Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
€co$
Revista de Economia
v. 6, maio 2016
Sorocaba/SP
Editor responsável
Manuel Antonio Munguia Payés, Universidade de Sorocaba, Brasil
Avaliadores
Assessoria Editorial
Vilma Franzoni, Universidade de Sorocaba, Brasil
Paula Rafael Gonzalez Valelongo , Universidade de Sorocaba, Brasil
Capa
Claudio Miguel Ramos Barroso, Universidade de Sorocaba, Brasil
Secretária
Talita Silva, Universidade de Sorocaba, Brasil
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 3
Lincoln Diogo Lima
APRESENTAÇÃO
Foi com imensa honra e alegria que recebi o convite para escrever a apresentação
da 6ª edição da Revista Eco$. Destinada a apoiar e divulgar as pesquisas de seu corpo
discente, com artigos que possam contribuir para a divulgação e debate de temas voltados
a questões das áreas de abrangência do curso de ciências econômicas, os artigos aqui
apresentados tratam de temas atuais e diversos que vão desde a tecnologia e inovação,
desindustrialização, política macroeconômica até finanças comportamentais, alguns deles
com foco regional, outros de abrangência nacional e há aqueles que realizam uma
comparação internacional.
Esta edição apresenta sete artigos sempre com base em um pensamento crítico-
científico. No primeiro deles, “O processo histórico na consolidação do atual Parque
Industrial de Sorocaba”, os autores Oliveira e Fernandes dedicaram-se a avaliar como o
processo histórico de conformação da economia Sorocabana teve influência na atual
dinâmica econômica do município, em especial na configuração do atual parque industrial
sorocabano.
O segundo artigo, sob o título “Parques tecnológicos e sistemas de inovação: o
caso do Parque Tecnológico de Sorocaba”, dos autores Santos e Fernandes, propõe-se a
analisar a importância de tais parques para o aprimoramento dos sistemas regionais de
inovação, utilizando como estudo de caso o Parque Tecnológico de Sorocaba.
Ao contrário dos dois primeiros artigos que focaram na economia regional, o
terceiro artigo, dos autores Salles e Fernandes, intitulado “Geração de conhecimento e
capacitação tecnológica: análise comparativa de Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos”,
procura realizar um estudo comparativo sobre a geração de conhecimento e capacitação
tecnológica entre esses três países.
Por sua vez, no quarto artigo denominado “Evidências de desindustrialização no
Brasil: uma discussão com base na intensidade tecnológica”, os autores Vieira e
Fernandes retornam ao tema nacional e procuram verificar a relação entre a capacitação
tecnológica da indústria e sua inserção internacional.
Já o quinto artigo, intitulado “O crescimento econômico no governo Dilma (2011-
2014)”, dos autores Sato e Payés, procura analisar as causas do baixo crescimento
econômico brasileiro no primeiro mandato da presidente Dilma.
4
**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: joice_murat@hotmail.com
RESUMO: Sorocaba vem apresentando nas últimas décadas um processo de desenvolvimento consistente,
elevando sua participação relativa na economia no Estado de São Paulo. Este trabalho dedica-se a avaliar
como o processo histórico de conformação da economia de Sorocaba tem influência na atual dinâmica do
município. A análise histórica de Sorocaba se deu por meio da divisão da evolução econômica em quatro
ciclos de desenvolvimento, procurando entender esse processo desde as etapas pré-industriais até o período
mais recente, bem como comparando tal processo em relação ao restante do Estado. Verifica-se que cada
um dos ciclos econômicos vivenciados pelo município acabou criando, de alguma forma, as bases para que
o sistema produtivo e econômico presente tenha a conformação atual.
ABSTRACT: Sorocaba has been presenting a consistent development process in recent decades, increasing
its relative participation in the economy in the State of São Paulo. This work is devoted to evaluating how
the historical process of conformation of Sorocaba's economy influences the current dynamics of the
municipality. The historical analysis of Sorocaba occurred through the division of economic evolution into
four cycles of development, trying to understand this process from the pre-industrial stages to the most
recent period, as well as comparing this process with the rest of the State. It turns out that each of the
economic cycles experienced by the municipality ended up creating, in some way, the bases for the current
productive and economic system to have the up to date conformation.
1 INTRODUÇÃO
2
Notícia veiculada no Jornal Cruzeiro do Sul. Disponível em:
<http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/467092/sorocaba-e-campinas-respondem-por-335-do-pib-
industrial-paulista>.
3
Estimativa da Fundação Seade. Disponível em: <http://www.seade.gov.br>.
4
A Região Metropolitana de Sorocaba foi criada por meio da Lei Complementar 1.241/2014. Neste
instrumento legal estão definidos os municípios que a compõem e demais informações sobre sua
conformação. Disponível em: <http://www.al.sp.gov.br/norma/?id=172854>.
históricos de Sorocaba, bem como da cidade de São Paulo, verificando como começa a
industrialização do estado e, em seguida, aplicando ao caso da cidade analisada.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Até o século XVIII, segundo Furtado (1971), São Paulo era caracterizado como
sem recursos naturais. Somente no século XIX, quando o café surge do Pará e se expande
na região sudeste, é que a região passa a ter uma atividade agrícola que apresenta
dinamismo e importância relativa em relação ao restante da economia brasileira. Planta
tropical protegida pela sombra das árvores, o café é desenvolvido no Vale do Paraíba, que
por circunstâncias particulares, tais como a fácil saída pelas terras baixas do estado de
Rio de Janeiro, facilitou a locomoção dos tropeiros, responsáveis pelo transporte no gado
muar de toda a produção.
O desenvolvimento da produção cafeeira descrita por Furtado (1971) aponta que
tanto a mão de obra escrava, mas, principalmente, o trabalho do imigrante como sendo a
responsável por expandir e impulsionar a concentração da agricultura cafeeira. Os
imigrantes trouxeram técnicas de produção de manufaturados e foram ás primeiras mãos
de obras assalariadas, constituindo em suas palavras o mercado consumidor indispensável
ao desenvolvimento regional. Para Cano (1998, p 57):
Inicialmente denominada como Vila Nossa Senhora da Ponte, surge por volta de
1654, quando Baltazar Fernandes instala-se na região criando as primeiras rotas para os
comerciantes que percorriam a cidade em busca de minério. Em 1750, um registro
obrigando a passagem das tropas no local desenvolveu o comércio de Gado muar,
atividade que permitiu a expansão da região, pois, foi de extrema relevância no transporte
Valor da
Número de
Denominação Localização Produtos Produção (Mil
Operários
contos de Réis)
Fábrica de
Votorantim Sorocaba Fiação/Tecl 696 2.600
Fábrica de Sta.
Rosalina Sorocaba Fiação/Tecel 507 22.240
Souza Pereira Sorocaba Chapéus 158 1.435
Fábrica Sta. Maria Sorocaba Fiação/Tecel 200 720
Artigos de
Dias S.C Sorocaba Couro 108 700
Fábr. Fonseca Sorocaba Fiação/Tecel. 246 675
Total Sorocaba 1.915 28.370
Total Estado São Paulo 6.136 40.087
Part. % Sorocaba 31,2 70,8
Fonte: Benevides (2013).
5
Manchester, cidade do Reino Unido a noroeste da Inglaterra, ficou conhecida pelo seu amplo parque
industrial no ramo têxtil durante a 1º Revolução Industrial. Disponível em:
<http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/ju318pg10.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2015.
32,8
28
10,83 10,53
9,26 9,3
3.500
3.159
2.971 2.921 2.974
3.000
2.500
1.428 2.320
2.190
2.000
1.500 1.188
792 1.404
1.000 564
500
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: SEADE (2015).
exportados estão bens de capital, de maior valor agregado. Entre os principais parceiros
comerciais de Sorocaba está a Argentina, seguida pelos EUA e a Alemanha.
2.000
1.800 1.800 1.669
1.269 1.742
1.600 1.360
1.267 1.299
1.400 1.347
1.065
1.200
1.000 810
800
486
600
400
200
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: SEADE (2015).
61.319
56.867
54.837
49.440
48.054
43.826
43.766
39.559
35.897
34.253
34.235
33.608
29.634
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
7.027,6
6.840,3
6.586,9
6.116,4
5.586,4
5.438,6
4.794,1
4.621,1
4.429,0
4.071,2
3.977,0
3.857,7
3.399,4
3.381,9
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Paulo, 2011.
<http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=vtls000432108>. Acesso
em: 20 mar. 2015.
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 11. ed. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1971.
