve ser considerada


sobre o sangue. Se a sua consciência diz que não é correto
comer sangue, não coma. Porém, transfusão não têm nada a
ver com comer. São duas coisas completamente diferentes. Se
a transfusão é feita por vias venais não infringe a lei de não
comer sangue, pois só é possível comer com a boca. Até onde
se sabe, a Bíblia proibiu a ingestão de sangue pela via oral e a
consequente digestão do mesmo. Todavia, o sangue
transfundido não morre dentro do corpo, não é consumido,
nem digerido, mas continua íntegro e vivo, no mesmo estado de
antes.

Isto invalida a falsa analogia que as Testemunhas de


Jeová fazem entre o sangue e o álcool:

“Examine as escrituras cuidadosamente e note que elas


nos dizem para nos mantermos livres de sangue e nos
abstermos de sangue. (Atos 15:20,29) O que significa isto? Se
um médico lhe dissesse para se abster de álcool, será que isso
significaria simplesmente que você não devia tomar álcool
através da boca mas que o podia tran.sfun.dir diretamente nas
420

suas veias? É claro que não! Assim também abster-se de sangue


significa não introduzi-lo nos nossos corpos de modo nenhum”
(The Watchtower, 1.° de junho de 1969, pp. 326-327).

Segundo este artigo frenético, não podemos injetar


sangue nas veias assim como não podemos comê-lo, da mesma
forma que não podemos injetar álcool nas veias, assim como
não podemos bebê-lo. É uma comparação infeliz.
Frequentemente, as Testemunhas de Jeová repetem esta
história, julgando estarem plenamente justificadas por ela.

Todavia, o álcool não pode ser comparado com o


sangue, porque aquele pode ser absorvido pelas células,
servindo como nutriente e alimento para elas, enquanto que
este não. O sangue não serve de nutriente, nem de alimento.

Mas, trocando o líquido pelo sólido, suponhamos que o


médico, ao invés de proibir o álcool, proíba comer fígado. A
frase extraída da The Watchtower ficaria assim:


Se um médico lhe dissesse para não comer figado, será
que isso significaria simplesmente que você não devia comer
fígado através da boca, mas que o podia transplantar?”

A resposta seria, positivamente, sim. Se o paciente não


comer fígado estará seguindo corretamente a recomendação do
médico, ainda que viesse a receber um fígado em transplante.
421

Isto derruba a analogia do álcool (cuja resposta apresentada foi


um não), a qual parece ter surgido mais para camuflar a
verdade, do que para ser eficaz.

A mente da Sociedade funciona só para o lado que


convém. Quando a analogia é com líquidos, as Testemunhas de
Jeová compreendem. Mas, quando é com sólidos, não lhes
entra na cabeça. É tanto que, antigamente, elas tinham dois
lemas: receber um transplante de rim seria o mesmo que
comer um rim (canibalismo); e receber uma transfusão de
sangue seria o mesmo que comer sangue. Até aqui,
conseguiram equilibrar o sólido com o líquido.

Mas, posteriormente, quando a Sociedade Torre de Vigia


passou a permitir transplantes, os dois lemas das
Testemunhas de Jeová perderam totalmente a coerência:
receber um transplante de rim não seria o mesmo que comer
um rim (portanto, não seria considerado canibalismo); mas
receber uma transfusão de sangue continua sendo o mesmo
que comer sangue.

Já que corrigiram parte do erro, por que não corrigi-lo


completo? Por que a regra válida para sólidos não é a mesma
para líquidos? Até quando continuarão sem perceber que estão
tropeçando nos próprios pés, afundando-se em contradições?
422

Existem formas de introduzir alimentos nas veias, como


glicose e vitaminas, através de soro. E isto é usado como
argumento pelas Testemunhas de Jeová. Mas elas precisam
compreender que o sangue venoso é diferente. A menos que
seja comido, ele não é um nutriente. Pelo contrário, o sangue
transporta os nutrientes para as células. Estas não podem
digerir o sangue, nem se alimentar dele. Os pacientes que
necessitam de transfusão não estão desnutridos. O objetivo de
inserir sangue nas veias não é para nutrir, mas para que o
corpo tenha com o que transportar o oxigênio e os nutrientes.

Se o paciente recebesse sangue através de sondas pela


via oral, seria o sangue considerado um alimento, pois passaria
pelo estômago, morreria e serviria de nutriente para o corpo.
Mas as transfusões não são pela via oral, nem passam pelo
sistema digestivo. O sangue continua “vivo” e ativo, pronto
para ser restituído a Deus, que é o autor da vida.

Uma transfusão é como um transplante. O sangue nada


mais é do que um tecido líquido transplantado de um corpo a
outro. Porque o corpo humano (e o dos animais) não se
alimenta do próprio sangue.

A Torre de Vigia admite que o sangue seja um órgão, ao


mesmo tempo em que permite transplantes de órgãos e de
tecidos. Então, segue-se que a Torre de Vigia contradiz a si
423

mesma, pois aceita transplantes de órgãos e de tecidos e ainda


determina que o sangue é um tecido.

Veja como a brochura da Torre de Vigia, de 1990, Como


Pode o Sangue Salvar a SuaVida? aprova os transplantes:

“Não parece às Testemunhas que a Bíblia faça


comentários diretos sobre transplantes de órgãos, por
conseguinte, as decisões quanto a transplantes de córnea, de
rins, ou de outros tecidos, precisam ser feitas pelas
Testemunhas individualmente”.

Aprovaram os transplantes de órgãos e de tecidos.

Na página 8 da mesma brochura está escrito:

“Quando os médicos realizam um transplante de


coração, do figado, ou de outro órgão, o sistema imunológico do
receptor pode detectar a presença do tecido estranho, e rejeitá-
lo. Todavia, uma transfusão é um transplante de tecido. Mesmo
o sangue que tenha sido “devidamente” compatibilizado pode
causar a supressão do sistema imunológico”.

“Como observa Denton Cooley, cirurgião cardiovascular:


‘Uma transfusão de sangue é um transplante de órgão’”
(Despertai!, 22 de outubro de 1990, p. 9).
424

Então qual é a razão da Sociedade em proibir


transfusões? Ela mesma asseverou que o sangue é um tecido e
que também é um órgão. Simultaneamente, na mesma
brochura, permitiu transplantes de órgãos e tecidos. E
também, na mesma brochura, proibiu o transplante de sangue.

Consideremos que o Corpo Governante não é perfeito,


nem iluminado por Deus, visto que decide coisas contrárias a
elas mesmas.

Estabelece-se, portanto, como qualquer médico pode


comprovar, que o sangue é um veículo para transportar
alimento para as células, mas o sangue em si não é um
alimento, a menos que seja comido.
425

Significado de sangue em Gênesis 9

Todos os versículos bíblicos que proíbem comer sangue


tratam de animais, nada se referindo a sangue de seres
humanos. Quando, em Gênesis 9, Deus falou a respeito disto,
deixou claro que os animais são para o alimento do homem. Há
uma permissão Divina para o sacrifício de animais, para que
lhe sirvam de alimento. O sangue deles representa sua vida,
assim como o sangue humano.

No entanto, diferentemente dos animais, o sangue


humano não pode ser derramado. Quem tirar uma vida
humana deve pagar com sua própria vida. Em nenhum
momento, houve qualquer referência ao fato do sangue
humano ser tratado como alimento. Desta forma, não comer
sangue é uma ordem específica a respeito de animais apenas.

Neste caso, seria menos antibíblico proibir as vacinas


do que as transfusões, porque aquelas são feitas à base do
sangue de animais, enquanto que estas são feitas com sangue
humano. Mas as Testemunhas de Jeová fazem o inverso:
permitem as vacinas e impedem as transfusões.
426

A ordem bíblica de que o sangue deve ser derramado no


chão trata de sangue retirado de animais mortos, e não de
humanos vivos. Portanto, não existe mandamento para se
derramar no chão qualquer sangue doado. Derramar o sangue
daqueles animais era uma forma de respeitar o sangue, o qual
representa a vida. Entretanto, o sangue que é transfundido não
precisa ser enterrado, pois ainda vive e colabora para sustentar
a vida de seu hospedeiro.

Desde a criação, o homem e os animais só podiam


comer vegetais (Gn 1.29,30). Mas, depois de passado o dilúvio,
Deus permitiu comer toda criatura viva (Gn 9.3), porém, com
uma exceção: não comê-la ainda com seu sangue. O que isto
realmente significa?

“Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue,


não comereis” (Gn 9.4).

O original de vida é nephesh (alma) que, neste caso,


significa literalmente “vida”. O versículo nada mais informa que
os animais não devem ser comidos vivos, como era praticado
no oriente médio antigamente, e até hoje em algumas regiões
do planeta.

O sangue é apenas um símbolo da vida. “Derramar


sangue de um animal” quer dizer “matá-lo”, assim como
derramar sangue humano significa homicídio. Deste modo,
427

entenda-se que, quando Gênesis 9 diz para não comer animais


com seu sangue, está afirmando para não comer animais com
vida. E, quando se lê “derramar sangue”, a Bíblia quer dizer
simplesmente “matar, tirar a vida”.

“Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da


vossa vida; de todo animal o requererei, como também da mão
do homem, sim, da mão do próximo de cada um requererei a
vida do homem. Se alguém derramar o sangue do homem, pelo
homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo
a sua imagem” (Gn 9.5,6).

O texto acima informa que o sangue é sinônimo de vida,


pois disse que Deus requererá o sangue e, em seguida afirmou
que requererá a vida. São a mesma coisa, mas com simbologias
diferentes.

O sangue representa a vida. Os homens podem tirar a


vida dos animais. Porém, derramar sangue de um homem,
metaforicamente, quer dizer matá-lo. Desta feita, se alguém
derramar sangue, terá seu sangue derramado. Vida por vida.

“Não derramar sangue” é uma metáfora para “não tirar


a vida humana”. O pecado não reside propriamente no sangue.
Por exemplo, se alguém se acidentar e deixar seu sangue
derramar na terra não estará pecando por isto. Nem todo
derramamento de sangue é proibido. Por outro lado, jamais
428

será inocentado aquele que matar um homem sem sangrá-lo.


Se alguém mata por afogamento, asfixia, enforcamento,
estrangulamento, envenenamento, continua sendo homicida,
mesmo se não derramar o sangue de sua vítima. O que está
sendo levado em conta pela Bíblia é o assassinato, e não o
derramamento literal de sangue.

Mas consideremos que a transfusão de sangue não é


um assassinato, pois o doador não morre. Ao receber o sangue
dele, o receptor não está tirando-lhe a vida. E o sangue não é
tomado à força. Pelo contrário, é uma doação, onde o doador
concede vida àquele que perecia por falta de sangue.

É por isto que as transfusões não estão coibidas no


capítulo 9 de Gênesis. Porque derramar sangue humano, ou
comer o sangue de um animal, é bem diferente de aceitar
doação voluntária de sangue humano que, nem tira a vida do
doador, nem deixa morrer o receptor. Quando alguém derrama
sangue humano, ou come o sangue de um animal, não o
devolve a Deus. Mas, quando recebemos em nossas veias o
sangue vivo de outro ser humano, devolvê-lo-emos a Deus, que
é o único que tem o direito de tirar vidas.

Todavia, a Sociedade Torre de Vigia misturou Gn 9.5


com Lv 17.13 e Dt 12.15,16 e associou o verbo “derramar” com
a expressão “requerer a vida”. E determinou que qualquer
429

sangue extraído do ser humano deve ser derramado no chão,


para que volte a Deus:

“Por não comer o sangue, mas ‘derramá-lo’ sobre o altar


ou no solo”, escreveu a liderança das Testemunhas, “o israelita,
com efeito, devolvia a vida dessa criatura a Deus” (As
Testemunhas de Jeová e a Questão do Sangue, 1977, pág. 9).

Esta é outra interpretação errada da Torre de Vigia,


imposta como lei às vítimas de sua seita. Mas, quando os
textos falam que o sangue deve ser derramado como água,
estão tratando de sangue de animais mortos, e não de
humanos vivos. Ninguém morre por extrair um pouco de
sangue das veias para a doação. Como poderíamos devolver
alguma vida a Deus se não houve nenhuma morte? É de
animais mortos que a Bíblia fala, não de sangue vivo, cujo
doador não morreu.

Somente se o doador morresse, faria algum sentido o


argumento da não transfusão. Mesmo assim, o motivo da
proibição não seria convincente, pois o doador estaria dando a
própria vida para salvar a de outrem, o que é louvável.

Conclui-se que a proibição em Gênesis 9.4 não é a de


comer sangue, mas de comer animais vivos. Embora,
posteriormente, a ingestão de sangue passe a ser proibida pela
Lei, mas não o era na época de Noé. Sangrar um animal é a
430

garantia de que ele está realmente morto. O sangue é apenas


um símbolo que representa a vida. Não é possível considerar
que a palavra “sangue” seja literal no versículo 4, se não puder
ser também no versículo 5.
431

Flexibilidade na execução das ordens

Em Gênesis 9, o pacto de Deus com Noé após o dilúvio


foi bilateral. Deus se comprometeu a não mais punir a
humanidade com água, e exigiu de Moisés o cumprimento de
três ordens:

4) Não comer animal com sangue/vida (v. 4).


5) Não matar pessoas (v. 5,6).
6) Ter muitos filhos (v. 1,7).

Mas todas as três ordens possuem exceções.

Já vimos que o mandamento de ter muitos filhos possui


exceções nos casos em que o homem prefere permanecer
eunuco, ou que decide não casar sua filha virgem.

A ordem de não matar também possui exceções.


Conhecemos a história de Israel e sabemos que os guerreiros
que matavam na guerra, derramando sangue de homens,
mulheres e crianças, tinham a aprovação de Deus.

De igual modo, se alguém matasse seu irmão israelita


de forma involuntária, por acidente, alcançava o perdão,
432

escondendo-se nas cidades de refúgio até a morte do sumo-


sacerdote. Portanto, nem todo derramamento de sangue era
condenado. O sangue em si não é santo. As pessoas sim.

Da mesma forma, assim como o mandamento de “ter


muitos filhos” e o de “não matar”, a ordem de “não comer
sangue” também tinha exceções. Elas apareceram com o
surgimento da Lei. Observe abaixo que, se alguém encontrasse
um animal morto e o comesse, havia perdão para ele:

“Portanto, a vida de toda carne é o seu sangue; por isso,


tenho dito aos filhos de Israel: não comereis o sangue de
nenhuma carne, porque a vida de toda carne é o seu sangue;
qualquer que o comer será eliminado. Todo homem, quer natural,
quer estrangeiro, que comer o que morre por si ou dilacerado
lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo até
à tarde; depois, será limpo. Mas, se não as lavar, nem banhar o
corpo, levará sobre si a sua iniquidade” (Lv 17.14-16).

A Lei abriu uma exceção e concessão para comer


animal encontrado já morto, não sangrado, desde que seja feito
o ritual de purificação. Isto vale até mesmo para o israelita
natural, além do estrangeiro. Deus não disse para eliminar o
tal homem da congregação. Disse apenas que ele será imundo
até à tarde. E a frase “depois será limpo” o redime de toda
433

culpa. A única forma desse homem ser culpado seria se ele não
lavasse suas roupas e não banhasse seu corpo.

Desta forma, se Deus foi flexível com a observância


deste princípio e agiu perdoando o transgressor em algumas
exceções de regra, quanto mais seria misericordioso,
perdoando aquele que salvasse uma vida por meio de uma
transfusão?

Contudo, a Lei é ainda mais permissiva:

“Não comereis nenhum animal que morreu por si.


Podereis dá-lo ao estrangeiro que está dentro da tua cidade,
para que o coma, ou vendê-lo ao estranho, porquanto sois povo
santo ao SENHOR, vosso Deus. Não cozerás o cabrito no leite da
sua própria mãe” (Dt 14.21).

Era preferível dar o animal não sangrado ao estrangeiro


do que um judeu o comer, pois Israel é povo santo ao Senhor.
O que está envolvida aqui não é a santidade do sangue, mas a
do povo de Israel. Sendo assim, os gentios tinham a permissão
de Deus para comer animal encontrado morto.

E nós somos gentios. Quanto menos grave é transfundir


sangue do que comê-lo? De forma que, se o comer é permitido,
transfundir também é, em muito maior grau.
434

Os soldados do rei Saul comeram sangue, por estarem


muito esfomeados, e foram perdoados por Deus:

“Feriram,, porém, aquele dia aos filisteus, desde Micmás


até Aijalom. O povo se achava exausto em extremo; e, lançando-
se ao despojo, tomaram ovelhas, bois e bezerros, e os mataram
no chão, e os comeram com sangue. Disto informaram a Saul,
dizendo: Eis que o povo peca contra o SENHOR, comendo com
sangue. Disse ele: Procedestes aleivosamente; rolai para aqui,
hoje, uma grande pedra. Disse mais Saul: Espalhai-vos entre o
povo e dizei-lhe: Cada um me traga o seu boi, a sua ovelha, e
matai-os aqui, e comei, e não pequeis contra o SENHOR,
comendo com sangue. Então, todo o povo trouxe de noite, cada
um o seu boi de qpe já lançara mão, e os mataram ali” (1Sm
14.31-34).

Os soldados escaparam impunes, com apenas uma


advertência para não tornar a comer sangue.

Sumariamente, a ordem Divina não proibia qualquer


consumo de sangue, mas somente o consumo desregrado.
Ademais, a proibição tinha relação com o ato de comer sangue,
ao passo que a transfusão não é uma forma de comer, nem de
se alimentar.
435

—Abster-se” de sangue

No que tange ao capítulo 9 de Gênesis, definitivamente,


já foi provado que não pode estar tratando de transfusões, pelo
que declara expressamente que o pecado está no ato de comer:

“Carne, porém, com sua vida, isto é, com seu sangue,


não com ereis” (Gn 9.4).

O original de comer é o verbo ‘akal, que significa:


comer, devorar, queimar, alimentar. Em outras palavras, a
única coisa que não pode ser feita com o sangue é comê-lo. As
demais coisas, como transfundir, tocar, cheirar, doar,
armazenar, são permitidas.

Sabendo disto, a Torre de Vigia se adianta e observa o


texto de Atos, no qual os apóstolos faziam determinações a um
grupo de gentios que se convertiam:

“Mas escrever-lhes que se abstenham das


contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e
do sangue [...] Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos
ídolos, e do sangue, e da carne sufocada, e da fornicação: das
436

quais coisas fazeis bem se vos guardardes. Bem vos vá” (At
15.20,29).

Como Gênesis 9 só proibia o sangue na forma de


alimento, as Testemunhas de Jeová necessitaram buscar apoio
em outras partes das Escrituras, para afirmar que o sangue
deve ser evitado sob quaisquer circunstâncias. E verbo “abster”
veio a calhar para este intento. Afirmam elas que “abster-se”
significa evitar de todo modo, tanto por via oral, como venal.

O original grego de abster-se é apechomai, que significa:


“guardar-se, refrear-se, abster-se”. Este verbo não possui
significado mais abrangente do que o referente ao objeto a ser
evitado. Não tem, por si só, conotação de totalidade, mas se
apega ao contexto, que o delimita.

Podemos encontrar outros exemplos na Bíblia do


mesmo vocábulo apechomai:

“Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos


tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos
enganadores e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de
homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria
consciência, proibindo o casamento e ordenando a abstinência
dos manjares que Deus criou para os fiéis e para os que
conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de
graças” (1Tm 4.1-3).
437

Sabemos que o texto não diz que todos os manjares que


Deus criou devem ser evitados. Obviamente, o texto se refere a
certos tipos de alimentos específicos. Por exemplo, a banana, a
laranja e a maçã são manjares que Deus criou para os fiéis.
Nem por isto, estão abrangidos pelo verbo “abster”. O que tais
homens proibiam eram apenas alguns alimentos, não todos
eles. Do contrário, os adeptos de sua doutrina morreriam de
fome.

“Amados, rogo-vos como peregrinos e forasteiros, que vos


abstenhais dos desejos carnais, que combatem contra a alma”
(1Pe 2.11).

