Você está na página 1de 174

Exposto

EXPOSED

Série
APENAS UMA NOITE
LIVRO DOIS

KYRA DAVIS
Envio: Soryu
Tradução: Ana Paula
Revisão Inical: Claudia Nobre, Andrea S.,
Deia KSR, Marcia Antonio, ASilva,
Mah, Renata de Cassia
Revisão Final: Ana Ferraz, Erica Janaine
e Ana Prieto
Leitura Final:Chayra Moom
Formatação:Chayra Moom
Alerta
“A tradução em tela foi efetivada pelo Grupo Pégasus
Lançamentos de forma a propiciar ao leitor o acesso à obra,
incentivando-o à aquisição integral da obra literária física ou
em formato e-book. O grupo tem como meta a seleção,
tradução e disponibilização apenas de livros sem previsão de
publicação no Brasil, ausentes qualquer forma de obtenção
de lucro, direto ou indireto.

No intuito de preservar os direitos autorais e


contratuais de autores e editoras, o grupo, sem prévio aviso e
quando julgar necessário poderá cancelar o acesso e retirar o
link de download dos livros cuja publicação for veiculada por
editoras brasileiras.

O leitor e usuário fica ciente de que o download da


presente obra destina-se tão somente ao uso pessoal e
privado, e que deverá abster-se da postagem ou hospedagem
do mesmo em qualquer rede social e, bem como abster-se de
tornar público ou noticiar o trabalho de tradução do grupo,
sem a prévia e expressa autorização do mesmo.

O leitor e usuário, ao acessar a obra disponibilizada,


também responderá individualmente pela correta e lícita
utilização da mesma, eximindo o grupo citado no começo de
qualquer parceria, coautoria ou coparticipação em eventual
delito cometido por aquele que, por ato ou omissão, tentar ou
concretamente utilizar da presente obra literária para
obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184
do código penal e lei 9.610/1998."
Sinopse

Você deveria dormir com um desconhecido. Aquelas


palavras sussurradas em seu ouvido, por seu melhor amigo,
se tornou um desafio e arrebatou o coração de Kasie. De
repente, o homem que lhe deu mais prazer ao encontrá-lo em
um luxuoso hotel de Las Vegas, um homem cujo nome nunca
me preocupou em saber, era o maior cliente da sua empresa.

Embora este homem desconhecido se torne o Sr. Dade


no escritório, o Sr. Dade se torna Robert no quarto, a paixão
que faz Kasie não negar nada que ele queira. Mas quando
seu noivo, Dave, percebe, está disposto a fazer tudo para
mante-la; o que Robert fará para afastá-la de uma vez por
todas.
Informação da série:
Parte 1 – O estranho - Distribuído
Parte 2 – Expostos - Lançamento
Parte 3 - Binding Agreement – Em Breve
Capítulo 1

O
nze dias atrás conheci um homem de braços
fortes e bonitos e com cabelos grisalhos.
Robert Dade. Nós estávamos em Las Vegas e
ele atraiu minha atenção com um sorriso. Conversamos, em
primeiro lugar, em uma mesa de jogos, em seguida, em um
bar, e mais tarde, quase sem me dar conta, já estávamos
subindo para o seu quarto de hotel.

Eu deveria ter pensado em Dave, quando Robert se


sentou ao meu lado. Dave é homem com quem namoro há
seis anos, o homem que me quer como sua esposa. Eu
deveria ter me lembrado dos meus compromissos antes de
entregar o meu corpo para Robert, nessa noite em Las Vegas.
Mas Robert desencadeou um animal dentro de mim, que
arranhou suas costas e mordeu seu pescoço. Eu não sabia
que tipo de animal era. Eu não entendi o caos que poderia
desencadear.

Ainda que o caos tenha sido tão doce. Assim como o


gosto do sorvete, depois de uma vida de dieta.

Quantas vezes eu tentei dizer adeus a Robert Dade? Em


Las Vegas, em seu escritório em Santa Mônica, na tela do
meu computador... cada vez eu acabava sem fôlego, nua,
acariciada por seus olhos e suas mãos. Tudo o que ele tem
que fazer é dizer meu nome, Kasie... E isso é tudo. Isso é tudo
o que precisa para me fazer tremer.

- Kasie, - ele sussurra e eu tremo.


Robert pensa que eu sou forte. Ele diz que quer me
libertar dos meus limites autoimpostos. Ele diz que quer
caminhar ao meu lado na praia, jantar comigo, e celebrar os
pequenos prazeres que compõem nossas vidas... juntos.

Ele diz que se preocupa comigo, não com a mulher que


eu mostro para o mundo, mas com a mulher que está por
baixo de tudo isso, a mulher que se recusa a ser sufocada
com as expectativas dos outros.

Ele me disse tudo isso, enquanto estávamos em seu


barco.

Na minha mente, eu ainda estou no barco, neste


momento. Sim, essa é a realidade que eu quero acreditar, de
mãos dadas com Robert, sussurrando palavras de confiança.
Ele me diz que podemos estar juntos e ninguém precisa se
machucar. Nós somos apenas duas pessoas, nós não temos o
poder de evitar tempestades ou transformar todo o universo
de dentro para fora. Nós somos apenas duas pessoas que se
apaixonaram.

Ele me diz que podemos fugir durante um tempo, e que,


quando voltarmos, tudo vai estar resolvido como deve ser. Eu
ainda vou ter a minha posição na empresa global de
consultoria, onde eu tenho progredido constantemente, e a
minha carreira ainda vai estar segura. Ele ainda será o CEO1
da Maned Wolf Securities, a maior conta da minha empresa.
Vamos trabalhar juntos, brincar juntos, estar juntos.

Nós não temos de sentir a dor da culpa e suas


consequências. Apenas prazer. Como se para demonstrar
isso, ele estende a mão para mim. Escova meu rosto com sua
mão. Mãos que são suaves e ásperas ao mesmo tempo.

Ele construiu coisas com essas mãos, Peças delicadas


de madeira e empresas poderosas. Ele corre as mãos pelo
meu cabelo e puxa ligeiramente.
1
CEO = Chief Executive Officer = Diretor Geral
- Kasie - diz ele, e a gaiola do animal que há em mim é
aberta.

Eu sinto sua boca na minha enquanto seus dedos


deslizam entre as minhas pernas aplicando um pouco de
pressão... bem ali contra o meu clitóris. O tecido das minhas
roupas se sente frágil contra o calor que geramos. Eu me
pergunto se eu vou tirá-las ou se elas vão derreter por conta
própria.

Mas Robert responde à pergunta quando ele puxa


minha camisa, traçando o contorno dos meus seios,
apertando meus mamilos que se apertam contra o meu sutiã.
Estamos no convés de seu barco, ancorados em um porto na
Marina Del Rey. As pessoas podem nos ver. Posso sentir seus
olhos, à medida que passam do oceano ao fogo. Eles estão
observando-o despir-me, vendo-o tocar-me e eu simplesmente
não me importo.

Porque eu estou com Robert. Porque eu sei que quando


eu estou com ele, estou segura.

Ele me puxa para ele quando suga suavemente a curva


do meu pescoço. Eu posso sentir sua ereção roçando contra o
meu estômago, e fico molhada só de imaginá-lo dentro de
mim. As pessoas estão vendo como eu tiro a sua camisa e
mostro um corpo perfeito, duro e torneado, como a arte de
um escultor. As pessoas estão vendo quando ele abre o meu
sutiã e deixa-o cair no convés.

Deito-me numa cadeira de praia... Havia uma alí no


barco?

Não importa. Na realidade eu decido que ela está ali, e


eu posso descansar meu corpo nela, seminua, os convidando
a me olharem. Deixando-os assistirem, tirarem fotos.
Nenhum deles me importa. Este é o meu mundo, eu escolho
quais regras devem ser seguidas e quais devem ser
quebradas. Fico nessa cadeira e sorrio quando sinto os dedos
de Robert trabalhando nos botões da minha cintura, sorrio
enquanto sinto-o puxando minhas calças para baixo e
suspiro quando seus dedos roçam em minha calcinha
encharcada.

- Ela é magnífica, – murmura um homem. Ele está


caminhando para o final do cais, mas posso ouvi-lo
perfeitamente. Ele nunca viu ninguém como eu. Ele nunca
viu alguém consumida por esse tipo de paixão e poder.

Observo enquanto Robert tira o cinto, seus olhos nunca


deixando os meus. Ele é alheio ao nosso público. Ele apenas
me vê, a mulher que ele quer, o animal que ele desencadeou.

Quando ele tira sua cueca, me encontro sem fôlego. Ele


é a razão pela qual os gregos decidiram que a forma humana
era digna de adoração. Seu desejo está em exposição e eu
tento chegar até ele, mas ele não deixa.

Ao contrário, ele se ajoelha diante de mim, puxa minha


calcinha molhada, e me abre com a língua.

Eu curvo minhas costas e grito. Mais gente se junta


para assistir. Mais mulheres e homens. Conecto-me com seus
olhos com tanta segurança quanto Robert Dade me toca com
suas mãos e sua boca. Sua língua continua brincando
comigo, movendo-se lentamente no início, e depois mais
rápido, enquanto seus dedos mergulham dentro de mim,
fazendo com que a experiência seja completa.

Desta vez sou eu quem dirige as minhas mãos através


de seus cabelos, com um desejo esmagador pelo meu corpo.
Meus quadris se levantam, o orgasmo está chegando, eu ouço
os sussurros dos espectadores, ouço os cliques de suas
câmeras e eu explodo, incapaz de conter-me por nem um
momento a mais.

E, em seguida, Robert se afasta, sorrindo... A cadeira em


que estou, agora parece maior, mais resistente também. Ele
se extende por cima de mim, apertando seu pênis contra o
meu núcleo... mas não me penetra, ainda não.

Ele olha em meus olhos enquanto permareço em silêncio


e o público prende a respiração. Eles compartilham a minha
expectativa, compartilham a minha necessidade e, quando,
com um golpe duro, ele empurra para dentro de mim, eu
sinto a sua aprovação enquanto meu corpo inteiro balança
com a sua força.

Eu movo meus quadris com o nosso ritmo. Eu corro


minhas unhas por sua pele macia, sinto seus músculos
rígidos, sinto-o empurrar mais e mais em meu corpo.

Ele puxa a minha perna por cima do ombro e suas


investidas são ainda mais profundas. Seus olhos nunca
deixam os meus. Eu posso sentir sua respiração, sentir sua
loção pós-barba na minha pele.

Eu mal posso me conter, a paixão é intensa, mas ele me


detém, prendendo meus braços acima da minha cabeça,
como ele faz às vezes, me forçando a não fazer nada, somente
receber esse prazer, enquanto o mundo me observa.

Agora, cada parte de mim está palpitando enquanto ele


me conduz nessa dança erótica.

- Robert - Eu gemo seu nome, a única palavra que eu


sou capaz de dizer, a única palavra que eu consigo pensar
neste momento.

Ele sorri e acelera o ritmo. É o empurrão final que eu


preciso. Mais uma vez arqueio minhas costas, minha cabeça
se move de um lado para o outro, os meus seios incham
enquanto meus mamilos escovam contra seu peito, e desta
vez sua voz se junta à minha, na medida que chegamos ao
clímax juntos, no convés do barco.

As pessoas estão observando, mas não podem nos tocar.


Somos muito poderosos para sermos incomodados por sua
atenção. Nós nem sequer nos preocupamos com sua
presença, só tentamos recuperar o fôlego, abraçados,
encharcados com nosso suor.

As pessoas estão assistindo, e elas me olham, veem a


mulher que Robert vê, veem o animal, a força e a
vulnerabilidade. Mas eu não os vejo. Tudo o que vejo agora é
o homem que está em cima de mim, respirando
profundamente. Ele olha nos meus olhos e eu sei que
estamos seguros.

- Estou apaixonado por você - ele diz.

E eu sorrio.

Essa é a realidade que eu quero acreditar, mas quando


eu me deito na cama de Dave, me sinto como uma virgem
completamente violada, nem a fantasia tem força suficiente
para que eu me agarre a ela. Ela flutua para longe em meu
subconsciente, esperando o sono chegar onde ela possa viver
novamente.

Mas eu sei que o sono é um longo caminho a percorrer.


Dave está roncando ao meu lado, aparentemente em paz. Mas
como isso é possível? Como ele pode estar tão calmo depois
da violência do nosso último encontro?

Porque eu não optei por ficar no barco. Deixei Robert em


pé no convés. E fui embora quando ele chamou meu nome.

Dave tinha descoberto a verdade. Robert não sabe disso,


mas o deixei porque eu li uma mensagem de Dave. Ele estava
esperando por mim no estacionamento, e ele estava disposto
a usar a nova informação que ele conseguiu para me
humilhar no trabalho, com a minha família... ele estava
ameaçando tornar realidade os meus pesadelos.

Eu fui até Dave para detê-lo, sim. Mas mais que isso,
porque eu lhe devia. Eu precisava compensar a dor que eu
havia causado por ter escolhido Robert.

Isso seria suficiente? Ele estaria satisfeito com sua


vingança? Talvez sim, talvez não. Dave diria que não houve
vingança. Ele dizia que estava me ajudando.

Meses atrás, em algum canal de notícias a cabo, ouvi


um terrorista sendo entrevistado por um repórter. Ele tinha
reféns, mas ele chamou de "convidados". Com um sinal, os
reféns assentiram com a cabeça e louvaram de seu algoz. Ele
era o anfitrião perfeito, disseram. Eles adoravam cada
momento de sua prisão forçada.

Essas palavras tinham saído da garganta dos


prisioneiros?

Eu não sou um refém no Oriente Médio. Eu sei que


Dave não tem planos para me matar. Tortura física não está
no meu futuro.

Mas eu entendo o sentimento ao ter que elogiar o


homem que tem a intenção de fazer você sofrer. Eu sei da
humilhação e da impotência. Eu senti isso ao falar com os
meus pais no ínicio da noite, horas antes de tomar um vôo
para casa. Com o telefone pressionado no ouvido, agradeci-
lhes por terem vindo a “maravilhosa” festa supresa que Dave
tinha organizado. Olhei para o anel de noivado vermelho rubi
no meu dedo, um anel que eu já tinha cobiçado, e disse-lhes
que não poderia esperar pelo dia de me tornar a Sra. David
Beasley.

Dave ficou em minha frente o tempo todo e observava


todos os meus atos.
Eu senti isso quando eu mandei uma mensagem para
minha amiga Simone lhe dizendo que Dave era a minha
escolha. Mandei uma mensagem porque eu não acho que eu
poderia falar a palavra "escolha" sem chorar. Na verdade,
minhas escolhas se foram. Elas desapareceram quando desci
do barco, entreguei as chaves do meu carro a Dave, e deixei
que ele dirigisse à minha prisão. Ele me conduziu e eu sentei
no banco do passageiro, torcendo minhas mãos trêmulas,
como uma refém. Como uma mentirosa.

Não são apenas os meus pais que gostam de Dave. Dave


é o afilhado de Dylan Freeland, o cofundador da empresa em
que trabalho.

- Ele é como um filho para mim. - Freeland me disse, na


minha festa de noivado. Tinha sido um lembrete sutil de que
minha carreira e minha vida amorosa não estão tão
separadas como eu gostaria.

E Dave conhece os segredos da minha família... ele sabe


que minha irmã perdeu o controle enquanto dançava
imprudentemente em sua autodestruição. Ele sabe que ela
usou seus próprios impulsos irresponsáveis para os mesmos
fins que Cleópatra usou sua serpentee, Julieta usou sua
adaga. Ele sabe que eu queria ser diferente da minha irmã.

Ele sabe que eu falhei.

E então ele me levou para sua casa e durante 10


minutos permanecemos em sua sala sem trocar uma palavra.
Eu queria quebrar o silêncio, mas eu não consegui encontrar
uma maneira de adicionar gravidade real das palavras “Sinto
muito”.

Assim, continuei no silêncio opressivo que estávamos


mantendo até o momento. Eu tinha tentado encontrar seus
olhos, mas a ferocidade de seu olhar havia forçado o meu
olhar para baixo. Ele tem apenas 1,78m, mas neste momento
a sua ira o fez mais alto, mais ameaçador.
Ele estava ali, diante de sua lareira, agarrando-se a ela,
como se pretendesse quebrá-la.

- Você é uma puta.

- Cometi um erro, – digo debilmente. - Eu... Eu acho que


tenho medo. Eu não tinha certeza sobre o casamento...

Ele pegou o copo de cima da lareira em suas mãos, e


olhou para ele antes de atirá-lo pela a sala. Ele colidiu com a
parede atrás de mim... muito longe para pensar que eu era o
seu objetivo.

Mas ainda assim.

- Você é uma puta.

- Dave, sinto muito...

- Não quero suas desculpas. - Ele deu um passo para


frente. Ele tem cabelos loiros e olhos azuis claros, cores
suaves que são contaminadas pela animosidade brutal.

Eu o machuquei. A culpa é minha.

- Se você não quer minhas desculpas - eu digo


cuidadosamente, - o que você quer?

- Eu quero que você admita isso.

- Admita o quê?

- Que você é uma puta.

Ele chega mais perto.

A última vez que fiz amor com Robert, eu tinha estado


em sua casa. Nós havíamos rido e compartilhado os detalhes
casuais de nossas vidas. Ele tinha sido bondoso e amoroso,
um equilíbrio perfeito e atraente para o nosso desejo.
Eu me sinto culpada como o inferno... mas não me sinto
como uma puta.

- Eu acho – digo em voz baixa, - que você deveria me dar


as chaves do carro. Deveríamos falar sobre isso quando você
estiver mais calmo.

Minha firmeza trouxe-lhe a um novo nível de fúria. Ele


agarrou meus braços e me empurrou contra a parede.

Quando Robert me tinha contra a parede, era


emocionante... mas o toque tinha um ardor frenético.

O ódio é uma coisa muito diferente.

A violência de Dave me afetou de maneiras que eu não


poderia ter previsto. Era como se seu tivesse saído de mim
mesma. Não era a mulher que ele tinha jogado contra a
parede, mas simplesmente uma espectadora, olhando,
observando. Eu olhava para Dave, e quanto mais furioso ele
se tornava, mais fraca me parecia. Eu o feri, eu o traí, eu
estava errada.

