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História | Bahia 4.o.

ano
4
Carolina Becker, Laura M. Valente e Anos
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Roland Cirilo da Silva

Bahia

Curitiba
2021
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c Diretor-Geral
Daniel Gonçalves Manaia Moreira
Ilustrações
Adilson Farias, Alexandre Matos, Caco Bressane,
fi

Diretor Editorial Fernanda Monteiro, João Salomão


Joseph Razouk Junior Editoração
Gerente Editorial Grafo Estúdio
Júlio Röcker Neto Pesquisa Iconográfica
Gerente de Produção Editorial Juliana de Cássia Câmara
Cláudio Espósito Godoy Engenharia de Produto
Coordenação Editorial Solange Szabelski Druszcz
Jeferson Freitas e Silvia Eliana Dumont
Coordenação de Arte
Elvira Fogaça Cilka
Coordenação de Iconografia
Susan R. de Oliveira Mileski
Produção
Autoria PSD Educação S.A.
Carolina Becker, Laura M. Valente e Avenida Nossa Senhora Aparecida, 174 – Seminário
Roland Cirilo da Silva. 80440-000 – Curitiba – PR
Reformulação dos originais de Viviane Maria Zeni Tel.: (0xx41) 3312-3500
Edição de Conteúdo Site: www.sistemapositivo.com.br
Aline Suzana Camargo da Silva Cruz (Coord.), Impressão e Acabamento
Anna Baratieri (Coord.), Luiz Lucena (Coord.), Gráfica e Editora Posigraf Ltda.
Anne Isabelle Vituri Berbert, Cynthia Amaral, Vanessa Rua Senador Accioly Filho, 500
Carneiro Rodrigues e EPN Editoria e Projetos 81310-000 – Curitiba – PR
Edição de Texto Tel: (0xx41) 3212-5452
Paula Garcia da Rocha E-mail: posigraf@positivo.com.br
Revisão 2021
Jessica Seixas Contato
Edição de Arte editora.spe@positivo.com.br
Juliana Ferreira Rodrigues
Projeto Gráfico Todos os direitos reservados à
Fabíola Castellar PSD Educação S.A.
Ilustrações da folha de rosto: Ailustra
Ilustração do sumário: Alexandre Matos
Imagens: ©Shutterstock/Creativika Graphics, Mika
Besfamilnay, Moonnoon, olnik_y, yopinco, Sudowoodo,
Sunward Art, SpicyTruffel, WongJogja, YummyBuum

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP)


(Angela Giordani / CRB 9-1262 / Curitiba, PR, Brasil)

B395 Becker, Carolina.


Sistema Positivo de Ensino: ensino fundamental : regional : 4º ano : história : Bahia /
Carolina Becker, Laura M. Valente e Roland Cirilo da Silva. – Curitiba : PSD Educação, 2021.
: il.

ISBN 978-65-5829-242-5 (Livro do aluno)


ISBN 978-65-5829-208-1 (Livro do professor)

1. Educação. 2. História – Estudo e ensino. 3. Ensino fundamental. I. Valente, Laura M.


II. Silva, Roland Cirilo da. III. Título.

CDD 370

© 2020 PSD Educação S.A.


o
História | 4 . ano

sumário

1. Cultura, história e arte da Bahia ..... 4


2. Deslocamentos populacionais
na Bahia ..... 16

3. Movimentos políticos e sociais


na Bahia ..... 34
1. Cultura, história
e arte da Bahia

Neste capítulo, você vai conhecer

algumas das expressões artísticas e

folclóricas baianas. A Bahia está diretamente

ligada ao início da história do Brasil, sendo

um estado onde diversas mudanças Alexandre Matos. 2020. Digital.

ocorreram desde o Período Colonial. No

decorrer do tempo, muitas contribuições

foram incorporadas, resultando no que

conhecemos como a cultura baiana.


Diga aí
Leia o trecho da canção Você já foi à Bahia?, composta por Dorival Caymmi.
Depois, converse com os colegas e o professor sobre as questões a seguir.

Você já foi
à Bahia?

Você já foi à Bahia, nega?

Não?

Então vá!

Quem vai ao Bonfim, minha nega,

Nunca mais quer voltar.

CAYMMI, Dorival. Você já foi à Bahia?


Intérprete: Danilo Caymmi. In: CAYMMI,
Dorival. Dorival Caymmi, minha história.
©Shutterstock/G
ustavomellossa
Rio de Janeiro: PolyGram, 1992. 1 CD,
digital, estéreo. Faixa 13.

oas de-
Qual é o tema dessa q ue as pess

1
Por
2
e
a cidad
ir a um
letra de música? veriam
melhor?
nhecê-la
para co

Que características
cul- m ser encon-
Que atrativos pode
3 turais de nosso estado
trados na cidade on
de você vive:

4
podem ser apre
sentadas sica de artis-
comidas típicas, mú
em uma canção
como a de monumentos,
tas locais, teatros,
Dorival Caymmi?
entre outros?

História – Bahia - 4o. ano 5


A MÚSICA BAIANA
Um dos maiores artistas que ue a
Bahia já teve foi o cantor e composi-
posi-
tor Dorival
D Caymmi,
Caymmi que nasceu u em
Salvador e viveu grande parte daa in-
fância na Rua Direita da Saúde, onde
começou a se interessar por arte, des-
cobrindo o seu talento musical.. Em
suas canções, Caymmi reunia, dee um
jeito próprio, os ritmos brasileiros com
tivas,
melodias agradáveis e letras criativas,
privilegiando a cultura baiana. Muitos
músicos baianos se inspiraram m no
mestre Dorival Caymmi.
Assim como Dorival Caymmi, mi, ou-
Caco Bressane.
2020. Digital.
tros músicos da Bahia, como Caetano
ânia, Gal
Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia,
Costa, João Gilberto e Guarabyra (da dupla
Sá & Guarabyra), cantam em suas composições e interpretações o modo de viver
dos baianos, resgatando, assim, a nossa história cultural. Além desses artistas, os
grupos Olodum, Timbalada e Ilê Aiyê valorizam e preservam, por meio de suas mú-
sicas e danças, a cultura africana, o papel da mulher e os princípios de luta contra a
violência e o preconceito na sociedade.

Lápis na mão
Em grupos, escolham um dos artistas citados no texto e pesquisem uma letra
de música em que esse artista fale da Bahia. Apresentem essa letra aos colegas
e comentem o motivo da escolha. Se possível, também reproduza a música para
que a turma conheça o ritmo usado. Ao final, conversem sobre as referências de
nosso estado citadas nas canções.

6 1. Cultura, história e arte da Bahia


AS ARTES PLÁSTICAS NA BAHIA
Nas artes plásticas baianas, há mais de dois séculos, destacam-se grandes
pintores. Isso motivou a criação da Escola de Belas Artes em Salvador no fim do sé-
culo XIX, a qual contribuiu para a formação de importantes artistas, como Eronildes
da Silva Bacelar, mais conhecida como Nide.
Nide nasceu em Aiquara e, em suas obras, retratou o cotidiano e as crenças
da população baiana.

©Nide Bacelar

NIDE. Lavagem do Bonfim. [s.d.]. 1 óleo sobre tela, color.,


120 cm × 100 cm. Coleção particular, Salvador.

Em diferentes períodos de nossa história, artistas baianos retrataram a arqui-


tetura, a população e o seu cotidiano, na cidade e no campo, com suas crenças e
costumes. Entre esses artistas, podemos destacar Genaro de Carvalho. Esse artis-
ta aprendeu pintura com o pai, Carlos Alberto de Carvalho, que era pintor autodi-
data. Genaro estudou Arte no Rio de Janeiro e também na Europa, especialmente
na França, onde teve aulas com o grande pintor Fernand Léger. Em suas criações,
demonstrava apreço por temas e cores que representavam o Brasil e a Bahia.

História – Bahia - 4o. ano 7


Observe esta reprodução de uma das obras de Genaro, a qual apresenta co-
res alegres e um tema tipicamente baiano.

©Andrew Kemp
CARVALHO, Genaro. Cacau. [s.d.]. 1 óleo sobre tela, color., 46 cm × 38 cm.

alh e
Arte em det
1 Que personagens Nide destacou na obra Lavagem do Bonfim?

2 Em sua opinião, qual a relação entre essa obra de Nide e as tradições da Bahia?

3 O cacau foi o produto de exportação mais importante da Bahia no início


do século XX. É possível que isso tenha servido de inspiração para Genaro.
Que frutas ou objetos o autor poderia ter pintado para representar a Bahia?
Explique a sua escolha para os colegas.