É claro que Pedro não estava ordenando que as pessoas


se abstivessem de todos os desejos carnais, pois nem todos
combatem contra a alma. Há desejos carnais não prejudiciais e
que são até necessários, como o desejo de trabalhar, plantar,
colher, alimentar-se, criar os filhos.

O verbo apechomai necessita do complemento de outras


partículas para descrever que uma coisa deve ser evitada na
totalidade absoluta. Podemos constatar isto em 1 Ts 5.22:

‘A b s t e n d e - v o s d e toda f o r m a d e m a l”.
438

Com a ajuda da palavra “toda”, o verbo pôde exprimir a


totalidade. Sozinho ele não traz esse sentido, senão o
significado que já vem intrínseco em seu radical.

Portanto, em Atos 15.20,29 acontece a mesma coisa. O


verbo “abster” não abrange o total de utilidades que o sangue
possa ter, mas se relaciona diretamente com o contexto,
extraindo dele o significado. E o contexto aponta para a
observância da Lei mosaica de Levítico 17.1 a 18.27, a qual
servia para o estrangeiro gentio. Portanto, o significado de
“abster” atrela-se à Lei. É ela que determina o sentido desta
palavra.

Em Atos 15.20,29 pareceu bem aos apóstolos, visto que


o problema dos judeus em questão era a observância da Lei,
fazer determinações iguais àquelas feitas por Moisés com
relação ao estrangeiro gentio que habita em Israel. Não seria
necessário impor a eles maior encargo do que estes. Todas as
abstinências foram extraídas de Levítico 17.1 a 18.27:

“Nunca mais oferecerão os seus sacrifícios aos demônios,


com os quais eles se prostituem,; isso lhes será por estatuto
perpétuo nas suas gerações [...] Qualquer homem da casa de
Isrnel ou dos estrangeiros que peregrinam entre vós que comer
algum sangue, contra ele me voltarei e o eliminarei do seu povo
[...] Todo homem, quer natural, quer estrangeiro, que comer o
439

que morre por si ou dilacerado lavará as suas vestes, banhar-se-


á em água e será imundo até à tarde; depois, será limpo [...]
Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é
abomina.ção. Nem te deitarás com animal, para te contaminares
com ele, nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-
se com ele; é confusão” (Lv 17.7,10,15; 18.22-23).

São as mesmas coisas ordenadas em Atos 15.20,29:


“coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue, e da carne
sufocada, e da fornicação”. Observe que até a ordem em que
tais mandamentos aparecem em Atos é a mesma da sequência
de Levítico, para que fique claro que isto é uma citação da Lei.

O motivo pelo qual os apóstolos se reuniram para fazer


essas determinações foi porque alguns judeus começaram a
ensinar aos gentios que estes deveriam se circuncidar
conforme a Lei de Moisés. O problema foi transferido à
assembleia para a apreciação dos apóstolos, os quais
determinaram que aqueles gentios não precisavam observar
toda a Lei, mas apenas a parte de não comer sangue, coisas
sacrificadas a ídolos e relações sexuais ilícitas.

É com a Lei de Moisés que o verbo “abster” se relaciona.


Por isto, a abstinência de sangue que os gentios deveriam fazer
segue os parâmetros da Lei, a qual só vetava comer sangue. O
Corpo Governante afirma que em Gênesis 9 só era proibido
440

comer sangue, mas que, em Atos 15, é proibida qualquer


aproximação de sangue.

Porém, a palavra “abster” não pode ter um significado


mais abrangente do que em Gênesis 9, visto que não foi uma
lei criada em Atos 15.20, mas uma mera repetição da lei
existente em Levítico 17 e 18. O âmago da proibição tinha
associação com comer os alimentos proibidos.

Vejamos a reiteração do texto de Atos no capítulo 21:

“Quanto aos gentios que creram, já lhes transmitimos


decisões para que se abstenham das coisas sacrificadas a
ídolos, do sangue, da carne de animais sufocados e das
relações sexuais ilícitas” (At 21.25).

A palavra “abstenham”, neste caso, é a tradução de


duas palavras gregas: o verbo “observar, guardar,
experimentar” e o adjetivo “ninguém, nenhum, nada”. O
resultado é a construção:

“Nada disto observem/provem: coisas sacrificadas a


ídolos etc.”

Não observar/experimentar sangue não especifica que


tudo o que for relativo a sangue deve ser evitado. Se alguém
441

evitasse sangue de todos os tipos e formas, ficaria sem sangue


e morreria. E não é esta a intenção do texto.

A ideia explícita, tanto em Atos 15.20,29, quanto em


Atos 21.25, refere-se unicamente ao comer sangue. Podemos
extrair essa informação das coisas que são proibidas:

1) coisas sacrificadas a ídolos,


2) carne de animais sufocados.

Por que não comer animais sufocados? A resposta é


óbvia: porque o sangue está dentro deles. Só por isto. O animal
deve ser degolado ou sangrado, antes de ser preparado como
alimento. É com o verbo “comer” que está a questão.

A palavra “abster” não discrimina todas as formas de


abstenção. Por exemplo, a carne de animais sufocados não
pode ser ingerida, mas pode ser tocada. Quando alguém mata
um animal para comer, pode tocar nele sem ser considerado
imundo pela lei dos judeus do Velho Testamento. A lei de não
tocar em cadáveres não se aplica a animais que foram abatidos
especificamente para a cozinha.

Da mesma forma, comidas sacrificadas a ídolos só nos


farão mal se as comermos. Se apenas tocarmos nelas,
continuamos purificados, desde que não sejamos cúmplices
dos que as sacrificaram.
442

Igualmente, o sangue só resulta em pecado se alguém o


comer. Se o homem, ao sangrar um animal, suja suas mãos
com o sangue, não está pecando. Se cair sangue nos olhos, no
rosto, ou se salpicar nas roupas e braços, não há pecado.
Apenas o comer pode ser considerado proibido. E assim, o
cozinheiro não peca por tocar em sangue quando prepara a
comida. As Testemunhas de Jeová têm que parar de conjeturar
que o sangue em si é pecado. As tradições judaicas e a Lei de
Moisés só proibiam o sangue como alimento, como comida.
Qualquer outro tipo de abstinência não tem amparo na Bíblia.

Deste modo, subentende-se que está implícita a palavra


“comer” no texto de Atos, embora não apareça visualmente. É
um tipo de linguagem resumida, que conta com um mínimo de
bom senso dos ouvintes e dos leitores. Aquele que a escreveu
supôs que todos os leitores iriam entender que o pecado só
seria consumado se alguém comesse os alimentos proibidos.
Por que, para o bom entendedor, meia palavra basta. Quando
os apóstolos deram a ordem para abster-se de certos
alimentos, imaginaram que todos já sabiam perfeitamente que
nenhum alimento proibido gera pecado se não entrar no
estômago. Do contrário, nem seria chamado de alimento.

Por isto, não foi preciso os apóstolos usarem a palavra


“comer”, a qual já fora usada em Gênesis 9. Mas, se eles
soubessem que, no futuro, uma classe de teólogos
443

desqualificada e falta de entendimento interpretaria que todo


alimento proibido traz pecado, mesmo que não seja comido,
certamente teriam incluído a palavra “comer” naquela frase,
para facilitar a compreensão.
444
445

Nem mesmo comer sangue é pecado

Hoje, na Nova Aliança, sabemos que mesmo o comer


literal já não tem mais vigência para nós. Estas proibições têm
relação com a Lei mosaica, da qual já estamos isentos por
causa de Cristo. Significa que, mesmo se comêssemos sangue
não estaríamos pecando.

As advertências que os apóstolos deram em Atos 15 não


foram feitas em caráter global, servindo de doutrina que rege
toda a igreja de todos os tempos. Não era para ser um
Quadrálogo, substituindo o Decálogo. Os apóstolos não
criavam leis, mas apenas ensinavam o que aprenderam de
Jesus.

A carta enviada àqueles irmãos gentios, orientando não


comer isso ou aquilo, não era vista como lei Divina para toda a
humanidade. A prova disto é que Paulo não condenou o
consumo de comida sacrificada a ídolos em parte alguma de
suas várias epístolas, como veremos mais adiante. Se Paulo
permitia, por que a Torre de Vigia não permite?
446

Aquela carta de Atos 15 serviu apenas para um grupo


específico de gentios, o qual ainda estava acostumando-se com
a transição da Lei para a graça. Existia muita dúvida acerca do
cumprimento da Lei e de sua abrangência para os judeus e
gentios. Os irmãos ainda relutavam em aceitar a introdução
dos gentios na igreja.

As mesmas coisas escritas em Levítico 17.1 a 18.27


foram impostas pelos apóstolos para aquele grupo de gentios
que não sabia se vivia como judeu ou gentio. Era normal a
confusão nas igrejas que eram compostas por judeus e gentios
(Gl 2.12-14; At 21.20,21). Mas, para aqueles irmãos
específicos, apenas estas quatro abstinências de Atos, sem a
necessidade de circuncisão, resolveriam o problema de
relacionamento entre eles. Agindo assim, os gentios não
estariam desrespeitando os costumes cristãos judaicos, o que
estreitaria os laços entre eles. Os irmãos gentios não poderiam
ser pedra de tropeço, nem motivo de escândalo para os judeus.
A observância destas abstinências fez com que aqueles gentios
abrissem mão de sua liberdade cristã, demonstrando
consideração para com seus irmãos “mais fracos”, cuja
consciência não permitia comer certas coisas.

Isto significa que Atos 15.20,29 tem base na Lei de


Moisés. Não foi uma nova lei criada no Novo Testamento, que
abrange toda a igreja para sempre. Era especificamente para
447

aqueles irmãos que estavam com problemas para se adaptarem


aos costumes dos judeus.

Jesus nos libertou da Lei, para sermos salvos pela


graça. Porém, as Testemunhas de Jeová estão novamente se
sujeitando a ordenanças, aprisionando-se nelas. Oferecem uma
salvação que não é pela graça, mas pela observância da letra. É
uma espécie de salvação pelas obras de leis criadas por elas
mesmas. O Corpo Governante tem que se decidir: ou a
salvação é pela graça, ou pela observância de um conjunto de
leis. Ao que parece é pelas leis da Torre de Vigia, pois a
infração de qualquer uma delas resulta na perca da salvação.
Em vista disto, não têm participação na graça Divina, pois
pretendem se justificar pela observância de leis.

O Corpo Governante deveria deixar esta interpretação a


cargo da consciência individual de cada um, assim como fez
com o caso dos transplantes e das vacinas. Se o cristão
acredita que a transfusão é pecado, não a executa. E, se ele
julga que é permitido, fica livre para fazê-la. Mas o Corpo
Governante toma esta e todas as outras decisões sozinho por
todos os fiéis, e as impõe como regras. Assim, tira a liberdade
cristã e obriga todos a pensarem como ele. Deste modo, traça
uma salvação que é conquistada através da obediência a leis.
448

O tempo da Lei já passou. O que temos no Novo


Testamento são versículos ensinando que nada do que
comemos pode fazer mal para a nossa alma:

“E, tendo convocado a multidão, lhes disse: Ouvi e


entendei: não é o que entra pela boca o que contamina o homem,
mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem [...] Não
compreendeis que tudo o que entra pela boca desce para o
ventre e, depois, é lançado em lugar escuso? Mas o que sai da
boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. Porque
do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios,
prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas
as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as
mãos não o contamina.” (Mt 15.10,11,17-20).

O que entra pela nossa boca não pode contaminar


nossa alma. Portanto, até mesmo o comer sangue foi permitido
por Jesus no Novo Testamento.

“Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos


tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que
falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência, que
proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que
Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos
449

fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade” (1Tm 4.1­


3).

Os versículos acima informam que quem exige a


abstinência de alimentos são apóstatas, hipócritas e
mentirosos. Paulo reprovou severamente os que dizem: “pode
comer isto, mas não pode comer aquilo”. Não estamos mais no
tempo da caducidade da letra, mas no de servirmos em
novidade de espírito (Rm 7.6).

E o texto continua nestes termos:

pois tudo que Deus criou é bom,, e, recebido com ações


de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e
pela oração, é santificado” (1Tm 4.4,5).

A oração de graças, feita pelo fiel, santifica qualquer


comida. Nada é recusável.

“Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir


opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come
legumes; quem come não despreze o cue não come; e o que não
come não julgue o que come, porque Deus o acolheu. Quem és tu
que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé
ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o
suster. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos
450

os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria


mente” (Rm 14.1-5).

Quem não come não pode julgar aquele que come.


Paulo deixou translúcido que o comer, ou o não comer,
dependem da consciência de cada um. Não há mandamento
que proíba comer. Mas cada pessoa deve ter sua consciência
limpa, praticando somente o que tiver a certeza de que está
correto.

“A fé que tens, tem-na para ti mesmo perante Deus. Bem-


aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.
Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o
que faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é
pecado” (Rm 14.22,23). “Um faz diferença entre dia e dia; outro
julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida
em sua própria mente” (Rm 14.5).

Os versículos assinalaram que aquele que tem dúvidas


é condenado, se comer. Isto significa que aquele que não tem
dúvidas não é condenado, se comer. Cada pessoa tem que ter
opinião bem definida em sua própria mente sobre o que é certo
ou errado, pois aquele que comer com dúvidas estará pecando
contra a própria consciência.

“Ninguém,, pois, vos julgue por causa de comida e bebida,


ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados [...] Se morrestes com
451

Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivésseis


no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não
proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e
doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso,
se destroem Tais coisas, com efeito, têm aparência de
sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de
rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a
sensualidade” (Cl 2.16,20-23).

“Entretanto, não há esse conhecimento em todos; porque


alguns, por efeito da familiaridade até agora com o ídolo, ainda
comem dessas coisas como a ele sacrificadas; e a consciência
destes, por ser fraca, vem a contaminar-se. Não é a comida cue
nos recomendará a Deus, pois nada perderemos, se não
comermos, e nada ganharemos, se comermos. Vede, porém, que
esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço
para os fracos. Porque, se alguém te vir a ti, que és dotado de
saber, à mesa, em templo de ídolo, não será a consciência do
que é fraco induzida a participar de comidas sacrificadas a
ídolos?” (1Co 8.7-10).

O texto esclarece que o comer coisas sacrificadas a


ídolos não se constitui em pecado, exceto para aquele que julga
ser pecado. Será que a Bíblia se contradiz quando proíbe tais
comidas em Atos 15.29? É claro que não, mas a passagem de
Atos foi erroneamente transformada em lei pelas Testemunhas
452

de Jeová. Por que a Torre de Vigia quer obrigar seus fieis a não
comer, se Paulo permitia comer?

O Corpo Governante demonstrou preocupação com esta


contradição bíblica, através de suas publicações. Uma saída
para o dilema foi tentar diferenciar At 15.19 de 1Co 8. A revista
A Sentinela, 1.° de abril de 1979, pp. 31-32, tenta, inutilmente,
diferenciar as palavras de Atos 15 das de 1Co 8:

“O que o decreto em Atos 15:28, 29, proibia era o cristão


participar numa cerimônia formal, religiosa, ou cometer um ato
de idolatria. Os que sacrificavam um animal ao ídolo obtinham
parte da carne para comer. Fazerem isso era claramente um ato
religioso; era considerado como participando numa refeição com
o deus pagão. (Êxo. 34:15; Deu. 32:17; 1 Cor. 10:18-21) Os
cristãos absolutamente não podiam fazer isso. O decreto do
corpo governante cristão ha.via proibido isso, e Paulo estava de
pleno acordo. Escreveu: “Portanto, meus amados, fugi da
idolatria. ” -- 1 Cor. 10:14; 1 Tes. 1:9.”

E, para diferenciar ainda mais as palavras de Atos 15


das de 1Co 8, a Tradução do Novo Mundo traz,
propositalmente, uma distinção errônea:

“Coisas sacrificadas a ídolos” (At 15.29 TNM).

‘Alimentos oferecidos a ídolos” (1Co 8.1,4,7,10 TNM).


453

Usaram a expressão “coisas sacrificadas a ídolos” em At


15.29, e a expressão “alimentos oferecidos a ídolos” em 1Co
8.1,4,7,10. O objetivo foi tentar distinguir ambos os textos, a
fim de vencer a contradição da existência de duas regras
opostas uma à outra.

Mas não importa a maneira que a Tradução do Novo


Mundo das Escrituras Sagradas resolve traduzir o texto. O
importante é o que está no original. O vocábulo grego para
ambas as passagens é exatamente o mesmo: eidolothuton, o
qual se repete nos versículos 1, 4, 7 e 10 de 1 Coríntios 8 e
também no capítulo 10.19,28. Não há a menor diferença entre
o que foi escrito em Atos do que foi gravado em 1 Coríntios.

Portanto, Paulo permitiu para a igreja mundial o mesmo


que os apóstolos proibiram para um certo grupo de gentios
daquela época: comer coisas sacrificadas. Isto seria uma
contradição insolúvel, se o trecho de Atos fosse um
mandamento para toda a igreja de todos os tempos, haja vista
que Atos reprova comer coisas sacrificadas e que 1 Coríntios
aprova a mesma prática.

A solução deste mistério é muito simples e está


estampada diante de nós: a regra constante em Atos 15 não é
mandamento global para toda a igreja, mas sim uma norma
reguladora de conduta para aquele grupo específico de gentios.
454

E o contexto não fomenta nenhum indício de que a


prática proibida seja outra coisa além de comer as coisas
sacrificadas a ídolos. Isto se confirma com a leitura de Atos
21.25, que traz de volta o mesmo assunto. Pelo que a
explicação dada na revista A Sentinela não passa pela peneira
do original grego. Antes é apenas uma desculpa para tentar se
justificar do primeiro erro de interpretação. Um erro leva a
outro, e uma mentira precisa criar outras para não cair.

Em 1Co 8.1-10, acima citado, lemos que não é o que


comemos que nos recomendará a Deus. O comer não faz mal,
nem o não comer tem alguma importância. É isto o que se
registra no Novo Testamento, como regra para os nossos dias.
Paulo não reprovou aquele que comia à mesa de ídolo. Ele
reprovou aquele que comia com escândalo, ferindo a
consciência fraca de alguns irmãos. Ele disse que o melhor é
não comer carne, se com isto o seu irmão se escandalizar.

“Não destruas a obra de Deus por causa da comida.


Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o
homem o comer com escândalo. É bom não comer carne, nem
beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa com que teu irmão
venha a tropeçar ou se ofender ou se enfraquecer” (Rm
14.20,21).
455

Toda comida é limpa e permitida. Somente o escândalo


é que deve ser evitado. Não podemos fazer nosso irmão
tropeçar na fé por nos ver comendo algo que ele supõe que é
pecado.

“Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada


perguntardes por motivo de consciência; porque do Senhor é a
terra e a sua plenitude. Se algum dentre os incrédulos vos
convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de
vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém,
se alguém vos disser: Isto é coisa sacrificada a ídolo, não
comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da
consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do
outro. Pois por que há de ser julgada a minha liberdade pela
consciência alheia?” (1Co 10.25-29).

Tudo pode ser comido, desde sangue até coisa


sacrificada a ídolo. Se não soubermos o que estamos comendo,
não há pecado. Se soubermos também não há. O pecado só
tem lugar quando nosso próximo (que julga ser pecado comer)
souber o que estamos comendo. O pecado é contra a
consciência, não a nossa, mas daquele que nos vê comendo. Se
fosse apenas pela nossa consciência não haveria problemas,
visto que ela está limpa e convicta.
456

“Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que


nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que
assim a considera; para esse é impura” (Rm 14.14). “Todas as
coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas são lícitas, mas
nem todas edificam” (1Co 10.23). “Todas as coisas são pura.s
para os puros; todavia, para os impuros e descrentes, nada é
puro. Porque tanto a mente como a consciência deles estão
corrompidas” (Tt 1.15).

Todas as coisas são puras. Então não cabe à igreja ficar


inventando abstinências de alimentos, que não levam a
nenhum fim proveitoso. Para quem tem a consciência limpa,
nenhuma comida é prejudicial, nem imunda. Mas, para quem
a considera imunda, passa a ser pecado.