RESUMO: Este artigo propõe-se evidenciar que os Parques Tecnológicos são ferramentas importantes no
aprimoramento dos sistemas regionais de inovação. A hipótese presumida é de que o Parque Tecnológico
possui grande potencial no adensamento das relações existentes no sistema. A verificação dessa hipótese
se deu por meio da realização de um estudo de caso no Parque Tecnológico de Sorocaba, mediante a
triangulação de diversas fontes de informação. O estudo demonstra que os Parques Tecnológicos são
capazes de aprimorar os sistemas regionais de inovação de forma relevante, e que mediante suas
singularidades, o Parque Tecnológico de Sorocaba ainda não possui total capacidade de interferir nesse
sistema, visto que esse processo demanda tempo e constante monitoramento no desenho das políticas de
Ciência, Tecnologia e Inovação.
ABSTRACT: This article proposes to highlight that Technological Parks are important tools in the
improvement of regional innovation systems. The presumed hypothesis is that the Technological Park has
great potential in the densification of the existing relations in the system. The verification of this hypothesis
was made through the accomplishment of a case study in the Technological Park of Sorocaba, through the
triangulation of diverse sources of information. The study demonstrates that Technological Parks are
capable of improving regional innovation systems in a relevant way, and that through its singularities,
Sorocaba Technological Park still does not have total capacity to interfere in this system, since this process
demands time and constant monitoring in the design of the policies of Science, Technology and Innovation.
1 INTRODUÇÃO
6
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso
Porém, após muitos países aderirem a este tipo de política de Ciência, Tecnologia
e Inovação – C, T&I, com o intuito de aperfeiçoar o processo de inovação, observou-se
que essa perspectiva apresentava sérias limitações em razão de negligenciar diversos
aspectos inerentes à dinâmica inovativa.
Segundo Kline e Rosemberg (1986, p. 287), um fator importante que mostra a
limitação do Big Science, interpretando a inter-relação entre C, T&I é que o estoque de
conhecimento vindo do governo como bem público e acessível não terá acessibilidade
igual para todas as empresas, pois cada uma é diferente em sua capacidade de utilizar esse
conhecimento.
Após o entendimento que o processo inovativo não depende somente do
investimento em ciência básica, foi criado um novo modelo de interpretação para o
modelo de C,T&I, o chamado de relação em cadeia, ou modelo interativo, criado por
Kline e Rosemberg (1986, p. 290). Segundo os autores, o processo não pode ser visto de
uma forma linear, pois o processo possui diversas linhas de interação. O Modelo ocorre
em dois estágios, o primeiro está relacionado à busca do que a ciência diz a respeito
daquela ideia da suposta inovação, de como aquele problema pode ser resolvido,
posteriormente; o segundo, passa para a pesquisa científica, caso o problema não seja
resolvido no primeiro estágio.
Segundo Lundvall (1992, p. 1), o conceito de SI ocorre por meio de um processo
não linear (hipótese de não linearidade nas relações dos processos produtivos). O autor
aponta duas hipóteses em que os SIs estão baseados: i) que o conhecimento é um recurso
econômico e o processo de aprendizado apresenta papel crucial; ii) que na maioria das
vezes o processo de aprendizado é interativo e construído socialmente, e por isso não se
pode descartar a questão cultural de onde esse aprendizado está sendo construído.
Entretanto, é importante considerar que existem divergências entre os pontos de
vista relacionados aos SI que Lundvall (1992, p. 12) propõe e o proposto por Nelson
(1993). No primeiro, sua abordagem é mais ampla. Ele aponta que os SIs são compostos
tanto pelas firmas (empresas, organizações), universidades e centros de pesquisa, etc.,
como também pelas instituições, as quais são responsáveis de determinar os parâmetros
para as relações entre os diversos agentes no âmbito do SI. Por outro lado, Nelson (1993)
tem uma perspectiva mais restrita sobre os SIs. Ele aponta que são as instituições de
pesquisa, ou outras promotoras de criação e transmissão de conhecimento, que são as
principais fontes do processo inovativo.
Já Edquist (2005, p. 183), em sua abordagem sobre SI, diz ser necessário
compreender todos os determinantes do processo de inovação, incluindo todos os fatores,
sendo eles intangíveis como fatores sociais, políticos, organizacionais, culturais, e fatores
tangíveis, como as firmas, universidades, centros de pesquisa, entre outros órgãos que
possam compor o SI.
As análises fundamentadas em SI regionais estão baseadas na premissa de que a
inovação é um processo que requer diversos fatores externos e internos às firmas. Ela não
depende somente do conhecimento interno, mas também de como se dão as relações de
interação destas organizações em seus ambientes. O SI regional se define por ser um
sistema social que envolve interações entre diferentes conjuntos de atores em um
sistema6, e tem um padrão sistemático de interação expressado por diferentes capacidades
de aprendizado em diferentes regiões. Ela procura identificar a maneira de como o
processo produtivo é afetado tanto pela proximidade das organizações, como pelo
surgimento de instituições especificas regionalmente. E é por causa desse último ponto
que a proximidade tem grande relevância na abordagem dos SIs regionais (EDQUIST,
2005, p. 184).
Essa relevância é demonstrada por meio de três decorrências: primeiro as
vantagens dos benefícios de aglomeração espacial, estes benefícios estão relacionados ao
aprendizado dado pela interação, o segundo pela grande redução de custos de transação,
por se tratar de ambientes próximos, e o terceiro é a troca de conhecimento tácito entre as
empresas que essa proximidade proporciona (EDQUIST, 2005, p. 185).
7
Segundo Von Bertalanffy (1973, p. 53) um sistema pode ser definido como um complexo de elementos
em interação. No caso específico dos SI, isso corresponde a um conjunto de organizações (elementos do
sistema) cujas instituições – que constituem as interações entre os elementos do sistema – contribuem com
o desempenho inovativo do conjunto (SBICCA; PELAEZ, 2006, p. 417). Segundo Callon (1992, p. 84), o
grau de tradução entre os diversos atores define a capacidade de incorporar novos elementos, desta forma,
articulando as duas noções, pode-se inferir que a capilaridade dos SI está limitada a capacidade de interação
dos agentes envolvidos na dinâmica de CT&I.
[1982], p. 73). Entre os habitats de estímulo à inovação espalhados pelo mundo, inclusive
pelo Brasil, estão inseridos os chamados Parques Tecnológicos - PqTec que consistem
em empreendimentos complexos que, por um lado, necessita de volumoso aporte
financeiro e, por outro, incorre em grande incerteza em relação aos resultados.
A partir desse conhecimento foram criados vários modelos de fomento aos SIs, os
quais são adotados dependentes dos objetivos almejados frente as características do
ambiente em que se vai implantá-lo, o modelo de PqTec é um exemplo de ferramenta,
criado para estimular a interação entre os atores presentes nos SIs e alcançar o que se é
tão esperado, a inovação.
Os PqTecs são empreendimentos criados e geridos com o objetivo permanente de
promover pesquisa e inovação tecnológica, estimular a cooperação entre instituições de
pesquisa, universidades e empresas e dar suporte ao desenvolvimento de atividades
empresariais intensivas em conhecimento (STAINER, 2008, p. 9). Esses
empreendimentos são ambientes planejados, que oferecem serviços e infraestrutura de
qualidade superior, e que visam facilitar a disseminação do conhecimento, por meio da
maior interação entre universidade/centros de pesquisa e as empresas residentes, a fim de
aumentar a competitividade empresarial (FIGLIOLI, 2007, p. 13).
Os PqTecs surgiram nos EUA, calcados na experiência do Vale do Silício, na
Califórnia e na Rota 128 em Massachusetts, os dois mais famosos modelos americanos.
Surgiram no período pós 2ª Guerra Mundial buscando estimular as economias locais, pois
a Califórnia não tinha tradição industrial e Massachusetts estava em declínio. O sucesso
dessas duas implantações nos EUA contribuiu decisivamente para a criação dos mesmos
na Europa (VEDOVELLO, 2000, p. 279).
Por sua vez, as incubadoras foram criadas como mecanismo de indução de
pequenas e médias empresas, ao invés de toda uma região. Muitas vezes elas são
confundidas com o próprio PqTec, mas a verdade é que é muito comum encontrá-las
instaladas no âmbito do empreendimento, agindo com foco em novos empreendedores e
pequenas e médias empresas (VEDOVELLO, 2000, p. 279-280).
