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Edição nº 6 6

€co$
Revista de Economia

v. 6, maio 2016

Sorocaba/SP
Editor responsável
Manuel Antonio Munguia Payés, Universidade de Sorocaba, Brasil

Avaliadores

Lincoln Diogo Lima, Universidade de Sorocaba, Brasil


Marcos Antonio Canhada, Universidade de Sorocaba, Brasil
Renato Vaz Garcia, Universidade de Sorocaba, Brasil

Assessoria Editorial
Vilma Franzoni, Universidade de Sorocaba, Brasil
Paula Rafael Gonzalez Valelongo , Universidade de Sorocaba, Brasil

Capa
Claudio Miguel Ramos Barroso, Universidade de Sorocaba, Brasil

Secretária
Talita Silva, Universidade de Sorocaba, Brasil
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 3
Lincoln Diogo Lima

O PROCESSO HISTÓRICO NA CONSOLIDAÇÃO DO ATUAL PARQUE


INDUSTRIAL DE SOROCABA ................................................................................ 5
Joice Murat de Oliveira; Ricardo Lopes Fernandes.

PARQUES TECNOLÓGICOS E SISTEMAS DE INOVAÇÃO: O CASO DO


PARQUE TECNOLÍGICO DE SOROCABA – PTS .............................................. 22
Janaina dos Santos; Ricardo Lopes Fernandes.

GERAÇÃO DE CONHECIMENTO E CAPACITAÇÃO TECNOLÓGICA:


ANÁLISE COMPARATIVA DE BRASIL, COREIA DO SUL E ESTADOS
UNIDOS. ................................................................................................................... 42
Ana Paula Oliveira de Salles; Ricardo Lopes Fernandes.

EVIDÊNCIAS DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL: UMA DISCUSSÃO


COM BASE NA INTENSIDADE TECNOLÓGICA .............................................. 63
Natália Aparecida Almeida Vieira; Ricardo Lopes Fernandes.

O CRESCIMENTO ECONÔMICO DURANTE O GOVERNO DILMA (2011-


2014) .......................................................................................................................... 81
Jéssica Harumi da Veiga Sato; Manuel Antonio Munguia Payés.

O AUMENTO DO ENDIVIDAMENTO DAS FAMÍLIAS DURANTE O


GOVERNO LULA .................................................................................................... 99
Jéssica Ap. Belliomini de Camargo; Manuel Antonio Munguia Payés.

FINANÇAS COMPORTAMENTAIS: O PROCESSO DE TOMADA DE


DECISÃO DOS INVESTIDORES ......................................................................... 115
Régis Kazuo Ono Okano; Manuel Antonio Munguia Payés.
3

APRESENTAÇÃO

Foi com imensa honra e alegria que recebi o convite para escrever a apresentação
da 6ª edição da Revista Eco$. Destinada a apoiar e divulgar as pesquisas de seu corpo
discente, com artigos que possam contribuir para a divulgação e debate de temas voltados
a questões das áreas de abrangência do curso de ciências econômicas, os artigos aqui
apresentados tratam de temas atuais e diversos que vão desde a tecnologia e inovação,
desindustrialização, política macroeconômica até finanças comportamentais, alguns deles
com foco regional, outros de abrangência nacional e há aqueles que realizam uma
comparação internacional.
Esta edição apresenta sete artigos sempre com base em um pensamento crítico-
científico. No primeiro deles, “O processo histórico na consolidação do atual Parque
Industrial de Sorocaba”, os autores Oliveira e Fernandes dedicaram-se a avaliar como o
processo histórico de conformação da economia Sorocabana teve influência na atual
dinâmica econômica do município, em especial na configuração do atual parque industrial
sorocabano.
O segundo artigo, sob o título “Parques tecnológicos e sistemas de inovação: o
caso do Parque Tecnológico de Sorocaba”, dos autores Santos e Fernandes, propõe-se a
analisar a importância de tais parques para o aprimoramento dos sistemas regionais de
inovação, utilizando como estudo de caso o Parque Tecnológico de Sorocaba.
Ao contrário dos dois primeiros artigos que focaram na economia regional, o
terceiro artigo, dos autores Salles e Fernandes, intitulado “Geração de conhecimento e
capacitação tecnológica: análise comparativa de Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos”,
procura realizar um estudo comparativo sobre a geração de conhecimento e capacitação
tecnológica entre esses três países.
Por sua vez, no quarto artigo denominado “Evidências de desindustrialização no
Brasil: uma discussão com base na intensidade tecnológica”, os autores Vieira e
Fernandes retornam ao tema nacional e procuram verificar a relação entre a capacitação
tecnológica da indústria e sua inserção internacional.
Já o quinto artigo, intitulado “O crescimento econômico no governo Dilma (2011-
2014)”, dos autores Sato e Payés, procura analisar as causas do baixo crescimento
econômico brasileiro no primeiro mandato da presidente Dilma.
4

No artigo “O aumento do endividamento das famílias durante o governo Lula”,


Camargo e Payés se propõem a verificar as razões do aumento do endividamento das
famílias brasileiras nos dois mandatos do presidente Lula.
Por fim, em “Finanças comportamentais: o processo de tomada de decisão dos
investidores”, dos autores Okano e Payés, parte num novo campo da economia que vem
ganhando cada vez mais destaque, chamado de economia comportamental, para a partir
dele confrontar a ideia de racionalidade dos agentes defendida pela teoria dos mercados
eficientes, tudo aplicado à tomada de decisão dos agentes no mercado financeiro.
Diante dessa bela coletânea de artigos, deixo aqui meus parabéns aos autores e
orientadores e desejo a todos uma ótima leitura!

Prof. Me. Lincoln Diogo Lima


Curso de Ciências Econômicas
Universidade de Sorocaba - Uniso
5

O PROCESSO HISTÓRICO NA CONSOLIDAÇÃO DO ATUAL


PARQUE INDUSTRIAL DE SOROCABA

Joice Murat de Oliveira*


Ricardo Lopes Fernandes**

**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: joice_murat@hotmail.com

**Mestre em Economia e professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de Sorocaba – SP,


Brasil. E-mail: ricardo.fernandes@prof.uniso.br.

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: Sorocaba vem apresentando nas últimas décadas um processo de desenvolvimento consistente,
elevando sua participação relativa na economia no Estado de São Paulo. Este trabalho dedica-se a avaliar
como o processo histórico de conformação da economia de Sorocaba tem influência na atual dinâmica do
município. A análise histórica de Sorocaba se deu por meio da divisão da evolução econômica em quatro
ciclos de desenvolvimento, procurando entender esse processo desde as etapas pré-industriais até o período
mais recente, bem como comparando tal processo em relação ao restante do Estado. Verifica-se que cada
um dos ciclos econômicos vivenciados pelo município acabou criando, de alguma forma, as bases para que
o sistema produtivo e econômico presente tenha a conformação atual.

PALAVRAS-CHAVE: História econômica. Desenvolvimento econômico. Industrialização de Sorocaba

THE HISTORICAL PROCESS IN THE CONSOLIDATION OF THE CURRENT INDUSTRIAL


PARK OF SOROCABA

ABSTRACT: Sorocaba has been presenting a consistent development process in recent decades, increasing
its relative participation in the economy in the State of São Paulo. This work is devoted to evaluating how
the historical process of conformation of Sorocaba's economy influences the current dynamics of the
municipality. The historical analysis of Sorocaba occurred through the division of economic evolution into
four cycles of development, trying to understand this process from the pre-industrial stages to the most
recent period, as well as comparing this process with the rest of the State. It turns out that each of the
economic cycles experienced by the municipality ended up creating, in some way, the bases for the current
productive and economic system to have the up to date conformation.

KEYWORDS: Economic history. Economic development. Industrialization of Sorocaba.

1 INTRODUÇÃO

O município de Sorocaba apresenta, desde a última década do século passado,


intenso processo desenvolvimento econômico, com adensamento e diversificação das
atividades produtivas realizadas no município. Essa dinâmica resultou no aumento de sua
______________________
1
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

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participação relativa da economia sorocabana no estado de São Paulo e no país. A análise


da contribuição da economia sorocabana na economia paulista mostra que a região de
Sorocaba em conjunto com a região de Campinas representa 33,5% do Produto Interno
Bruto industrial do Estado de São Paulo, que é o estado que mais contribui com o mesmo
indicador da economia nacional1.
Em termos gerais, Sorocaba é reconhecida como um dos principais municípios do
estado de São Paulo, contando com uma população estimada de 630 mil habitantes2, que
representa a 9ª maior população do estado e a 4ª maior dentre os municípios do interior
paulista. No período recente, foi promulgada a Legislação Estadual que criou a Região
Metropolitana de Sorocaba, contendo 26 municípios que conformam cerca de 1,2 milhão
de habitantes3.
A conformação econômica de Sorocaba sempre esteve relacionada à sua condição
de localização extremamente estratégica, distante cerca de 70 quilômetros da capital e é
contigua às duas principais Regiões Metropolitanas do Estado (Região Metropolitana de
São Paulo e a Região Metropolitana de Campinas). Ela também é rota de passagem das
regiões do oeste paulista em direção à capital e uma das "portas" do fluxo entre o estado
de São Paulo e o Paraná.
Considerando esses aspectos atuais a respeito da economia sorocabana, este artigo
busca analisar de que forma o processo histórico de consolidação das atividades
econômicas de Sorocaba, notadamente, a conformação de seu parque industrial ao longo
do tempo, criou as bases para que o processo verificado recentemente pudesse ocorrer.
Para cumprir com este objetivo, o artigo está divido em dois tópicos, cada um
apresentando um ciclo econômico. No primeiro, tem-se a fundação do município, as
primeiras vilas que deram início a esse processo, onde se menciona o cultivo do algodão
como sendo responsável pela pré-industrialização, adiante com o declínio da atividade
têxtil tem-se um novo processo de industrialização e, no segundo, a desconcentração
industrial que caracteriza e modifica o cenário econômico da cidade, trazendo atividades
produtivas totalmente novas a região, para tal, foi necessário a leitura dos principais livros

2
Notícia veiculada no Jornal Cruzeiro do Sul. Disponível em:
<http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/467092/sorocaba-e-campinas-respondem-por-335-do-pib-
industrial-paulista>.
3
Estimativa da Fundação Seade. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>.
4
A Região Metropolitana de Sorocaba foi criada por meio da Lei Complementar 1.241/2014. Neste
instrumento legal estão definidos os municípios que a compõem e demais informações sobre sua
conformação. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=172854>.

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históricos de Sorocaba, bem como da cidade de São Paulo, verificando como começa a
industrialização do estado e, em seguida, aplicando ao caso da cidade analisada.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O processo de desenvolvimento regional, segundo estudo de Carone (2000), é


caracterizado como um cenário desigual e contraditório, sendo assim, cada região se
especializa em produzir o bem que possui vantagem relativa em relação ao seu entorno.
Sobre desenvolvimento brasileiro Suzigan (2000, p. 130) relatou:

O desenvolvimento econômico brasileiro está ligado a diferentes produtos


básicos e regionais tais como “borracha no Norte; algodão, açúcar e fumo no
Nordeste; café nas províncias do Rio de Janeiro e de São Paulo; criação do
gado no Sul.

Até o século XVIII, segundo Furtado (1971), São Paulo era caracterizado como
sem recursos naturais. Somente no século XIX, quando o café surge do Pará e se expande
na região sudeste, é que a região passa a ter uma atividade agrícola que apresenta
dinamismo e importância relativa em relação ao restante da economia brasileira. Planta
tropical protegida pela sombra das árvores, o café é desenvolvido no Vale do Paraíba, que
por circunstâncias particulares, tais como a fácil saída pelas terras baixas do estado de
Rio de Janeiro, facilitou a locomoção dos tropeiros, responsáveis pelo transporte no gado
muar de toda a produção.
O desenvolvimento da produção cafeeira descrita por Furtado (1971) aponta que
tanto a mão de obra escrava, mas, principalmente, o trabalho do imigrante como sendo a
responsável por expandir e impulsionar a concentração da agricultura cafeeira. Os
imigrantes trouxeram técnicas de produção de manufaturados e foram ás primeiras mãos
de obras assalariadas, constituindo em suas palavras o mercado consumidor indispensável
ao desenvolvimento regional. Para Cano (1998, p 57):

A imigração não apenas resolveu o problema de mão de obra, rompendo com


as amarras da acumulação; mais que isso, libertou da escravidão do capital.
Criou o mercado de trabalho com oferta abundante, tanto para o café quanto
para o segmento urbano da economia.

Desta forma, o Brasil se tornou o principal exportador de café durante o século


XIX garantindo divisas necessárias para a urbanização de algumas localidades tais como

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Rio de Janeiro, São Paulo e cidades do interior paulista, permitindo posteriormente as


condições necessárias ao processo de industrialização (SUZIGAN, 2000).
Segundo SILVA (1981), o processo de industrialização paulista ocorreu no
período de expansão do café, seguido pela produção de algodão, que diversificou as
atividades agrícolas. Denominado como a cultura dos pobres, o algodão, possui grande
facilidade de cultivo e baixo custo, sendo mais atrativo no âmbito do comércio, por volta
de 1880 quando a indústria têxtil começa a desenvolver.
O algodão é a planta nativa existente em todo o território brasileiro, e com a
Revolução Industrial do século XVII e XIX passa a ser uma das matérias primas mais
requisitadas para a fabricação de tecidos. O Brasil consome parte de sua produção
exportando o restante. Ao plantar as primeiras sementes do algodão herbáceo em 1861, o
cenário pôde ser modificado, possibilitando novas experiências e sendo considerado o
responsável pela primeira fase da industrialização local. Este tipo de algodão era utilizado
nas roupas e artefatos dos tropeiros que inicialmente era comercializado nas feiras de
Sorocaba. (CANABRAVA, 1984).
Com a guerra de secessão nos EUA, a exportação de algodão para o Brasil ficou
proibida, o que privilegiou e intensificou a produção em Sorocaba, o seu fácil acesso e
sua boa distribuição permitiram ao setor têxtil da cidade incremento de sua posição no
estado de São Paulo. Instalaram-se as fábricas como a Nossa Senhora do Carmo (1878),
Santa Maria (1881), Votorantim (1890) e Santa Rosália (1895), e alguns anos após surge
a Companhia Nacional de Estamparia (Cianê), destinada a estampar os tecidos da fábrica
de Santa Maria, ampliando ainda mais a produção e garantindo diversos postos de
trabalho. Sorocaba ficou então conhecido como a Manchester Paulista, pois tinha
características evidentes da cidade de Manchester na Inglaterra, principal referência
quanto ao assunto era a evolução industrial no ramo têxtil. “Em 1907 a indústria têxtil
(incluindo produtos de algodão, juta, lã, seda e linho) empregava 34,2% dos trabalhadores
na indústria de transformação e tinha 40,2% do total de força motriz instalada e 40,4% do
total do capital investido” (CARONE, 2000, p. 89).
O solo arenoso de Sorocaba possibilita a expansão do cultivo do algodão, que
atinge em média 80% da produção, atendendo às necessidades principalmente das classes
populares, fornecendo vestuário masculino e feminino, mas de pouca qualidade, já que
disponibilizava de técnicas mais precárias não voltadas para produção de tecidos
sofisticados. Outra fonte de produção nos teares era a juta utilizada para embalar as sacas

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de café, produto que, como já mencionado, representava significativamente a exportação


brasileira. (CARONE, 2000, p. 98).
O sucesso da indústria têxtil no Brasil, segundo Suzigan (2000), é resultado de
alguns fatores como a presença de matéria prima: o algodão que era cultivado no Norte e
Nordeste, a crescente demanda por vestuários, sacarias para café, açúcar, e por último e
não menos importante a mão de obra barata.
Para o desenvolvimento industrial foi necessária a disponibilidade de matérias
primas básica, como é o caso do algodão, mas as maiorias das indústrias desenvolvidas
nessa época contavam também com importação de alguns insumos não provenientes de
nossas regiões (pó para branquear tecidos, couro para calçados, etc.) (CARONE, 2000).
A maior parte das indústrias estabelecidas na época contava com a energia a vapor,
o que exigia a importação do carvão para suprir a necessidade; mais tarde, por volta de
1900, surge a energia hidrelétrica no Rio de Janeiro e em São Paulo. Segundo Suzigan
(2000), essa transição energética garantiu o desenvolvimento da indústria paulista, já que
durante a primeira Guerra o carvão importado se tornou muito caro e escasso, o que
certamente não possibilitaria a modernização da produção e o ganho de competitividade
de algumas indústrias de transformação, como a de calçados e de tecidos. (CANO, 1998).
Junto à têxtil, a indústria de calçados ganhou destaque, no início do século
consistia basicamente numa produção local, geralmente realizada por pequenos artesãos.
Todavia, por volta de 1928, em São Paulo, já eram produzidos 3.083.142 pares de
calçados (CARONE, 2000).
Com o auxílio das máquinas de costuras que permitiram preparar o couro de sola,
foram instaladas empresas como a Clark, que possuía grande capacidade instalada de
energia elétrica conseguindo abastecer diversos setores industriais.
A indústria de bebidas também apresentou grande colaboração no âmbito do
desenvolvimento industrial brasileiro. Segundo Suzigan (2000), em 1907 era considerada
a terceira empresa no quesito montante de capital investido, ficando atrás apenas da têxtil
de algodão e do açúcar, a produção estava embasada nas cervejas, licores e águas
minerais. A instalação desse setor em São Paulo ocorreu por volta de 1888 com a empresa
Antárctica e em 1890 a Bavária.
A grande quantidade de madeira disponibilizada no interior de São Paulo permitiu
as serrarias transformar a matéria prima bruta em produto comercial; de forma geral, as
oficinas de móveis produziam desde cadeiras, mesas, guarda casacos, camas entre outros
produtos (SUZIGAN, 2000).

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A indústria metal mecânica se desenvolveu no Brasil com a produção de


utensílios, ferramentas e, principalmente, implementos agrícolas que facilitavam
atividades como a colheita de café, algodão, açúcar, arroz e moendas de cana;
maquinários simples de pouco recurso tecnológico que eram importados em troca do aço,
ferro e metais, sendo esses beneficiados por isenções de direitos de importação e por
alíquotas geralmente baixa, como forma de beneficiar a indústria local. Em São Paulo, a
indústria metal mecânica surge em 1870, acompanhando o desenvolvimento agrícola da
região (CANO, 1998).
A indústria de cimento apresentava um desenvolvimento tardio no Brasil,
Segundo Suzigan (2000), isso se deve a alguns fatores, tais como: a disponibilidade de
matéria prima e o calcário, que se encontrava quase sempre em regiões do interior, em
que a dificuldade de transporte era grande e apresentava alto custo. Não existia proteção
tarifária que incentivasse a produção interna, ao contrário as reduções de impostos de
importação eram constantes, pois o governo utilizava-se desses meios para incentivar a
construção de usinas hidrelétricas, estradas de ferro entre outras obras de infraestrutura
que tivesse como intuito o favorecimento da região. Desta forma, a primeira empresa a
desenvolver esse mercado foi a do grupo Votorantim que, em 1918, compra a pequena
fábrica Rodovalho, expandindo-a e atingindo uma produção anual de 175.000 toneladas
em 1930 (CANO, 1998).
A siderurgia consegue se desenvolver com maior dinamismo entre 1940 e 1950.
Tal situação não significava que não ocorreram outras tentativas, algumas usinas, caso da
Ipanema, no estado de São Paulo, que foi capaz de fundir o ferro, mas em quantidades
pequenas sem condições de competir com o material importado da Europa, não obtendo
assim grande êxito (SANTOS, 1999).

3 ANÁLISE SOBRE O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO E DE


CONSOLIDAÇÃO DA ESTRUTURA INDUSTRIAL SOROCABANA

Inicialmente denominada como Vila Nossa Senhora da Ponte, surge por volta de
1654, quando Baltazar Fernandes instala-se na região criando as primeiras rotas para os
comerciantes que percorriam a cidade em busca de minério. Em 1750, um registro
obrigando a passagem das tropas no local desenvolveu o comércio de Gado muar,
atividade que permitiu a expansão da região, pois, foi de extrema relevância no transporte

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de cargas como cana de açúcar, café e algodão de todo o estado de SP (BENEVIDES,


2013).
Porém, de acordo com Santos (1999, p. 74), Sorocaba destacou-se
economicamente com o declínio da cultura canavieira, por meio da introdução do cultivo
de algodão em Sorocaba, considerada a maior atividade agrícola regional em meados de
1860.
Durante a Guerra de Secessão nos EUA (1861/1865), com a preocupação em
preservar sua hegemonia econômica, a Inglaterra buscou novas fontes de abastecimento,
dentre elas, a Província de São Paulo, como Sorocaba possui terras impróprias tanto ao
cultivo da cana de açúcar, como do café, destinou-se ao cultivo do algodão
(ALBUQUERQUE, 1983, p. 41).
Com base no novo modelo de produção, acumulação de capital passou a ter
relação direta com as atividades relacionadas ao algodão, abrindo espaço para a pré-
industrialização.
Com a dificuldade em escoar a produção de algodão até o porto de Santos, surge
a necessidade de construir uma ferrovia inicialmente ligando São Paulo à fazenda
Ipanema em Sorocaba, denominada como estrada de Ferro Sorocabana. Tais
investimentos foram provenientes tanto da acumulação de capital cafeeiro quanto de
origem inglesa (SONODA, 2006).
A produção de algodão e a construção da ferrovia em 1875 contribuíram para que
novas fábricas fossem instaladas na cidade, principalmente têxteis, bem como
propiciaram a implantação de novos estabelecimentos comerciais, padarias, mercearias,
etc (BENEVIDES, 2013.).
Com a instalação da ferrovia, os empresários da época buscavam reduzir os custos
de transportes, porém sua fundação um pouco tardia culminou no momento em que as
exportações dos Estados Unidos já eram reestabelecidas e consequentemente os preços
da produção no Brasil enfrentavam queda, como resultado temos uma redução da
produção também do interior paulista (SILVA, 2000).
Segundo Diniz (2002), a formação econômica da região de Sorocaba iniciou no
final do século XIX, quando foram instaladas as primeiras indústrias. Tais investimentos
foram oriundos do complexo cafeeiro que, durante este período, vivia seu apogeu
econômico.
Em 1882 foi implantada a primeira fábrica de tecidos de Sorocaba, denominada
Nossa Senhora da Ponte, e posteriormente instalaram-se a Nossa Senhora do Carmo, na

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década de 1880; Votorantim e a Santa Rosália, em 1890, ambas considerados marcos do


desenvolvimento industrial na região, além da Santa Maria em 1896 (SILVA, 2000, p.
72).

Tabela 1 - Estabelecimentos industriais em Sorocaba, segundo número de


funcionários e valor da produção em 1907

Valor da
Número de
Denominação Localização Produtos Produção (Mil
Operários
contos de Réis)
Fábrica de
Votorantim Sorocaba Fiação/Tecl 696 2.600
Fábrica de Sta.
Rosalina Sorocaba Fiação/Tecel 507 22.240
Souza Pereira Sorocaba Chapéus 158 1.435
Fábrica Sta. Maria Sorocaba Fiação/Tecel 200 720
Artigos de
Dias S.C Sorocaba Couro 108 700
Fábr. Fonseca Sorocaba Fiação/Tecel. 246 675
Total Sorocaba 1.915 28.370
Total Estado São Paulo 6.136 40.087
Part. % Sorocaba 31,2 70,8
Fonte: Benevides (2013).

Se observarmos a tabela 1, o número de operários empregados nos


estabelecimentos industriais de Sorocaba em relação ao total do estado de São Paulo
corresponde a 31,2%. Se considerarmos o valor da produção em contos de Réis, a cidade
correspondia a pelo menos 70 % do valor de produção do estado. Esses dados denotam
quão significativa era a produção industrial de Sorocaba em relação ao restante de São
Paulo nesse período, algo extremamente relevante para uma cidade do interior que
vivenciava o início de seu processo de industrialização.
Segundo ALMEIDA (2002), Sorocaba apresentou vários fatores que contribuíram
para a instalação industrial, tais como: mercado consumidor; matéria-prima; transporte e
energia; investimentos e, principalmente, mão de obra. Tais condições impactaram
positivamente na qualidade de vida do cidadão que, em 1901, recebe a instalação de rede
de água e esgoto; 1905, energia elétrica e, em 1921, o calçamento das ruas.
Conforme o Gráfico 1, nota-se uma evolução da população na cidade de Sorocaba
com 43 mil habitantes em 1920, período em que a indústria têxtil alcança seu auge
econômico devido à grande expansão industrial, sendo até mesmo denominada por muitos

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como a Manchester Paulista4. Nas décadas seguintes Sorocaba apresenta um crescimento


populacional significante, atingindo em 2013 uma população de 629.525 Milhões de
habitantes.

Gráfico 1: Evolução da População de Sorocaba (1920 – 2013)

Fonte: Benevides (2013).

Declínio da Atividade Têxtil e a Desconcentração industrial

A partir de 1930, a cidade de Sorocaba passou por um novo processo de


acumulação de capital, assim como todo estado de São Paulo (NEGRI, 1996). Conforme
mostra a Tabela 2, a indústria de São Paulo apresentou uma nova dinâmica a partir de
1940, quando o estado passa por um novo processo industrial denominado por CANO
(1998), como a Industrialização Restringida. Assim caracterizado devido à sua
capacidade limitada em produzir bens intermediários ou de capital, a indústria era pouco
desenvolvida no país e a sua expansão começava a apresentar um novo ritmo, tal como a
Indústria de Transformação que, do ano de 1939 a 1940, teve aumento de 10%, enquanto
a Química elevou sua participação na produção em 23 %, índices que demonstram
crescimento acima da média nacional e que determinava o fim da indústria têxtil para a
inserção das atividades de maior valor agregado.

5
Manchester, cidade do Reino Unido a noroeste da Inglaterra, ficou conhecida pelo seu amplo parque
industrial no ramo têxtil durante a 1º Revolução Industrial. Disponível em:
<http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/ju318pg10.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015.

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Tabela 2 - Índice de Volume físico na produção do estado de São Paulo, segundo


gêneros industriais, entre 1939 e 1945. (1939 = 100)

Gêneros de Indústria 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945


Indus. De Transformação 164,5 182,1 222,6 230,1 221,7 220,8 203,5
Minerais não metálicos 170,5 179,8 179,2 164,5 161,4 188,3 179
Metalúrgico 217,6 214,4 230,4 239,3 247,7 261,1 316,8
Química 330,2 408 532,1 355,3 394,1 513,3 422,7
Têxtil 122,9 137 181,4 206,4 221,9 163,4 149,7
Produtos Alimentares 104,9 100,2 108,8 124,6 117,6 124,3 116,8
Fonte: Suzigan (2000)

Outra forma de comprovar esse contexto industrial é analisando a distribuição do


valor de transformação industrial (VTI). O estado de São Paulo na década de 1930
respondia por cerca de 33% do VTI do país. Em 1949, elevou sua participação para 49%;
em 1959, para 56% e, em 1970, para 58% (CANO, 1998). Em relação à região de
Sorocaba, em 1928 ela detinha uma participação de 10,39% do VTI do estado de São
Paulo, mas como revela o Gráfico 2, a crise na indústria têxtil em todo o estado, 1940 a
1970, acarretou na perda de representatividade nos anos subsequentes.
Dado um segundo momento, o aumento da produção dos demais estados
brasileiros desconcentrou a participação da indústria paulista no Valor Total da Produção
nacional, de 56% em 1975 para 50% em 1980 (CANO, 1998, p. 327).

Gráfico 2 - Participação da Indústria Têxtil no Estado de São Paulo em (%)

32,8

28

10,83 10,53
9,26 9,3

1919 1939 1966 1967 1968 1969


Fonte: Cano (1998).

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Dado um segundo momento, o aumento da produção dos demais estados


brasileiros desconcentrou a participação da indústria paulista no Valor Total da Produção
nacional, de 56% em 1975 para 50% em 1980 (CANO, 1998, p. 327).
Tal fato é explicado devido à desconcentração da produção da capital para um
crescimento em seu entorno, assim como o aumento da participação do interior no valor
da produção estadual. Os crescentes custos das deseconomias de aglomeração fizeram
com que as firmas preferissem se instalar em regiões próximas à cidade de São Paulo.
Deste modo, a capital passou a contribuir com 30%, o seu entorno com 29% e o interior
com 41% do VTI do estado de São Paulo em 1980 (CANO, 1998).
Analisando a Tabela 3, observa-se a participação da cidade de Sorocaba nesse
contexto que, em 1950, apresentava 5,92 % de total da produção; já em 1980 representava
6,75 %, enquanto a Região Metropolitana de São Paulo perdia sua participação de 66,33
% para 58,65 %.
Em decorrência do movimento de desconcentração industrial no estado de São
Paulo, a década de 1980 foi marcada por mudança na estrutura produtiva de algumas
cidades no interior do Estado (CANO, 1998). Uma parcela das indústrias foi transferida
de forma seletiva tanto da capital paulista quanto da Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP) para cidades do interior numa distância aproximada de 150 km.

Tabela 3 - Valor da Produção Industrial no estado de São Paulo

Regiões 1950 1960 1970 1980 1990 2000


Estado de SP 100 100 100 100 386 600
RMSP 66,33 71,1 70,69 58,65 63,64 69,04
Interior 33,67 28,9 29,31 41,35 44,86 48,68
Sorocaba 3,93 3,09 2,34 3,96 4,3 5,96
Part. % de
5,92 4,35 3,31 6,75 6,76 8,63
Sorocaba
Fonte: Benevides (2011).

