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Estamos Habilitados. E Agora?

Halia Pauliv de Souza


Escritora, mãe e avó por adoção

Prontos para adotar? Vamos lembrar que adoção é o exercício da


fertilidade afetiva e emocional. É acolher o filho que chega para
cuidar, proteger, passar valores, cuidar da sua saúde, acompanhar
as lições de casa, passear e amar.
A espera gera ansiedade. Se distraia. Passeie, viaje, se tem
companheiro (a) namore muito. Conversar, dialogar, mostrar-se ao
outro. Fale sobre sua vida, aquelas coisas que magoaram ou
alegraram. Isso é importante para fazer o total “alinhamento do
casal”.

O autoconhecimento é fundamental na construção de sua


paternidade ou maternidade. Entender-se, ter em mente como irão
educar o seu filho. Combinar antes para evitar desencontros depois
e acabarem discutindo e minando a relação conjugal. Como irão
reagir na hora de dar limites? Como pensam?
Ter consciência sobre seus atos. Se olhar, sentir seu eu interior.
Encontrar suas vulnerabilidades. Qual é a sua fraqueza? Qual é o
ponto de discordância? É hora de alinharem suas expectativas,
conectar-se entre si para agir com sabedoria e bom senso na hora
que preciso for.

Toda educação passa pela educação do educador. Quem sou? A


chegada do filho relembra sua educação, suas feridas e seus
medos. O que vê no outro e te incomoda é porque faz parte de
você. O problema não é o outro!
Todos têm uma criança interior que vive em nós e aflora com a
vinda do filho. Isso é um dos motivos de não acontecer uma
adoção total.
Outra sugestão aos habilitados é trabalhar o luto da possível
infertilidade ou esterilidade, se for o caso. Sofrer não mudará os
fatos. Não ficar vivendo “dentro do problema”. Buscar uma terapia
ou microfisioterapia ajudará muito neste momento.
Vivenciar o luto é essencial para ter espaço emocional em si para
receber um filho pela adoção. Ter tolerância, humildade,
resiliência. O tempo não cura, apenas amortece seus sentimentos, por isso uma
ajuda sempre é bem-vinda.
A criança ou adolescente que será seu filho também tem seu luto
e, se não superá-los, não se permite ser adotada. Essa questão
deverá ser muito trabalhada quando estiver sendo preparada para
adoção. Cabe à Instituição de Acolhimento desempenhar esse
papel.
Os futuros pais devem buscar ajuda nos Grupos de Apoio à
Adoção, seja antes do filho chegar ou depois, nos encontros de
pós-adoção.

Vamos pensar na preparação emocional bem como na material. O


enxoval para a gravidez psicológica não é ir comprando roupas e
brinquedos. Como será este filho? Gordinho, magrinho, alto, baixo?
A melhor forma é poupar, ter uma reserva financeira para adquirir
tudo que irá precisar quando estiver na fase de convivência com o
futuro rebento.

Enquanto espera pense se o filho terá um quarto individual ou


compartilhado. Será um berço? Caminha, beliche? Vá vendo os
orçamentos e organizando-se. Poderá adquirir toalhas de banho,
cobertores e ver se irá precisar colocar telas nas janelas. Também se há escadas
no local, poderá precisar de um portãozinho. É claro que tudo
dependerá da idade do seu filhote!
Visite escolas na sua região e com quem poderá contar para
possível ajuda, lembrando que vovós ajudarão com gosto, mas os
pais serão vocês. Tem plano de saúde? SUS? Dentista?
Ortodontia? Pediatra? Clínico? Vacinas… Tudo isso deverá ser
pensado enquanto espera.

Vocês estão habilitados? Que bom! Já habilitaram seus familiares?


Sim! Adoção é um ato familiar. Avós, tios, primos, amigos, vizinhos,
também deverão adotar o novo membro familiar. Ele precisa ser
inserido no círculo de pessoas de sua convivência. Avisar também
seu local de trabalho, pois terão licença maternidade.
Muitos pais nesta fase ficam sonhando com o filho e desejando tal
escola, tal balé, tal natação. Será? O importante será a formação de
vínculos e dar segurança emocional. Não se preocupem em
escolher uma escola onde poderá ser excluído por não conhecer a
Disney ou falar errado. Vamos com calma.

Vamos lembrar que as crianças institucionalizadas têm


desenvolvimento físico e social diferentes das crianças que sempre
viveram nas famílias e tiveram estímulos para um bom
desenvolvimento. É um desafio para os adultos, novos pais. A
idade cronológica ou registral é diferente da biológica ou corporal.
Irá demonstrar, aos poucos, a idade psicológica e, cada idade, tem suas
especificidades.

Que filho terá? Filho do coração? Esse jeito de expressar é


“bonitinho” mas não é real. Só gera confusão na cabeça da criança
que nasce de uma forma diferente dos demais. Todos são
biológicos. Chamamos de consanguíneos ou genéticos
os que nascem e permanecem nas famílias e, os que mudam de
família, são adotivos ou afetivos. Não importa se ficam ou não
ficam dentro da família de origem, todos precisam ser adotados.
Filho chegando, virá a licença maternidade! É o momento onde
os pais irão realmente conhecer seu filho, pois estará na sua
casa. Deve ser aproveitada!

Ser pai. Ser mãe. Início do mutirão: pediatra, dentista, psicólogo,


fonoaudiólogo, compras…lição de casa, festas infantis,
parquinhos… Empenho para dar certo.
A criança ou adolescente muda de ambiente, de cama, muda de
escola e muda o seu nome patronímico. Quanta adaptação dos dois
lados, do filho e dos pais. Focar no relacionamento.
Não é mais filho adotivo. É o seu filho! Adotivo não é sobrenome.
Acolher ! Acolher! Chegou um diamante em forma de pedra.

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