Mas sua reação me faz pensar que talvez eu estivesse


certa.

- Eu preciso que você me solte.

Dave hesitou. Ele queria me machucar. Talvez ele


quisesse se machucar também. Mas ao contrário de mim,
Dave tem dominio e autodisciplina.

Ele deu vários passos para trás e olhou para longe, ele
reuniu sua força de vontade. Eu não posso deixar de admirá-
lo por isso.

- Minhas chaves - eu disse de novo.

Ele continuou olhando para o nada... ou talvez ele


estivesse olhando para o passado. Talvez ele estivesse vendo
todos os erros que nos levaram a este lugar.
- Eu disse a sua mãe que poderia ter acontecido com
qualquer um, - disse ele.

Eu congelei.

- Você falou com a minha mãe?

- Isso foi há muitos anos - esclareceu ele. - Quando


fomos visitá-los em sua casa de Carmel durante o show do
automóvel de Praia Pebble. Você, seu pai e eu... todos nós
fomos, mas sua mãe decidiu ficar. A enxaqueca, disse.

- Eu me lembro.

- Te deixei alí com seu pai por cerca de uma hora. Voltei
para a casa dos seus pais e vi sua mãe, sentada em seu sofá
cor de creme em sua casa de férias, com fotografias
espalhadas por toda a mesa do café. Ela estava chorando.

- De quem eram as fotos?

- De sua irmã.

- Essas fotos não existem.

- Ela lhe contou que destruiu junto com as outras


memórias? E você acreditou?

Não respondi. Eu sabia que tudo de Melody tinha sido


descartado. Suas roupas dadas para doação ou jogadas fora,
seus antigos bonecos de pelúcia jogados na lixeira, seus
diários queimados com as fotos... Eu os vi fazer isso. Eu os
observei enquanto eles tentavam encontrar pequenas
maneiras de destruir sua memória.

- Ela manteve algumas. - disse Dave suavemente. - Se


você não fosse tão egoista, você saberia que sua mãe não foi
tão insensível a ponto de destruir tudo.

Existem alguns insultos que não podem ser discutidos.


Esse foi um deles.
- Sua mãe me disse que se sentia culpada, - continuou
ele. - Queria saber onde ela falhou e eu lhe disse que tudo o
que ela tinha que fazer era olhar para saber que os demônios
que consumiram Melody eram de sua própria autoria. Que
não era culpa de seus pais, ela estava fora de controle.

Eu não queria ouvir mais nada.

- Sua mãe me disse que sua irmã era uma puta. E eu


disse a ela que não era nada assim.

Foi quando algumas lágrimas rebeldes escaparam,


rolaram pelo meu rosto, e borraram meus olhos.

- Como ela vai viver com isso, Kasie? - Ele perguntou.


Sua voz tinha ficado mole, mesmo que as palavras
continuassem duras. Era como ser acariciado com arame
farpado.

- Ela não tem que saber, - eu quase implorei.

- Se nos separamos, ela saberá. Eu não sou como você.


Eu não acredito que mentiras bonitas, são melhores que
duras verdades. Talvez seus pais não falhem agora da mesma
forma como eles falharam quando você e sua irmã eram
meninas. Talvez eles a ajudem, porque Deus sabe que você
precisa de ajuda... se você não tiver... pense sobre o que
aconteceu com a sua irmã, Kasie.

- Isso não é justo.

- Pelo menos eles precisam saber que não podem confiar


em você. Eles precisam saber que você é uma mentirosa.

- Eu menti para você - eu gritei, minha calma


desapareceu, as lembranças de Melody, a dor nos olhos dos
meus pais, a confusão em torno de sua morte...

Se eu deitasse ao lado de Dave agora, seria difícil


lembrar de que ele deveria ser a vítima e não o bandido.
- Eu o trai, Dave, - eu disse, não tão alto dessa vez. -
Isso não significa que eu vou mentir sobre outras coisas. Isso
significa que eu não seja confiável.

- Tenho certeza de que, quando Melody foi pega pela


primeira vez, bebendo vodca aos quatorzes anos, ela insistiu
que isso não queria dizer que não se podia confiar nela para
resistir ao álcool e as drogas. Você conhece o ditado, uma vez
mentiroso, sempre um mentiroso. Os trapaceiros são
mentirosos. É uma perversão. Um problema geral que fere
tudo o que toca. Você é uma mentirosa, Kasie, e não se pode
confiar em você. Não para mim, nem para ninguém, porque
agora sabemos que quando serve os seus propósitos,
quando... o seu prazer está em jogo, você mente.

- Dave...

- Seus pais devem saber, - ele continuou. - Seu chefe


também. A equipe que trabalha com você certamente deve
saber disso. Eles devem saber que você está fodendo com seu
cliente. Eles devem saber que você fica de joelhos e chupa o
pau dele para obter a conta. Afinal, suas ações os afetam. É a
conta deles também. Eles devem saber que, quando ele se
cansar de suas atenções, e ele vai se cansar de você, eles
devem saber por que ele levou a conta para outro lugar.

- Oh Deus, por favor, Dave...

- E se seus pais, seu chefe, seus colegas de trabalho, se


todos eles decidirem rejeitá-la, da mesma maneira que seus
pais expulsaram sua irmã, você não deveria ficar com raiva,
Kasie. Eles têm o direito de se proteger. Eles têm o direito de
optar por gastar seu tempo com as pessoas que tenham
melhores valores e mais juízo do que você.

- Dave, eu lhe imploro...


- Você? - ele perguntou. Seus olhos se fixaram nos
meus, mas eu não podia lê-los. Eu não conheço esse homem
que está diante de mim, que dorme ao meu lado agora.

Talvez eu não me conheça, também.

- Você está me implorando, Kasie? - ele perguntou


novamente. - Você quer a minha ajuda?

Eu não sabia o que dizer. Era mais fácil quando ele


estava sendo violento. Eu prefiro os golpes de punho do que
os golpes de suas palavras.

- Eu quero ajudá-la, – ele disse. - Você não precisa


terminar como a Melody. Eu posso ajudá-la a encontrar o seu
caminho de volta. Se você me deixar ajudá-la, ninguém
precisa saber o que você fez. Você quer isso?

Concordo com a cabeça, incapaz de falar.

- Bom. Isso é o que eu quero também. - Ele se


aproximou de mim, acariciou meu rosto com as costas da
mão. Fiquei imóvel. Eu me senti mal.

- Eu quero que você volte a ser a mulher por quem eu


me apaixonei. Ela ainda está aí, eu sei disso. Você também
sabe, não é verdade?

Outro aceno de cabeça, outra lágrima.

- Bom, muito bom. Porque se vamos trazê-la de volta,


você tem que reconhecer o problema. Você tem que
reconhecer o que você se tornou.

Apertei meus olhos fechados. Pensei em Robert Dade.


Pensei em seu sorriso, de suas mãos quentes e suas palavras
amáveis.

- Eu preciso que você diga, Kasie. Eu preciso saber que


você percebe toda a extensão da sua degradação. Eu preciso
que você reconheça onde você está, para que possamos
começar a levá-la de volta para onde eu... onde todo mundo
precisa que você esteja.

- Dave, - eu sussurrei. Seu nome é ácido contra a minha


língua. - Por favor, não.

- Diga, Kasie. Diga isso para que eu não a exponha a


tudo isso. Diga para que possamos voltar para onde
estávamos.

Abri os olhos. Eu queria sair de mim mesma novamente.


Eu queria ser o espectador.

Mas estou aqui neste momento e não vejo uma saída.

- Diga isso. - A expressão em seu rosto era tão fria


quanto sua expectativa.

A dor, o ódio, a raiva eram totalmente inúteis, as


memórias dos beijos de Robert Dade, as memórias de paz...
Mas isso é passado agora. Eu fiz isso, eu dei toda a minha
força, a minha liberdade, minha bússola moral. Com tudo
que eu já havia perdido, como posso ainda ter algum
orgulho?

- Dave... - Engasguei com as palavras. Eu tento de novo.


- Dave... Eu sou uma puta.

E ele sorriu, enquanto eu desmoronava.


Capítulo 2

D
ave não me tocou naquela noite. Isso foi
bom, porque se tivesse, eu teria me matado.
Eu teria pedido para parar, mas nem
sempre eu consigo o que quero.

Por exemplo, não queria dormir na casa de Dave, mas


ele insistiu. E eu sei por que. Ele não quer que eu fique com
Robert. Ele queria me ver, me controlar, me manter na linha.

É engraçado, porque apenas alguns dias atrás eu queria


ser controlada, eu realmente não me importava quanto desse
controle vinha de dentro e quanto vinha de fora. Contanto
que eu fosse capaz de permanecer no caminho
predeterminado, isso era bom para mim. Eu tinha tantos
objetivos: sucesso na minha carreira, respeito daqueles que
trabalham comigo e daqueles que eu amo... mas,
principalmente, o meu objetivo era não ser como Melody.
Minha irmã tinha rejeitado todos os caminhos disponíveis
para ela. Ela correu por entre as árvores, afastando galhos,
ignorando os espinhos que arranhavam sua pele, alheia às
coisas vivas, esquecendo-se dos seres vivos que ela esmagava
com seus pés.

Robert me disse que se eu escolhesse Dave ao invés


dele, eu estaria escolhendo uma prisão sobre o desconhecido.
Eu lhe respondi que todos nós vivemos em uma espécie de
prisão. Pelo menos a gaiola com Dave é dourada.

Mas como eu poderia compartilhar de sua cama,


observando este homem que um dia eu amei, nada nesta sala
parece brilhar.
Mais uma vez eu penso em violência. Penso em colocar
um travesseiro sobre a sua cabeça e não deixá-lo escapar. Ele
seria capaz de lutar comigo? E se ele não pudesse? Eu
poderia encobrir o crime?

Estou tendo alucinações, chocada com a escuridão dos


meus pensamentos. Não são nem 06:00 h. Tenho que sair
daqui. Porque se Dave estiver certo, e eu não posso ser
confiável para resistir à tentação, então nós dois temos um
problema.

Eu caio sobre a cômoda. Não passo a noite aqui há


muito tempo. Nós sempre ficamos na minha casa. Eu moro
perto do meu escritório. Mas há outra razão pela qual eu
prefiro a minha casa. Minha casa... lá eu respiro. Mesmo
quando as coisas eram boas, eu achava a casa de Dave um
pouco sufocante. Nada é fora do lugar. Livros e CDs são
guardados em ordem alfabética e os cantos de cada lençol são
puxados e enfiados com precisão militar.

Mas de vez em quando ele me convencia a ficar e para


aquelas raras ocasiões, eu tinha algumas coisas, incluindo
algumas roupas de ginástica, escondidas na gaveta que Dave
separou para mim. No armário eu encontrei meu tênis e
empurro-o para os meus pés, enquanto Dave continua a
roncar.

Uma vez fora, eu começo a correr a velocidade de um


criminoso. Minha corrida cheira a pânico, não atletismo.

A medida que fico mais distante, vou diminuindo o


ritmo. Meu coração está disparado embora minha respiração
acompanhe meu passo. O ar é fresco e estimulante, e as
batidas dos meus pés trazem uma série de novas ideias.
Pela primeira vez eu me pergunto se não há uma
terceira via. Um caminho diferente, que pode ter alguns
solavancos, mas não abismos. Se eu pisar com cuidado, eu
posso evitar a maioria, se não todos, os espinhos. Folhas
secas estalam sob minhas solas de borracha quando eu ando
pela estrada que atravessa as casas creme de Woodland Hills.
Cada gramado está perfeitamente cuidado, cada porta
protegida pelo seu próprio sistema de segurança.

Há espinhos e espinhos. Eu não acho que eu possa


sobreviver a humilhação ou a dor que a verdade provocaria
aos meus pais. Sei que não posso sobreviver à destruição
pública da minha carreira.

Eles deveriam saber que você ficou de joelhos e chupou o


pau dele para obter a conta.

Não é verdade, mas isso não importa. Meu mestrado na


Harvard Business School, todo o meu trabalho e realizações
profissionais difíceis, tudo vai ser jogado pelas ondas da
opinião pública. Toda minha carreira será jogada ao mar e
perdida para sempre.

E os meus pais se culparão, e sei que vão me apagar de


suas vidas da mesma forma que apagaram Melody.

Outras pessoas tiveram que viver no esquecimento, por


exemplo, as mulheres em países difíceis que se mantiveram
firmes, afastaram-se de seus maridos, mesmo que tal ação
fosse considerada o último ato de vergonha; homens que se
levantaram e orgulhosamente admitiram serem gays, embora
eles soubessem que iriam ser exilados por sua comunidade,
sua igreja, e sua família.

Estes são os homens e mulheres heróicos do nosso


tempo. Mas eles têm a vantagem moral, eu não.

Sou capaz, mulher tenaz, uma sobrevivente por


completo. Mas eu nunca fui corajosa.
A realidade corta minhas entranhas. Se eu não puder
ter valor, então o que? A minha covardia me unirá a Dave
para sempre? Vou ter que deixá-lo me tocar?

Houve um momento que eu pensei que Dave era um


amante decente. Ele é gentil, atencioso... ele sempre olha em
meus olhos quando está sobre mim. Sempre me beija
enquanto eu abro minhas coxas, como um pedido educado
para sua entrada.

Robert nunca pediu nada. Ele sempre fez com que eu


soubesse que, tudo que eu tinha que fazer era dizer não, e ele
recuaria. Eu gosto do jeito que ele me prende. Eu gosto do
jeito que ele me segura com um olhar antes de me afirmar,
pressionando-se dentro de mim...

... me amando.

Robert estaria se apaixonando por mim do mesmo jeito


que eu estou me apaixonando por ele?

Eu paro no meio de uma rua vazia. O suor escorre por


minha espinha. Corri por alguns quilômetros, mas eu não
estou nem perto de sentir dor ou cansaço. Meu corpo mal
registra o esforço. Sou forte. Sou uma covarde.

Mas eu também sou inteligente. Foi minha inteligência


que abriu as portas para mim no passado. Talvez eu possa
usá-la para abrir a gaiola.

Eu olho para o sol nascente, observando como ele faz


brilhar o meu anel de noivado, lembrando-me do fogo e do
sangue. É uma bela lembrança do inferno. Relutantemente
eu viro as costas para a luz e volto para a minha prisão.

Quando eu chego lá, Dave está acordado e me olha com


desconfiança, quando eu entro pela porta.

- Onde você estava?


Eu estendo o tecido do minha roupa encharcada para
sua inspeção.

- Obviamente, eu estava correndo.

Minha impertinência traz um vinco em sua testa.


Aparentemente, ele não acha que eu ganhei o direito de
mostrar-lhe qualquer coisa, somente respeito.

- Você sabe o quão sortuda você é? - Ele pergunta.

Isso me faz pensar.

- Sortuda?

- Eu vou te dar uma segunda chance. É mais do que


você merece.

É um clichê estúpido de ameaça, mas ele está


apostando que eu estou muito assustada para desafiá-lo,
quando na verdade eu não quero essa “oportunidade”. Só
quero seu silêncio.

Eu passo por ele sem dizer uma palavra, mas quando


estou no meio da escada eu paro e me viro.

- Tenho uma pergunta.

- Sim?

- Você me encontrou na marina.

- Sim, encontrei.

Caminho de volta descendo as escadas. Mantenho meus


olhos baixos esperando que a humildade seja suficiente para
obter as respostas que eu preciso.

- Você precisa saber que não aconteceu nada naquele


barco. Eu parei antes mesmo de receber suas mensagens. Eu
fui até a marina para terminar com ele.
Ele ainda não acredita em mim. Minha verdade têm a
mesma entonação que meus delírios, e ele rejeita tudo.

- Não aconteceu nada no barco. - Digo novamente.

- E antes disso?

Eu abaixo mais a minha cabeça, deixando meu cabelo


cair em meu rosto.

- Eu cometi erros... mas não mais, Dave. Eu não vou


deixar meus impulsos me governarem.

Ele ri. Não há calor nele.

- Você não pensa que vou acreditar nisso, não é? - Ele


vira as costas para mim.

- Eu sei que vai demorar um pouco antes que você volte


a acreditar em qualquer coisa que lhe diga. - Eu admito, e eu
estou falando sério. Na minha culpa se misturam as palavras,
as lembranças e a raiva indescritível de meus sentimentos
complicados por Dave. Eu respiro fundo, dando um passo a
frente, ficando atrás dele, perto o suficiente para ele se sentir
um pouco íntimo. - Mas sem mais mentiras, certo? Eu
prometo. A partir de agora nós dois vamos ser honestos um
com o outro.

Ele se vira, e mais uma vez, parece ameaçador.

- Existe apenas uma pessoa que mente nesta sala.


Apenas um de nós agiu como puta.

As bordas irregulares da minha raiva furaram meu


coração ao falar com ele.

- Sei que você está chateado... Eu sei que eu tenho...


coisas para compensar. E sei que precisamos conversar sobre
o que aconteceu. Você pode me dizer como me encontrou
ontem? Você foi até a marina, depois pegamos meu carro e
viemos até sua casa... e o seu carro está na garagem.
Ele está calmo e um sorriso malicioso brinca nos cantos
de seus lábios.

- Quem levou você para a marina? - Pergunto em voz


baixa. - Quem mais sabe?

Ele passa por mim e vai para a cozinha, obrigando-me a


segui-lo para obter a minha resposta.

- É difícil, não é? - Ele pergunta enquanto pega uma


xícara de café.

- O que é difícil?

- Ser mantido no escuro.

Eu não respondo. Espero um momento, enquanto ele se


serve de uma xícara de café da cafeteira, ele só fez o
suficiente para uma xícara.

Eu me forço a virar e sair da sala. Eu vou descobrir


quem sabe. Eu acho que é única maneira de sair dessa. Mas
quando eu subo as escadas em direção ao chuveiro, eu
percebo que as perguntas se acumulam. Eu preciso de uma
estratégia sólida, eu preciso saber quem mais sabe...

...e eu preciso descobrir as motivações de Dave. Se ele


me odeia, por que ele quer me manter? Controle? Ou algo
mais?