Durante o processo de desconcentração, a cidade de Sorocaba foi beneficiada


tanto pelo fato de já possuir um parque industrial, que foi historicamente constituído, bem
como por apresentar localização privilegiada, próxima a cerca de 80 km da capital; contar
com acesso por meio das rodovias Presidente Castelo Branco e Raposo Tavares, Santos
Dumont, e estar a menos de 150 km do principal porto do país, Santos, entre outros fatores

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


16

que contribuíram para uma nova centralização decorrente de vantagens de localização


mais recentes.
Sorocaba sentiu o reflexo deste movimento, a indústria diversificou e modificou
sua atividade produtiva, foram realizados investimentos complexos em diversos setores
industriais. Entre os anos de 1998 a 2009 Sorocaba foi a quinta região a ter mais anúncios
de investimentos, cerca de 6%, enquanto a RMSP 31%. De acordo com dados da
Fundação Seade, os principais investimentos ocorreram no setor Industrial com uma
participação de 77 % do capital investido, seguido do setor de Serviços com 18,1% e o
Comércio com 4,6 %. Como consequência dessa dinâmica de desconcentração da
atividade econômica, verifica-se que em Sorocaba há diversificação da atividade
industrial.
Na tabela 4, observa-se a divisão territorial dos estabelecimentos industriais no
estado de São Paulo. Sorocaba releva sua grande representatividade, perdendo apenas
para a região administrativa de Campinas. Em 1985 a cidade possuía 2.504
estabelecimentos, enquanto, em 2004, seu aumento quase que dobrou, chegando a 4.959,
aumento acima da capital São Paulo e das demais cidades.

Tabela 4 - Número de Estabelecimentos Industriais entre 1985 a 2004

CIDADES 1985 1990 1995 2000 2004


São Paulo 32.957 41.786 42.158 38.684 39.656
Araçatuba 879 1.252 1.323 1.573 1.725
Barretos 375 520 471 521 576
Bauru 1.193 1.701 2.029 2.258 2.477
Campinas 8.116 11.702 12.882 14.596 16.922
Franca 968 1.676 1.756 2.250 2.955
Marília 1.100 1.491 1.665 1.779 1.918
Presidente Prudente 925 1.291 1.281 1.336 1.384
Registro 228 328 248 251 248
Ribeirão Preto 1.281 1.730 1.943 2.045 2.327
São José Campos 1.309 2.098 2.298 2.342 2.535
Santos 1.066 1.372 1.377 1.017 996
São José do Rio
Preto 1.734 2.442 2.470 3.047 3.509
Sorocaba 2.504 3.617 3.986 4.485 4.959
Fonte: Negri (1996).

Conforme as políticas públicas de Sorocaba incentivavam as atividades


industriais, a economia como um todo contribuía para instalação de setores mais

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


17

dinâmicos e tecnológicos, é o caso do setor metalomecânico voltado para produção de


autopeças, as montadoras de veículos começam a construir um novo cenário econômico
na cidade. O gráfico 3 mostra o aumento súbito nas importações da cidade de Sorocaba
decorrência desse novo processo industrial, principalmente das grandes montadoras, que
agora demandam uma grande quantidade de insumos para colocação do seu bem final no
mercado.
Ao observar o gráfico 3, no período de 2004 até 2008, Sorocaba tem uma elevação
no valor das importações, que salta de US$ 564 Milhões para 1.428, ocorrendo uma queda
apenas no ano de 2009 em decorrência da crise econômica nos EUA que acaba por afetar
o número das importações em diversas economias, porém nos anos subsequentes temos
um aumento ainda maior do volume de importação da cidade. Dentre as empresas
destaques nas importações está a Flextronics International Tecnologia, seguida pela
Toyota e pela CNH Latin America.

Gráfico 3 - Volume de Importações no período de 2004 a 2014 em (US$ dólar)

3.500
3.159
2.971 2.921 2.974
3.000

2.500
1.428 2.320
2.190
2.000

1.500 1.188
792 1.404
1.000 564

500

0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: SEADE (2015).

Em contrapartida, Sorocaba apresentou aumento também nas exportações que


cresceram de US$ 356 milhões de dólares para US$ 2,9 bilhões em 2014, conforme revela
o gráfico 4; a cidade se tornou o sexto maior exportador do Estado, a principal empresa
exportadora é a Tecsis Tecnologia e Sistemas Avançados com valor superior a US$ 100
Milhões, seguida pela empresa Schaeffler Brasil e pela Toyota, entre os produtos

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


18

exportados estão bens de capital, de maior valor agregado. Entre os principais parceiros
comerciais de Sorocaba está a Argentina, seguida pelos EUA e a Alemanha.

Gráfico 4 – Volume de Exportações no período de 2004 a 2014 (US$ dólar)

2.000
1.800 1.800 1.669
1.269 1.742
1.600 1.360
1.267 1.299
1.400 1.347
1.065
1.200
1.000 810
800
486
600
400
200
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: SEADE (2015).

Como consequência da industrialização municipal, segundo dados do Seade, em


1999, somente o setor industrial de Sorocaba movimentou 29 mil empregos formais,
atualmente este valor chega a 64 mil. Se observamos todo o período do gráfico
percebemos a evolução e a importância desse setor na atividade econômica da cidade. Os
destaques na contratação segundo um relatório da FIESP 2015 são os setores de veículos
automotores, carrocerias e autopeças representando 12,8% dos empregos formais.

Gráfico 5 - Evolução dos empregos formais da indústria em Sorocaba, entre 1999 e


2013
64.931
61.449

61.319
56.867
54.837

49.440
48.054
43.826

43.766
39.559
35.897
34.253

34.235
33.608
29.634

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Fonte: SEADE (2015).

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


19

Ao analisar o Valor Adicionado da Indústria (Gráfico 6), observa-se uma elevação


em quase todos os anos, com exceções apenas em 2002, 2008 e 2012, períodos em que o
país enfrentou crise econômica, marcando o cenário por incertezas e desconfianças. Em
termos reais, a indústria de Sorocaba contribuiu em 2012 com R$ 6.116 milhões para o
PIB municipal, consequência dos grandes investimentos que modernizaram
tecnologicamente indústria, expandindo a produção de bens intermediários e finais.

Gráfico 6 - Evolução do Valor Adicionado na indústria de Sorocaba, entre 1999 e


2012 (Em milhões de Reais 2015 =100) ¹

7.027,6
6.840,3
6.586,9

6.116,4
5.586,4

5.438,6
4.794,1
4.621,1
4.429,0
4.071,2

3.977,0
3.857,7

3.399,4
3.381,9

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte: SEADE (2015).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partindo do pressuposto de que o processo histórico poderia influenciar na


consolidação da economia Sorocabana, pode-se observar uma relevância nos fatos,
principalmente no que discorre sobre a forma com cada ciclo econômico foi modificando
o meio existente e agregando para o atual parque industrial do município.
De forma gradativa o desenvolvimento foi sendo inserido, inicialmente temos a
feira de Muares em 1750 que, apesar da sua pequena parcela no grau de contribuição, até
mesmo irrelevantes para alguns pesquisadores que não a caracteriza como uma atividade
econômica, mas que a meu ver trouxe a oportunidade de comercialização entre os
residentes e as tropas criando mercado consumidor na época, e permitindo que tal prática
pudesse auxiliar no transporte de cargas do café, cana de açúcar e do algodão em todo
estado.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


20

Diferentemente de São Paulo, que cultivava o café, Sorocaba foi mencionada


como imprópria para o seu cultivo, sendo assim, encontrou no algodão a janela de
oportunidade, visto que se não fosse tal condição a cidade dificilmente teria hoje tamanha
representatividade no contexto econômico estadual. O algodão propiciou a implantação
da atividade têxtil, responsável pela fase pré-industrial na cidade, em 1882, quando é
instalada a primeira indústria.
A instalação da indústria têxtil atraiu investimentos para os demais setores
produtivos, ampliando o mercado produtor e consolidando os períodos subsequentes da
indústria, que, a partir de 1920, começa a ter maior dinâmica no contexto econômica
paulista.
Nos anos de 1940 a 1970, a cidade passa por uma reestruturação produtiva,
decorrência do declínio da atividade têxtil que vai perdendo espaço para a “indústria
pesada”, um novo ciclo produtivo inserido em todo país, apesar do processo mais tímido
em Sorocaba, não deixou de ter sua representatividade.
O último estágio considerado de grande relevância para o caso em análise é o
processo de desconcentração industrial, marcado pelo deslocamento de uma parcela das
indústrias instaladas na cidade de São Paulo e em seu entorno, para cidades do interior,
processo que beneficiou Sorocaba devido à sua localização estratégica, próxima das duas
principais regiões metropolitanas: São Paulo e a de Campinas.
Enfim, a explanação do estudo deixou em evidência que o processo histórico
permeou as diretrizes econômicas da cidade de Sorocaba, mas não explica por si só todo
o contexto, uma vez que os fatores econômicos foram resultados de políticas econômicas
elaboradas, assim como o aproveitamento de características intrínsecas e de exclusividade
da cada região.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Telma. Produção teórica em economia regional: das formulações clássicas


aos modelos endógenos de desenvolvimento. In: SEMANA DE ECONOMIA, 2013,
Vitória da Conquista, - BA. Anais. Vitória da Conquista: UESB, 2013, p1. Disponível
em: <http://www.uesb.br/eventos/semana_economia/2013/anais-2013/a04.pdf>. Acesso
em: 20 mar. 2015.

BARROS. Amanda Mergulhão Santos. Formação e desenvolvimento do parque


industrial paulista segundo as informações censitárias e as pesquisas industriais
anuais, 2011, 448 p. Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Programa de Geografia
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


21

Paulo, 2011.
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000432108>. Acesso
em: 20 mar. 2015.

BENEVIDES, Gustavo. Polos de desenvolvimento e a constituição do ambiente


inovador: uma análise sobre a região de Sorocaba. 2013. 260f. Tese (Doutorado em
Administração) - Universidade Municipal de São Caetano do Sul, São Caetano do Sul,
2013. Disponível em: <http://repositorio.uscs.edu.br/handle/123456789/326>. Acesso
em: 20 mar. 2015.

CANO, Wilson. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil (1930-


1995) 2 ed. Campinas: Unicamp, 1998.

CARONE, Edgard. A evolução industrial de São Paulo (1889-1930). São Paulo:


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CLEMENTE, Ademir. Economia e desenvolvimento regional. São Paulo, Atlas, 2000.

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 11. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1971.

MATOS, Odilon Nogueira. Café e ferrovias. São Paulo: Alfa/Omega/Sociologia e


Política, 1974.

NEGRI. Barjas. Concentração e desconcentração industrial em São Paulo (1880-


1990). Campinas: Unicamp, 1998.

SANODA. Erica. Evolução econômica e mudanças na estrutura produtiva da região


administrativa de Sorocaba (1980-2005). 2007. 125 f. Dissertação (Mestrado em
Economia Regional e História econômica) – Instituto de Economia, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2007. Disponível em:
<http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/285429> Acesso em: 20 mar.
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SANTOS, Elina. O. A industrialização de Sorocaba: bases geográficas. São Paulo:


USP, 1999.

SUZIGAN, Wilson. Indústria brasileira: origem e desenvolvimento. Campinas:


Unicamp, 2000.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 05-21, 2016


22

PARQUES TECNOLÓGICOS E SISTEMAS DE INOVAÇÃO: O


CASO DO PARQUE TECNOLÍGICO DE SOROCABA – PTS5

Janaina dos Santos*


Ricardo Lopes Fernandes**

**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail:


janainadosantos@outlook.com.br

**Mestre em Economia e professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de Sorocaba – SP,


Brasil. E-mail: ricardo.fernandes@prof.uniso.br

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: Este artigo propõe-se evidenciar que os Parques Tecnológicos são ferramentas importantes no
aprimoramento dos sistemas regionais de inovação. A hipótese presumida é de que o Parque Tecnológico
possui grande potencial no adensamento das relações existentes no sistema. A verificação dessa hipótese
se deu por meio da realização de um estudo de caso no Parque Tecnológico de Sorocaba, mediante a
triangulação de diversas fontes de informação. O estudo demonstra que os Parques Tecnológicos são
capazes de aprimorar os sistemas regionais de inovação de forma relevante, e que mediante suas
singularidades, o Parque Tecnológico de Sorocaba ainda não possui total capacidade de interferir nesse
sistema, visto que esse processo demanda tempo e constante monitoramento no desenho das políticas de
Ciência, Tecnologia e Inovação.

PALAVRAS-CHAVE: Parque Tecnológico de Sorocaba. Sistema de Inovação. Desenvolvimento


Regional.

TECHNOLOGICAL PARKS AND INNOVATION SYSTEMS: THE CASE OF THE


TECNOLOGICAL PARK OF SOROCABA - TPS

ABSTRACT: This article proposes to highlight that Technological Parks are important tools in the
improvement of regional innovation systems. The presumed hypothesis is that the Technological Park has
great potential in the densification of the existing relations in the system. The verification of this hypothesis
was made through the accomplishment of a case study in the Technological Park of Sorocaba, through the
triangulation of diverse sources of information. The study demonstrates that Technological Parks are
capable of improving regional innovation systems in a relevant way, and that through its singularities,
Sorocaba Technological Park still does not have total capacity to interfere in this system, since this process
demands time and constant monitoring in the design of the policies of Science, Technology and Innovation.

KEYWORDS: Sorocaba Technological Park. Innovation System. Regional development.

1 INTRODUÇÃO

O consenso de que a mudança tecnológica representa um papel crucial para o


desenvolvimento de determinados espaços econômicos é algo relativamente atual na

6
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 22-41, 2016


23

literatura que se refere, deriva do ressurgimento da contribuição de Schumpeter, por meio


dos Neoschumpterianos a partir da década de 1970. Mais recente ainda são as políticas
de desenvolvimento que preconizam a questão tecnológica como um elemento
fundamental no âmbito do processo econômico.
No campo das políticas voltadas para o desenvolvimento econômico que
preconizam instrumentos de incentivo à dinâmica tecnológica, desde o surgimento do
conceito da abordagem de Sistemas de Inovação - SI, muito se tem discutido a respeito
de quais são os agentes que o conformam e como ocorrem as relações em seu interior.
O papel dos Parques Tecnológicos - PqTec como instrumento de fortalecimento
das relações tecnológicas tem crescido substancialmente ao longo deste processo ao redor
do mundo. Conforme aponta a International Association of Science Parks – IASP, os
PqTecs são empreendimentos criados e geridos com o objetivo permanente de promover
pesquisa e inovação tecnológica, estimular a cooperação entre instituições de pesquisa,
universidades e empresas, além de dar suporte ao desenvolvimento de atividades
empresariais.
Entretanto, também é muito comum observar na literatura as dificuldades
inerentes à articulação de diversos agentes em torno deste tipo de empreendimento, uma
vez que seu estabelecimento preconiza gerar de forma artificial em determinado local, um
conjunto de relações tecnológicas que deveriam surgir naturalmente.
Por esta razão, entender as virtudes e dificuldades relacionadas ao processo de
consolidação de um PqTec constitui uma questão formidável para que seja possível
desenvolver mecanismos mais eficientes de criação e de consolidação destes
empreendimentos, ainda que cada uma destas experiências guarde idiossincrasias que lhe
são inerentes.
Destarte, o objetivo do presente texto é analisar o potencial dos empreendimentos
de PqTec no fortalecimento das relações tecnológicas pré-existentes entre os diversos
atores que compõe os SIs de determinada cidade ou região. O texto faz isso por meio da
análise do perfil das relações tecnológicas estabelecidas no Parque Tecnológico de
Sorocaba – PTS, utilizando um plano metodológico baseado em Estudo de Caso, que
preconiza a articulação tanto de fontes de informação institucionais, como de dados
primários obtidos por meio de uma pesquisa qualitativa.
Este artigo apresenta uma revisão bibliográfica sobre o tema, explanando os
conceitos de inovação, sistemas e sobre o empreendimento PqTec, descrevendo na

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 22-41, 2016


24

sequência a metodologia utilizada, e análise dos resultados obtidos para a região em


destaque e, por fim, as considerações finais.

2 O PAPEL DOS PARQUES TECNOLÓGICOS PARA O


APRIMORAMENTO DE SISTEMAS DE INOVAÇÃO

A abordagem de Sistemas de Inovação

A corrente de estudo Neoschumpteriana foi a precursora a falar sobre Sistemas de


Inovação – SI, sendo referências Lundvall (1988), Freeman (1988), Lundvall (1992),
Nelson (1993), Freeman (1995) e Edquist (1997).
Essa corrente surgiu no último quartil do século XX, período marcado por diversas
transformações no setor produtivo. Em termos gerais, verificam-se dois vetores
responsáveis por esses processos de transformação. O primeiro está relacionado ao
surgimento de políticas de cunho mais liberal, que resultou em um processo de
globalização, reduzindo o carácter idiossincrático das diferentes economias nacionais. O
segundo vetor relaciona-se ao surgimento das inovações provenientes das Tecnologias e
Informação e Comunicação – TICs que impactaram no acúmulo de riquezas da firma.
Face a essa dinâmica, a teoria econômica do mainstream foi incapaz de entender esses
fenômenos, bem como propor soluções capazes de enfrentar os processos verificados.
Desta forma, a abordagem Neoschumpteriana foi capaz de propor uma perspectiva capaz
de predizer mecanismos de enfrentamento ao Tabela verificado. Em linhas gerais os
Neoschumpterianos, buscam analisar o comportamento dos agentes sob a perspectiva de
que sempre se procura otimizar o lucro, mas que, porém, isso ocorre sob um ambiente de
incerteza, ou racionalidade limitada, e dinâmica constante.
A perspectiva de SI foi uma contraposição à abordagem chamada Big Science,
elaborada no final da II Guerra Mundial por meio do relatório escrito por Vannevar Bush
em 1940. Esse relatório apontava que a inovação decorria de investimentos em ciência
básica. Foi assim que alguns países passaram a investir em incentivos à pesquisa básica,
com a ideia de que se houvesse um repositório dessa ciência, haveria grandes avanços nas
práticas inovativas dentro empresa (KLINE; ROSEMBERG, 1986, p. 288). Esse modelo
era chamado de Linear, por passar do conhecimento básico ao conhecimento específico
de uma forma unidirecional.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 22-41, 2016


25

Porém, após muitos países aderirem a este tipo de política de Ciência, Tecnologia
e Inovação – C, T&I, com o intuito de aperfeiçoar o processo de inovação, observou-se
que essa perspectiva apresentava sérias limitações em razão de negligenciar diversos
aspectos inerentes à dinâmica inovativa.
Segundo Kline e Rosemberg (1986, p. 287), um fator importante que mostra a
limitação do Big Science, interpretando a inter-relação entre C, T&I é que o estoque de
conhecimento vindo do governo como bem público e acessível não terá acessibilidade
igual para todas as empresas, pois cada uma é diferente em sua capacidade de utilizar esse
conhecimento.
Após o entendimento que o processo inovativo não depende somente do
investimento em ciência básica, foi criado um novo modelo de interpretação para o
modelo de C,T&I, o chamado de relação em cadeia, ou modelo interativo, criado por
Kline e Rosemberg (1986, p. 290). Segundo os autores, o processo não pode ser visto de
uma forma linear, pois o processo possui diversas linhas de interação. O Modelo ocorre
em dois estágios, o primeiro está relacionado à busca do que a ciência diz a respeito
daquela ideia da suposta inovação, de como aquele problema pode ser resolvido,
posteriormente; o segundo, passa para a pesquisa científica, caso o problema não seja
resolvido no primeiro estágio.
Segundo Lundvall (1992, p. 1), o conceito de SI ocorre por meio de um processo
não linear (hipótese de não linearidade nas relações dos processos produtivos). O autor
aponta duas hipóteses em que os SIs estão baseados: i) que o conhecimento é um recurso
econômico e o processo de aprendizado apresenta papel crucial; ii) que na maioria das
vezes o processo de aprendizado é interativo e construído socialmente, e por isso não se
pode descartar a questão cultural de onde esse aprendizado está sendo construído.
Entretanto, é importante considerar que existem divergências entre os pontos de
vista relacionados aos SI que Lundvall (1992, p. 12) propõe e o proposto por Nelson
(1993). No primeiro, sua abordagem é mais ampla. Ele aponta que os SIs são compostos
tanto pelas firmas (empresas, organizações), universidades e centros de pesquisa, etc.,
como também pelas instituições, as quais são responsáveis de determinar os parâmetros
para as relações entre os diversos agentes no âmbito do SI. Por outro lado, Nelson (1993)
tem uma perspectiva mais restrita sobre os SIs. Ele aponta que são as instituições de
pesquisa, ou outras promotoras de criação e transmissão de conhecimento, que são as
principais fontes do processo inovativo.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 22-41, 2016


26

Já Edquist (2005, p. 183), em sua abordagem sobre SI, diz ser necessário
compreender todos os determinantes do processo de inovação, incluindo todos os fatores,
sendo eles intangíveis como fatores sociais, políticos, organizacionais, culturais, e fatores
tangíveis, como as firmas, universidades, centros de pesquisa, entre outros órgãos que
possam compor o SI.
As análises fundamentadas em SI regionais estão baseadas na premissa de que a
inovação é um processo que requer diversos fatores externos e internos às firmas. Ela não
depende somente do conhecimento interno, mas também de como se dão as relações de
interação destas organizações em seus ambientes. O SI regional se define por ser um
sistema social que envolve interações entre diferentes conjuntos de atores em um
sistema6, e tem um padrão sistemático de interação expressado por diferentes capacidades
de aprendizado em diferentes regiões. Ela procura identificar a maneira de como o
processo produtivo é afetado tanto pela proximidade das organizações, como pelo
surgimento de instituições especificas regionalmente. E é por causa desse último ponto
que a proximidade tem grande relevância na abordagem dos SIs regionais (EDQUIST,
2005, p. 184).
Essa relevância é demonstrada por meio de três decorrências: primeiro as
vantagens dos benefícios de aglomeração espacial, estes benefícios estão relacionados ao
aprendizado dado pela interação, o segundo pela grande redução de custos de transação,
por se tratar de ambientes próximos, e o terceiro é a troca de conhecimento tácito entre as
empresas que essa proximidade proporciona (EDQUIST, 2005, p. 185).

A evolução dos parques tecnológicos como instrumento de aprimoramento de


Sistemas de Inovação

Todos os conceitos acima abordados foram baseados na teoria Neoschumpteriana,


que aponta que o aprendizado decorre da interação entre os agentes para a obtenção de
novos conhecimentos e tecnologias (LUNDVALL, 1992, p. 3), sendo que a inovação
passa a ser o diferencial competitivo de empresas e regiões (SCHUMPETER, 1911

7
Segundo Von Bertalanffy (1973, p. 53) um sistema pode ser definido como um complexo de elementos
em interação. No caso específico dos SI, isso corresponde a um conjunto de organizações (elementos do
sistema) cujas instituições – que constituem as interações entre os elementos do sistema – contribuem com
o desempenho inovativo do conjunto (SBICCA; PELAEZ, 2006, p. 417). Segundo Callon (1992, p. 84), o
grau de tradução entre os diversos atores define a capacidade de incorporar novos elementos, desta forma,
articulando as duas noções, pode-se inferir que a capilaridade dos SI está limitada a capacidade de interação
dos agentes envolvidos na dinâmica de CT&I.

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[1982], p. 73). Entre os habitats de estímulo à inovação espalhados pelo mundo, inclusive
pelo Brasil, estão inseridos os chamados Parques Tecnológicos - PqTec que consistem
em empreendimentos complexos que, por um lado, necessita de volumoso aporte
financeiro e, por outro, incorre em grande incerteza em relação aos resultados.
A partir desse conhecimento foram criados vários modelos de fomento aos SIs, os
quais são adotados dependentes dos objetivos almejados frente as características do
ambiente em que se vai implantá-lo, o modelo de PqTec é um exemplo de ferramenta,
criado para estimular a interação entre os atores presentes nos SIs e alcançar o que se é
tão esperado, a inovação.
Os PqTecs são empreendimentos criados e geridos com o objetivo permanente de
promover pesquisa e inovação tecnológica, estimular a cooperação entre instituições de
pesquisa, universidades e empresas e dar suporte ao desenvolvimento de atividades
empresariais intensivas em conhecimento (STAINER, 2008, p. 9). Esses
empreendimentos são ambientes planejados, que oferecem serviços e infraestrutura de
qualidade superior, e que visam facilitar a disseminação do conhecimento, por meio da
maior interação entre universidade/centros de pesquisa e as empresas residentes, a fim de
aumentar a competitividade empresarial (FIGLIOLI, 2007, p. 13).
Os PqTecs surgiram nos EUA, calcados na experiência do Vale do Silício, na
Califórnia e na Rota 128 em Massachusetts, os dois mais famosos modelos americanos.
Surgiram no período pós 2ª Guerra Mundial buscando estimular as economias locais, pois
a Califórnia não tinha tradição industrial e Massachusetts estava em declínio. O sucesso
dessas duas implantações nos EUA contribuiu decisivamente para a criação dos mesmos
na Europa (VEDOVELLO, 2000, p. 279).
Por sua vez, as incubadoras foram criadas como mecanismo de indução de
pequenas e médias empresas, ao invés de toda uma região. Muitas vezes elas são
confundidas com o próprio PqTec, mas a verdade é que é muito comum encontrá-las
instaladas no âmbito do empreendimento, agindo com foco em novos empreendedores e
pequenas e médias empresas (VEDOVELLO, 2000, p. 279-280).
E foi no decorrer desses primeiros sucessos, a partir dos anos 60 e 70, que se notou
o estímulo e implantação de PqTec e incubadoras, com o intuito de melhorar os resultados
de produção acadêmica, a aproximação de universidades e empresas, e o
desenvolvimento em inovação em si. Segundo Vedovello (2000, p. 280), os parques não
podem ser definidos:

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Não há uma definição única que possa ser aplicada a todos os parques de
tecnologia e incubadoras de empresas, devido ao fato de esses mecanismos
apresentarem uma diversidade e uma heterogeneidade muito grandes em
relação aos seus modelos. Por exemplo, no contexto europeu, mas encontrando
eco em outros, o relatório do Europe na Innovation Monitoring System [Eims
(1996)] enfatiza que a grande diversidade de estratégias observadas no
estabelecimento de parques e incubadoras na Europa reflete as diversidades
e/ou peculiaridades nacionais dentro do próprio continente, tais como
diferenças nos níveis médios de desenvolvimento tecnológico-empresarial, nas
políticas nacionais de apoio às empresas e na maior ou menor tradição na
implantação de parques e incubadoras.

É possível identificar dois modelos básicos de parques, o primeiro, que seria mais
relacionado a uma estratégia universitária (Parques Ingleses), pelo qual o foco é a
interação indústria-universidade, e a universidade é a principal chave no desenvolvimento
tecnológico. A segunda está relacionada a empreendimentos com uma estratégia regional
(Parques alemães e portugueses), que têm o foco voltado ao desenvolvimento regional,
com criação de novas empresas e novos postos de trabalho, onde os agentes
governamentais são preponderantes no processo como um todo (VEDOVELLO, 2000, p.
280-281).
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico –
OECD, os PqTecs podem atingir vários hectares, e de áreas muito variáveis, possuindo
duas características comuns em todos os empreendimentos, que é a elevada concentração
de atividades de alta tecnologia e a proximidade física de um instituto de ensino, tanto
tecnológico como uma universidade, com que a empresa possa ter um fácil acesso para
interação (OECD apud VEDOVELLO, 2000 p. 284).
Alguns objetivos dos parques tecnológicos são destacados por Massey, Quintas e
Wield apud Vedovello (2000, p. 286-288), sendo alguns explicitamente relacionados com
universidades, outros com empresas, a ligação entre ambas, ou o desenvolvimento
propriamente dito dentro da empresa. (Quadro 1).
Os PqTecs, assim como quase todos os empreendimentos de longo prazo,
possuem fases de implementação. Segundo Tadeu apud Figlioli, (2007, p. 44-45), os
passos para essa implementação se dão na seguinte ordem:

1º. Seleção local do município capaz comportar todo empreendimento.


2º. Realizações de estudos teóricos de viabilidade socioeconômica, aplicabilidade
prática do projeto, entre outras, que são feitos por uma ampla equipe de profissionais.
3º. Escolha da entidade que irá administrar o empreendimento, responsável pelas cotas
do terreno e espaços de locação para as empresas que serão instaladas.
4º. Elaboração dos projetos arquitetônicos, urbanísticos, e processo de seleção de
empresas interessadas já concluídos.

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Quadro 1: Objetivos dos agentes que estão relacionados aos Parques Tecnológicos.