E foi no decorrer desses primeiros sucessos, a partir dos anos 60 e 70, que se notou
o estímulo e implantação de PqTec e incubadoras, com o intuito de melhorar os resultados
de produção acadêmica, a aproximação de universidades e empresas, e o
desenvolvimento em inovação em si. Segundo Vedovello (2000, p. 280), os parques não
podem ser definidos:
Não há uma definição única que possa ser aplicada a todos os parques de
tecnologia e incubadoras de empresas, devido ao fato de esses mecanismos
apresentarem uma diversidade e uma heterogeneidade muito grandes em
relação aos seus modelos. Por exemplo, no contexto europeu, mas encontrando
eco em outros, o relatório do Europe na Innovation Monitoring System [Eims
(1996)] enfatiza que a grande diversidade de estratégias observadas no
estabelecimento de parques e incubadoras na Europa reflete as diversidades
e/ou peculiaridades nacionais dentro do próprio continente, tais como
diferenças nos níveis médios de desenvolvimento tecnológico-empresarial, nas
políticas nacionais de apoio às empresas e na maior ou menor tradição na
implantação de parques e incubadoras.
É possível identificar dois modelos básicos de parques, o primeiro, que seria mais
relacionado a uma estratégia universitária (Parques Ingleses), pelo qual o foco é a
interação indústria-universidade, e a universidade é a principal chave no desenvolvimento
tecnológico. A segunda está relacionada a empreendimentos com uma estratégia regional
(Parques alemães e portugueses), que têm o foco voltado ao desenvolvimento regional,
com criação de novas empresas e novos postos de trabalho, onde os agentes
governamentais são preponderantes no processo como um todo (VEDOVELLO, 2000, p.
280-281).
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico –
OECD, os PqTecs podem atingir vários hectares, e de áreas muito variáveis, possuindo
duas características comuns em todos os empreendimentos, que é a elevada concentração
de atividades de alta tecnologia e a proximidade física de um instituto de ensino, tanto
tecnológico como uma universidade, com que a empresa possa ter um fácil acesso para
interação (OECD apud VEDOVELLO, 2000 p. 284).
Alguns objetivos dos parques tecnológicos são destacados por Massey, Quintas e
Wield apud Vedovello (2000, p. 286-288), sendo alguns explicitamente relacionados com
universidades, outros com empresas, a ligação entre ambas, ou o desenvolvimento
propriamente dito dentro da empresa. (Quadro 1).
Os PqTecs, assim como quase todos os empreendimentos de longo prazo,
possuem fases de implementação. Segundo Tadeu apud Figlioli, (2007, p. 44-45), os
passos para essa implementação se dão na seguinte ordem:
Quadro 1: Objetivos dos agentes que estão relacionados aos Parques Tecnológicos.
Ao final desse processo, o PqTec está pronto para iniciar a produção de bens e
serviços cuja matéria-prima principal será o conhecimento específico.
Outro modelo de implementação é o de Luger e Goldstein apud Figlioli (2007, p.
45), que divide o desenvolvimento de um parque em três etapas, como limites de tempo
sem previsão: incubação, consolidação e maturação.
Figlioli (2007, p. 47) resume por meio de três fases os conceitos de implementação
e estrutura de um parque. A primeira fase seria a de planejamento do parque, a qual
envolve seus estudos preliminares e concepção, com seus objetivos e estratégias, anúncio
formal de sua criação, projeto urbanístico, e elaboração de um projeto econômico
detalhado. Na segunda fase entra a implantação do parque em si, infraestrutura básica,
edifícios institucionais e de negócios, infraestruturas tecnológicas, áreas sociais e verdes.
A terceira e última fase seria a de operacionalização, é a fase em que as empresas já estão
instaladas no parque, há agora a criação e manutenção dos serviços prestados pelo parque
às empresas.
Em relação ao Brasil, a primeira ação de fomento aos parques aconteceu em 1984,
quando o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico – CNPq
lançou o programa de apoio a parques tecnológicos; receberam esse apoio os parques de
São Carlos, Campina Grande, Manaus, Joinville, Santa Maria e Petrópolis (LAHORGUE
apud FIGLIOLI, 2007, p. 69). No entanto, muitos desses empreendimentos não tiveram
continuidade, Campina Grande e São Carlos acabaram se tornando ambientes de
incubação de empresas, e Petrópolis manteve sua fundação o qual hoje é responsável pelo
Petrópolis Tecnópolis (FIGLIOLI, 2007, p. 49). E somente 20 anos após a primeira
iniciativa, em 2004, é que o governo federal retornou ao fomento de parques com os
recursos do Fundo Verde-Amarelo (LAHORGUE apud FIGLIOLI, 2007, p. 70). Segundo
Ávila (2005) apud Figlioli, (2007, p. 70), o fundo permitiu o apoio real à implantação dos
parques:
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
diversos desafios a serem superados para a ampliação de seus resultados até a fase de
consolidação.
Assim sendo, pode-se concluir que o estudo aponta que o PTS possui grande
esforço no que diz respeito à estratégia de implementação de ações para atrair empresas
ao PqTec, porém, o empreendimento é recente e não “apresenta resultados em termos de
consolidação e amadurecimento de clusters e vem desenvolvendo ações na conquista de
parceiros” (MCTI, 2015, p. 42). Entretanto, no presente momento, já estão
disponibilizados vários mecanismos e serviços, como as incubadoras, centro de inovação,
laboratórios de P&D&I e outros serviços específicos, como o Poupa Tempo da Inovação.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MASSEY, D.; QUINTAS, P.; WIELD, D. High tech fantasies: science parks in society,
science and space. London: Routledge, 1992.
Disponível em:
<http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/
conhecimento/revista/rev1410.pdf>. Acesso em: 20 fev. 2015.
**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: ana_salles@outlook.com
RESUMO: O objetivo do artigo é elaborar uma análise comparativa da capacitação tecnológica no Brasil,
Coreia do Sul e Estados Unidos. Os dados estudados mostram que os Estados Unidos e a Coreia do Sul
investem menos que o Brasil em educação, porém, investem mais nas áreas relacionadas à pesquisa e
desenvolvimento (P&D), obtendo resultados significativamente superior em termos de capacitação
tecnológica. Neste sentido, uma das principais conclusões deste trabalho foi identificar que o problema na
esfera da educação do Brasil não está na falta de investimento mas está relacionada com a eficiência e a
efetividade desse gasto.
ABSTRACT: The purpose of this article is to elaborate a comparative analysis of technological capacity in
Brazil, South Korea and the United States. Data show that the United States and South Korea invest less
than Brazil in education, but invest more in research and development (R & D) areas, obtaining significantly
better results in terms of building technological capacity. In this sense, one of the main conclusions of this
work was to identify that the problem in the Brazilian education sphere is not the lack of investment, it is
related to the efficiency and effectiveness of this expenditure.
1 INTRODUÇÃO
2
O termo cath up é comumente utilizado pelos neoschumpeterianos e pelos evolucionistas para designar o
processo de eliminação do hiato tecnológico de um país em relação à fronteira tecnológica. Fagerberg e
Godinho (2006, p. 514) explicam que esse hiato surgiu em função do processo de evolução do sistema
capitalista que criou e continua criando assimetrias na produtividade e nas condições de vida em diferentes
partes do mundo. Nestes termos, as estratégias de desenvolvimento econômico desenvolvidas por
economias de capitalismo tardio, como Brasil e Coreia do Sul, foram pautadas nas estratégias verificadas
nos países hoje considerados desenvolvidos como Estados Unidos e Alemanha no século XIX e Japão no
período pós-guerra, que utilizaram de políticas de desenvolvimento voltadas ao aprendizado tecnológico e
eliminação desse hiato tecnológico. Para maiores informações, ver Nelson (1993).
2 REVISÃO DE LITERATURA
O assunto a ser abordado surgiu com o intuito de mostrar que a área da educação
dos países deve focar na geração e transmissão do conhecimento que leva à inovação,
fator essencial e estratégico para o sucesso da competitividade das nações, que
ultimamente têm sido uma das principais preocupações do governo e do setor industrial
de qualquer país (PORTER, 1999, p. 170).
Com a recente globalização, final do século XX, de acordo com Castells (1999) o
termo “Era do Conhecimento” ou “Era da Informação” passou a caracterizar o contexto
mundial, em que as fronteiras que antes impediam as trocas de tecnologia e disseminação
de conhecimento acumulado entre as nações já não mais existem, levando ao rápido
avanço das tecnologias de informação e comunicação, também conhecidas como TICs,
evidenciando o deslocamento do modelo de sociedade industrial para uma sociedade do
conhecimento.