Eu vou até o banheiro, fecho a porta, e retiro as minhas


roupas, enquanto aqueço o chuveiro.

A porta do banheiro se abre, me viro e vejo Dave me


olhando. Eu recuo, pegando uma toalha e cobrindo meu
corpo.

- Você é minha noiva - diz Dave, dando um passo para


frente e puxando a toalha de mim. Seu olhar se espalha sobre
minha pele nua. - E esta é a minha casa, - acrescenta.
Eu ergo minha cabeça, resistindo ao impulso de me
cobrir novamente. Eu estico meus dedos, mantendo minhas
mãos duras como pedras para que eles não enrolem em
punhos.

Dave se cansa rapidamente de seu jogo e se afasta,


andando em direção à porta.

- Além disso, - diz ele, girando casualmente sobre o


ombro, - não é como se eu estivesse vendo alguma coisa que
você não tenha mostrado a qualquer homem que queira.

Mordo meu lábio quando a porta se fecha. Talvez eu


possa encontrar coragem no ódio.
Capítulo 3

Q uando eu cheguei ao meu escritório Barbara,


minha assistente, está em sua mesa. Ela
gesticula para me aproximar, sua expressão de
culpa e preocupação. -Sr. Dade está em seu escritório.

Ninguém está autorizado a entrar no meu escritório


quando eu não estou lá. Cada consultor aqui tem muita
informação confidencial aninhada em nossos arquivos para
ser tão descuidado.

Mas é difícil resistir a Robert quando ele diz o que ele


quer, então eu sei que ele basicamente forçou Barbara para
dar-lhe entrada.

Eu tomo um bloco de papel fora de sua mesa e rabisco


uma série de tarefas braçais que eu digo que preciso a sua
atenção imediata, todas elas exigem que ela fique longe de
sua mesa. Eu fico lá até que ela saia, sabendo que eu preciso
de pelo menos alguns minutos de privacidade. Depois que ela
se foi eu entro para cumprimentá-lo.

Robert Dade está encostado na frente da minha mesa,


com os braços cruzados sobre o peito, e as pernas cruzadas à
altura dos tornozelos. Ele esta relaxado, paciente, lindo. Tudo
o que eu esperaria dele. Seus olhos encontram os meus,
quando eu passo por ele, deixando a porta fechar-se atrás de
mim.

Eu sinto como se uma onda de confissões pressionasse


contra os meus dentes cerrados. Eu quero dizer-lhe sobre o
desejo que borbulha quando eu olho para ele, e que sua
presença aqui faz as sombras um pouco mais leve.

Quero pedir-lhe para me tocar.

Mas ao invés disso eu desvio o olhar. -Nós não temos


uma reunião.

-Você está trabalhando para mim, - Robert ressalta. -


Meu negócio pode trazer à sua empresa milhões. Eu
realmente preciso de uma reunião?

Mas não é uma pergunta. Apenas uma advertência


gentil.

Silenciosamente eu tranco a porta, algo que eu quase


nunca faço, mas, no momento, as interrupções podem ser
perigosas.

-Então, você já fez a sua escolha, - diz ele, enquanto


vagueia em torno dos limites do espaço, preenchendo as
paredes amarelo pálido, acompanhadas de obras de arte
aprovadas.

-Eu lhe disse, eu estou com Dave.

Ele olha para mim acentuadamente, mais curioso do


que com raiva. -Diga isso de novo.

-Estou com Dave.

-Você está dizendo o nome dele... diferente.

Eu ri, eu quero o som sendo flutuante, mas o peso do


meu humor acrescenta um peso indesejado. -O nome dele
sempre foi Dave. Há apenas uma maneira de pronunciá-lo.

-Isso não é o que parece. Antes, quando você falava dele


parecia... determinada. Ele era a sua decisão. Agora... - Ele
deixa sua sentença cair e espera para ver se eu vou
preencher o espaço em branco. Quando eu não faço isso, ele
caminha em direção a mim, e não me movo. Eu nem sequer
pisco enquanto ele retira meu cabelo do meu rosto.

-O que é, Kasie? O que mudou? Você parece... com


medo.

-Você sabe do que eu tenho medo, - eu murmuro. -Eu


não quero perder quem eu sou. Dave me mantém ligada à
terra. Você... você é... - Eu hesitei. Eu quero dizer que ele é o
tsunami que transforma o mar em terra, mas eu não consigo
pronunciar as palavras. Eu quero a terra que eu estou em
cima, para ser destruída. Ele vai ouvir isso na minha voz.
Então, em vez disso desvio meus olhos. -Eu não posso fazer
isso, Robert.

-Não, você está repetindo linhas antigas, - diz ele


calmamente, estudando meu rosto. Ele se inclina com sua
boca perto da minha orelha. -Diga-me.

Ele está apenas tocando meu cabelo, mas cada parte do


meu corpo reage. Eu sinto o aquecimento, sinto minha
respiração parar na garganta. Eu sinto o pulsar.

-Diga-me, - diz ele, e eu fecho meus olhos. -Você está


com medo?

Eu cheguei perto dele, aperto sua camisa no meu


punho, sinto o conforto dessas águas, o poder silencioso dele.
Seus lábios se movem para longe do meu ouvido e eu sinto a
ponta de sua língua deslizando pelo meu pescoço, me
saboreando com precisão e propósito suave. Instintivamente
eu encosto-me nele enquanto a sua mão passa sobre o meu
peito.

Eu o quero. Eu quero ficar perdida nele. Meu punho se


abre e os meus dedos lentamente, quase sem querer, vagam
para os botões de sua camisa.

Sua língua se move de volta para o meu ouvido e eu


suspiro quando ele me puxa para mais perto novamente.
Seus dedos no meu cabelo, me segurando no lugar enquanto
a outra mão se move lentamente mais baixo, passando nos
meus seios, em meu estômago... abaixando... Eu sinto sua
mão deslizar entre as minhas coxas.

-Deixe-me entrar, - ele sussurra. - Apenas não aqui, - e


com isso ele acrescenta mais pressão, enviando um choque
de prazer pelo meu corpo. -Isso é bom, - diz ele, quando eu
começo a tremer. -Mas eu quero aqui, também. - E ele beija o
topo da minha cabeça. -Diga-me o que você está pensando.

Os botões de sua camisa, finalmente, cedem e eu coloco


minha mão sobre sua pele nua. Seu coração está batendo um
pouco rápido demais, como se estivesse pedindo-me para ir
em frente. Viro-me para ele e olho em seus olhos. Há algo lá
que eu não tinha notado antes. Alguma coisa dentro do
desejo. É preocupação? Necessidade?

Amor?

Sua mão ainda está entre as minhas pernas e eu me


inclino para frente e deixo meus lábios escovar contra os
seus, meus olhos ficam abertos e ele se torna um borrão de
pele levemente bronzeada com cílios negros. Seus dedos
começam a se mover e com cada curso eu sinto as coisas
caírem, medo, pensamento, confusão, até que tudo o que eu
estou ciente é a sensação que ele me provoca.

Sem uma palavra, ele afasta a mão e move-a para o cós


da minha calça. Eu sinto as mesmas se soltarem quando ele
abre os botões, desliza os dedos dentro do tecido da minha
calcinha, já molhada para ele. Quando ele descobre a
pequena mancha, eu cavo minhas unhas na pele de seu
peito.

-Nós não acabamos, - diz ele, e eu respondo com um


gemido. -Você achou que tinha acabado? Você acha que eu
não posso ver o convite no seu sorriso, no jeito que você
treme levemente quando eu chego perto? Você acha que eu
não posso ouvir o protesto silencioso forjado em você, quando
não consegue obter o suficiente de mim? Posso ler o seu
corpo como um cego lê Braille.

Ele levanta uma mão e desliza sob minha camisa, por


cima do meu sutiã, permitindo deslizar os dedos sobre os
meus mamilos endurecidos.

-Será que eles ficaram duros no momento em que me


viu? - Ele pergunta.

Eu mordo meu lábio, com medo de que se eu falar vou


admitir a verdade.

-Quanto tempo você demorou para ficar molhada? - Ele


pergunta. -Aconteceu quando eu falei? Ou foi antes de eu
terminar a minha primeira frase?

Eu desloco ligeiramente para que eu possa olhar em


seus olhos, mais uma vez. Sim, lá esta essa emoção não
identificada que não corresponde a suas palavras. Talvez
necesidade, talvez amor.

Eu quero dizer a ele o motivo real que eu deixei a


marina, mas não me atrevo. Eu sei que ele pode perceber que
existem palavras não ditas, sentir que algo está sendo retido.

Com os nossos olhos fechados seu dedo indicador


mergulha dentro de mim. Minhas unhas cavam mais fundo.

-O que você quer? - Robert pergunta. -Você realmente


quer Dave?

Eu descanso minha cabeça em seu ombro, enquanto


seu dedo continua a empurrar o seu caminho dentro de
minhas paredes, uma e outra vez. Tremo quando ele beija
meu pescoço.

-Ou você me quer dentro de você, Kasie?

Eu aceno com a cabeça contra seu ombro.


-Então eu vou precisar que goze agora. - Seus dedos
tornam-se mais insistentes, a mão livre me puxa para ele
firmemente. Algo parecido com um gemido escapa dos meus
lábios.

-Goze para mim agora, Kasie. Agora, eu quero ver você


gozar.

Eu posso ouvir as pessoas que passam no escritório, no


lado de fora, no corredor. Não me atrevo a fazer outro som.
Meus mamilos pressionando contra ele, eu me aproximo e
puxo seu cabelo, frenética para a liberação, mas com tanto
medo de me dar.

-Oh Deus, - eu sussurro.

-Não é bom o suficiente, - diz ele com insistência, a


intensidade de seu toque aumenta, ele se adianta, movendo-
me com ele até que eu estou pressionada contra a parede,
sem ter para onde ir.

-Alguém vai ouvir, - eu sussurro.

-Eu não me importo.

Eu desvio o olhar. Eu deveria estar com raiva, como eu


estou zangada com Dave, mas eu não posso pensar. Tudo
que posso fazer é reagir, e o modo que eu estou reagindo é...
excepcional.

Sua mão desliza em um pequeno espaço entre a parede


e a curva das minhas costas. Ele força para baixo, até a
minha bunda, e ele consegue me pressionar para ele, em um
instante de posse, com mais força do que antes. Outro dedo
desliza para dentro. Eu solto um pequeno grito de excitação.
Eu vejo seus olhos se moverem para baixo do meu corpo,
exigente, mas onde os olhos de Dave embaraçam, os de
Robert penetram. Eles chegam e puxam as chamas internas
que estão me consumindo. Eles fazem o fogo mais brilhante,
mais forte.
-Oh Deus, - eu digo novamente e, em seguida,
rapidamente cubro minha boca.

Mas Robert tira minha mão, segura meu braço preso,


quando ele traz os olhos para mim, mais uma vez. -Tente
mentir para mim agora, Kasie. Tente dizer-me que é ele que
você quer e não a mim.

Tento desviar o olhar, mas eu não consigo me obrigar a


fazê-lo. Eu sinto sua ereção contra o meu estômago, rígida e
forte. Eu mordo meu lábio com tanta força que eu posso
sentir o gosto de sangue, mas mesmo isso não é suficiente
para me calar enquanto seu polegar move-se para acariciar
meu clitóris.

Me leva sobre a borda. Outro grito, um pouco mais alto


desta vez. Eu não me importo com quem ouve. Eu não posso
me segurar. Eu não tenho conhecimento de nada que não
seja Robert ou eu.

Eu agarro-o pela camisa aberta. -Eu quero você. Faça


amor comigo, Robert.

-Sim. - Sua voz é um gemido de puro desejo. -Mas você


tem que deixá-lo. Quero fazer amor com você sabendo que
você é minha.

Eu fecho meus olhos, minha respiração irregular


dificulta o discurso. -Basta fazer amor comigo. Por favor.

-Prometa que você vai deixá-lo.

Suas mãos ainda me acariciando, suavemente agora, me


mantendo nas dobras da paixão, mas me segurando de outra
liberação completa.

-Eu... não posso.

E com isso ele me deixa. Em um instante ele está do


outro lado da sala, enquando eu permaneço pressionada
contra a parede, ofegando por ar. Instintivamente eu estendo
o meu braço na direção dele, como se ele fosse o meu
equilíbrio, mas ele está fora do meu alcance.

Ele está fora do alcance de todas as maneiras.

-Eu pensei que você iria parar com a traição, - diz ele em
voz baixa.

Minhas calças estão soltas em torno de meus quadris,


meu cabelo desgrenhado e em volta dos meus ombros. Eu
tento reunir meus pensamentos, mas a rapidez da mudança
de humor fez com que a sala girasse. -Robert, você não
entende...

-Eu entendo o suficiente, - diz ele secamente. -Eu


entendo o que eu tenho e o que eu não tenho.

-Não é tão simples assim!

-Sempre foi, exatamente, tão simples assim.

Eu ainda estou tentando recuperar o fôlego enquanto ele


abotoa sua camisa.

A terra está fora de seu eixo. Nada vai do jeito que


deveria. Lentamente, ao longo do período de minutos de
silêncio, minha respiração torna-se mais comedida. Eu
arrumo minhas roupas, dirijo o olhar para a janela, e olho
para céu cinzento. -Vocês são dois brutamontes, - eu digo
baixinho.

Robert gira. -Desculpe-me?

-Você acha que sabe o que é melhor para todos, sempre.


Você me diz que eu deveria ser mais independente, e então
você reclama quando eu não faço as escolhas que você quer
que eu faça.

-Eu nunca intimidei você, - ele ressalta. -Eu nunca


levantaria a mão para você, nem mesmo considerei.
Eu dei de ombros, uma melancolia súbita me cansando.
-Alguns atos de violência não se usam os punhos, mas sim
chantagem ou intimidação verbal. Outros usam prazer. Você
sabe como me fazer... sentir as coisas, e usa isso para me
controlar... exceto que você não pode, não é? Você pode me
fazer gritar seu nome, mas você não pode me fazer saltar
quando você me chama.

O rosto de Robert endureceu. -Você pensa tão pouco de


mim?

-Eu penso tão pouco dos homens.

Ele me observa. -Ontem, depois que você saiu do iate,


você fantasiou sobre mim.

Eu não respondo, mas eu sinto-me corar.

-Eu sei que sim, Kasie, - diz ele com um suspiro. -Eu sei
que, mesmo quando estou longe de você, eu estou dentro de
você. Posso tocar em você com um pensamento.

-Então me toque, - eu digo baixinho. -Toque-me com


seus pensamentos, com seus olhos, suas mãos, sua boca e
deixe-me tocar em você. - Vou até ele, eu quero ficar forte,
mas há uma necessidade em mim que eu não posso resisitr. -
Eu não posso ser sua, não agora, não da maneira que você
quer que eu seja. Tudo é complicado. Mas eu quero você,
Robert. - Eu olho para baixo, vejo que ele ainda está duro. Eu
procuro sua mão, deixo minha língua piscar sobre o polegar.
-Você vê? Com a gente, pode ser simples.

Ele sorri, quase ironicamente, e leva um passo mais


perto. -Deus sabe que eu quero você. Eu quero fazer você
gritar meu nome tão alto que vão ser capaz de ouvi-la em
outra cidade. E com esta última palavra ele puxou sua mão
da minha e usa os dedos para levantar meu queixo,
mantendo meu olhar - será em nossos termos. Não apenas o
seu e certamente não os meus.
-Isso é vingança? - Eu falo. -Eu fui para longe de você, e
agora você está se afastando de mim?

Ele balança a cabeça, eu posso ver que ele sente minha


fadiga, que involuntariamente está tornando-se a sua
própria. -Você sabe muito bem que eu nunca vou me afastar
de você. Você é a única me empurrando porta a fora.

Ele passa as mãos sobre sua própria camisa,


suavizando algumas rugas restantes. E então ele vai embora.
-Eu tenho novos produtos sendo desenvolvidos nas mãos dos
meus engenheiros. Mais sistemas de segurança amigáveis. O
setor de marketing pensa que tem um potencial significativo.
Vou lhe enviar os dados.

Eu cerro os dentes. Apenas Robert pode mudar de


paixão para negócio tão facilmente. Eles ocupam o mesmo
espaço em seu coração. É a preliminar e os abraços.
Geralmente é para mim também, mas não desta vez. Não
quando cada estatísticas e cada beijo é um desafio.

-Você e sua equipe precisam reavaliar algumas coisas


com base nos novos desenvolvimentos. Leve mais uma
semana, - diz ele. -Isso deve ser tempo suficiente para você
descobrir como você deseja lidar com as coisas. Devo enviar
os dados a seu sócio-gerente para informá-lo da mudança?

-Não, - eu murmurava: - Eu vou dizer ao Sr. Love.

-Muito bem. - Ele alisa sua lapela mais uma vez. -E


depois, como o nosso negócio será feito ou não, depende de
suas determinações.

Não perdi o duplo sentido, embora ele mantenha a sua


voz profissional, sua postura relaxada. -Oh, e Kasie? Só para
você saber, - ele estende a mão para a porta, mas não abre
quando ele faz contato visual direto mais uma vez, -eu
fantasiava sobre você ontem à noite, também.
Capítulo 4

E
nquanto eu ficava lá no meu escritório
vazio, frustrada e insatisfeita. Pergunto-me,
se eu deveria ter dito a ele? E se eu tivesse?
Teria ele me salvado?

Eu deixo sair um riso amargo. Este não é um conto de


fadas. Robert não pode vir em seu cavalo branco e selar
permanentemente os lábios de Dave. Eu ando em torno de
minha mesa e caio no meu lugar. O silêncio da sala esta
zombando de mim, lembrando-me que eu não posso mesmo
arriscar a dar um grito.

Pego minha agenda de compromissos e folheio as


páginas. Eu sempre fui uma boa planejadora. Eu ainda
acredito que se me for dado algum tempo, eu posso ser mais
esperta que Dave. Eu posso sair. Mas eu não posso arriscar
que Robert o confronte, dando assim a Dave mais munição
para sua trama. Eu vou descobrir o por quê que Dave quer
segurar-se em mim e como ele descobriu os meus segredos...