8 1. Cultura, história e arte da Bahia


Criarte
Pense em um tema relacionado ao estado da Bahia ou ao município onde
você nasceu e crie um desenho bem colorido para representá-lo. Seu desenho
pode apresentar formas mais próximas da realidade, como na obra de Nide, ou for-
mas menos realistas, como na obra de Genaro. Compartilhe seu desenho com os
colegas e o professor.

História – Bahia - 4o. ano 9


AXÉ, BAHIA!
Axé music é um gênero musical e de dança que surgiu na Bahia, na década
de 1980, durante as manifestações populares do Carnaval de Salvador. Esse gê-
nero reúne diversas tradições da música, tanto brasileiras quanto internacionais.
Entre os diferentes estilos que formam a axé music, estão o reggae (originário da
Jamaica), o frevo (de Pernambuco), o samba (de São Paulo, do Rio de Janeiro e da
Bahia), o ijexá (da Nigéria), o rock (dos Estados Unidos), a lambada (do Pará) e a
salsa (de Cuba).

Cantora Daniela Mercury,


uma das principais
representantes da axé
music, em Salvador,
2018

rena/Mau ro Akiin Nassor


©Fotoa

Quando surgiu, a axé music foi criticada por alguns importantes músicos na-
cionais. Eles disseram que, em geral, esse gênero não tinha poesia, apenas músicas
com sons fáceis de serem repetidos, e que, por isso, não tinha valor cultural.
O maestro Tom Jobim discordou. Quando foi questionado sobre a axé music,
ele disse: “Toda música é boa”. O cantor e compositor baiano Caetano Veloso tam-
bém é um grande defensor da axé music. Ele considera esse gênero musical como
uma das coisas mais interessantes que já aconteceram no Brasil.

10 1. Cultura, história e arte da Bahia


Diga aí
Axé music: pesquisa de opinião
1 Entreviste um familiar e um(a) amigo(a)
e descubra qual é a opinião deles sobre a
axé music. Faça as seguintes perguntas e

Alexandre Matos.
2020. Digital.
anote as respostas.

Ω Nome do familiar: Ω Nome do(a) amigo(a):

Ω Você gosta de axé music? Ω Você gosta de axé music?

Sim. Não. Sim. Não.

Ω Por quê? Ω Por quê?

Ω Que artistas desse gênero Ω Que artistas desse gênero

você conhece? você conhece?

2 Por que o maestro e compositor Tom Jobim disse que “toda música é boa”?

História – Bahia - 4o. ano 11


CENTRO HISTÓRICO DE SALVADOR
Salvador foi a terceira cidade fundada pelos portugueses no território colonial
e a primeira capital do Brasil. Por mais de 200 anos (até 1763), Salvador foi a capital
de nosso país e a cidade de maior importância no mundo colonial português.

©John Ogilby
Cidade de Salvador em
uma representação de
1629, quando o local
tinha aproximadamente
80 anos, ou seja, essa
imagem tem quase
400 anos. No detalhe,
observe a menção
ao Convento de São
Francisco, que já
existia e se mantém até
os dias atuais.

URBS Salvador. 1629. 1 gravura de cobre,


color., 30 cm × 36 cm. Coleção Luiz Viana
Filho, Salvador.

Glossário
A cidade de Salvador tem o maior acervo do estilo tombado: bem reconheci-
artístico Barroco do período histórico da cana-de-açúcar. do por sua importância ar-
tística, cultural e histórica
Por esse motivo, o Centro Histórico e alguns de seus prin- ou em outras áreas de co-
cipais monumentos foram tombados pelo Instituto do nhecimento (Arqueologia,
Antropologia, etc.), com
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938. o objetivo de garantir sua
preservação para as futu-
Em 1985, esse patrimônio histórico também foi re- ras gerações.
conhecido como um bem cultural de valor internacional
pela Unesco. O Centro Histórico de Salvador se tornou,
então, Patrimônio Cultural da Humanidade, um título Unesco
que é concedido somente quando um bem tem impor- Agência da Organização
tância para uma grande quantidade de pessoas no mun- das Nações Unidas (ONU)
cujas atividades culturais
do. Nesse caso, os governantes do país e/ou da cidade são voltadas para a pre-
servação de bens em ní-
assumem o compromisso de preservá-lo para as gera- vel mundial.
ções futuras.

12 1. Cultura, história e arte da Bahia


As ruas estreitas de Salvador (que mais parecem um labirinto), suas ladeiras e
becos preservam uma história de mais de 470 anos. O Centro Histórico de Salvador
ainda é bem parecido com o original da época de sua fundação, no século XVI.
©Pulsar Imagens/Rubens Chaves

Centro Histórico de Salvador,


Patrimônio Cultural da
Humanidade. Vista da Igreja
de São Domingos Gusmão e,
ao fundo, Igreja e Convento
de São Francisco. Foto de
2017
Arquitetura das igrejas baianas

O século XVIII é considerado o século de ouro da arte brasileira por dois moti-
vos: pelas construções de grande valor artístico e pela intensa utilização de ouro na
arte. O precioso metal era explorado em diversas regiões do Brasil e, sempre que
se achava a primeira pepita, era comum que no local fosse erguida uma capela em
agradecimento à Nossa Senhora.
Grande parte do ouro encontrado no território brasileiro foi levada para
Portugal, assim como a madeira (principalmente o pau-brasil) e a produção de
açúcar e fumo. Somente uma pequena parte desse ouro ficou em nossas terras,
e muito dele foi usado na construção das igrejas baianas, que atraíam um grande
número de pessoas para as suas celebrações.
Muitas pessoas iam à igreja nas missas de domingo, não apenas por motivos
religiosos, mas também porque frequentar a igreja era um momento social impor-
tante, em que era possível, entre outras práticas, conhecer as moças e os moços
solteiros da cidade.

História – Bahia - 4o. ano 13


Burley
©Wikimedia Commons/Paul R.
As igrejas e capelas também
atraiam pessoas curiosas em apre-
ciar a riqueza dos altares.

Capela adornada de ouro


dedicada à Santa Ana na Igreja
de São Francisco (século XVIII),
em Salvador. Foto de 2019

Lápis na mão
1 Escreva V nas alternativas verdadeiras e F nas falsas.
Um dos objetivos da Unesco é preservar os patrimônios culturais (ma-
terial e imaterial) e naturais de todo o mundo.

Não há cidades brasileiras com bens tombados pela Unesco, embora o


governo brasileiro tenha realizado ações para que isso ocorresse.

Alguns dos principais monumentos da cidade de Salvador foram tom-


bados como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

2 Quando um bem é considerado patrimônio cultural da humanidade, que


compromisso o governo do país deve assumir em relação a esse bem?

3 Realize uma pesquisa para descobrir que bens do município onde você mora
têm valor histórico, artístico e cultural. Anote as informações no caderno.

14 1. Cultura, história e arte da Bahia


BAHIA: UM ESTADO DE PALAVRAS!
Há escritores que quase todo mundo conhece. E existem aqueles que são
mais conhecidos regionalmente. Além disso, há a literatura voltada a um público
mais adulto e aquela pensada para o público infantojuvenil.
Contudo, nada disso é regra, ou seja, um livro infantil escrito por um escritor
baiano pode conquistar um leitor adulto do outro lado do mundo. E aí está uma das
muitas belezas da literatura.
Você conhece os escritores baianos que escrevem livros para crianças? Leia
as informações do mapa e conheça alguns deles.

Saulo Dourado
Paula Lice
Nasceu em Irecê e, atualmente,
Nasceu em Salvador. Além de
mora em Salvador. Já ganhou
escritora, é atriz e diretora
diversos prêmios e publicou
de filmes. Já publicou os
os livros O que não se fala em
livros A Gilafa (2015) e Para o
a
ia Lim

Kenakina (2014) e Cada nome é


©Ca

menino-bolha (2015).
uma estrela (2016).
io L
árz

írio
©M

Adelice Souza Lulu Lima é baiana, de sorriso


Da Nasceu em Castro Alves largo e energia solar. Apaixonada
©

vid
Gla
t e, atualmente, vive em Salva- pelas crianças, já tem uma coleção
dor. Entre seus livros, estão Cecéu, com mais de 15 livros escritos,
poeta do céu (2015), Adestradora entre eles o mais novo, O Menino e
de galinhas (2014) e o Homem que o Mar, e A Coruja Que Me Contou,
sabia a hora de morrer (2013). traduzido para francês e alemão
em 2021.