Para facilitar a assimilação desse novo paradigma, pode-se associar a propagação
do conhecimento contido nas tecnologias lançadas no mercado com o processo de
polinização de uma abelha, que ao buscar alimento nas flores transporta o pólen destas
em seu corpo, mesmo que não intencionalmente, e acaba gerando outras flores pelos
lugares que passa. O mesmo ocorre com as firmas, que, segundo Lastres e Albagli (1999,
p. 107), são atraídas pelos locais que oferecem vantagens de mercado, como nos casos
dos países subdesenvolvidos com mão de obra abundante e barata. Com essa quebra de
barreiras entre os países, causada pela globalização, as empresas conhecidas como
multinacionais começaram a se espalhar pelas nações em busca dessas vantagens, levando
consigo novas tecnologias bem como novos conhecimentos agregados nestas.
A Teoria da Firma desenvolvida por Penrose (1959) fundamentou-se na
perspectiva schumpeteriana de que o aprendizado é o responsável pelas mudanças
tecnológicas nos cenários das empresas, fato essencial para que os países acompanhem
essa nova dinâmica econômica mundial voltada para inovação tecnológica e
decodificação das tecnologias contidas nas multinacionais. Como consequência deste
novo paradigma mundial, houve também modificação no padrão competitivo das
empresas, que agora possuem maior nível de complexidade e maior exigência de
competitividade dos países e de seu setor industrial, e, para a autora, as experiências e o
conhecimento que se desenvolvem por intermédio do aprendizado formal e transmissível
ou pela rotina pessoal dos indivíduos que é subjetiva, vão se acumulando podendo ser
utilizados de forma produtiva possibilitando a formação da base de conhecimento das
empresas.
Para uma empresa ser inovadora é fundamental que ela entenda o que é e como
deve ser explorado o conhecimento, e para mercados oligopolizados, cenário do mercado
atual, é imprescindível que a base de conhecimento empresarial seja criativa e inovadora
(LUNDVALL, 2000) para tanto, não obstante os investimentos na área de marketing
estratégico e P&D (pesquisa e desenvolvimento) assunto este já abordado por Schumpeter
(1939), deve ser inserido também um novo comportamento junto com o novo
conhecimento, em que os indivíduos se tornam aptos a inovar.
A fim de entender melhor como funciona o processo de aprendizado mencionado
acima, Nonaka e Takeuchi (1997), autores considerados pioneiros no campo da Gestão
do Conhecimento, mostram que existe dois tipos de conhecimento: tácito e explícito, que
se complementam, estão interligados. O primeiro consiste naquele conhecimento
adquirido com a vida, de forma pessoal, e o segundo seria aquele que pode ser ensinado,
transmitido de forma sistemática, também é conhecido como conhecimento codificado,
explícito.
Pelo fato do conhecimento explícito ser formal e sistemático, é mais fácil de ser
ensinado, e para Rohem (2012, p. 35) ele pode ser codificado de diversas formas, como
em artigos científicos e patentes. Uma possível dificuldade está, então, em decodificar as
patentes que possuem um tipo de conhecimento que pode estar “protegido por segredo
industrial”, logo não está totalmente disponível. Ele pode se transformar em poderosa
arma estratégica para armazenar as novas tecnologias, “tornando-se importante fonte de
vantagem competitiva” (ROHEM, 2012, p. 64).
Já o tácito, sendo o mais importante para os processos de inovação segundo
Lundvall (1996), se torna trabalhoso, pois depende de habilidades técnicas, perspectivas
individuais, domínio do know how, contexto, crenças. Geralmente, são os profissionais
que ocupam altos cargos hierárquicos quem detêm esse tipo de conhecimento nas
empresas. Mesmo que seja impossível de codificá-lo é possível aprendê-lo com a
experiência, a partir daí se faz necessária à competência da organização em conseguir
passá-lo com qualidade, “Podem ser aprendidos pelo intercâmbio com outras pessoas por
meio do aprendizado com mestres ou pelo relacionamento escolar” (LUNDVALL, 2000).
mensurar, por meio de dados quantitativos, que essas mudanças no âmbito tecnológico
traziam impactos positivos para o crescimento econômico do país. Todavia, eles também
comprovaram que as mudanças não ocorrem de forma rápida, exigindo-se muito
investimento, tanto de tempo como de capital, para que os aprimoramentos se tornassem
viáveis às novas demandas por tecnologias inovadoras.
Conforme já fora citado, para Lundvall (2000, p. 2), “nesse novo contexto, o
objetivo principal da política de inovação deve ser contribuir para a capacitação de
empresas, de instituições voltadas para o conhecimento e da população em geral”. O autor
também afirma que as seleções por parte das empresas por empregados mais qualificados
aceleram as mudanças e inovações. Dessa forma, para um país que pretende dinamizar a
geração de inovações, a capacitação da mão de obra é imprescindível, ou seja, a formação
de bons profissionais aptos a gerar inovações deve ser realizada desde o processo de
aprendizado básico até a formação acadêmica voltada para atividades aderentes a prática
inovativa.
De acordo com os dados abaixo da Tabela 1, obtidos pelo PISA, entre os anos de
2000 até 2012, é possível notar que para as 3 áreas selecionadas, leitura, matemática e
ciências, a qualidade do ensino básico nas escolas no Brasil está abaixo da Coreia do Sul
e Estados Unidos. No ranking do último PISA, em 2012, em matemática, a Coreia do Sul
ficou em 5° lugar com 554 pontos, os EUA ficaram em 36º lugar com 481 pontos e o
Brasil ficou em 58º lugar, com 391 pontos. Na prova de leitura, a Coreia do Sul ainda
permanece em 5° lugar com 536 pontos, os EUA ocuparam a 24º posição com 498 pontos,
e a média do Brasil foi de 410 pontos, ficando na 55º posição. Em ciência, a Coreia do
Sul ainda ficou em 7° lugar com 538 pontos, os EUA ficaram em 28º lugar com 497
pontos, já o Brasil ocupou a 59º posição, com 405 pontos.
Com base nos dados anteriores obtidos pelo PISA, pode-se chegar a seguinte
pergunta, será que os problemas estão nos gastos dos países com educação? A Coreia tem
investido mais na educação do que os outros países estudados?
A resposta é negativa, pois, de acordo com o Gráfico 3, fica evidente que entre
2000 até 2011, dos países analisados, o Brasil foi o país que mais investiu em educação.
No entanto, o que se pode notar a partir da comparação entre essas duas variáveis é que a
efetividade desse gasto não repercutiu necessariamente em melhoria na qualidade do
ensino, haja visto que o Brasil obteve os piores resultados do PISA.
1.746
1.270
1.075
862
658 690
2000 2011
Outra variável que denota o esforço para geração de conhecimento voltado para a
geração de inovações está relacionada com os gastos em atividades de P&D. O Gráfico 4
mostra os gastos com P&D no período compreendido entre 2000 a 2012 de Estados
Unidos, Coreia do Sul e Brasil. Por meio dele, verifica-se que a atual potência mundial,
os Estados Unidos, que já possuía valor expressivo com esse gasto em 2000, por volta de
USD 269 bilhões, vem aumentando em 60% seus investimentos nessa área, evidenciando
a importância dos gastos com P&D para o desenvolvimento do país, e ao perceber esse
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Brasil Coreia EUA
Neste mesmo período, no Brasil, verifica-se aumento de apenas 106%. Esse valor
é pouco expressivo quando comparado com a Coreia do Sul, país que também possui um
histórico de industrialização tardia, mas que tem mostrado rápidos avanços tecnológicos
em prol desse investimento. Em 2000 a diferença desse investimento na Coréia e no Brasil
não era tão significativa e estava em torno de 11%, valor que poderia ter sido alcançado
com mais facilidade se o Brasil também estivesse disposto a entrar nessa corrida pelo
catching up tecnológico nesse período, mas isso não ocorreu da forma que deveria, pois
os investimentos brasileiros não foram suficientes para que ele conseguisse no mínimo
acompanhar a Coréia, e em 2012 essa diferença já estava em torno de 75%. Esses dados
apontam que o Brasil está ficando cada vez mais para trás e que seus esforços não estão
sendo suficientes para mudar essa posição.
O Gráfico 5 evidencia o importante papel ocupado pelo governo ao respeito dos
gastos em P&D. Essa perspectiva é corroborada por Won-Young (2005, p. 365), que
3,26 3,26
2,27
1,81
1,66 1,64
1,04 1,04
0,76
0,68 0,69 0,69
0,50 0,48 0,53 0,55 0,50 0,55
possível inserir o Brasil nesse novo contexto tecnológico e até mesmo atrair
multinacionais que ajudarão a essas gerar essas condições de inserção (SUZIGAN et.
al.,2011, p. 19).