...E então eu vou descobrir o seu.

Eu vou descobrir seus segredos e eu vou amordaçá-lo


com eles. Eu vou encontrar suas mentiras e tecê-las em uma
corda para ligar suas mãos e pés. Vou deixá-lo tão indefeso
como ele acha que eu estou agora.

Você traiu primeiro.

É a voz do anjinho no meu ombro. Ele está se sentindo


negligenciado nos últimos tempos. E por que eu deveria
começar a ouvir-lo novamente? Ele quer que eu fique onde
estou e reflita sobre as coisas de volta em êxtase. Meu diabo é
mais pró-ativo.

Por exemplo, agora, meu diabo lembra-me para


descobrir como Dave chegou à marina.

Ele não dirigiu até lá e simplesmente não havia


maneira de Dave usar o transporte público. Ontem ele falou
que tinha uma reunião de manhã cedo. Mas e se ele não o
fez? E se ele tivesse esperado no carro de alguém,
estacionado discretamente na rua, só esperando para me
seguir?

Um táxi? Não, provavelmente não. Los Angeles não é


Nova York, onde o fluxo de táxis amarelos pelas ruas da
cidade são como uma migração de salmão. Em LA táxis de
qualquer cor se destacam, e se alguém tivesse estacionado na
minha rua quando saí, eu teria notado.

Então, alguém o havia levado. Um de seus colegas de


trabalho ou amigos? Mas Dave não teria se permitido a ser
humilhado na frente de alguém cuja opinião ele se
preocupava. Um detetive particular? Dave poderia ter
contratado um profissional?

Eu olho para o minha agenda de compromissos de


novo. Tenho uma reunião com minha equipe em quarenta e
cinco minutos. Eu preguiçosamente leio os nomes daqueles
que estão designados para mim para este projeto: Taci,
Dameon, Nin, Asha...

Asha.

A campainha para o meu interfone dispara e a voz de


Barbara respira através dos alto-falantes, deixando-me saber
que a longa lista de tarefas domésticas que eu solicitei a ela
esta manhã foram atendidas.
_Venha ao meu escritório, por favor, - eu digo e, em
seguida, sento-me quando a porta se abre e ela timidamente
se aproxima da minha mesa.

Barbara tem sido minha assistente por todo o tempo


que eu estou aqui. Antes ela era a assistente de um homem
que trabalhou aqui como consultor por dez anos. Ela afirma
que se contenta com um lugar calmo no mundo corporativo,
poupando sua energia para o marido e os filhos, em casa. Eu
ouvi seu discurso poético sobre as alegrias de ter tempo livre
e uma rica vida familiar. Eu não entendo o seu entusiasmo.
Amo os meus pais, mas minha vida familiar tem sido rica só
em tragédia e negação. A visão de Barbara do mundo é tão
estranha para mim como a de um membro de uma tribo na
floresta tropical brasileira. Mas, embora eu possa não ser
capaz de relacionar-me com ela, eu certamente respeito seus
pontos fortes, sendo um deles o seu aguçado poder de
observação.

-Será que Asha veio trabalhar ontem?

-Sim, - diz Barbara com um gesto definitivo.

Ah, ela veio. Então, ela não poderia ter sido quem
transportou Dave. Eu suspiro e coloco o queixo na mão. -
Tudo bem, meu time vai se encontrar aqui no final da hora.
Basta segurar meus telefonemas até que esteja terminado.

Barbara acena com a cabeça de novo e começa a girar


antes de parar. -Será que importa que Asha chegou mais
tarde?

Eu ergo minha cabeça. -Desculpe-me?

-Ela não estava aqui na parte da manhã.


Aparentemente, ela tinha algum tipo de compromisso. Mas
ela estava aqui ao meio-dia, e acho que ela ficou até tarde.

-Meio-dia, - eu repito.
-Isso é importante?

Tão importante quanto o momento da saída de Judas


da Última Ceia.

Sento-me para trás, medindo a probabilidade da


duplicidade. -Dois dias atrás, Dave ligou para o escritório...
ele estava planejando uma festa surpresa.

-Oh, saiu tudo bem? - Barbara pergunta esperançosa. -


Ele me chamou, mas eu não conseguia pensar em qual dos
nossos colegas para recomendar como convidado, desde que
você realmente tende a manter sua vida pessoal e profissional
separados.

Estremeço com isso. -Por que você disse a ele para


convidar Asha? - Eu perguntei.

Barbara me dá um olhar engraçado. -Eu não lhe disse


tal coisa. Asha veio até minha mesa quando eu estava
pendurada. Ela me enviou alguns relatórios que ela queria
que eu imprimisse e que estivesse em sua mesa para a
manhã seguinte. Ela me perguntou quem tinha telefonado e
eu disse a ela. Isso foi tudo.

-Isso foi tudo? Ela não falou com ele? Ele não a
convidou para a festa?

-Não que eu saiba... - A voz de Barbara estava


arrastada. O rápido piscar de olhos entregou seu nervosismo.
-Eu contei a ela sobre a festa... e eu mencionei que era uma
festa surpresa. Ela não entregou o segredo antes da hora, não
é? Eu acho que não deveria ter dito a ela sobre isso, mas eu
achei um gesto tão romântico... e Ma Poulette é suposto ser
um restaurante fabuloso. Eu só tinha que falar com alguém
sobre isso. Será que eu cometi um erro? Se foi assim, eu
sinto muito. Eu não quis dizer.

Levantei minha mão para detê-la. -Barbara, você não


fez nada que mereça um pedido de desculpas. - E eu estou
começando a suspeitar que o que Asha fez é tão extremo que
todas as desculpas do mundo não vão fazer a mínima
diferença.

-Diga a Asha que eu preciso vê-la.

-Antes da reunião?

-Agora.

Poucos minutos depois, Asha entra, toda graça e


vaidade. Ela estava esperando minha convocação e é ela que
dá a antecipação.

Eu fico na minha mesa e faço um gesto para uma


cadeira. Com cuidado, ela leva seus olhos examinando a sala,
à procura de algo que aparentemente não está encontrando.

-Você ouviu que eu estava indo embora? - Eu pergunto.

Sua boca mexeu e ela está suprimindo um pequeno


sorriso.

-Eu não ouvi nada. Você vai?

Eu recuperei o meu lugar, encolhendo os meus dedos.

-Então, Dave não lhe disse?

Ah, lá está, um lampejo de preocupação.

-Dave... seu noivo? Por que Dave me diria alguma


coisa? Eu mal o conheço.

-Mas você o conhecia o suficiente para levá-lo a


convidá-la para a nossa festa de noivado.

Ela encolhe os ombros, de repente entediada.

-Só porque ele ligou para o escritório para ver se havia


alguém daqui que ele deveria convidar. Eu disse que ele
deveria me convidar. Essa foi a primeira vez que eu falei com
ele, - ela se inclina para frente, seus olhos escuros são
piscinas de mistério e cinismo. -Você está indo embora,
Kasie?

-Ele ligou para o escritório, - digo, recusando-me a


deixá-la conduzir a conversa. -Ele ligou para você,
especificamente?

-Não, ele chamou sua assistente, - disse ela, agora


claramente exasperada. -Por que isso importa? Você foi
convidada a sair ou não?

Eu sorrio. Asha está fora de seu jogo. Hoje ela é mais


impaciente do que desonesta.

-Eu nunca disse que alguem me pediu para sair. Por


que diabos você chegou a essa conclusão?

Ela hesita, vendo seu estúpido erro. Indigno dela. Eu


vejo como ela reúne seus pensamentos, acalma a mente, e se
elabora.

-Você nunca deixaria o cargo livre de e espontânea


vontade, - disse ela simplesmente. -Se você está saindo, é
porque foi solicitado.

-Eu sou boa no meu trabalho, Asha. Você reconheceu


isto na outra noite. Então, novamente, por que eu iria ser
convidada a sair?

Novamente um encolher de ombros, mas este mais


praticado. Ela está pensando, talvez se perguntando o quão
longe ela poderia recuar antes de eu tê-la colidido com uma
parede de tijolos.

-A política é engraçada, - é assim que ela começa a


frase. -Às vezes as pessoas... trabalhadores perfeitamente
competentes, são convidados a sair, porque eles não se
encaixam dentro da estrutura, assim como eles originalmente
presumiram. Mas eu estou apenas especulando, Kasie. Você
é a pessoa que sugeriu que você estava indo embora.

-Eu sugeri? - pergunto. Eu mantenho a luz do


sarcasmo, quase lúdica. -Eu aqui pensando que só fiz uma
pergunta, - digo com um sorriso. -Eu sou mais do que uma
trabalhadora competente, mas não vamos perder tempo
discutindo coisas que você tanto conhece. Na verdade... agora
que penso nisso, há um monte de coisas que nós duas
sabemos, não há?

-Eu não estou entendendo.

-Bem, vamos ver. - Eu me levanto da minha cadeira


novamente. Minha raiva é intensa, mas eu gosto da maneira
como ela se sente. Eu gosto do jeito que eu sou capaz de dar-
lhe forma, formá-la em uma arma de tortura. É uma tortura
lenta, delicada e feminina... ela tem talento. Eu me imagino
segurando um bonito bisturi e esfregando-o suavemente
contra a garganta de Asha. -Nós duas sabemos que você não
deveria estar naquela festa, a menos é claro que você fosse
com outra pessoa. Eu vi você sair com Sr. Freeland. Ele era o
seu encontro? Sua forma de entrar?

-Eu dei ao Senhor Freeland meu carinho em troca de


um convite? Não, - diz ela, e agora é sua vez de sorrir. -Eu
não misturo sexo e negócios. E Você, Kasie?

Eu parei. Isso é mais audácia do que eu esperava,


mesmo para ela. -Você está me perguntando se eu sou uma
prostituta?

Asha riu. É um som surpreendentemente atraente,


quase sedutor em sua delicadeza. -Não seja boba, - diz ela. -
Você é uma mulher honrada. Você usa um anel de noivado
bastante caro para provar isso.

Eu olho para o anel. Ele aperta com muita força.


-Além disso, - continua ela, -as prostitutas fazem sexo
para o lucro. Não você. Embora depois que você começou a
namorar Dave, você conseguiu uma posição muito rentável
aqui...

-Ele me indicou para uma entrevista. Eu consegui o


emprego.

-E então você também nos trouxe uma conta muito


rentável, não é? - Asha pergunta docemente. Sua voz é a
colher de xarope usado para mascarar a amargura de um
comprimido esmagado. -Você conseguiu por si só. Sem a
ajuda de Dave em tudo. O senhor Dade apenas entregou a
você.

Eu não respondo. Em vez disso, espero, para ver o


quão longe ela vai empurrar. Seu ódio é suficiente para fazê-
la descuidada? Ela ficou me espionando, mesmo antes desse
dia no barco? Ou isso tudo são presunções e especulações?

-O que você disse a Tom Love? - Ela pergunta. -Que


você conheceu o Sr. Dade na linha de segurança no aeroporto
antes de voar para casa?

-Sim, - eu digo. Eu tenho minhas costas contra a


parede, enquanto ela olha para mim da cadeira que esta
sentada. Este é o meu escritório. Estou na posição de força
aqui. Mas a dinâmica é instável.

-É engraçado, porque eu nunca tive uma conversa com


alguém que eu não conhecesse, naquelas linhas de
segurança. Todo mundo está tão focado em obter as chaves
de seus bolsos, os seus relógios desamarrados de seus
pulsos, não é realmente um ‘vamos conhecer a pessoa que
temos ao lado, não é?

-Para toda regra, há exceções.

-Verdade, - Asha concorda com um aceno de cabeça. -


E, para cada crime existe uma penalidade. Quando o Sr.
Dade ligou para Tom para dizer-lhe que queria a consultora
Kasie Fitzgerald para chefiar uma equipe para ajudá-lo a
preparar sua empresa para uma oferta pública, ele teve uma
história diferente de sua primeira reunião. Ele disse que
vocês dois se conheceram em uma mesa de vinte e um.

Eu levanto o meu queixo como se o gesto pudesse


aumentar minha altura. Eu preciso ser superior, mas eu não
gerencio. Suas palavras cortam como se fossem faca. Tom
nunca me disse que minha história contradizia a verdadeira
história que ele aparentemente já tinha obtido de Robert.

O que mais Robert tinha dito a ele? Ele disse a Tom


que acabamos em seu quarto? Não, ele não teria
compartilhado qualquer um desses segredos. Por um breve
momento, minha mente me trai, me trazendo de volta à noite,
forçando-me a lembrar da sensação de como aquele homem,
que eu só conhecia como o Sr. Dade, tinha tomado um cubo
de gelo encharcado de scotch, brevemente tocando meu
clitóris, e depois lambeu o licor de mim com o toque de sua
língua. Imagens de suas mãos em meus quadris, da sua
cabeça no meu colo enquanto eu pegava a parte de trás da
minha cadeira, minha saia até minha cintura... Eu nunca
tinha feito nada parecido antes.

Eu estava pagando por isso agora.

Eu poderia tentar convencer Asha que Robert é o


mentiroso. Eu poderia dizer-lhe que ele tinha feito uma falsa
história de como nos conhecemos e insinuar coisas que
nunca aconteceram, como alguns homens são capazes de
fazer.

Mas eu não posso fazer isso. Eu não posso carregar a


minha vergonha nos ombros de Robert. No entanto, o preço
da verdade excede meu meio.

-Eu não sinto a necessidade de dizer ao meu chefe que


eu me envolvo ocasionalmente em jogos de azar, - eu digo,
esperando que desculpa não soe tão fraca a ela como faz para
mim. -Algumas pessoas não aprovam.

-Tom Love aprova tudo o que traz negócios, e seu


tempo em Las Vegas definitivamente fez isso.

-Asha, onde você estava ontem de manhã?

-Eu estava em um carro, - diz ela, inclinando-se para


trás em sua cadeira. -Com seu noivo.

E agora eu vejo que eu tenho abordado tudo errado. Eu


tinha assumido que ela não queria que eu pensasse nela
como uma suspeita, como alguém tão desesperado para me
minar correndo atrás de mim, à procura de migalhas de pão,
pistas que poderiam levá-la para maiores pecados. Mas eu
sou a única aqui que se importa com o que as pessoas
pensam. Eu sou a única a olhar para esconder meus defeitos
com camadas de gelo. Asha se preocupa apenas com o poder.

E este fato lhe dá todo o poder do mundo.

Seus lábios se espalham em um sorriso de Cheshire2. -


Você acha que eu transei com ele? Será que você se
aborreceu? Ou seria apenas o campo de jogo?

Ela se levanta, e cruza o espaço que nos separa. Ela


está perto, muito perto. -Eu nunca iria transar com Dave, -
ela ronrona. -Eu te comeria, apesar de tudo. Diga-me, Kasie,
você já foi tocada por uma mulher? - Ela chega para frente e
pincela a mão contra o meu peito. Eu salto para trás,
chocada e completamente supresa. Quando eu pedi a
Barbara para chamar Asha em meu escritório, eu tinha um
plano. Eu tinha uma armadilha para um lobo. Eu não tinha
entendido que o predador que estava enfrentando era uma
víbora.

2
O gato risonho de Alice no País das Maravilhas.
-Eu não sou uma lésbica, não exatamente, - explica
Asha, respondendo a uma pergunta que ninguém tinha feito.
-É mais como autoridade, privilégio... o direito que me atrai.
Eu gosto de tirar fora, como tantas roupas desnecessárias.
Eu adoraria vê-la nua, amarrada a uma cama, seu corpo
respondendo ao meu toque, mesmo que você não queira. Eu
adoraria vê-la completamente vulnerável, sem a aparência de
controle. Então, novamente, você está completamente
vulnerável agora, não é? E se há alguém aqui nesta sala está
com o controle, sou eu.

Asha está tentando cometer suicídio em sua carreira?


Ela está me ameaçando! Se eu dissesse aos Recursos
Humanos o que ela está dizendo para mim agora...

Minhas bochechas se aquecem. Seu sorriso é suave,


quase simpático.

-Você não vai contar a ninguém sobre essa conversa,


Kasie. Você não pode. Uma de nós se preocupa com sua
reputação pessoal, e posso destruí-la com uma palavra. - Ela
inclina o ombro contra a parede ao meu lado, muito perto,
mas não me toca. -Eu aposto que você se faz vulnerável para
o Sr. Dade. Ele é um homem que pode fazer uma mulher
implorar, eu tenho certeza. E eu aposto que o homem se
esforça. Caras com mãos grandes e ásperas, como as dele
são, sempre o fazem. Aposto que sua vagina doeu por dias
depois que ele fez com você.

-Saia do meu escritório.

-Mas você é a pessoa que me pediu para vir, não é,


Kasie? - ela pergunta. -Você me trouxe aqui para brincar
comigo, descobrir o que eu sei. Bem, - diz ela, avançando
ainda mais perto. Eu viro minha cabeça, mas eu ainda posso
ouvir seu sussurro, uma sedução maliciosa que me faz
tremer: -O que você descobriu é que eu sei de tudo e agora é
a minha vez de jogar.
Ela empurra-se da parede e começa a caminhar em
direção à porta.

-Eu não tenho tanto a perder quanto você pensa, - Eu


chamo por ela. -Se Tom já sabe o que eu fiz, como você
sugere, então é conhecido por um longo tempo. E eu ainda
tenho o meu trabalho. Nada mudou para mim aqui.

-Ah, mas Tom está confortável com a corrupção,


enquanto ela trabalha para os seus propósitos. Mas mesmo
ele sabe que se Dylan Freeland, o fundador da nossa
empresa... a porra do padrinho de seu noivo, descobrir, seu
escritório será meu.

-Então por que você está falando comigo? - Eu


pergunto. -Por que não diz ao mundo?

Ela encolhe os ombros. -Porque isso é divertido. E se


Dave não te expôs, no entanto, é porque ele está te dando
uma nova chance. Ele vai confirmar e guardar qualquer
mentira que você vomitar. Vai ser sua palavra... de Dave e de
Robert contra a minha. Eu não teria a menor chance. Mas se
você escorregar de novo? E Dave descobrir? - Ela sacode o
dedo para mim. -É aí que começa a verdadeira diversão.