Para as universidades e institutos de pesquisa podem ser observados os seguintes objetivos:


a) Encorajar e facilitar ligações entre a universidade e a indústria;
b) Facilitar a transferência de tecnologia entre instituições acadêmicas e Empresas localizadas nesses
empreendimentos;
c) Comercializar pesquisa acadêmica;
d) Encorajar o surgimento de empresas spin-offs iniciadas por acadêmicos;
e) Proporcionar às instituições acadêmicas acesso às atividades de P&D de ponta das empresas
localizadas em parques e congêneres;
f) Criar emprego e oportunidades de consultoria para pesquisadores e estudantes;
g) Gerar retorno financeiro para as instituições acadêmicas;
h) Aumentar o conhecimento acadêmico a respeito das necessidades industriais; E melhorar a imagem
das instituições acadêmicas junto ao governo.
As empresas, por sua vez, objetivam:
a) Acessar a agenda de pesquisas das universidades, promovendo a sua relevância;
b) Acessar os equipamentos e laboratórios universitários, tanto para produção como para análise e
testes;
c) Envolver estudantes em projetos industriais;
d) Recrutar recém-graduados, bem como cientistas e engenheiros mais experientes;
e) Promover a atividade de consultoria por parte de acadêmicos;
f) Estabelecer contratos de pesquisa e desenvolver pesquisa conjunta;
g) Encorajar o crescimento de novas empresas de base tecnológica que apenas Iniciaram suas
atividades fora dos parques e incubadoras;
h) Fomentar a sinergia entre as empresas para promover o benefício mútuo; e
i) Aumentar a relevância, para a indústria, das pesquisas desenvolvidas por universidades.
Para o grupo governo, autoridades e agências de desenvolvimento regional as prioridades são:
a) Estimular a formação de novas empresas de base tecnológica;
b) Gerar novos postos de trabalho na região;
c) Melhorar a performance da economia local;
d) Reverter o contexto declinante das bases industriais locais/regionais;
e) Reduzir os desequilíbrios regionais em termos de atividade de P&D (capacidade, investimento,
inovação);
f) Atrair investimento e atividade de P&D;
g) Melhorar a imagem local, particularmente em regiões economicamente deprimidas; e
h) Reproduzir o Vale do Silício e outras experiências bem-sucedidas.
Já os objetivos de caráter geral são:
a) Fomentar as tecnologias do futuro;
b) Estimular inovações tecnológicas baseadas na ciência;
c) Proporcionar um adequado retorno sobre o investimento do capital;
d) Estimular mudanças comportamentais e culturais;
e) Estabelecer confiança entre os diferentes agentes; e
f) Engendrar uma cultura empresarial através dos exemplos de casos bem sucedidos.
Fonte: Massey, Quintas e Wield apud Vedovello (2000).

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Ao final desse processo, o PqTec está pronto para iniciar a produção de bens e
serviços cuja matéria-prima principal será o conhecimento específico.
Outro modelo de implementação é o de Luger e Goldstein apud Figlioli (2007, p.
45), que divide o desenvolvimento de um parque em três etapas, como limites de tempo
sem previsão: incubação, consolidação e maturação.
Figlioli (2007, p. 47) resume por meio de três fases os conceitos de implementação
e estrutura de um parque. A primeira fase seria a de planejamento do parque, a qual
envolve seus estudos preliminares e concepção, com seus objetivos e estratégias, anúncio
formal de sua criação, projeto urbanístico, e elaboração de um projeto econômico
detalhado. Na segunda fase entra a implantação do parque em si, infraestrutura básica,
edifícios institucionais e de negócios, infraestruturas tecnológicas, áreas sociais e verdes.
A terceira e última fase seria a de operacionalização, é a fase em que as empresas já estão
instaladas no parque, há agora a criação e manutenção dos serviços prestados pelo parque
às empresas.
Em relação ao Brasil, a primeira ação de fomento aos parques aconteceu em 1984,
quando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq
lançou o programa de apoio a parques tecnológicos; receberam esse apoio os parques de
São Carlos, Campina Grande, Manaus, Joinville, Santa Maria e Petrópolis (LAHORGUE
apud FIGLIOLI, 2007, p. 69). No entanto, muitos desses empreendimentos não tiveram
continuidade, Campina Grande e São Carlos acabaram se tornando ambientes de
incubação de empresas, e Petrópolis manteve sua fundação o qual hoje é responsável pelo
Petrópolis Tecnópolis (FIGLIOLI, 2007, p. 49). E somente 20 anos após a primeira
iniciativa, em 2004, é que o governo federal retornou ao fomento de parques com os
recursos do Fundo Verde-Amarelo (LAHORGUE apud FIGLIOLI, 2007, p. 70). Segundo
Ávila (2005) apud Figlioli, (2007, p. 70), o fundo permitiu o apoio real à implantação dos
parques:

O Fundo Verde-Amarelo tem por vocação apoiar a interação Empresa-


Universidade e os parques são, sem dúvida, um símbolo maior dessa interação.
O Edital visa congregar os esforços de uma ampla gama de atores em torno da
viabilização de parques tecnológicos adequadamente estruturados. A exigência
de contrapartidas significativas reflete a avaliação de que tais
empreendimentos só podem ser bem-sucedidos se houver, de fato, interesse e
amplo comprometimento das instituições participantes e de parceiros
empresariais locais.

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Nos anos de 1970, com o surgimento dos parques pioneiros ou de 1ª geração, as


posições competitivas das empresas foram privilegiadas no desenvolvimento tecnológico
mundial. O sucesso econômico foi notado nos parques de Stanford e Triangle Park, e a
firmação de clusters industriais de alta tecnologia como o Vale do Silício, Route 128 e
Cambridge, os quais todos foram criados de forma natural/espontânea, com o intuito de
promover o apoio à criação de empresas de base tecnológica e a transferência de
tecnologias, a partir de universidades (BIASOTO JR.; CAIADO, 2010, p. 13).
Foi a partir do sucesso dos parques de 1ª geração que passaram a ser praticadas
outras iniciativas. Contudo, esses parques que se baseavam nos seus pioneiros, eram
considerados seguidores ou de 2ª geração. Esses empreendimentos não alcançavam o
mesmo sucesso dos primeiros. Sua criação se deu de forma planejada. É possível
identificar dois grandes grupos: aqueles que se desenvolveram a partir de forte relação
com universidades e os que surgiram a partir de demanda local com uma relação mais
fraca com uma universidade (BIASOTO JR.; CAIADO, 2010, p. 13).
Na maioria dos casos, houve apoio e suporte estatal (nacional, regional ou local)
e tinham como foco promover o processo de interação universidade-empresa, e estimular
a valorização de áreas ligadas aos campos de universidades e criação de espaços para
implementação de empresas inovadoras com a pretensão de se tornar um polo tecnológico
empresarial. Ao longo das décadas de 1970 a 1990 esses tipos de parques constituíram a
essência de um verdadeiro boom que se espalhou pelos EUA e outros países da Europa
(BIASOTO JR.; CAIADO, 2010, p. 14).
Os parques estruturantes, ou conhecidos como de 3ª geração, foram beneficiados
pelo aprendizado acumulado pelas experiências daqueles de 1ª e 2ª gerações, e têm sido
responsáveis pelo crescimento tecnológico de países emergentes. Esses empreendimentos
são frutos de uma economia regional ou nacional com a intenção de promover um
processo de desenvolvimento socioeconômico extremamente impactante, esses parques
contaram com apoio e investimento estatal forte (BIASOTO JR.; CAIADO, 2010, p. 14).
Os parques de terceira geração são influenciados por fatores como: maior
facilidade de acesso ao conhecimento, aprendizado com erros/acertos/experiências do
passado e pela grande necessidade de desenvolvimento incentivada pela globalização.
(Ibdem, p. 14):

Essas experiências abrangem várias escalas geográficas: de regiões inteiras até


cidades ou escalas inda menores, referidas usualmente como science parks,
research parks ou technological parks. De acordo com Zhang (2005), é possível

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classificá-las em três categorias ou padrões, com base em suas características


físicas e atributos como natureza dos atores internos e arcabouço
organizacional: padrão cidade/região; padrão park/campus; e padrão
centro/incubadora.

Adicionalmente, Biasoto Jr. e Caiado (2010, p. 14) elaboram uma comparação a


respeito dos atributos de parques de diferentes padrões (Quadro 2).

Quadro 2: Atributos de parques de diferentes padrões


Padrão Padrão Padrão
Atributos
park/campus centro/incubadora cidade/região
Tamanho Médio Menor Maior
Baixa densidade, Uma cidade ou região,
Alta densidade com pouca
Aparência grandes áreas verdes recentemente formada
área verde para uso comum
e qualidade estética. ou reestruturada.
Empresas de
diferentes tamanhos Empresas em estágio inicial
Atores internos Atores residentes
e estágios de de desenvolvimento
desenvolvimento
Arcabouço
Sim Sim Não
organizacional
Fonte: Zhang apud Bisosto Jr, Caiado (2010).

O padrão park/campus apresenta grandes áreas verdes com paisagismo bem


cuidado, localizado geralmente nas imediações de instituições de ensino superior, com a
possibilidade de expansão após seu desenvolvimento. Possuem tamanho variado, mas a
maioria dos parques norte-americanos tem mais de 800.000m², enquanto os ingleses
possuem, em média, menos de 200.000m². Residentes destes parques são empresas de
diferentes tamanhos e estágios de desenvolvimento. Este é o padrão típico dos parques
originais norte-americanos (BIASOTO JR.; CAIADO, 2010, p. 15).
No padrão centro/incubadora, diferentemente dos parques/campus, raramente
apresentam áreas verdes. Normalmente ocupam áreas restritas, mas com tamanho muito
maior que o anterior. São localizados, em geral, próximos a universidades e o foco inicial
é dar suporte ao crescimento de empresas iniciantes, oferecendo acomodações e suporte
empresarial (BIASOTO JR.; CAIADO, 2010, p. 15).
Os parques de terceiro padrão possuem capacidade de abranger cidades ou
regiões e foram originados no Japão nos anos 1980. Alguns tipos desses parques são os
novos asiáticos, chamados de technopolis. Uma technopolis proporciona infraestrutura
para um saudável padrão de vida, com presença de equipamentos culturais e indústrias de
alta tecnologia. Sua localização é distante dos centros industriais e se adapta às

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características da região. Para a criação desse tipo de parque são necessários


investimentos do governo com o objetivo de criar cidades tecnologicamente orientadas,
que sirvam de motor para o crescimento de suas regiões (BIASOTO JR.; CAIADO, 2010,
p. 15).
Destarte, esse texto relaciona como o PqTec de Sorocaba apresenta potencial para
se constituir em um mecanismo capaz de aprimorar o SI regional, fortalecendo as relações
entre os atores envolvidos nesse sistema.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O presente artigo propõe-se analisar qual é o potencial dos empreendimentos de


PqTec no fortalecimento das relações tecnológicas pré-existentes entre os diversos atores
presentes no SI de determinada cidade ou região, por meio do estudo do caso do PqTec
de Sorocaba – PTS.
Para alcançar este intento, foi elaborado um plano metodológico baseado em um
Estudo de Caso, por meio de uma pesquisa qualitativa que preconiza a articulação tanto
de fontes de informação institucionais, como de dados primários.
Destarte, Yin (2015, p. 142-144) encoraja os pesquisadores a utilizar coleta de
fontes múltiplas de informação, que demonstrem o mesmo resultado ou descoberta do
fenômeno estudado (Figura 1). Para o autor, esse tratamento de dados aumenta a
confiabilidade além de permitir ao pesquisador observar seu problema de pesquisa de
diversas perspectivas.
Assim sendo, serão trianguladas as fontes de informação institucionais
simultaneamente com as primárias, para que haja maior confiabilidade nos resultados
obtidos.
A pesquisa adotou como variável para estudo, primeiramente, o grau de
interatividade entre os residentes do PTS e sua densidade. A segunda variável está
relacionada às mudanças que essas relações foram capazes de realizar. E a terceira e
última diz respeito aos resultados preliminares obtidos pelo PTS no que concerne à
quantidade de residentes presentes e as pesquisas que se procedem.
Com respeito às fontes de informações institucionais, foram utilizados três estudos
de diferentes instituições, sendo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – MCTI
(2015), Empresa Municipal Parque Tecnológico de Sorocaba – EMPTS e Inova

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Sorocaba. O estudo da MCTI (2015) fornece informações sobre melhores práticas de


PqTecs no Brasil, por meio da comparação de 15 outros parques brasileiros a respeito de
11 variáveis. Este estudo em específico possibilita a comparação do estágio de
desenvolvimento e da densidade das relações tecnológicas existentes no PTS com relação
aos outros parques que compuseram o estudo.

Figura 1: Convergência de múltiplas fontes de evidência

Fonte: Yin (2015)

As informações institucionais fornecidas pela EMPTS e Inova estão relacionadas


ao seu desempenho primário, como: informações locacionais/territoriais, missão e visão,
serviços fornecidos pelo parque, e, principalmente, os residentes que estão instalados e
algumas de suas atividades que estão sendo desenvolvidas.
Adicionalmente, como parte da metodologia elaborada inicialmente para esta
pesquisa, foi engendrado esforço relevante na busca de dados primários. As informações
advindas de fontes primárias têm relevância preciosa em metodologias tais como a
empregada no presente estudo, uma vez que por meio desses depoimentos é possível
comparar os diferentes pontos de vista de cada um dos agentes envolvidos nas relações
tecnológicas existentes em relação a variáveis pré-determinadas.
Porém, como é muito comum neste tipo de estudo, todo o esforço engendrado para
buscar as valiosas informações de cunho primário não obteve total sucesso em virtude do
fenômeno de não-resposta. Nestes termos, a análise dos resultados obtidos por meio dos
dados primários prospectados mostrou que para alcançar os objetivos desta pesquisa,

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foram considerados apenas as respostas de dois residentes – uma universidade, uma


empresa – e a entrevista realizada junto ao Diretor da Agência de Inovação presente no
PTS, a Inova Sorocaba. Nos demais questionários em que se verificou algum esforço de
resposta por parte dos entrevistados, há prejuízo considerável na possibilidade de uso do
conteúdo nesta pesquisa.

4 A DISCUSSÃO DO CASO DO PARQUE TECNOLÓGICO DE


SOROCABA

Em relação ao grau de interatividade entres os residentes, tanto nas fontes de


informação primárias quanto nas análises das informações institucionais, notou-se que o
PTS apresenta grande potencial para tornar essas relações mais densas e interativas em
um futuro próximo. Todavia, o que foi possível observar por meio da triangulação das
informações é que, até o presente momento, não existem evidências de que as relações
tecnológicas pré-existentes estejam mais densas.
Adicionalmente, em relação à influência do PqTec no que diz respeito à agenda
de pesquisa pré-existente nas universidades e empresas residentes, verifica-se que até o
momento as agendas permanecem inalteradas de modo que o PqTec ainda não foi capaz
de influenciar essa dinâmica.
No que diz respeito aos agentes presentes no PTS, pode-se concluir que estão
presentes as principais universidades e empresas da região, notadamente, as que possuem
maior tradição em atividades de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação – P&D&I. No
Quadro 3 é possível visualizar as universidades e suas áreas de pesquisa, conforme
fornecido pela informação institucional da Inova e EMPTS.
No Quadro 4 pode-se visualizar as empresas presentes no PTS, segundo a mesma
fonte de informação. Além da presença das instituições, já pode-se visualizar parcerias
sendo estabelecidas entre algumas delas. Como, por exemplo, a parceria realizada pela
empresa Scania em conjunto com a USP, podendo ser observado nas tabelas acima que
ambas possuem a mesma linha de pesquisa.
Por fim, o Gráfico 1, fornecido pela fonte de informação institucional do MCTI
(2015, p. 41) – Estudo de Parques e Incubadoras –, revela os pontos mais fortes do PTS
comparado com a média de 15 PqTecs brasileiros que foram analisados. Por meio dessa
análise, a pesquisa demonstra que o PTS está no início de sua operação e apresenta

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diversos desafios a serem superados para a ampliação de seus resultados até a fase de
consolidação.

Quadro 3: Universidades presentes no PqTec segundo Atividade de Pesquisa.

Universidade Atividade de Pesquisa


Nanotecnologia, automação, robótica, sistemas embarcados e
UNESP
processamento de imagem.
Biotecnologia, Nanotecnologia e pesquisa farmacêutica em novos
UNISO
Biomateriais.
UFSCAR Escritório de P&D
USP Engenharia mecânica e laboratório de pesquisa em motores a Diesel.

PUC Pesquisa de Biomateriais para uso médico-hospitalar.


Simuladores virtuais, biomodelos e Prototipagem 3D para apoiar
FATEC
cirurgias.
FACENS Engenharia e desenvolvimento de software para cidades inteligentes.
Fonte: Elaboração própria com base em pesquisa de campo

Especificamente para o caso do PqTec de Sorocaba são relevantes as variáveis:


conhecimento, infraestrutura, mecanismos e serviços, governança e gestão. A variável
infraestrutura “analisa se o parque possui infraestrutura básica como saneamento,
proximidade com transporte público, rodovias, facilidade de acesso, internet de alta
velocidade e energia” (MCTI, 2015, p. 15). Governança e Gestão analisa como é feito o
planejamento e acompanhamento das ações do parque. A variável Mecanismos e Serviços
analisa os serviços e mecanismos fornecidos pelo parque que atraem empresas. Por fim,
a variável Conhecimento analisa as estratégias existentes para promover a interação entre
os agentes e os resultados gerados a partir dessas interações (MCTI, 2015, p. 21).
A partir destas variáveis, os autores destacam que o empreendimento não se
encontra próximo a uma universidade e, assim sendo, é necessário desenvolver políticas
de atração para laboratórios e centros universitários, visando conseguir agregar valores
às empresas que possuem interesse em se instalar no PTS (2015, p. 41). É importante
considerar que a maioria das variáveis analisadas pelo (MCTI, 2015, p. 13-21)
apresentadas na Figura 2, quando se encontram no grau de escala três significa que possui
desenvolvimento dessa determinada variável em específico que não é suficiente para as
relações sejam consideradas adequadas, porém, indica que há grande perspectiva para
incremento de sua capacidade de interferir nas relações no futuro.

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Quadro 4: Empresas presentes no PqTec segundo Atividade de Pesquisa.

Empresa Atividade de Pesquisa


BARDELLA Equipamentos pesados para a metalurgia, óleo, gás e energia.

BIOSPACE Desenvolvimento de biruta eletrônica

CCDM P&D de novos materiais e Engenharia.

Engenharia avançada em tecnologias de informação e Comunicação para resolver


C.E.S.A.R.
problemas complexos para empresas e indústrias.

DORI Laboratório de Pesquisa de Engenharia de Alimentos.

FIT Soluções Inovadoras, através de Pesquisa e Desenvolvimento, testes e treinamento.

GREENWORKS Serviços de Engenharia Automotiva.

Tecnologia da Informação para melhorar serviços e software para gestão de


INPUT
pequenas, médias, e grandes empresas.

I.Q.A. Instituto de Certificação especializado no setor automotivo.

Automação de processos críticos que necessitam de monitoramento e rastreabilidade,


MENTORE
garantindo a qualidade de informação em tempo real.
Laboratório de Pesquisa para desenvolver equipamentos para minimizar a emissão
SCANIA
de poluentes liberados por motores a Diesel.
Fonte: Elaboração própria com base em pesquisa de campo

Figura 2: Grau de maturidade do Parque Tecnológico de Sorocaba em


comparação à média dos parques pesquisados.

Fonte: MCTI (2015).

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Segundo o estudo (MCTI, 2015, p. 42), a perspectiva de potencialização nas


relações dentro do sistema é para médio prazo:

Em termos de inserção local, o parque é uma iniciativa recente, com pouco


impacto na economia local até o presente momento, mas desenvolve eventos
ligados a inovação, culturais e sociais. Está inserido em uma região do país
dinâmica economicamente, com potencial para em médio prazo, fortalecer a
competitividade e alcançar resultados importantes em termos de inovação.

Assim sendo, pode-se concluir que o estudo aponta que o PTS possui grande
esforço no que diz respeito à estratégia de implementação de ações para atrair empresas
ao PqTec, porém, o empreendimento é recente e não “apresenta resultados em termos de
consolidação e amadurecimento de clusters e vem desenvolvendo ações na conquista de
parceiros” (MCTI, 2015, p. 42). Entretanto, no presente momento, já estão
disponibilizados vários mecanismos e serviços, como as incubadoras, centro de inovação,
laboratórios de P&D&I e outros serviços específicos, como o Poupa Tempo da Inovação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os empreendimentos de PqTecs tem se constituído pelo recente como um


importante instrumento de política de C,T&I. Nesse sentido, verifica-se que houve ao
longo do tempo grande evolução no perfil de atuação desses empreendimentos.
Inicialmente os PqTecs presumiam a existência de um processo relativamente linear entre
a transformação da ciência básica para a ciência aplicada. À medida que essas políticas
foram evoluindo ao longo do tempo, aspectos sistêmicos aderentes às relações dos atores
foram sendo incorporados na conformação dos PqTecs.
Com efeito, o estado da arte a respeito de PqTec diz respeito a empreendimentos
que procuram aprimorar tanto a relação entre os agentes evolvidos no processo inovativo
em SIs regionais bem como políticas de desenvolvimento regional.
Destarte, o PqTec foi implantado considerando que a região de Sorocaba
necessitava de uma ação de política pública capaz de aprimorar o SI existente, por meio
da criação novas conexões, como atração de novos atores presentes nas regiões de São
Paulo e Campinas, que são próximas a Sorocaba e são reconhecidamente os principais
polos tecnológicos do estado de São Paulo.

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Nesse sentido, o que a presente pesquisa procurou verificar por meio da


triangulação de fontes de informação envolvidas no processo de consolidação do PTS é
que o grau de maturidade do empreendimento foi capaz de articular esses diversos agentes
no espaço de interação do PqTec. Entretanto, como já era de se esperar, em um
empreendimento com poucos anos de criação a densidade dessas relações ainda não é
suficientemente densa.
Por outro lado, também foi possível observar a partir da análise do PTS que, apesar
das relações não apresentarem densidade suficiente, há grande potencial de adensamento
desse processo ao longo da consolidação do empreendimento. A literatura internacional
aponta que normalmente são necessárias mais de uma década para que um PqTec possa
ser considerado maduro. Deste modo, pode-se imputar que a trajetória do PTS percorrida
até o atual momento é exitosa, ainda que diversos ajustes na política de consolidação
desse empreendimento sejam necessários.
A partir do estudo do caso do PTS foi possível verificar que os PqTecs possuem
potencial para aprimorar os SIs regionais, e que o processo de consolidação do
empreendimento é lento e complexo, o qual exige constante monitoramento no desenho
da política de C,T&I.

REFERÊNCIAS

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SAVIOTTI; WALSH (Eds.). Technological Change and Company Strategies:
Economic and Sociological Perspectives. Oxford: Oxford University Press, 1992.

EDQUIST, Charles. Systems of innovation – Perspectives and challenges. In:


FAGERBERG, J.; MOWERY, D.C. ; NELSON, R.R. (Eds.). The Oxford handbook of
innovation. Oxford: Oxford University Press, 2005.

FIGLIOLI, Aline. Perspectivas de financiamento de Parques Tecnológicos: um


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GERAÇÃO DE CONHECIMENTO E CAPACITAÇÃO


TECNOLÓGICA: ANÁLISE COMPARATIVA DE BRASIL,
COREIA DO SUL E ESTADOS UNIDOS.

Ana Paula Oliveira de Salles*


Ricardo Lopes Fernandes**

**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: ana_salles@outlook.com

** Mestre em Economia e professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de Sorocaba – SP,


Brasil. E-mail: ricardo.fernandes@prof.uniso.br

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: O objetivo do artigo é elaborar uma análise comparativa da capacitação tecnológica no Brasil,
Coreia do Sul e Estados Unidos. Os dados estudados mostram que os Estados Unidos e a Coreia do Sul
investem menos que o Brasil em educação, porém, investem mais nas áreas relacionadas à pesquisa e
desenvolvimento (P&D), obtendo resultados significativamente superior em termos de capacitação
tecnológica. Neste sentido, uma das principais conclusões deste trabalho foi identificar que o problema na
esfera da educação do Brasil não está na falta de investimento mas está relacionada com a eficiência e a
efetividade desse gasto.

PALAVRAS-CHAVE: Capacitação Tecnológica. Aprendizado Tecnológico. Geração de Conhecimento.

GENERATION OF KNOWLEDGE AND TECHNOLOGICAL CAPACITATION:


COMPARATIVE ANALYSIS OF BRAZIL, SOUTH KOREA AND THE UNITED STATES OF
AMERICA.

ABSTRACT: The purpose of this article is to elaborate a comparative analysis of technological capacity in
Brazil, South Korea and the United States. Data show that the United States and South Korea invest less
than Brazil in education, but invest more in research and development (R & D) areas, obtaining significantly
better results in terms of building technological capacity. In this sense, one of the main conclusions of this
work was to identify that the problem in the Brazilian education sphere is not the lack of investment, it is
related to the efficiency and effectiveness of this expenditure.

KEYWORDS: Technological Training. Technological Learning. Generation of Knowledge.

1 INTRODUÇÃO

A literatura econômica na qual este texto está fundamentada parte da perspectiva


que a competitividade dos países está intimamente relacionada com a formação
educacional de seus residentes. Nessa lógica, a presente discussão parte da noção de que
______________________
8
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

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43

a área da educação é estratégica para formar trabalhadores competitivos, aptos a gerar


inovações por meio de uma base de conhecimento nova ou já existente, encontrada nos
países detentores da fronteira tecnológica. Neste sentido, a capacidade de
desenvolvimento de uma nação está relacionada à forma como ela domina ou não
determinado conjunto de tecnologias, que podem proporcionar a formação de uma sólida
base de conhecimento necessária para a capacitação de sua população, seja por meio da
educação fornecida pelas escolas e universidades, seja por meio das técnicas de
aprendizado existentes nas próprias empresas.
Quando se analisa a dinâmica evolutiva dos países considerados desenvolvidos
sob uma perspectiva histórica, verifica-se que grande parte das explicações para seu
recente êxito econômico está relacionada com a construção da capacidade interna de
dominar a fronteira tecnológica existente em termos internacionais e, em seguida, criar
mecanismos internos capazes de decodificar, criar e disseminar esse conhecimento
armazenado nessas novas tecnologias.
Em geral, o que se verifica, por meio da obra que será apresentada mais adiante,
é que os países que são capazes de ditar a dinâmica tecnológica apresentam vantagem
competitiva sobre os demais no que diz respeito ao acúmulo tanto de riqueza como de
conhecimento, refletindo em alta competitividade em âmbito mundial.

A competitividade nacional se transformou numa das preocupações centrais do


governo e da indústria em todos os países. No entanto, não obstante todas as
análises, debates e escrito sobre o tema, ainda inexiste uma teoria convincente
para explicá-la. (PORTER, 1999, p. 170).

Nessa perspectiva, este artigo se ampara na ótica de que há assimetria na


distribuição do conhecimento necessário para realização da produção eficiente que
satisfaz as necessidades do país e o leva ao reconhecimento internacional. A discussão
desenvolvida ao longo do artigo também parte da perspectiva de que ao longo da história
alguns países conseguiram realizar o que se convencionou chamar de cath up7, ou
diminuição do gap tecnológico existente entre os países subdesenvolvidos com relação

2
O termo cath up é comumente utilizado pelos neoschumpeterianos e pelos evolucionistas para designar o
processo de eliminação do hiato tecnológico de um país em relação à fronteira tecnológica. Fagerberg e
Godinho (2006, p. 514) explicam que esse hiato surgiu em função do processo de evolução do sistema
capitalista que criou e continua criando assimetrias na produtividade e nas condições de vida em diferentes
partes do mundo. Nestes termos, as estratégias de desenvolvimento econômico desenvolvidas por
economias de capitalismo tardio, como Brasil e Coreia do Sul, foram pautadas nas estratégias verificadas
nos países hoje considerados desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha no século XIX e Japão no
período pós-guerra, que utilizaram de políticas de desenvolvimento voltadas ao aprendizado tecnológico e
eliminação desse hiato tecnológico. Para maiores informações, ver Nelson (1993).

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aos desenvolvidos, alcançando e, em alguns casos ultrapassando diversos países nessa


busca incessante pelo êxito econômico e tecnológico no cenário internacional.
Compreendendo esse conceito e com o intuito de discutir a posição relativa do
Brasil neste processo, verificou-se na literatura que existem exemplos importantes de
reversão do atraso econômico. Como as principais referências, evidencia-se os Estados
Unidos e a Alemanha, que no final do século XIX, contribuíram com o surgimento do
aço e da eletricidade nos Estados Unidos e pelo fortalecimento da indústria química na
Alemanha (FAGERBERG; GODINHO, 2009). Também observa-se que foi no século
XX que o Japão e outros países asiáticos, com destaque para a Coréia do Sul, investiram
na capacitação interna a ponto de hoje estarem inseridos entre as principais economias do
mundo, estabelecendo forte posicionamento no que diz respeito à elaboração e difusão de
conhecimento e novas tecnologias no mercado internacional.
Considerando essas questões, o objetivo do presente artigo é elaborar uma análise
comparativa da capacitação tecnológica por meio da geração de conhecimento de dois
países de industrialização tardia, Brasil e Coreia do Sul, com a atual potência mundial, os
Estados Unidos. Essa combinação de inovação e educação foi utilizada pelos países aqui
apresentados como pilares estratégicos que tornaram a população mais capacitada, dessa
forma as empresas nacionais cada vez mais competitivas e, consequentemente, o país em
que residem. A questão em pauta é: será que o Brasil acompanhou esse processo?
Para discutir essa questão, além desta introdução, esse texto está estruturado da
seguinte forma: no item dois será apresentada uma revisão bibliográfica descrevendo as
principais contribuições dos autores que tratam dos elementos teóricos pertinentes aos
objetivos deste texto. Em seguida, no terceiro item, são desenvolvidas as análises
empíricas a respeito da geração de conhecimento e da capacitação tecnológica
comparando os três países considerados no texto que possibilitaram, por fim, os
comentários conclusivos a respeito das questões analisadas.