O curioso é que a Torre de Vigia preza tanto pela lei de


não comer sangue, exposta em Levítico, mas não observa as
outras leis atinentes que estão no mesmo livro:

“Estatuto perpétuo será durante as vossas gerações, em


todas as vossas moradas; gordura nenhuma nem sangue
jamais comereis” (Lv 3.17).

A ordem era para não comer gordura, nem sangue. Mas


as Testemunhas de Jeová resolveram obedecer apenas a
metade do versículo, pois comem gordura sem problemas.
457

Conclui-se que comer sangue, literalmente, pela boca e


pelo estômago não é pecado na Nova Aliança. Por isto se torna
vã a discussão sobre a transfusão sanguínea, que nem sequer
pode ser considerada como alimento.
458
459

Sangue é o símbolo da vida

Quando Deus proibiu comer sangue estava mostrando


que a vida é muito valiosa. Estava nos ensinando a valorizar a
vida. Por isto, Noé e seus descendentes não podiam comer
animais vivos, pois o sangue é símbolo da vida.

Mas a compreensão de que a vida real possui um


símbolo é motivo para darmos mais valor ao símbolo do que à
própria vida? Qual é a prioridade: o real ou seu símbolo?

Um batismo nas águas é símbolo do batismo no


Espírito Santo. Mas, de nada vale o batismo nas águas, se o
indivíduo não recebeu ainda o Espírito Santo. O símbolo sem a
vida prática não tem valor.

A Santa Ceia que fazemos é símbolo memorial do


sacrifício de Cristo, que ofereceu Sua carne e Seu sangue por
nós. Porém, não adianta uma pessoa cear aos domingos, se
ainda não é participante da graça que Jesus conseguiu para
nós através da cruz (estaca de tortura).
460

As alianças de ouro são símbolo do casamento. Mas de


nada valem, se sua esposa o deixar ou morrer. É preferível ficar
com a esposa a ficar com as alianças.

O vinho tinto é símbolo do sangue de Jesus. Mas qual é


o mais importante: o vinho ou o próprio sangue dEle? Da
mesma maneira, qual é mais importante: o sangue de uma
pessoa, ou sua própria vida? Vale a pena perder a vida para
preservar o sangue? De que vale estar cheio de sangue se
estiver morto?

Irrefutavelmente, a vida do homem é mais importante


do que seu sangue. Ser contra esta verdade é o mesmo que
afirmar que as alianças de ouro valem mais do que o próprio
casamento. É como dizer que a oferta vale mais do que o altar
que a santifica. E isto é o oposto do que Jesus ensinou (Mt
23.19). O altar é mais importante do que a oferta que está
sobre ele, bem como o casamento é mais importante do que as
alianças que o representam. Igualmente, a vida do homem é
mais importante do que seu sangue que está dentro dele.

Não adianta deixarmos de comer sangue, que é símbolo


do valor que Deus dá à vida, se deixamos as pessoas morrerem
justamente por falta de sangue. O símbolo é nada, se não
existir a prática representada por ele.
461

O malfeitor que foi crucificado ao lado de Cristo não


teve a oportunidade de se batizar nas águas. Mas, nem por
isto, ele deixou de se converter. Ele abriu mão do símbolo para
ter sua vida real salva no paraíso. As Testemunhas de Jeová
também deveriam abrir mão do símbolo, quando a vida real
está em jogo.

Qual é o mais correto: tirar a vida, ou deixá-la morrer?

“Então, disse Jesus a eles: Que vos parece? É lícito, no


sábado, fazer o bem ou o mal? Salvar a vida ou dexá-la
perecer?” (Lc 6.9).

Jesus até infringia o sábado para salvar uma vida, pois


Ele sabia o que era mais importante para Deus. Entre guardar
o sábado e salvar uma pessoa, Jesus preferia salvá-la. Ele fez
uma escolha entre dois mandamentos para cumprir. As leis de
Deus e as leis dos homens foram feitas para proteger a vida, e
não para tirá-la. Matar alguém mediante a lei só acontece como
forma punitiva.

O que dizer, então, de matar inocentes que não


cometeram nenhum crime? As Testemunhas de Jeová matam
seus próprios filhos, por impedir que recebam sangue.
Também matam outras pessoas por negar socorro. Elas não
doam sangue, ainda que tenha alguém morrendo diante delas.
462

As parteiras hebreias, para continuarem salvando os


filhos dos israelitas que estavam sendo chacinados pelos
egípcios, mentiram, afirmando que as hebreias eram muito
rápidas e davam à luz antes das parteiras chegarem (Ex 1.15­
21). É uma mentira, mas salvou vidas. Elas julgaram o que
seria mais sensato fazer: mentir ou deixar alguém morrer. Não
estou aprovando a mentira, mas apenas dizendo que as
parteiras preferiram responder pelo pecado da mentira a
responder pelo pecado das mortes dos filhos dos israelitas.

E as Testemunhas de Jeová usam do artifício da


mentira, quando necessário. A Sociedade inventou um novo
conceito para a mentira, aprovando-a nos casos que convêm à
Organização. Se conseguiram fazer uma exceção a um
mandamento genuinamente bíblico, por que são incapazes de
fazer a exceção da transfusão à regra de comer sangue?

A vontade de Deus é salvar vidas, e não deixá-las


morrer. Quando Ele proibiu os hebreus do Velho Testamento
de comer ou beber sangue de animais, este manjar não era um
remédio indispensável à vida. O sangue não era a única comida
que podia salvá-los da morte, não era uma coisa que, se
alguém deixasse de comer, morreria fisicamente. Se assim
fosse, Deus teria permitido comer.
463

Mas as transfusões, pelo contrário, representam a


diferença entre a vida e a morte. A falta de sangue humano nas
veias mata o corpo. Por isto, Deus não desaprova transfusões.

Paulo falou a Timóteo que é proibido tomar vinho (1Tm


3.3,8). Mas o próprio Paulo permitiu Timóteo tomar vinho, por
questão de saúde (1Tm 5.23).

Temos que ver o que é prioridade para Deus: salvar


uma vida, ou deixá-la morrer. O mesmo Deus que proibiu
comer ou beber sangue também disse: “não matarás”. Se
alguém obedece ao mandamento da transfusão, mas infringe a
ordem de não deixar uma vida perecer, continua sendo infrator
da Lei. Por que seria sensato supor que o mandamento de
salvar vida é inferior ao de comer sangue? E a determinação
“não matarás” surgiu bem antes da “não comerás sangue”.
Está no jardim do Éden, quando Deus penalizou Caim pela
morte de Abel.

Para as Testemunhas de Jeová, é preferível perder a


vida a violar um “mandamento divino” . Porém, cuidando
estarem obedecendo a Deus, elas infringem outras regras: a de
não matar e a de não se suicidar. Não há vantagem, portanto,
em obedecer a uma norma, violar outra, e ainda perder a vida.

Ora, aquele que, tendo o poder de salvar alguém, omite


socorro, é assassino (Pv 24.11,12; Lc 10.30-37). De acordo com
464

o Código Penal brasileiro, omitir socorro é crime. O Estado é


responsável pela vida dos cidadãos, não tendo estes o direito de
decidir tirar a vida de outrem, nem mesmo a própria vida. Os
pais que matam seus filhos por não permitirem transfusão de
sangue são homicidas!

E aquele que se recusa a salvar a própria vida com uma


transfusão de sangue é suicida. O suicídio, além de crime
contra as leis brasileiras, é crime contra Deus. Entendam de
uma vez: não há salvação eterna para o suicida, tampouco
para o homicida!

No caso de Jesus, que queria curar no sábado, não se


trata de uma infração à lei do sábado, mas de uma exceção. É
como o mandamento de obedecer às autoridades (Rm 13.1; Tt
3.1). Temos que cumpri-lo, a menos que as ordens das
autoridades sejam conflitantes com as ordens de Deus (At
4.19; 5.29). São exceções de regras, as quais temos que levar
em conta com bom senso.

“A seguir, lhes perguntou: Qual de vós, se o filho ou o boi


cair num poço, não o tirará logo, mesmo em dia de sábado?” (Lc
14.5).

O sábado era lei rígida. Porém, Jesus consentia que os


homens a infringissem, se fosse por motivo de salvar um filho
ou boi que tivesse caído num poço. Mas a verdade é que, se as
465

Testemunhas de Jeová guardassem o sábado, teriam deixado


morrer seus filhos ou seus bois, caso os mesmos tivessem
caído num poço em dia de sábado. Elas preferem violar o
mandamento de “não matar” do que outros mandamentos que
supõem ser Divinos.

Os filhos das Testemunhas de Jeová morrem


frequentemente em todo o mundo, por causa da omissão
proposital de socorro dos próprios pais.

Certa vez, alguns anciãos Testemunhas de Jeová foram


ao hospital, interrogaram um paciente de câncer que estava em
seu leito de morte, e o desassociaram ali mesmo, por ter
aceitado transfusão de sangue43. Ao invés de terem levado uma
palavra de conforto, ou dado algum ensinamento para o bem,
cometeram tamanha crueldade para com o moribundo.

É mais fácil para a Torre de Vigia perdoar um assassino


ou ladrão, do que perdoar alguém que fez uma transfusão de
sangue.

Jesus disse que o sábado foi feito por causa do homem,


e não o homem por causa do sábado (Mc 2.27). Da mesma
maneira, o sangue foi feito por causa do homem, e não o

43 C a r ta p u b lic a d a e m 8 d e d e z e m b ro d e 1 9 8 4 , n a e d iç ã o d o T h e
C o n c o rd M o n ito r (New H a m p sh ire ).
466

homem por causa do sangue. É mais vantajoso salvar uma


vida do que cumprir uma suposta ordem de não transfundir
sangue, a qual nem sequer existe.
467

Seguir a lei como os judeus

Os judeus, que são exímios praticantes da Lei mosaica


desde vários milênios, nunca tiveram problemas com
transfusão de sangue. Nem mesmo os judeus ortodoxos, que
são mais rigorosos no cumprimento cabal da Lei e que, até
hoje, observam todos os preceitos bíblicos sobre a preparação
de alimentos e sobre carne com sangue, seguem a tradição de
como matar os animais para alimento, jamais proibiram as
transfusões. Tal é a maestria dos judeus em cumprir a Lei, que
os Adventistas do Sétimo Dia aprenderam com eles muitas
lições sobre como guardar o sábado da maneira correta.

E por que as Testemunhas de Jeová sobem ao patamar


de maior gabarito bíblico para o cumprimento da Lei do Velho
Testamento? Que experiência um pequeno grupo com um
século de existência tem a mais do que os judeus, que são
seguidores de Moisés há três milênios e meio? De forma que, se
quisermos aprender a cumprir a Lei, temos que aprender com
os judeus. E eles permitem transfusões de sangue
normalmente, sem dor na consciência.
468
469

Sem explicação

Como já pudemos constatar, as Testemunhas de Jeová


possuem muitas incongruências em sua doutrina de não
aceitar transfusões de sangue. Há contradições e também
vários quesitos ilógicos em sua estrutura. Para que a proibição
das transfusões faça algum sentido, as Testemunhas de Jeová
teriam que responder plausivelmente a várias perguntas:

1) Como uma criança pequena poderia perder a salvação


eterna, se recebesse sangue involuntariamente? A criança
não tem culpa por receber sangue, visto que não tem idade
para responder por si. Sendo assim, isenta-se de pecado.
Supõe-se que Deus pune o homem pelos seus próprios
pecados, e não pelos de seus pais (Dt 24.16; 2Rs 14.6; 2Cr
25.4; Jr 31.29,30; Ez 18.2-4). Deste modo, a criança não
perderia sua salvação ao receber sangue contra sua
vontade, pois ela nada pode fazer para recusá-lo.
A não observância deste princípio tem matado inúmeros
filhos de Testemunhas de Jeová, inutilmente. E seus
próprios pais são os assassinos.
470

2) A Sociedade Torre de Vigia aceita vacinas, que são feitas à


base de componentes do sangue de animais. Antes estas
vacinas eram rejeitadas pelos mesmos versículos que
fazem a Torre de Vigia proibir as transfusões. Como tais
trechos bíblicos podem ter um efeito positivo para as
vacinas e, ao mesmo tempo, um efeito negativo para o
sangue humano?
3) A Sociedade Torre de Vigia afirma que o sangue é um tecido
ao mesmo tempo em que permite fazer transplantes de
tecidos. Então por que não aceita os transplantes de
sangue?
4) Por que são proibidos glóbulos vermelhos, glóbulos
brancos, plaquetas e plasma, ou até mesmo o sangue
integral, se é permitido transfundir partes fracionadas
destes quatro componentes? Se a Bíblia afirma que não se
pode comer sangue, porventura seria permitida a ingestão
de frações de seus componentes? Quer dizer que é
permitido transgredir um pouco a Lei de Deus, desde que
não a transgrida muito? Fracionar um pecado faz com que
ele deixe de ser pecado? Se fosse assim o pecador teria a
liberdade de cometer todos os seus pecados, bastando
apenas que os cometa gradativamente, de forma
fracionada.
5) O plasma do sangue consiste em 92% de água, segundo
afirmou a revista Despertai!, de 22 de Outubro de 1990,
471

pág. 4. Se é proibida a utilização de todos os componentes


primários do sangue (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos,
plaquetas e plasma), por que não é proibida também a
ingestão de água?
6) Ainda sobre a questão anterior:
“O entendimento religioso das Testemunhas não proíbe de
modo absoluto o uso de componentes, como a albumina, as
imunoglobulinas e os preparados para hemofilicos” (Como
Pode o Sangue Salvar a Sua Vida?, 1990, pág. 27).
Se a Torre de Vigia permite que sejam usados todos os
componentes do plasma, inclusive a água, por que o
plasma inteiro é proibido? Por acaso, sendo proibido comer
sanduíche, seria permitido comer separadamente o pão, o
hambúrguer, o alface e o tomate? A Torre de Vigia nunca
quis responder a estas perguntas, pois não sabe a resposta.
7) Se os glóbulos vermelhos passam naturalmente da mãe
para o filho em gestação, e também do filho para a mãe
através da placenta, por que não poderiam passar depois
por transfusão? Qual é a diferença? De ambas as formas, o
sangue foi transferido de uma pessoa a outra.
8) Se os glóbulos brancos estão presentes no leite materno, o
qual a criança bebe de forma natural e não proibida, por
que a Torre de Vigia não aceita a transfusão de glóbulos
brancos?
472

9) Até mesmo o leite de vaca que as Testemunhas de Jeová


bebem está carregado de glóbulos brancos. Por que elas
aceitam beber leite, mas condenam a transfusão? O mais
lógico seria proibir primeiramente o leite, o qual é comido,
ao invés do sangue, que é apenas transfundido.
10) O corpo humano possui mais leucócitos (glóbulos brancos)
fora das veias e artérias do que dentro. Somente uma
pequena parte, de dois a três por cento, está no sangue,
enquanto que o restante se espalha por outras partes do
corpo. Desta forma, quando uma Testemunha de Jeová
aceita um transplante de órgão, está recebendo muito mais
leucócitos do que receberia numa transfusão de sangue.
Então por que a Torre de Vigia proíbe os leucócitos e
aprova os transplantes?
11) Não sei se elas ignoram o fato de que os órgãos
transplantados vêm junto com sangue. É tanto que só pode
haver transplante, se houver compatibilidade do tipo
sanguíneo entre o receptor e o doador. Portanto, legalizar
os transplantes é o mesmo que legalizar a inserção de
sangue alheio.
12) Além disto, um animal abatido, por mais que seja
sangrado, ainda possui metade do sangue em suas veias e
artérias. As Testemunhas de Jeová comem sangue todos os
dias e não sabem. Se elas se preocupam tanto com os
detalhes, por que não proibiram também o consumo de
473

qualquer tipo de carne, visto que é impossível retirar todo o


sangue do animal?
13) A prática das transfusões é muito antiga:
“A Transfusão de Sangue faz sua entrada- A ideia de usar o
sangue de uma pessoa saudável para transferir juventude e
vitalidade para alguém velho ou doente é muito antigo.
Existia na medicina egípcia tão cedo quanto dois mil anos
antes de Cristo. Especulações similares são encontradas nos
clássicos antigos, tal como o de Ovídeo: “Desembainhai
apenas as espadas e rápido, o sangue mudado escoa do seu
corpo - Eu encho as suas veias com o novo...” (The
Illustrated History of Surgery, by Knut Haeger, 1988, 1990
ed., pág. 135).
Por que a Bíblia não se mostrou contra as transfusões, se
elas já existiam durante o tempo em que os Livros Sagrados
foram escritos? Ao invés disto, a Bíblia recusava apenas a
prática de comer sangue.
14) Na A Sentinela de 1 de Outubro, 1985, pág. 23, a
Sociedade declarou que:

.u n s 70 milhões de unidades de Fator VIII concentrado
são importados dos Estados Unidos e usados no
tratam ento dos hem ofílicos britânicos. Cada lote de Fator
VIII é fabricado do plasm a coletado de até 2.500 doadores
de sangue. ”
474

A Torre de Vigia permite este tratamento. E a mesma


Sociedade afirma que é pecado doar e armazenar sangue:
‫״‬... visto que a Palavra de Deus indica que é errado tomar
transfusão, é também errado dar alguém o sangue para
transfusão” (A Sentinela, 15 de Março, 1962, pág. 177).
Como seria feita a utilização de partículas do sangue, as
quais são permitidas, se não houvesse uma prévia doação e
armazenagem?
13) Além dos preparados hemofílicos (Fator VIII e IX), as
Testemunhas de Jeová também aceitam a utilização de
outros derivados do plasma, como: albumina,
imunoglobulina da Hepatite B, imunoglobulina do tétano,
imunoglobulina da raiva, imunoglobulina RhO, anti-
trombina III, imunoglobulina humana.
Uma única injeção de imunoglobulinas para a vacina
contra a cólera necessita de três litros de sangue para ser
produzida. Se não houvessem doação e armazenamento de
sangue, como seria possível produzir todos estes derivados?

Se a Sociedade Torre de Vigia não puder responder


satisfatoriamente a todas as perguntas acima, tampouco tem o
direito de proibir as transfusões de sangue.
475

Vida é sangue?

Esta é uma pergunta que parece ter resposta óbvia,


mas não é. A Bíblia, realmente, diz que vida é sangue? As
Testemunhas de Jeová fazem uma confusão que, embora
pequena, traz consequências enormes. Na verdade, sangue é
vida, mas vida não é sangue:

“Somente esforça-te para que não comas o sangue: pois o


sangue é a vida: pelo que não comerás a vida com a carne” (Dt
12.23).

O versículo afirma legivelmente, não que a vida é o


sangue, mas que o sangue é a vida, significando que o sangue
representa a vida da pessoa.

O original da palavra “vida” é nephesh, vocábulo


hebraico que designa “alma”. Em casos como este, alma
significa vida, ser vivo, pessoa.

Se a alma fosse sangue, como explicar os sentimentos


que envolvem as almas dos salmistas? Porque o livro de
Salmos está repleto de afirmações de que a alma está triste,
angustiada, alegre. Estaria no sangue tão profundos
476

sentimentos? A resposta é muito simples. A palavra “alma” tem


vários sentidos. Não se pode atribuir a ela apenas um
significado isoladamente. Além disso, a palavra “sangue” tem
sua própria correspondente hebraica específica. Portanto,
nephesh apenas lhe toma emprestado o significado.

E, por falar em significado de alma, as Testemunhas de


Jeová consideram que o homem, ao invés de ter uma alma, é
uma alma. Assim creem para negar a imortalidade da alma, e
para não admitir que o homem tenha alma. Por isto, ao dizer
que a alma é o sangue, contradizem a própria doutrina
mortalista. Porque o homem não é sangue, mas tem sangue.

Ademais, “a carne e o sangue não podem herdar o reino


de Deus”. Se o homem for uma alma e se alma for sangue, logo
o homem não pode entrar no reino de Deus. Há um grande
desencontro nas teorias mortalistas. As peças do quebra-
cabeça não se encaixam.