10,4
8,8
7,3
6,3
1,4
1,0
Fonte: MCTI
Para Suzigan et. al. (2011, p. 19), as debilidades nas relações entre Ciência e
Tecnologia no Brasil explicam-se pela demora do país em criar universidades e
instituições de pesquisa e também pela industrialização tardia. Os dados apresentados no
Gráfico 6 mostram que o Brasil está começando a caminhar na direção correta e está
investindo mais na formação de pesquisadores. Isso fica evidente quando se verifica o
aumento de 40% do número de pesquisadores brasileiros, 65% para os pesquisadores sul-
coreanos, e 20% para os pesquisadores norte-americanos no período de 2000 a 2010.
Porém, a despeito do documento, a situação do Brasil está muito longe de alcançar a dos
EUA e a Coreia do Sul.
De acordo com o Gráfico 5 nota-se que em 2000 o número de artigo brasileiros
publicados era de 13.022 em 2000 e foi para 53.083 em 2012, representando aumento de
307 %; para a Coreia do Sul esse aumento foi de 298%, para os Estados Unidos, apenas
de 63,6 %. Esses dados mostram que de fato o Brasil está obtendo avanço significativo
nas publicações de artigos quando comparado aos outros dois países.
500
400
300
200
100
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Brasil Coréia do Sul Estados Unidos
Fonte: MCTI
0,0013
0,0003
Fonte: MCTI
Outro fator a ser considerado seria sobre os assuntos que englobam os artigos
publicados no Brasil, em que Brito Cruz (2007, p. 73) mostra que desde 2000, 50% das
publicações foram no “campo das ciências da vida, 33% em ciências físicas, 13% em
engenharia, tecnologia e matemática, e 3% em ciências sociais e comportamentais”.
Portanto, nota-se que o foco brasileiro está na área de agricultura, e de outras ciências
básicas, mas ainda falta o investimento nos assuntos relacionados ao desenvolvimento de
novas tecnologias no país, encontradas nas áreas de física, química e engenharias. Esses
dados apontam que os investimentos que o Brasil tem feito com nas atividades de
pesquisa não está focando no catching up tecnológico necessário para o desenvolvimento
da economia brasileira bem como para aumentar sua competividade no âmbito
internacional.
Rohem (2012) mostra que não apenas os artigos científicos são importantes
indicadores de P&D dos países, mas também as patentes. Esse instrumento é
extremamente relevante, pois são nelas que estão contidos os segredos industriais dos
países, com o mapeamento das evoluções tecnológicas observadas, registro de melhorias
nos processos, enfim, contém informações que mostram o desempenho tecnológico dos
países.
140
120
100
80
60
40
20
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Brasil Coreia do Sul Estados Unidos
Fonte: MCTI
861,3
571,0
510,8
507,4
276,6
147,6
117,9
48,84
83,2
31,9
21,8
14,6
7,0
6,1
1,0
Fonte: MCTI
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste sentido, pode-se concluir que investimentos apenas na educação não são
suficientes para levar o país até linha de chegada dessa maratona em busca da inserção
tecnológica e reconhecimento internacional, o governo deve incentivar os outros setores
a focar estrategicamente em áreas selecionadas, como P&D, assim como têm feito as
economias que hoje lideram o mercado e estão próximas ou são detentoras da fronteira
tecnológica.
Em síntese, o que se pode notar é que o Brasil apresenta situação favorável em
apenas algumas variáveis, ficando em situação inferior em quase todas as outras, o que
denota que há necessidade de um grande esforço para incrementar a geração de
conhecimento e a capacitação tecnológica do país para o cath up.
REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. The information age: economy, society and culture. United
Kingdom: Oxford University Press, 1996.
CRUZ, Carlos H. B. Ciência e tecnologia no Brasil. Revista USP, São Paulo, n.73, p. 58-
90, 2007.
ETZKOWITZ, Henry et al. The future of the university and the university of the future:
evolution of ivory tower to entrepreneurial paradigm. Research Policy, London, v. 29, n.
2, p. 313-330, 2000.
FAGERBERG, J.; GODINHO, M.M. Innovation and catching-up. In: FAGERBERG, J.,
MOWERY, D.C. NELSON, R.R. (Eds.). The Oxford handbook of innovation. United
Kingdom: Oxford University Press, 2009. p. 514-542
______. The economics of knowledge and learning. In: CHRISTENSEN, Jesper L.;
LUNDVALL, Bengt-Ake (eds.). Product Inovation, Interactive Learning and
Economic Performance. London: Emerald Group Publishing Limited, 2000. p. 21 - 42
PENROSE, E. T. The theory of growth of the firm. Oxford: Basil Blackwell, New
York, Willey, 1959.
ABSTRACT: The aim of the article is to verify the industrial technological capacity and its corresponding
international insertion. The analysis shows that there is evidence of a reduction in the technological intensity
and competitiveness of Brazil’s industry, suggesting that there is a deindustrialization process in progress
through the inability of the industry to incorporate industrial activities of the current technological
paradigma.
1 INTRODUÇÃO
Para tal, o presente artigo está dividido em quatro seções, incluindo esta
introdução. A segunda seção realiza uma discussão teórica enfatizando o papel da
indústria e a desindustrialização. Na seção seguinte é analisada a dinâmica da evolução
da atividade industrial no Brasil no período recente. Por fim, são tecidas as principais
conclusões.
evolução tecnológica. Este processo, por seu turno contribuiu para o desenvolvimento do
setor de serviços, como por exemplo, serviços de internet, convênios e telefonia. No
Brasil, ocorreu o oposto. Constatou-se a diminuição da participação da indústria no PIB
por conta da descoberta dos vastos recursos naturais que transferiram mão-de-obra para
o setor de serviços antes mesmo do ciclo de conformação industrial se completar, o que
pode ser considerado como um processo de desindustrialização precoce (LACERDA;
LOURES, 2014, p. 4).
Souza (2009, p. 10) direciona o processo de desindustrialização ao conceito de
doença holandesa, ou dutch disease, pelo qual há perda da competitividade da indústria,
voltando-se ao desenvolvimento baseado em recursos naturais e não tecnológicos. A
doença holandesa surgiu por conta de um processo de desindustrialização que a Holanda
vivenciou em 1950, quando descobriu uma vasta reserva de gás natural no mar e passou
a exportar este recurso natural. Muitas empresas estrangeiras passaram a usufruir desta
riqueza holandesa, que desencadeou prejuízo econômico para o país.
Com a comercialização internacional do gás natural, houve excesso de entrada de
divisas na Holanda, valorizando sua moeda nacional e, consequentemente, afetando
diretamente a competitividade do setor industrial. A sobrevalorização da moeda
favoreceu as importações e levou a Holanda a um processo de desindustrialização,
conforme aponta Strack e Azevedo (2012, p. 69).
Este fato vivenciado pela Holanda só se difere do caso brasileiro na questão da
commoditie. Ao invés do gás natural, a descoberta de grandes reservas de petróleo no pré-
sal acarreta rumores sobre uma possível doença holandesa “brasileira”, pela qual houve
uma valorização do Real, comprometendo a competitividade das indústrias nacionais,
visto que os preços dos produtos nacionais se tornam desfavorecidos, impulsionando
assim as importações (Ibidem). Para Oreiro e Feijó (2010, p. 223):
adotadas no cenário atual, poderiam surtir efeito sistêmico positivo, no entanto, devem
ser adotadas de maneira branda, transparente e temporária para não afetar acordos
internacionais.
3 A DESINDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL
50
46,3
40
30
26
26,3
20
10
0
1947
1949
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
1999
2001
2003
2005
2007
2009
2011
98,0 98,0
97,9 97,9
97,7
97,5
97,4
10
Dentre as condições sistêmicas para se produzir no Brasil podem ser destacadas: dificuldades
relacionadas à produção local, alto nível de tributação, carência de financiamento e condições de logística
e de infraestrutura defasadas (LACERDA; LOURES, 2014, p. 5).
11
Os produtos e indústrias de alta e média intensidade tecnológica, de acordo com o IBGE (a partir de
metodologia desenvolvida pela OECD), são: aeronáutica e aeroespacial, farmacêutica, material
informático, equipamentos de comunicação, equipamentos e maquinários elétricos, produtos químicos,
equipamentos de transporte e equipamentos mecânicos.
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Alta + Média alta Baixa + Média Baixa
De acordo com FIESP (2015), a partir de meados dos anos 2000, o processo de
desindustrialização ganhou relevância, pois a sobrevalorização cambial e os estímulos ao
consumo não foram acompanhados pelo aumento da produção nacional, o que ocasionou
a expansão da demanda por produtos importados.