2 REVISÃO DE LITERATURA

O assunto a ser abordado surgiu com o intuito de mostrar que a área da educação
dos países deve focar na geração e transmissão do conhecimento que leva à inovação,
fator essencial e estratégico para o sucesso da competitividade das nações, que

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ultimamente têm sido uma das principais preocupações do governo e do setor industrial
de qualquer país (PORTER, 1999, p. 170).
Com a recente globalização, final do século XX, de acordo com Castells (1999) o
termo “Era do Conhecimento” ou “Era da Informação” passou a caracterizar o contexto
mundial, em que as fronteiras que antes impediam as trocas de tecnologia e disseminação
de conhecimento acumulado entre as nações já não mais existem, levando ao rápido
avanço das tecnologias de informação e comunicação, também conhecidas como TICs,
evidenciando o deslocamento do modelo de sociedade industrial para uma sociedade do
conhecimento.
Para facilitar a assimilação desse novo paradigma, pode-se associar a propagação
do conhecimento contido nas tecnologias lançadas no mercado com o processo de
polinização de uma abelha, que ao buscar alimento nas flores transporta o pólen destas
em seu corpo, mesmo que não intencionalmente, e acaba gerando outras flores pelos
lugares que passa. O mesmo ocorre com as firmas, que, segundo Lastres e Albagli (1999,
p. 107), são atraídas pelos locais que oferecem vantagens de mercado, como nos casos
dos países subdesenvolvidos com mão de obra abundante e barata. Com essa quebra de
barreiras entre os países, causada pela globalização, as empresas conhecidas como
multinacionais começaram a se espalhar pelas nações em busca dessas vantagens, levando
consigo novas tecnologias bem como novos conhecimentos agregados nestas.
A Teoria da Firma desenvolvida por Penrose (1959) fundamentou-se na
perspectiva schumpeteriana de que o aprendizado é o responsável pelas mudanças
tecnológicas nos cenários das empresas, fato essencial para que os países acompanhem
essa nova dinâmica econômica mundial voltada para inovação tecnológica e
decodificação das tecnologias contidas nas multinacionais. Como consequência deste
novo paradigma mundial, houve também modificação no padrão competitivo das
empresas, que agora possuem maior nível de complexidade e maior exigência de
competitividade dos países e de seu setor industrial, e, para a autora, as experiências e o
conhecimento que se desenvolvem por intermédio do aprendizado formal e transmissível
ou pela rotina pessoal dos indivíduos que é subjetiva, vão se acumulando podendo ser
utilizados de forma produtiva possibilitando a formação da base de conhecimento das
empresas.

As referidas experiências e conhecimento vão surgindo e se desenvolvendo de


duas maneiras: através do aprendizado formal de noções objetivas a
transmissíveis – que correspondem ao chamado “estado das artes”; e através

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da vivência pessoal e subjetiva dos integrantes de qualquer empresa. Tanto esta


como aquelas vão se acumulando em ternos da quantidade de noções
adquiridas, e da capacidade de vir a utilizá-las produtivamente.
(SZMRECSÁNYI, 2001).

Para uma empresa ser inovadora é fundamental que ela entenda o que é e como
deve ser explorado o conhecimento, e para mercados oligopolizados, cenário do mercado
atual, é imprescindível que a base de conhecimento empresarial seja criativa e inovadora
(LUNDVALL, 2000) para tanto, não obstante os investimentos na área de marketing
estratégico e P&D (pesquisa e desenvolvimento) assunto este já abordado por Schumpeter
(1939), deve ser inserido também um novo comportamento junto com o novo
conhecimento, em que os indivíduos se tornam aptos a inovar.
A fim de entender melhor como funciona o processo de aprendizado mencionado
acima, Nonaka e Takeuchi (1997), autores considerados pioneiros no campo da Gestão
do Conhecimento, mostram que existe dois tipos de conhecimento: tácito e explícito, que
se complementam, estão interligados. O primeiro consiste naquele conhecimento
adquirido com a vida, de forma pessoal, e o segundo seria aquele que pode ser ensinado,
transmitido de forma sistemática, também é conhecido como conhecimento codificado,
explícito.
Pelo fato do conhecimento explícito ser formal e sistemático, é mais fácil de ser
ensinado, e para Rohem (2012, p. 35) ele pode ser codificado de diversas formas, como
em artigos científicos e patentes. Uma possível dificuldade está, então, em decodificar as
patentes que possuem um tipo de conhecimento que pode estar “protegido por segredo
industrial”, logo não está totalmente disponível. Ele pode se transformar em poderosa
arma estratégica para armazenar as novas tecnologias, “tornando-se importante fonte de
vantagem competitiva” (ROHEM, 2012, p. 64).
Já o tácito, sendo o mais importante para os processos de inovação segundo
Lundvall (1996), se torna trabalhoso, pois depende de habilidades técnicas, perspectivas
individuais, domínio do know how, contexto, crenças. Geralmente, são os profissionais
que ocupam altos cargos hierárquicos quem detêm esse tipo de conhecimento nas
empresas. Mesmo que seja impossível de codificá-lo é possível aprendê-lo com a
experiência, a partir daí se faz necessária à competência da organização em conseguir
passá-lo com qualidade, “Podem ser aprendidos pelo intercâmbio com outras pessoas por
meio do aprendizado com mestres ou pelo relacionamento escolar” (LUNDVALL, 2000).

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As firmas que são chamadas de “criadoras de conhecimentos”, defendem Nonaka


& Takeuchi (1997 p. 39), são aquelas que produzem novidades tecnológicas “[...] as
empresas bem-sucedidas são as que criam consistentemente novos conhecimentos [...] e
os incorporam rapidamente em novas tecnologias e produtos”, pois de nada adianta uma
sociedade capitalista com aumento de demanda por novas tecnologias, e as companhias
não se capacitarem para conseguir atendê-la de forma ágil e eficiente.

O aprendizado cria flexibilidade e agilidade para que a organização possa lidar


com a incerteza e faz com que as pessoas possam ser capazes de gerar
continuamente novas formas de criar os resultados desejados pela organização.
Por isso, as mudanças que caminham lado a lado com o aprendizado criam
raízes, em vez de ser transitórias. (NONAKA; TAKEUCHI,1997).

De acordo com Ludvall (2000), o papel das firmas em transmitir o conhecimento


de mercado que possuem é uma estratégia fundamental para a capacitação dos
profissionais, e pode ser feito por meio de três abordagens: “learning by doing, learning
by using and learning by interacting”. Como P&D consiste em um processo de
aprendizagem que gera a inovação tecnológica, não apenas Lundvall (2003, p. 9) como
também Rosenberg (2006, p. 187) ajudam a explicar esses tipos de learnings ou
aprendizados mencionados acima, em que:
• Learning by interacting, ou aprendizado pela interação: Ocorre com o contato
direto dos produtores com os agentes que promovem a inovação, gerando
significativas melhoras e complementações na competência destes.
• Learning by doing, ou aprendizado pela prática: Consiste em uma inovação
tecnológica não tão reconhecida, no qual há o envolvimento direto do
funcionário no processo de produção do bem, com aumento de suas
habilidades de produção depois que o produto já fora projetado e
desenvolvido, visando melhorias da produtividade e consequente diminuição
dos custos de mão-de-obra por produto.
• Learning by using, ou aprendizado pelo uso: Já não consiste na função, mas
sim na utilização do produto pelo usuário final, que exige um tempo maior de
experiência com o bem a fim de estudar seu incerto desempenho, como a vida
útil de um bem de capital durável. Esse aprendizado desencadeia dois tipos de
conhecimento, o incorporado, em que com o surgimento de uma nova
tecnologia torna possível algumas modificações no produto, e o não
incorporado, no qual há alterações no uso do bem que não implica

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necessariamente em modificações na linha de produção deste. Esse último é o


que melhor descreve o aprendizado pelo uso.

No atual contexto mundial, evidencia-se que a desigualdade tecnológica dos


países subdesenvolvidos para com os desenvolvidos ocorre por várias deficiências na
base de conhecimento destes e não apenas as empresas, mas o principal agente capaz de
compensar ou até mesmo sanar esse problema é o Estado, fornecendo desde educação
básica até cursos específicos de qualificação populacional, treinando uma geração
capacitada e inovadora (MAZZUCATO, 2014). Dessa forma, Lundvall (2000) mostra
que há maior preocupação das empresas em contratar funcionários mais qualificados e
maior seleção do mercado pelas empresas mais preparadas a atender as novas demandas
de forma ágil e eficiente, acelerando assim, as mudanças e inovações. E para o autor é
possível por meio de políticas de inovações capacitar as instituições relacionadas à área
do conhecimento, como universidades, e as empresas, de forma a torná-las eficientes,
comprovando o fato de que é através da busca pela inovação que ocorre a capacitação
tecnológica no país.

O processo de aprendizagem é socialmente vinculado; e iniciativas de


organizações e de instituições são cruciais para o surgimento do intercâmbio.
Eis o porquê das políticas de inovação necessitarem ter uma dimensão social
em que a qualidade do intercâmbio entre pessoas e organizações é importante
e em que busca de competência por parte das empresas se torna um objetivo
legítimo. (LUNDVALL, 2000, p. 4).

Para atingir a capacidade competitiva desejada tem-se evidenciado como é


importante a formação de parcerias que visem pesquisas científicas e tecnológicas. O
professor norte-americano Henry Etzkowitz (1996) e o holandês Loet Leydesdorff
desenvolveram, juntos, o modelo chamado “Triple Helix” ou “Hélice Tripla”. Conforme
a Figura 1, o conceito de hélice tripla proposto pelos autores aponta que as relações entre
governo, universidades e empresas constituem mecanismo cíclico essencial para que
sejam desenvolvidos os conhecimentos necessários à capacitação tecnológica que torna
possível para a nação inovar em diversas áreas do seu setor produtivo.
Desde o século XX os norte-americanos já possuíam grande interesse no aumento
de produtividade por meio tanto da criação de novas tecnologias como também através
do aprendizado incremental, tal como descrevem Mowery e Rosenberg (2005), e após a
criação do cálculo da renda e produto nacional em meados do século XX, foi possível

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mensurar, por meio de dados quantitativos, que essas mudanças no âmbito tecnológico
traziam impactos positivos para o crescimento econômico do país. Todavia, eles também
comprovaram que as mudanças não ocorrem de forma rápida, exigindo-se muito
investimento, tanto de tempo como de capital, para que os aprimoramentos se tornassem
viáveis às novas demandas por tecnologias inovadoras.

Figura 1: Hélice Tripla

Fonte: Adaptado de Etzkowitz- Leydesdorff (2000).

Dessa forma, as empresas detêm o conhecimento do mercado, da demanda e suas


exigências tecnológicas, as universidades, com suas pesquisas científicas, transformam
essa ciência em dinheiro, lucro, capital, “transformation of science itself into capital”, e
o governo é o responsável por financiar essas pesquisas e projetos científicos
(LEYDESDORFF; ETZKOWITZ, 1996).
Lundvall (2000, p. 6) mostra que as Universidades possuem significativo
repertório de conhecimento, e as empresas que frequentemente se vinculam com
universidades possuem “produtos de alta tecnologia como química, eletrônica,
instrumentação ou de grande porte como a automobilística e de engenharia mecânica”.
Atualmente, as Empresas Multinacionais - EMNs não buscam apenas vantagens de
localização para se instalar em outros países, mas sim locais que possuam universidades
e centros de pesquisa com alta gama de conhecimento que lhes proporcionem melhores
estruturas e capacitação tecnológica, de forma atualmente essas empresas buscam
vantagens de localização relacionadas com ativos tecnológicos (ERNST; KIM, 2002, p.
144).

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A Coreia do Sul é um dos países de industrialização tardia com maior salto


tecnológico já observado nos últimos tempos. Won-Young, (2005, p. 365) mostra que as
políticas industriais se tornaram compromisso do Estado, e foi isso levou ao avanço
tecnológico sul-coreano, pois com investimentos em Ciência e Tecnologia houve grande
acúmulo de conhecimento com fundamentos teóricos. A fim de construir uma base de
conhecimento sólida e eficiente, o autor descreve o desenvolvimento da Coreia do Sul em
três estágios: o da imitação, internalização e criação, ele afirma que esses estágios devem
ocorrer em todos os países em desenvolvimento.
O estágio da imitação ocorre pela cópia das tecnologias estrangeiras, o da
internalização é a capacitação dos engenheiros nacionais para desenvolver novos
produtos até mesmo com tecnologias mais avançadas do que os já existentes em outo
países, e o da criação é quando o país é apto a produzir novos bens que utilizam tecnologia
de ponta e podem se tornar líderes no mercado de consumo (WON-YOUNG, 2005, p.
365).
Outro aspecto interessante sobre a economia sul-coreana foi sua política industrial
adotada para substituição de exportações, pois ela não utilizou apenas tarifas para atingir
sua meta industrial, como também concedeu subsídios diferenciados, diminuiu preços de
terrenos, afrouxou a política antitruste, enfim, medidas estas que contribuíram para a
melhora da capacidade tecnológica do país. Outra decisão importante para esse avanço
tecnológico foi o alto investimento estatal na capacidade ociosa das indústrias Pesada e
Química. A partir de 1993 o governo passou a estimular com financiamentos em
infraestrutura de P&D mais programas de pesquisa e P&D nas universidades, porém elas
não obtiveram o sucesso esperado de acompanhar o ritmo necessário desse cenário de
capacitação tecnológica, mas devido à cultura do país, ainda assim houve grande demanda
pela educação com nível superior (ibidem).
A Coreia mostra muito bem como é um governo desenvolvimentista que a nível
macroeconômico deve ter como foco o fortalecimento da área de aprendizado tecnológico
por meio do uso de políticas industriais a fim de tornar o país reconhecido
internacionalmente. Kim (2005, p. 42) afirma que é necessário o governo focar em
políticas que desenvolvam esse senso tecnológico e de inovação tanto da parte da
demanda, gerando a necessidade no mercado consumidor de aquisição dos produtos que
exigem mais tecnologia, quanto pela oferta, ao se capacitar para atender a essa nova
demanda.

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51

Os cenários sul-coreano e norte-americano comprovam que a geração de


conhecimento só é possível por meio do desenvolvimento da atividade científica que
proporciona o ambiente descrito acima.
No Brasil, dada a herança colonial portuguesa com foco na exploração das terras
brasileiras, houve tardio ingresso nas atividades científicas no século XIX. Schwartzman
(2001) cita a influência da igreja portuguesa como principal responsável por esse fato,
enquanto que os outros países europeus como Inglaterra desenvolviam seu campo
científico, favorecendo o ambiente universitário tanto desses países como de suas
colônias. O autor ressalta que com muita precariedade, visando sanar problemas da área
de saúde pública no século XX, surgiram ainda mais universidades federais e estaduais
no país, voltadas para a medicina e biologia.
Na era do presidente Getúlio Vargas (entre os anos de 1930 a 1945 e de 1951 a
1954) notou-se que como a oferta de professores era escassa no país, dado o pequeno
número de cientistas brasileiros, tinha-se a necessidade da contratação de professores
estrangeiros e melhores qualificados para lecionar nas novas universidades que estavam
surgindo, como na Universidade de São Paulo.
A vinda desses novos profissionais no mercado trouxe grandes avanços para a
área científica do Brasil, pois eles trouxeram como bagagem de seus países de origem
características dos países desenvolvidos sobre o desenvolvimento das pesquisas,
mostrando qual curso suas pesquisas deveriam seguir, também deram a oportunidade do
ingresso de estudantes brasileiros no exterior, os quais retornaram ainda mais capacitados
para atuar no mercado nacional, dominando conteúdos da área de química e física,
assuntos até então pouco desenvolvidos no país. Porém, o Brasil permaneceu com foco
em pesquisas básicas, não trazendo os progressos observados em outros países, como na
Alemanha (SCHWARTZMAN, 2001).

3 A COMPARAÇÃO SOBRE A DINÂMICA RECENTE DA GERAÇÃO DE


CONHECIMENTO DOS PAÍSES SELECIONADOS

Conforme já fora citado, para Lundvall (2000, p. 2), “nesse novo contexto, o
objetivo principal da política de inovação deve ser contribuir para a capacitação de
empresas, de instituições voltadas para o conhecimento e da população em geral”. O autor
também afirma que as seleções por parte das empresas por empregados mais qualificados

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52

aceleram as mudanças e inovações. Dessa forma, para um país que pretende dinamizar a
geração de inovações, a capacitação da mão de obra é imprescindível, ou seja, a formação
de bons profissionais aptos a gerar inovações deve ser realizada desde o processo de
aprendizado básico até a formação acadêmica voltada para atividades aderentes a prática
inovativa.

Tabela 5. Evolução dos resultados obtidos pelo PISA¹ em relação à Leitura,


Matemática e Ciências, para Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos, entre 2000 e
2012.

Leitura Matem. Ciências Média


Brasil
2000 396 334 375 368
2003 403 356 390 383
2006 393 370 390 384
2009 412 386 405 401
2012 410 391 405 402
Cresc. (00 a 12) 4% 17% 8% 9%
Coreia do Sul
2000 525 547 552 541
2003 534 542 538 538
2006 556 547 522 542
2009 539 546 538 541
2012 536 554 538 543
Cresc. (00 a 12) 2% 1% -3% 0%
Estados Unidos
2000 504 493 499 499
2003 495 483 491 490
2006 --- 474 489 ---
2009 500 487 502 496
2012 498 481 497 492
Cresc. (00 a 12) -1% -2% 0% -1%
Fonte: INEP (2016)

De acordo com os dados abaixo da Tabela 1, obtidos pelo PISA, entre os anos de
2000 até 2012, é possível notar que para as 3 áreas selecionadas, leitura, matemática e
ciências, a qualidade do ensino básico nas escolas no Brasil está abaixo da Coreia do Sul
e Estados Unidos. No ranking do último PISA, em 2012, em matemática, a Coreia do Sul
ficou em 5° lugar com 554 pontos, os EUA ficaram em 36º lugar com 481 pontos e o
Brasil ficou em 58º lugar, com 391 pontos. Na prova de leitura, a Coreia do Sul ainda
permanece em 5° lugar com 536 pontos, os EUA ocuparam a 24º posição com 498 pontos,

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


53

e a média do Brasil foi de 410 pontos, ficando na 55º posição. Em ciência, a Coreia do
Sul ainda ficou em 7° lugar com 538 pontos, os EUA ficaram em 28º lugar com 497
pontos, já o Brasil ocupou a 59º posição, com 405 pontos.
Com base nos dados anteriores obtidos pelo PISA, pode-se chegar a seguinte
pergunta, será que os problemas estão nos gastos dos países com educação? A Coreia tem
investido mais na educação do que os outros países estudados?
A resposta é negativa, pois, de acordo com o Gráfico 3, fica evidente que entre
2000 até 2011, dos países analisados, o Brasil foi o país que mais investiu em educação.
No entanto, o que se pode notar a partir da comparação entre essas duas variáveis é que a
efetividade desse gasto não repercutiu necessariamente em melhoria na qualidade do
ensino, haja visto que o Brasil obteve os piores resultados do PISA.

Gráfico 3. Gastos com Educação – Ensino Primário a Terciário em 2000 e 2011.


(Ano base 2005 e em USD por aluno.¹)

1.746

1.270
1.075
862
658 690

Brasil Coreia do Sul Estados Unidos

2000 2011

Fonte: OECD (2016)

Outra variável que denota o esforço para geração de conhecimento voltado para a
geração de inovações está relacionada com os gastos em atividades de P&D. O Gráfico 4
mostra os gastos com P&D no período compreendido entre 2000 a 2012 de Estados
Unidos, Coreia do Sul e Brasil. Por meio dele, verifica-se que a atual potência mundial,
os Estados Unidos, que já possuía valor expressivo com esse gasto em 2000, por volta de
USD 269 bilhões, vem aumentando em 60% seus investimentos nessa área, evidenciando
a importância dos gastos com P&D para o desenvolvimento do país, e ao perceber esse

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


54

fato, a Coréia com suas políticas desenvolvimentistas em busca do catching up


tecnológico, em 2000 só investia cerca de USD 18 bilhões em P&D, e aumentou esse
número para quase USD 65 bilhões, expressivo aumento em quase 250% dos
investimentos sul-coreanos com P&D.

Gráfico 4. Dispêndios nacionais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para o


Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos, entre 2000 e 2012.
(Em bilhões de USD correntes de PPC)
500
Bilhões de USD

450

400

350

300

250

200

150

100

50

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Brasil Coreia EUA

Fonte: MCTI (2016)

Neste mesmo período, no Brasil, verifica-se aumento de apenas 106%. Esse valor
é pouco expressivo quando comparado com a Coreia do Sul, país que também possui um
histórico de industrialização tardia, mas que tem mostrado rápidos avanços tecnológicos
em prol desse investimento. Em 2000 a diferença desse investimento na Coréia e no Brasil
não era tão significativa e estava em torno de 11%, valor que poderia ter sido alcançado
com mais facilidade se o Brasil também estivesse disposto a entrar nessa corrida pelo
catching up tecnológico nesse período, mas isso não ocorreu da forma que deveria, pois
os investimentos brasileiros não foram suficientes para que ele conseguisse no mínimo
acompanhar a Coréia, e em 2012 essa diferença já estava em torno de 75%. Esses dados
apontam que o Brasil está ficando cada vez mais para trás e que seus esforços não estão
sendo suficientes para mudar essa posição.
O Gráfico 5 evidencia o importante papel ocupado pelo governo ao respeito dos
gastos em P&D. Essa perspectiva é corroborada por Won-Young (2005, p. 365), que

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


55

aponta que o compromisso do Estado com investimentos em Ciência e Tecnologia e,


principalmente, em políticas industriais é o que leva ao avanço tecnológico, conforme
ocorreu na economia sul-coreana.

Gráfico 5. Dispêndios em P&D em relação ao PIB, Governo e Empresas, para


Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos (2000, 2006 e 2012).

3,26 3,26

2,27

1,81
1,66 1,64

1,04 1,04

0,76
0,68 0,69 0,69
0,50 0,48 0,53 0,55 0,50 0,55

Governo Empresas Governo Empresas Governo Empresas


Brasil Coreia do Sul EUA
2000 2006 2012

Fonte: MCTI (2016)

O governo americano investe em parcerias que visam à inovação, assim como o


governo coreano, e para Suzigan et. al. (2011, p. 21) o sistema de inovação, que surge no
período pós Segunda Guerra Mundial, foi construído com base nas mudanças do cenário
financeiro norte americano, no período do New Deal, quando o governo central deteve
hegemonia fiscal e tributária desencadeando em maiores gastos com P&D na década de
1950.
Por outro lado, as empresas também têm seu papel nesse processo, pois ao
participarem do processo elas conseguem aproveitar melhor os gastos públicos, de forma
a desenvolver internamente a base de conhecimento para a tecnologia que precisam para
inovar, e conforme já foi citado anteriormente para uma empresa ser inovadora é
imprescindível que a base de conhecimento empresarial seja criativa e inovadora
(LUNDVALL, 2000, p. 2). Já para o Brasil os dados se mostram desfavoráveis, pois
nenhum dos setores está apresentando considerável aumento nesse gasto fundamental
para gerar a inovação no país, logo depreende-se que caso haja a qualificação esperada, é

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


56

possível inserir o Brasil nesse novo contexto tecnológico e até mesmo atrair
multinacionais que ajudarão a essas gerar essas condições de inserção (SUZIGAN et.
al.,2011, p. 19).

Gráfico 6. Pesquisadores (P&D) em tempo integral ¹ para Brasil, Coreia do Sul e


Estados Unidos em 2001 e 2009.

10,4

8,8

7,3

6,3

1,4
1,0

Brasil Coreia do Sul Estados Unidos


2001 2009

Fonte: MCTI

Para Suzigan et. al. (2011, p. 19), as debilidades nas relações entre Ciência e
Tecnologia no Brasil explicam-se pela demora do país em criar universidades e
instituições de pesquisa e também pela industrialização tardia. Os dados apresentados no
Gráfico 6 mostram que o Brasil está começando a caminhar na direção correta e está
investindo mais na formação de pesquisadores. Isso fica evidente quando se verifica o
aumento de 40% do número de pesquisadores brasileiros, 65% para os pesquisadores sul-
coreanos, e 20% para os pesquisadores norte-americanos no período de 2000 a 2010.
Porém, a despeito do documento, a situação do Brasil está muito longe de alcançar a dos
EUA e a Coreia do Sul.
De acordo com o Gráfico 5 nota-se que em 2000 o número de artigo brasileiros
publicados era de 13.022 em 2000 e foi para 53.083 em 2012, representando aumento de
307 %; para a Coreia do Sul esse aumento foi de 298%, para os Estados Unidos, apenas
de 63,6 %. Esses dados mostram que de fato o Brasil está obtendo avanço significativo
nas publicações de artigos quando comparado aos outros dois países.

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57

Gráfico 7. Número de artigos publicados ¹ para Brasil, Coreia do Sul e Estados


Unidos (2000 a 2012).
600
Milhares

500

400

300

200

100

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Brasil Coréia do Sul Estados Unidos

Fonte: MCTI

Porém, em termos relativos, quando considerados os dados do Gráfico 8 é possível


fazer uma análise mais profunda, a partir da relação habitantes por artigo científico
publicado. Nota-se que em 2012 há uma relação de 0,003 artigos por habitante, quando
para a Coreia do Sul esse número é de 0,0015, bem próximo dos EUA, com 0,0013.
Destarte, o Brasil tem muito potencial para explorar melhor a área de pesquisa se
aumentar o número de pesquisadores e consequentemente, aumentar também sua base de
conhecimento para inovar, assim como fazem os outros dois países citados.

Gráfico 8. Relação entre Artigos Científicos Publicados e População do Brasil,


Coreia do Sul e Estados Unidos.
0,0015

0,0013

0,0003

Brasil EUA Coreia do Sul

Fonte: MCTI

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


58

Outro fator a ser considerado seria sobre os assuntos que englobam os artigos
publicados no Brasil, em que Brito Cruz (2007, p. 73) mostra que desde 2000, 50% das
publicações foram no “campo das ciências da vida, 33% em ciências físicas, 13% em
engenharia, tecnologia e matemática, e 3% em ciências sociais e comportamentais”.
Portanto, nota-se que o foco brasileiro está na área de agricultura, e de outras ciências
básicas, mas ainda falta o investimento nos assuntos relacionados ao desenvolvimento de
novas tecnologias no país, encontradas nas áreas de física, química e engenharias. Esses
dados apontam que os investimentos que o Brasil tem feito com nas atividades de
pesquisa não está focando no catching up tecnológico necessário para o desenvolvimento
da economia brasileira bem como para aumentar sua competividade no âmbito
internacional.
Rohem (2012) mostra que não apenas os artigos científicos são importantes
indicadores de P&D dos países, mas também as patentes. Esse instrumento é
extremamente relevante, pois são nelas que estão contidos os segredos industriais dos
países, com o mapeamento das evoluções tecnológicas observadas, registro de melhorias
nos processos, enfim, contém informações que mostram o desempenho tecnológico dos
países.

Gráfico 9. Concessões de patentes de invenção ¹ para Brasil, Coreia do Sul e


Estados Unidos, entre 2000-2014.
160
Milhares

140

120

100

80

60

40

20

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Brasil Coreia do Sul Estados Unidos

Fonte: MCTI

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


59

O Gráfico 7 mostra que, entre 2000 e 2014, o número de patentes da Coreia do


Sul, foi de 5.705 em 2000 para expressivos 33.499 em 2012, aumento de 487%, ou seja,
esse aumento vem ocorrendo de forma rápida. Por meio dessa análise, também é possível
observar que nos EUA houve queda de 2,8% do número de patentes no período de 2008,
quando ocorreu a crise econômica mundial, e mesmo com essa crise a Coreia do Sul
decidiu não cortar gastos e continuou investindo nas patentes. Enquanto isso, no Brasil,
até houve aumento de patentes em 200%, porém em 2000 o número já era muito baixo,
até mesmo considerado insignificante (POSSAS; MELO; FUCIDJI, 2015). Esses dados
mostram que o Brasil de fato está muito atrasado quando o assunto é tecnologia e que as
medidas tomadas não estão sendo suficientes para melhorar esse número e torná-lo mais
competitivo.
O Gráfico 10 abaixo ajuda a explicar mais detalhadamente o problema que o
Brasil não está conseguindo resolver, com valores quase nulos quando o assunto é pedidos
de patentes nas áreas de Biotecnologia e Nanotecnologia.

Gráfico 10. Pedidos de patentes, nas áreas de Biotecnologia e Nanotecnologia do


Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos (2000, 2006 e 2011).
6.198,3
4.677,7
4.296,3

861,3
571,0
510,8

507,4
276,6
147,6

117,9
48,84

83,2
31,9
21,8

14,6
7,0

6,1
1,0

Biotecnologia Nanotecnologia Biotecnologia Nanotecnologia Biotecnologia Nanotecnologia


Brasil Coreia do Sul EUA
2000 2006 2011

Fonte: MCTI

O Gráfico 10 também evidencia que os altos números de pedidos de patentes


norte-americanas relacionados às áreas de biotecnologia e nanotecnologia apontam para
o fato destas serem as mais novas fronteiras tecnológicas existentes no atual sistema de

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


60

inovação dos EUA, tornando-se fundamentais para os países que almejam a


competitividade por meio do o catching up tecnológico. A Coreia do Sul já percebeu esse
fato e também está começando a dar atenção para esse setor, por isso, os dados
demonstram aumento, mesmo que ainda pequeno, dos pedidos de concessões de patentes
sul-coreanas, já o Brasil parece não ter captado a mesma ideia e sequer está mostrando
interesse em aumentar seus gastos nessa esfera tecnológica.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os países analisados foram selecionados de forma estratégica para mostrar como


dois países de industrialização tardia, Brasil e Coreia do Sul, buscam alcançar a atual
potência mundial, os Estados Unidos, por meio da educação, visando à capacitação
tecnológica da nação. As análises desse artigo explicitam como ocorre o processo de
aprendizado, necessário para capacitação dos profissionais no mercado, evidenciando o
forte papel da interação entre governo, universidades e empresas nesse processo,
conforme mostra o modelo citado da Hélice Tripla.
A Coreia do Sul está seguindo os passos dos Estados Unidos nessa maratona, os
dados obtidos deixam nítido seu comportamento para conquistar o almejado catching up
tecnológico. De acordo com as análises dos gráficos tornou-se possível mostrar que o
Estado teve papel fundamental ao desenvolver mecanismos capazes de formar crianças e
jovens competitivos ao tornar a educação desde o nível básico até o superior direcionada
e altamente qualificada para a formação de trabalhadores bem preparados e capacitados.
Para o Brasil o cenário torna-se desfavorável, e fica evidente que o país está
ficando para trás nessa maratona por não estar utilizando seus recursos de forma a torná-
lo mais competitivo, ou seus gastos de forma eficiente, direcionado para as áreas
estratégicas da economia, como no setor de educação e P&D, como fez a Coreia do Sul.
Desta forma, não está capacitando suas crianças para ingressarem nas faculdades com
uma boa base de conhecimento e saírem delas altamente qualificadas. Também não está
investindo nas pesquisas científicas nos campos que levam à inovação, como área de
engenharias e afins, e, consequentemente, não consegue aumentar seus pedidos e
concessões de patentes, não, capacitando, assim, a abundante mão de obra disponível no
país.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


61

Neste sentido, pode-se concluir que investimentos apenas na educação não são
suficientes para levar o país até linha de chegada dessa maratona em busca da inserção
tecnológica e reconhecimento internacional, o governo deve incentivar os outros setores
a focar estrategicamente em áreas selecionadas, como P&D, assim como têm feito as
economias que hoje lideram o mercado e estão próximas ou são detentoras da fronteira
tecnológica.
Em síntese, o que se pode notar é que o Brasil apresenta situação favorável em
apenas algumas variáveis, ficando em situação inferior em quase todas as outras, o que
denota que há necessidade de um grande esforço para incrementar a geração de
conhecimento e a capacitação tecnológica do país para o cath up.