Ainda no que se refere ao significado de alma, não


podemos dizer que o sangue é a alma porque a própria alma
tem sangue:

“Certamente, requererei o vosso sangue, o sangue da


vossa vida [alma]; de todo animal o requererei, como também da
mão do homem, sim, da mão do próximo de cada um requererei
a vida do homem” (Gn 9.5). Ό homem carregado do sangue de
477

qualquer pessoa [alma] fugirá até à cova; ninguém o detenha”


(Pv 28.17). “Para que fuja para ali o homicida que, por engano,
matar alguma pessoa [alma] sem o querer; para que vos sirvam
de refúgio contra o vingador do sangue” (Js 20.3). “São estas as
cidades que foram designadas para todos os filhos de Israel e
para o estrangeiro que habitava entre eles; para que se
refugiasse nelas todo aquele que, por engano, matasse alguma
pessoa [alma], para que não morresse às mãos do vingador do
sangue, até comparecer perante a congregação” (Js 20.9).
“Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas
daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus
e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em
grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e
verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que
habitam sobre a terra?” (Ap 6.9,10).

Se a alma tem sangue, isto é uma prova bíblica de que


a alma não é precisamente o sangue.

A alma tem sangue e, além disso, come sangue:

“Toda pessoa [alma] que comer algum sangue será


eliminada do seu povo” (Lv 7.27). “Portanto, tenho dito aos filhos
de Israel: nenhuma alma de entre vós comerá sangue, nem o
estrangeiro que peregrina entre vós o comerá” (Lv 17.12).
478

Se a alma fosse sangue, os versículos acima estariam


dizendo que alma come alma, ou que sangue come sangue, e
isto não tem cabimento. Portanto, para todos os efeitos, sangue
é vida, mas vida não é sangue.

É neste ponto que quero chegar, para fazer referência às


transfusões. Jesus doou Seu sangue para nos dar a vida (1Co
11.24,25). Por que não podem as Testemunhas de Jeová fazer
o mesmo? Se o sangue é a vida, outorgá-lo é o mesmo que
oferecer vida a quem precisa.

“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por


nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16).

Além de nos oferecer Seu sangue, Jesus nos deu a


própria vida, e ainda nos disse que devemos dar a vida pelos
irmãos. No Velho Testamento está escrito que o sangue é a
vida. Casando um texto com o outro, deduz-se que devemos
dar até mesmo nosso sangue, se isto for necessário para salvar
a vida de alguém.

“Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a


própria vida em favor dos seus amigos” (Jo 15.13).

As Testemunhas de Jeová negam doar seu sangue aos


que estão à beira da morte. Elas afirmam que amam, mas, na
479

hora de provar, fazem o contrário do que dizem e o oposto do


que está ordenado na Bíblia.
480
481

COMO A MENTIRA É VISTA

A maioria das religiões, principalmente das cristãs,


reconhece que a mentira é um pecado abominável. Mas as
Testemunhas de Jeová praticam a mentira, livremente, quando
necessário.

Endossam a mentira em nome da “estratégia de guerra


teocrática”, na qual é permitido mentir àqueles que não são
dignos de conhecer a verdade:

“Mentir geralmente envolve dizer uma falsidade a


alguém que tem o direito de saber a verdade. ... Ao passo que a
mentira maldosa é definitivamente condenada na Bíblia, isto
não significa que a pessoa seja obrigada a divulgar informações
verídicas àqueles que não têm direito a ela.s... Evidentemente, as
ações de Abraão, Isaque, Raabe e Elias em enganar ou esconder
os fatos daqueles que não adoravam a Jeová, devem ser vistos
na mesma perspectiva” (Estudo Perspicaz das Escrituras,
volume 2, 1988, página 245).

Em outras palavras, é permitido mentir a quem não


adora Jeová, desde que a mentira não seja maldosa. O autor
482

dessa sandice colocou como exemplo personagens bíblicos que


mentiram.

Mas o fato deles terem mentido, não nos impele a fazer


o mesmo. Por exemplo, não podemos cobiçar a mulher do
próximo, como Davi fez, nem adulterar, nem matar o esposo da
mulher, como fez o rei Davi. Sansão também cometeu atos
deploráveis. No entanto, não temos o direito de repetir os
mesmos erros dele. Salomão se contaminou com esposas que
adoravam a deuses falsos. Nem tudo o que os ícones da Bíblia
fizeram foi louvável. Temos que saber imitá-los apenas nas
obras boas, e não nas más.

“Assim que ela apareceu na rua, um oficial Comunista


perguntou-lhe se ela tinha visto uma mulher com uma blusa
vermelha. “Não”, respondeu ela. Será que ela disse uma
mentira? Não, não disse. Antes, ela estava usando estratégia de
guerra teocrática, escondendo a verdade por ação e palavra
para o bem do ministério [...] Uma grande obra está sendo feito
pelas testemunhas, mesmo nas terras onde a sua atividade
encontra-se banida. A única maneira que elas têm de cumprir a
ordem de pregar as boa.s novas do reino de Deus é por usar de
estratégia de guerra teocrática [...] Assim, em tempo de guerra
espiritual é apropriado enganar o inimigo por esconder a
verdade [...] Hoje em dia, os servos de Deus estão envolvidos
numa guerra, espiritual e teocrática. Uma guerra ordenada por
483

Deus contra as forças espirituais iníquas e contra falsos ensinos


[...] Em todos os momentos elas devem ser cautelosas em não
divulgar qpalquer informação ao inimigo que ele possa usar para
impedir a obra de pregação” (A Sentinela de 1 de Maio de 1957,
P. 285 a 286).

Mentira é a declaração falsa que alguém faz a outrem


que tem o direito de ouvir e conhecer da verdade; tal declaração
falsa tem o objetivo de prejudicar a outrem. Qualquer declaração
falsa, que é feita com o propósito de enganar e prejudicar a
outrem, é mentira deliberada e maligna” (Riquezas, 1936, p.
170, parágrafo 1).

Segundo as Testemunhas de Jeová, é permitido mentir,


desde que as pessoas envolvidas não tenham o direito de
conhecer a verdade. É uma regra que, além de absurda, dá
uma liberdade ilimitada para a mentira. Quase toda mentira
poderia ser justificada por essa regra. Pois, quem seria apto
para dizer, em cada caso, se a pessoa que está ouvindo tem o
direito ou não de saber a verdade? Quais parâmetros poderiam
determinar se a ocasião é de “guerra santa” ou não? A
subjetividade desses parâmetros acaba permitindo todas as
mentiras que se queira.

Observe que Jesus, mesmo estando em “guerra


teocrática”, nunca mentiu. Os apóstolos também não, apesar
484

de terem se encontrado em apuros diversas vezes. Ou qual


deles mentiu no livro de Atos, se é que é possível apontar um
nome? Eles passaram por aflições, mas não usaram a mentira
como subterfúgio.

A Torre de Vigia utiliza a mentira como arma para se


defender nos tribunais, também como ferramenta para
conseguir o que quer e para alcançar os seus propósitos. Neste
ponto, sua religião não se diferencia do islamismo, que usa a
mentira para defender seus interesses. Assemelha-se ao grupo
terrorista, à máfia ou a qualquer outro grupo pagão, pois todos
eles não firmam suas bases na verdade. Se fosse mesmo
louvável usar a mentira para escapar de situações
embaraçosas, o que diferenciaria os cristãos dos pagãos?

“A Palavra de Deus ordena: ‘Falai a verdade cada um ao


seu próximo.’ (Efésios 4: 25) Esta ordem, porém, não significa
que devamos dizer a qualquer um que nos perguntar tudo o que
ele deseja saber. Temos de dizer a verdade àquele que tem o
direito de sabê-la, mas, se alguém não tem o direito a isso,
podemos ser evasivos. Porém, não podemos dizer uma
falsidade... Há, porém, uma exceção que o cristão precisa ter
sempre em mente. Como um soldado de Cristo, ele se encontra
numa guerra teocrática e precisa exercer extrema cautela
quando lida com os adversários de Deus... para proteger os
interesses da causa de Deus, é correto ocultar a verdade dos
485

inimigos de Deus” (A Sentinela de 15 de outubro de 1960, p.


639, 640).

“Embora a mentira maliciosa seja errada aos olhos de


Jeová, ninguém é obrigado a divulgar informações verídicas a
quem não tem o direito de sabê-las” (A Sentinela de 15 de
dezembro de 1993, p. 25).

A Sociedade inventou um novo conceito para a mentira,


aprovando-a nos casos que convêm à Organização. As
Testemunhas de Jeová são incentivadas a mentir até mesmo
sob juramento no tribunal, o que, além de antibíblico, é crime
contra as leis humanas.

Note que a Bíblia não proibiu especificamente as


mentiras maldosas. Ela vetou a mentira em si, seja ela qual
for.

Tanto no dicionário português, quanto no hebraico e no


grego, mentira é mentira. Mentir significa proferir algo que não
seja verdadeiro, independente da pessoa que ouve merecer ou
não ouvir a verdade. O fato do ouvinte ser pagão não muda o
conceito de mentira. Mentir em casos específicos de
necessidade continua sendo mentira e, como tal, é rejeitada
pela Bíblia. Não existe mentira permitida por Deus, por mais
inofensiva ou bem intencionada que pareça.
486

O pecado da mentira é mais do que um simples erro. É


uma identificação do mal, que pode separar o homem de Deus:

“Não há de ficar em minha casa o que usa de fraude; o


que profere mentiras não permanecerá ante os meus olhos” (Sl
101.7). “Seis coisas o Senhor aborrece, e a sétima a sua alma
abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam
sangue inocente, coração que trama projetos iníquos, pés que se
apressam a correr para o mal, testemunha falsa que profere
mentiras e o que semeia contendas entre irmãos” (Pv 6.16-19).
“A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras
perece [...] O que torna agradável o homem é a sua misericórdia;
o pobre é preferível ao mentiroso” (Pv 19.9,22). “Os lábios
mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que agem
fielmente são o seu prazer” (Pv 12.22).

Pode ser salvo alguém que é abominável ao Senhor? A


mentira é uma prova de que o coração não foi regenerado. O
pecado da mentira é muito sério e desagrada a Deus.

Falar somente a verdade é uma ordem bíblica:

“Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade


cada um com o seu próximo” (Lv 19.11). “Por isso, deixando a
mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque
somos membros uns dos outros” (Ef 4.25).
487

Os mentirosos estão na mesma categoria que os


transgressores, rebeldes, irreverentes, pecadores, ímpios,
profanos, parricidas, matricidas, homicidas, impuros,
sodomitas, raptores de homens, perjuros e tudo quanto se opõe
à sã doutrina (1Tm 1.8-10). A mentira é uma qualidade de não
convertidos. Não corresponde aos frutos do Espírito (Gl 5.22).
Quem é cristão produz fruto de cristão. Quem é pagão produz
fruto de pagão (Mt 7.16-20). E quem profere mentiras é espírito
maligno (1Rs 22.23). Os mentirosos são destruídos por Deus
(Sl 5.6).

“Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-


lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se
firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele
profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e
pai da mentira” (Jo 8.44).

Assim, aquele que mente é considerado filho do diabo.


A mentira é própria de Satanás. E isto já é motivo suficiente
para repudiarmos a prática desse pecado.

Observe o outro oposto:

“Deus não é homem, para que minta; nem filho de


homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido,
não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?” (Nm 23.19). “Na
esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir
488

prometeu antes dos tempos eternos” (Tt 1.2). “Para que,


mediante duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que
Deus minta, forte alento tenhamos nós que já corremos para o
refúgio, a fim de lançar mão da esperança proposta” (Hb 6.18).

Enquanto Deus não mente jamais, o diabo é o pai da


mentira. De qual lado você quer ficar?

“Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos


abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos
idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no
lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte [...]
Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o
que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no
Livro da Vida do Cordeiro” (Ap 21.8,27). “Fora ficam os cães, os
feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatra.s e todo aquele
que ama epratica a mentira” (Ap 22.15).

Os versículos acima declararam que os que praticam a


mentira não possuem os nomes inscritos no Livro da Vida, e
não entrarão na Nova Jerusalém. A parte que lhes cabe é a
segunda morte, ou seja, o Lago de Fogo.

Por estas razões, é preciso que a Torre de Vigia reveja


seus conceitos sobre “guerra teocrática” e perceba o quanto
está induzindo seus fiéis à condenação e à morte.
489

COMO É A VIDA DE UMA TESTEMUNHA


DE JEOVÁ

Quem vê o comportamento dos membros da religião


Testemunhas de Jeová, com toda aquela empolgação e alegria,
nem imagina o que tem por trás, tampouco é capaz de
mensurar a situação por que eles passam cotidianamente para
estar ali.

Um novo prosélito se encanta com o tratamento


dispensado pelos membros Testemunhas de Jeová. É
recepcionado com largos sorrisos e muita cordialidade. Não
sabe ele que está seguindo num caminho que tem passagem só
de ida, e que a vida que o aguarda no Salão do Reino não
corresponde às “mil maravilhas”, como ele esperava que fosse.

Logo no início, as novas Testemunhas de Jeová são


envolvidas e entranhadas à igreja de tal forma que se prendem
a ela e são dominadas por ela. Os iniciantes não são avisados
de que estão ingressando num ambiente controlador,
monitorador, cheio de exigências e sem volta.
490

Neste estágio, recebem instruções de que poderão sofrer


desaprovação da família. Aprendem que qualquer desaprovação
é de autoria de Satanás, para tentar afastá-los de Jeová.
Quando menos esperarem, as recém-testemunhas de Jeová já
ficarão com os laços familiares rompidos ou seriamente
prejudicados. Julgando estarem sendo rejeitados pela família,
elas mesmas é que a rejeitam, como quem rejeita investidas do
diabo. Para elas tudo é preto ou branco, bem ou mal. Quem
não é de Deus é de Satanás e é mau, inimigo, devendo ser
evitado. Os familiares são encarados como “mundanos”,
pessoas condenadas à destruição.

Um método muito eficiente de dominação mental é o


confinamento grupal. As Testemunhas de Jeová são ensinadas
que todo aquele que não faz parte da Organização é mundano,
não salvo, satânico. O membro tem que se defender dele,
irredutível, como se estivesse defendendo-se de alguém que
procura destruí-lo. São inimigos. Há uma divisão entre os de
dentro e os de fora da igreja, onde os de fora são considerados
inferiores, impuros e sujeitos à obediência ao diabo. A seita
poda os relacionamentos, controla e censura a comunicação,
de modo que os recém-convertidos ficam cada vez mais
distantes de seus familiares e amigos.

Eles são incentivados a não se associarem com


qualquer pessoa que não faça parte da Organização. E, se os
491

familiares, ou amigos tentarem abrir os olhos deles,


incentivando-os a repensarem sobre a decisão de ser
Testemunhas de Jeová, eles consideram a atitude como
estratégia de Satanás para afastá-los salvação. E será tratado
assim qualquer um que tentar ajudá-los.

“Satanás talvez use perseguição ou oposição para


afastá-lo de Jeová. Alguns dos seus entes queridos talvez se
zanguem muito porque você estuda a Bíblia. Outros talvez
zombem de você. Mas a quem deve a vida? Satanás quer
amedrontá-lo para que pare de aprender algo sobre Jeová. Não
deixe Satanás vencer! ... Por resistir ao Diabo, pode tornar Jeová
feliz e mostrar que defende a Sua soberania” (O Que Deus
Requer de Nós?, 1996, Capítulo 4: “Quem é o Diabo?”, pág. 9).

As Testemunhas são avisadas, desde o início, que


Satanás se oporia à nova religião delas.

O confinamento social, unido ao envolvimento profundo


com as atividades da seita, faz com que esta seja “a vida, o
tudo” das Testemunhas de Jeová. Toda a vida se resume à
Organização. A Organização passa a ser a razão e o centro da
vida de seus fiéis.

As mudanças que sofrem os novos ingressantes à seita


Testemunhas de Jeová são visíveis. Logo causam impacto e
estranheza aos próprios familiares e amigos. Estes percebem
492

que o indivíduo mudou radicalmente sua maneira de ser, como


se algum alienígena tivesse tomado o lugar de seu cérebro
original. E todos os membros da seita são iguais, como se
fossem irmãos de sangue e tivessem sido criados juntos na
mesma família. Quem vê uma Testemunha de Jeová é como se
estivesse vendo o padrão de todas elas. Têm os mesmos
costumes, comem e bebem a mesma coisa, vestem-se de igual
forma, reagem de maneira igual a qualquer influência a que
são submetidas. Creem exatamente nas mesmas coisas.

Para uma comparação apropriada, as Testemunhas de


Jeová se assemelham a personagens daqueles filmes em que os
alienígenas dominam os corpos dos humanos, assumindo a
identidade destes. A mente está virada. Todos pensam a
mesma coisa. Estão alienados do mundo, pois deixaram de ter
vontade própria, deixaram de gostar das coisas que antes
gostavam, perderam a própria personalidade. Parecem-se com
os ratos da lenda, seguindo o flautista de Hamelin.

A Torre de Vigia alega que todos devem pensar a mesma


coisa, baseada neste versículo:

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus


Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós
divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma
disposição mental e no mesmo parecer” (1Co 1.10).
493

Mas a Sociedade exagera no cumprimento do texto.


Paulo nunca disse que os fiéis devem ser obrigados a crer nas
mesmas coisas, como robôs sem senso crítico. Em primeiro
porque o versículo e o contexto falam apenas que não pode
haver discussões, nem desentendimentos, nem divisões
partidárias. É isto o que diz o texto.

Em segundo lugar porque o crer não deve ser imposto,


nem obrigatório. A igreja tinha liberdade para crer em coisas
diferentes:

“Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come


legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não
come não julgue o que come, porque Deus o acolheu. Quem és tu
que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé
ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o
suster. Um faz diferença entre dia e dia; outro julga iguais todos
os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua própria
mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e
quem come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e
qpem não come para o Senhor não come e dá graças a Deus”
(Rm 14.2-6).

A seita Testemunhas de Jeová manipula os


sentimentos. Chega ao ponto de eliminar de vez as emoções,
tornando o semblante neutro e insensível. Ou, em
494

determinadas circunstâncias, procura ultrapassar os limites


das emoções, manipulando-as para extremamente felizes, ou
extremamente tristes.

Os integrantes da seita são obrigados a participar de


cinco reuniões por semana, de uma hora de duração cada,
participar de várias assembleias e congressos ao longo do ano,
fazer vários tipos de atividades e pregações, dedicar várias
horas ao estudo de todo material fornecido pela Torre de Vigia.

Neste processo sofrem lavagem cerebral e se enraízam


nessa religião de forma cada vez mais profunda e irreversível.
Não tem mais volta. Eles sentem que não possuem mais a
capacidade de parar de fazer os rituais e as obrigações da
igreja. Os membros se sentem constrangidos a agir mais pela
pressão dos irmãos do que pela própria vontade.

Além disto, o medo de serem rejeitados e ostracizados é


outro fator que os impede de abandonar a Organização. Os
membros são sujeitos a tribunais feitos a portas fechadas
(comissão judicativa), são julgados e até expulsos, se for o
caso. Muitas Testemunhas de Jeová não concordam que o
Corpo Governante detenha a verdade absoluta, mas, mesmo
assim, não abandonam a igreja por medo. Medo de serem
rejeitadas e de perderem privilégios, medo de terem suas vidas
arruinadas por boatos maldosos, medo de perderem a única
495

esperança da salvação, medo de perderem o emprego, caso o


mesmo seja de propriedade de irmãos Testemunhas de Jeová.
Medo de estarem despreparadas para enfrentar o mundo
moderno lá fora.

Com o tempo, as testemunhas de Jeová começam com a


negação da própria personalidade, entregando-se a pensar
somente aquilo que são programadas para pensarem, e a
desejar apenas o que lhes é permitido desejarem. Os membros
temem revelar sua identidade e liberdade. Antes, tentam
neutralizá-las, por medo da intolerância da Torre de Vigia. As
vítimas da Organização são convertidas em robôs,
programadas para agir e raciocinar de forma única. Técnicas
linguísticas são usadas, para manipular as mentes.