Ela sorri de novo, sabendo tudo que ela disse é


perfeitamente claro e totalmente ambíguo. Em seguida, com
outro encolher de ombros, ela diz: -Vejo você na reunião!

Eu a olho sair e, em seguida, com a parede


pressionando nas minhas costas, eu deslizo para o chão, com
meus joelhos sendo puxados para o meu peito e eu enterro
meu rosto em minhas mãos.
Capítulo 5

E
u não sei como passei por essa reunião.
Cada um dos comentários e perguntas de
Asha foram completamente apropriados. A
sua postura era perfeita. A minha, nem tanto. Eu derrubei
uma garrafa de água em meus arquivos, eu tropecei em cima
das minhas palavras, eu tive que pedir a Taci para repetir a
proposta de reposicionamento internacional da Maned Wolf,
duas vezes.

O problema não era o que Asha sabia. O problema era


que Asha não mentiu. Ela estava sendo cruel com a verdade.
Ela usou a verdade como uma arma, tanto quanto eu
costumava usar a mentira como um escudo. Isso significava
que, se alguém perguntasse a Asha a pergunta errada...

Mesmo agora, enquanto eu me sento em meu escritório,


sozinha entre uma pilha de papéis, o pensamento me faz
estremecer. Quando eu me tornei a mosca na teia? Mas não,
isso está errado. A mosca é um inocente. Eu não sou.

A maioria dos meus colegas de trabalho já foram para


casa. Barbara se despediu há muito tempo, mas eu ainda
estou aqui, como é frequentemente o caso. Esse escritório foi
uma vez o meu santuário e espero que na minha solidão eu
possa encontrar uma maneira de recuperar esse sentimento.

A luz do dia está desaparecendo por trás de um pôr do


sol poluído. O céu é uma brilhante combinação de rosas e
alfazemas. Essa é a névoa da poluição. É tóxico e de acordo
com a Sociedade Americana de Câncer, pode até ser mortal.
Mas quando enquadrado no caminho certo, no momento
certo, ele pode ser muito bonito, e você esquece. Você olha
para as cores como o sol nasce e diminui, e você se esquece
de que a mesma coisa que está aumentando a luz natural, e
que faz com que tudo pareça tão intensamente bonito, está
lentamente matando você. Eventualmente, o sol fica um
pouco mais alto e você vê a feiura dele. Mas aí já é tarde
demais. Você esteve o respirando em seus pulmões por horas.
Ele tem você. Está dentro de você. É isso aí.

Gostaria de saber se meu caso com Robert Dade tem


sido um pouco assim. Intenso, brilhante, lindo... mas agora
isso está me matando. Eu perdi o controle e para mim, para a
minha vida inteira, o controle tem sido o meu oxigênio.

Eu fico olhando atentamente para as cores, desejando


que elas fiquem. E se eu nunca tivesse conhecido Dave? E se
eu tivesse encontrado esse trabalho que eu amava tanto por
conta própria? E se quando eu tivesse conhecido Robert em
Las Vegas, eu estivesse livre? Como é que as coisas se
passariam? Teríamos um encontro como um casal normal?
Não, nada sobre Robert Dade é normal. Mas, ainda assim,
será que teríamos nos tornado um casal. Eu tenho certeza
disso. Nós teríamos viajado juntos, às vezes iriamos fazer
caminhadas até as pirâmides maias, outras vezes fazendo
amor no "Hotel dos Reis", em Paris, com os Jardins Tuileries
abaixo da nossa janela.

Mas estou sendo muito convencional no meu


pensamento. Nós poderíamos ir para Nice, para o Museu
Marc Chagall, alugar a sala de concerto para uma
apresentação privada. Não é algo que o Museu normalmente
aceite, mas o Monsieur Dade poderia fazer isso acontecer.

Uma pequena banda de músicos estaria esperando por


nós no palco, enquanto caminhamos para a sala banhada na
luz azul que flui através dos vitrais. A pianista se sentaria
com os dedos pairando sobre um grande piano de cauda,
esperando para tocar. Isto seria completamente normal se a
tampa do piano não estivesse aberta para revelar os amantes
pintados como em uma paisagem azul acinzentado. Ao redor
deles estão os aldeões, um quarto do tamanho dos amantes.
Eles não tentam corresponder à grandeza do casal, mas eles
parecem alegrar-se com o calor que emana deles.

Robert me encaminha entre as fileiras de assentos


vazios, até que chegamos à frente da sala, a poucos metros
do palco. Ele se afasta de mim só para estender sua mão em
minha direção, a palma da mão, oferecendo um convite
universal que ele reitera com palavras quando ele pergunta: -
Quer dançar?
Quando eu coloco minha mão na dele a banda começa a
tocar e começamos a nos mover. O baixo é tão baixo, suas
vibrações tremem contra a minha pele enquanto eu sigo a
liderança de Robert em algo que se assemelha a uma valsa,
mas é diferente o suficiente para torná-la exclusivamente
nossa. Eu jogo minha cabeça para trás e sorrio, ao girar ao
redor da sala, envolta em luz azul e os braços de Monsieur
Dade. Mas então ele para, ali mesmo no meio da pista e com
um sorriso lento, ele me diz que eu sou bonita. Levanto-me
na ponta dos pés, beijo seus lábios, levemente no início, mas,
em seguida, sua mão se move para a parte de trás da minha
cabeça, me puxando para mais perto.

A música sobe pelo meu pulso e começamos a dançar


novamente. Mas desta vez é diferente. Nossas camisas caem
no chão enquanto as notas terminam, trazendo-nos para
uma nova melodia, mais rítmica. Em seguida, vem o cinto,
minha saia, tudo, até que estamos dançando nus pelo
corredor. Uma pomba vermelha no vidro pintado de azul
parece se precipitar para baixo em nós, com sua língua ele
separa meus lábios. A música bate através de mim como se
balançasse. Eu o sinto ficar duro contra mim. Os músicos
nem sequer parecem nos perceber, já que não é o seu lugar
neste sonho. Eles só são obrigados a fornecer a Robert e eu,
uma trilha sonora para a nossa paixão. E como ele me abaixa
no chão, como eu rolo em cima dele, escarranchando em seus
quadris e o sinto empurrar para dentro de mim, eu sei que,
no final o que conta somos só nós dois. Eu o monto
lentamente, movendo-me com o ritmo. Os músicos têm o
palco. Nós temos um ao outro.

As mãos de Robert deslizam para minha cintura, me


guiando, me movendo para que eu possa sentir toda a
extensão dele dentro de mim. Memórias pintadas da
juventude de Chagall3 parecem cair do céu quando Robert se
senta. Ele ainda está dentro de mim quando eu me sento de
frente para ele em seu colo. Por um momento, não nos
movemos, nós apenas queremos ter um momento para sentir
o que é estar conectados com nossos corpos, com os nossos
olhos, por uma emoção que é muito maior do que qualquer
um de nós.

E, em seguida, a dança começa novamente. Eu suspiro


enquanto seus quadris resistem contra o meu, me dividindo,
abrindo, até parece que não é só ele, mas a música em si, que
está dentro de mim, movendo-se através de mim, ressoando
contra todas as terminações nervosas para me fazer frenética
de desejo.

Com um movimento decisivo ele me vira e me agarro a


ele quando ele começa a puxar só para entrar em mim
novamente com um forte impulso e um beijo suave. "Eu te
amo", ele diz, e eu respondo na mesma moeda.

Ele coloca uma das minhas pernas sobre o ombro dele.


"Siga o meu exemplo", ele sussurra.

E com isso ele empurra novamente e meu mundo está


cheio de êxtase. A música, a arte, o homem que faz meu
coração bater... ele me traz para a beira do nirvana e, como
os amantes de Chagall no redemoinho em sua luz azul eu
venho com um grito que ecoa pela sala.
3
Marc Chagall (Vitebsk, Bielorrússia, 7 de julho de 1887 — Saint-Paul-de-Vence, França, 28
de março de 1985) foi um pintor, ceramista e gravurista surrealista judeu russo-francês.
Seu suor é misturado com o meu, o meu nariz é preenchido
com o cheiro do nosso sexo... e nós ainda não terminamos.

Ele me vira sobre minha barriga e novamente ele entra


em mim. No chão eu posso ver reflexos fragmentados de azul,
um contraste legal com o calor vermelho dentro de mim.

Quando ele empurra mais e mais para dentro, com a


mão acaricia o comprimento das minhas costas com uma
pressão sutil que vai crescendo. E quando eu gozo, eu ouço-o
gritar também. Nosso clímax juntos na luz azul da sala de
concertos de Chagall, rodeado por música.

É meu nome em seus lábios que eu ouço quando ele


coloca a cabeça entre as minhas omoplatas. "Eu te amo", ele
diz novamente, enquanto a música vai ficando mais e mais
calma.

E na perfeição daquele momento eu sei que é verdade.

Assim como eu sei que o sol que vejo agora é bonito.

Mas, minha fantasia se enfraquece. A escuridão está


chegando.

A porta se abre para o meu escritório. Eu não me volto


para ver quem é. Sei apenas pelo modo como o meu anel
parece ficar mais pesado na minha mão.

-Terminou o dia de trabalho, - diz Dave, sua voz está


atada com sua recém-descoberta crueldade. -Pegue suas
coisas. Tenho planos para nós.
Capítulo 6

N
ão conversamos muito, e o tráfego estava
lento na hora do rush no final da 405. Dave
mantém os olhos na estrada e as mãos no
volante. Eu posso sentir o cheiro da fumaça dos charutos em
suas roupas. Ele parou no seu clube de homens antes de vir
me encontrar, se sentou em uma poltrona de couro,
gargalhou enquanto algum corretor lhe contava uma piada
suja, se deleitou com a glória de ser da elite. Mas qualquer
coisa que o tenha deixado alegre nestas interações, acabou
assim que ele chegou perto de mim.

Quero dizer-lhe que, se ele realmente se sente repelido


por mim, ele deve me deixar ir, devemos ambos nos perdoar.
Mas eu sei que não é assim tão simples para ele. Não há
somente orgulho envolvido, e talvez para usar a palavra de
Asha, o direito. Há mais, muito mais, emoções e motivações
que eu ainda não consigo ler, mas hoje eu estou muito
cansada para mergulhar nisto profundamente como se fosse
uma fermentação. Eu descanso minha cabeça contra a janela
do passageiro e me pergunto quanto tempo eu posso estender
o silêncio.

-Eu conversei com seus pais hoje, - diz ele.

E eu posso sentir a fumaça em meus pulmões.

Eu forço meu cérebro a permanecer tranquilo, para


centrar-me nos fatos, em vez de ceder ao pânico que está me
invadindo. Dave não é como Asha. Ele pode mentir. Ele
poderia estar mentindo para mim agora. Ele tem todos os
motivos para querer me enervar.
-Você ligou, - eu disse, fazendo minhas suas palavras
em uma declaração ao invés de uma pergunta. Se eu estiver
errada, ele vai sorrir, inadvertidamente, me dando uma pista
sobre o que está acontecendo. Se eu estiver certa, ele vai
pensar que eu o conheço melhor.

Mas é claro que eu não o conheço de todo. O homem


sentado ao meu lado, é pouco mais que uma escultura de
gelo, do que o ser humano quente que sorria ao abraçar-me
durante as noites.

Dave não sorriu. Ao contrário, ele balança a cabeça,


quase relutante em reconhecer a precisão da minha
declaração. Talvez ele queira me manter adivinhando sobre
tudo.

-Você quer saber o que eu disse a eles?

É engraçado, mas eu não acho que eu já ouvi ameaça e


antecipação, se misturarem assim. Ele quer muito que eu
engula a isca. Para ele, este é um evento esportivo, que ele
está apenas começando a dominar.

Para mim, é uma guerra.

-Só se você quiser me dizer, - eu digo, uma falsa


retirada, que eu trabalho para atrair a verdade.

Ele me dá um olhar afiado. -Eu acho que não importa.


Obviamente, eu disse a eles o suficiente para mantê-los sem
ligarem para você.

-É tão óbvio? - Eu pergunto. Mais uma bala desviou.

-O que você quer dizer?

-Bem, você não está tentando provar uma negativa?


Você está assumindo que eles não me ligaram depois de sua
conversa, mas não está perguntando se é esse o caso. - Eu
estendi a mão e peguei a mão dele, ignorando o congelamento
e a picada de seu toque. -Se você realmente quer me ajudar,
como você diz, então você precisa se comunicar comigo,
honestamente.

Novamente o silêncio vem, enquanto Dave mantém os


olhos em todas as luzes de faróis à frente, eles são como os
olhos vermelhos de demônios assistindo a um show.

-As coisas devem ser da forma certa, - diz ele depois que
já rodou por mais um quarto de milha. A declaração não é
para mim, não é exatamente como se ele estivesse falando
para si mesmo, também. Isso tem o som de uma oração,
como se ele estivesse corrigindo suavemente Deus,
lembrando o universo como agir.

Minha mão ainda está na sua, mantendo o campo de


força para baixo.

-O que disse aos meus pais, Dave?

-Eu estou tão incrivelmente bravo com você. - Mais uma


vez eu não tenho certeza se as palavras são para mim ou
Deus, embora, sem dúvida, elas soam verdadeiras para nós
dois. -Eu não vou deixar você ir, mas eu não posso esquecer
também. Dizem que amor e o ódio são os lados opostos da
mesma moeda, mas eu nunca entendi essa expressão antes.
Eu nunca entendi isso. Agora entendo.

Eu retiro minha mão. Se isso é o que está abaixo do


campo de força, não vale a pena o meu tempo.

-Este não é um lance, - eu digo. -Se fosse, eu ficaria com


você e voltaria atrás para amar você de novo. - Eu estalo os
dedos e, em seguida, sorrio para eles melancolicamente. -
Seria tão fácil.

Ele não diz nada e mantém os olhos na estrada. -Eu


disse a eles que você estava agindo como Melody. Eu não
preciso dizer muito mais, antes de se especularem sobre os
próprios detalhes.
Eu congelo. A bala atingiu seu ponto. Minha garganta
começa a apertar. Mas... -Se você lhes tivesse dito isso, eles
teriam me ligado.

-Eu lhes disse que não. Eu disse a eles que eu iria


coloca-la em linha reta... ou não.

-Eu não entendo. - Isso não faz sentido, não pode ser
verdade, eu quero adicionar. Não pode ser verdade. Eu não
vou permitir que me engane.

-Sua mãe acha que ela fez isso com você. Talvez ela
tenha feito. Ela é histérica. Seu pai concorda, mas
provavelmente ele não vai dizer o mesmo. Uma vez que eles
pensam que são a causa do problema, estão me deixando a
cargo da solução.

Sinto-me sem cor. -Você acha que está me


comandando?

-Sim. Eles estão revoltados com você, Kasie. Eles acham


que você não é nada melhor do que uma prostituta comum
fodendo seu caminho até o topo. Depois que conversamos,
seu pai, na verdade, especulou que você pode ter tido a
concessão de favores a alguns dos seus professores.

-Cale a boca.

-Diga-me, como é que você ganhou A em física, quando


você não sabe a diferença entre fissão e fusão? Você ficou
depois da aula? Rastejou debaixo da mesa de trabalho,
esfregou-se contra sua perna como um cachorro no cio?

-Eu ganhei cada grau que eu tenho.

-Mas, como é que você os ganhou? No suor? Foram


pelos trabalhos nos professores com prazer, ou seria porque
você inclinou sobre a mesa, arqueando as costas, oferecendo
seu corpo como um prêmio pelas notas? - Ele balançou a
cabeça. -Eu acho que a coisa mais triste que eu já ouvi foi o
seu pai dizendo que poderia ter sido melhor se não tivessem
tido filhos. Eu não sei, Kasie que poderia ser feito com você.
Como eles não sabem o que fazer com a decepção que você
gerou, mesmo antes de morrer.

Eu posso ver o meu pai sentado à mesa da cozinha com a


minha mãe. Eu posso ouvi-lo falar de minha irmã Melody
enquanto a minha mãe fica cada vez menor em sua cadeira.
Eles não sabem que eu estou lá, do lado de fora da sala,
olhando para dentro. Só tinha se passado poucos dias da
minha festa de aniversário, que terminou mal, logo depois de
meu pai pegar a minha irmã e um homem juntos em seu
quarto.

-Ela estava drogada, Donna, - diz ele para a minha mãe.


-Meu palpite é que ele deu drogas a ela. Isso é o que ela estava
fazendo, ela estava pagando com a única moeda que ela tem.
E ela fez isso durante o aniversário de Kasie. Ela contamina
tudo o que toca. Nós temos que expulsá-la. Eu não aceito esse
tipo de depravação em minha casa.

-Ela é nossa filha. - Levou um momento para perceber que


era a minha mãe falando. Ela soa tão diferente. O sotaque
desapareceu de sua perfeita dicção e suas palavras são secas,
o desespero em exposição para todos verem.

-Ela deixou de ser a nossa filha quando ela se tornou


uma prostituta.

Existe um tremor em sua voz? Será que ele está lutando


com sua afirmação? Eu não sei. Tudo o que ouço é a sentença
definitiva. Eu ouço a condenação. Ainda ontem erámos
inocentes, minha irmã e eu. Suas esquisitices eram
excentricidades. Meu pai precisava levá-la na mão, isso é tudo.

Mas agora ela é uma prostituta.

Prostitutas são nada.


Puta podia ser expulsa, punida, odiada. Eu estou vendo o
meu pai aprender a odiar minha irmã.

-Não aceito esta atitude em minha casa, - diz ele, e eu me


pergunto se eu nunca mais vou vê-la.

Pego minha bolsa, mas Dave me deixa com um olhar


antes de perguntar: -O que você está fazendo?

-Eu estou ligando para meus pais.

Dave abre a boca para protestar, depois para e dá de


ombros. O tráfego está iluminando enquanto eu procuro o
meu celular e ligo para os números de meu pai.

É difícil segurar o telefone, minhas mãos estão


escorregadias com suor e meus olhos já estão lacrimejando.

Meu pai atende. -Kasie? - Diz ele, surpreso. Talvez ele


não achasse que eu seria corajosa o suficiente para ligar.