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€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 42-62, 2016


63

EVIDÊNCIAS DE DESINDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL: UMA


DISCUSSÃO COM BASE NA INTENSIDADE TECNOLÓGICA

Natália Aparecida Almeida Vieira*


Ricardo Lopes Fernandes**

**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba - SP, Brasil. E-mail:


nahalmeida2@hotmail.com

** Mestre em Economia e professor do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de Sorocaba – SP,


Brasil. E-mail: ricardo.fernandes@prof.uniso.br

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: O intuito do artigo é verificar a capacitação tecnológica da indústria e sua correspondente


inserção internacional. Por meio da análise, verifica-se que existem indícios da redução da intensidade
tecnológica e da competitividade da indústria brasileira, sugerindo, portanto, que há um processo de
desindustrialização em curso por meio da incapacidade da indústria em incorporar as atividades industriais
do atual paradigma tecnológico.

PALAVRAS-CHAVE: Intensidade Tecnológica. Capacitação Tecnológica. Desindustrialização.

EVIDENCES OF DISINDUSTRIALIZATION OF BRAZIL: A DISCUSSION BASED ON


TECHNOLOGICAL INTENSITY

ABSTRACT: The aim of the article is to verify the industrial technological capacity and its corresponding
international insertion. The analysis shows that there is evidence of a reduction in the technological intensity
and competitiveness of Brazil’s industry, suggesting that there is a deindustrialization process in progress
through the inability of the industry to incorporate industrial activities of the current technological
paradigma.

KEYWORDS: Technological Intensity. Technological Training. Deindustrialization

1 INTRODUÇÃO

Desde a I Revolução Industrial, o eixo dinâmico das economias desenvolvidas


passou a ser a atividade industrial. A maior parte das políticas voltadas ao
desenvolvimento dos países dão extrema relevância para a função que a atividade
industrial possui, destacando a importância da mesma para a geração de riqueza dos
países, bem como, na geração de níveis adequados de bem-estar.
No Brasil, para superação da independência histórica da atividade primário
____________________
9
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 63-80, 2016


64

exportadora, fez-se necessária a implementação de um parque industrial diversificado ao


logo do século XX. No entanto, as alterações das relações internacionais no último quartil
do século XX limitaram a capacidade do Estado de administrar o processo de
desenvolvimento de forma direta e ativa, resultando um lento e gradual processo de
redução da participação da atividade industrial no Brasil.
Atualmente, essa discussão tem ganhado relevância tanto no âmbito do debate
acadêmico quanto na sociedade como um todo. Tais acontecimentos despertaram na
sociedade a necessidade de compreender o fenômeno recente que leva à involução
industrial brasileira, e apontam para um processo em curso, que vem se desenvolvendo
de maneira crescente e vasta e conhecido como processo de desindustrialização, sendo o
mesmo precoce na economia brasileira, ou seja, a atividade industrial, antes mesmo de
alcançar razoável nível de complexidade, já apresenta sinais de diminuição da sua
participação relativa no produto total.
Motivado por esta discussão, este trabalho busca melhor compreender a dinâmica
da atividade industrial no Brasil no atual período, procurando identificar quais são os
indícios de redução qualitativa da importância econômica da atividade industrial no
Brasil. Em termos gerais, este trabalho busca avaliar a dinâmica industrial recente não
apenas por sua participação relativa no total do produto, na evolução do emprego
industrial, mas também procurando observar em que medida a diversificação da atividade
industrial no país é consonante com o restante do mundo em termos de intensidade
tecnológica.
Desta maneira, buscou-se, por meio da metodologia de desagregação das
atividades industriais em termos de intensidade tecnológica proposta pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), analisar a dinâmica recente
do Valor de Transformação Industrial no Brasil, bem como da pauta de importações e
exportações, com o intuito de verificar em que medida a produção industrial brasileira
vem acompanhando o padrão das cadeias globais de valor em termos tecnológicos. Neste
sentido, além das análises clássicas de desindustrialização, o objetivo deste trabalho busca
verificar a capacitação tecnológica da indústria e sua correspondente inserção
internacional, bem como, identificar se há piora na dinâmica industrial em termos
qualitativos, ou em termos de capacitação tecnológica, o que indica um processo mais
nefasto e de difícil reversão que a pura e simples redução da participação da indústria no
PIB nacional.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 63-80, 2016


65

Para tal, o presente artigo está dividido em quatro seções, incluindo esta
introdução. A segunda seção realiza uma discussão teórica enfatizando o papel da
indústria e a desindustrialização. Na seção seguinte é analisada a dinâmica da evolução
da atividade industrial no Brasil no período recente. Por fim, são tecidas as principais
conclusões.

2 A DISCUSSÃO ACADÊMICA SOBRE A QUESTÃO DA


DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Nicolas Kaldor foi um dos pioneiros a identificar a real importância da


industrialização para engendrar o desenvolvimento econômico nos países, conforme
aponta Bresser Pereira (2008, p. 6), sendo a indústria considerada o principal motor para
dinamizar economicamente um país, tanto em relação à produtividade, quanto no que
concerne à geração de emprego e renda nas diversas economias, notadamente pelo
progresso tecnológico e capacidade de competitividade que este setor proporciona. Por
sua vez, tendo em vista os fatos vivenciados pela economia brasileira, faz necessária a
caracterização do termo desindustrialização, um fenômeno que pode estar em processo
nos dias atuais.
Palma (2005, p. 6) denota três tipos de desindustrialização: (i) Desindustrialização
Normal, ocorrida em países que após a industrialização, atingiu um nível de renda per
capita maior em relação ao emprego industrial, levando a economia à posição ricardiana
natural (de acordo com seus recursos tradicionais) como, por exemplo, o caso holandês;
(ii) Desindustrialização Ascendente, que ocorre em países considerados como economias
maduras, que necessitam de serviços terceirizados para ampará-los em sua diversificação
industrial, migrando uma parte da mão de obra industrial para o setor de serviços (Europa
continental e Japão, por exemplo); (iii) Desindustrialização Descendente, este tipo de
desindustrialização é decorrente do resultado do surgimento de outras atividades
produtivas, como no caso brasileiro, a exportação de produtos primários em ascensão
antes mesmo da conformação industrial.
Ricupero (2007, p. 1), por seu turno, aponta para dois tipos de desindustrialização.
A primeira, que é aderente aos tipos Normal e Ascendente propostas por Palma (2005, p.
4), ocorre naturalmente em decorrência do processo natural de diversificação econômica,

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 63-80, 2016


66

evolução tecnológica e incremento da participação relativa do setor de serviços na


economia. Squeff (2012, p. 9) define nestes termos este tipo de desindustrialização:

No que concerne especificamente à indústria de transformação, disseminou-se


na literatura o termo curva em formato de U invertido para descrever essa
trajetória de aumento e posterior redução de participação no valor
adicionado/emprego total. Nestes termos, a desindustrialização ocorre
naturalmente.

O segundo tipo de redução da participação relativa da atividade industrial é


considerado precoce, pois ocorre antes que a atividade industrial apresente nível de
diversificação capaz de ser sofisticado a ponto de gerar transbordamento para o setor de
serviços. Para compreender o fenômeno da desindustrialização no Brasil, faz-se
necessário entender que o mesmo é influenciado pela diminuição da participação da
indústria no Produto Interno Bruto – PIB. Esta diminuição possivelmente é acarretada
pela perda da força industrial (STRACK; AZEVEDO, 2012, p. 69).
Em algumas economias, esta perda é classificada como natural, como discorre
Nassif (2008, pag.93), pelo qual declara que a desindustrialização não passa de um
processo natural de uma nação que atingiu um alto grau de desenvolvimento econômico,
proporcionando um elevado nível de renda per capita, sendo então, a excedente mão de
obra transferida para o setor de serviços. Belluzzo (2005, p. 2) acrescenta que os países
que passam pelo processo de desindustrialização podem ser ditos como aqueles que
passaram por um determinado grau de avanço industrial, porém são incapazes de sustentar
a um longo período as mudanças que são acarretadas devido à dinâmica das mudanças
estruturais.
Diante destes relatos, observando o caso brasileiro, não é possível concluir que o
atual momento vivenciado pela conjuntura econômica seja considerado um processo
natural de desindustrialização, pois não se verifica que sua economia tenha alcançado
elevado grau de desenvolvimento, nem sequer um avanço industrial capaz de alavancar a
produtividade e competitividade do motor dinâmico da economia. O que possivelmente
ocorreu foi uma mudança na dinâmica dos setores industriais que não foram
acompanhadas por um ótimo grau de investimento e capacidade de evolução tecnológica
(BACHA; BAUMGARTEN, 2013, p. 81-94).
Na Alemanha, por exemplo, o processo de desindustrialização é considerado
natural, visto que a diminuição da participação da indústria no PIB foi decorrente da
diversificação econômica, bem como decorrente do aumento da produtividade e da

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67

evolução tecnológica. Este processo, por seu turno contribuiu para o desenvolvimento do
setor de serviços, como por exemplo, serviços de internet, convênios e telefonia. No
Brasil, ocorreu o oposto. Constatou-se a diminuição da participação da indústria no PIB
por conta da descoberta dos vastos recursos naturais que transferiram mão-de-obra para
o setor de serviços antes mesmo do ciclo de conformação industrial se completar, o que
pode ser considerado como um processo de desindustrialização precoce (LACERDA;
LOURES, 2014, p. 4).
Souza (2009, p. 10) direciona o processo de desindustrialização ao conceito de
doença holandesa, ou dutch disease, pelo qual há perda da competitividade da indústria,
voltando-se ao desenvolvimento baseado em recursos naturais e não tecnológicos. A
doença holandesa surgiu por conta de um processo de desindustrialização que a Holanda
vivenciou em 1950, quando descobriu uma vasta reserva de gás natural no mar e passou
a exportar este recurso natural. Muitas empresas estrangeiras passaram a usufruir desta
riqueza holandesa, que desencadeou prejuízo econômico para o país.
Com a comercialização internacional do gás natural, houve excesso de entrada de
divisas na Holanda, valorizando sua moeda nacional e, consequentemente, afetando
diretamente a competitividade do setor industrial. A sobrevalorização da moeda
favoreceu as importações e levou a Holanda a um processo de desindustrialização,
conforme aponta Strack e Azevedo (2012, p. 69).
Este fato vivenciado pela Holanda só se difere do caso brasileiro na questão da
commoditie. Ao invés do gás natural, a descoberta de grandes reservas de petróleo no pré-
sal acarreta rumores sobre uma possível doença holandesa “brasileira”, pela qual houve
uma valorização do Real, comprometendo a competitividade das indústrias nacionais,
visto que os preços dos produtos nacionais se tornam desfavorecidos, impulsionando
assim as importações (Ibidem). Para Oreiro e Feijó (2010, p. 223):

A abundância de recursos naturais pode induzir a uma redução da participação


da indústria no emprego e no valor adicionado por intermédio da apreciação
cambial, a qual resulta em perda de competitividade da indústria e déficit
comercial crescente da mesma. Em outras palavras, a desindustrialização
causada pela “doença holandesa” está associada a déficits comerciais
crescentes da indústria e superávits comerciais (crescentes) no setor não
industrial.

Nassif (2008, p. 73) discorre que a doença holandesa é considerada como um


fenômeno de valorização da taxa de câmbio. Nesse sentido, a desindustrialização ocorre
por conta de que, se a taxa de câmbio está favorecendo a importação, as indústrias perdem

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68

sua competitividade, pois passam a importar os produtos que necessitam, deixando de se


aperfeiçoar para competir com o mercado externo. O resultado disto é a baixa participação
da indústria no PIB, diminuindo consequentemente o emprego industrial e total.
A expectativa do aumento das exportações de commodities e a constante
valorização do real perante o dólar já estaria trazendo problemas de competitividade em
nível internacional para a indústria brasileira. Portanto, é importante elencar que a doença
holandesa, além de ser ocasionada pelo aumento de exportação de commodities, as
intensas mudanças no regime de política econômica contribuíram ainda mais para o
processo de desindustrialização (BRESSER PEREIRA, 2008, p. 11).
Dado o aumento das exportações de commodities, desencadeia-se a valorização
da taxa de câmbio de equilíbrio (taxa que mantinha a competitividade da indústria
manufatureira exportadora), prejudicando diretamente o setor manufatureiro e
proporcionando a perda da competitividade, sendo este resultado do câmbio
supervalorizado. No entanto, o setor manufatureiro, por utilizar insumos e recursos mais
avançados, é o que mais sofre com esta sobrevalorização do câmbio, abrindo espaço para
o setor primário e desfavorecendo a indústria manufatureira nacional (Ibidem). Para que
a doença holandesa não desarticule os elos das cadeias produtivas e os mesmos não
desapareçam, é necessária a mudança do padrão de especialização dos setores, é o que
afirma (NASSIF, 2008, p. 74).
A especialização em produtos como commodities não impacta tão positivamente
no PIB quanto à especialização em produtos tecnológicos. O comércio internacional
também parece estar desfavorável em relação à indústria brasileira, sendo a tendência da
pauta exportadora, se concentrar em produtos primários, perdendo participação nos
produtos manufaturados (SILVA; LOURENÇO, 2014, p. 63).
Para amenizar as consequências que a doença holandesa pode causar em uma
economia, é necessário neutralizá-la. Ou seja, administrar a taxa de câmbio, conforme
discorre Bresser Pereira (2007, p. 7):

A neutralização da doença holandesa envolve sempre a administração da taxa


de câmbio que, entretanto, não é incompatível com uma taxa de câmbio
flutuante. Em termos de regime cambial, a opção hoje razoavelmente
consensual é a de um câmbio flutuante, mas administrado.

Ao longo do século XX, algumas medidas foram adotadas no sentido de se


neutralizar os efeitos da doença holandesa, como a adoção de múltiplas taxas de câmbio
e tarifas de importação em compasso com subsídio à exportação. Tais medidas, se

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adotadas no cenário atual, poderiam surtir efeito sistêmico positivo, no entanto, devem
ser adotadas de maneira branda, transparente e temporária para não afetar acordos
internacionais.

3 A DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL

A gênese do processo de industrialização no Brasil se dá a partir dos excedentes


da economia cafeeira já a partir das últimas décadas do século XIX (REISS, 1983, p. 67).
Para Draibe (1985, p. 254-255), o processo de industrialização, engendrado por meio da
orquestração do Estado, se deu a partir da década de 1930, de acordo com o modelo de
substituição de importações. Porém, tal processo de industrialização se deu de forma
restringida, sendo um período em que o desenvolvimento da indústria era limitado pela
capacidade de importar, notadamente compreendendo os anos de 1933 e 1945. O período
seguinte, marcado pelo governo do presidente Juscelino Kubitscheck (JK), compreendido
entre os anos de 1955 a 1961, caracteriza-se por um planejamento baseado em metas de
crescimento (MELLO; BELLUZZO, 1988, p. 99-100; NASSIF, 2008, p. 74-76).
O desempenho da estrutura industrial no fim da década de 1970 foi determinado
pelos impactos da implementação do II PND no início de 1974. Este plano tinha como
grande intento dar sequência ao período de grande crescimento observado no período
1967-1973. Portanto, no fim dos anos de 1970, pode-se afirmar que a indústria já estava
modernizada por conta da infraestrutura energética, alto investimento no ramo de
produção de bens intermediários e modernização no setor de produção de bens de capital,
conforme aponta Suzigan (1992, p. 2).
Por seu turno, nos anos 1980, a indústria brasileira apresentou baixos níveis de
produtividade e custos elevados em função da grande instabilidade da economia, o que
prejudicou sua capacidade de concorrer via preços, bem como sua capacidade de
concorrer via inovação e diversificação de produtos, entrando nos anos 90, num hiato
tecnológico em relação aos países mais industrializados (Ibidem).
Em meados de 1995, o cenário econômico brasileiro se limitava em estagnação
econômica e alto nível de inflação. Tal cenário seria reflexo da postura mais liberal
adotada pelo Estado, com extinção dos mecanismos de proteção da indústria nacional, o
que alterou consideravelmente o perfil das estratégias das empresas localizadas
internamente e influenciou o crescimento da produção industrial e, em última instância,

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ocasionou na incapacidade da indústria em elevar sua participação na conformação do


PIB (NASSIF, 2008, p. 75).
O gráfico 1 apresenta a evolução da participação do Valor Adicionado Bruto
Industrial no Valor Adicionado Total da economia entre os anos de 1947 e 2012. O que
se pode notar é que todo o esforço de industrialização realizado pelo Estado brasileiro a
partir dos anos de industrialização restringida (DRAIBE, 1985, p. 246), passando pelo
período do Plano de Metas de JK até o final da década de 1980 (CARNEIRO, 1993, p.
151-152; SUZIGAN, 1986, p. 23), resultaram no crescimento da participação da indústria
no Valor Adicionado Total, passando de 26% em 1947, para 46,3% em 1989.
Por sua vez, após 1989 é possível observar a queda significativa Valor Adicionado
Bruto Industrial. De acordo com Carneiro (1993, p. 167-168), o que reforça a tese de que
há um processo de desindustrialização em curso na economia brasileira é a constatação
de que a partir de 1989, quando efetivamente ocorre a abertura da economia brasileira, a
participação relativa da indústria no Valor Adicionado Total passa a reduzir, retroagindo
no período atual ao mesmo patamar verificado em 1947.

Gráfico 1 - Evolução da participação do Valor Adicionado Bruto Industrial no


Valor Adicionado Total, entre 1947 e 2012.
60
Participação %

50
46,3

40

30
26
26,3

20

10

0
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011

Fonte: IBGE (2016)

Em consonância com este processo, a questão do emprego industrial também é


um elemento muito indicado pela literatura como termômetro da dinâmica industrial.
Lacerda e Loures (2014, p. 5) discorrem que a falta de competitividade da indústria de

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transformação e as condições sistêmicas8 que desfavorecem a produção industrial


desencadeiam uma tendência de aumento de importações, motivada principalmente pela
incapacidade dos produtos locais de concorrer em igualdade de preços com os produtos
importados, sendo mais compensatório para o produtor a importação do produto
semiacabado, a realizar a produção internamente. Nesse sentido, o gráfico 2 denota que
o Nível Médio de Pessoal Ocupado na indústria de transformação sofreu redução ao longo
dos últimos anos. De acordo com Bacha e Baumgarten (2013, p. 82-83), a
desindustrialização também pode ter afetado os postos de trabalho, causando um impacto
decrescente do mesmo ao decorrer do tempo.

Gráfico 2 - Evolução do Número Médio de Pessoal Ocupado no ano, na Indústria


de Transformação, entre 2007 e 2013.

98,0 98,0

97,9 97,9

97,7

97,5
97,4

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013


Fonte: IBGE (2016)

A despeito de se verificar a redução da indústria no Valor Adicionado Total e no


emprego industrial, estes dois indicadores por si somente não comprovam cabalmente a
existência de desindustrialização precoce em um determinado país, uma vez que as
dinâmicas de ambas as variáveis podem estar sendo influenciadas por outros fatores que
não são aderentes à essa questão.

10
Dentre as condições sistêmicas para se produzir no Brasil podem ser destacadas: dificuldades
relacionadas à produção local, alto nível de tributação, carência de financiamento e condições de logística
e de infraestrutura defasadas (LACERDA; LOURES, 2014, p. 5).

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72

Especificamente em relação à participação da indústria no Valor Adicionado


Total, é importante ressaltar que não se trata de questionar o processo de abertura
econômico realizado pelo governo do presidente Fernando Collor de Mello. Conforme
apontam Suzigan e Furtado (2006, p. 179), as principais causas da inflexão industrial é
resultado da incapacidade do Estado brasileiro em orquestrar uma política de
desenvolvimento industrial adequada ao cenário internacional que emerge a partir da
década de 1980.
Esse novo cenário é caracterizado por elevado avanço tecnológico e alto nível de
competitividade internacional, portanto, as indústrias brasileiras precisam avançar na
questão da competitividade, bem como avançar no desenvolvimento de conhecimento em
relação à evolução tecnológica e inovação. Tais avanços são necessários para a indústria
obter retorno que a faça ter condições de aumentar sua inserção internacional por meio
de maior participação em um conjunto maior de cadeias globais de valor, notadamente,
as de maior conteúdo tecnológico.
Para mudar o cenário de uma economia desarticulada sem inovação é necessário
estabelecer uma política industrial consistente, que trabalhe em conjunto com aspectos
macroeconômicos, envolvendo sempre o Estado e o setor privado, para mitigar os riscos
e obter retornos significativos. É o que aponta tanto Suzigan e Furtado (2006, p. 165)
quanto Possas (2003, p. 4). Segundo os autores, a política industrial é um meio de avaliar
a significação econômica e científica, visto que as mesmas proporcionam a desenvoltura
de conhecimento necessário para mitigar os riscos aproximados que estão por vir, sendo
possível mensurá-los. Nesse sentido, é necessário haver correlação entre a capacidade de
inovar e a capacidade de incorporar as novas tecnologias no mercado, bem como é preciso
haver equilíbrio entre o crescimento e investimento, para que assim a tecnologia seja
aplicada de maneira a inibir os riscos adversos (Ibidem).
O Gráfico 3 mostra-nos um acentuado grau de participação das importações de
produtos de alta e média alta intensidade tecnológica 9. Como a produção de alta
intensidade tecnológica no Brasil é pouco competitiva, devido à ausência de incentivos e
às condições sistêmicas já citadas anteriormente, há necessidade de satisfazer a demanda
interna por meio da importação de produtos do gênero. Nota-se então que, a despeito das

11
Os produtos e indústrias de alta e média intensidade tecnológica, de acordo com o IBGE (a partir de
metodologia desenvolvida pela OECD), são: aeronáutica e aeroespacial, farmacêutica, material
informático, equipamentos de comunicação, equipamentos e maquinários elétricos, produtos químicos,
equipamentos de transporte e equipamentos mecânicos.

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73

dificuldades de evoluir tecnologicamente, bem como de incorporar tecnologia na


produção brasileira, houve mudanças na dinâmica dos setores industriais, levando ao
cenário atual de deterioração da capacidade competitiva da indústria brasileira no cenário
internacional, o que acarretou em um processo de desindustrialização precoce da
economia brasileira (BACHA; BAUMGARTEN, 2013, p. 81-94).

Gráfico 3 - Evolução das Importações da indústria de transformação, segundo


Intensidade Tecnológica, entre 2000 e 2014.

24,1 22,2 21,8 20,9 20,3 20,6 22,5 23,2 22,5


23,4 26,5 27,3 27 26,3 27,3

63,8 66,3 64,2 63 61,9 62 59,7 59,7 63,6


59,3 61,1 59,5 60,2 59,5 58,5

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Alta + Média alta Baixa + Média Baixa

Fonte: MDIC/OECD (2016)

De acordo com FIESP (2015), a partir de meados dos anos 2000, o processo de
desindustrialização ganhou relevância, pois a sobrevalorização cambial e os estímulos ao
consumo não foram acompanhados pelo aumento da produção nacional, o que ocasionou
a expansão da demanda por produtos importados.
Contudo, a sobrevalorização da taxa de câmbio por um longo período afetou
diretamente a competitividade da Indústria de Transformação brasileira, enquanto o
Brasil se restringia a produzir apenas produtos básicos, diante de um ambiente de escassez
de tecnologia e intensa transformação industrial internacional à escassez de tecnologia.
Tal processo, de acordo com Suzigan e Furtado (2006, p. 172), acarretou um processo de
liberalização econômica, acelerando a dinâmica tecnológica e aumentando a
complexidade tecnológica. Porém, tal expansão não foi acompanhada pelo Brasil e, como

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 63-80, 2016


74

consequência, obteve-se engendramento de produtos importados, notadamente os de


maior conteúdo tecnológico, que são os que o Brasil apresenta menor competitividade,
aumentou de forma expressiva. Essa constatação é ratificada por outros trabalhos que
investigam o tema, tal como apontam Lacerda e Loures (2014, p. 9):

A desindustrialização “made in Brazil” é decorrente não de um movimento


virtuoso de transformação qualitativa da indústria para áreas mais sofisticadas,
mas sim de um processo de desmobilização de elos da cadeia produtiva local,
substituída por importações crescentes.

Diante disso, o Gráfico 4 mostra-nos que, como consequência da perda da


participação da indústria de transformação no PIB, os produtos de alta intensidade
tecnológica e de maior valor agregado nas exportações, perdem espaço para os produtos
importados. Tal perda de participação da indústria de transformação, implica na ausência
da inserção tecnológica da indústria brasileira, o que levou à desarticulação das estruturas
industriais, conforme já discutido anteriormente, além de acarretar numa possível
reprimarização da pauta exportadora, podendo trazer como consequência a
desindustrialização, conforme aponta Cano (2012, p. 842).

Gráfico 4 - Evolução das Exportações da indústria de transformação, segundo


intensidade tecnológica, entre 2000 e 2014.

47,9 48,8 49,3 47,6 47,7


50,2 50 46,8 45,6 44,7 41 39,4 40,7 41,9 41,9

35,5 33,2 31,2 31,8 30,4


29,8 30 29,1 26,1 23,7 22,6 20,4 20,9 20,6 19,6

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Alta + Média alta Baixa + Média Baixa

Fonte: MDIC/OECD (2016)

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75

Finalmente, a incapacidade de inserção internacional da produção industrial


brasileira nos últimos anos, acaba refletindo no perfil da produção industrial como um
todo, não somente no perfil dos bens transacionados com o exterior. Para analisar essa
questão, adotou-se como parâmetro o Valor da Transformação Industrial (VTI), calculado
pelo IBGE, por meio da diferença entre o Valor Bruto da Produção e os Custos das
Operações Industriais, representando, portanto, uma proxy verossímil do valor
adicionado. Desta maneira, a análise do VTI nos permite observar a evolução da
agregação de valor da indústria, segundo a intensidade tecnológica.
O gráfico 5 mostra que desde 1997 não há um movimento de crescimento do VTI
relacionado a atividades de maior conteúdo tecnológico, pelo contrário, verifica-se que
há redução dos pontos da participação relativa deste tipo de atividade no total do VTI da
indústria nacional no período analisado.

Gráfico 5 – Evolução do Valor de Transformação Industrial, segundo intensidade


tecnológica, entre 1996 e 2013.

63,1 61,9 62,5 63,8 64,4 63,9 64,7


65,2 66,7 65,5 66,6 66,9 65,4 65,3 65,0 65,2 66,4 66,2

36,9 38,1 37,5 36,2 35,6 36,1 35,3


34,8 33,3 34,5 33,4 33,1 34,6 34,7 35,0 34,8 33,6 33,8

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Alta e média-alta Baixa média-baixa

Fonte: IBGE/SIDRA (2015).