“Evite Ideias Independentes ... Satanás, desde o começo


de sua rebelião, questionou a maneira de Deus fazer as coisas.
Promoveu ideias independentes. ... Como se manifestam tais
ideias independentes? Um modo comum é questionar o conselho
provido pela organização visível de Deus. ... Lute Contra Ideias
Independentes ... Mas, há alguns que salientam que a
organização j á antes teve de fa z e r ajustes, e por isso
argumentam: “Isto mostra que temos de decidir por nós mesmos
o qpe devemos crer.” Estas são ideias independentes. Por que
são tão perigosas? Tais ideias dão evidência de orgulho. ... Se
chegamos a pensar que sabemos mais que a organização,
496

devemos perguntar-nos: “Onde é que aprendemos a verdade da


Bíblia? Conheceriamos o caminho da verdade se não tivesse
havido a ajuda da organização? Podemos realmente passar sem
a orientação da organização de Deus?” Não, não podemos!” (A
Sentinela, 15 de julho de 1983, p. 22, 27).

“Acautele-se dos que procuram apresentar suas próprias


opiniões contrárias” (A Sentinela, 15 de março de 1986, p. 17).

“Eliminar indivíduos que ousassem sustentar conceitos


diferentes” (A Sentinela, 1.° de setembro de 1989, p. 3).

A organização é terminantemente contra qualquer


pessoa que se mostre capaz de pensar sozinha. Ninguém pode
questionar ou criticar as doutrinas recebidas no Salão do
Reino. Tudo o que é aprendido ali é considerado como verdade
única e absoluta.

Os escritos publicados pela Torre de Vigia não podem


ser questionados, nem criticados, mesmo sabendo que o Corpo
Governante já cometeu vários erros sérios, publicados como
verdade por anos e retratados posteriormente. Suas revistas
(Despertai! e A Sentinela) afirmam ter o poder igual à Bíblia,
para a orientação da vida espiritual e para o controle da vida
material de cada um. Porém, na prática, o poder que tais
revistas têm sobre a vida das Testemunhas de Jeová é bem
497

superior à Bíblia. Tudo o que elas dizem é considerado lei


vinda do próprio Deus.

“Mais ainda, não só achamos que as pessoas não podem


ver o plano divino estudando somente a Bíblia, mas pensamos
também que se alguém dexar de lado os “Estudos das
Escrituras”, mesmo que seja depois de os ter usado, depois de
se ter familiarizado com esses livros, depois de os ter lido
durante dez anos - se ele depois os deixa de lado e os ignora e
se vira somente para a Bíblia, embora tenha compreendido a
Bíblia durante dez anos, a nossa experiência mostra que dentro
de dois anos ele fica na escuridão. Por outro lado, se ele tivesse
somente lido os “Estudos das Escrituras” com as referência.s, e
não tivesse lido uma página diretamente da Bíblia, ele estaria
na luz no fim desses dois anos, porque teria a luz das
Escrituras” (A Sentinela de 01 de dezembro de 1916, p. 357).

A publicação colocou a Bíblia abaixo dos pés dos


“Estudos das Escrituras”. De nada adianta ler a Bíblia se não
ler os “Estudos das Escrituras” . Por outro lado, a leitura dos
“Estudos das Escrituras” dispensa a leitura da Bíblia. Isto é o
contrário do que se registra em 2Tm 3.16,17:

“Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o


ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
498

justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e


perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17).

Paulo disse que as Escrituras Sagradas, por si só, fazem


o homem de Deus ser perfeito e perfeitamente habilitado. A
Bíblia é autossuficiente, não necessitando ser moldada por
literaturas estranhas.

Mas a obra “Estudos das Escrituras”, que é da autoria


de Russell, está hoje indisponível. A Torre de Vigia não a
imprime mais, como também não imprime nenhuma obra de
Russell. Desta forma, as Testemunhas de Jeová atuais não
leram nada desse material e não têm a menor ideia do que está
escrito nele.

As Testemunhas de Jeová, apesar de lerem


frequentemente o trecho de 2Tm 3.16,17 e de concordarem
com sua veracidade, pensam diferente.

“Se você passar 15 minutos lendo cada um dos livros de


Rutherford, terá mais prazer do que lendo a Bíblia por um ano
inteiro” (Vindicação III, 1932, p. 383).

“Pergunta: Poderá a leitura da Bíblia... conduzir alguém


à verdade? Resposta: Não... a mais valiosa literatura para fazer
alguém entender a Bíblia é publicada pela Associação
499

Internacional dos Estudantes da Bíblia” (A Idade de Ouro de 27


de julho de 1927, pp. 700,701).

“A ideia deles é que cada um deveria guiar-se por sua


leitura e sua interpretação particulares da Bíblia, em vez de
juntar-se a uma unidade de pessoas treinadas a viver e a
trabalhar segundo os elevados princípios e lembretes da Palavra
de Deus” (A Sentinela, 15 de Novembro, 1984, págs. 17-18).

“Ocasionalmente, os opositores questionam os diversos


ensinos comuns aos do povo de Jeová... Dizem que tudo o que é
preciso é ler a Bíblia. Ma.s a cristandade já está lendo a Bíblia
por séculos.” (A Sentinela, 1 de Setembro, 1983, pág. 25).

“A menos que estejamos em contato com este canal de


comunicação usado por Deus, não avançaremos na estrada da
vida, não importa o (quanto leiamos a Bíblia” (A Sentinela de 01
de agosto de 1982, p. 27).

Isto foi escrito mais recentemente, no ano de 1982.


Mesmo na ausência de Russell, o Corpo Governante é o
responsável por dar o “alimento espiritual” aos seus fiéis em
“momento apropriado”. Esse alimento, em forma de
publicações escritas, é considerado muito mais importante e
necessário do que a Bíblia.
500

Aos membros da seita não é permitido ler a Bíblia


desacompanhada de literatura da Torre de Vigia. Neste quesito
a religião se assemelha ao Catolicismo, que não autoriza a
leitura da Bíblia e afirma que somente os padres podem
compreendê-la. Da mesma forma, o Corpo Governante ensina
que ninguém pode entender as Escrituras, senão ele. Afirma
que, se uma pessoa comum ler a Bíblia aprofundar-se-á em
trevas espirituais, correndo o risco de crer em doutrinas de
cristãos “apóstatas”.

“Dizem que basta ler exclusivamente a Bíblia, quer em


particular, quer em pequenos grupos em casa. Mas, o que é
estranho é que por meio de tal ‘leitura da Bíblia’ voltaram
novamente para trás, para as doutrinas apóstatas que os
comentários dos clérigos da cristandade estavam ensinando há
100 anos...” (A Sentinela, 1 de Junho, 1982, págs. 28).

A própria Sociedade admitiu que a leitura da Bíblia


faz alguém sair de lá. De fato, não é possível que um leitor das
Escrituras continue sendo católico ou Testemunha de Jeová.
Isto acontece porque a verdade bíblica abre os olhos dos cegos
e os liberta de seitas enganadoras. É por esta razão que o
Corpo Governante, assim como o Catolicismo, proíbe a leitura
particular.
501

Mas se o leitor, se basear apenas no material da Torre


de Vigia, conhecerá apenas a versão dela sobre a Bíblia, e não
poderá ser liberto pela verdade.

As Testemunhas de Jeová andam com bolsas para


carregarem todo seu material literário. A Bíblia não é suficiente
para elas, pois não consegue fundamentar os dogmas de sua
religião. Pelo contrário, a Bíblia, se estiver desacompanhada
de literatura extra, opõe-se fortemente à seita Testemunhas de
Jeová. É por isto que elas não podem andar somente com a
Bíblia, como fazem os outros evangélicos. Aquelas que se
atrevem a seguir somente a Bíblia como ela é, sem ressalvas,
acaba se convertendo ao verdadeiro Evangelho e libertando-se
da seita.

Ler, meramente, as Testemunhas de Jeová podem ler a


Bíblia. Mas estudar e interpretar não:

“Assim, a Bíblia é um livro de organização e pertence à


congregação cristã como organização, não a indivíduos, não
importa quão sinceramente creiam poder interpretar a Bíblia. Por
esta razão, a Bíblia não pode ser devidamente entendida sem se
ter presente a organização visível de Jeová” (A Sentinela, 1 de
Junho, 1968, pág. 327).


Não devemos perder de vista que Deus está dirigindo a
sua organização... Desviar-se alguém de Jeová e de sua
502

organização, desprezar a orientação do “escravo fiel e discreto”


e estribar-se simplesmente na leitura e interpretação pessoais
da Bíblia é como tornar-se uma árvore solitária numa terra
árida” (A Sentinela, 1 de Junho, 1985, págs. 1920).

“Todos nós precisamos de ajuda para entender a Bíblia,


e não podemos encontrar a orientação bíblica de que precisamos
fora da organização do “escravo fiel e discreto”” (A Sentinela, 15
de Agosto, 1981, pág. 19).

“Será que o “escravo fiel e discreto” [organização Torre


de Vigia] aprova que grupos de Testemunhas de Jeová se
reúnam à parte da congregação para realizar pesquisas ou
debates sobre a Bíblia? — Mat. 24:45, 47. Não. Mesmo a.ssim,
em várias partes do mundo, alguns dos que se associam com a
nossa organização formaram grupos para realizar pesquisas
independentes sobre assuntos bíblicos. Alguns fazem parte de
grupos que pesquisam o hebraico e o grego usados na Bíblia a
fim de analisar a exatidão da Tradução do Novo Mundo...
Também organizam palestras e produzem publicações para
divulgar suas conclusões e complementar o que é transmitido em
nossas reuniões cristãs e publicações... Assim, “o escravo fiel e
discreto” não apoia quaisquer publicações, reuniões ou páginas
na internet que não sejam produzidas ou organizadas sob a
supervisão dele... Para os que desejam estudar e pesquisar
mais a Bíblia, recomendamos usar as publicações Estudo
503

Perspicaz das Escrituras, “Toda a Escritura É Inspirada por


Deus e Proveitosa” e outras produzidas....” (Ministério do Reino,
Setembro 2007, pág. 3).

As Testemunhas de Jeová são proibidas até mesmo de


ler qualquer literatura que pregue contra a religião ou a Torre
de Vigia. Tudo o que traz informação contra a doutrina é
proibido: ler livros, ver filmes, ouvir depoimentos de ex-
testemunhas de Jeová, conversar com qualquer pessoa que
seja contra. Estes são exemplos de coisas proibidas por lei,
cuja desobediência está sujeita a punições. O membro não
pode ter contato com nada que o faça olhar para a Organização
com olhos críticos. Ele tem a obrigação de confiar cegamente
nela, sem precisar recorrer a outros meios de comunicação. É
um prisioneiro que não pode sequer arquitetar sua fuga.

Esta é outra maneira de impedir que seus membros


façam deserção ou que se libertem da seita. A falta de leitura
traz a ignorância. É muito fácil manipular mentes que não
possuem instrução. Além disto, a liderança sabe que tem
muita coisa podre na Torre de Vigia que necessita permanecer
escondida. E as Testemunhas de Jeová estão realmente
perdidas, porque não lhes foi facultado sequer o direito de ler a
respeito, para aprenderem sobre a argumentação contrária.
504

Quem está fora dessa religião sabe muito mais sobre ela
do que quem está dentro. Porque quem está fora tem a
liberdade de estudar, pesquisar, consultar outras fontes,
enquanto que os de dentro estão como que usando viseiras
para cavalos, as quais os impedem de olhar para os lados. Só
podem olhar para a frente, onde o dono dos cavalos ordena que
olhem. E essa cegueira é justamente o que a Torre de Vigia
necessita para manter seus membros, visto que, se eles
soubessem o que é realmente tal religião, nunca teriam entrado
nela.

É por esta razão que pessoas inteligentes não devem


ingressar numa religião que as impede de ler, estudar,
pesquisar, pensar, raciocinar. Porque isto é uma clara forma de
dominação mental através da ignorância. Imagine um caso de
uma empresa vendedora de móveis que diga:

“Não compre móveis no meu concorrente da esquina e


não ouça o que ele tem a dizer de mim. Porque ele fala que meus
métodos são desonestos e ilegais. E isto é mentira”.

Você, em sanidade mental, compraria móveis da


empresa que diz isto? É óbvio que não, pois a mesma declarou
que o concorrente tem motivos para falar mal dela. Deixou
estampado que tem coisas a esconder e que o cliente não
505

podería se informar delas, antes de comprar cegamente o


móvel.

Se o cliente quiser comprar dessa empresa tem que, no


mínimo, ir ao concorrente e obter informações. Terá que
descobrir o que a empresa tem a esconder. Dessarte, é sensato
concluir que um aspirante a se tornar Testemunha de Jeová
deve ler vários depoimentos de ex-membros, para saber em que
está se metendo.

A Torre de Vigia assevera aos novos membros que sua


religião é a única correta e que as demais são do diabo. Mas,
como você poderia saber, ó inepto, se sua nova religião é
mesmo a correta? Todas as religiões também afirmam que as
demais são do diabo. Então por que você tem que acreditar
justamente naquela que não te dá o direito de pesquisar e de
se informar sobre ela?

O curioso é que a Torre de Vigia impede, pela força, que


seus membros se informem sobre a seita, mas recomenda que
os membros das outras religiões façam análise crítica das
mesmas, para saberem se são religiões verdadeiras:

“Precisamos examinar não só o que nós mesmos cremos,


mas também o que é ensinado pela organização religiosa com
que talvez nos associemos. Estão os seus ensinos em plena
harmonia com a Palavra de Deus ou se baseiam em tradições de
506

homens? Se amarmos a verdade, não precisamos temer tal


exame. Cada um de nós deve ter o desejo sincero de aprender a
vontade de Deus para nós a depois fazê-la” (A Verdade Que
Conduz à Vida Eterna, p. 13/5).

É impressionante a ousadia de utilizar “dois pesos e


duas medidas”. A Torre de Vigia incentiva os membros das
outras religiões a estudarem e a examinarem a si próprios.
Entretanto, proíbe os membros de sua própria religião de fazer
o mesmo.

Para quem é Testemunha de Jeová, quero insistir na


pergunta. Como você sabe se a sua religião é a verdadeira e se
todas as outras são falsas?

Certamente, responder-me-iam:

“Porque Deus disse que é.”

Segunda pergunta: como você sabe que Deus disse isto?

“Porque o Corpo Governante o afirmou.”

E como você sabe que o Corpo Governante está certo?


Esta pergunta não possui resposta plausível. Ninguém pode
provar que o Corpo Governante é iluminado pelo Espírito
Santo. O fato dele fazer afirmações sobre si próprio de que é o
porta-voz de Deus não lhe dá a razão. Porque toda religião
507

assegura ser a única verdadeira e que as demais são do diabo.


Portanto, confiar no que a liderança de cada religião diz não é a
maneira certa de provar autenticidade. É tolice. Perguntar para
seus líderes se sua religião é verdadeira jamais provará coisa
alguma, visto que cada líder falará bem da sua religião e mal
das outras. Confiar em palavras de homens é como tentar
atravessar um lago de areia movediça. Todos os líderes
religiosos dirão, infalivelmente: “a minha religião é a correta”.

Então como saber qual religião é a correta? Existe uma


forma de identificar qual delas diz a verdade acerca de si
própria. A resposta é muito simples: pesquisando, estudando
em todo tipo de fontes. Se você se limitar em estudar somente o
material fornecido pela sua religião, nunca compreenderá nada
além do que ela quer que você compreenda. Você será sempre
um prisioneiro dela.

E, se sua religião proíbe consultar literatura de outras


religiões, isto já é uma razão para você perceber que ela quer
esconder alguma verdade sobre si mesma. Mas a religião que
anda na verdade não teme que seus fiéis estudem a respeito. O
que ela esconde? Pergunte-se isto.

A Torre de Vigia diz que o motivo de impedir seus fiéis


de estudarem em fontes diversas é para proteger seus fiéis de
caírem em ciladas de Satanás, o qual tenta tirá-los da igreja.
508

Bom, isto é o que ela diz. Mas lembre-se de que não temos que
acreditar em palavras de homens. E observe que a própria
Torre de Vigia admitiu que, se seus membros estudarem a
respeito, sairão da seita. Por quê? Porque a verdade liberta (Jo
8.32). Porque a única coisa capaz de aprisionar alguém numa
religião cheia de defeitos é a mentira, visto que ela esconde tais
defeitos.

A seita das Testemunhas de Jeová utiliza o medo, a


culpa e a vergonha como ferramentas para manipular o
comportamento de seus fiéis. Confere recompensas às boas
atitudes e imputa punições aos infratores. Estes são criticados
e humilhados publicamente. São forçados a confessar seus
pecados diante de todos. E o conhecimento destes pecados se
torna uma arma nas mãos da liderança, para ser usada no
controle comportamental e no domínio mental.

As Testemunhas de Jeová são supervisionadas,


observadas rigidamente, e punidas nos casos em que a seita
julga ser cabível. Cada membro é vigia e delator de seu irmão.
Qualquer infração é comunicada aos anciãos da Organização.
Esta possui arquivados registros de todas as informações de
seus membros, fazendo com que pareça onisciente aos olhos
dos fiéis.
509

As Testemunhas de Jeová fazem espionagem desde


várias décadas atrás, violando a privacidade das pessoas. Não
apenas um ou dois membros, mas sempre pessoas diferentes
estão a seguir e a observar de longe a conduta de certos
membros, ou de ex-membros. Como são pessoas diferentes,
que a vítima só vê uma única vez, fica impossibilitada de
denunciar à polícia. Os espias chegam até ao ponto de
grampear celulares, colocar escutas telefônicas, hackear contas
de e-mail. É deste modo que as coisas ditas em segredo vazam
na Organização44.

Os membros são obrigados a denunciar todas as


informações difamatórias que sabem sobre os outros, até
mesmo dados confidenciais de sua empresa, que não podem
ser expostos. A exemplo disto, citam-se os relatórios médicos,
os quais podem registrar um aborto, ou um procedimento feito
com elementos do sangue. São dados confidenciais. Por causa
da pressão da igreja, eles preferem ferir a ética a ocultar um
delito que outro membro tenha feito, ainda que isto lhes custe
a perca do emprego, processos, ou problemas judiciais. E isto

44 H á s ite s n a i n te r n e t e sp e c ia liz a d o s e m re c e b e r d e n ú n c ia s s o b re v ítim a s d e


e s p io n a g e m p o r p a r te d a s T e s te m u n h a s d e Je o v á : h ttp s : //w w w .je h o v a h s -
w it n e s s .c o m /t o p i c / 1 9 1 8 2 3 /w e re -y o u -s ta lk e d -c h a s e d -a fte r-o n c e -y o u -e x ite d -
jw s -e ld e rs , h ttp s : //w w w .je h o v a h s - w itn e s s .c o m /to p ic /2 0 8 4 5 0 /e ld e r - a r r e s te d -
s ta lk in g , h ttp : //w w w .s ta lk e r - b e w a r e .c o m /. h ttp : / /c h r i s t i a n w i t n e s s e s .c o m / .
510

apesar da delação não ser uma ordem bíblica, mas meramente


uma ordem da Torre de Vigia.

A manipulação é feita inculcando aos fiéis que o Corpo


Governante é escolhido por Deus e pode dominar de maneira
ditatória sobre os fiéis. E as decisões da vida particular de cada
um devem também estar sujeitas à aprovação ou permissão da
liderança. A vida pessoal do indivíduo é, não apenas
monitorada, mas também controlada. Uma Testemunha de
Jeová não pede ao Corpo Governante orientações para decisões
pessoais do cotidiano, mas pede ordens, que serão seguidas ao
pé da letra.

O Corpo Governante é detentor da verdade absoluta e


irrefutável. Os interesses da religião são mais importantes do
que os interesses pessoais. O tempo deve ser gasto
primeiramente com as atividades e reuniões, deixando em
segundo plano as necessidades pessoais. É um verdadeiro
trabalho escravo, onde os fiéis têm que abandonar tudo, até
mesmo a universidade, para seguir a seita.

Ter uma universidade e uma carreira na vida não é


permitido, pois ocuparia o tempo que o fiel tem que dedicar às
obras da igreja. Ao invés do ensino universitário, o membro
tem que desempenhar seu trabalho de pioneiro, que é pregar
de porta em porta, e dedicar-se a frequentar o Salão do Reino.
511

Parece que se esqueceram de que o pastor Rutherford


era juiz enquanto presidente da Sociedade Torre de Vigia.