Lulu ta
mbém
funda é
3D.

dora
da ed
Mil Car itora
João Salomão. 2020. Modelagem

amiola
Pawlo Cidade além s, que
,
dos liv
Nasceu em Ilhéus. Pawlo Cidade é espalh ros,
a arte
o pseudônimo de João Paulo Couto criativ e
idade
Santos. Entre seus livros, estão O o país por to
. do
tesouro perdido das terras do
sem fim (2003) e As aventu-
Lima

ras de João e Maria (2010).


ulu
©L
de
loCida
aw
©P

História – Bahia - 4o. ano 15


2. Deslocamentos
populacionais na Bahia

Neste capítulo, você vai estudar os grupos

populacionais que ocuparam as terras que

atualmente formam a Bahia. No estado, convivem

pessoas das mais diferentes origens, descendentes

de indígenas, africanos, europeus e asiáticos.

Esses povos foram importantes na formação

e no desenvolvimento de nosso estado.

Adilson Farias. 2020. Digital.


Diga aí 2
Por que
as pesso
1
as se
e vie- deslocam
e pessoas qu de uma r
Você conhec egião
tado para outr
município ou es a?
ram de outro
você
região onde
para viver na
aos colegas.
mora? Conte

GRUPOS INDÍGENAS E SEUS DESLOCAMENTOS

Em diferentes épocas, povos migram


à procura de novas oportunidades de vida.
Você conhece o significado do termo “mi-
grar”? Essa palavra se refere ao desloca-
mento de pessoas de um lugar para outro.
Os deslocamentos sempre fize-
ram parte da história dos seres humanos.
Desde o início do povoamento das terras
que atualmente formam o Brasil, as pes-
soas se mudam de local em busca de água,
alimento e terras mais apropriadas para
plantar, assim como para fugir dos conflitos
que ocorriam entre os diferentes grupos na
disputa das melhores áreas para caçar e
pescar.
Ao chegar às terras baianas, por
exemplo, os portugueses encontraram po-
vos do grupo Tupi no litoral sul. Entretanto,
antes deles, outros povos, chamados
Tapuia, já haviam habitado a região. Após
serem expulsos pelos Tupi, os Tapuia se-
guiram para o interior do território.
João Salomão. 2020. Modelagem 3D.

História – Bahia - 4o. ano 17


Chegada dos portugueses

A partir de 1500, os portugueses (primeiros europeus a chegar ao litoral do


Brasil) iniciaram o reconhecimento das terras com o objetivo de explorar suas ri-
quezas. Assim que a notícia do descobrimento chegou à Europa, outros povos –
como os franceses e, mais tarde, os holandeses – passaram a também ter interesse
em explorar e ocupar o território brasileiro.
Logo nas primeiras décadas após encontrar o território brasileiro, os portu-
gueses iniciaram a ocupação das terras e, consequentemente, entraram em con-
fronto com os indígenas que viviam nelas.
Os conflitos entre grupos indígenas, as doenças trazidas pelos europeus e as
expedições organizadas pelos portugueses para expulsar ou aprisionar indígenas
foram motivos de fugas e migrações desses povos.
Os portugueses se estabeleceram nas ter- Glossário
ras descobertas e, por muito tempo, dificulta- colônia: território que é dependente
de outro. Os habitantes de uma colô-
ram a entrada de outros europeus, pois o Brasil nia perdem a autonomia para explo-
se tornou colônia de Portugal. Somente depois rar os recursos naturais do território,
que passa a pertencer a um reino ou
da chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, país dominador, a metrópole. As rela-
imigrantes europeus de outros países começa- ções econômicas e políticas também
são controladas pela metrópole.
ram a vir em maior número.

Lápis na mão
Conforme nossos estudos sobre os deslocamentos indígenas, escreva as
principais diferenças entre os motivos que fizeram os indígenas migrar antes de
1500 e os motivos que os fizeram migrar após a chegada dos portugueses.

ANTES DE 1500 APÓS A CHEGADA DOS PORTUGUESES

18 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


DA ÁFRICA PARA O BRASIL
Quando as pessoas saem de determinado lugar, do país de origem, elas são
chamadas de emigrantes; quando chegam para viver no país estrangeiro, elas re-
cebem o nome de imigrantes.
A Bahia foi um dos estados brasileiros que mais receberam africanos na histó-
ria de nosso país. No entanto, esse grande deslocamento de africanos ocorreu de
modo forçado. Por isso, chamamos esse tipo de deslocamento de migração força-
da. Até 1850, enquanto o tráfico de escravizados foi permitido, milhões de africanos
foram transportados da África para o Brasil e para outras regiões do mundo.
©Flickr/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

Nesta representação
de um navio negreiro,
embarcação usada
para transportar
escravizados africanos,
é possível observar
os compartimentos
reservados às pessoas
e a quantidade delas
ocupando um pequeno
espaço.

COMPARTIMENTOS de um navio negreiro. 1830. 1 gravura, p&b. In: WALSH, R.


Impressões do Brasil em 1828 e 1829. Londres: Frederick Westley; A. H. Davis,
1830. v. 2, f. 478.

Homens e mulheres de diversos povos e lugares da África eram aprisiona-


dos e negociados por traficantes de escravizados. Após atravessarem o Oceano
Atlântico e chegarem ao destino, essas pessoas eram obrigadas a se adaptar a um
novo modo de vida, pois perdiam a liberdade, recebiam outro nome e eram proi-
bidas de manter os costumes que as identificavam antes de serem escravizadas.
Assim, inseridos em outra sociedade, esses povos resistiram à situação de es-
cravização ao mesmo tempo que contribuíram para a formação do povo baiano e
para a diversidade cultural do estado.

História – Bahia - 4o. ano 19


IMIGRANTES EUROPEUS NA BAHIA
A partir de 1800, outros grupos, principalmente de europeus, vieram para a re-
gião que atualmente forma o estado da Bahia. Com seu trabalho, esses imigrantes
contribuíram para a criação de novas atividades produtivas e para o surgimento de
diversas cidades.
Esse deslocamento populacional ocorreu porque a vida na Europa estava
muito difícil. Nas cidades, não havia emprego para todas as pessoas e, no campo,
faltavam terras para plantar. Além disso, estavam ocorrendo diversos conflitos na
época. Entre tantas dificuldades, as pessoas que viviam nesses países ouviam re-
latos e histórias sobre as oportunidades que poderiam ter no Brasil e, assim, culti-
vavam a esperança de encontrar melhores condições de vida nas terras brasileiras.

do
Interpretan
Leia esta reprodução da obra Os emigrantes, de Angiolo Tommasi, e responda
às questões a seguir no caderno. Para visualizar melhor a obra, consulte a versão no
material de apoio.
©Wikimedia Commons/Sailko

TOMMASI, Angiolo.
Os emigrantes. 1896.
1 óleo sobre tela, color.,
262 cm × 433 cm. Galeria
Nacional de Arte Moderna
e Contemporânea,
Roma.

A obra retrata
pessoas esperando,
em um porto da
Itália, embarcar com
destino à América.

1 Quem são as pessoas representadas nessa obra de arte?


2 O que essas pessoas estão fazendo?
3 De acordo com as expressões faciais, que sentimentos elas expressam?

20 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


Em um primeiro momento, a imigração de europeus foi estimulada para ocupar
os territórios poucos povoados. Com o tempo, os imigrantes tornaram-se necessá-
rios como mão de obra, e uma grande corrente imigratória ocorreu no estado.

Imigrantes alemães

As primeiras colônias de imigrantes na Bahia foram criadas em 1818 para abri-


gar alemães. Chamadas de Leopoldina e de São Jorge de Ilhéus, nessas colônias, os
imigrantes alemães cultivavam café, algodão e cacau.
Quando chegaram ao Brasil, os alemães enfrentaram muitas dificuldades,
como não entender nem falar a língua portuguesa, precisar se adaptar ao clima,
aos costumes e até às doenças comuns na região, como a malária. Por isso, muitos
desses imigrantes se deslocaram para Salvador e se dedicaram ao comércio, ven-
dendo ferragens e objetos em geral.
Os imigrantes que permaneceram na Colônia de São Jorge de Ilhéus conti-
nuaram realizando suas atividades, contribuindo, assim, para transformar a região
de Ilhéus e Itabuna no maior centro produtor de cacau do estado e em um dos
principais fornecedores desse produto no mundo.
Os imigrantes da Colônia Leopoldina, fundada às margens do Rio Peruíbe,
em Vila Viçosa (atual Nova Viçosa), também alcançaram alguma prosperidade. Na
região, por volta de 1850, havia várias fazendas, onde se produzia principalmente
café, que era vendido a vários países e gerava lucros para os cafeicultores.
Esta imagem representa a Fazenda Pombal entre os anos 1820 e 1840, uma
das fazendas de café da Colônia Leopoldina.
©Wikimedia Commons/Brasiliana Iconográfica

LUZE, Bosset de. Vista da Fazenda Pombal, Colônia Leopoldina, Bahia. [entre 1820 e 1840].
1 aquarela sobre papel, color., 22,5 cm × 30,3 cm. Pinacoteca de São Paulo, São Paulo.