Contudo, a sobrevalorização da taxa de câmbio por um longo período afetou
diretamente a competitividade da Indústria de Transformação brasileira, enquanto o
Brasil se restringia a produzir apenas produtos básicos, diante de um ambiente de escassez
de tecnologia e intensa transformação industrial internacional à escassez de tecnologia.
Tal processo, de acordo com Suzigan e Furtado (2006, p. 172), acarretou um processo de
liberalização econômica, acelerando a dinâmica tecnológica e aumentando a
complexidade tecnológica. Porém, tal expansão não foi acompanhada pelo Brasil e, como
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Alta + Média alta Baixa + Média Baixa
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Alta e média-alta Baixa média-baixa
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
MELLO, João Manuel Cardoso de; BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. Reflexões
sobre a crise atual. In: BELLUZZO, L.G; COUTINHO, R. (Orgs.). Desenvolvimento
capitalista no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 141-158.
SOUZA, Cristiano Ricardo Siqueira. O Brasil pegou a doença holandesa? 2009. 151f.
Tese (Doutorado em Economia) – Departamento de Economia da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, São Paulo,
1999. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12138/tde-
18122009-092539/pt-br.php>. Acesso em 15 mar. 2015.
SQUEFF, Gabriel Coelho. Luzes e sombras no debate brasileiro. Texto para Discussão,
Brasília, Ipea, n. 1747, 2012. Disponível em:
<http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/1125/1/TD_1747.pdf>. Acesso em: 15
mar. 2015.
RESUMO: O objetivo do artigo é analisar as causas do baixo crescimento econômico brasileiro durante o
primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff (2011-2014). Para tanto, a pesquisa baseou-se na
metodologia descritiva e na pesquisa bibliográfica, apoiada na elaboração de gráficos e tabelas das variáveis
inerentes às possíveis causas. Conclui-se que houve piora na economia mundial, o que influenciou a
economia interna. Também houve o esgotamento do modelo de crescimento econômico apoiado no
consumo das famílias, redução dos investimentos e aumento dos gastos do governo com pagamento de
dívidas e, ainda, observou-se a redução do saldo da balança comercial.
ABSTRACT: The purpose of this article is to analyze the causes of low economic growth during the first
term of President Dilma Rousseff (2011-2014). The research was based on the descriptive methodology
and the bibliographical research, supported in the elaboration of graphs and tables of the variables inherent
to the possible causes. It was concluded that there was worsening in the world economy which influenced
the domestic economy. There was also a depletion of the economic growth model supported by household
consumption, reduced investment and increased government spending on debt repayment, and a reduction
in the trade balance.
1 INTRODUÇÃO
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O investimento depende, entre outras coisas, da taxa de juros: quanto maior ela
for, menor será o investimento. A taxa de juros impacta negativamente o
investimento porque encarece os empréstimos que os empresários fazem para
poder pôr em ação as decisões de investir (ALÉM, 2010, p. 172).
13
Expressão latina que significa “em igual passo”, ou seja, na mesma proporção.
Segundo Bonatto (2010, p. 14), outra crítica ao modelo foi feita por Friedman em
1956, para ele o modelo se dividiria em mercado de bens e serviços (curva IS) e mercado
monetário (curva LM), por essa divisão o mercado real jamais seria afetado pelo lado
monetário, como se um não estivesse relacionado ao outro, ou seja, as decisões de
consumo e poupança não estivessem relacionadas com as decisões de quanto demandar
de moeda. Para ele, essas decisões são tomadas em conjunto.
3 DESENVOLVIMENTO
7,6
6,0
5,7
5,0
4,0
3,1
3,9 2,7
1,2 1,8
0,1
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
-0,2
Fonte: IBGE (2015).
10 9,3
9
8
7,7 7,7 7,4 7,4
7 6,6
6 5
5 4,3 4,7
4 3,6 3,4
3
2,7 2,5 2,5
1,9 1,5
2 1 1,3
1 0,6
0,1
0
2011 2012 2013 2014
Note-se que o Brasil teve o pior desempenho entre os cinco países em todos os
anos, exceto no ano de 2013, ocasião em que obteve um crescimento um pouco melhor
apenas do que o da África do Sul e da Rússia.
As baixas taxas de crescimento do PIB brasileiro vivenciado pelo governo Dilma
Rousseff podem ser relacionadas aos fatores que constituem a economia brasileira e,
também, a fatores exógenos, ou seja, o desaquecimento da economia internacional. “Um
dos fatores que influenciou a piora do desempenho da economia brasileira foi a alteração
do contexto internacional, considerando, ainda, que a atual configuração do comércio
mundial não é mais tão favorável ao país” (FUNDAP, 2014, p. 5).
Segundo dados do Banco Mundial (2015), a desaceleração no crescimento da Ásia
de 30,7% em 2011 para 26,7% em 2014 encerrou o ciclo de alta dos preços das
commodities, fato este que influenciou na piora dos benefícios para a balança comercial
brasileira. Os capitais estrangeiros foram atraídos devido ao elevado diferencial de juros
do Brasil contribuindo para apreciar a taxa de câmbio e manter a inflação dentro da meta
(4,5%), mas também prejudicando a competitividade da indústria nacional. Em
decorrência disso, o fator externo deixou de ser um vetor de crescimento econômico.
Segundo relatório da Fundap (2014), entre os anos de 2011 e 2014, com exceção do
terceiro e quarto trimestres de 2012, quando as exportações e importações permaneceram
praticamente estagnadas no acumulado em quatro trimestres, a demanda externa da
economia brasileira subtraiu crescimento do PIB, como podemos ver no gráfico 5:
6,94
6,07
5,67
5,2
4,47 4,44
3,82 4,09
3,22
2,55 2,2
-0,78
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Podemos observar que nos quatro primeiros anos (2003-2006) do governo Lula a
variação real média do consumo das famílias foi de apenas de 3,17% a.a., já no segundo
mandato, no qual houve políticas de incentivo ao consumo, a variação média do consumo
real das famílias passou para cerca de 5% a. a. Segundo nota técnica divulgada pelo
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (2014),
uma das razões que explicam o crescimento da economia brasileira no período é a
ampliação do mercado de crédito, foram criadas várias modalidades de crédito ao longo
desse período, como o crédito consignado em folha de pagamento, os cartões de crédito,
o crédito para aquisição da casa própria e o crédito rural, entre outros. Segundo relatório
de inflação do Banco Central (2014), a consolidação da estabilidade macroeconomia
favoreceu a redução das taxas de juros, o crescimento dos níveis de emprego e renda, e
os avanços institucionais permitiram a consolidação de modalidades com prazos mais
longos e taxas mais reduzidas, em ambiente de expansão da oferta de crédito com
manutenção da solidez do sistema financeiro. No governo Dilma foram mantidas as
mesmas políticas monetárias e fiscal expansionista adotadas pelo governo Lula, porém,
as famílias estavam consumindo menos devido ao aumento do endividamento. O gráfico
6 mostra a evolução do endividamento das famílias desde 2005:
44,95 45,95
41,79 43,62
39,38
35,33
32,42
29,13
24,46
21,6
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Fonte: Banco Central (2015).
O endividamento das famílias vem registrando alta desde o início da série histórica
do BC, em janeiro de 2005, os dados mostrados consideram o total das dívidas das
famílias em relação à renda acumulada nos últimos 12 meses. Em que pese o intuito do
governo Dilma de manter os mesmos estímulos ao consumo das famílias, o governo não
conseguiu conservar o mesmo nível de crescimento adotado pela antiga gestão devido ao
fato de que as famílias já estarem endividadas.
Outro fator que influenciou na diminuição do consumo das famílias foi o aumento
da inflação. Conforme já citado anteriormente, tais consequências interferem no
deslocamento da curva IS para esquerda, resultando na diminuição do PIB. O nível de
inflação é medido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), um alto nível da
taxa de inflação afeta principalmente no poder de compra da população em geral, devido
ao aumento contínuo dos preços, corroendo parte da renda das famílias. A tabela 1 mostra
o índice de inflação desde 2003. A inflação média no primeiro ano de mandato do
Governo Lula foi de 6,43% a. a., reduziu para 5,14% a. a. no segundo mandato e nos
primeiros quatro anos de mandato da atual presidente Dilma o nível de inflação voltou a
subir, chegando a ter uma média de 6,16% entre 2011 e 2014.