Cada um tem que ter a imagem de santidade, a qual só


é alcançada com alto envolvimento e compromisso com a
religião. Servir à Organização é uma tarefa muito cansativa. As
cobranças são exageradas. Cada membro tem que dar conta de
várias horas mensais de pregação nas ruas. Todos são
obrigados a registrar o tempo gasto nessa atividade e a prestar
relatório mensal para a congregação, contendo o número de
horas gastas, bem como o total de revistas, livros e brochuras
distribuídos ao público.

Essas horas são o fator determinante para se ter


influência e respeito dentro da religião. Funcionam como o
termômetro para medir a temperatura da fé do membro. Para
adquirir cargos não importa o quanto a Testemunha de Jeová
seja uma pessoa amorosa e de fé, ou que tenha conhecimento
bíblico e obras de caridade, mas sim o quanto tenha gastado de
tempo na pregação.

Que Deus tenha piedade das Testemunhas de Jeová. O


resultado de sua escravidão a decretos humanos traz
consequências irreparáveis. Muitas Testemunhas de Jeová,
possuem baixa auto-estima, pouco amor próprio, perca de
identidade, depressão, culpa, nervosismo, sensação de solidão.
512

Por vezes sentem raiva da Organização. Têm até pesadelos


relativos a isto. Possuem dificuldades de tomar simples
decisões do dia a dia, além de dificuldades de confiar nas
pessoas e de fazer amizades.

Estatisticamente a taxa de suicídios, tentativas de


suicídios, ou casos esquizofrênicos, são maiores nas
Testemunhas de Jeová, em relação ao restante do mundo,
considerando a equivalência numérica. Há registros
exagerados, desde o início do século passado, de casos de
Testemunhas de Jeová diagnosticadas psicóticas, mentalmente
retardadas, esquizofrênicas, neuróticas, mal ajustadas
socialmente, com o cérebro avariado, com paranoia irracional,
depressão profunda e com outras anomalias e doenças
mentais. Estes casos apresentam média bem maior entre as
Testemunhas de Jeová do que no meio da população em geral.

As estatísticas apontam também para crimes agressivos


contra pessoas, homicídios e suicídios. Estes casos também
foram registrados como acima da média.

Muitas Testemunhas de Jeová usam remédios para


terem estabilidade mental. Suas famílias são bombardeadas
pelos conflitos de fé nos casamento em jugo desigual, bem
como no relacionamento de parentes ostracizados. Além disto,
513

sofrem constantes pressões para satisfazer as expectativas da


liderança da seita e dar conta de todas as tarefas impostas.

Pesou muito também sobre os membros da seita as


mudanças de doutrinas dela durante as décadas passadas.
Testemunhas de Jeová tiveram seus familiares mortos por
causa da proibição de vacinas, transplantes de órgãos e
transfusões de componentes ou frações do sangue. Mas, depois
de verem seus entes queridos mortos, testemunharam a Torre
de Vigia, simplesmente, mudando seus conceitos sobre estes
procedimentos médicos. O que antes era proibido agora não é
mais.

A proibição de alistamento militar também foi causa de


muitos casos psicóticos e anomalias mentais, segundo
pesquisa feita nos Estados Unidos em 1949. Além disto,
milhares de jovens por todo o mundo foram detidos em prisões
por anos, pela escolha de não fazer o alistamento obrigatório,
julgando ser mais compensativo obedecer à determinação do
Corpo Governante de não se envolver com serviços militares.

As mudanças de doutrinas da seita não se limitam a


conceitos sobre transplantes de órgãos. Outro fator de peso
foram as previsões proféticas erradas. A fé dos membros foi
frustrada diversas vezes, quando as datas proféticas não eram
cumpridas. Eles eram levados a questionar a veracidade da
514

religião que seguiam e a achar que todo o sacrifício que fizeram


por ela foi em vão. Pessoas abandonaram suas casas, deixaram
de constituir família, entregaram suas vidas, confiando numa
previsão que nunca acerta.

É relevante também o ensinamento que a Torre de Vigia


delega a seus fiéis sobre o conceito das pessoas “mundanas”. A
imagem transmitida é que todo aquele que não faz parte da
seita é mau, servo de Satanás e que será destruído por Jeová
no Armagedom. O ódio pelos não membros é disseminado no
coração das Testemunhas de Jeová, levando-as, não poucas
vezes, a cometerem crimes contra eles.

E quantas pessoas deixaram de fazer filhos e até mesmo


de se casar, devido às recomendações da Torre de Vigia?
Quantos, por causa das proibições, perderam a oportunidade
de cursar numa universidade, ou de prestar serviços às Forças
Armadas, ou de ter uma brilhante carreira nos esportes?
Quantas pessoas perderam todo o contato social e a
capacidade se se relacionarem, por culpa das advertências
feitas pela Torre de Vigia? Sonhos foram jogados no lixo.
Imagine o trauma emocional que isto traz a uma pessoa que
descobre que todas as proibições acima foram equivocadas e
desnecessárias?
515

O interessante é que muitos pacientes com problemas


emocionais relataram que ficaram mais felizes depois que
saíram da religião da Torre de Vigia.
516
517

Como vivem os filhos das Testemunhas de


Jeová

Após um dos cônjuges abandonar a Organização e


deixar de ser Testemunha de Jeová, o vínculo marital se torna,
praticamente, extinto, devido à repulsa que o indivíduo recebe
do outro cônjuge. Segundo a Sociedade, viver com o cônjuge
dissociado ou desassociado é tido como um grande perigo à
espiritualidade do outro.

A pessoa que sai da religião não tem sequer a


oportunidade de se explicar para o cônjuge, pois não pode mais
conversar com ele, nem tentar convencê-lo de coisas contrárias
à Torre de Vigia.

“Não há motivos de se escutar o filho ou o cônjuge


desassociado, se este tentar justificar-se ou procurar convencer
o fiel do seu modo de pensar e agir. Tampouco deve dar-se
ouvidos às suas objeções quanto a como o caso foi tratado pela
comissão judicativa [...] Em fidelidade a Deus, nenhum dos da
congregação deve cumprimentar tais pessoas (que saem) ao se
encontrar com elas em público, nem deve acolhê-las no seu lar.
Até mesmo parentes consanguíneos, que moram no mesmo lar
518

com o parente desassociado, por darem mais valor às relações


espirituais do que as carnais, evitam tanto quanto possível o
contato com tal parente desassociado” (Organizados para Pregar
o Reino e Fazer Discípulos, página 171, 172).

Se há um casamento em jugo desigual (um crente com


um descrente), mesmo se o descrente não for um desassociado,
a vida conjugal está seriamente ameaçada. Porque a parte não
crente questionará, com razão, o fato de seu cônjuge passar
muito tempo no Salão do Reino, nos congressos, nas
assembleias, nas reuniões e nas pregações. Tais tarefas afetam
bastante a vida a dois, visto que a parte crente não vai ceder
nenhum milímetro aos pedidos da parte descrente.

Outro motivo de brigas é a forma como os filhos são


criados nos mesmos moldes do cônjuge crente. As crianças
também têm pesado fardo para carregar, além de serem
proibidas de fazer amizades com pessoas normais. E isto sem
falar da pressão que a Torre de Vigia faz para que o cônjuge
crente cumpra todos os seus deveres ou se divorcie.

As Testemunhas de Jeová legalizam o divórcio por


motivos não aprovados pela Bíblia. Se, por exemplo, a esposa
julgar que seu cônjuge a está atrapalhando a servir a Deus,
tem todo o apoio da Organização para se divorciar, fugir de
519

casa e levar os filhos, impedindo o esposo de ter qualquer


contato com eles.

“O absoluto perigo à espiritualidade também provê base


para a separação. O crente num lar dividido em sentido religioso
deve fazer todo o possível para aproveitar-se das provisões
espirituais de Deus. Ma.s, permite-se a separação caso a
oposição do cônjuge descrente realmente impossibilite praticar a
adoração pura e deveras puser em risco a espiritualidade” (A
Sentinela de 15/12/1981, página 25).

Na circunstância de um divórcio, o relacionamento dos


filhos com cônjuge não Testemunha de Jeová (neste exemplo, o
pai) é comprometido. Se a mãe ganhar a guarda dos filhos,
tentará separá-los do pai a qualquer custo.

Os filhos são ensinados a evitarem o pai, por motivo


deste ser um condenado a morrer no Armagedom. São levados
a crer que ele é mau e que os maus serão destruídos por Jeová.
Eles aprendem que a companhia do pai é altamente
prejudicial, por imaginar que ele não as levará às reuniões do
Salão do Reino e que não terão apoio na carreira religiosa.
Temem ser expostos a ensinamentos “apóstatas”, que os farão
perder a salvação. Pensam que o pai está condenado a ser
morto por Jeová no dia final, e querem se distanciar dele, a fim
de que não lhes ocorra o mesmo. São instruídos a ter medo
520

dele, bem como a odiá-lo, ostracizá-lo, pois todos os inimigos


de Jeová devem ser odiados.

Para garantir a guarda das crianças, a mãe Testemunha


de Jeová tem à sua disposição advogados altamente treinados
na seita, prestando serviços grátis. A mãe é orientada a mentir
nos tribunais, para ganhar a custódia dos filhos. E as crianças
são treinadas para parecerem pessoas normais, quando
entrevistadas. Não podem passar a imagem de que são
diferentes, reclusas, censuradas, infelizes, para que o tribunal
não julgue ser prejudicial fazê-las ficar com a mãe. Elas
ensaiam respostas e fingem ter algum plano na vida, ter algum
hobbie, sentir prazer no lazer, enfim fingir ter sentimentos e
aspirações como as crianças normais. Tomam o cuidado de
dizer que pretendem fazer faculdade, o que lhes é vetado, na
verdade.

O advogado do pai, para se defender desta covardia,


necessita conhecer a doutrina religiosa das Testemunhas de
Jeová, a fim de saber contra o que está lidando. Precisa reunir
textos das publicações da Torre de Vigia, para provar o que
realmente a seita reserva para a criação daquelas crianças.
Tem que demonstrar que elas estão sendo coagidas a mentir no
tribunal, e que a realidade lhes reserva um futuro sombrio,
servil e alienado.
521

A Torre de Vigia tem até um manual de custódia de


crianças: “Preparando-se para Casos de Custódia de Crianças”.
Este manual instrui o tipo de mentiras que devem ser ditas no
tribunal para ocultar o verdadeiro estilo de vida das
Testemunhas de Jeová.

O argumento do advogado do pai não deve ser contra a


crença, nem contra a religião, mas contra o modo de vida que
ela reserva às crianças, e o quanto isto seria prejudicial para os
relacionamentos e a carreira profissional. Tem que observar o
quanto as crianças estarão expostas a riscos de saúde física,
psicológica, emocional e social.

De fato, elas perderão alguns benefícios da vida, como


comemorar o aniversário delas e de seus amigos, comemorar
dias festivos tais como o Natal, o Dia das Mães, o Dia dos Pais
e todos os feriados. São proibidas de se relacionar com pessoas
que não são Testemunhas de Jeová, proibidas de participar de
exercícios extracurriculares na escola, proibidas de cursar na
faculdade. São forçadas a se sentar quietas em horas de
reuniões aborrecidas de adultos e cumprir com todos os
requisitos de estudo da Torre de Vigia, além de tarefas
escolares. Outra consequência inevitável para as crianças é se
afastarem cada vez mais do pai, tornando-se como que
completos desconhecidos.
522

Acrescenta-se ainda que, caso a criança venha a se


tornar um filho “rebelde”, que não queira participar da seita,
seus pais perderão os privilégios dentro da Organização e não
poderão crescer lá dentro, nem usufruir dos cargos da
congregação. Este é o caso em que a Testemunha de Jeová
opta por expulsar de casa o seu filho, quando este atingir a
maioridade, ou esperar que o mesmo saia por vontade própria,
a fim de que seus pais não percam privilégios na
congregação45.

Além de todas estas coisas, se necessitarem de


transfusão de sangue, preferirão a morte a aceitá-la. No
tribunal, a mãe mentirá, afirmando que permitiria uma
transfusão, caso fosse necessária. Mas, na realidade, esta
intenção jamais foi verdadeira, e sim apenas uma técnica de
defesa para não perder a guarda das crianças. A Torre de Vigia
lutará de todas as formas para que os filhos sejam criados
como Testemunhas de Jeová.

As crianças aprenderão a ter medo do mundo, o qual é


domínio de Satanás. Por isto, serão levadas a se distanciarem
de todas as pessoas, eventos e oportunidades que há no
mundo. Deixarão de seguir carreira na faculdade para dedicar-

45 Livro se c re to : P a s to re ie m o R e b a n h o d e D e u s , e d iç ã o d e 2 0 1 0 , p á g in a s 36,
3 7 . A S e n tin e la , 15 d e N o v em b ro , 1 9 5 2 , p á g s . 7 0 3 , 7 0 4 .
523

se à pregação e às reuniões do Salão do Reino. Aprenderão que


isto é o mais importante na vida.

“Assim,, por afastar seus filh o s da assim chamada


educação ‘superior’ de hoje, estes pais poupam seus filhos de
serem expostos a uma crescente atmosfera de desmoralização,
e, ao mesmo tempo, preparam-nos para a vida no novo sistema”
(Despertai! de 08 de junho de 1967, p. 25).

“Caso esteja no nível médio e pensando na


universidade, isto implica em, pelo menos, quatro, talvez seis
ou oito anos para graduar-se em uma carreira especializada.
Mas como estará este sistema de coisas por essa época? Estará
bem no rumo de seu fim, se é que já não tenha se acabado!... O
que é realmente prático, preparar-se para uma posição neste
mundo que logo desaparecerá? Ou trabalhar para sobreviver ao
fim deste sistema...?” (Despertai! de 22 de maio de 1969, p. 15).

“Em vista do curto tempo que resta, a decisão de buscar


uma carreira neste sistema de coisas não só é tola, mas
extremamente perigosa... A muitos jovens irmãos e irmãs
foram ofertados bolsas de estudo ou empregos altamente
rentáveis. Entretanto, eles recusaram e puseram os interesses
espirituais primeiro” (Ministério do Reino de junho de 1969, p.
3).
524

“A influência e espírito deste mundo é destacar-se, fazer


um nome para si mesmo. Muitas escolas agora têm conselheiros
dos estudantes que encorajam uma pessoa a buscar educação
superior depois do ensino secundário, a buscar uma carreira
com um fu tu ro neste sistema de coisas. Não seja influenciado
por eles. Não deixe que eles lhe façam uma “lavagem ao
cérebro” com a propaganda do diabo para se destacar, pa ra
fa z e r algo de si mesmo neste mundo. Resta muito pouco
tempo a este mundo! Qualquer “futuro” que este mundo ofereça
não é futuro! Sabiamente, então, deixe a Palavra de Deus
influenciá-lo em selecionar um rumo que resultará na sua
proteção e bênção. Tome como seu objetivo o serviço de pioneiro,
o ministério de tempo integral, com a possibilidade de serviço em
Betel ou serviço missionário. Essa é uma vida que oferece um
futuro eterno!” (The Watchtower, 15 de Março de 1969, p. 171).

“Um ancião na Coréia incentivou seus quatro filhos a se


tornarem pioneiros... Sua filha mais velha... queria ingressar na
universidade, a certa altura. Entretanto, seu pai informou-a
que, ao passo que era livre para escolher tal caminho, ela não
poderia esperar apoio financeiro dele. Ela mudou de ideia e
agora usufrui bênçãos como pioneira. O filho seguinte... uma vez
também quis ir para a universidade e seguir um curso
secular... Seu pai... disse-lhe qpe, se insistisse em ter uma
carreira secular, também teria que encontrar outro lugar para
viver...” (Ministério do Reino de maio de 1973, p. 6).
525

"... até onde deveriam ir com a educação secular?


Dificilmente seria consistente para tais jovens, de escolha
própria, procurar estudos seculares extensivos além daquele
que é requerido pelo lei e por seus pais... anos adicionais de
universidade podem apresentar armadilhas” (A Sentinela de
01 de setembro de 1975, p. 543).

“Muito embora as jovens Testemunhas interessem-se por


boa educação, elas não vão em busca do estudo com a
intenção de obter prestígio e proeminência... Assim,, elas
preferem cursos que sejam úteis para seu sustento no mundo
moderno. Desse modo, muitos fazem cursos vocacionais ou
frequentam escolas vocacionais. Ao deixarem a escola, eles
desejam arranjar trabalho que lhes permita se concentrarem em
sua principal vocação, o ministério cristão” (A Escola e as
Testemunhas de Jeová, 1983, p. 5).

“Ao passo que os conselheiros escolares apontarão certo


tipo de carreira, os pais cristãos podem frisar alvos que
satisfaçam o crescente interesse da criança pelo serviço de
Jeová, tais como o serviço de pioneiro, de Betel, ou missionário”
(A Sentinela, 1 de Agosto, 1986, pág. 29).

“Pais, é pouco provável que seus filhos prezem muito os


assuntos espirituais a menos que vocês os prezem. Portanto,
apresentem-lhes os alvos do serviço de pioneiro e de
526

missionário, e de servir em Betel. Ajudem-nos a reconhecer que o


ministério é uma carreira que tem futuro, e que realmente não
há fu tu ro nas carreiras do mundo” (A Sentinela, 15 de
Agosto, 1987, pág. 20).

“Que carreira escolherá?... Devo cursar uma


universidade e tentar fazer carreira como médico, advogado, ou
cientista? ...Ou, como jovem devotado a Jeová Deus, devia eu
escolher o ministério de tempo integral como carreira vitalícia,
deste modo ‘lembrando-me do meu Criador nos dias da minha
mocidade?... Deixou a faculdade, arranjou emprego de tempo
parcial, foi batizado, e logo se qualificou para pioneiro —
pregador de tempo integral. Assim, Harry aventurou-se numa
nova carreira. ...O contagiante espírito de pioneiro havia sido
incutido nos jovens. Por volta da época em que entravam no 2. °
grau, praticamente todos já tinham como alvo o serviço de tempo
integral. Ela e outros jovens na congregação nunca cogitaram
seriamente qualquer outra coisa” (A Sentinela, 15 de Abril,
1986, págs. 28, 30).

“Que carreira devo escolher? ... A obrigação primária


dos cristãos, atualmente, é pregar a mensagem do Reino.
(Mateus 24:14) E os jovens que assumem a sério esta obrigação
sentem-se movidos a ter uma participação tão plena quanto
possível nesta obra mesmo que não tenham uma inclinação
natural para pregar. ... Em vez de procurarem um emprego
527

secular de tempo integral, milhares preferiram servir como


evangelizadores de tempo integral (pioneiros). ... Emília, que
deixou a carreira de secretária-executiva para tornar-se
pioneira, diz:: Sim, o ministério de tempo integral é a carreira
mais satisfatória, mais excitante, que se possa imaginar! A
maioria dos ministros pioneiros se sustentam por meio de
trabalho de tempo parcial ... Ainda assim, perguntam alguns,
não faria sentido o jovem primeiro obter um diploma
universitário e talvez seguir mais tarde a carreira como
ministro? ... Todavia, será que um diplom a universitário
sempre vale o enorme dispêndio de tempo e de dinheiro? ... “Um
diplom a [de faculdade] não mais garante o êxito no mercado
de trabalho”, afirma o Ministério do Trabalho dos EUA. ...Será
que a educação universitária o fará avançar ou regredir em
seus objetivos espirituais? Lembre-se de que a alta renda não é
uma prioridade cristã. ... Como seria você afetado por ficar
imerso numa atmosfera de intensa competição e materialismo
egoísta.? ... A pressão de m anter notas altas moveu alguns
jovens cristãos a negligenciar suas atividades espirituais e,
assim, tornaram-se vulneráveis ao rolo compressor do modo de
pensar secularizado, promovido pelas universidades. . Em
vista destes fatos, muitos jovens cristãos decidiram não obter
educação universitária. ... Contudo, muitas vezes existem
programas de ensino profissional, escolas profissionalizantes ou
técnicas, e cursos universitários abreviados que ensinam
528

aptidões em demanda no mercado, com o mínimo de


investimento em tempo e dinheiro” (Despertai! 8 de Maio, 1989,
págs. 12-14).