21
Após 1872, novos grupos de imigrantes alemães chegaram à Bahia e se fixa-
ram nas cidades de São Félix, Cachoeira e Maracás, onde construíram charutarias
e se tornaram os maiores exportadores de fumo do Brasil.
A fotografia a seguir retrata amostras dos principais produtos da indústria
baiana, entre eles, o charuto, em uma exposição nacional realizada no Rio de
Janeiro no ano de 1908. Observe-a.
©Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro

DANIEL. Estado da Bahia: interior do pavilhão na Exposição Nacional de 1908. 1908.


1 fotografia, p&b, 21,5 cm × 27,7 cm. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.

Mesmo morando nas cidades baianas, os imigrantes alemães mantiveram vá-


rios de seus costumes. Por exemplo, eles ensinavam aos filhos tanto o português
quanto o alemão, idioma de sua terra natal. Além disso, preservaram tradições
ç
como os cultos religiosos protestantes.
Nas festas, as famílias alemãs se reuniam ao redor da
mesa para cantar músicas de sua nação. Também co-
memoravam o dia de São Nicolau, uma tradição ale-
mã celebrada no dia 6 de dezembro, e praticavam
jogos como o kegeln, atualmente conhecido como bo-
s.
Mato

lão (semelhante ao boliche, mas com nove pinos).


Alex . Digital.
andre
0 2 0
2

22 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


Eu, historiador
Nos anos 1800, alguns fotógrafos
alemães também se fixaram na Bahia.
Por meio de seus trabalhos, retrataram
o modo de viver do povo e os detalhes
da paisagem e das construções. Essas
fotografias são importantes documen-
tos da história de nosso estado.
Analise a fotografia ao lado e, de-
pois, responda às questões a seguir.

LINDEMANN, Rodolpho.
A Cidade Alta de Salvador.
1885. 1 fotografia, p&b. Coleção
Gilberto Ferrez. Acervo Instituto
Moreira Salles.
©Acervo Instituto Moreira Salles

1 Essa fotografia retrata a Cidade Alta de Salvador em 1885. Explique como esse
documento nos ajuda a conhecer a história do estado.

2 Que elementos da paisagem nos permitem identificar a época em que essa


fotografia foi reproduzida?

História – Bahia - 4o. ano 23


Outros imigrantes europeus na Bahia

Além dos alemães, outros grupos de europeus, entre eles, suíços, italianos e
espanhóis, vieram para o Brasil no decorrer dos anos 1800.
Os suíços iniciaram suas atividades ao lado dos alemães na Colônia
Leopoldina. Com o passar dos anos, eles fundaram a Fazenda Castelo Novo em
Ilhéus, construíram casas comerciais e instalaram a fábrica de rapé Areia Preta
em Salvador. Posteriormente, a fábrica foi transferida para o Solar do Unhão,
onde foram construídos os primeiros galpões industriais da capital.
Atualmente, o conjunto de construções do Solar do Unhão (que une o Solar, a
Capela Nossa Senhora da Conceição, um cais, um aqueduto, um chafariz, a antiga
senzala e um alambique ) forma o Museu de Arte Moderna da Bahia.

Akiin Nassor
©Fotoarena/Mauro

Solar do Unhão,
Salvador, em 2020

24 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


A partir de 1837, imigrantes italianos chegaram ao estado para trabalhar na
agricultura. Contudo, quando chegaram ao território, perceberam que as promes-
sas de distribuição de terras às famílias imigrantes, feitas pelo governo brasileiro,
não seriam cumpridas.

Para conseguir seu sustento, es-


ses imigrantes se deslocaram para
as cidades, onde passaram a realizar
diversas atividades, como engraxa-
tes, barbeiros, alfaiates, sapateiros ou
carpinteiros. Alguns imigrantes italia-
nos se dedicaram ao comércio e ins-
talaram fábricas de bebidas gasosas e
licores.
Digital.
20.
teiro. 20
da Mon
Fernan

História – Bahia - 4o. ano 25


Em 1859, cerca de mil italianos vieram da região de Piemonte, na Itália, para
trabalhar na construção de uma estrada de ferro que ligaria Salvador a Juazeiro.
Naquela época, as ferrovias eram essenciais para o desenvolvimento de região,
pois ligavam várias cidades, sendo um importante meio de transporte de pes-
soas e mercadorias.

Operários trabalhando
no Trapiche Jequitaia,
no bairro Calçada, em
Salvador, entre 1870 e 1880

GAENSLY, Guilherme. Estrada de ferro da


Bahia ao São Francisco: Trapiche Jequitaia,
Calçada. [entre 1870 e 1880]. 1 fotografia,
p&b, 24,5 cm × 29,2 cm. Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro.
©Fundaçã
o Biblio
teca Nacio
nal, R
io de Ja
neiro

As estradas de ferro foram construídas em toda a extensão do estado, o que


exigiu um grande número de trabalhadores, entre eles imigrantes. Entretanto, ao
chegar aos locais de trabalho, muitos trabalhadores se decepcionaram: os italianos
encontraram péssimas condições de higiene e recebiam salários baixos, o que fez
muitos deles abandonar as obras e retornar à Itália.
Após a finalização das obras, alguns imigrantes italianos foram morar em
Salvador, outros foram para as cidades que surgiram com o desenvolvimento das
ferrovias, onde se dedicaram principalmente ao comércio.
Com o decorrer do tempo, outros grupos de italianos vieram para o estado e
se fixaram nas cidades de Poções, Jequié, Jaguaquara e Itiruçu, adaptando-se ao
modo de viver dos baianos. Os imigrantes italianos se envolveram na organização
política do estado e se dedicaram à produção de alimentos para serem consumi-
dos na região. Eles também introduziram nos costumes locais pratos da culinária
italiana, como a macarronada, a lasanha e a pizza.

26 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


Os imigrantes italianos organizavam a vida social com base na família. Por esse
motivo, as crianças ajudavam os pais em diversos trabalhos e aprendiam com eles
as brincadeiras para se distrair. Entre as brincadeiras e brinquedos criados, pode-
mos destacar alguns exemplos: bola de meia, carrinhos de madeira, corda, bone-
cas de pano, cabra-cega, brincadeiras de roda e bolinhas de gude.
Além dos imigrantes alemães, suíços e italianos, imigrantes espanhóis tam-
bém se fixaram na Bahia. Eles começaram a chegar a partir de 1831 e não contaram
com qualquer ajuda do governo. Eram camponeses pobres, naturais da Galícia, que
moravam em pequenas aldeias. Como enfrentavam dificuldades na terra natal, os
galegos (como eram conhecidos) migraram para o Brasil em busca de trabalho e
melhores condições de vida.
Os imigrantes espanhóis que vieram para a Bahia não encontraram opor-
tunidades de emprego nas lavouras e, então, passaram a trabalhar no comércio.
Com o passar dos anos, instalaram padarias, sorveterias, armazéns, entre outros
estabelecimentos.
Preocupados com os problemas de saúde que ocorriam na própria comu-
nidade, criaram a Real Sociedade Brasileira de Beneficência, que foi responsável
pela construção do Sanatório Espanhol. Assim, buscavam fazer parte da socieda-
de baiana. Os imigrantes espanhóis também criaram alguns clubes, associa-
ções, instituições, entre outros empreendimentos. ©Shutterstock/Ines sacramento

Aos poucos, eles se integraram à socieda-


de baiana participando também
das manifestações cultu-
rais, como o Carnaval.

Casarão onde foi


fundado o Hospital
Espanhol, antigo
Sanatório Espanhol,
em Salvador

27
Lápis na mão X E S P A N H Ó I S A U

Q A L E M Ã E S Z U Z T

1 No caça-palavras, encontre C R A V I E R B N Í L O
o nome dos principais gru- Ç D E H Ç V I C R Ç V I
pos de imigrantes europeus D C I T A L I A N O S Ç
que vieram para a Bahia a
K U B N K L O D C S Z D
partir dos anos 1800.
2 A partir de 1859, muitos imigrantes italianos chegaram ao estado para traba-
lhar na construção de uma estrada de ferro. A respeito desse assunto, respon-
da às questões.
a) Que condições os imigrantes encontraram nos locais de trabalho?

b) O que aconteceu com os imigrantes após as ferrovias serem finalizadas?

c) Qual era a importância das ferrovias naquela época?

d) Atualmente, as ferrovias têm a mesma função ou importância que tinham


no período em que os italianos vieram para a Bahia? Justifique a sua res-
posta.