Isto posto, é possível observar que os produtos de média-baixa tecnologia ganham


espaço maior no VTI, podendo ser constatado que há possibilidade de existir um processo
de reprimarização da economia brasileira, pelo qual os movimentos dos percentuais não
sofrem grandes variações e estão apresentados em alguns casos com um percentual
dobrado em relação aos produtos de alta e média-alta tecnologia, como em 2003, por

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 63-80, 2016


76

exemplo. De acordo com Souza (2009, p. 12), existe um desenvolvimento baseado em


recursos naturais e não tecnológicos, podendo assim, o caso brasileiro, estar sofrendo da
doença holandesa.
No entanto, esse processo não se refere apenas à redução da participação relativa
da indústria no produto total; trata-se de algo mais complexo, uma vez que está
relacionado com a incapacidade da economia brasileira de incorporar as atividades
industriais que são a fronteira tecnológica e são as atividades com maior potencial de
geração de renda e, principalmente, de inserção internacional do país. Nesse aspecto, os
dados apresentados corroboram com as considerações feitas pelos autores, sugerindo que
existe um processo de desindustrialização em curso na economia brasileira, sendo
possível observar que os setores que engendram a maior intensidade tecnológica são os
que mais estão defasados na indústria brasileira.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão da redução da participação relativa da indústria de transformação na


conformação do produto nacional não se trata apenas de um problema nevrálgico, uma
vez que, verifica-se que está associada a um processo natural da evolução das relações
econômicas em economias capitalistas desenvolvidas. Contudo, a literatura mostra que
em países desenvolvidos a redução da importância relativa da atividade industrial está
associada, em grande parte, ao incremento da participação do setor de serviços
decorrentes da atividade industrial e/ou do incremento da renda proporcionada pelo
desenvolvimento econômico.
Sendo assim, o processo que afeta o desenvolvimento econômico na economia
brasileira, denominado desindustrialização, pode ser associado à redução da atividade
industrial, reflexo da desarticulação de elos importantes da cadeia produtiva. Esta
desindustrialização chama atenção de todos os agentes econômicos, pelo fato de afetar o
desenvolvimento produtivo e desencadear acentuado grau de dependência econômica e
tecnológica dos países em que este processo se verifica.
Analisando especificamente o caso brasileiro e a atual discussão sobre
desindustrialização, o que se pode notar a partir dos dados é que existem indícios da
redução da competitividade da indústria brasileira, principalmente nas atividades de
maior conteúdo tecnológico. Destarte, foi possível observar que, após o término do

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 63-80, 2016


77

modelo de desenvolvimento da atividade industrial realizado ao decorrer do século


passado, considerando as mudanças das relações internacionais ensejada pela
globalização, o país, seja pela ação do Estado, seja pela reação dos agentes econômicos,
não foi capaz de rearticular o processo de desenvolvimento industrial, tanto em termos de
intensidade tecnológica, quanto em termos da diversificação produtiva propriamente dita.
No mais, o que este artigo pôde observar a partir dos dados apresentados, é que
existem evidências de um processo de desindustrialização no Brasil, pelo qual, trata-se
de um processo gradual de incapacidade de inserção competitiva que vem se
conformando desde a abertura econômica da década de 1990. Tal processo, por sua vez,
está relacionado à incapacidade de conformar na estrutura produtiva industrial, o padrão
tecnológico desenvolvido nos principais países desenvolvidos a partir da chamada III
Revolução Industrial, ou das tecnologias de Informação e Comunicação - TICs.
Deste modo, tal como discutido pelos autores ao decorrer da elaboração deste
texto, o atual processo de involução industrial sobrepuja as políticas de curto prazo, tal
como a busca de competitividade por meio de ajuste nas condições de câmbio e juros, por
exemplo. Portanto, a desindustrialização será amenizada a partir do momento que houver
construção de uma política de desenvolvimento capaz de articular os diversos agentes
econômicos, conforme verificado na discussão acadêmica e evidenciada pelos dados.
Por fim, o presente estudo não pretende ir além do diagnóstico a respeito da
desindustrialização no Brasil. Todavia, a partir do resultado da perspectiva que se
alcançou sobre este fenômeno, pode-se perceber que há uma vasta gama de pesquisas que
podem ser desenvolvidas para melhor compreender essa questão ou até mesmo
desenvolver ações para sua reversão. Destacam-se, entre as possibilidades observadas a
partir da presente discussão, estudos que busquem analisar a presença de gargalos
tecnológicos, sendo possível relacionar a questão da dependência tecnológica, limitações
da infraestrutura existente no país, principalmente em relação à atividade industrial,
políticas de ajuste macroeconômico que ofereçam sustentabilidade competitiva de longo
prazo, notadamente aquelas relacionadas à criação e fortalecimento de mercados de
crédito e de ativos financeiros para dinamizar as práticas referente à inovação industrial,
aprimorando assim as instituições e regulações e tornando as políticas industriais capazes
de fortalecer o desenvolvimento industrial.

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REFERÊNCIAS

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81

O CRESCIMENTO ECONÔMICO DURANTE O GOVERNO


DILMA (2011-2014)

Jéssica Harumi da Veiga Sato*


Manuel Antonio Munguía Payés**

**Bacharel em Ciências Econômicas da Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: jessica.jh@hotmail.com


**Doutor em Economia, professor e Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de
Sorocaba- SP, Brasil. E-mail: manuel.payes@prof.uniso.br

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: O objetivo do artigo é analisar as causas do baixo crescimento econômico brasileiro durante o
primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (2011-2014). Para tanto, a pesquisa baseou-se na
metodologia descritiva e na pesquisa bibliográfica, apoiada na elaboração de gráficos e tabelas das variáveis
inerentes às possíveis causas. Conclui-se que houve piora na economia mundial, o que influenciou a
economia interna. Também houve o esgotamento do modelo de crescimento econômico apoiado no
consumo das famílias, redução dos investimentos e aumento dos gastos do governo com pagamento de
dívidas e, ainda, observou-se a redução do saldo da balança comercial.

PALAVRAS-CHAVE: Crescimento econômico. Governo Dilma Rousseff. Economia Internacional.

ECONOMIC GROWTH DURING DILMA’S TERM (2011-2014)

ABSTRACT: The purpose of this article is to analyze the causes of low economic growth during the first
term of President Dilma Rousseff (2011-2014). The research was based on the descriptive methodology
and the bibliographical research, supported in the elaboration of graphs and tables of the variables inherent
to the possible causes. It was concluded that there was worsening in the world economy which influenced
the domestic economy. There was also a depletion of the economic growth model supported by household
consumption, reduced investment and increased government spending on debt repayment, and a reduction
in the trade balance.

KEYWORDS: Economic growth. Dilma Rousseff’s term. International economy.

1 INTRODUÇÃO

A partir do primeiro ano de mandato da Presidente da República Dilma Rousseff


a economia brasileira passou por momentos de desaquecimento econômico. No período
________________
12
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

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82

compreendido entre 2011-2014 a média de crescimento da economia brasileira constatada


foi de 2,1%, valor esse bem inferior à média obtida no governo anterior que foi de 4,6%
entre 2007 e 2010.
Além disso, quando comparado o desempenho da economia brasileira no primeiro
governo Dilma com os principais países emergentes do BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul), o Brasil também apresentou uma taxa de crescimento
sistematicamente inferior a todos eles (NEDUZIAK, 2013, p. 203; BANCO MUNDIAL,
2014).
A análise e entendimento do crescimento econômico são de suma importância,
não apenas por mensurar a capacidade de produção de bens e serviços de um país, mas
também por acarretar implicações diretas na vida das famílias e empresas. Para as
famílias, o baixo crescimento do PIB do país afeta no crescimento do salário real,
afetando o poder de compra das pessoas e acarreta o aumento do nível de desempregados.
Pelo lado das empresas, afeta principalmente no nível dos investimentos.
Por conta isso, o objetivo do artigo é analisar as causas do baixo crescimento
econômico brasileiro durante o período de 2011 a 2014, que corresponde ao primeiro
governo Dilma Rousseff. Para tal tarefa o presente estudo fez opção pelo método
descritivo. A pesquisa descritiva utiliza-se de observações, registros, análises e correlação
de fatos (CERVO; BERVIAN; DA SILVA, 2007, p. 60-61). Considerando a utilização
de dados e informações publicados em artigos, livros, dissertações e teses, este estudo
configura-se também como bibliográfico (BARROS; LEHFELD, 2007, p. 85).
Este artigo está divido em 4 seções. Após essa breve introdução, a segunda seção
tratará do referencial teórico; a terceira, do desenvolvimento das hipóteses; e na quarta e
última seção serão apresentadas as considerações finais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O modelo IS-LM, também conhecido como modelo de Hicks-Hansen, originou-


se do trabalho Mr. Keynes and the classics, escrito por John R. Hicks em 1937 e
posteriormente ampliado por Alvin Hansen (ANDRADE; MAGALHÃES, 2004, p. 524).
Amorim (2002, p. 36) explica que o modelo constrói duas curvas, uma chamada IS e outra
LM, sobre dois eixos cartesianos, sendo que no eixo vertical (ordenadas) está a taxa de
juros na economia, e no outro eixo (abcissas) está o produto real ou gastos. A curva IS

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83

representa o equilíbrio no mercado de bens no setor real da economia, e, como era de se


esperar, esses gastos se reduzem conforme o aumento da taxa de juros. Por outro lado, a
curva LM representa o equilíbrio no mercado de moeda, considerando a oferta monetária
e o nível de preços, ou seja, havendo um aumento da renda, ao elevar a demanda por
moeda, exige-se que a taxa de juros suba pari passu10, a fim de manter o equilíbrio entre
a oferta e a demanda real por moeda. Portanto, do encontro dessas duas curvas obtém-se
o equilíbrio nos setores real (curva IS) e monetário (curva LM), formando um modelo
quase completo de demanda agregada em uma economia.
Segundo Mankiw (2014, p. 224) “a interseção entre a curva IS e a curva LM
determina o nível de renda nacional. Quando uma dessas curvas se desloca, o equilíbrio
de curto prazo da economia se modifica, e a renda nacional oscila”.
No modelo IS-LM o nível de preços é constante e o ajustamento é via produto, de
modo que o desempenho da economia depende do regime cambial adotado e do grau de
mobilidade de capital. E os investimentos são influenciados negativamente pela taxa de
juros (relação inversa). Assim, com elevadas taxas de juros o nível de investimento irá
diminuir e, consequentemente, afetar o crescimento econômico do país.

O investimento depende, entre outras coisas, da taxa de juros: quanto maior ela
for, menor será o investimento. A taxa de juros impacta negativamente o
investimento porque encarece os empréstimos que os empresários fazem para
poder pôr em ação as decisões de investir (ALÉM, 2010, p. 172).

Segundo Froyen (2013, p. 156-157), os aumentos nos impostos, feitos pelo


governo federal mediante política fiscal contracionista, reduzem a renda disponível, o que
desloca a curva IS para esquerda, e, com isso, diminui a demanda por bens. Logo também
diminui o produto de equilíbrio. O mesmo resultado acontece com uma política fiscal
contracionista mediante a diminuição dos gastos do governo. Já uma política fiscal
expansionista redução dos tributos e/ou aumento dos gastos) trará efeitos inversos aos
mencionados acima. O deslocamento da curva IS será expressado mais adiante no gráfico
2.
Em um cenário de política monetária contracionista a elevação da taxa de juros
influencia diretamente a decisão das famílias em consumir, haja vista que o aumento dos
juros encarece o crédito. O aumento da taxa de juros também afeta o nível dos
investimentos, já que quanto maior a taxa de juros, menor será a probabilidade de a

13
Expressão latina que significa “em igual passo”, ou seja, na mesma proporção.

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empresa contrair empréstimos para a compra de máquinas e equipamentos. Para Blanchad


(2011, p. 88-91), o aumento da taxa de juros ocasiona uma diminuição do investimento,
reduzindo assim a produção e, consequentemente, uma diminuição ainda maior no
consumo e novamente no investimento em virtude do efeito multiplicador.
A curva LM representa a relação entre taxa de juros e o nível de renda. Segundo
Mankiw (2014, p. 236) quanto mais elevado o nível de renda, mais alta será a demanda
por encaixes monetários reais e mais alta será a taxa de juros de equilíbrio. Por isso, a
curva apresenta inclinação positiva. Ao levar em consideração uma taxa de inflação
elevada, uma das medidas adotadas pelo Banco Central é o aumento da taxa básica de
juros (SELIC), o que fará com que haja a diminuição da demanda por moeda, tal redução
na necessidade de moeda faz com que, no curto prazo, o nível de renda diminua.

Um aumento dos gastos do governo acarreta o aumento da demanda e,


portanto, do produto. À medida que o produto aumenta, também aumenta a
demanda por moeda e pressiona a taxa de juros para cima. O aumento da taxa
de juros, que torna os títulos de dívidas mais atraentes, provoca a apreciação
da moeda nacional. O aumento da taxa de juros e a apreciação cambial fazem
com que a demanda interna por bens diminua, o que compensa, em parte, o
efeito dos gastos do governo sobre a demanda e o produto. (BLANCHARD,
2011, p. 384).

Em um cenário de contração fiscal (aumento de impostos ou diminuição de gastos


do governo) e contração monetária (redução da oferta de moeda) há uma diminuição no
poder de compra da população. Com as pessoas tendo menos renda disponível fará com
que a renda diminua. Entretanto, o impacto da política fiscal e monetária contracionista
sobre a taxa de juros têm efeitos opostos. Enquanto que a política fiscal contracionista
reduz a taxa de juros, a política monetária contracionista aumenta (BLANCHARD, 2011,
p. 82-87). Tais políticas podem ser vistas no gráfico 1:

Gráfico 1 – Deslocamentos das Curvas IS-LM

Fonte: Blanchard (2011)

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85

Segundo Andrade e Magalhães (2004, p. 531), no auge da utilização do modelo


numa Era Keynesiana, “a nova geração de macroeconomistas das décadas de 1950 e 1960
acabou usando o modelo extensivamente tanto em nível acadêmico quanto prático”. De
acordo com Goodfriende King (1997 apud ANDRADE; MAGALHÃES, 2004, p. 531)
“Esses modelos estavam diretamente baseados no modelo IS-LM, contendo seus
elementos básicos: um setor financeiro, um setor de investimento e um setor relacionado
a decisões de consumo/estoques”. Segundo Blanchard (2011, p. 87), para a maioria dos
economistas o modelo IS-LM representa um elemento constitutivo básico e que mesmo
sendo um modelo simples capta grande parte do que ocorre na economia no curto prazo.
A partir da década de 1970, devido a diversos fatores que fizeram com que a teoria
Keynesiana fosse abalada, surgiram distintas críticas ao modelo IS-LM. Para muitos
economistas o modelo IS-LM se tornou incapaz de representar uma abordagem específica
da teoria econômica. As principais críticas eram de duas naturezas:

O primeiro tipo de crítica, na verdade, relacionava-se a esse modelo de forma


indireta, uma vez que equivalia à crítica econométrica de Lucas, estando
direcionada a modelos macro econométricos como o MPS, que eram
fundamentados, em última instância, no modelo IS-LM. O segundo tipo de
crítica dizia respeito à ausência de micro fundamentos no modelo IS-LM, em
especial, a um tratamento inadequado das expectativas no modelo (muitas
vezes, tidas como constantes) (ANDRADE; MAGALHÃES, 2004, p. 531).

Segundo Bonatto (2010, p. 14), outra crítica ao modelo foi feita por Friedman em
1956, para ele o modelo se dividiria em mercado de bens e serviços (curva IS) e mercado
monetário (curva LM), por essa divisão o mercado real jamais seria afetado pelo lado
monetário, como se um não estivesse relacionado ao outro, ou seja, as decisões de
consumo e poupança não estivessem relacionadas com as decisões de quanto demandar
de moeda. Para ele, essas decisões são tomadas em conjunto.

[...] parece contraditória a hipótese de que, no longo prazo, o nível de preços


seja determinado pela oferta de moeda, e o fato do controle inflacionário dar-
se, conforme se deriva da curva IS e da curva de Phillips, através do manejo
da taxa real de juros que, conforme dispõe a teoria da preferência intertemporal
de Fisher, é variável real que não deveria afetar a taxa de inflação, mas a
relação entre consumo presente e consumo futuro. Na verdade, tampouco
parece claro como o banco central determina a taxa de juros, visto que a teoria
neoclássica concebe a curva LM como vertical no espaço taxa de juros x renda
nominal, para não falar no abandono de qualquer relação de longo prazo entre
a oferta de moeda e o nível de preços. O problema, portanto, não diz respeito
à flexibilidade ou rigidez dos preços e muito menos ao horizonte temporal da
análise, mas ao funcionamento dos mercados monetário e de capitais.
(GONTIJO, 2009, p. 292).

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86

3 DESENVOLVIMENTO

Após uma política fiscal e monetária contracionista em 2003, o governo Lula


passou a adotar políticas menos restritivas e terminou o seu primeiro mandato (2003-
2006) com uma taxa média de crescimento do PIB de 3,5% a.a. Já o seu segundo mandato
(2007-2010) foi marcado por políticas mais agressivas de estímulo à economia, sobretudo
após o impacto da crise internacional na economia brasileira em 2009, o que resultou
numa taxa de crescimento média do PIB nesse período de 4,6% a.a., valor esse superior
ao do seu primeiro mandato. Por sua vez, o primeiro mandato do governo da presidente
Dilma (2011-2014) a média de crescimento do PIB diminui para 1,60% a.a., bem abaixo
das taxas alcançadas pela gestão anterior, indicando assim o desaquecimento da economia
brasileira (ver gráfico 2).

Gráfico 2 – Variação do PIB (%)

7,6

6,0
5,7
5,0

4,0
3,1
3,9 2,7

1,2 1,8
0,1

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
-0,2
Fonte: IBGE (2015).

O primeiro governo Dilma também apresentou taxas de crescimento bem abaixo


de economias em desenvolvimento similares à brasileira. Ao compararmos o nível de
crescimento do PIB brasileiro com os países do BRICS, percebe-se que a economia
nacional não acompanhou as taxas de crescimento apresentadas pelos demais países do
bloco. O gráfico 3 a seguir demonstra essa comparação.

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87

Gráfico 3 – PIB dos BRICS entre 2011-2014 (variação % a.a.)

10 9,3
9
8
7,7 7,7 7,4 7,4
7 6,6
6 5
5 4,3 4,7
4 3,6 3,4
3
2,7 2,5 2,5
1,9 1,5
2 1 1,3
1 0,6
0,1
0
2011 2012 2013 2014

BRASIL RÚSSIA ÍNDIA CHINA ÁFRICA DO SUL

Fonte: Banco Mundial (2015).

Note-se que o Brasil teve o pior desempenho entre os cinco países em todos os
anos, exceto no ano de 2013, ocasião em que obteve um crescimento um pouco melhor
apenas do que o da África do Sul e da Rússia.
As baixas taxas de crescimento do PIB brasileiro vivenciado pelo governo Dilma
Rousseff podem ser relacionadas aos fatores que constituem a economia brasileira e,
também, a fatores exógenos, ou seja, o desaquecimento da economia internacional. “Um
dos fatores que influenciou a piora do desempenho da economia brasileira foi a alteração
do contexto internacional, considerando, ainda, que a atual configuração do comércio
mundial não é mais tão favorável ao país” (FUNDAP, 2014, p. 5).
Segundo dados do Banco Mundial (2015), a desaceleração no crescimento da Ásia
de 30,7% em 2011 para 26,7% em 2014 encerrou o ciclo de alta dos preços das
commodities, fato este que influenciou na piora dos benefícios para a balança comercial
brasileira. Os capitais estrangeiros foram atraídos devido ao elevado diferencial de juros
do Brasil contribuindo para apreciar a taxa de câmbio e manter a inflação dentro da meta
(4,5%), mas também prejudicando a competitividade da indústria nacional. Em
decorrência disso, o fator externo deixou de ser um vetor de crescimento econômico.
Segundo relatório da Fundap (2014), entre os anos de 2011 e 2014, com exceção do
terceiro e quarto trimestres de 2012, quando as exportações e importações permaneceram
praticamente estagnadas no acumulado em quatro trimestres, a demanda externa da
economia brasileira subtraiu crescimento do PIB, como podemos ver no gráfico 5:

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Gráfico 4 – Contribuição da demanda interna, demanda externa e estoques para o


crescimento do PIB (em pontos percentuais, acumulados em quatro trimestres).

Fonte: Contas Nacionais, IBGE. Elaboração: Grupo de Economia / Fundap.

A marca de crescimento adotada pela China é o elevado nível de exportações, o


que consequentemente impulsionavam as elevadas taxas de investimento, fazendo com
que o PIB se expandisse fortemente. Todavia, o governo Chinês busca fortalecer o seu
mercado consumidor interno e com isso afeta diretamente a economia brasileira. Segundo
Serrano e Summa (2012, p. 169-170), a redução de crescimento do quantum de
exportações parecer ter sido causada pela redução da demanda externa, essa queda do
nível de exportações teve um papel relevante na desaceleração da economia brasileira a
partir de 2011.
Em um segundo momento, podemos afirmar que um dos fatores que interferem
no baixo crescimento econômico do país foi o desgaste do modelo de crescimento
baseado no consumo das famílias. A partir do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, o país cresceu ancorado no modelo de crescimento baseado no fator
consumo das famílias (fator que compõe a curva IS), que foi embasado via redução de
impostos, facilidade de obtenção de crédito e aumento real do salário mínimo acima da
produtividade. Com base nesse modelo o país teria crescido em função do aquecimento
do mercado interno por meio do estímulo ao consumo, todavia, haveria um não
acompanhamento por parte da ampliação dos investimentos. Os fatores que influenciam
o consumo das famílias são aumento da renda (estimulado pelo controle da inflação e
aumento do salário real da população), expansão do crédito e programas sociais
(MORAIS; SAAD-FILHO; 2011; p. 520).

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89

Conforme vimos anteriormente, estímulos ao consumo das famílias influenciam


no deslocamento da curva IS para direita, fazendo com que haja crescimento da renda.
No gráfico abaixo temos a variação real do consumo final das famílias:

Gráfico 5 – Variação real do Consumo das Famílias

Variação real do consumo

6,94
6,07
5,67
5,2
4,47 4,44
3,82 4,09
3,22
2,55 2,2

-0,78
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Fonte: IBGE / IPEADATA (2015).

Podemos observar que nos quatro primeiros anos (2003-2006) do governo Lula a
variação real média do consumo das famílias foi de apenas de 3,17% a.a., já no segundo
mandato, no qual houve políticas de incentivo ao consumo, a variação média do consumo
real das famílias passou para cerca de 5% a. a. Segundo nota técnica divulgada pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (2014),
uma das razões que explicam o crescimento da economia brasileira no período é a
ampliação do mercado de crédito, foram criadas várias modalidades de crédito ao longo
desse período, como o crédito consignado em folha de pagamento, os cartões de crédito,
o crédito para aquisição da casa própria e o crédito rural, entre outros. Segundo relatório
de inflação do Banco Central (2014), a consolidação da estabilidade macroeconomia
favoreceu a redução das taxas de juros, o crescimento dos níveis de emprego e renda, e
os avanços institucionais permitiram a consolidação de modalidades com prazos mais
longos e taxas mais reduzidas, em ambiente de expansão da oferta de crédito com
manutenção da solidez do sistema financeiro. No governo Dilma foram mantidas as
mesmas políticas monetárias e fiscal expansionista adotadas pelo governo Lula, porém,
as famílias estavam consumindo menos devido ao aumento do endividamento. O gráfico
6 mostra a evolução do endividamento das famílias desde 2005:

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90

Gráfico 6 – Endividamento das famílias entre 2005-2014 (% Renda)

44,95 45,95
41,79 43,62
39,38
35,33
32,42
29,13
24,46
21,6

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: Banco Central (2015).

O endividamento das famílias vem registrando alta desde o início da série histórica
do BC, em janeiro de 2005, os dados mostrados consideram o total das dívidas das
famílias em relação à renda acumulada nos últimos 12 meses. Em que pese o intuito do
governo Dilma de manter os mesmos estímulos ao consumo das famílias, o governo não
conseguiu conservar o mesmo nível de crescimento adotado pela antiga gestão devido ao
fato de que as famílias já estarem endividadas.

Como as famílias foram estimuladas ao endividamento descontrolado, na


ilusão de que os pobres haviam sido milagrosamente deslocados para um novo
mundo – a chamada Nova Classe Média, o aumento da demanda das famílias
possivelmente não deva reagir a uma eventual redução dos juros do crédito
para o consumo (MUNHOZ, 2014, p. 22).

Outro fator que influenciou na diminuição do consumo das famílias foi o aumento
da inflação. Conforme já citado anteriormente, tais consequências interferem no
deslocamento da curva IS para esquerda, resultando na diminuição do PIB. O nível de
inflação é medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um alto nível da
taxa de inflação afeta principalmente no poder de compra da população em geral, devido
ao aumento contínuo dos preços, corroendo parte da renda das famílias. A tabela 1 mostra
o índice de inflação desde 2003. A inflação média no primeiro ano de mandato do
Governo Lula foi de 6,43% a. a., reduziu para 5,14% a. a. no segundo mandato e nos
primeiros quatro anos de mandato da atual presidente Dilma o nível de inflação voltou a
subir, chegando a ter uma média de 6,16% entre 2011 e 2014.

Não está fora de controle, mas seu nível é desconfortável e precisa ser
reduzido. O poder de compra dos salários vem sendo preservado conforme
apontam os dados do DIEESE, mas eles também indicam pressões

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inflacionárias por esse lado. E os preços administrados estiveram contidos por


muito tempo, gerando distorções. Como o governo só agrava o problema pelo
lado fiscal, a SELIC acaba sendo usada para conter a inflação, com seus efeitos
colaterais danosos (MUNHOZ; MACEDO, 2014, p. 21).

A elevação da taxa básica de juros (SELIC) é o principal instrumento utilizado


pelo Banco Central (BC) para o combate da inflação, a tabela 2 nos mostra a taxa de
crescimento da SELIC nos últimos 11 anos, podemos verificar que a média de
crescimento da SELIC nos períodos entre 2003-2006; 2007-2010 e 2011-2014 foi de
16,38%; 11,13% e 10% respectivamente. Não houve grandes diferenças nos períodos
analisados, todavia, o cenário econômico influenciou para que tais aumentos tivessem
impactos diferentes nos períodos em questão.
Segundo Morais e Saad-Filho (2011, p. 510-519), o encarecimento dos preços e
as restrições ao crédito, de fato, diminuem a inflação, porém, causa contração do consumo
e consequentemente do investimento. A partir de 2013 o governo vem utilizando Políticas
Monetárias contracionistas para que haja principalmente a redução do consumo e, em
consequência disso, a diminuição da inflação.
Em um terceiro momento, podemos destacar que a utilização de políticas
monetárias adotadas pelo Banco Central para o combate da inflação, como é o caso do
aumento da taxa de juros que inibem o investimento, outro fator importante para o cálculo
do PIB. Podemos analisar que ampliação do nível de investimento depende de diversos
fatores, sejam eles o grau de confiabilidade das empresas, da redução da taxa de juros e
do nível de investimento público.
O investimento em capital fixo necessita impulsionar um crescimento econômico
de qualidade, quando um empresário investe em máquinas e equipamentos que aumentem
a sua produtividade, ou seja, quando há uma redução dos seus custos provavelmente
haverá uma redução dos preços e um aumento no salário dos funcionários, além de
aumentar a capacidade do empresário de realizar novos investimentos.
Segundo Filho e Puga (2006, p. 28), há uma relação inversa entre taxa de juros e
investimento, o aumento da taxa básica de juros acarreta em uma diminuição dos
investimentos e, consequentemente, mostra-nos um baixo crescimento econômico.
Investimento e crescimento são duas variáveis inter-relacionadas. A experiência
internacional mostra que, quanto maior for o investimento em uma economia, maior tende
a ser o crescimento.

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A taxa de investimento brasileira tem sido a principal preocupação do governo


atual, tendo em vista que a média de investimento nos quatro anos de mandato da
presidente Dilma foi de 18,41% do PIB; já no governo anterior, havia alcançado uma
média de 19,15% do PIB, 0,73% a menos. Notavelmente, o nível de investimento em
relação ao PIB vem caindo após o primeiro ano do período analisado.
Segundo dados do Banco Mundial (2014), a média do indicador de Formação
Bruta de Capital Fixo (FBCF) do Brasil no período analisado foi de 20,25%; tal indicador
é responsável por medir a capacidade de produção do país e o nível de confiança dos
empresários. O FBCF do Brasil está abaixo de países em desenvolvimento da América
Latina, como: Chile, com uma média de FBCF do PIB de 23,08%, México, com 21,53%
e Peru, com 25,5%.
Para Alves (2014, p. 29), entre os fatores que minam a confiança dos investidores,
estão a ameaça de perda do grau de investimento da classificação de risco soberana
brasileira, a fraca recuperação do crescimento da economia, o intervencionismo do
governo e a incapacidade do Banco Central de controlar as expectativas de inflação de
médio e longo prazo e a piora das contas públicas.
Em um quarto momento podemos verificar outro fator que também contribui para
o crescimento do PIB, como analisamos anteriormente pelo modelo IS-LM, o qual nos
mostra que a queda dos gastos faz com que a Curva IS se desloque para a esquerda,
ocasionando em uma diminuição da participação do setor no PIB.

A atual política econômica no Brasil é firmada, principalmente, em


mecanismos de transferência de renda, como o programa Bolsa Família, e
voltada para a aceleração do crescimento, a exemplo do Programa de
Aceleração do Crescimento (PAC). Do ponto de vista dos gastos públicos em
infraestrutura social, como medidas políticas de crescimento econômico, estão
os gastos públicos em infraestrutura e em capital humano. Sobre os gastos
públicos em capital físico, o que se tem observado é a acentuada redução, desde
os anos oitenta, período em que o País enfrentou baixas taxas de crescimento
do PIB, processo inflacionário, contração fiscal e dificuldades nas contas
externas (CRUZ; TEIXEIRA; BRAGA, 2010, p. 165).

Segundo Rodrigues (2006, p. 18), os gastos governamentais são considerados


insumos produtivos capazes de gerar externalidades positivas ao crescimento econômico
nacional, todavia, nos últimos anos, o aumento dos gastos públicos não está voltado para
os investimentos, tendo em vista que as saídas com investimentos representaram menos
de 20% do PIB.

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No Brasil, o aumento de despesas, principalmente no que tange às despesas


financeiras com pagamentos de juros da dívida pública e pagamentos com a previdência
social, tem aumentos crescentes a cada ano e foram os principais responsáveis pelo
crescimento dos gastos públicos. A expansão dos gastos públicos reporta-se a uma
manutenção de elevadas taxas de juros, o que inibe os investimentos privados, visto que
elevam a taxa básica de juros. As despesas dos gastos públicos afetam a oferta, gerando
um ciclo vicioso, o aumento dos gastos do governo leva a um déficit primário, o que
aumenta a dívida pública. Para manter o equilíbrio das contas públicas e atingir a meta de
superávit primário, o governo eleva os tributos e diminui os investimentos públicos, o
que, consequentemente, desestimula o investimento privado.
Podemos observar que, segundo dados extraídos do Tesouro Nacional (2015), o
Resultado Primário do Governo Central vem diminuindo a partir de 2011, atingindo em
2014, déficit primário, ou seja, as despesas são maiores do que as receitas. O Resultado
Nominal vem apresentando desde 2011 saldos negativos, isso se dá devido ao elevado
nível dos juros nominais, conforme podemos observar na tabela 1.