Não está fora de controle, mas seu nível é desconfortável e precisa ser
reduzido. O poder de compra dos salários vem sendo preservado conforme
apontam os dados do DIEESE, mas eles também indicam pressões
$46.456,63
$40.031,63
$44.702,88
$33.640,54 $29.792,82
$25.289,81
$24.793,92 $24.835,75 $19.294,54
$20.146,86
$2.399,48
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
$-3.930,13
Saldo da Balança comercial
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ALÉM, Ana Cláudia. Macroeconomia teoria e prática no Brasil. São Paulo: Elsiever,
2010.
RESUMO: O artigo se propõe a verificar as razões do aumento do endividamento das famílias brasileiras
durante o Governo Lula. Para isso, foi realizado um estudo bibliográfico, além da análise estatística por
meio de gráficos e tabelas. Conclui-se que o aumento do endividamento está associado à própria escolha
da política econômica em desenvolver o mercado de crédito. Além disso, fatores não econômicos, como
culturais, sociais, psicológicos, associados à baixa educação financeira da maioria das pessoas, também
foram responsáveis por grande parte desse aumento no endividamento.
ABSTRACT: The paper proposes to verify the reasons for the increase of the indebtedness of the Brazilian
families during the Lula’s term. A bibliographic study was carried out, besides the statistical analysis
through graphs and tables. It is concluded that the increase in indebtedness is associated with the choice of
economic policy in developing the credit market. In addition, non-economic factors, such as cultural, social,
and psychological factors associated with the low financial education of most people, also accounted for
much of this increase in indebtedness.
1 INTRODUÇÃO
Dados do Banco Central apontam que no período de 2005 a 2010 as dívidas das
famílias brasileiras se elevaram de 18,39% para 39,16%. Segundo levantamentos do
relatório mais recente do Mckinsey Global Institute (com base nos dados dos Bancos
Centrais Nacionais), em grande parte dos países desenvolvidos, a população deve mais
do que a sua própria renda. O documento analisa 47 países e faz um ranking considerando
___________________
13
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso
2 METODOLOGIA
Quanto à metodologia, o artigo fez opção pelo método dedutivo. Segundo Barros
e Lehfeld (2007, p. 77), esta opção se justifica porque o método escolhido permite, a partir
da construção de uma hipótese geral, deduzir fatos e argumentos para obter uma
conclusão a respeito das causas do aumento do endividamento das famílias brasileiras.
3 NOTAS TEÓRICAS
Para Pereira (1998 apud CHAIA, 2003, p. 10-12), a história do crédito demonstra
que sua evolução acompanhou o desenvolvimento econômico e as famílias passaram a
utilizá-lo de forma cotidiana, procurando satisfazer à necessidade de consumo dos mais
variados bens e serviços, articulados às múltiplas formas de financiamento, elegendo
aspectos como a redução nas taxas de juros e possibilidade de alongamento dos prazos de
pagamento. Esse crescente peso do setor financeiro na vida das famílias acaba, por outro
lado, reproduzindo um aumento do endividamento.
ao manuseio da economia por meio da política monetária e autores que consideram além
da sedução pelo crédito fatores não econômicos para explicar o endividamento.
Milton Friedman (1968 apud LOPES; ROSSETTI, 2009, p. 286-288) destaca que
o efeito da política monetária somente ocorre quando houver “ilusão monetária”, esta
ocorre devido às imperfeições do canal de informação que possibilitam enganos quanto
ao futuro. Friedman não nega que a política monetária pode e deve ter efeitos sobre as
magnitudes reais, entretanto argumenta que, no longo prazo, a moeda se neutraliza, pois
o tempo é o fator necessário para que os agentes se informem perfeitamente dado os sinais
do mercado. Mesmo os monetaristas não recomendam a manipulação indiscriminada da
oferta da moeda, o que deve haver é uma cautela quanto a sua condução. Os motivos da
cautela recomendada resultam da constatação das defasagens que existem na aplicação
desse tipo de política, que pode constituir-se em fator desestabilizador da economia, que
já teria se alterado, quando começar a surtir seus efeitos.
Montgomerie (2009 apud SANTOS; TELES, 2013, p. 28) argumenta que as
famílias contraem dívidas para complementar o rendimento às suas despesas,
intensificando desta forma suas interações com o setor financeiro. Ele considera a
realidade das famílias norte-americanas em que o endividamento está relacionado à
expansão do crédito ao consumo, que é explicada pela tentativa de manter um padrão de
vida historicamente construído, representante do modo de vida americano conhecido pela
expressão American way of life.
É preciso um diálogo entre a economia e outras ciências sociais para compreender
porque fatores não econômicos são relevantes ao aumento do endividamento; entender o
comportamento humano, fenômenos sociais e culturais ajuda a identificar porque a
procura pelo crédito para o consumo acontece. É preciso considerar que o consumidor
não tem um perfeito conhecimento sobre a melhor forma de atender as suas necessidades,
sendo esses aspectos, por sua vez, não fundamentados da teoria econômica convencional.
Garófala e Carvalho (1995, p. 34) expõem:
4 DESENVOLVIMENTO
40
35
30
25
20
15
abr/05
jul/05
abr/06
jul/06
abr/07
jul/07
abr/08
jul/08
abr/09
jul/09
abr/10
jul/10
jan/07
out/08
jan/05
out/05
jan/06
out/06
out/07
jan/08
jan/09
out/09
jan/10
out/10
Ainda conforme Relatório, o governo optou por estimular o crédito a fim de que
o Brasil retomasse seu crescimento econômico e se mantivesse aquecido. Desta forma, a
escolha do governo em reduzir a taxa Selic permitiu (como visto nas notas teóricas deste
artigo) que os bancos repassassem a seus clientes essa maior disponibilização do crédito,
com taxas de juros menores e condições mais facilitadas nos prazos para pagamento. O
que se viu no período analisado também foi uma grande bancarização da população
brasileira. A seguir, o gráfico 3 permite mostrar a evolução das taxas de juros das
operações de crédito a pessoas físicas; percebemos de forma clara sua redução.
Fonte:BACEN (2015)
Gráfico 3 – Evolução das taxas de juros das operações de crédito com recursos
livres para pessoas físicas. (% a.m.)
110
100 100,63
90
,
80
76,63
70 70,55
62,29 60,44
60
57,18
53,08
50
40 41,99
mai/03
mai/04
mai/05
mai/06
mai/07
mai/08
mai/09
mai/10
jan/03
jan/04
jan/05
jan/06
jan/07
jan/08
jan/09
jan/10
set/04
set/03
set/05
set/06
set/07
set/08
set/09
set/10
Segundo dados do Banco Central (2015), a principal dívida das famílias brasileiras
no período foi o crédito pessoal, que inclui o crédito consignado, introduzido em 2003
pela Lei nº 10.820/2003 e que foi muito estimulado durante o governo Lula. As condições
que nos países desenvolvidos, nos quais há casos em que o saldo de crédito na economia
ultrapasse 100% do PIB, porém esse aumento é relevante para o Brasil, uma vez que, na
década de 1990 o crédito retrocedeu e só foi retomado seu crescimento após a entrada de
Lula no governo.
Gráfico 5- Operações de crédito com recursos livres pessoas físicas (em milhões)
80.000
70.000
60.000
50.000
40.000
30.000
20.000
10.000
0
jan/09
jan/03
mai/03
jan/04
mai/04
jan/05
mai/05
jan/06
mai/06
jan/07
mai/07
jan/08
mai/08
mai/09
jan/10
mai/10
set/06
set/03
set/04
set/05
set/07
set/08
set/09
set/10
Fonte: BACEN (2015).
ingressaram na classe média. Esta totalizava em 2011 cerca de 105,5 milhões de pessoas,
o que corresponde a 55,05% da população.
16
14
12
10
4
jan/03
jan/06
jan/09
mai/03
jan/04
mai/04
jan/05
mai/05
mai/06
jan/07
mai/07
jan/08
mai/08
mai/09
jan/10
mai/10
set/03
set/04
set/05
set/06
set/07
set/08
set/09
set/10
Fonte: BACEN (2015).
7,5
6,1
5,7
5,2
4
3,2
1,1
-0,6
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Sabem pouco ou nada de suas finanças Tem bom conhecimento de suas finaças
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DOBBS, R.; LUND, S.; WOETZEL, J. Dívida e (não muito) desalavancagem. Relatório
Mckinsey Global Institute, Bruxelas, fev. 2015. Disponível em:
<http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-
BR&sl=en&u=http://www.mckinsey.com/insights/economic_studies/debt_and_not_mu
ch_deleveraging&prev=search>. Acesso em: 14 mar. 2015.