28 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


DESLOCAMENTOS DE HABITANTES DA BAHIA
Além dos deslocamentos de pessoas que chegam à Bahia, ocorrem movi-
mentações de pessoas dentro do estado, ou deixando as terras baianas. Isso ocor-
re por diversas razões.

Períodos de seca

Em 1877, período em que ocorreu a grande seca no nordeste do Brasil, a pro-


dução de borracha estava em pleno desenvolvimento na Amazônia, na parte norte
do território brasileiro. Essa produção exigia um grande número de trabalhadores
para abrir caminhos na mata, marcar as árvores (seringueiras) e fazer cortes nos
troncos, de onde era extraído o látex. Incentivados por promessas feitas pelos do-
nos de seringais, muitos baianos migraram com as famílias para o norte em busca
de melhores condições de vida e enriquecer rapidamente.
Ainda no fim dos anos 1800, para fugir das dificuldades pro-
vocadas pelos períodos de seca, muitos baianos e outros nor-
destinos seguiram o líder religioso Antônio Conselheiro para
a região de Belo Monte, dando origem ao Arraial
de Canudos.
Com a falta de chuvas nos sertões, as au-
toridades criaram comissões contra as secas,
com o objetivo de construir açudes. O Açude
de Cocorobó, por exemplo, demorou 30 anos
para ser criado e, quando ficou pronto em
1969, as águas da barragem inunda-
ram Canudos, obrigando os
moradores a se deslocar
para outros povoados.
Caco Bres
sane. 20
20. Digital
.

29
t e r p r e t a n d o
I n
Leia esta reprodução de uma xilogravura e responda às questões a seguir.

©J. Borges
BORGES, José Francisco.
Fujindo da seca. 1 xilogravura,
p&b, 66 cm × 48 cm. Coleção
particular.

1 Qual é o título da xilogravura?

2 Descreva o que as pessoas representadas estão fazendo.

3 Por que as pessoas migram em períodos de seca?

4 As secas causam tantos impactos porque a vida depende de água.


Pesquise quais são os principais rios da região do município onde você vive e
como esses rios são usados: para geração de energia, navegação, irrigação ou
pesca, por exemplo.

30 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


ares
Outros olh
Em 2015, foi possível ver as ruínas de cidades baianas alagadas com a cons-
trução da barragem de Sobradinho. Isso aconteceu porque o nível da água estava
muito baixo por causa de um longo período de seca na região.
Leia este trecho de uma matéria publicada na época.

Nos quase 40 anos da construção da barragem, esta


é a primeira vez que as ruínas de Casa Nova aparecem
devido à redução do nível do lago. É possível distinguir
alguns detalhes das casas, como as pias de lavar roupa,
o azulejo branco e as caixas-d’água.

NOGUEIRA, Edwirges. Aparição de ruínas revela memórias de moradores de


cidades inundadas na Bahia. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/
noticia/2015-12/aparicao-de-ruinas-revela-memorias-de-moradores-de-cidades-
inundadas-na-bahia>. Acesso em: 20 fev. 2020.

O lago de Sobradinho surgiu com a construção de uma barragem para a ins-


talação da Usina Hidrelétrica de mesmo nome. Por isso, em 1974, diversas cidades
foram desocupadas e suas populações realocadas em novas cidades, que recebe-
ram os mesmos nomes daquelas áreas que ficaram submersas.

©Pulsar Imagens/Ricardo Azoury

AZOURY, Ricardo. Ruínas da cidade


velha aparecem no Rio São Francisco
no período de forte estiagem.
2015. 1 fotografia, color.

Ruínas da cidade inundada,


há mais de 40 anos, após a
construção da barragem de
Sobradinho

História – Bahia - 4o. ano 31


Lápis na mão
1 Leia o trecho de uma letra de música, de 1977, que se refere a Sobradinho.

Sobradinho

O homem chega e já desfaz a natureza

Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar

O São Francisco lá pra cima da Bahia

Diz que dia menos dia vai subir bem devagar

E passo a passo vai cumprindo a profecia

Do beato que dizia que o sertão ia alagar

E o sertão vai virar mar, dá no coração

O medo que algum dia o mar também vire sertão

ŪÕū

Adeus Remanso, Casa Nova, Sento Sé

Adeus Pilão Arcado, vem o rio te engolir

Debaixo d’água lá se vai a vida inteira

Por cima da cachoeira o gaiola vai subir

Vai ter barragem no salto do Sobradinho

E o povo vai-se embora com medo de se afogar

SÁ & GUARABYRA. Sobradinho. In: ______. Pirão de peixe com pimenta. Rio de
Janeiro: Som Livre, 2007. 1 CD, digital, estéreo. Faixa 1.

a) Na letra de música, sublinhe o nome das cida-


Glossário
gaiola: tipo de embarcação,
des e dos povoados que ficaram submersos. geralmente movida a vapor
e que é usada para transpor-
b) O que você entendeu a respeito da expressão tar pessoas.
“o sertão vai virar mar”?
c) Em seu caderno, crie um desenho que retrate essa letra de música.
2 Os períodos de seca costumam ser frequentes em várias regiões de nosso
estado. Faça uma pesquisa sobre as medidas que têm sido tomadas nos úl-
timos anos para minimizar esse problema. No seu caderno, anote os resulta-
dos obtidos.

32 2. Deslocamentos populacionais na Bahia


Os cercamentos

Além das secas, outros motivos levaram a população da Bahia a deixar os lo-
cais que habitavam. Entre esses motivos, havia os cercamentos.
Como as fazendas são propriedades que ocupam bastante espaço, seus do-
nos cercavam as terras com o objetivo de demarcá-las para desenvolver a criação
de gado, plantar cacau ou cana-de-açúcar, entre outras atividades.
Essas cercas impediam que as pessoas mais humildes tivessem acesso a
qualquer porção de terra para cultivar alimentos, muitas vezes necessários para
a própria sobrevivência. Com isso, muitos baianos se mudaram para Salvador
ou para cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Quando se deslocavam para
outros lugares, essas pessoas enfrentavam grandes dificuldades, como a falta
de emprego e de moradia, além de sofrerem com ações de preconceito.

Lápis na mão
1 De acordo com o que você estudou, explique um motivo que levou famílias a
deixar as terras que habitavam para viver em outros lugares.

2 Que medidas podem ser tomadas pelo governo para diminuir a migração dos
baianos para outros estados ou os deslocamentos do campo para a cidade?

3 Você já pensou como as pessoas se sentem quando são obrigadas a mudar


de casa e de cidade? Reúna-se com dois colegas e conversem sobre isso,
relacionando o que motiva os baianos a se deslocarem para vários lugares.
Anotem as conclusões a que chegaram e apresentem essas informações ao
restante da turma.

História – Bahia - 4o. ano 33


3. Movimentos políticos e
sociais na Bahia

Neste capítulo, você vai conhecer a história de

alguns conflitos políticos e sociais que ocorreram

na Bahia e contribuíram para a formação de nossa

sociedade. Em inúmeras ocasiões, as pessoas

costumam se organizar e formar grupos ou

movimentos para buscar melhores condições

de vida e defender direitos ou ideais.

Fer
nan
da
Mo
nte
iro.
20
20
. Dig
ital.
Diga aí
Leia esta fotografia de uma manifestação popular.
a
©Shutterstock/Joa souz

Manifestação a
favor da educação
em Itabuna, no
ano de 2012

2 No município onde você mora,


1 Qual é a reivindicação
ocorrem manifestações ou mo-
das pessoas que se
vimentos de pessoas para rei-
reuniram nessa mani-
vindicar algo? Como essas ações
festação?
acontecem e com qual objetivo?

SOCIEDADE E POLÍTICA NA BAHIA ATUAL


As pessoas devem conhecer seus direitos e deveres para o próprio bem e o
de toda a comunidade de que fazem parte. Além da consciência de que é necessá-
rio haver colaboração entre os cidadãos, é importante que percebam que, atuan-
do conjuntamente, podem melhorar o mundo.
Quando as pessoas votam para eleger representantes ou se reúnem para de-
fender direitos ou ideias nas quais acreditam, elas estão exercendo sua cidadania
e participando da vida política do município, estado ou país onde vivem. Essa ação
coletiva resulta na formação de cooperativas, movimentos políticos, associações,
sindicatos, organizações não governamentais (ONGs) e partidos políticos.