Tabela 1 – Resultado Primário e Resultado Nominal do Governo Central

Fonte: Tesouro Nacional (2015)

A última hipótese a ser analisada é o saldo da balança comercial, indicador


econômico que representa a diferença entre o total de exportações e importações de bens
e serviços do país em um determinado período de tempo. Segundo dados do Banco
Central (2015), os valores de exportações estavam diminuindo, de um valor de US$
256,041 milhões registrados em 2011 para um saldo de US$ 225,101 milhões registrados
em 2014, isso se dá devido à diminuição da produção de commodities, já o valor das
importações apresentadas entre o período de 2011 a 2014 aumentou em relação às
exportações; em 2011, o valor de importações era de US$ 226,252 e para 2014 houve
aumento no valor, chegando em 2014 a US$ 229,060.

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O saldo da balança comercial brasileira vem apresentando, nos últimos quatro


anos, saldos inferiores se comparados no mesmo período do ano anterior, chegando em
2014 a apresentar um saldo negativo de US$ 3.930,13 milhões, segundo dados
apresentados pelo Banco Central (gráfico 8). O resultado negativo da balança comercial
gera um déficit que deve ser coberto pela conta capital e financeira. Segundo reportagem
publicada na Revista Economistas (2014, p. 46), a deterioração das contas externas é
reflexo da perda de competitividade da indústria nacional - que vem sendo penalizada
com a elevada carga tributária, burocracia, câmbio sobrevalorizado, juros elevados sobre
o capital de giro, custo da energia e as deficiências da infraestrutura logística - e reduziu
significativamente suas exportações, além de perder o mercado interno para os produtos
importados. É decorrente também da desvalorização do preço de commodities, cenário
internacional desfavorável e ao baixo preço do petróleo. Ao analisarmos o fator “Balança
Comercial”, no gráfico IS-LM podemos notar que a queda da balança comercial brasileira
dos últimos 4 anos resulta no deslocamento da Curva IS para esquerda e o movimento ao
longo da LM para baixo, tendo em vista o aumento dos juros, a valorização cambial e
aumento da carga tributária, o que resulta na perda de competitividade da indústria
brasileira e consequentemente na diminuição do número de exportações que afeta o nível
de crescimento econômico do Brasil.

Gráfico 8 – Saldo da Balança Comercial brasileira

$46.456,63
$40.031,63
$44.702,88

$33.640,54 $29.792,82
$25.289,81
$24.793,92 $24.835,75 $19.294,54
$20.146,86

$2.399,48

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
$-3.930,13
Saldo da Balança comercial

Fonte: IPEADATA (2015) / BACEN (2015)

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destarte, as análises apresentadas neste trabalho mostram que o desaquecimento


da economia brasileira, entre 2011-2014, deu-se, principalmente, a fatores externos,
influenciado principalmente de países asiáticos, no qual havendo desaquecimento na
economia, influenciou nas exportações de commodities brasileiras, e também devido aos
fatores que influenciam a Demanda Agregada (Y = C + I + G + (X - M). Primeiramente
houve uma diminuição significativa no consumo das famílias brasileiras, fator que
aqueceu a economia nos anos que antecederam ao mandato da Presidente (2003-2010),
decorrente de fortes estímulos, como Políticas Fiscais expansionistas com a redução de
impostos e a facilidade de aquisição de créditos. Contudo, as políticas que influenciam o
consumo são medidas de curto prazo, no entanto, tais estímulos levaram ao aumento do
endividamento das famílias e o grande incentivo à demanda agregada, sem ter havido
investimentos na mesma proporção na produção, o que gerou uma inflação de oferta,
levando ao aumento dos preços dos produtos.
A análise das informações corrobora com o fortalecimento das hipóteses de que o
baixo nível de investimento no país é outro fator importante, para justificar o baixo
crescimento. As relações entre crescimento econômico e elevação do nível de
investimento estão ligadas, o investimento e a produtividade só voltariam a crescer se
houvesse crescimento da economia, os investimentos em baixa são decorrentes da falta
de confiança dos empresários, as taxas de juros em alta e a inflação descontrolada.
O terceiro fator é o gasto governamental, que durante o período analisado está
mais voltado para os gastos com despesas do que gastos com investimentos,
principalmente com pagamentos de juros da dívida pública e gastos com previdência
social. Com aumento da dívida pública ocorrerá resultado nominal deficitário, ou seja,
não há receitas suficientes para pagamento dos juros da dívida. A queda do resultado
primário dos últimos quatro anos (2011-2014), apresentando em 2014 déficit primário,
provoca a necessidade do Governo em aumentar os impostos, a fim de perseguir o
resultado superavitário, prejudicando os investimentos públicos e em decorrência disso,
posteriormente, os investimentos privados. Por fim, a queda abrupta do saldo da balança
comercial brasileira desde 2011, chegando em 2014 apresentar saldo negativo,
significando que o Brasil tem importado mais bens e serviços do que exportado, esse é o
reflexo da pouca produtividade da indústria brasileira e da sua perda de competitividade
perante a indústria internacional, decorrente da elevada carga tributária, câmbio

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valorizado, juros elevados, custo da energia e as deficiências da infraestrutura logística.


Com o aquecimento das economias externas e a queda dos preços das commodities,
nossas exportações caíram muito. As medidas adotadas pelo governo são de deixar o
câmbio valorizado, a fim de encarecer as importações, porém os problemas enfrentados
com a desvalorização do real são o aumento no nível de inflação, posteriormente o
aumento nos juros com intuito de frear a inflação.
Portanto, podemos concluir que os problemas enfrentados pela atual gestão da
presidente Dilma (2011-2014) decorrem de medidas adotadas no passado, pelo então
presidente Lula (2003-2011). As políticas monetária e fiscal fizeram com que houvesse
incentivos no lado da demanda agregada e o fraco incentivo à oferta agregada fez com
que o país tivesse fraca competitividade perante aos demais países e, não acompanhasse
o crescimento das demandas, causando, com isso, sérios problemas. A diminuição de
todos esses fatores pode ser representada diretamente ao deslocamento da curva IS-LM,
podendo ser verificado que em decorrência de todos os fatores acima expostos que as
curvas se deslocam para a esquerda, mostrando, assim, a diminuição do crescimento
econômico do país.

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€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 81-98, 2016


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O AUMENTO DO ENDIVIDAMENTO DAS FAMÍLIAS DURANTE


O GOVERNO LULA

Jéssica Aparecida Belliomini de Camargo*


Manuel Antonio Munguia Payés**

**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail:


jessica_belliomini@hotmail.com

** Doutor em Economia, professor e Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de


Sorocaba- SP, Brasil. E-mail: manuel.payes@prof.uniso.br

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: O artigo se propõe a verificar as razões do aumento do endividamento das famílias brasileiras
durante o Governo Lula. Para isso, foi realizado um estudo bibliográfico, além da análise estatística por
meio de gráficos e tabelas. Conclui-se que o aumento do endividamento está associado à própria escolha
da política econômica em desenvolver o mercado de crédito. Além disso, fatores não econômicos, como
culturais, sociais, psicológicos, associados à baixa educação financeira da maioria das pessoas, também
foram responsáveis por grande parte desse aumento no endividamento.

PALAVRAS-CHAVE: Endividamento. Mercado de Crédito. Consumo.

INCREASE IN FAMILY DEBT DURING LULA’S TERM

ABSTRACT: The paper proposes to verify the reasons for the increase of the indebtedness of the Brazilian
families during the Lula’s term. A bibliographic study was carried out, besides the statistical analysis
through graphs and tables. It is concluded that the increase in indebtedness is associated with the choice of
economic policy in developing the credit market. In addition, non-economic factors, such as cultural, social,
and psychological factors associated with the low financial education of most people, also accounted for
much of this increase in indebtedness.

KEYWORDS: Indebtedness. Credit Market. Consumption.

1 INTRODUÇÃO

Dados do Banco Central apontam que no período de 2005 a 2010 as dívidas das
famílias brasileiras se elevaram de 18,39% para 39,16%. Segundo levantamentos do
relatório mais recente do Mckinsey Global Institute (com base nos dados dos Bancos
Centrais Nacionais), em grande parte dos países desenvolvidos, a população deve mais
do que a sua própria renda. O documento analisa 47 países e faz um ranking considerando
___________________
13
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

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o nível de endividamento de seus governos, famílias e setores privados em relação ao seu


PIB. O Brasil ocupava em 2015 o 34º lugar do ranking, com um endividamento de 128%
do PIB - dos quais 65% correspondem a dívidas públicas, 25% a dívidas das famílias e
38% a dívidas de empresas privadas.
Ainda segundo o Relatório Mckinsey, o endividamento da China chegou a 282%
de seu PIB, quadriplicando no período de 2008 a 2015. No ranking, o país ocupa a 22ª
posição, sendo o nível de endividamento maior que das famílias brasileiras. Contudo, os
juros praticados no Brasil são mais altos do que na China, o que acaba refletindo no alto
valor das prestações e um comprometimento maior do orçamento mensal das famílias
brasileiras.
Devido ao crescente endividamento nas economias, acompanhar a trajetória do
endividamento das famílias é importante não apenas para mensurar o comprometimento
da renda, mas também para verificar o potencial de consumo das famílias e o seu impacto
no crescimento econômico. Segundo Santos e Teles (2013, p. 27), hoje não só o Brasil,
mas o mundo está descobrindo que informações mais adequadas e detalhadas sobre o
endividamento podem ser cruciais para auxiliar no planejamento e definição das políticas
públicas.
À luz disso, este artigo visa verificar as razões do aumento do endividamento das
famílias no período de 2005 a 2010 que compreende o Governo Luís Inácio Lula da Silva.
Desde que o Governo propôs a transição do “modelo de modernização conservadora”
para o modelo “produtivista de crescimento acelerado e de inclusão social” do país, o
endividamento das famílias passou a crescer ano após ano a taxas recordes. Para isso, o
artigo será dividido em quatro seções, além desta introdução. A segunda seção traz o as
notas teóricas; na terceira apresenta-se a metodologia utilizada; a quarta apresenta o
desenvolvimento e a quinta e última seção, são apresentadas as considerações finais.

2 METODOLOGIA

Quanto à metodologia, o artigo fez opção pelo método dedutivo. Segundo Barros
e Lehfeld (2007, p. 77), esta opção se justifica porque o método escolhido permite, a partir
da construção de uma hipótese geral, deduzir fatos e argumentos para obter uma
conclusão a respeito das causas do aumento do endividamento das famílias brasileiras.

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101

Enquanto procedimento, este artigo utilizou-se de pesquisa bibliográfica,


procurando explicar o problema a partir de referências teóricas publicadas em artigos,
livros e dissertações. Além disso, foi utilizada a estatística descritiva, utilizando valores
numéricos apresentados em gráficos e tabelas para resumir informações. (CERVO;
BERVIAN; DA SILVA, 2007, p. 61)
Para tanto, foram coletados dados junto a órgãos oficiais como o Banco Central
do Brasil. Esses indicadores permitiram tanto analisar o próprio fenômeno do
endividamento, bem como a operacionalização da política monetária realizada no país, o
volume e as condições do crédito concedido às famílias pelo Sistema Financeiro
Nacional.
Para a compreensão dos fatores considerados como não econômicos, foram
realizadas a coleta de dados no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEADATA),
referente ao consumo das famílias no período analisado, e também dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente à ascensão das classes. O Serviço
de Proteção ao Crédito (SPC) por sua vez traz informações relevantes sobre a baixa
educação financeira das famílias brasileiras também imprescindíveis para o melhor
esclarecimento do tema proposto.

3 NOTAS TEÓRICAS

Segundo Santos e Teles (2013, p. 27), o comportamento ascendente da trajetória


do endividamento das famílias está associado ao crescimento econômico registrado de
um país sendo influenciado pelo setor financeiro. Conforme Lopes e Rossetti (2009, p.
253), o governo pode estimular o crescimento na economia por meio da política monetária
expansionista, provocando uma redução da taxa de juros e um aumento nominal do
estoque de moeda.
Ainda segundo Lopes e Rossetti (2009, p. 257-268), para colocar em prática as
ações da política monetária, o governo utiliza três instrumentos clássicos, são eles:
depósito compulsório, redesconto e as operações de mercado aberto. O recolhimento
compulsório diz respeito aos depósitos efetuados à vista pela população junto aos bancos
comerciais, uma parte delas vai para o Banco Central, que fixa a taxa de recolhimento,
sendo essa taxa variável de acordo com o interesse da economia; já o redesconto é quanto
o Banco central cobra em empréstimos ao sistema bancário, à medida que a taxa de

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102

redesconto diminui, as reservas bancárias voluntárias aumentam, influindo assim sobre o


montante dos empréstimos concedidos pelos bancos e, por fim, o Banco Central também
atua no mercado de títulos, comprando e vendendo, de maneira a levar a taxa de juros ao
nível desejado.
Logo, uma redução na taxa de juros leva a um aumento do consumo e do
investimento, que influencia a demanda agregada, que por sua vez, fomentará o
crescimento da economia. Para Silva (2014, p. 50) quanto maior o acesso ao crédito,
maior é a eficácia da política monetária.

O crédito sem dúvida cumpre importante papel econômico e social, a saber:


(a) possibilita às empresas aumentarem seu nível de atividade; (b) estimula o
consumo influenciando a demanda; (c) ajuda as pessoas a obterem moradia,
bens e até alimentos e (d) facilita a execução de projetos para os quais as
empresas não dispunham de recursos próprios suficientes. A tudo isso,
entretanto, deve-se acrescentar que o crédito pode tornar as empresas ou
pessoas físicas altamente endividadas, assim como pode ser forte componente
de um processo inflacionário.

Para Pereira (1998 apud CHAIA, 2003, p. 10-12), a história do crédito demonstra
que sua evolução acompanhou o desenvolvimento econômico e as famílias passaram a
utilizá-lo de forma cotidiana, procurando satisfazer à necessidade de consumo dos mais
variados bens e serviços, articulados às múltiplas formas de financiamento, elegendo
aspectos como a redução nas taxas de juros e possibilidade de alongamento dos prazos de
pagamento. Esse crescente peso do setor financeiro na vida das famílias acaba, por outro
lado, reproduzindo um aumento do endividamento.

O crescimento da dívida das famílias das economias capitalistas mais


desenvolvidas ao longo das últimas duas ou três décadas tem sido interpretado
como sendo o resultado das decisões dos consumidores, que souberam tirar
partido do facilitado acesso ao crédito e da possibilidade de se endividarem a
mais baixo custo com a forte expansão da oferta de crédito, consequência de
décadas de liberalização financeira e inovação tecnológica neste setor.
Consumidores guiados por suas preferências, simplesmente respondem a
novos incentivos econômicos (SANTOS; TELES, 2013, p. 14).

A política monetária expansionista vai aumentar o crédito à disposição dos bancos


que por sua vez vão repassar essas condições a sua carteira de clientes. Os bancos então
procuram seduzir seus clientes na contratação de novos créditos, muitas vezes facilitando-
o para credores que não tem a capacidade de pagar ou que não teriam a partir do momento
em que a taxa de juros começasse a subir. Toda via, existem autores que fazem críticas

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103

ao manuseio da economia por meio da política monetária e autores que consideram além
da sedução pelo crédito fatores não econômicos para explicar o endividamento.
Milton Friedman (1968 apud LOPES; ROSSETTI, 2009, p. 286-288) destaca que
o efeito da política monetária somente ocorre quando houver “ilusão monetária”, esta
ocorre devido às imperfeições do canal de informação que possibilitam enganos quanto
ao futuro. Friedman não nega que a política monetária pode e deve ter efeitos sobre as
magnitudes reais, entretanto argumenta que, no longo prazo, a moeda se neutraliza, pois
o tempo é o fator necessário para que os agentes se informem perfeitamente dado os sinais
do mercado. Mesmo os monetaristas não recomendam a manipulação indiscriminada da
oferta da moeda, o que deve haver é uma cautela quanto a sua condução. Os motivos da
cautela recomendada resultam da constatação das defasagens que existem na aplicação
desse tipo de política, que pode constituir-se em fator desestabilizador da economia, que
já teria se alterado, quando começar a surtir seus efeitos.
Montgomerie (2009 apud SANTOS; TELES, 2013, p. 28) argumenta que as
famílias contraem dívidas para complementar o rendimento às suas despesas,
intensificando desta forma suas interações com o setor financeiro. Ele considera a
realidade das famílias norte-americanas em que o endividamento está relacionado à
expansão do crédito ao consumo, que é explicada pela tentativa de manter um padrão de
vida historicamente construído, representante do modo de vida americano conhecido pela
expressão American way of life.
É preciso um diálogo entre a economia e outras ciências sociais para compreender
porque fatores não econômicos são relevantes ao aumento do endividamento; entender o
comportamento humano, fenômenos sociais e culturais ajuda a identificar porque a
procura pelo crédito para o consumo acontece. É preciso considerar que o consumidor
não tem um perfeito conhecimento sobre a melhor forma de atender as suas necessidades,
sendo esses aspectos, por sua vez, não fundamentados da teoria econômica convencional.
Garófala e Carvalho (1995, p. 34) expõem:

É preciso considerar que o consumidor não tem um perfeito conhecimento


sobre a melhor forma de atender às suas necessidades. Na realidade, ele tem
um conhecimento insuficiente dos bens que adquire. De mais a mais, sente
certo desapontamento decorrente de escolhas e decisões que geram utilidades
ou satisfações efetivamente usufruídas, menores do que as por ele imaginadas
ou antecipadas. Todavia, a título de simplificação, a ignorância, a imperfeição
do conhecimento e as diferenças entre a expectativa e a realização da utilidade
não são consideradas pela teoria tradicional do comportamento do consumidor.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


104

Conforme Tolotti (2007, p. 5-10), para conquistar objetivos desejados, as pessoas


também acabam se endividando, o dinheiro é o intermediário que leva as pessoas a lugares
almejados pela maioria, são muitas das vezes lugares subjetivos, ou seja, lugares que
representam respeito, prestígio, poder, status e principalmente felicidade. Todos querem
usufruir daquilo que há de melhor, para isso as pessoas tendem a expressar sua
individualidade através do que vestem, do seu veículo, sua casa ou mesmo seus hobbies.
O resultado acaba sendo de decisões pouco racionais graças às diversas formas de
financiamento de bens e serviços.
A racionalidade limitada leva à fragilidade orçamentária, e pode ser explicada pela
baixa educação financeira da grande maioria da população. Conforme Blanchard (2001,
p. 554):

Muitos cálculos que seriam simples se houvesse estabilidade de preços tornam-


se mais complicados quando há inflação. Ao comparar sua renda deste ano
com a do ano passado, as pessoas têm de acompanhar o histórico de inflação.
Ao escolher entre diferentes ativos ou decidir quanto consumir ou poupar, elas
têm de acompanhar a diferença entre as taxas de juros reais e nominais. A
observação informal sugere que muitas pessoas acham difíceis esses cálculos
e com frequência não conseguem distinguir bem as diferenças.

As famílias dificilmente tomam consciência do custo do crédito, não realizam a


comparação entre ofertas mais competitivas e tão pouco consideram os juros embutidos
nos financiamentos e empréstimos, muitos apenas consideram se o valor da parcela a ser
paga está dentro de sua capacidade de pagamento. Isso pode gerar enganos quanto ao
cumprimento de seus compromissos financeiros, uma vez que a economia pode se
modificar rapidamente. Sendo assim, o endividamento também pode ser explicado pela
vulnerabilidade no orçamento dos indivíduos ou famílias (ZERRENNER 2007, p. 23).

4 DESENVOLVIMENTO

A variável “Endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional”


corresponde à série do Banco Central que relaciona o total das dívidas das famílias com
o Sistema Financeiro Nacional (SFN) dividido pela renda acumulada no período de 12
meses. Os dados do endividamento das famílias passaram a ser registrados pelo Banco
Central a partir de 2005, algo que pode parecer tardio, mas que, segundo Lopes (2012, p.
13), anterior ao governo Lula o endividamento não parecia um problema de

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


105

regulamentação financeira no país. Ao verificar o gráfico 1, podemos perceber claramente


que o aumento vem ocorrendo a taxas positivas, passando de 18,39% em janeiro de 2005
para 39,16% em dezembro de 2010.
Conforme Relatório de Economia Bancária e Crédito do Banco Central do Brasil
(2010), no período analisado o governo optou por uma política monetária expansionista,
sendo o seu principal instrumento a taxa de juros. Mantiveram níveis mais baixos do
recolhimento compulsório, a quantidade e o volume das assistências financeiras
concedidas pelo Banco Central oscilaram demonstrando tendência de queda e o saldo de
recompra de títulos públicos foi superior ao saldo de vendas de títulos. Conforme visto
por Lopes e Rossetti (2009, p. 253), agindo de maneira a baixar a taxa de juros na
economia o governo coloca mais moeda no mercado, afetando assim, a quantidade de
empréstimos oferecida pelos bancos. O gráfico 2 mostra a evolução da taxa Selic,
podemos perceber a partir dele a prática de taxas menores no período, reafirmando o uso
da política monetária expansionista.

Gráfico 1 – Endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional em


relação a renda acumulada dos últimos 12 meses. (% a.m.)

40

35

30

25

20

15
abr/05
jul/05

abr/06
jul/06

abr/07
jul/07

abr/08
jul/08

abr/09
jul/09

abr/10
jul/10
jan/07

out/08
jan/05

out/05
jan/06

out/06

out/07
jan/08

jan/09

out/09
jan/10

out/10

Fonte: BACEN (2015)

Ainda conforme Relatório, o governo optou por estimular o crédito a fim de que
o Brasil retomasse seu crescimento econômico e se mantivesse aquecido. Desta forma, a
escolha do governo em reduzir a taxa Selic permitiu (como visto nas notas teóricas deste
artigo) que os bancos repassassem a seus clientes essa maior disponibilização do crédito,

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


106

com taxas de juros menores e condições mais facilitadas nos prazos para pagamento. O
que se viu no período analisado também foi uma grande bancarização da população
brasileira. A seguir, o gráfico 3 permite mostrar a evolução das taxas de juros das
operações de crédito a pessoas físicas; percebemos de forma clara sua redução.

Gráfico 2 – Evolução taxa Selic (% a.a)

Fonte:BACEN (2015)

Gráfico 3 – Evolução das taxas de juros das operações de crédito com recursos
livres para pessoas físicas. (% a.m.)
110

100 100,63

90
,
80
76,63
70 70,55

62,29 60,44
60
57,18
53,08
50

40 41,99
mai/03

mai/04

mai/05

mai/06

mai/07

mai/08

mai/09

mai/10
jan/03

jan/04

jan/05

jan/06

jan/07

jan/08

jan/09

jan/10
set/04
set/03

set/05

set/06

set/07

set/08

set/09

set/10

Fonte: BACEN (2015)

Segundo dados do Banco Central (2015), a principal dívida das famílias brasileiras
no período foi o crédito pessoal, que inclui o crédito consignado, introduzido em 2003
pela Lei nº 10.820/2003 e que foi muito estimulado durante o governo Lula. As condições

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


107

estabelecidas pela legislação em vigor e a segurança no recebimento dos empréstimos


consignados permitiram aos servidores públicos e aposentados o acesso ao crédito
bancário com taxas de juros proporcionalmente mais baixas se comparadas ao do
empréstimo pessoal. O crédito consignado ainda permitia um alongamento no prazo de
pagamento das parcelas reduzindo o valor a ser pago mensalmente. O governo também
optou em 2008 pela redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), que levou
a um significativo aumento do crédito a veículos, que oferece a garantia de alienação
fiduciária. Foram licenciados no mercado brasileiro mais de 15 milhões de veículos no
período de 2005 a 2010. Além disso, também se observa pelo gráfico 4 a expansão do
cheque especial e o financiamento de bens à pessoa física.

Gráfico 4 - Saldo de crédito Pessoa Física em bilhões

Fonte: BACEN (2015).

Essas facilidades estimularam as famílias à contratação do crédito, pois de nada


adianta uma quantidade grande de moeda no mercado se as condições forem favoráveis
apenas ao ofertante e não ao consumidor. Para SILVA (2014, p. 50), conceder recursos
às famílias constitui para o governo grande oportunidade de dinamização do mercado. As
operações de crédito às famílias brasileiras se elevaram de 4.794 milhões em janeiro de
2003 para 71.813 milhões em dezembro de 2010, e pode ser percebido pelo gráfico 5.
Com a escolha do governo pelo crescimento da economia por meio da política
monetária, o saldo total de crédito na economia em relação ao Produto Interno Bruto (PIB)
apresentou aumento expressivo durante toda a gestão de Lula, saiu de um percentual de
24,6% em 2003 para 46,4% do PIB em 2010. Segundo o Relatório de Economia Bancária
e Crédito do Banco Central do Brasil (2010), essa porcentagem ainda é bem menor do

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


108

que nos países desenvolvidos, nos quais há casos em que o saldo de crédito na economia
ultrapasse 100% do PIB, porém esse aumento é relevante para o Brasil, uma vez que, na
década de 1990 o crédito retrocedeu e só foi retomado seu crescimento após a entrada de
Lula no governo.

Gráfico 5- Operações de crédito com recursos livres pessoas físicas (em milhões)

80.000
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0

jan/09
jan/03
mai/03

jan/04
mai/04

jan/05
mai/05

jan/06
mai/06

jan/07
mai/07

jan/08
mai/08

mai/09

jan/10
mai/10
set/06
set/03

set/04

set/05

set/07

set/08

set/09

set/10
Fonte: BACEN (2015).

Ainda segundo o relatório, parte desse crescimento crédito/PIB no Brasil está


relacionado ao comportamento da carteira de pessoa física, que cresceu de 5,77% em
janeiro de 2003 para 15,07% em dezembro de 2010, como exemplificado no gráfico 6. A
análise destes dados possibilitou perceber que, além do crédito às famílias ter aumentado,
esse crescimento influenciou diretamente no resultado do PIB brasileiro.
Durante a crise de 2009, a concessão de crédito não deixou de ser estimulada pelo
Governo, fato este que resultou no desempenho positivo em relação ao crescimento do
PIB de 2010, em que o Brasil obteve aumento de 7,5%, em relação ao ano anterior. Nesse
sentido, o governo Lula obteve sucesso com a política monetária, pois conseguiu por meio
do crédito, juntamente com outras medidas de política econômica, elevar o crescimento
da economia. Por outro lado, também acabou aumentando o endividamento das famílias
que se dispuseram à contratação do crédito para financiamento de seu consumo.
Por meio do gráfico 8, podemos perceber que no Brasil existia uma população
com demanda reprimida, que esteve por muito tempo excluída do sistema de crédito
brasileiro. Em nove anos, houve uma rápida ascensão da população à classe C, o
crescimento acumulado foi de 46,57%, ou seja, cerca de 39,5 milhões de brasileiros

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


109

ingressaram na classe média. Esta totalizava em 2011 cerca de 105,5 milhões de pessoas,
o que corresponde a 55,05% da população.

Gráfico 6 – Saldo das operações de crédito a pessoas físicas em relação ao PIB


(% a.m.)

16

14

12

10

4
jan/03

jan/06

jan/09
mai/03

jan/04
mai/04

jan/05
mai/05

mai/06

jan/07
mai/07

jan/08
mai/08

mai/09

jan/10
mai/10
set/03

set/04

set/05

set/06

set/07

set/08

set/09

set/10
Fonte: BACEN (2015).

Gráfico 7 – Crescimento Econômico Brasileiro de 2003 a 2010

7,5

6,1
5,7
5,2

4
3,2

1,1

-0,6
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: BACEN (2015).

A divisão da população brasileira em classes socioeconômicas é baseada no


critério de Classificação Econômica Brasil, levantado pela Associação Brasileira de
Empresas de Pesquisa (Abep). A classificação avalia a renda permanente, acesso a bens
públicos e a quantidade de bens que a família possui, podendo, a partir desta classificação,
avaliar também o hábito do consumo das famílias brasileiras.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


110

Portanto, a política proposta pelo governo Lula, além de facilitar e estimular a


tomada de crédito, também fez a inserção dos mais pobres na economia, aumentando
desta forma a demanda agregada. Nota-se que esses dados são de grande relevância para
o aumento do endividamento das famílias, uma vez que, mais famílias inseridas no
sistema financeiro significa também, maior acúmulo de dívidas ligadas ao consumo de
bens duráveis.

Gráfico 8 – Pirâmide Populacional dividida em classes econômicas.

Fonte: IBGE (2015).