FIGUEIRA, Rebeca Formiga; PEREIRA, Rita de Cássia de Faria. Devo não nego, pago
quando puder: uma análise dos antecedentes do endividamento do consumidor. Revista
Brasileira de Marketing, São Paulo, v. 14, n. 5. jul/set. 2014.
LOPES, João do Carmo; ROSSETTI, José Paschoal. Economia monetária. 9. ed. São
Paulo: Atlas, 2009.
Relatório de Inflação: Relatório de economia bancária e crédito. Brasília: BCB, jun. 2013.
Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2013/06/ri201306b3p.pdf>.
Acesso em: 01 nov. 2014
SILVA, José Pereira. Gestão e análise de risco de crédito. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
**Bacharel em Ciências Econômicas pela Uniso, Sorocaba, SP, Brasil. E-mail: kaazjp@gmail.com
RESUMO: O objetivo deste artigo é esclarecer o processo de tomada de decisão do investidor sob a ótica
das Finanças Comportamentais, confrontando a hipótese de mercados eficientes, que afirma que os agentes
agem racionalmente. A metodologia se baseou na pesquisa bibliográfica e os dados tiveram tratamento com
a estatística descritiva. Os estudos de caso no Brasil mostram resultados divergentes entre a hipótese de
mercados eficientes e as finanças comportamentais, demonstrando a validade destas últimas no mercado
financeiro e de capitais.
ABSTRACT: The objective of this article is to clarify the decision making process of the investor from the
perspective of Behavioral Finance, confronting the hypothesis of efficient markets, which affirms that
agents act rationally. The methodology was based on bibliographical research and data were treated with
descriptive statistics. The case studies in Brazil show divergent results between the hypothesis of efficient
markets and behavioral finances, demonstrating the validity of the latter in the financial and capital markets.
1 INTRODUÇÃO
14
Artigo originário do Trabalho de Conclusão de Curso
Esse pilar das Finanças Modernas foi iniciado com os estudos de Fama (1970),
em um artigo do Journal of Finance (Efficient Capital Markets: a review of theory and
empirical work) onde a eficiência de mercado tinha a seguinte definição: “um mercado
no qual o preço dos ativos sempre reflete completamente todas as informações
disponíveis é chamado de eficiente” (FAMA,1970, p. 383)
Além disso, para Fama (1970, p. 383), podem ser consideradas três formas de
eficiência do mercado, sendo elas: fraca, semiforte e forte. A primeira se caracteriza em
um cenário onde nenhum investidor pode conquistar lucros que excedam o retorno obtido
(lucros em excesso) pelo mercado por meio de estratégias que se baseiam em retornos e
preços históricos. Já na semiforte, nenhum investidor pode conquistar lucros que excedam
o retorno obtido pelo mercado tendo como variável de análise informações publicamente
disponíveis (dados do pregão, demonstrativos financeiros). Na terceira e última, sendo
então a forte, nenhum investidor pode conquistar lucros que excedam o retorno obtido
pelo mercado levando em consideração quaisquer variáveis, sejam elas disponíveis ou
não.
Segundo Fama (1998, p. 2), define-se como o mercado eficiente onde há um
número expressivo de investidores em busca da maximização de lucro competindo, cada
um deles procurando predizer qual o valor futuro dos títulos, sabendo que as informações
estão disponíveis de um mesmo modo a todos os participantes.
que sigam uma escolha que foge da racionalidade. (ANACHE; LAURENCEL, 2013, p.
89-90). Segundo Simon (1957, p. 84):
Aversão à Perda
Araújo e Silva (2007, p. 49-50) afirmam que um dos principais conceitos das
finanças comportamentais é a aversão à perda. As pessoas preferem não sofrer a dor de
uma perda a sentir o prazer de um ganho da mesma proporção. Os agentes assumem riscos
quando estão perdendo, mas não fazem o mesmo quando estão ganhando.
Segundo Bernstein (1997, apud PIMENTA; BORSATO; CARVALHO, 2010, p.
4-5), a Teoria da Perspectiva indica duas falhas humanas que causam esses erros. A
primeira afirma que a emoção, na maioria das vezes, prejudica o autocontrole, que é
imprescindível para que o investidor tome a decisão de modo racional. A segunda falha
é a de que muitas das vezes as pessoas não entendem exatamente com que estão lidando.
Baseando-se no estudo de aversão às perdas, entende-se que o medo que os agentes
possuem em relação à perda faz com que realizem operações irracionais,
consequentemente levando-os a grandes prejuízos. Para Varella (2014, p. 33), o conceito
de aversão à perda pode ser definido por:
Excesso de Confiança
Segundo Plous (1993 apud KIMURA 2003, p. 6), o excesso de confiança, dentre
todos os comportamentos listados nas finanças comportamentais, é o que tem força para
causar uma enorme calamidade. Este comportamento faz com que os investidores
acreditem que possuem vantagens na avaliação dos ativos sobre os outros investidores, o
que por muitas vezes faz com que mantenham posições perdedoras. Também o excesso
de confiança leva o investidor a expor demais seus ativos, acreditando que essa posição
pode levá-lo a ganhos futuros consideráveis. O recomendado é que se faça uma
diversificação nos investimentos, evitando a concentração em determinados ativos.
Lintz (2004, p. 66) afirma que o excesso de confiança é uma tendência da maioria
das pessoas, que confiam excessivamente no que acreditam, mesmo se seus ativos ou
carteiras se comportem de forma desfavorável. Um dos principais comportamentos
notados em investidores profissionais é o excesso de confiança, que se define quando o
agente se denomina altamente confiante em algo em que acredita ter total domínio. Sendo
Efeito Certeza
Aversão à perda
Imagine que uma nova doença atingiu a população da cidade onde você reside.
Um grupo de cientistas trabalha para conter a epidemia. Eles esperam que no mínimo 600
pessoas morram por causa da doença. Duas soluções para combater a doença foram
encontradas: Solução “A” e Solução “B”. Se a Solução “A” for aplicada, 400 pessoas
serão salvas (32%). Se a Solução “B” for aplicada, há 1/3 de probabilidade de que
ninguém morrerá e 2/3 de probabilidade de 600 pessoas morrerem. (68%)
Essa questão formulada enfatiza a perda, ou seja, “pessoas morrerão”.
Comparando as respostas da questão 2 do Tipo “A” e Tipo “B”, constata-se que os
resultados demonstraram que os respondentes têm uma propensão ao risco quando
percebem uma perda.
(54%), foi encontrada novamente uma falta de polaridade, haja vista que quase metade
dos respondentes preferiu não comprar o ingresso.
Imagine que você decidiu ir ao teatro e que o ingresso custa R$ 30,00. Quando
chegou ao teatro, você descobre que perdeu R$ 30,00. Você ainda gastaria R$ 30,00 para
comprar outro ingresso? A) Sim (73%) ou B) Não (27%).
Nesta questão, diferentemente dos resultados encontrados na Questão 5 do
Questionário Tipo “A”, a maioria preferiu comprar outro ingresso, demonstrando pouca
estimativa de valor para com o dinheiro. Os resultados encontrados por Kahneman e
Tversky foram muito semelhantes ao da amostra aqui pesquisada, demonstrando que os
respondentes realmente percebem pouco valor na quantia necessária para comprar o
ingresso. Nestes dois últimos casos citados, percebe-se apenas que, quando enfatizada
uma perda, o número de respondentes que preferem arriscar é, no mínimo, duas vezes
maior que o número de respondentes que preferem não arriscar. Isto mostra que os
respondentes, mesmo não apresentando falta de invariância, estão suscetíveis à aversão à
perda.
Questionário aplicado por Silva Filho:
Problema 3:
Já no domínio negativo, o mesmo efeito conduz para uma preferência pelo risco de uma
provável perda a uma perda menor, porém certa. Esse comportamento mostra a presença
da aversão à perda.
Excesso de Confiança
Efeito Certeza
Neste problema 72% dos entrevistados optaram pelo prospecto B, onde existe uma
alternativa certa sobre o ganho da viagem, que não se caracteriza um resultado financeiro.
Problema 7:
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Daniel Rosa de; SILVA, César Augusto Tibúrcio. Aversão à Perda nas
Decisões de Risco. São Paulo: USP, 2006.
BERNSTEIN, Peter L. Against the Gods. New York: John Wiley & Sons Inc., 1998.
FAMA, Eugene; MALKIEL, Burton. Efficient capital markets: a review of theory and
empirical work. Journal of Finance, Malden, v. 25, n. 2, p. 383-417, may 1970.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
SIMON, H. Models of man: social and rational. New York: John Wiley & Sons. p. 279,
1957.