História – Bahia - 4o. ano 35


Eu, cidadão
A participação das pessoas nas decisões da comunidade de que fazem parte
é muito importante para o exercício da cidadania. Esse tipo de ação cidadã asse-
gura o direito à liberdade, à vida, à igualdade perante a lei, ao voto, à moradia, à edu-
cação e à saúde, por exemplo, e pode ocorrer de diferentes maneiras.
1 Você conhece algum movimento social que envolva (ou já envolveu) pessoas da
sua comunidade? Qual é a proposta desse movimento?
2 Em jornais, revistas ou na internet, pesquise uma notícia sobre a participação
política e social da população do município onde você mora. Cole uma cópia da
notícia no caderno.
3 Escreva um resumo so- Ω Qual é a data de publicação da notícia?
bre a notícia que você
Ω A notícia se refere a que movimento?
pesquisou. Para isso, use
Ω Quem participou do movimento?
este roteiro:
Ω O que as pessoas reivindicaram?

Ω Você concorda com a ação noticiada?

Justifique a sua resposta.

4 Os meios de comunicação são importantes para sabermos o que se passa


no município onde moramos e podermos tomar decisões acertadas sobre as
nossas ações.
a) Como as pessoas ficam sabendo do que ocorre no município atualmente?

b) Como as notícias circulavam no período em que os adultos de sua família


eram crianças?

c) Em sua opinião, as ações humanas são influenciadas pelas notícias?

36 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


DISPUTAS POLÍTICAS NA HISTÓRIA DA BAHIA
Muitas pessoas no estado se organizam para defender interesses da sociedade.
Assim como na atualidade, em outros tempos, a população da Bahia se reuniu e se
mobilizou para lutar por um governo mais justo, para defender seu território e por me-
lhores condições de vida.
A luta dos habitantes do estado no decorrer do tempo contribuiu para a cons-
trução de nossa sociedade. Os primeiros conflitos ocorreram já no início da coloni-
zação do território baiano, como estudaremos a seguir.

Conflitos entre portugueses e indígenas

Quando os portugueses iniciaram a ocupação do atual território da Bahia,


ocorreram muitos conflitos entre indígenas e colonizadores.
Ao se estabelecerem nas capitanias de Porto Seguro, Ilhéus e Bahia de Todos
os Santos, os portugueses buscaram garantir a posse desses territórios. Também
começaram a escravizar indígenas para trabalhar na extração do pau-brasil e no
cultivo da cana-de-açúcar. Os indíge-
nas, por sua vez, lutaram para proteger

©Fundação Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro


suas terras e fugir da escravização.
Entre os conflitos mais documen-
tados daquele período, podemos des-
tacar os que ocorreram com os povos
Aimoré e Tupinambá. Esses povos eram
numerosos e, por muito tempo, resisti-
ram aos portugueses, impedindo a co-
lonização das terras indígenas.
Após dizimarem grande parte dos
povos nativos, os portugueses deram
início à ocupação do território. Ainda
que em número reduzido, os indígenas STADEN, Hans. Dois chefes tupinambás com os corpos
continuaram a resistir, atacando os en- adornados por plumas. 1557. 1 gravura, p&b. Biblioteca
Nacional, Rio de Janeiro.
genhos de açúcar e as criações de gado,
o que fez muitos colonos fugir da Bahia. Representação de indígenas Tupinambá,
criada por Hans Staden em 1557

História – Bahia - 4o. ano 37


t e r p r e t a n d o
I n
Esta obra de arte representa uma forma de conflito muito comum em nossa
região durante a colonização portuguesa, a guerrilha. Observe-a.

Rugendas
©Wikimedia Commons/Johann Moritz
RUGENDAS,
Johann M.
Guerrilhas. 1835.
1  litogravura, color.
20,1 cm × 26,2 cm.
Coleção Banco
Itaú, São Paulo.

De acordo com a leitura da imagens, responda às questões.


a) Quem são as pessoas representadas na obra de arte?

b) Descreva o lugar representado na obra e o que as pessoas estão fazendo.

c) Conforme o que você estudou, quais eram os motivos desse tipo de con-
flito?

38 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


Motim do Maneta

Durante o período em que o Brasil foi colônia de Portugal, o governo portu-


guês era a autoridade máxima e controlava as atividades econômicas realizadas
no território brasileiro. Nas primeiras décadas de 1700, esse controle, além de ou-
tras restrições impostas pela Metrópole, começou a gerar diversos conflitos.
O estado da Bahia se desenvolveu principalmente com a produção de açú-
car, algodão e tabaco, destinados à exportação. Contudo, para todas essas ativida-
des, eram cobrados diversos impostos e taxas. Além disso, de acordo com o Pacto
Colonial, o Brasil só podia vender seus produtos para Portugal.
A instalação de manufaturas em nossas terras era
Glossário
proibida, e os produtos manufaturados e de consumo manufaturas: sistema de fa-
eram fornecidos pela Metrópole. Nessa prática, o go- bricação organizado, com
utilização de ferramentas e
verno português era o único que poderia vender produ- que objetiva uma produção
tos para os colonos. maior que a artesanal.
produtos manufaturados:
Os comerciantes portugueses aumentavam os produtos dos quais as
preços dos produtos de acordo com seus interesses, matérias-primas são pro-
cessadas, como o açúcar,
provocando revolta na população mais pobre, que se que tinha a matéria-prima
sentia prejudicada por ter que pagar valores cada vez cultivada no Brasil, mas era
refinado na Europa.
mais altos pelos produtos de necessidade básica.

Praça Tomé de Souza com o


edifício da Câmara Municipal e
o Palácio Rio Branco, no Centro
Histórico de Salvador, 2019
elissa
©Shutterstock/H
Grundemann

39
Em 1711, quando o governo português decretou a cobrança de novos impostos,
que aumentariam o preço do sal, os baianos se revoltaram e saíram às ruas para pro-
testar, dando início ao Motim do Maneta. O movimento recebeu esse nome em refe-
rência ao seu líder, o comerciante João Figueiredo Costa, conhecido como Maneta.
Como a população pediu a redução dos preços do sal e não foi atendida pelos
comerciantes portugueses, manifestantes invadiram os armazéns de sal e jogaram
todo o produto nas ruas. Esse fato chamou a atenção das autoridades portugue-
sas, que solicitaram ao bispo da Bahia que interferisse no conflito.
Depois de muitas discussões, os manifestantes encerraram o movimento. Os
envolvidos no motim foram perdoados e não receberam punições do governo. Por
fim, a população conseguiu atingir seu objetivo, pois os comerciantes não aumen-
taram o preço do sal.

Lápis na mão
1 Com base no que você estudou sobre o Motim do Maneta, responda às questões.
a) O que motivou essa revolta da população baiana?

b) As reivindicações da população foram atendidas? Explique como o Motim


do Maneta terminou.

2 Reúna-se com quatro colegas e conversem sobre a seguinte questão: Vocês


concordam com a reação dos manifestantes? Por quê?
Em seguida, anote, em seu caderno, as conclusões a que chegaram.

40 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


Conjuração Baiana

Embora o Motim do Maneta tenha alcançado seu objetivo, a situação dos


baianos não se modificou profundamente, pois o governo português continuou a
exercer forte controle sobre a Colônia. Além disso, em 1763, Salvador deixou de ser
capital do Brasil, pois Portugal determinou que o Rio de Janeiro seria a nova capital.
Essa situação fez com que Salvador perdesse alguns privilégios políticos e
econômicos, dificultando ainda mais a vida da população baiana. Nesse cenário,
ideias revolucionárias vindas da França começaram a circular em nossas terras.
Muitos baianos encontraram nelas esperanças de melhorar suas condições de
vida, o que despertou o desejo de separar a Bahia de Portugal.
Em 1798, foi iniciada a Conjuração Baiana, um movimento que contestava o
domínio de Portugal sobre a Capitania da Bahia. Esse movimento era diferente dos
conflitos regionais, como o Motim do Maneta, pois objetivava mudanças profun-
das. Os revoltosos se inspiravam em ideias de liberdade defendidas na Europa pe-
los pensadores iluministas.
Naquele período, um gru-
po formado por intelectuais
baianos começou a organizar
reuniões secretas para discu-
tir e divulgar as novas ideias. O
objetivo era distribuir cartazes
e panfletos pela cidade, con-
vocando o povo a lutar contra
o governo.
O movimento contou
com grande participação po-
gital.
Digita
2020. D

pular. Muitas das pessoas en-


iass. 20
Adilson Faria

volvidas trabalhavam como


sapateiros, doceiras, alfaiates
e carpinteiros. Havia também
soldados que trabalhavam
para a Coroa Portuguesa,
mas que estavam insatisfei-
tos com suas remunerações.