“A educação universitária: preparação para o quê? ...


‘Você se forma numa faculdade com sonhos quanto ao futuro.
Infelizmente, a maioria de suas aspirações virarão pó”
(Despertai!, 8 de Janeiro, 1987, pág. 15).


No presente sistema de coisas, sob controle de
Satanás, há muitas coisas que parecem prometer grandes
beneficios, mas, na verdade, podem ser danosos ao nosso
relacionamento com Deus. Coisas como... ir em busca de
educação superior para alcançar a posição de alguém,...
Poucos anos atrás, um jovem cristão... teve a oportunidade de
viajar ao exterior para dar prosseguimento a seus estudos...
gradualmente, ele perdeu seu apreço pela verdade bíblica... Em
um ano ou algo assim, ele perdeu sua fé completamente e
declarou-se agnóstico” (A Sentinela de 15 de agosto de 1992,
pp. 28,29).


Se, no país onde eles vivem, educação de nível mínimo
ou até nível médio só lhes possibilitar obter empregos com ganho
insuficiente para seu sustento como pioneiros, então educação
suplementar ou treinamento podem ser considerados. Isso seria
feito com o fim específico do serviço de tempo integral... Esta
529

revista tem enfatizado os perigos do estudo superior, e com


razão, pois a educação de nível superior opõe-se ao ‘ensino
salutar’ da Bíblia” (A Sentinela de 1/11/1992, pp. 16-20).

“Talvez esteja planejando ingressar no ministério de


tempo integral como pioneiro. Realmente, nenhuma outra
escolha de carreira podería dar maior satisfação. ... Que dizer
de se procurar obter educação suplem entar longe de casa,
talvez morando num campus universitário? Seria isso sábio,
em vista da advertência de Paulo, de que “más associações
estragam hábitos úteis?” (A Sentinela, 1 de Setembro, 1999,
págs. 16-17).

“Note como um jovem, Testemunha de Jeová, usou o


raciocínio e conseguiu alcançar alvos espirituais: “Tive a
oportunidade de ter uma carreira no jornalism o. Isto me
agradava muito, mas lembrei-me do versículo bíblico que diz que
‘o mundo está passando’, ao passo que ‘aquele que faz a
vontade de Deus permanece para sempre’... De modo qpe decidi
dar um objetivo à minha vida e alistei-me no ministério de tempo
integral como pioneiro regular. Depois de quatro anos
gratificantes, sei que fiz a escolha certa” (A Sentinela de 15 de
agosto de 2002, p. 24).

“Mas qpe dizer da educação superior, recebida numa


faculdade ou universidade? ... Tal educação desperdiça
530

valiosos anos da juventude que poderiam ser mais bem usados


no serviço de Jeová” (A Sentinela, 15 de abril de 2008 , página
4, parágrafo 10).

Formar-se numa faculdade não faz parte dos planos das


Testemunhas de Jeová para seus filhos. Em vez disto, eles têm
que se dedicar ao trabalho de pregação e a todos os interesses
da Organização. Observe que muitas das datas das publicações
acima são recentes, mostrando que a Torre e Vigia ainda não
amadureceu quanto a esta questão.

E os relacionamentos das crianças na escola também


são afetados, não apenas pela obrigação de repulsarem
qualquer que não faça parte da seita, mas também pela
proibição de participarem de atividades extracurriculares e de
seguir carreira nos esportes.

“Esperam que seus filhos não se empenhem pela carreira


de atleta., mas pela de ministro de Deus. Portanto, as
Testemunhas que são pais incentivam seus filhos a usar as
horas de folga da escola prin.cipalm.ente no empenho de
interesses espirituais, em vez de se sobressaírem em algum
esporte. Achamos que a participação em esportes organizados
expõe os jovens das Testemunhas a associações não
recomendáveis. Portanto, quando jovens Testemunhas sentem a
necessidade de uma recreação extra, os pais os incentivam a
531

procurar tal recreaçao na companhia de companheiros de


crença...” (A Escola e as Testemunhas de Jeová, 1983, pág. 21).

“Alguns na congregação talvez se sintam inclinados a


convidar conhecidos mundanos e parentes descrentes, que nao
têm nenhum interesse na verdade, para reuniões sociais ...
Contudo, é isso sábio e está em harmonia com o que dizem as
Escrituras? ... Por que deveriamos ter contatos sociais
desnecessários com pessoas que continuam a cultivar os modos
do mundo e que não se tornaram adoradores de Jeová? Eles
deixam de perceber que o comparecimento a reuniões sociais
com pessoas mundanas, sem princípios, pode enfraquecer sua
fé e corrompê-los. Todos os que querem praticar a verdade
devem procurar associar-se com pessoas devotadas a Jeová e
que os ajudarao a andar na verdade e contribuirao para seu
progresso em servir a Deus” (Nosso Ministério do Reino, Junho
1989, pág. 2).

“Que dizer das atividades após as aulas? Sim, não é


fácil manter o equilíbrio quando se trata de atividades
extracurriculares. Reflita, também, nos perigos morais. Estaria
associando-se com amigos salutares que exercerão boa
influência moral? Qual seria o tema das conversas? Poderia a
influência dos colegas de time ou dos membros dum clube ter
um efeito adverso sobre você? ... Que dizer de usar o tempo para
ajudar a outros em sentido espiritual? É interessante que alguns
532

dos jovens entre as Testemunhas de Jeová no Japão começam a


fazer do ministério a sua carreira enquanto ainda cursam a
escola” (Despertai!, 8 de Dezembro, 1986, págs. 16, 18).

“Esteja também atento a outros desígnios de Satanás.


Por exemplo, os esportes, a música e a dança tornaram-se parte
destacada das diversões do mundo dele. ... Satanás, porém,
promoveu enganosamente o conceito de que não constituem
nenhum perigo de dano... Se a religião e a política fazem parte
do sistema de Satanás, não é tolo crer que as diversões
promovidas pelo mundo estejam livres da influência dele?” (A
Sentinela, 1 de Agosto, 1986, pág. 14).

“A música, os filmes, os vídeos e a televisão do mundo


destinam-se a agradar aos jovens. Propagam os ensinos
corruptos de demônios! Mas, deve isso surpreender-nos? Pense
nisso. Se a religião falsa e a política fazem parte do mundo de
Satanás — e evidentemente fazem parte dele — seria sensato
crer que o entretenimento promovido pelo mundo esteja livre da
influência demoníaca? São especialmente vocês, jovens, que
precisam precaver-se de ‘não permitir que o mundo em seu redor
os comprima em seu próprio molde’” (A Sentinela, 15 de Maio,
1994, pág. 18).

Como se pode ver, as crianças criadas por Testemunhas


de Jeová têm traçado o destino de servirem à Organização,
533

colocando os interesses da mesma acima dos seus próprios


desejos pessoais. Não lhes é facultado escolher qual carreira
seguir, nem cursar alguma matéria na universidade. Devem
manter distância das outras crianças, delimitando seus
relacionamentos apenas a membros de mesma religião. Têm
que se afastar até mesmo dos próprios pais, parentes e amigos,
se a circunstância o exigir.
534
535

FESTAS COMEMORATIVAS

A rejeição a festas de aniversário pelas Testemunhas de


Jeová se deve a motivos fúteis, sem lógica e sem relevância. O
Corpo Governante decidiu proibir festas de aniversário
unicamente por causa de dois crimes que ocorreram em festas
desse tipo:

1) Faraó, na festa de seu aniversário, condenou o padeiro


chefe à morte, por razões justificáveis (Gn 40.20-22).
2) Salomé dançou para Herodes Antipas no dia do aniversário
deste e pediu a cabeça de João Batista. Herodes, contra
sua vontade, concedeu-lhe o pedido (Mt 14.6-8).

Só por isto. Por incrível que pareça, não há outras


referências bíblicas além destas. Veja se isto é motivo
suficiente para reprimirmos a festa inteira, se o erro foi apenas
o crime cometido dentro da festa. Tem cabimento, por exemplo,
deixarmos de frequentar a igreja, se algum assaltante matar
alguém lá dentro na hora do culto? Não é o culto que traz o
pecado, mas o criminoso que o pratica em qualquer lugar,
sendo lugar apropriado, ou não.
536

Diz o Corpo Governante que tudo o que tem na Bíblia


está lá por algum motivo. Por isto reprovou as festas. É como
se as Testemunhas de Jeová estivessem alegando que o único
motivo para a existência das passagens bíblicas supracitadas
foi o de mostrar que festas de aniversário são consideradas
pecado. Quer dizer que não há outro motivo para que ambas as
histórias tivessem sido registradas?

Se o Corpo Governante quiser realmente partir para


este ponto de vista, todos os lugares e eventos deverão ser
proibidos, pois há crimes em todos eles. Orar no monte seria
proibido, pois foi lá que Judas capturou Jesus. Isto está na
Bíblia. Está registrado lá por alguma razão que, com certeza,
não é a de proibir orações no monte.

Na prisão, os apóstolos foram açoitados e Tiago foi


morto. Está registrado nas Escrituras. Mas isto é razão para
abolirmos as prisões? Foi nos tribunais que Paulo foi
condenado. Devemos proibir também os tribunais?

Os sacerdotes Nadabe e Abiú, filhos de Arão, ofereceram


fogo estranho a Deus, O qual os puniu com a morte. Mas Deus
cancelou os sacrifícios e holocaustos depois daquela data? Não.

José e seus irmãos pastoreavam ovelhas, quando José


foi vítima de tocaia pelos seus irmãos. Pastorear ovelhas é
pecado também? Tudo o que está na Bíblia está lá por alguma
537

razão. Mas temos que usar a inteligência para sabermos qual

O simples fato das festas terem sido feitas por pagãos já


é motivo para que as Testemunhas de Jeová as julguem como
festas pagãs. Ora, nem tudo o que é feito por pagãos é
pecaminoso. Os pagãos inventaram o avião, o telefone, a
lâmpada, o computador, o celular e tudo quanto há. Não se
pode dizer que toda obra de ímpios é ímpia por si. Devemos
rejeitar apenas as práticas pecaminosas deles, mas não as
boas. Estes são exemplos de coisas que devem ser evitadas:
bares, motéis, boates, centros de prostituição. As demais
coisas devem ser analisadas para que se saiba se são certas ou
erradas.

Os pagãos inventaram as festas de aniversário. E, por


isto, as Testemunhas de Jeová não as fazem. Porém, os pagãos
inventaram o futebol, jogam futebol e vão aos estádios assistir
aos jogos. O fato de tudo isto ter sido feito por pagãos não
obriga os cristãos a não jogarem futebol ou a não assistirem.
Além disto, o fato de haver brigas e até mortes em estádios não
torna o evento em si pecaminoso, nem proíbe os cristãos de
frequentarem os estádios.

Os crimes cometidos por Faraó e por Herodes poderiam


ter sido cometidos em qualquer dia ou ocasião, visto que eles
538

executavam pessoas a todo instante, por qualquer motivo. Não


havia nada que os obrigasse a praticá-los justamente na festa
de aniversário. Simplesmente houve uma coincidência para
que eles fossem cometidos naquela data. Fizeram uma coisa
ruim num dia que era bom. Se alguém cometer algum crime
em algum evento, isto não desqualifica o evento. O condenável
é o crime e não o local em que ele ocorre.

Usemos os dados estatísticos. Quantos aniversários


ocorrem no mundo todos os dias? Será que há um assassinato
em cada festa dessas? Não. Pelo contrário, o resultado de uma
festa de aniversário é alegria, fraternidade, companheirismo. A
humanidade precisa disto.

É claro que o cristão não deve extrapolar, fazendo


coisas impróprias em suas festas de aniversário, como bebidas
e músicas pecaminosas. Tudo o que ele fizer tem que ter
decência e ordem.

E devemos considerar que as festas de aniversário não


são exclusivamente pagãs. Há registro de servos de Deus
dando este tipo de festa na Bíblia:

“E iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada


um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a
comerem e beberem com eles. Sucedia, pois, que, tendo
decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os
539

santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia


holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó:
Porventura, pecaram meus flh os e blasfemaram de Deus no seu
coração. Assim o fazia Jó continuamente” (Jó 1.4).

Cada filho de Jó dava um banquete no dia de seu


aniversário (seu dia). O original contém a palavra “dia” (yowm).
Mas dá para notar que se refere ao dia natalício por causa do
contexto e também porque foi grafado de maneira idêntica em:

Depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia. E


Jó, falando, disse: Pereça o dia em que nasci, e a noite em que
se disse: Foi concebido um homem!” (Jó 3.1-3).

Vemos que se trata realmente do dia do aniversário. E a


forma escrita corresponde exatamente àquela utilizada no
capítulo primeiro.

Entretanto, mesmo que se queira interpretar que as


datas mencionadas em Jó não sejam as datas natalícias, não
se pode afirmar que os cristãos não comemoravam seus
aniversários. A Bíblia não diz que eles comemoravam, mas
também não diz que não comemoravam. Ela silencia sobre o
caso. E ninguém pode fundamentar doutrina baseada no
silêncio das Escrituras.
540

Por exemplo, as Testemunhas de Jeová têm vários


costumes que não foram praticados pelos cristãos do passado.
Mas, nem por isto, elas querem abdicar deles. Cita-se o
costume de fazer congressos, comissões judicativas, predições
acerca da data da volta de Cristo, impedir transfusões,
registrar e prestar conta do número de horas pregadas
mensalmente. Nada disto está registrado como prática dos
servos de Deus da época bíblica. Contudo, as Testemunhas de
Jeová o fazem, sem dor na consciência. Portanto, o argumento
baseado no silêncio da Bíblia não serve, nem nunca serviu
para provar coisa alguma.

É conveniente lembrar que os pioneiros da seita


Testemunhas de Jeová, até a década de 20, comemoravam dias
festivos, feriados, aniversários e até o Natal46. Isto foi admitido
pela Torre de Vigia47. O próprio fundador da seita não tinha
nenhum problema com estas datas. Mas, posteriormente, a
Torre de Vigia mudou estas doutrinas.

As Testemunhas de Jeová, por natureza, já têm baixa


estima pelos vizinhos, familiares e amigos. E o fato de não
darem festas de aniversário, nem permitirem que seus filhos

46 T o rre d e V igia d e S ião, 01 d e D e ze m b ro , 1 9 0 4 , p á g s . 3 6 3 -3 6 5 [R e p rin ts pág.


34 6 8 ].
47 Livro T e s te m u n h a s d e J e o v á - P ro c la m a d o re s d o R ein o d e D e u s, 199 3 ,
p á g in a s 2 0 0 -2 0 1 .
541

participem das festas de seus amigos, torna-os ainda mais


alienados e distantes do próximo.

A ordem para não fazer, nem frequentar festas de


aniversario é obedecida à risca pelas Testemunhas de Jeová.
Elas têm uma submissão cega à Torre de Vigia. Mas pudera,
pois elas não têm sequer o direito de perguntar o porquê de tal
proibição. Qualquer pensamento independente é intolerável. Os
membros não podem pensar, nem questionar, nem estudar. Só
o Corpo Governante pode.

Assim sendo, as Testemunhas de Jeová não


comemoram aniversário, não porque leram na Bíblia e se
convenceram de que é uma prática pecaminosa, mas porque
foram obrigadas a não comemorarem. Se alguma Testemunha
de Jeová for pega numa festa, ou apenas enviando um cartão
de aniversário a um parente que nem ao menos faz parte da
mesma religião, está sujeito a julgamento e a desassociação,
com todas as consequências que isto acarreta.

Podemos inferir que as festas comemorativas não são


pecaminosas em si. O pecado reside no coração do homem,
independentemente de em qual evento ele estiver. Não há
respaldo bíblico para que seja condenada a prática deste tipo
de festa. Sumariamente, este deve ser o motivo principal para
julgarmos descabida tal proibição, tendo em vista que somos
542

regidos pela Bíblia e pelas doutrinas claramente expressas


nela.
543

CRUZ OU ESTACA?

Segundo a Torre de Vigia, Jesus foi “crucificado” numa


estaca vertical, sem que haja outra horizontal presa a ela. As
mãos estariam pregadas acima da altura da cabeça, na mesma
estaca.

Essa teoria foi levantada sem que houvesse nenhuma


prova Bíblica, nem registro histórico que a apoiasse.
Simplesmente surgiu do nada, segundo a imaginação da Torre
de Vigia. Ninguém conseguiu apresentar nenhuma evidência de
que as crucificações eram feitas com uma única trave na época
e na região do Império Romano.

“Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele


próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito
todo aquele que fo r pendurado em madeiro)” (Gl 3.13). E
também: At 5.30: 10.39; 13.29; 1Pe 2.24.

O versículo afirma que Jesus foi pendurado em


madeiro, sem especificar a forma dele. Madeiro é, no grego,
xulon, que significa: madeira, árvore.
544

Mas Jesus não foi crucificado numa árvore. Lembre-se


de que Ele carregava a própria cruz (Jo 19.17), a qual foi
transferida depois para um cireneu chamado Simão (Lc 23.26).
Com certeza, não era uma árvore.

O nome xulon, sozinho, não é capaz de identificar o


formato dessa madeira. Há dicionários bíblicos que informam
que xulon poderia representar “qualquer coisa feita de
madeira”48. Poderia significar “forca”49, e foi usada até mesmo
para designar estruturas complexas de madeira, tais como
bancos e mesas50. A Versão Septuaginta (LXX) usa a palavra
xulon até no caso de árvores vivas, com galhos e folhas. Por
isto, o vocábulo grego xulon não tem força suficiente para
expressar o formato do madeiro.

No Velho Testamento a palavra mais apropriada para


corresponder a xulon é ‘ets, que significa: árvore, madeira, tora,
tronco, prancha, vara, forca (Gn 40.19). Não dá pra saber o
formato apenas pelo nome. Hamã foi enforcado num ‘ets (Et
5.14; 6.4; 7.9,10; 8.7; 9.13,25). Geralmente se usa mais do que
uma estaca vertical para enforcar alguém.

48 F rie d ric h -B ro m ile y , D ic io n á rio T eológico d e P a la v ra s d o Novo T e s ta m e n to ,


Vol. 5, 196 7 , p á g . 1176.
49 U m Léxico G re c o -In g lê s d o Novo T e s ta m e n to , d e W a lte r B a u e r, p á g . 5 4 9 .
50 F rie d ric h -B ro m ile y , p á g . 1176.
545

Não há o nome “cruz” nem o verbo “crucificar” no Velho


Testamento. Porém, estão presentes em diversas passagens do
Novo Testamento.

Cruz é stauros e significa, basicamente, estaca de


madeira. Quase dez dos melhores léxicos gregos são unânimes
em definir o substantivo stauros como: pau; paliçada; estaca;
patíbulo; instrumento de suplício; cruz. Assim também, o
verbo stauroo, significa: levantar uma paliçada; proteger com
paus; empalar; crucificar. Seria coerente adotar somente um
desses significados como verdadeiro? As Testemunhas de
Jeová não têm autoridade para eleger um dos significados e
rejeitar os demais. Para todos os efeitos, stauros pode significar
cruz, e stauroo pode significar crucificar.

Existiam vários tipos de morte em stauros, razão pela


qual não é possível identificar o formato da estaca apenas pelo
nome. Antigamente, uma estaca era reta e vertical. Porém, no
período do domínio romano, que era a época da morte de
Jesus, o significado da palavra já havia passado a abranger
duas estacas cruzadas, pois fora adicionada uma trave
horizontal, chamada de patibulum. Isto se espalhou por todo o
território romano, incluindo os lugares onde se desenvolveram
as histórias de Jesus. A crucificação de Jesus foi realizada
pelos romanos.
546

O fato de ter sido incluída uma trave horizontal não foi


suficiente para que o latim modificasse o nome crux.
Continuou sendo chamada de crux, assim como um poste
elétrico dos nossos dias não contém, necessariamente apenas
uma trave vertical. Muitos deles possuem estacas horizontais
e, nem por isto, deixaram de ser chamados de postes.