Conforme Lopes (2012, p. 4), com a ascensão de milhões de brasileiros para a


classe C, aliado às facilidades em se obter crédito, viu-se também um aumento
considerável do consumo. O crédito permitiu às famílias consumir bens que antes não
eram possíveis, principalmente às famílias de classes mais baixas, em que a dificuldade
em se guardar dinheiro para comprar bens de maior valor agregado se tornava mais difícil.
Conforme tabela 1, verifica-se que o consumo das famílias cresceu gradativamente,
aumentando no período de 2002 a 2010 em 146%.
Se, por um lado, as famílias utilizaram mais o crédito para fazer frente às despesas
do consumo, por outro, fatores não econômicos como o fenômeno comportamental de
euforia e irracionalidade que ocorreu devido à demanda que até então se encontrava
reprimida levou às famílias a se endividarem de forma a comprometer uma parcela cada
vez maior de sua renda. A decisão pela tomada de crédito também pode se dar por
aspectos psicológicos, físicos e/ou culturais, que, exemplificadas por Garófala e Carvalho
(1995, p. 34), o consumidor não tem um perfeito conhecimento sobre a melhor maneira
de atender suas necessidades, que, por sua vez, não são considerados pela teoria
tradicional do comportamento do consumidor.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


111

Tabela 1- Consumo Final das Famílias

Ano R$ Milhões %* %**


2002 912058 - -
2003 1052759 15,43 15,43
2004 1160611 10,24 27,25
2005 1294230 11,51 41,9
2006 1428906 10,41 56,67
2007 1594067 11,56 74,78
2008 1788840 12,22 96,13
2009 1979751 10,67 117,06
2010 2248623,92 13,58 146,54
Fonte: Ipeadata. (2015)

O estudo de caso realizado por Figueira e Pereira (2014) ajuda a compreender a


razão pela qual esses aspectos considerados como não econômicos acabam também
influenciando na contratação do crédito e, consequentemente, levando ao endividamento.
A amostra de pesquisa foi composta por 301 entrevistados no período de janeiro a
fevereiro de 2013 com diferentes rendas. A pesquisa concluiu que novas dívidas são
contraídas objetivando aquisição de bens e serviços não essenciais, ou seja, pessoas se
endividam com o sistema financeiro para a compra de itens que muitas vezes estão
associados à felicidade, status, prestígio, poder, prazer ou pela ansiedade e impulsividade
na necessidade de se sentir incluída na sociedade.
Outro aspecto importante do endividamento diz respeito à contratação do crédito
sem o devido planejamento. Como descrito por Blanchard (2001, p. 554), os indivíduos
não acompanham a diferença entre taxas de juros reais e nominais, muitas pessoas acham
esses cálculos difíceis e não os consideram nos financiamentos. Essa falta de
administração nas finanças pessoais pode levar a déficits, ocasionando o endividamento.
Segundo um levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) é exatamente isso
que ocorre no Brasil. O consumidor médio brasileiro gasta mais do que ganha, não guarda
dinheiro e tampouco planeja seu próprio futuro.
Em entrevista realizada pelo SPC, oito em cada dez pessoas (81%) têm pouco ou
nenhum conhecimento sobre como fazer o controle de suas despesas pessoais. Neste
estágio, o endividamento pode ocupar uma parcela muito maior do que deveria no
orçamento familiar, deixando de ser sadio e passando a gerar inúmeros problemas
pessoais e familiares, podendo chegar a um nível ainda mais complicado, denominado

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112

inadimplência. Ao analisarmos o gráfico 9, podemos perceber o quão desorganizado está


o orçamento das famílias brasileiras.

Gráfico 9 – Controle Financeiro

Sabem pouco ou nada de suas finanças Tem bom conhecimento de suas finaças

Fonte: SPC (2015).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir que o aumento do endividamento das famílias brasileiras durante


o governo Lula está associado à própria diretriz da política monetária em optar por
desenvolver o mercado de crédito e assim fomentar o crescimento da economia.
A despeito da oferta, verificou-se que os bancos repassaram a seus clientes as
melhores condições de crédito com prazos mais longos e taxas e prestações menores. Do
lado da demanda, o que se observou é que as famílias responderam aos incentivos
econômicos e passaram a financiar seu consumo por meio do crédito.
O cenário estudado reflete um período de rápida transformação na sociedade
brasileira, em que milhões de brasileiros foram incluídos no sistema financeiro. A isso se
justifica também que a maioria das dívidas foram contraídas pela irracionalidade na
contratação do crédito. Desta forma as famílias passaram a consumir o crédito de forma
cotidiana, procurando satisfazer suas necessidades.
Por outro lado, foi possível perceber que fatores não econômicos também
explicam o endividamento. Os brasileiros se endividaram com o sistema financeiro para
a compra de itens que muitas vezes estão associados à felicidade, status, prestigio, poder

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


113

ou pela simples necessidade de se sentir incluso na sociedade, ou seja, estão ligados a


fatores sociais, culturais e psicológicos dos indivíduos.
Contudo, também pode ser observado que a maioria das famílias brasileiras não
se planeja para o longo prazo, pensam apenas na satisfação momentânea e não se
preparam para imprevistos. Essa pouca habilidade com o orçamento familiar acabou
comprometendo uma parcela cada vez maior de seu orçamento com as dívidas e é também
justificada pela baixa educação financeira.
Por fim, propõem-se estudos que aprofundem as análises sobre a questão da
economia comportamental, podendo por meio da psicologia ou outras ciências sociais
melhores explicações a respeito dos fatores não econômicos ligados ao endividamento
das famílias.

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€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 99-114, 2016


115

FINANÇAS COMPORTAMENTAIS: O PROCESSO DE TOMADA


DE DECISÃO DOS INVESTIDORES11

Régis Kazuo Ono Okano*


Manuel Antonio Munguía Payés**

**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: kaazjp@gmail.com

**Doutor em Economia, professor e Coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Universidade de


Sorocaba- SP, Brasil. E-mail: manuel.payes@prof.uniso.br

Recebido em: maio de 2016 Avaliado em: maio de 2017

RESUMO: O objetivo deste artigo é esclarecer o processo de tomada de decisão do investidor sob a ótica
das Finanças Comportamentais, confrontando a hipótese de mercados eficientes, que afirma que os agentes
agem racionalmente. A metodologia se baseou na pesquisa bibliográfica e os dados tiveram tratamento com
a estatística descritiva. Os estudos de caso no Brasil mostram resultados divergentes entre a hipótese de
mercados eficientes e as finanças comportamentais, demonstrando a validade destas últimas no mercado
financeiro e de capitais.

PALAVRAS-CHAVE: Finanças Comportamentais. Agentes Irracionais. Mercados Eficientes.

BEHAVIORAL FINANCE: THE DECISION-MAKING PROCESS OF INVESTORS

ABSTRACT: The objective of this article is to clarify the decision making process of the investor from the
perspective of Behavioral Finance, confronting the hypothesis of efficient markets, which affirms that
agents act rationally. The methodology was based on bibliographical research and data were treated with
descriptive statistics. The case studies in Brazil show divergent results between the hypothesis of efficient
markets and behavioral finances, demonstrating the validity of the latter in the financial and capital markets.

KEYWORDS: Behavioral Finance. Irrational Agents. Efficient Markets.

1 INTRODUÇÃO

A Hipótese de Mercados Eficientes sempre colocou o homem como um ser


perfeitamente racional, conseguindo analisar todos as informações necessárias, de tal
forma que ao tomar decisões essas informações sempre são repassadas ao preço, ou seja,
o preço contém todas as informações necessárias.
Com a descoberta de mudanças no comportamento do homem em relação às
tomadas de decisões, a hipótese da racionalidade passou a ser contestada. As críticas
confrontavam a ideia de que o ser humano é perfeitamente racional, surgindo, assim, um

14
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 115-128, 2016


116

novo campo de estudo em Finanças. Esses vieses no processo de tomada de decisão


confrontam a teoria moderna das finanças, que tem como conceito a racionalidade dos
agentes, pois tenta explicar da melhor forma as anomalias existentes nos mercados.
Kahneman e Tversky (1979) iniciaram o estudo das Finanças Comportamentais
argumentando que os agentes não são perfeitamente racionais, pois existem
comportamentos que fazem com que haja irracionalidade em suas tomadas de decisões.
Este artigo se justifica por melhorar cada vez mais o estudo sobre as Finanças
Comportamentais que há muitos anos, através de estudos de vários especialistas,
demonstram que os agentes não agem apenas de modo racional.
A pesquisa se baseia em metodologia explicativa, descritiva e bibliográfica.
Foram utilizados resultados de pesquisas cujos questionários procuraram demonstrar as
escolhas irracionais realizadas pelos agentes. De acordo com Gil (1999, p. 52), o conceito
de pesquisa explicativa é a identificação dos motivos que colaboram para a ocorrência de
um fenômeno. Segundo Vergara (2000, p. 47), a pesquisa descritiva mostra características
de pessoas ou fenômenos, existindo correlações entre as duas variáveis. Segundo Lakatos
e Marconi (2001), a pesquisa bibliográfica é utilizada para a coleta de dados, como
contribuições culturais ou científicas realizadas anteriormente, tema ou problema que
possa ser estudado.
O objetivo desta pesquisa é esclarecer a tomada de decisão do investidor sob a
ótica das Finanças Comportamentais confrontando a hipótese de mercados eficientes, que
afirma que os agentes agem racionalmente. Além desta introdução, o artigo está dividido
em quatro seções: a hipótese de mercados eficientes, notas sobre as finanças
comportamentais, o comportamento dos investidores e, por último, as considerações
finais.

2 A HIPÓTESE DE MERCADOS EFICIENTES

As finanças modernas são baseadas em quatro pilares fundamentais observados


por Haugen (2000): a teoria do portfólio (MARKOWITZ, 1952); teoria da irrelevância
dos dividendos (MODIGLIANE; MILLER, 1961); o CAPM (Capital Asset Pricing
Model) (SHARPE, 1963, 1964) e a Hipótese de Mercados Eficientes (FAMA, 1970).
Mussa, Yang, Trovão e Famá (2008, p. 7) afirmam que:

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A hipótese de mercados eficientes afirma que o preço do ativo reflete todas as


informações disponíveis sobre a empresa que emite as ações, tornando-se
quase impossível que os investidores obtenham ganhos extraordinários
(retornos superiores em relação ao risco que aquele ativo obtém). Dependendo
do conteúdo da informação, o preço do ativo é afetado de forma mais lenta ou
mais rápida.

Esse pilar das Finanças Modernas foi iniciado com os estudos de Fama (1970),
em um artigo do Journal of Finance (Efficient Capital Markets: a review of theory and
empirical work) onde a eficiência de mercado tinha a seguinte definição: “um mercado
no qual o preço dos ativos sempre reflete completamente todas as informações
disponíveis é chamado de eficiente” (FAMA,1970, p. 383)
Além disso, para Fama (1970, p. 383), podem ser consideradas três formas de
eficiência do mercado, sendo elas: fraca, semiforte e forte. A primeira se caracteriza em
um cenário onde nenhum investidor pode conquistar lucros que excedam o retorno obtido
(lucros em excesso) pelo mercado por meio de estratégias que se baseiam em retornos e
preços históricos. Já na semiforte, nenhum investidor pode conquistar lucros que excedam
o retorno obtido pelo mercado tendo como variável de análise informações publicamente
disponíveis (dados do pregão, demonstrativos financeiros). Na terceira e última, sendo
então a forte, nenhum investidor pode conquistar lucros que excedam o retorno obtido
pelo mercado levando em consideração quaisquer variáveis, sejam elas disponíveis ou
não.
Segundo Fama (1998, p. 2), define-se como o mercado eficiente onde há um
número expressivo de investidores em busca da maximização de lucro competindo, cada
um deles procurando predizer qual o valor futuro dos títulos, sabendo que as informações
estão disponíveis de um mesmo modo a todos os participantes.

3 NOTAS SOBRE AS FINANÇAS COMPORTAMENTAIS

As Finanças Comportamentais levam em consideração na tomada de decisão


outras motivações dos investidores, não apenas as expectativas externas por lucro e
prejuízo. Estudos derivados de ciências como Economia, Finanças e Psicologia Cognitiva
oferecem auxílios às Finanças Comportamentais, com o intuito de instalar um exemplo
mais específico do comportamento dos agentes nos mercados financeiros, apoiado na
ideia de que os investidores estão sujeitos a mudanças de comportamentos que fazem com

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que sigam uma escolha que foge da racionalidade. (ANACHE; LAURENCEL, 2013, p.
89-90). Segundo Simon (1957, p. 84):

A racionalidade requer um conhecimento completo e inalcançável das


consequências exatas de cada escolha. Na verdade o ser humano possui apenas
um conhecimento fragmentado das condições que cercam sua ação, e ligeira
percepção das regularidades dos fenômenos e das leis que lhe permitiriam
gerar futuras consequências com base no conhecimento das circunstâncias
atuais.

Segundo Ongkrutaraksa (1996, p. 1), as Finanças Comportamentais são avaliadas


como uma das mais polêmicas divisões das Novas Finanças. Inicialmente, as Finanças
Comportamentais foram estudadas mais a fundo por muitos economistas, que realizaram
longas pesquisas que redundaram em resultados sobre o comportamento de cada
investidor, tomadas de decisões em meio à incertezas, o funcionamento das decisões e
como ocorrem as decisões em conjunto.
Segundo Shleifer (2000, p. 24), as Finanças Comportamentais lidam com todos
os tipos de investidores, independente se investem de forma racional ou irracional. Sendo
assim, analisa-se como o mercado reage quando esses distintos investidores estão
operando entre si. Levando em consideração as falhas dos investidores, as finanças
comportamentais apoiam-se em dois pilares. O primeiro refere-se à arbitragem limitada,
sugerindo que a arbitragem nos mercados de títulos é imperfeita. O segundo pilar refere-
se à decisão dos agentes, analisando em que seus comportamentos são baseados para a
tomada de decisão.
De acordo com Famá e Castro (2002, p. 25-26), as Finanças Comportamentais são
a junção entre Psicologia e Finanças e procuram esclarecer melhor os tópicos mais
polêmicos das teorias financeiras, sendo um deles a racionalidade do agente investidor.
Ainda levam em conta a natureza dos agentes no mundo financeiro, nos quais esses
agentes têm comportamentos que os deixam longe de uma decisão racional quando
investem.
Bernstein (1998, p. 246) cita o conceito vitoriano de racionalidade afirmando que
a medida sempre se sobrepõe à intuição. Ou seja, investidores racionais escolhem seus
investimentos de acordo com as informações obtidas e não com a emoção. As
informações, quando analisadas em conjunto, auxiliam a tomada de decisão de acordo
com a preferência pré-estabelecida, o objetivo sempre é a maximização da utilidade.

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Aversão à Perda

Araújo e Silva (2007, p. 49-50) afirmam que um dos principais conceitos das
finanças comportamentais é a aversão à perda. As pessoas preferem não sofrer a dor de
uma perda a sentir o prazer de um ganho da mesma proporção. Os agentes assumem riscos
quando estão perdendo, mas não fazem o mesmo quando estão ganhando.
Segundo Bernstein (1997, apud PIMENTA; BORSATO; CARVALHO, 2010, p.
4-5), a Teoria da Perspectiva indica duas falhas humanas que causam esses erros. A
primeira afirma que a emoção, na maioria das vezes, prejudica o autocontrole, que é
imprescindível para que o investidor tome a decisão de modo racional. A segunda falha
é a de que muitas das vezes as pessoas não entendem exatamente com que estão lidando.
Baseando-se no estudo de aversão às perdas, entende-se que o medo que os agentes
possuem em relação à perda faz com que realizem operações irracionais,
consequentemente levando-os a grandes prejuízos. Para Varella (2014, p. 33), o conceito
de aversão à perda pode ser definido por:

Pressuposto de extrema importância para a teoria de finanças, afirma-se que os


agentes financeiros atribuem às perdas um peso maior do que aos ganhos,
dispondo-se inclusive a assumir riscos maiores para evitar perdas, mas não
possuindo a mesma tolerância no que diz respeito às possibilidades de ganhos.

Excesso de Confiança

Segundo Plous (1993 apud KIMURA 2003, p. 6), o excesso de confiança, dentre
todos os comportamentos listados nas finanças comportamentais, é o que tem força para
causar uma enorme calamidade. Este comportamento faz com que os investidores
acreditem que possuem vantagens na avaliação dos ativos sobre os outros investidores, o
que por muitas vezes faz com que mantenham posições perdedoras. Também o excesso
de confiança leva o investidor a expor demais seus ativos, acreditando que essa posição
pode levá-lo a ganhos futuros consideráveis. O recomendado é que se faça uma
diversificação nos investimentos, evitando a concentração em determinados ativos.
Lintz (2004, p. 66) afirma que o excesso de confiança é uma tendência da maioria
das pessoas, que confiam excessivamente no que acreditam, mesmo se seus ativos ou
carteiras se comportem de forma desfavorável. Um dos principais comportamentos
notados em investidores profissionais é o excesso de confiança, que se define quando o
agente se denomina altamente confiante em algo em que acredita ter total domínio. Sendo

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assim, os agentes tendem, erroneamente, a passar por momentos de incerteza envolvendo


seus melhores aspectos. (Varella, 2014, p. 36-37).

Efeito Certeza

Segundo Bazerman (2004, p. 42), o fato mais evidente sobre a existência do


excesso de confiança é a tendência de os agentes apresentarem confiança excessiva
quando lhes são perguntados sobre algo de grande dificuldade. Também quando estimam
a chance de ocorrência de um evento, eles estimam uma probabilidade que os faz estar
corretos. Por exemplo, “tenho 95% de certeza do que estou falando...”. Esses 95% de
confiança indicam uma porcentagem clara de que aquilo que diz está correto. O excesso
de confiança acontece quando o que o agente estima é maior do que a precisão real sobre
o assunto.
As pessoas têm uma propensão a escolher resultados tidos como certos e uma
aversão a resultados com probabilidades maiores de perda ou de não ocorrência. Esse
comportamento é denominado de efeito certeza. Este comportamento foi considerado o
maior responsável por aversão ao risco em situações de ganhos e de propensão ao risco
se tratando de perdas (KAHNEMAN; TVERSKY, 1979 apud SILVA FILHO 2011, p.
44).
Através de experimentos, Kahneman e Tversky (1979 apud SILVA FILHO 2011,
p. 44) obtiveram respostas de seus estudos, que indicaram que os prospectos com 100%
de certeza são extremamente valorizados em relação a aqueles que oferecem níveis
menores de certeza (mesmo sendo um ganho maior). Porém, estes mesmos indivíduos
preferem uma perda com chances inferiores a 100% a uma perda líquida e certa, mesmo
que seja menor.

4 O COMPORTAMENTO DOS INVESTIDORES

Aversão à perda

De acordo com o questionário aplicado por Araújo e Silva (2006), as respostas se


encaixam com o comportamento do indivíduo em relação à aversão à perda:

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Questão 2 – Questionário Tipo “B”

Imagine que uma nova doença atingiu a população da cidade onde você reside.
Um grupo de cientistas trabalha para conter a epidemia. Eles esperam que no mínimo 600
pessoas morram por causa da doença. Duas soluções para combater a doença foram
encontradas: Solução “A” e Solução “B”. Se a Solução “A” for aplicada, 400 pessoas
serão salvas (32%). Se a Solução “B” for aplicada, há 1/3 de probabilidade de que
ninguém morrerá e 2/3 de probabilidade de 600 pessoas morrerem. (68%)
Essa questão formulada enfatiza a perda, ou seja, “pessoas morrerão”.
Comparando as respostas da questão 2 do Tipo “A” e Tipo “B”, constata-se que os
resultados demonstraram que os respondentes têm uma propensão ao risco quando
percebem uma perda.

Questão 4 – Questionário “Tipo B”

Escolha entre: A) Certeza de perder R$ 750,00 (21%) ou B) 75% de chance de


perder R$ 1000,00 e 25% de perder nada. (79%). Nesta questão, as duas opções são
matematicamente iguais (75% x 1000,00 = 750,00 + 25% x 0,00 = 0,00), no entanto,
uma quantidade expressiva de respondentes preferiu a opção “B”, demonstrando uma
forte propensão ao risco quando deparados por uma situação em se enfatizam perdas. Pois
na Questão 4 do Questionário “ Tipo A”, em que foi enfatizado um ganho, mesmo a opção
“A” tendo um valor equivalente menor, quase metade dos respondentes preferiu escolhê-
la. Este resultado foi muito semelhante ao encontrado por Kahneman e Tversky, em que
87% dos respondentes preferiam a opção “B” quando enfatizada uma perda.

Questão 5 – Questionário “Tipo A”

Imagine que você decidiu ir ao teatro e comprou um ingresso por R$ 30,00.


Quando chegou ao teatro, você descobre que perdeu o ingresso.
Você compraria outro ingresso? A) Sim (54%) ou B) Não (46%).
Nesta questão, a maioria preferiu comprar outro ingresso, demonstrando leve
estimativa de valor para com o ingresso. Diferentemente dos resultados encontrados por
Kahneman e Tversky (1997), em que a maioria preferiu não comprar outro ingresso

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(54%), foi encontrada novamente uma falta de polaridade, haja vista que quase metade
dos respondentes preferiu não comprar o ingresso.

Questão 5 – Questionário “Tipo B”

Imagine que você decidiu ir ao teatro e que o ingresso custa R$ 30,00. Quando
chegou ao teatro, você descobre que perdeu R$ 30,00. Você ainda gastaria R$ 30,00 para
comprar outro ingresso? A) Sim (73%) ou B) Não (27%).
Nesta questão, diferentemente dos resultados encontrados na Questão 5 do
Questionário Tipo “A”, a maioria preferiu comprar outro ingresso, demonstrando pouca
estimativa de valor para com o dinheiro. Os resultados encontrados por Kahneman e
Tversky foram muito semelhantes ao da amostra aqui pesquisada, demonstrando que os
respondentes realmente percebem pouco valor na quantia necessária para comprar o
ingresso. Nestes dois últimos casos citados, percebe-se apenas que, quando enfatizada
uma perda, o número de respondentes que preferem arriscar é, no mínimo, duas vezes
maior que o número de respondentes que preferem não arriscar. Isto mostra que os
respondentes, mesmo não apresentando falta de invariância, estão suscetíveis à aversão à
perda.
Questionário aplicado por Silva Filho:
Problema 3:

a) 80% de chance de ganhar R$ 4.000, 20% de chance de ganhar R$ 0.


b) Ganho certo de R$ 3.000
Problema 9:
a) 80% de chance de perder R$ 4.000, 20% de chance de perder R$ 0.
b) Perda certa de R$ 3.000

Nos problemas 3 e 9, comparando as preferências entre prospectos positivos e


negativos, evidencia-se a existência da aversão à perda. No problema 3, os indivíduos
optaram pelo prospecto B, em 60%, no qual o ganho era certo. Já no problema 9, os
indivíduos optaram pelo prospecto A, em 71%, em que há chance de perder, porém não
é uma perda certa. As preferências entre os prospectos negativos correspondentes violam
o princípio da expectativa, pois no campo positivo o efeito da certeza contribuiu para uma
preferência pela aversão ao risco de ganho certo sobre um ganho maior, porém não certo.

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Já no domínio negativo, o mesmo efeito conduz para uma preferência pelo risco de uma
provável perda a uma perda menor, porém certa. Esse comportamento mostra a presença
da aversão à perda.

Excesso de Confiança

Um exemplo de Ricciardi (2000), menciona a escolha de um investimento:


Opção 1: um ganho certo de R$ 5.000 ou; Opção 2: uma possibilidade de 80% em
ganhar R$ 7.000 ou 20% de chance de não receber nada. Pergunta: que opção dá a você
a melhor chance de maximizar seus lucros?
A maioria dos investidores optariam pela primeira opção, que é uma aposta certa
de ganho. Por isso, essa seria uma escolha racional, porém não é a mais atrativa.
Selecionando a opção 2, esta seria a melhor escolha, apresentando um valor esperado
maior, de R$ 5.600. O cálculo seria: (R$ 7.000x80%) + (0x20%) = R$ 5.600. Segundo
estudo de DeBondt (1998):

1) Quando procura aconselhamento de terceiros para a realização de um


investimento, tendencialmente qual a sua atitude perante o conselho
que lhe é dado?
a) Sigo sempre a opinião que me é sugerida; b) Tenho em consideração o
que me é aconselhado, mas procuro seguir o meu instinto; c) Depende
de que sugere o conselho; d) Sigo sempre a minha opinião.

2) Com que regularidade movimenta ou revê a sua carteira de títulos?


a) Várias vezes por semana;
b) Uma vez por semana;
c) Mensalmente;
d) Várias vezes por mês;
e) Trimestralmente;
f) Semestralmente;
g) Anualmente;
h) Outra. Qual?

Conforme respostas dos entrevistados na questão 1, o fator idade influencia em


relação ao excesso de confiança, pois quanto mais velhos, maior experiência de vida,
maior confiança em suas capacidades do que na de terceiros. Os homens confiam muito
mais na sua capacidade do que as mulheres, sendo o número de homens considerados
confiantes excessivos o dobro de mulheres.

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Tratando da questão 2, 59,5% dos entrevistados acompanha sua carteira com


regularidade mensal ou inferior, demonstrando que têm comportamentos similares ao de
excesso de confiança. Portanto, analisando as duas questões, podemos concluir que a
maioria dos indivíduos apresentam comportamento relacionado ao excesso de confiança,
uma vez que apresentam opções de resposta que demonstram comportamentos de excesso
de confiança nas duas questões.

Efeito Certeza

O exemplo abaixo simula o efeito certeza:


Situação 1: A = (4000, 0.80) ou B = (3000, 1.0), as pessoas escolhem B (80%
contra 20%). Situação 2: A = (4000, 0.20) ou B: = (3000, 0.25), as pessoas escolhem A
(65% contra 35%). Na situação 1. Os agentes não são tomadores de risco, pois escolhem
B (100% de chance de ganhar 3000), mesmo tendo a opção de menor valor esperado que
A. Isso não caracteriza um comportamento irracional, mas apenas avesso ao risco.
Entretanto, na situação 2, os mesmos agentes, se não são tomadores de risco, deveriam
novamente escolher B, pois essa opção tem maior probabilidade que A. Mas isso não
acontece. Esse comportamento dos agentes viola o axioma da substituição da Teoria da
Utilidade Esperada. Esse axioma afirma que, se B é preferido a A, então qualquer
combinação de A deve ser preferida a B. Como a probabilidade de B na segunda situação
continua sendo maior do que a de A, os agentes, nesse caso, “deveriam” escolher B.
(Milanez, 2003, p. 18)
No questionário aplicado por Silva Filho (2011), existem respostas que se
encaixam no perfil de investidores que têm o comportamento de efeito certeza. O
problema 1 refere-se à escolha de 2 alternativas:

a) 33% de chance de ganhar R$ 2.500, 66% de chance de ganhar R$ 2.400 e 1%


de ganhar R$ 0; b) Ganho certo de R$ 2.400.

No trabalho original de Kahneman e Tversky, os indivíduos optaram pelo


prospecto B em 82%, e no trabalho de Silva Filho em 71%, provando que os agentes dão
mais valor ao certo do que ao incerto, mostrando o efeito certeza.
No problema 5 refere-se a um problema não financeiro, mas evidenciando da
mesma maneira, o comportamento do efeito certeza.

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a) 50% de chance de ganhar 3 viagens, para Inglaterra, França e Itália, 50% de


não ganhar nada ou uma viagem certa para a Inglaterra

Neste problema 72% dos entrevistados optaram pelo prospecto B, onde existe uma
alternativa certa sobre o ganho da viagem, que não se caracteriza um resultado financeiro.
Problema 7:

a) 45% de probabilidade de ganhar R$ 6.000, 55% de ganhar R$ 0, b) 90% de


probabilidade de ganhar R$ 3.000 e 10% de probabilidade de ganhar R$ 0.
Problema 8:
a) 0,01% de probabilidade de ganhar R$ 6.000, 99,9% de probabilidade de
ganhar R$ 0., b) 0,02% de probabilidade de ganhar R$ 3.000, 99,98% de
probabilidade de ganhar R$ 0.

No problema 7 e 8, os resultados dos dois trabalhos são bastante semelhantes, pois


em ambos os prospectos escolhidos foram B e A, respectivamente. Os dados da presente
pesquisa no problema 7 foram 72% para o prospecto B e 83% para o prospecto A no
problema 8. Neste caso, evidencia-se que, quando as probabilidades de ganho são altas,
os indivíduos buscam resultados mais expressivos, porém, quando as probabilidades são
baixas, mostra-se a preferência por ganhos maiores. Sendo assim, quando ganhar é
possível, mas pouco provável, os indivíduos tendem a preferir alternativas que ofereçam
ganhos maiores, que é o caso do prospecto B do problema 7, em que a probabilidade de
ganho é de 90%. Porém, quando as probabilidades de ganho são baixas, os indivíduos
ficam propensos a tentar ganhos maiores, mesmo com probabilidades menores,
justificando assim a escolha da maioria pelo prospecto A. Assim, observa-se que as
atitudes dos indivíduos perante ao risco não são adequadamente incorporadas pela Teoria
da Utilidade Esperada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A literatura afirma que os investidores se comportam de forma diferente do


apregoado pela hipótese dos mercados eficientes, peça chave na teoria clássica das

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finanças. Foram apresentados os principais comportamentos e como cada um deles


influência, de forma positiva ou negativa, na carteira de investimento.
Os investidores revelam que o fator psicológico influencia e muito a tomada de
decisão. A Teoria do Prospecto mostra que, nas situações de certeza, as pessoas tendem
a escolher pelo certo, além de mostrar que as pessoas tendem a sentir mais a dor da perda
do que do ganho. Ela também indica que os indivíduos não analisam as informações por
completo, conforme argumenta a Teoria Neoclássica de Finanças (SILVA FILHO, 2011,
p. 91).
No atual estágio, as pesquisas realizadas buscam uma melhoria na Teoria
Moderna das Finanças, implementando outros ramos que podem colaborar com o estudo,
como a Psicologia e Sociologia. A junção desses outros ramos esclarece cada vez mais o
processo de tomada de decisão do investidor.
Nesse sentido, pode-se verificar que o investidor no mercado de capitais não age
apenas de forma racional, como afirma a hipótese de mercados eficientes, mas também
de forma irracional, como mostram as Finanças Comportamentais. Apesar das críticas
realizadas às Finanças Comportamentais de que há uma enorme dificuldade em
comprovar as teses por falta de um modelo matemático, os questionários e a experiência
vivida por investidores no mercado financeiro podem validar a existência desses
comportamentos.

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Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rege/article/view/36644/39365>. Acesso
em: 25 out. 2015.

€co$, Sorocaba, SP, v. 6, n. 1, p. 115-128, 2016

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