História – Bahia - 4o. ano 41


Entre os revoltosos, estavam Luiz Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas de
Amorim Torres, João de Deus Nascimento e Manuel Faustino dos Santos Lira.
Como afrodescendentes, reivindicavam, principalmente, o fim da escravidão,
a constituição de um governo igualitário, a instalação da “República Bahiense”,
a liberdade de comércio com outros países e o aumento dos salários dos
soldados.
Apesar da dificuldade em manter o movimento em segredo, os revoltosos
da Conjuração Baiana conseguiram, em 12 de agosto de 1798, fixar cartazes em
vários lugares convocando a população para lutar por uma nova sociedade.
No entanto, o movimento foi denunciado às autoridades antes mesmo de
ocorrer de fato. Os participantes foram presos, julgados e punidos pelo governo –
alguns deles foram condenados à morte.
A Conjuração Baiana também ficou conhecida por outros nomes: Revolta
dos Búzios, Revolta das Argolinhas (por causa dos sinais que os representantes
usavam para se identificar) e Revolta dos Alfaiates (por esses profissionais serem
numerosos entre os participantes).

Lápis na mão
1 Nas manifestações sociais que ocorreram em nosso estado no Período Co-
lonial, a população lutou para alcançar seus objetivos. Escreva quais eram
os objetivos dos participantes da Conjuração Baiana.

2 Como o governo português reagiu diante desse movimento?

42 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


As mulheres baianas na luta pela Independência do Brasil

Em 7 de setembro de 1822, após um longo processo envolvendo diversos


acontecimentos e revoltas, foi proclamada a Independência do Brasil. No en-
tanto, muitos portugueses que viviam na Colônia não aceitaram essa nova situa-
ção. Assim, entre 1822 e 1824, em diversas províncias do Brasil, incluindo a Bahia,
ocorreram conflitos entre tropas brasileiras e portuguesas.
Nas terras baianas, muitos dos conflitos pela
Independência do Brasil contaram com a parti-
cipação popular e de muitas mulheres, entre
elas, Joana Angélica de Jesus, Maria Felipa de
Oliveira e Maria Quitéria de Jesus, que são
bastante conhecidas na tradição baiana.

Jesus abadessa
Joana Angélica de Jesus,
do Convento da Lapa, em Salvador, re-
sistiu à invasão do convento pelos portu-
gueses em 1822. No início dos conflitos, os
portugueses acreditavam que o local esta-
va abrigando combatentes baianos. Joana
Angélica tentou impedir a entrada das tropas
portuguesas, mas acabou atingida e não
resistiu. Sua morte revoltou ainda mais a
população na luta contra a dominação
portuguesa.
©Wikimedia Commons/Museu Paulista da USP/
Hélio Nobre/José Rosael

FAILUTTI, Domenico. Retrato de Soror Joanna Angélica. 1925. Glossário


1 óleo sobre tela, color., 157 cm × 125 cm. Museu Paulista, São Paulo.
abadessa: superiora de
mosteiro ou abadia.

Maria Felipa de Oliveira liderou, na Ilha de Itaparica, várias outras mu-


lheres – afrodescendentes e indígenas – na luta pela separação do Brasil de
Portugal. Em 1822, o grupo de Maria Felipa queimou cerca de 40 embarcações
portuguesas que estavam próximas à ilha. Com essa ação, elas derrotaram as
tropas portuguesas e impediram a invasão.

História – Bahia - 4o. ano 43


Nobre/José Rosael
Conforme estudamos, os conflitos
contaram com grande participação da po-

©Wikimedia Commons/Museu Paulista da USP/Hélio


pulação baiana. Durante esse período, mui-
tas pessoas se apresentavam ao exército
como voluntárias. Entre essas voluntárias,
uma mulher chamada Maria Quitéria de
Jesus Medeiros teve papel de destaque.
Influenciada pelas ideias de liberdade,
Maria Quitéria fugiu de casa disfarçada em
trajes masculinos e se alistou no Exército
com o nome de soldado Medeiros. Durante
vários dias, ela lutou nos campos de ba-
talha ao lado de outros soldados até ser
descoberta.
Por causa de sua coragem, foi permi-
tido que continuasse nas tropas mesmo
que a presença de mulheres no Exército
fosse proibida. Maria Quitéria participou de
muitos combates, destacando-se na luta
contra os portugueses quando eles, para
combater os baianos, tentaram desem- FAILUTTI, Domênico. Retrato de Maria Quitéria
de Jesus Medeiros. 1920. 1 óleo sobre tela, color.,
barcar próximo à foz do Rio Paraguaçu. 155  cm  ×  253,5  cm. Museu Paulista, São Paulo.

Eu, historiador
Na atualidade, as mulheres também se organizam e participam de vários mo-
vimentos, defendendo tanto os próprios direitos quanto os de suas comunidades.
Como é a atuação das mulheres baianas na sociedade atual? Reúna-se com
três colegas e pesquisem, em revistas, jornais e na internet, que direitos são
reivindicados pelas mulheres e de que forma elas se organizam para conquis-
tá-los. Depois, elaborem cartazes para mostrar os resultados da pesquisa ao
restante da turma.

44 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


Sabinada

Após a Independência do Brasil, a forma de governo adota-


da foi a monarquia e, mesmo com a separação de Portugal, o gover-
no continuava nas mãos de um membro da Família Real Portuguesa,
Dom Pedro I, que se tornou imperador do Brasil. Nossa primeira Constituição
(1824) dava grandes poderes ao imperador. Além disso, a escravidão foi
mantida.
Em 1831, sem muito apoio para governar o Império do Brasil e bus-
cando resolver uma crise que envolvia o trono de Portugal, D. Pedro I
renunciou ao cargo de imperador e retornou para a Europa. A partir
de então, o Brasil passou pelo Período
Regencial, em que foi governado por Glossário
regentes: pessoas que governam
regentes, pois D. Pedro II – sucessor da temporariamente na ausência
Família Real, que ficou no Brasil – tinha ou impedimento do chefe de
Estado, especialmente de um
apenas 5 anos. Naquele período, ocor- monarca.
reram revoltas em vários locais do terri-
tório brasileiro.
Em 1837, na Bahia, destacou-se o movimento conhecido como
Sabinada, cujas ideias revolucionárias eram defendidas e divulgadas
nos jornais baianos. Liderados pelo médico Francisco Sabino Álvares
da Rocha Vieira, os sabinos, como eram chamados os manifestantes,
convenceram as tropas do governo e tomaram o poder em Salvador,
proclamando a República Baiana em novembro de 1837.
De maneira geral, os sabinos trabalhavam como médicos, alfaia-
tes e jornalistas e estavam descontentes com a situação da população
baiana, pois as condições de vida não mudaram após a Independência.
O governo imperial reagiu com grande violência ao movimento.
Enviou tropas militares para combater a nova república, as quais cerca-
ram a cidade de Salvador e os rebeldes. Muitas pessoas foram mortas
e feridas e, após quatro meses de conflito, o movimento foi derrotado.

História – Bahia - 4o. ano 45


MOVIMENTOS E LUTAS SOCIAIS NA BAHIA
Mesmo com a Proclamação da Independência, a situação de grande parte da
população, principalmente das camadas mais pobres, não melhorou. E, conforme
já explicado, permaneceu o regime de escravidão, que só foi abolido em 1888.
A seguir, você vai conhecer alguns movimentos e lutas sociais que ocorreram
na Bahia, como os de grupos de africanos e seus descendentes e dos sertanejos
no interior do estado.

A resistência dos escravizados

Os africanos e seus descendentes também organizaram movimentos para


defender seus interesses. Desde que chegaram ao Brasil na condição de escravi-
zados, eles se manifestaram de diferentes formas contra a escravidão.
Entre as formas de resistência, havia a organização de quilombos, locais escon-
didos no interior das matas onde os escravizados que conseguiam fugir se reuniam
para viver em comunidade e manter suas tradições e seus costumes.
Na Bahia, formaram-se vários quilombos. Havia um numeroso em Salvador, co-
nhecido como Buraco do Tatu, além de diversos distribuídos em Itaberaba, Tupim,
Canavieiras, Xique-Xique, entre outras importantes cidades de nosso estado.
Como os quilombos ficavam
escondidos entre as vegetações, é
possível que alguns nunca tenham
sido descobertos. Atualmente, al-
guns desses locais são habitados
por descendentes dos escraviza-
dos que fundaram os quilombos.
Essas pessoas preservam tradi-
ções e costumes, como as comu-
nidades quilombolas de Rio das
Rãs, Pau d’Arco e Mangal.