-Pai, eu... precisamos conversar. Eu sei... Eu sei como


você deve estar zangado comigo.

Há uma longa pausa do outro lado da linha e eu


ansiosamente tentei pensar em uma maneira de proceder.

-Kasie, há algo que você está tentando me dizer? - Ele


finalmente pergunta. Sua voz é cautelosa... e confusa.

-Vocês... você não sabe, porque você pode estar com


raiva de mim? - Olhei para Dave. Ele está sorrindo.

-Você fez alguma coisa?

Eu puxo o telefone longe do meu ouvido. Parte de mim


quer rir com alívio e a outra com histeria e dor. Dave está
jogando um jogo. Eu estou lutando uma guerra. Ele está
ganhando e eu estou morrendo.
Com a mão trêmula eu trago o telefone de volta. -Eu só
percebi que eu não gastei muito tempo com você na festa e eu
nem sequer me ofereci para levá-lo de volta para o aeroporto
no dia seguinte. Eu estive terrivelmente negligente.

-É por isso que você pediu para Dave ligar para nós, -
meu pai diz, sua voz não é mais desconfiada. É descontraída,
ele está satisfeito com o meu pedido de desculpas para o que
ele vê como um delito menor. -Dave explicou como são as
coisas em seu trabalho agora. Você faz o que você precisa
fazer, querida.

-OK, - eu digo, entorpecida.

-Dave é um bom homem, - meu pai disse, pensativo. -


Ele é... decente e ele vêm de uma boa família. Eu realmente
gosto dele.

-Eu sei, - eu digo.

Dave nos puxa para uma nova pista e passamos um


fluxo de carros lentamente fazendo o seu caminho para uma
saída.

-Estamos orgulhosos de você, Kasie. Estamos


orgulhosos das escolhas que você fez em sua vida. E, por
favor, não se preocupe em dedicar-se tanto ao trabalho. Sua
mãe e eu entendemos completamente. E não é para sempre,
certo?

-Certo.

-Bom! Assim, em breve você vai voltar a ser a doce filha


atenta que todos nós conhecemos e amamos. Apenas
certifique-se que você não se descuide de Dave. Ele é um
tesouro, também.

Confiar, doce, amor... estas palavras parecem


carregadas para mim, agora que eu estou vivendo em um
mundo de decepção, amargura e ódio. Dave está claramente
gostando de me ver desvendá-las. Ele está saboreando o
gosto amargo da minha traição, deixando o vinagre deslizar
em torno de sua língua antes de engolir.

Eu digo adeus ao meu pai, distribuindo gentilezas


suficientes no processo, para distraí-lo da tristeza que ele
poderia ouvir se ele se preocupasse em ouvir muito de perto.

Eu olho para Dave. Ele ainda está sorrindo, mas o


sorriso não parece estar ligado ao resto do corpo. Seus
ombros são rígidos, seus olhos são duros, seu aperto de mãos
no volante como se fosse um rifle que alguém pudesse tentar
afastar dele.

-Sinto muito, - eu digo. Pela primeira vez, hoje eu quero


dizer isso. -Sinto muito por ter deixado você tão triste e tão
terrivelmente zangado.

O sorriso fica estampado no lugar, mas seus ombros


sobem ainda mais. -Só porque eu não lhes disse desta vez
não significa que eu não vou. Seu pai não vai te perdoar.

-Dave, você não tem que deixar isso acontecer.

-O quê? - Diz ele com uma risada curta. -Eu não tenho
que expô-la?

-Você não tem que deixar meus equívocos mudarem


quem você é.

Ele fica quieto por um momento, vamos trocar da 405


para a 101 e o tráfego atrasa mais uma vez.

-Quando você tirou suas roupas para ele, quando você


deixou ele a tocar em todos os lugares onde só eu deveria ter
permissão para tocar em você... era um julgamento errado?

-Talvez eu devesse ter escolhido uma palavra diferente,


mas... nós não estamos discutindo semântica, enquanto nós
pisoteamos o coração um do outro.
-Não, nós não estamos discutindo, estou fazendo uma
pergunta. Eu estou lhe dando uma oportunidade para se
explicar.

-Eu já fiz isso.

-E você fez? - Ele se vira para mim. O tráfego foi


interrompido... um acidente, talvez. O descuido de alguém
destruiu bens e vidas.

-Eu tive receio do casamento... Eu fiquei com medo.

-Então você dormiu com outra pessoa, para se sentir


segura? Para acalmar seu medo? Se sentiu segura assim?

-Dave...

-Porque eu posso fazer isso, se é isso que você precisa. -


Com um movimento de sua mão, ele mergulhou-a entre as
minhas coxas, quase esfrega o tecido contra a minha vagina.
O homem que dirigia a caminhonete na pista ao lado,
entediado e cansado, olhou no momento errado. Ele vê aonde
a mão de Dave está, faz contato visual comigo, levanta as
sobrancelhas.

Eu pego a mão de Dave e jogo-a para longe. -Pare com


isso.

-Ah, então quando é ele que põe os dedos em sua


vagina, faz você se sentir segura, mas quando eu faço isso,
você acha que é repugnante.

-Quando você faz isso com ódio, sim, é repugnante!

-Você quer ser tocada com amor?

-Sim.

-Então, me faça sentir amor.


Talvez seja a sinceridade acidental de seu tom. Movo-me
em meu assento, tentando estudar sua expressão, mas seus
olhos ficam teimosamente na estrada. Há algo de trágico no
que ele disse.

-Eu não sei se eu posso fazer você sentir isso.

-Será que ele a ama?

Hesito antes de responder. -Eu não sei. Eu nem sei se


isso importa.

-E você?

-Você está perguntando se eu o amo?

-Sim... não... Eu... - Sua voz some e ele enrubesce um


pouco, envergonhado por sua própria resposta desastrada.

O trânsito em nossa pista começa a mover-se. Em um


pequeno salto Dave cai atrás de nós, em uma memória, como
uma imagem reduzida no meu espelho retrovisor.

-O que você quer saber, Dave?

-Eu não acho que o amor pode simplesmente


desaparecer, - diz ele, tanto para si, como para mim. -E
mesmo com o que você fez... tínhamos algo... era grande.
Como você pode ser tão arrogante com algo que tinha tanta
substância?

Eu não tenho uma resposta.

-Você acha que eu estou tentando torturar-lhe, - diz ele


em voz baixa. -Talvez eu esteja. Talvez eu queira que você
experimente um décimo da dor que você me causou. Mas eu
não acredito que o amor que tinha simplesmente
desapareceu. Eu não acredito que a mulher que eu amo
tenha evaporado.

-Eu estou aqui, Dave. Eu não evaporei.


-Não, não é você. Uma prostituta em pele de cordeiro...
É como uma dupla personalidade... ou um colapso mental.

-Você acha que eu fiquei louca?

-Eu acho que você precisa ser salva. - Ele toma uma
respiração profunda. -Eu vou fazer isso. Eu vou ser seu herói,
se você quiser ou não.

E assim, ele vai ao trágico insano. Ele ainda é o raptor,


pedindo ao seu prisioneiro para cantar seus louvores, mas
talvez todos os sequestradores sejam um pouco loucos. Que
importa se alguém é fanático por religião, política, ou o amor?
O fanatismo é o que é: louco, desorientado, e, de uma
maneira estranha, honesto. Fanatismo é acreditar na sua
própria mentira.

-Eu entendo agora, - ele continua. -Você tem...


necessidades... coisas que você tem que deixar sair do seu
sistema. Vou ajudá-la a fazer isso. Nós vamos usar a
depravação que a está infectando a nosso favor. Vou trazê-la
de volta para a mulher que você era, que eu quero casar.
Quando tiver terminado, quem você quer ser. Você vai ver
que o seu atual caminho só leva à degradação. Você vai
implorar pureza.

Eu balancei minha cabeça. Eu não sabia que um caso


poderia levar alguém ao longo da borda assim. E como ele
acha que pode transformar nossas vidas em uma versão
moderna de A Megera Domada.

-Hoje à noite, - ele continua. -Vamos começar hoje à


noite.

Eu não sei exatamente o que isso significa, mas eu sei o


que isso pode significar. A ideia de estar com Dave agora, de
ele me tocar, empurrando seu pênis dentro de mim, olhando-
me com ar satisfeito quando eu contorcer debaixo dele... Eu
não posso fazer isto.
-Você está tão zangado comigo agora, - eu digo baixinho.
-Eu não quero... estar com você até que você sinta algum
grau de bondade comigo.

-Você acha? - Ele pergunta, mas é uma pergunta


retórica. Nós dois sabemos que eu estou certa.

-Então vamos começar devagar, - diz ele. -Um jantar em


casa. Cozinhar o jantar para mim do jeito que você
costumava fazer. Vestir-se para mim. Mostrar-me que você,
pelo menos, está disposta a fazer um esforço.

Eu me viro para a janela. Eu estou cansada. Eu não


tenho energia para nada disso. Mas Dave estava fazendo um
ponto quando ele mentiu para mim sobre o que disse aos
meus pais. Ele estava me deixando saber o que ele poderia
fazer. Se eu não fizesse um esforço, por que ele deveria
segurar sua língua? Por que ele faria qualquer coisa por
mim?

-Eu vou fazer o jantar, - eu digo baixinho.

-E você vai me deixar escolher algo bonito para você


usar quando você me servir?

Enquanto eu servi-lo. Eu tenho que dizer que ele está


falando apenas do jantar... mas é claro que a redação foi mais
cuidadosamente elaborada do que isso. Eu dei a minha
confissão e esta é a penitência que ele escolheu para mim.
Em vez de apelar para Deus, eu estou destinada a apelar
para ele.

Então eu aceno. É apenas o jantar, apenas um vestido.


Eu prefiro recitar o Rosário algumas centenas de vezes, mas
talvez isso não seria apropriado. E parece bobagem tentar
trazer algo de sagrado ao inferno.
Capítulo 7

Q uando entramos em sua casa, fui direto para a


cozinha. Dave provavelmente pensa que isto é
submissão, mas realmente eu só quero ficar
longe dele. Eu não sou uma cozinheira espetacular, mas eu
não sou horrível. Eu retiro os ingredientes necessários para
fazer um jantar rápido e fácil e tento esquecer o dia. A
geladeira está cheia de legumes frescos e duas pequenas
costelas de cordeiro congeladas. Dave não gosta muito de
carne vermelha, mas havia comprado o cordeiro em uma
tentativa de me agradar. Meses atrás, em outra vida, ele
tinha tentado me surpreender com uma refeição... que,
definitivamente, não deu certo. Nós rimos e eu acabei
cozinhando um macarrão.

Mas ele não tinha jogado fora o resto das costeletas de


lombo cru e eu gosto de carne vermelha... e é o que eu vou
cozinhar neste momento. Pego uma faca grande e coloco
cuidadosamente sobre uma tábua de corte.

- O vestido está na minha cama. Vá em frente e vista-se.

- Vou me trocar depois de fizer o jantar - digo, enquanto


eu deramo um pouco de azeite extra-virgem em um prato de
microondas para o descongelamento.

- Não, mude de roupa agora. Isso me fará feliz.

É um milhão de quilômetros de feliz. Se ele estiver feliz,


eu terei um homem que cuide de mim, mesmo que eu não o
ame.
Com um profundo suspiro, eu acabo de reconhecer a
verdade. Eu nunca amei o homem com quem concordei em
me casar.

Eu só queria a vida calma que ele forneceria, a ordem, a


estrutura, a previsibilidade. Isso me parecia importante.
Engraçado como esses "atributos" perderam muito do seu
apelo. Talvez não seja a traição que tenha virado tudo do
avesso. Talvez seja a falta de amor que tenha transformado
tudo. Talvez seja a distância entre o que queremos e o que
temos que esculpe o nosso comportamento.

Um vestido não vai resolver nada, certamente não fará


qualquer um de nós mais feliz, mas eu sei o que quero, eu fiz
como ele pediu e fui até seu quarto para mudar a roupa.

O vestido me faz rir. É ridiculamente provocante e


claramente algo que ele comprou hoje. É preto e deixa meus
ombros de fora. Uma tira de tecido sólido cobre meus seios,
mas abaixo, é de malha preta transparente, que irá revelar a
minha barriga, e termina em outro tecido sólido que forma
uma micro mini-saia. Eu vi uma fotografia de uma estrela
pop com um vestido semelhante no VMA4, ou algo assim, mas
eu duvido que Dave saiba que esta é uma imitação de uma
peça um pouco menos brega.

Eu começo a colocar vestido. É justíssimo e


estranhamente lisonjeiro, mas também é um pouco de
putinha. Muito mais do que o vestido Herve Leger5 que eu
usei em Las Vegas na noite em que conheci Robert Dade.
Uma olhada no espelho me diz que eu vou precisar mudar a
calcinha que estou usando para uma tanga.

Eu pesco através das poucas peças de roupa que tenho


guardadas aqui para ver se consigo encontrar uma.

4
Video Music Awards
5
É uma grife francesa fundada pelo estilista Hervé Peugnet, atualmente conhecido como Hervé L.
Lerocomux.
- Você não vai ser capaz de usar calcinha com isso - diz
Dave.

Eu giro ao redor para vê-lo parado na porta.

Eu sorrio um pouco.

- Você está tentando me humilhar? - Eu pergunto.

Ele dá de ombros, dando a resposta com seu silêncio.

Eu não vou dar-lhe a satisfação. Não usando esse


vestido dentro de uma residência privada.

- Por que deveria ter vergonha? Ontem lhe vi com menos


roupa.

Deixei minhas mãos deslizarem sobre minha barriga


exposta e, em seguida, minha saia. Preciso fazer um esforço
para me livrar da minha calcinha com brilhantismo, mas
consigo, em seguida, jogo-a em Dave, que a agarra em sua
mão. Ele parece ligeiramente envergonhado e um pouco
excitado.

Eu me aproximo dele e em um sussurro monótono lhe


digo:

- Se você me tocar, eu te mato.

E então eu passo por ele para fazer o jantar, deixando-o


com uma ereção que ele vai ter que cuidar sozinho.

É uma luta preparar o cordeiro com os meus


movimentos restritos pelo tecido justo. Minha culpa sobre o
que eu fiz está lentamente se dissipando a cada uma das
tentativas patéticas de Dave para me rebaixar. Enquanto os
ataques de Asha são polidos e executados graciosamente, os
movimentos de Dave são desajeitados. A única vantagem que
tem é que, ao contrário de Asha, eu ainda não compreendo
perfeitamente o que o motiva.
E o que ele tem a perder, chamando meus pais ou indo
direito ao seu padrinho? Será que ele está me amarrando a
ele até que ele faça isso? Estou jogando para me salvar por
um tempo?

O óleo na panela começa a ficar quente e começo a


colocar os pedaços de carne descongelada. Dirijo a faca sobre
os legumes, cortando-os com movimentos precisos e
violentos.

Venho lutando como uma civil, balançando


descontroladamente em qualquer coisa que se assemelhe a
um inimigo. Eu preciso ser o soldado. Preciso de um plano de
batalha.

Ao manejar a faca na tábua de corte, me pergunto se a


violência continuará em forma de metáfora. Até onde eu
posso ser empurrada antes de desistir?

Vinte e cinco minutos depois, o jantar está quase


pronto, mas antes que eu possa servir, a campainha toca.

Hesito. Isso não parece coincidência. Eu olho para o


meu vestido. Uma coisa era usar isso na frente de Dave, mas
na frente de alguém?

E então um pensamento estranho entra em meu


cérebro.

E se for Robert Dade?

Imagino-o como uma explosão entrando pela porta. Ele


não vê Dave, Ele só vê a mim.

- Você não tem que fazer isso por mim, - diz ele. E foi
assim que eu percebi que ele sempre esteve conosco. Que Dave
não é importante. Eu viro meus olhos para Dave e vejo como
ele se desvanece, como uma aparição ou uma sombra
destruída pela luz.
É uma fantasia indulgente, que me entretenho por mais
de um minuto, mas é tempo suficiente para me excitar. Meu
coração bate um pouco mais rápido, sinto uma pequena dor
de saudade...

É patético, realmente. As chances de que seja ele na


porta são quase nulas. Ele nem sequer sabe onde Dave mora.
Ele não está aqui, então por que eu estou sentindo estas
coisas?

Conheço você, Kasie. Eu sei que mesmo quando estou


longe de você, eu estou dentro de você. Posso tocar em você
com um pensamento.

A campainha toca novamente, me puxando para fora


das minhas fantasias e memórias. Mas agora sinto uma
ligeira umidade entre minhas pernas.

Eu não deveria ter tirado a minha calcinha.


Timidamente vou até a porta de entrada da cozinha enquanto
Dave se aproxima da porta.

- Quem é Dave? - Eu pergunto.

Ele olha por cima do ombro com um sorriso. Há


maldade em seus olhos quando ele abre a porta.

Tom Love está lá, com uma garrafa de vinho na mão e


um olhar confuso em seu rosto.

- Eu não tinha certeza se eu deveria trazer alguma coisa


– diz ele a Dave, com a fala hesitante, como se ele tivesse
certeza do que estava dizendo. - Eu não esperava o convite.

E depois de Tom pregar os olhos em mim. Ele olha o


vestido e sua boca cai, os olhos arregalados... e, em seguida,
sorri ironicamente.

- Para que me convidaram exatamente?


Eu sinto o constrangimento começando em meus pés e,
em seguida, arrastar-se por minhas pernas através do meu
âmago, até que envolve em torno de meus pulmões e aperta
com o poder esmagador de uma cobra.

- Lembra que eu disse que seu chefe iria se juntar a


nós? - Dave me pergunta. Ele se aproxima de mim, cada
passo tem o eco do despeito. - Quando comecei a organizar a
nossa festa surpresa de noivado, as únicas pessoas de sua
empresa que eu conhecia o suficiente para convidar eram
meu padrinho e Asha. Depois, percebi que a maioria dos seus
superiores não sabem nada sobre como você é fora do
escritório. Achei que deveria dar ao senhor Love um
vislumbre. - Deixo cair meus olhos no vestido. Estou tentada
a puxá-lo, tentando de alguma forma fazer o vestido ficar
mais longo, mas seria inútil. De qualquer jeito, puxando-o
deixaria o topo um pouco mais baixo, expondo as aureolas
rosadas que cercam os meus mamilos. Estou hiperconsciente
da umidade entre minhas pernas, eu posso senti-la
escorrendo e eu contorço um pouco querendo saber como
fazer para me retirar.