A palavra “lanterna” é outro exemplo. Veio do latim e


era, originalmente, um recipiente com material combustível
que era queimado para iluminar. Hoje as lanternas são objetos
completamente diferentes do que eram antes e são alimentadas
por pilhas ou baterias. Mas continuam sendo chamadas de
lanternas.

Portanto, quando se dizia stauros na época do Império


Romano, estava-se dando a informação de duas estacas
acopladas transversalmente. Havia três tipos de cruz: a cruz
latina, composta de uma estaca horizontal e outra vertical; a
cruz de Santo Antônio, que tinha a forma da letra T; e a cruz
de Santo André, que era no formato da letra X.

Stauros em formato de “cruz” foi difundido na época e


na região do Império Romano, passando de cultura para
cultura, até chegar aos nossos dias de hoje. A igreja Católica
está de prova, não nos deixando esquecer nunca o formato da
estaca de Jesus. Desde 312 d.C., a igreja Católica existe, e o
547

uso da cruz como símbolo já foi feito desde seu início. A cruz
está presente em todos os cemitérios cristãos. Esteve também
nas cruzadas, onde os cruzados estampavam em suas roupas o
desenho da cruz, que lhes conferiu, posteriormente, o nome.
Esta era a compreensão de stauros que as pessoas tinham
naquela época, a qual foi transmitida de pai para filho até os
nossos dias.

Mas a seita Testemunhas de Jeová, nascida


recentemente em 1879 d.C., não estava presente naquele
tempo, e fica inventando moda sem ter como provar.

E, antes que este argumento sofra alguma repressão, é


relevante deixar claro que não estou dizendo que devemos crer
em tudo o que o catolicismo ensina. Não estou falando aqui de
doutrinas, mas de fatos históricos e culturais. A cruz é um fato
histórico que acompanhou a igreja Católica ao longo destes
dois milênios. Isto não pode ser negado.

Não apenas na época de Constantino, mas a cruz já era


conhecida em forma de duas traves, bem antes de Cristo.
Uma das várias peças teatrais do romano Plauto, que se
encontra na cidade de Atenas, em uma rua em frente às casas
de Theopropides e Simo, expressa o seguinte:
548

“Ita te ferabuntpatibulutumper vias stimuli [...] Tibi esse


pereundum extra portam dispansis manibus, patibulum quom
habebis” (Mostellaria, mais de 150 anos a.C., livro I, 1, 56).

“Patibulum ferat per urben deinde adfigatur cruci”


(Carbonaria, outra obra de Plauto, fragmento 2).

Traduzindo, fica assim:

“Deste modo carregaste teu patibulum pelas ruas sob


açoites [...] A ti, que hás de morrer fora da porta, de mão
estendida, depois de trazeres o Oatibulum” (Mostellaria, mais
de 150 anos a.C., livro I, 1, 56).

“O patibulum era carregado através da cidade; em


seguida pregado na cruz” (Carbonaria, outra obra de Plauto,
fragmento 2).

Patibulum é o nome dado à estaca horizontal que o


condenado carrega até o local da crucificação.

Justino, o mártir, que viveu na Palestina, descreveu o


tipo de cruz na qual Jesus morreu. Em seu diálogo com o
Judeu Trífon, ele escreveu por volta de 160 d.C.:

“Pois uma barra é colocada ereta, da qual a extremidade


mais alta é erguida num chifre, quando a outra barra é ajustada
nela, e as pontas parecem em ambos os lados como chifres
549

ligados ao chifre único. E a parte que é fixada no centro, na qual


são suspendidos os que serão crucificados, também fica como
um chifre; e ela também se parece com um chifre juntado e
fixado com os outros chifres” (Os Pais Antenicenos, Vol. I,
Eerdmans, 1977, página 245).

Poucas décadas depois, o escritor cristão Irineu


declarou:

“O próprio formato da cruz, também, tem cinco pontas,


dua.s em comprimento, duas em largura, e uma no meio, na qual
[a última] fica a pessoa que é fixa pelos pregos” (Ibid., pág. 395).

No ano 197 d.C. o famoso escritor cristão Tertuliano


escreveu:

“Todo pedaço de viga de madeira que é fixo no solo em


uma posição ereta é uma parte de uma cruz, e realmente a
maior parte de seu conjunto. Mas uma cruz inteira é atribuída a
nós, com sua viga transversal, é claro, e seu assento se
projetando” (Adversus Nationes, volume III, pág. 122).

“Tota crux impatur cum antenna scilicet sua, et com illo


sedilis excessu (Toda cruz, assim suspensa com sua verga
atravessada, e nela sobressai o ‘assento')” (Adversus Nationes,
livro II, outra obra de Tertuliano).
550

Eles escreviam o que viam e não o que supunham.


Eram testemunhas oculares da forma que Roma punia os
prisioneiros. Se eles tivessem vivido em 1879, por exemplo, seu
depoimento seria suspeito, devido estarem distantes da época
da crucificação de Jesus. Mas suponho que eles merecem
algum crédito.

Existe outra prova antiga: o Grafite de Alexamenos,


(grafite blasfemo) do século 200 d.C. Trata-se de uma inscrição
gravada em gesso sobre uma parede nas proximidades do
Palatino, em Roma, hoje encontrado no Museu Antiquário do
Palatino. É uma das primeiras representações gráficas da
crucificação de Jesus. A imagem representa uma figura
crucificada de corpo humano e cabeça de burro. E sua cruz
tem uma estaca horizontal, além da vertical.

Uma catacumba do primeiro século foi descoberta pelo


arqueólogo P. Bagatti no Monte das Oliveiras. A pedra
principal, encontrada perto da entrada da catacumba, possui
uma inscrição com o sinal da cruz51.

51 J e r u s a l é m C h r is tia n R eview , V o lu m e 9 , I n t e r n e t E d itio n , I s s u e 2.


551

Uma casa em Herculano, enterrado nos 79 d.C. pela


erupção do Monte Vesúvio, contém uma marca de uma cruz
romana tradicional52.

E essa teoria de que Jesus foi crucificado numa estaca


é coisa nova na própria seita Testemunhas de Jeová. Porque,
até o ano 1931, ela usava a cruz como símbolo, em conjunto
com um coroa. Este símbolo aparecia estampado na capa da
revista The Watch Tower, de 1891 a 1931. As Testemunhas de
Jeová criam na cruz antigamente. Foi apenas com o
lançamento do livro “Riquezas”, no dia 31 de janeiro de 1936,
que Rutherford resolveu trazer à tona a novidade de que Jesus
não morreu numa cruz.

Então, se a Sociedade mudou de ideia tão tarde,


significa que o Deus a quem ela serve é mutável, ou então ela
não é dirigida pelo Espírito Santo.

Ressalta-se que a Bíblia das Testemunhas de Jeová foi


a primeira e a única a traduzir “cruz” de forma diferente. Sua
versão transcreve da seguinte maneira:

Cruz = estaca de tortura

52 M aier, PL, “F irs t C h ris tia n s : P e n te c o s t a n d th e S p re a d o f C h ris tia n ity ”


H a r p e r & Row: N ew Y ork, 197 6 , p .1 4 1 .
552

Crucificar = pregar numa estaca

Traduzindo deste jeito, fica complicado entender que é


uma cruz.

A Torre de Vigia apregoa que a cruz é símbolo do


paganismo e que, por isto, Jesus não pode ter sido pendurado
numa cruz. Mas isto não é razão para tal suposição. Quem
crucificou Jesus foram os romanos. Se a cruz era um símbolo
pagão, o pecado é dos romanos, visto que Jesus não escolheu o
tipo de instrumento para ser morto. Ele apenas Se entregou.

Há ainda dois argumentos bíblicos. Jesus recebeu dois


pregos em suas mãos. Se Ele tivesse sido pendurado numa
única estaca, necessitaria de apenas um prego para prender as
duas mãos juntas.

“Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o


Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em
suas mãos, e não puser o dedo no lugar dos cravos, e não puser
a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei” (Jo
20.25).

A palavra “sinal” e a palavra “lugar” (que têm o mesmo


original) estão no singular. Mas ambas as palavras “cravos”
estão no plural, no original grego. Não são os sinais que estão
553

no plural, mas os pregos. Portanto, não há dúvidas para


qualquer helenista de que houve mais de um prego.

Existe outro detalhe revelador. A acusação de Jesus foi


escrita e posta por cima da cabeça de Jesus. Sobre a cabeça, e
não sobre as mãos:

“Por cima da sua cabeça puseram escrita a sua


acusação: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS” (Mt 25.37).

Se fosse uma estaca, as mãos de Jesus estariam


posicionadas sobre a cabeça. Desta forma, a inscrição só
poderia ser colocada acima das mãos, e não da cabeça. Desta
feita, podemos ter certeza de que as mãos de Jesus não
estavam sobre Sua cabeça, mas estendidas para os lados.

A cruz de Pedro também não era uma simples estaca.


Ele foi crucificado nos arredores de Roma, além do rio Tibre,
em 13 de outubro de 64 d.C., devido às perseguições de Nero
aos cristãos. Mas o apóstolo pediu para ser crucificado de
cabeça para baixo, dizendo:

‘Não sou digno de morrer como meu mestre Jesus”.


554

Seu pedido foi atendido e ele morreu crucificado de


cabeça para baixo53.

E isto já fora profetizado por Jesus. Suas palavras nos


dão uma dica reveladora de como Pedro morreu:

“Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais


moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias;
quando, porém,, fores velho, estenderás as mãos, e outro te
cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para
significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a
Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me” (Jo
21.18,19).

O gênero de morte com o qual Pedro havia de glorificar


a Deus era com as mãos estendidas, isto é, de braços abertos,
crucificado numa cruz, e não num poste.

Deste modo, o número de provas bíblicas e históricas de


que as crucificações eram feitas em estacas com formato de
cruz torna indubitável que Jesus tenha sido pendurado numa
cruz. Soma-se a isto o fato de que não foi apresentada

53 O ríg e n e s, + séc. III, C om . in G e n e s. 3; E u s é b io d e C e s a ré ia , + séc. IV, H is tó ria


E c le s iá s tic a 3 ,1 ; J o h n Foxe, O Livro d o s M á rtire s, p. 2 1 , 2 2 ; GONZÁLEZ, J u s t o
L.. “H is to ria d e l C ris tia n is m o ”, T o m o 1. M iam i: E d ito ria U n ilit, 1 9 9 4 , C a p ítu lo
4 , S e ç ão 3.
555

nenhuma prova bíblica, nem histórica do contrário. Assim, a


alegação das Testemunhas de Jeová não procede como válida.

O tipo de estaca na qual Jesus foi pendurado não traz


relevante peso sobre nossa vida espiritual. Este assunto pouco
importa para aquele que quer servir a Deus. Mas, como a
questão fora levantada pela Torre de Vigia, cabe a nós mostrar
que ela está errada, a fim de que a verdade permaneça.
556
557

O NOME JEOVÁ

O nome de Deus, expresso na Bíblia, é YHVH, cujo


significado mais provável é “o Eterno” ou “o Deus Eterno”.

YHVH não é pronunciável, pois sua forma hebraica não


possui vogais. Nos dias de hoje, ninguém pode saber qual é a
verdadeira pronúncia do nome de Deus.

Os judeus antigos, pelo cuidado de não ficar


pronunciando o nome de Deus a todo instante (Ex 20.7),
preferiam dizer Adonai (Senhor) quando liam as Escrituras
Sagradas. Eles achavam que o nome Divino é sagrado demais
para ser pronunciado. E, pelo fato de nunca o pronunciarem, o
nome de Deus caiu no esquecimento. Somente os judeus bem
antigos conheciam a pronúncia correta.

Então a Septuaginta (versão grega do Velho Testamento,


feita entre 285 e 150 a.C.) substituiu o hebraico YHVH por
SENHOR.

E as traduções modernas da Bíblia seguiram o mesmo


padrão de transliteração. Onde há o original YHVH, foi
colocada a tradução SENHOR (com todas as letras em
558

maiúsculo). Assim, podemos identificar as ocorrências do


origina! YHVH, quando lemos SENHOR no Velho Testamento.
Se, porém, a escrita for Senhor (com apenas a primeira letra
maiúscula), o original é Adonai.

Em 1518, alguns estudiosos uniram as consoantes de


YHVH com as vogais de Adonai (Senhor), e compuseram a
forma JEOVÁ. No entanto, esta manobra não é bíblica, e
JEOVÁ é uma pronúncia errada.

A pronúncia mais aceita pelos eruditos é JAVÉ.


Também pode ser uma forma correta o nome IAVÉ. No entanto,
a forma JEOVÁ é considerada erro grave de pronúncia por,
praticamente, todos os hebraístas.

Existem 5522 versículos no Velho Testamento com


YHVH. Muitos deles têm mais de uma ocorrência deste nome.
Porém, no grego não existe o nome de Deus nenhuma vez. Há
somente a palavra Kurios (Senhor em grego) e a palavra Theos
(Deus em grego).

As traduções bíblicas em geral, na minha opinião,


erraram ao traduzir YHVH como SENHOR no Velho
Testamento. Mas, pelo menos, deixaram todas as letras do
nome em caixa alta, para que o leitor reconheça o original e
não seja enganado.
559

A Torre de Vigia errou ao traduzir YHVH como Jeová no


Velho Testamento, pois esta não é a pronúncia correta. Mas
errou muito mais ao traduzir Kurios e Theos como “Jeová” no
Novo Testamento. Não existe o nome “Jeová” no Novo
Testamento. A introdução da palavra “Jeová” ali é uma
mentira.

A Torre de Vigia criou um desarranjo inexplicável no


Novo Testamento. Traduziu Kurios (Senhor) e Theos (Deus)
como Jeová em 237 vezes, indiscriminadamente, e nas vezes
que os versículos faziam citação de YHVH do Velho
Testamento. Mas, quando se tratava de uma referência a
Jesus, era traduzido como “Senhor” no Novo Testamento. É
uma discriminação sem critérios. E, acima de tudo, Não se
pode ler Kurios ou Theos e traduzir como “Jeová” . Isto é uma
adulteração dos originais.

Por exemplo, vejamos Romanos 14.8,9 na forma em que


aparecem no original:

“Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se


morremos, para o Senhor morremos. Quer, pois, vivamos ou
morramos, somos do Senhor. Foi precisamente para esse fim que
Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos
como de vivos” (Rm 14.8,9 RA).
560

Todas as palavras “Senhor” acima têm o original Kurios.


Mas somente as três primeiras receberam o nome de Jeová,
enquanto que a última foi traduzida corretamente como
“Senhor”:

“Pois, quer vivamos, vivemos para Jeová, quer morramos,


morremos para Jeová. Portanto, quer vivamos quer morramos,
pertencemos a Jeová. Pois, para este fim morreu Cristo e
passou a viver novamente, para que fosse Senhor tanto sobre
mortos como [sobre] viventes” (Rm 14.8,9 TNM).

Por que não traduziram todas como “Jeová”? Ou por


que não traduziram todas como “Senhor”? Que critério ou
regra foram seguidos para fazer essa diferenciação, se no
original consta apenas “Senhor”? O Comitê de tradução usa
regras feitas por ele mesmo, para decidir onde colocar, ou não,
a palavra “Jeová”. E sua autonomia para criar e reformular
regras se baseia apenas no princípio de impedir que a
Divindade de Jesus e do Espírito Santo seja reconhecida. O
Comitê quer inserir na Bíblia sua opinião e marcá-la como a
única opinião válida.

A Sociedade Torre de Vigia tentou várias vezes, sem


sucesso, provar que o tetragrama YHVH estava incluído
também nos escritos do Novo Testamento. Não há evidências
históricas dessa teoria, o que faz dela uma afirmação vazia,
561

baseada mais na fé e na vontade do que em fatos comprovados.


E isto foi admitido pela própria Torre de Vigia:


... nenhum manuscrito grego primitivo do ‘Novo
Testamento’ que chegou até nós contém o nome pessoal de
Deus” (The Watchtower, 1.° de Março de 1991, p. 28).

Segue-se que a Sociedade fundamentou sua teoria em


uma hipótese vaga, sem ter nenhuma prova. Soma-se a este
erro o de pronunciar YHVH como Jeová, nome traduzido para
uma forma híbrida popularmente aceita em uma língua gentia.
562
563

CONCLUSÃO

Segundo a Bíblia, há vários defeitos na seita


Testemunhas de Jeová que impedem seus membros de serem
salvos:

1) Não reconhecer a Divindade de Jesus.


2) Não reconhecer a Divindade do Espírito Santo.
3) Adotar salvação, não pela graça, mas pela obediência às
leis da Organização.
4) Não nascer de novo.
5) Não ter o Espírito Santo.
6) Não ser lavado pelo sangue de Jesus.
7) Não fazer parte do Novo Pacto.
8) Não ter Jesus como Mediador.

Apenas um dos itens acima já bloquearia o acesso de


qualquer pessoa à vida após a morte. E a soma de todos eles,
então, acorrenta-a profundamente na perdição. É impossível
uma Testemunha de Jeová ser salva, se estiver entranhada em
sua doutrina. Mas as coisas impossíveis para o homem são
possíveis para Deus.
564

Diante do que pudemos ver acerca desta seita, é


previsível crer que ela nunca vai ser extinta. Por mais que ela
volte a fazer profecias falsas e decepcionar seus membros,
jamais se acabará antes da volta verdadeira de Cristo. Podemos
verificar isto pelo modo com que seus fiéis foram tolerantes aos
vários erros proféticos da seita. Sua fé sobreviveu a
bombardeios de profecias que não se cumpriram.

Outro quesito que impede qualquer ameaça à


integridade da seita é o domínio mental que ela tem sobre seus
membros. Estes não têm a faculdade, nem o direito de
examinar as Escrituras com olhos críticos, tampouco de se
informarem sobre a verdade oculta pelas mentiras da Torre de
Vigia. Permanecerão escravos para sempre.

Além disto, quando Deus concede a graça de iluminar


os olhos de uma Testemunha de Jeová, ela, simplesmente, sai
da igreja. Uma Testemunha de Jeová que conseguir se libertar
das cadeias que a prendem não tentará modificar a seita para
transformá-la em religião verdadeira. Ela não pode fazer nada,
além de sair de lá. E, quando fizer isto, será considerada
apóstata, e a igreja da Torre de Vigia seguirá seu caminho,
incólume e, aparentemente, imaculada. É por estas razões que
podemos afirmar que a seita Testemunhas de Jeová
permanecerá para sempre, até a volta do Senhor.
565

A proibição que a Torre de Vigia faz de seus membros


consultarem literaturas diversas tem uma vantagem e duas
desvantagens. A vantagem é para ela própria, pois impede seus
membros de descobrirem que se trata de uma seita falsa. Uma
das desvantagens é para os membros, que ficam presos
cegamente à seita.

A outra desvantagem é a consequente pobreza e


fragilidade de sua teologia. Se seus teólogos não podem estudar
os argumentos contrários à sua doutrina, não conseguem criar
os contra-argumentos. Não existe teologia, se o teólogo só
examina literatura a favor. Uma vez que não dispõe de livros
que defendam ambos os lados, sua doutrina se fundamenta em
alicerce de areia, que não resiste a nenhum ataque da parte
contrária.

Outro fator prejudicial é que os únicos teólogos ativos


são os do Corpo Governante. Não recebem contribuição quase
nenhuma dos anciãos das congregações, tampouco de outros
membros, que são proibidos de pensar.

De fato, os argumentos e doutrinas das Testemunhas


de Jeová já foram aniquilados por teólogos de outras religiões.
Mas as Testemunhas de Jeová não sabem disto, porque não
leem. Não sabem nem contra o que estão lutando.
566

Da mesma forma que os católicos romanos não têm


bons teólogos pelo fato de proibirem a leitura da Bíblia para a
massa popular, os teólogos da Torre de Vigia são
despreparados e fracos. Cabe aqui aquele ditado: “pior cego é o
que não quer enxergar”. Eles são cegos e continuarão assim
enquanto estiverem proibindo a leitura.
567

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