PLANTA do quilombo Buraco do Tatu.


©Arquivo Histórico Ultramarino [ca. 1744-1763]. 1 planta em nanquim, color.
43,2 cm × 59 cm. Arquivo Histórico Ultramarino.

46 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


As irmandades

A organização de sociedades de ajuda mútua, como as irmandades, foi outra


forma que os africanos e seus filhos nascidos no Brasil encontraram para resistir e
lutar por melhores condições de vida.
As irmandades eram associações criadas com o
objetivo de possibilitar aos participantes a realiza-
ção de cultos religiosos, festas de seus santos
padroeiros, novenas e procissões. Também
arrecadavam doações para ajudar aque-
les que necessitavam de alimentos ou
adoeciam e para construir capelas e
igrejas.
Por volta de 1820, em Cachoeira,
surgiu a Irmandade da Boa Morte,
que se originou em Salvador, na
Igreja da Barroquinha. Era uma ir-
mandade formada somente por
mulheres negras. Assim como as
demais associações religiosas, essa
irmandade recolhia donativos, que
eram usados para comprar roupas,
alimentos e, principalmente, a alforria
(liberdade) dos escravizados.

Igreja da Barroquinha,
Salvador. Foto de 2018

©W
ikim
ed ia Co
mmo
ns /Paul R.

Diga aí
Burley

1 Você conhece alguma organização semelhante à Irmandade da Boa Morte?


2 Qual é a importância dessas organizações para a sociedade?

História – Bahia - 4o. ano 47


Revolta dos Malês

Os escravizados africanos geralmente organizavam movimentos pacíficos para


defender seus interesses. Entretanto, em alguns casos, suas manifestações ocorre-
ram de forma violenta, como na Revolta dos Malês.
Esse movimento foi organizado por escravizados e libertos e tinha entre os
principais objetivos o fim da escravidão e o direito de praticar livremente sua religião,
uma vez que os malês eram muçulmanos.
A data escolhida foi o dia 25 de janeiro de 1835, um domingo em que seria cele-
brada a festa católica de Nossa Senhora da Guia. O mês de janeiro também era im-
portante para os malês, pois era o mês sagrado muçulmano, o Ramadã.
A revolta não ocorreu como planejada. O movimento foi denunciado às auto-
ridades, e os revoltosos foram surpreendidos quando estavam em uma reunião. A
partir disso, começaram os conflitos. Os malês correram pelas ruas de Salvador cha-
mando outros escravizados para a revolta e, após algumas horas de violentos confli-
tos, as forças policiais derrotaram o movimento.
Observe, na ilustração, alguns pontos por onde os malês passaram durante a
revolta.

João Salomão. 2020. Modelagem 3D.

em 1835. São
Fonte: REIS, João J. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês
Paulo: Companhia das Letras, 2003.

48 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


Ao final do conflito poucos revoltosos escaparam, os que sobreviveram fo-
ram presos e sofreram duras punições. De modo geral, depois desse movimento,
a população negra da Bahia passou a ser perseguida pelas forças policiais e muitos
africanos foram deportados por suspeitas de se rebelarem contra o governo.

Lápis na mão
Com base no que você estudou sobre as formas de resistência dos africanos
e seus descendentes na Bahia, associe adequadamente cada movimento às suas
características.
A Irmandades Movimentos que lutavam por liberdade e dig-
nidade para seu grupo ou sua comunidade.
B Quilombos
Organizações de ajuda mútua que tinham
C Revoltas como objetivo auxiliar as pessoas que neces-
sitavam.

Comunidades formadas principalmente por


escravizados que fugiam, para locais onde po-
diam viver em liberdade e manter tradições.

a m o s bri n car?
V
Atualmente, conhecemos formas pacíficas de protesto para reivindicar direi-
tos e igualdade social. Entre essas formas, estão a música, a literatura, a pintura, a
escultura, o cinema e a arte de rua.
Destaque as peças do quebra-cabeça que se encontra no material de apoio e
monte-o. A imagem formada representa uma forma de protesto pacífico. Escreva,
a seguir, qual é a reivindicação do protesto retratado no quebra-cabeça.

História – Bahia - 4o. ano 49


Guerra de Canudos

Desde 1865, Antônio Vicente


Mendes Maciel, conhecido como Antônio
Conselheiro, andava pelo sertão baiano
construindo igrejas e cemitérios. De for-
ma simples, ele falava para a população
sobre a falta de justiça e igualdade e so-
bre a possibilidade de as pessoas cons-
truírem um novo mundo.
Por esse motivo, muitas pes-

Digital.
soas de origem humilde resolveram

0.
Caco Bressane. 202
segui-lo em suas peregrinações, deixan-
do os representantes da Igreja Católica
e as autoridades baianas preocupadas,
pois temiam uma revolta dessas pes-
soas contra as instituições.
Após auxiliar a construção de
uma igreja em Bom Conselho, Antônio
Conselheiro reuniu a população e or-
denou que arrancassem o edital sobre a
cobrança de impostos e não aceitassem
qualquer ordem do governo. Essa ação
Representação de Antônio Conselheiro
gerou um ataque por parte das autorida- e do Arraial de Canudos
des, que enviaram soldados para pren-
der os manifestantes e o seu líder.
Depois dessa manifestação, Antônio Conselheiro e os sertanejos foram per-
seguidos pelos policiais. Por esse motivo, dirigiram-se para Belo Monte, onde fun-
daram o Arraial de Canudos, em 1893.
Na comunidade estabelecida em Canudos, não havia cobrança de impostos
aos moradores. Eles produziam alimentos, criavam cabras, trabalhavam na cons-
trução de suas casas e distribuíam a produção entre todos os habitantes. A notí-
cia sobre a organização de Canudos fez com que vários baianos, pernambucanos,
cearenses e sergipanos se deslocassem para a nova cidade, que chegou a ter cerca
de 30 mil habitantes.

50 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


A forma de organização social e as crí-
ticas feitas ao governo nas pregações de
Antônio Conselheiro, principalmente em
relação ao aumento de impostos e à si-
tuação de miséria do povo, não agradaram
às autoridades republicanas. Com isso, os
moradores da comunidade passaram a ser
vistos como inimigos da República recém-
-instalada no Brasil. Para conter o movi-
mento, as autoridades resolveram destruir
o Arraial de Canudos.
Assim, foi iniciada a Guerra de
Canudos, que ocorreu entre 1896 e 1897.
Durante a guerra, os habitantes de Belo
Monte enfrentaram quatro expedições
militares, sendo derrotados apenas na
última, quando foram enviados quase
20 mil soldados fortemente armados.
Esse conflito é considerado um dos mais
violentos na história do Brasil.

BARROS, Flávio
de. Prisioneiros,
Canudos. 1897. 1
fotografia, p&b.
Arquivo Histórico do
Museu da República.

Prisioneiros
sobreviventes
da Guerra de
Canudos, em 1897
lica
Histórico do Museu da Repúb
©Flávio de Barros/Arquivo

História – Bahia - 4o. ano 51


República
vo Histórico do Museu da

Em outubro de 1897, Canudos foi


completamente destruída. As casas foram
queimadas e grande parte da população
©Flávio de Barros/Arqui

sertaneja foi morta; outra parcela foi pre-


sa, incluindo crianças. Seu líder, Antônio
Conselheiro, teria morrido por causa de
problemas de saúde, antes do fim dos
conflitos.

velha de Santo Antônio,


BARROS, Flávio de. Igreja Ruínas da igreja do
a, p&b. Arquivo Histórico
Canudos. 1897. 1 fotografi Arraial de Canudos
do Museu da República.

Lápis na mão
A organização da comunidade do Arraial de Canudos foi uma importante ma-
nifestação que ocorreu no estado da Bahia. Com base no que você estudou, repre-
sente, em um desenho, esse momento de nossa história. Depois, apresente a sua
produção aos colegas.

52 3. Movimentos políticos e sociais na Bahia


Página 20 – Obra Os emigrantes
Material de apoio
©Wikimedia Commons/Sailko

TOMMASI, Angiolo. Os emigrantes. 1896. 1 óleo sobre tela, color., 262 cm × 433 cm. Galeria Nacional de Arte Moderna e Contemporânea, Roma, Itália.

História – Bahia - 4o. ano


53
Material de apoio

Página 49 – Quebra-cabeça

Alexandre Matos. 2020. Digital.

História – Bahia - 4o. ano 55

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