- Eu não vou me juntar a vocês, - digo baixinho. A


declaração encontra-se com um olhar afiado de Dave e um de
surpresa de Tom.

- Você não vai? - Tom pergunta, entrando e fechando a


porta atrás de si. Seus olhos se movem de mim para Dave,
então de volta para mim. Ele olha meu vestido com
admiração, mas agora está começando a entender o que
realmente está acontecendo. - Você não sabia que Dave tinha
me convidado?

- Eu balanço a cabeça, mas Dave cobre meus ombros


nus com seu braço pesado.

- Não importa, ela fez comida suficiente para três. Kasie


não come muito.
Imagino-me arranhando sua cara com o anel que ele me
obriga a usar. Vermelho do sangue em uma pedra vermelha.

- Não vou me juntar a vocês - digo novamente, mas de


repente o braço de Dave fica apertado quando ele me puxa
para ele.

- Mas você tem que se juntar a nós, Kasie - diz ele. Mais
uma vez a imagem de uma cobra me vem à mente. - O que
Tom e eu vamos conversar sem você? Será tudo sobre
negócios, como a conta que você está trabalhando ou algo
assim. O direitor Sr. Robert Dade da Maned Wolf?

- Ah, – diz Tom, enquanto coloca delicadamente o vinho


bordô sobre a mesa. Sinto que ele começa a entender tudo,
mas não noto a surpresa. Ele mantém os olhos sobre a mesa,
talvez estudando as peças que acabaram de ser expostas a
ele.

-Vamos precisar de três pratos - diz Dave,


definitivamente. O papel de mestre não é adequado para ele.
É muito grande e ele parece mais vulnerável dentro do
personagem. Como um menino vestindo as roupas de seu
pai.

E, no entanto, a bala atingiu a marca. Tom é informado,


e apesar de eu respeitar suas habilidades profissionais, eu
não gosto dele. Eu não gosto da maneira como ele molda a
ética e a moralidade para apoiar suas ambições. Eu não
quero que ele me veja vestida assim, a saia mal cobrindo os
quadris, o decote expondo a curva dos meus seios... isso não
é para os olhos de Tom.

E as ameaças de Dave não eram sutis. Tom entendeu a


nuance, assim como eu. Ele tinha descoberto que meu
relacionamento com Robert era mais do que platônico,
mesmo antes dele chegar para o jantar. Mas isso não significa
que eu quero falar sobre isso com ele. Isso não quer dizer que
eu quero ser constrangida na frente dele... e que ele me
julgue. Será que ele é como Dave? Será que ele também acha
que sou uma puta?

- Os pratos, - diz Dave.

Eu me viro e vou para a cozinha. A agitação do meu


coração batendo é tão poderosa que faz com que todo o meu
corpo trema. Como eu posso ter feito isso com a minha vida?
E por quê? Por que fazer sexo com um estranho? Um caso
ilícito? Será que eu realmente pensei que valia a pena o risco?

As memórias piscam diante de meus olhos em uma


rápida sucessão: flertando com o whisky escocês, falando
energicamente de negócios em um restaurante, brincando de
bater nele com um travesseiro enquanto ele ri, deitada em
sua cama, o seu peso em cima de mim, com as mãos em
meus quadris, subindo suavemente para que ele possa
mergulhar mais fundo dentro de mim, sua mão deslizando
para o meu clitóris, brincando com ele enquanto continuava
se movendo dentro de mim. Eu não posso respirar... Eu não
quero...

O que estou fazendo?

Tenho uma crise em minhas mãos. Meu noivo está me


tratando como uma puta na frente do meu chefe, e eu estou
fantasiando sobre meu amante?

Não, meu diabo responde, você está só lembrando por


que valeu a pena.

Eu tento sacudir os pensamentos da minha cabeça e


dividir o molho em três partes.

As mãos de Robert estão em meus seios, apertando


suavemente meus mamilos.

Eu retiro três taças de vinho.


Sinto os beijos de Robert forjando um caminho através
dos meus ombros.

Eu ouço o murmúrio de vozes masculinas vindo da sala


de jantar, quando eu seleciono cuidadosamente os utensílios.
Meus mamilos estão duros e pressionando contra o tecido do
vestido que eu odeio.

Eu respiro fundo e me sento. Vou tomar meu tempo


aqui. Deixo que a fantasia siga seu curso, que me fortaleça.
Quando eu faço amor com Robert eu sempre começo por me
sentir vulnerável e acabo por sentir forte. Eu preciso chegar a
esse ponto de força esta noite.

- Kasie.

Viro-me rapidamente, surpresa com o som da voz de


Tom tão perto. Seus olhos vão imediatamente para o meu
peito e eu cruzo os braços sobre os seios, na esperança de
esconder a evidência da minha linha de pensamento. Mas a
ação puxa a parte superior do vestido, e descruzo os braços
rapidamente, esperando que ele não tenha percebido que eu
expus tudo em um instante.

Eu viro minha cabeça, com os olhos no chão.

- Onde está o Dave? - Eu pergunto.

- Acabei de comprar um Porsche novo, disse que ele


deveria ir e dar uma olhada.

- Você não vai com ele?

- Não. Eu tranquei a porta.

A admissão me sacode fora do meu constrangimento e


torna-se algo que se assemelha a choque, espanto... e
admiração.

- Você trancou-o fora de sua própria casa?


- Eu o fiz. - Eu ainda estou olhando para o chão, mas
posso ver seu sorriso.

Talvez eu goste de Tom depois de tudo.

Exceto que... ele está olhando para a minha silhueta,


fazendo com que eu me sinta envergonhada, mais uma vez.

- Por que você trancou a porta? - Eu pergunto. - Você


acha que algo vai acontecer entre você e eu...?

- O que você está dizendo? Que eu não posso ter sexo


com você enquanto ele está lá fora, na varanda da frente,
batendo na porta?

Eu não quero mostrar minha diversão, mas é difícil


escondê-la.

- Olhe, o sexo com você nessas circunstâncias, sob


quaisquer circunstâncias, seria fantástico, mas isso não vai
acontecer. Eu sei que você não me quer aqui. - diz ele.

Eu engulo, mas não respondo.

Ele se move, de repente, desengonçado e desajeitado.

- Eu não posso dormir com você, porque você está


comprometida com o afilhado do meu chefe. Eu não acho que
ele vai gritar comigo por prendê-lo lá fora, ele tem algum nível
de orgulho, mas dormir com sua noiva, enquanto ela está
cozinhando o jantar? Sim, isso poderia levá-lo a dar um
telefonema.

- Você é mais esperto do que eu, - digo baixinho. - Eu fiz


algumas coisas que eu... Algumas coisas que poderiam fazer
com que me demitam.

Tom levanta os olhos para mim.

- Eu sei o que você fez... não os detalhes, mas eu sei... e


eu não me importo. - Ele rompe em uma risada suave como
uma seda. - Na verdade, eu me importo. Fico feliz que você
fodeu com Robert Dade. Se eu tivesse pensado que transar
com ele nos daria a conta da empresa Maned Wolf, eu teria
fodido com ele também. Eu teria bebido muito primeiro,
mas...

Um riso brota em minha garganta. Todo esse momento é


um absurdo.

No entanto, o sorriso desaparece de Tom enquanto ele


dá alguns passos para frente.

- A coisa é, Kasie, se eu soubesse que foder com ele ia


nos levar a conta, eu a teria encorajado a fazê-lo, e se você
tivesse me deixado a par do que estava acontecendo, eu teria
ajudado a esconder de Dave.

O riso morre, as bolhas desaparecem sob a pressão de


minha desaprovação, embora possa soar como hipocrisia
depois do meu erro.

- Eu não fiz sexo com Robert para conseguir a conta. -


digo baixinho.

Tom dá de ombros, indiferente às minhas motivações. É


o resultado que lhe agrada.

- Eu só estou dizendo que se o padrinho de Dave não


fosse Dylan Freeland, seria uma vitória para todos.

Eu olho para Tom com novos olhos, eu vejo pela


primeira vez como sua indiferença para com a moralidade
pode me servir. Não há julgamento, apenas uma praticidade
dura que rege suas ações e um pouco de luxúria que ele
reprime com habilidade admirável.

- O Sr. Freeland é um grande empresário - Tom


continua pensativo. - Mas, infelizmente, para nós, ele é um
homem de família ainda melhor. Se ele descobrir que você
traiu seu afilhado, você está fora. Ele iria nos encontrar uma
desculpa apropriada. Temos cláusulas em todos os nossos
contratos sobre o comportamento com os clientes, a
importância de proteger a reputação da empresa, etc, etc. Ele
diria que você trocou favores sexuais por uma conta. Vai se
tornar uma questão de interesse público; Freeland vai se
certificar disso. Sua vida seria mais difícil.

Quando as palavras saem de sua boca, eu me encolho e


me mexo desconfortavelmente. O movimento chama sua
atenção para meu vestido. Com esforço consigo não revirar os
olhos. É bobagem, realmente, ficar tão animado com um
vestido. Ele poderia ir para qualquer praia para ver mulheres
usando menos. E se eu fosse qualquer outra garota, ele teria
esse olhar lascivo ou me trataria como uma prostituta
comum de um clube exibicionista.

É raro ver-me vulnerável, ver revelado o que eu sempre


escondo, acho que foi o que o desarmou. Ele sabe que eu não
estou usando este vestido por escolha, e, por isso, eu sinto
que ele quer ser repelido ao invés de excitado pela minha
visão... uma visão que ele não tem o direito de ver. É um
lampejo de decência em uma tempestade fria de cinismo.

Mas seu corpo não está cooperando com os caprichos de


sua consciência e não posso culpá-lo por isso. Eu posso
culpar Dave, mas ele não.

Cuidadosamente, cruzo minhas mãos diante de mim.


Parece que cada movimento move o vestido mais para cima.

- O que posso fazer? - Eu pergunto.

Os olhos de Tom piscam novamente antes de voltar para


o chão.

- Um grande contra-ataque.

- Contra Dave? Como? Ele nunca fez nada que poderia


virar Freeland contra ele. Eu não tenho nada contra ele que
possa obrigá-lo a calar a boca.
- Você não está sendo criativa suficiente, – diz Tom. - Os
fatos podem ser comprados como qualquer outra mercadoria.
Às vezes, trocados, por dinheiro, mas sempre se pode
comprar.

Foi então que ouvimos as batidas na porta da frente.


Tom suspira e balança a cabeça.

- Ele vai acordar os vizinhos com os socos.

São apenas oito e meia, mas ele está certo. Tom vai até o
hall de entrada, eu sigo alguns metros ficando para trás
quando Tom abre a porta, revelando Dave em sua própria
porta, com o rosto um tom intrigante de carmesim.

- Você me trancou lá fora de propósito!

- Eu não fiz nada disso – diz Tom. - Eu não tenho ideia


de como isso aconteceu.

Os olhos de Dave se mudam para mim.

- O que exatamente você dois estavam fazendo?

Eu quase rio. Ele chamou Tom aqui para me ver em um


estado de nudez e agora ele está preocupado que Tom poderia
ter me tocado com algo mais do que seus olhos? Mais uma
vez eu me lembro que, como eu, Dave é um amador quando
se trata de crueldade.

Tom vê o humor nisto também, e um pequeno sorriso


aparece em seus lábios.

- Você está preocupado que eu já tenha provado o que


você me trouxe aqui para experimentar?

Dave parece ferido. Controle é uma coisa escorregadia e


sua aderência é fraca. Eu vejo o jeito que ele está olhando
para mim. A hostilidade que ele atira de seus olhos quase dói.
É o que acontece com a crueldade: como a maioria dos
venenos, quando tomado em doses pequenas, mas contínuas,
pode-se construir uma imunidade a ela.

- Eu não acho que vou ficar para o jantar, afinal, – diz


Tom. Ele se vira para mim, visivelmente desprezando o
homem na frente dele. - O vinho sobre a mesa é todo seu...
embora eu tenha certeza que você precisa de algo mais forte.

- Eu vou acompanhá-lo até o seu Porsche, - eu digo.

Tom concorda.

- Leve a sua chave. Essa fechadura é temperamental.

Sim, em muitos aspectos, Tom é mais inteligente do que


eu. Sua visão não está nublada com emoção ou dor. Eu pego
minhas chaves da minha bolsa e sigo-o até o carro.

- Ele está com raiva. Ele não quer deixá-la ir, - Tom me
diz enquanto andamos até o carro, o olhar de Dave
pressionando contra nossas costas. - Nenhum homem em sã
consciência faria isso.

Seu carro é pintado de uma cor prata escura metálica


exclusivo que me lembra as janelas espelhadas coloridas que
compõem o grande prédio que abriga os escritórios da Maned
Wolf. Ele faz uma pausa na porta do lado do motorista, suas
chaves pressionadas na palma da mão.

-Você quer ir?

Eu olho para cima bruscamente, considerando suas


palavras. A preocupação não é uma emoção que eu o vi usar
antes.

- Dave não vai me machucar, - eu digo.

- Ele está te machucando agora, Kasie. Isso é um abuso.


- Eu sei... mas o que eu quis dizer... ele não vai colocar a
mão em mim, Tom.

- Eu posso leva-la para casa, - diz ele com cuidado. - Ou


se você quiser, eu posso levá-la para ele. - Eu fico vermelha e
Tom sorri ironicamente. - Será que fingir ignorância seria
melhor?

Concordo com a cabeça. O reflexo da minha figura na


pintura metálica do carro é distorcida, e fragmentada.

- Muito bem, tanto quanto eu estou preocupado com


Dave, eu sei ele é o único homem com quem você esteve em
anos. Seu relacionamento com o Sr. Dade é puramente
profissional, - diz ele enquanto abre a porta, - os fatos podem
ser comprados, às vezes por menos que um sorriso.

Mas eu não estou sorrindo. Eu mantenho o pensamento


para mim quando ele entra e vejo meu reflexo na prata que
muda com o movimento e desaparece quando ele se vai.

Quando eu volto para a casa, Dave ainda está na porta,


sua fúria enfraqueceu com a incerteza. Eu passo por ele,
esperando ele fechar a porta antes de virar-me para encará-
lo.

- Eu sou mais forte do que um vestido. Eu sou mais


forte do que tudo isso. - As palavras são planas, sem inflexão.
Estas são verdades simples que não necessitam de
aprimoramento. - Você acha que Tom Love vai esquecer quem
eu sou? Você pensou que ele ia me ver nesse vestido e me
tratar de forma diferente da mulher que ele sabe que eu sou?
Eu tenho trabalhado com ele durante cinco anos e meio.

- Sim, - ele reconhece. - Eu tenho sido seu namorado há


seis anos. Mas, como eu disse antes, eu não sei quem você é.
O que eu sei é que as roupas que você usava antes não
parecem adequar-se mais. Essa sim.
Eu sinto o tecido barato agarrado em mim, sinto o ar
entre as minhas pernas, me lembrando da minha exposição.
Eu deveria me sentir vulnerável agora, mas neste momento
eu simplesmente não o faço. Estou fraca, desesperada. Eu
não me sinto vulnerável em frente a ele, sinto-me como um
pássaro com as asas quebradas.

- É assim que você quer me definir agora? - Pergunto-lhe


descaradamente. - Constantemente vai tentar me derrubar,
para ver que me levanto perfeitamente?

- Realmente, Kasie? - Ele sussurra. - Olhe para você!


Está vestida como uma vagabunda!

- E, no entanto, Tom não viu uma vagabunda. - Dou um


passo mais perto. Algum impulso tolo assume e eu
acrescento - Robert não me viu dessa maneira também.

- Você está dizendo o nome dele aqui? Na minha casa?

Eu sorrio. Em um romance vitoriano, ele teria


acrescentado as palavras: "você se atreve?". E com o levantar
de uma sobrancelha eu respondo a pergunta não formulada:
- Sim, me atrevo.

Mas eu preciso ter cuidado aqui. No momento em que


Dave se der por vencido, no momento em que ele pensar que
todas as suas tentativas de tortura serão inúteis, ele vai
acabar com essa coisa com um telefonema. E Tom estava
certo em suas previsões. Se ele me expõe àqueles que se
preocupam com essas coisas, com as pessoas com quem me
importo, ele vai afastar minha coragem recém-descoberta
como quem descasca uma laranja. Eu vou perder tudo.

Então eu amoleço meu tom, e lhe ofereço um acordo, em


vez de um golpe: - Eu não acho que você me vê desse jeito,
também. Eu acho que você está com raiva. Mas eu acho que
talvez você quis dizer isso quando você disse...
- Quando disse o quê? - As palavras são cuspidas como
veneno de uma cobra.

- Quando você disse que queria me fazer sentir amor. Eu


quero amá-lo novamente.

Ele dá um passo mais perto, hesitante no início, depois


outro e outro, cada movimento se tornando um pouco mais
confiante e um pouco mais agressivo.

- Ele é diferente de mim, certo? Ousado? Bruto? Mais


dominante?

- É disso que se trata? - eu pergunto, quase cansada. -


Domínio?

- Me dê uma chance. - Sua mão desliza para a parte de


trás do meu pescoço e me mantém no lugar. - Eu posso te
dar o que você quer. - Sua mão esquerda atinge o meu peito.

Eu dou um tapa na cara dele.

Lentamente, sem deixar meus olhos, ele abaixa as mãos


e se move para o lado, pegando as chaves de uma mesa baixa
no lobby.

- Onde você vai? - Eu pergunto, quando ele abre o


armário de casacos.

- Eu vou sair. - Ele sorri ironicamente antes de


acrescentar: -Eu preciso de espaço para considerar se eu vou
ou não destruí-la. Não espere acordada. Vai levar um pouco
de tempo.

O ar é espinhoso. Talvez eu tenha empurrado longe


demais. Mas ele está tirando as minhas opções e a violência
que ele mantém, faz o bombeamento no meu coração é difícil
de controlar.

- Meu carro ainda está no trabalho - eu digo baixinho.


- Você não vai precisar dele - diz Dave decisivamente. -
Quero que você fique aqui esta noite. Sua obediência pode ser
a única coisa que a salve.

Eu não discuto neste momento. Não faz nenhum


sentido. Eu simplesmente fico aqui enquanto ele sai.

E na minha mente, minha nova fantasia é que ele nunca


mais volte.
Capítulo 8

E
stou sozinha no lobby por segundos,
minutos, uma breve eternidade de tempo
enquanto tento decidir sobre uma viagem
mental que me leve para longe deste lugar. Com o que vou
fantasiar agora? Nadar através das ondas suaves do
Mediterrâneo? Dançar em Nova York? Mas a minha mente
permanece teimosamente no aqui e agora. Uns poucos dias...
quantas vidas eu vivi neste pequeno espaço de tempo?

Inclino-me contra a parede, de repente tonta. Parece


impossível que eu esteja em risco de perder para um
adversário tão qualificado. Não estou acostumada a esse tipo
de luta. Meus adversários sempre foram meus próprios
desejos e memórias, uma guerra interna. E mesmo nessa
guerra, os meus adversários eram os vencedores. Eles
superaram minhas defesas e ocuparam minha mente com
ambições coloniais, que me levaram a esta reserva infernal
onde submissão e a servidão são os meios mais óbvios de
sobrevivência.

Ouço passos se aproximando do lado de fora da porta.


Será que Dave voltou? Talvez ele tenha se esquecido de
atirar-me um último insulto ou ameaça antes de sair.

Eu recuo e vejo como a maçaneta da porta move-se,


apenas um pequeno movimento e depois outro. Por que ele
não vira a chave?

Mas quando eu vejo que a maçaneta continua se


movendo, eu percebo que eu tenho outro problema.

A pessoa na porta não tem chave.


A pessoa no outro lado da porta está tentando entrar.

Eu me movo rapidamente, não me importando o quão


alto sobe minha saia, sem me importar com o que está
exposto. O vestido é indecente.

Eu tento alcançar a porta, mas é tarde demais. A porta


se abre e me encontro impulsionada para frente, querendo
correr, mas sabendo que não há jeito.

Mas o intruso não é um estranho em absoluto. É Robert


Dade.

Ele me leva com apenas o movimento rápido dos olhos e,


em seguida, ele se move por mim, para a sala, de pé, no
centro, com os punhos cerrados ao lado do corpo, sua energia
feroz inunda a sala.

- Onde ele está? - Ele pergunta.

Ele vira de costas para mim, o que é bom. Minha raiva,


vergonha e humilhação estão me queimando esta noite e ele
parece gostar muito de querosene.

- Ele saiu. Como você soube que eu estava aqui? Como


você sequer sabe onde Dave mora?

- Seu chefe me ligou.

Bem, há um herói improvável. Quase digo isso em voz


alta, mas Robert não está no clima para conversa. Sua
postura me faz lembrar um tigre na espreita, pronto para
atacar.

- Quando ele vai voltar?

Não é bem uma pergunta como demanda sua voz.

Eu tive demandas suficientes.

- Eu posso cuidar disso, Robert. Eu não preciso de você.


Ele gira, sua fúria golpeando em minha frustração.

- Vá tirar esse vestido. Você é melhor que isso. Você


sabe que não deve aceitar o papel de escrava de Dave.

- Não sou uma escrava.

- Tire esse vestido!

Mantenho-me firme no chão. Eu me sinto um pouco


como uma estudante na Praça da Paz Celestial6, em pé,
desafiadoramente, diante de um tanque que se aproxima.

Ele respira profundamente com os dentes cerrados, mas


em seguida quando seus olhos mudam, o mesmo acontece
com sua abordagem. Lá, em cima da mesa, ele vê uma foto
emoldurada. Nela estão Dave e eu no dia do noivado. Ele
veste um terno de crepe de lã azul-marinho com uma gravata
prata, enquanto meu cabelo está penteado para trás em um
coque bem complicado. Há uma sofisticação madura no colar
que estou usando no pescoço, o leve brilho do tecido e
peplum7 de babados é a única pista para uma forma mais
suave de feminilidade. Dave tem a mão nas minhas costas e
sorri serenamente para a câmera. É uma imagem que poderia
ter sido arrancada das páginas da Town & Country. Somos
perfeitos.

Estátuas romanas, é o que Simone tinha nos


comparado, perfeitos e frios.

6
O Rebelde Desconhecido, também conhecido como O Homem dos Tanques, é como ficou
conhecido o misterioso homem que ganhou fama em todo o mundo como figura heróica após ser filmado e fotografado
durante os protestos na Praça da Paz Celestial em Pequim, em 5 de junho de 1989. Várias fotografias foram tiradas do
homem, que ficou em pé em frente a uma coluna de tanques chineses Type 59, forçando-os a parar.

7
blusa de babdos
Robert pega a foto e examina-a mais de perto.

- Eu não tenho certeza se eu conheço essa mulher.

- Eu a conheço. - E me movo atrás dele, olhando por


cima do ombro para ver a foto. - Eu só não sei para onde ela
foi.

Robert coloca a moldura no lugar.

- Deixe-a ficar perdida. - Ele então se vira para mim,


suas bordas de raiva ligeiramente atenuadas pela
preocupação. - Eu não vou deixa-lo fazer isso com você.

- Eu não acho que você possa me salvar e... eu... Eu não


tenho certeza se quero.

Um flash de dor atravessa seu rosto. Ele caminha,


escovando meu rosto com as mãos.

- Você não pode me pedir para deixar isso acontecer. Eu


não vou permitir isso.

Eu sinto uma confusão súbita. Se ele pode me ajudar,


por que não deixá-lo? Será que é porque eu não quero admitir
ser uma donzela em apuros? Eu realmente valorizo o meu
orgulho machucado e surrado sobre a minha liberdade? O
condenado já insistiu em fazer uma fuga da prisão sem
ajuda?

Mas, ainda que tudo que eu queira seja Robert, não


posso deixar de pensar que sua afeição pode ser
infinitamente mais perigosa do que a hostilidade de Dave.

- Tire o vestido, - diz ele, novamente. - Eu odeio que ele


a esteja tocando. É como se ele a estivesse segurando
firmemente de certa distância.

Eu dou um passo atrás, afastando-me do contato com


Robert. Eu continuo dando passos para trás, Robert me
segue, deixando-me definir o ritmo. É um tango estranho em
que a mulher leva o ritmo... ainda que apenas pela duração
de uns compassos de música.

Ele nos leva para a sala de jantar. A mesa nunca tinha


sido posta e está agora vazia, exceto por uma garrafa fechada
de vinho, um lembrete dos planos fracassados de Dave e
minha pequena vitória. Eu passo a garrafa para uma cadeira.

- Ele não está aqui - eu digo e eu chego até a bainha do


vestido, puxando-o sobre meus quadris, minha barriga, meus
seios, até que, com um pouco de esforço, ele vai embora e eu
estou completamente nua, diante de meu amante. - Ele não
me tocou, - eu digo. - Ninguém vai me tocar sem o meu
convite. Se alguém tentar, terá que pagar por esse erro. Mas
eu colocarei o preço exato. Eu. Não você.

Robert olha para mim. Seus olhos tem fome, mas eu


ainda sinto sua irritação. No entanto, ela não está destinada
a mim. Ele aponta para a noite, em direção à parte
desconhecida da cidade, onde Dave está, tomando decisões
sobre a minha vida.

- Eu não vou fazer vista grossa, Kasie. Eu não sou


assim.

Eu ouço, mas não estou prestando atenção. Eu estou


olhando para a mesa. Na sua superfície polida vejo a noite
que Dave havia planejado para mim. Até que ponto o jogo
teria ido se Tom tivesse cooperado? E Asha, o quão longe ela
pretende me empurrar? Todos me vêem como uma fraca?
Será que eles acham que eu iria entregar todo o meu poder
tão facilmente?

- Kasie, você me ouviu?

Eu ignoro a pergunta, redirecionando minha energia


para o meu prazer.

- Você quer me tocar, Sr. Dade?


Sua respiração fica presa na garganta. Eu ainda posso
sentir sua raiva, mas ela está mais distante agora,
permitindo-lhe mais espaço para explorar as paixões mais
urgentes.

- Eu lhe fiz uma pergunta. - Eu deixo meus dedos se


espalharem sobre a mesa. Eu estou jogando um jogo muito
perigoso. Não sei quando Dave vai voltar para casa. Eu não
sei o que Robert vai fazer com ele, se ele aparecer. Eu não sei
se este será o ato que vai quebrar meu mundo em pedaços.
Eu vou arriscar tudo por um momento de prazer, para
comemorar uma vitória fugaz. Mas eu estou começando a
pensar que a vida é sobre a passagem de momentos e
pequenas celebrações. Sem eles, é apenas dor, medo,
ambição e, para alguns de nós, uma esperança tola.

- Ele queria que eu servisse a ele e a Tom nesta mesa, -


eu digo. - Ele queria que eu fizesse o papel de submissa.
Queria me controlar. E não conseguiu o que queria. Eu
ganhei. Você vai me ajudar a celebrar, Sr. Dade? Você está
convidado.

Robert não se move imediatamente. Mas quando o faz, é


rápido, fechando a distância entre nós em questão de
segundos, e puxando sua camisa para que nossos corpos
juntem-se, pele com pele em um abraço.

- Quero que você me leve daqui, - eu sussurro, enquanto


seus dentes correm sobre meu ombro. Eu tiro seu cinto. - Eu
quero que você me tome na mesa onde eu me recusei a servi-
lo.

- Você tem certeza?

- Sim, - eu digo quando o cinto cai no chão. - Você está


convidado.

E então eu estou sendo levantada no ar, colocada sobre


a mesa, como uma iguaria a ser saboreada.
Ele tira o resto de suas roupas. Seus músculos criam
pequenos montes e vales em todo seu peito e estômago. Seus
braços e pernas são igualmente fortes e atraentes. Trata-se
de um tipo diferente de perfeição. Esculpido, mas não como
David de Michelangelo. Ele é feito de algo muito mais vibrante
do que o mármore. É uma música com uma batida pulsante e
uma música mais ou menos melódica. Sua ereção chega para
mim, outro lembrete gritante de sua vitalidade.

Ele se inclina para frente, correndo os dedos pelo meu


estômago, parece que ele está traçando as letras de uma
palavra, "luxúria", "amor", é difícil notar a diferença, seu
toque me dispara muito rápido. Respiro com dificuldade
enquanto seus dedos seguem sua dança até minha garganta,
descansando ali, logo abaixo do queixo. Ele me estuda da
mesma forma que estudaria um eclipse, expectante, mas
reverente. E seus dedos mantém-se em movimento, desta vez
para o meu peito, ele acaricia a área em torno de um mamilo
e depois o outro, tão diferente do toque intrusivo de Dave.

Além disso, Dave não me toca. E se ele tentar me tocar


de novo, ele voltará a sentir a dor da minha recusa. Ele
nunca chegará a lugar nenhum comigo. Não pela obrigação
ou pela força. Ele não é convidado.

Mas Robert é, e quando seus dedos viajam até a curva


da minha cintura, até meus quadris, suas mãos apertam
suavemente minhas pernas, me abrindo, eu sinto meu corpo
silenciosamente reafirmando o convite, reforçando-o com a
umidade entre minhas pernas, com o ritmo da minha
respiração irregular. Ele levanta a minha perna, beija meu
tornozelo, e lentamente move mais alto. Cada beijo é um
pouco diferente. Aqui, onde começa o músculo da minha
coxa, e aqui em sua viajem para cima, seus gestos com a
língua saboreando o sal em minha pele. Aqui, quando ele
chega mais perto do meu núcleo, o beijo se torna suave,
quase inocente, uma contradição direta à sua clara intenção.
Coloco minhas mãos em seu cabelo, para tentar atraí-lo
mais para cima, mas ele não quer se apressar. Ele quer que a
antecipação me aqueça antes de sua boca chegar ao seu
destino.

Mas quando isso acontece, quando sinto seus lábios em


volta do meu clitóris em um beijo de boca aberta, é quando o
querosene realmente acende as chamas. Eu agarro as bordas
da mesa, me ancorando em sua solidez. Mais uma vez
imagens do que deveria acontecer aqui piscam pela minha
cabeça. Eu sendo exposta, servindo dois homens contra a
minha vontade.

Mas a imagem desaba quando eu sinto sua língua


pressionando dentro de mim, me penetrando, em seguida,
puxando para fora, depois me provando de novo. Sua mão
desliza sob meus quadris, me levantando para o seu benefício
e o meu.

Não há mais imagens. Estou cega para tudo e como


qualquer mulher cega, meus outros sentidos se aguçam. A
sensação de suas mãos apertando a minha carne é um êxtase
único. Os movimentos de sua língua são como choques
elétricos de prazer, o som das batidas do meu coração são
estrondosos e belos.

Meu orgasmo é quase luxurioso por sua decadência,


como um bom champanhe estourando de sua garrafa.

Em um movimento rápido, Robert me puxa para frente.


Continuo deitada sobre a superfície de madeira de carvalho,
com as pernas retas apoiadas contra seu peito. Sinto sua
ereção contra minhas coxas, ansioso para entrar. Ao levantar
os quadris, suas mãos me alcançam rapidamente para
mantê-lo no lugar e minhas costas se arqueiam de maneira
involuntária.
Ele entra e se move lentamente, a satisfação é
constante, a hipnose é rítmica. Isto é o que significa sentir a
beleza, experimentar a textura da felicidade.

Por um momento eu acho que ouço a música que eu


ouvi na minha fantasia, mas é apenas a nossa respiração
misturada, seus grunhidos harmonizados com os meus gritos
de êxtase, enquanto ele entra em mim de novo e de novo.

E se Dave chegar em casa? O que aconteceria se visse


Robert fazendo amor comigo em sua casa, em sua mesa, onde
ele serviu o café, onde ele queria que eu sentasse ao seu lado,
a esposa submissa perfeita?

Ele transmitiria a notícia ao mundo, à minha família e


ao meu chefe.

Mas enquanto Robert se move em cima de mim, parece


que isso não me importa. Esta é a minha revolta. É um dia de
sol no meio de uma temporada de chuva e não vou
desperdiçá-la.

E, em seguida, a dança muda. Ele me libera, se afasta,


me coloca em cima da mesa. Por um momento, estou
confusa, desorientada. Eu não estou pronta para isso acabar.

E nem ele. Ele me puxa para cima, e agora estou


sentada diante dele enquanto ele me olha firmemente. A
intimidade de um olhar pode ter o seu próprio erotismo. Eu
posso enrolar minhas pernas em volta dele, inclinando meu
peso de novo em minhas mãos. A posição não poderia ser
mais clara. Com um único golpe, ele está dentro de mim
novamente, mas desta vez ele atinge novas profundidades. Eu
grito quando ele se inclina para frente, seus dentes
mordiscam minha orelha enquanto sua língua procura
minhas terminações nervosas.

- Ele nunca vai tocá-la novamente - ele sussurra,


enquanto acelera o ritmo. A mesa vibra com o nosso
movimento, mas é resistente e forte, mais forte do que as
regras que uma vez eu estabeleci para mim mesma, mais
forte que as ameaças dos meus inimigos, mais forte do que a
minha contenção que se desfez no momento em que Robert
entrou na sala.

-Eu sou o único homem que você vai fazer amor


novamente.

Sinto-me tremer quando meus músculos começam a se


contrair.

- Eu vou ter você em sua casa, na minha, em seu


escritório, em mil camas em todo o mundo. Mas agora, - ele
empurra para dentro de mim com mais força - você é minha.
- Novamente eu grito quando outro orgasmo rasga através de
mim. E sinto que ele vai se juntar a mim, sinto que ele está
vindo dentro de mim, sinto-o pulsando da única maneira que
um homem pode realmente reivindicar uma mulher.

Eu olho em seus olhos e suspiro a palavra: - Sim.

Nós nos seguramos por alguns minutos que se sentem


como segundos... ou dias. Eu ouço sua respiração, sinto seu
batimento cardíaco, cheiro seu perfume...

- Você vem comigo - diz ele. Sua voz não é exigente. Só


está constatando um fato.

Eu corro meus dedos sobre a parte de trás do seu


pescoço e olho para as paredes brancas da sala de jantar de
Dave, dizendo silenciosamente adeus a minha prisão.
Capítulo 9

V
isto as mesmas roupas que usei para
trabalhar, mas antes de deixarmos a casa
de Dave, dobro o vestido ofensivo
cuidadosamente e coloco-o no meio da mesa da sala de
jantar. Robert acena com aprovação. Ele não sabe sobre o
bilhete que coloquei dentro do tecido leve. Um pequeno
pedaço de papel branco, com algumas palavras escritas em
letra cursiva:

Faça o que quiser, mas eu não aguento mais isso.


Você sente falta da mulher que era leal, eu sinto falta do homem que
era gentil.
Adeus,
Kasie
Robert expulsou a névoa da minha mente. Eu a senti
saindo pelos meus poros, misturada com o suor do nosso
amor, e então evaporar-se. Robert acha que estou confiando
nele para me salvar. Dave achará que estou jogando a
prudência fora.

Ambos estão errados. Ainda estou em guerra. Mas agora


pronta para lutar como uma guerreira.

Mas até mesmo as guerras têm momentos de quietude -


momentos em que o tiroteio é tão fraco, que poderia ser o
estouro de balões. Eu sinto a paz efêmera, enquanto estamos
no Alfa Romeo de Robert, um carro que parece uma obra de
arte e cheira a poder. Nós não falamos. Em vez disso, aprecio
o movimento de sua mão sobre a alavanca de câmbio, admiro
a maneira como ele acaricia o volante revestido em couro. Eu
quase sinto ciúmes de que seja o carro a receber essa
manipulação tão firme e amorosa, mas logo será a minha vez.

Eu já tinha ido antes à casa de Robert, mas quando


finalmente entro pela porta da frente... quando vejo a cidade
toda brilhando para mim com entusiasmo e expectativa, não
posso evitar sentir-me um pouco assustada com a
grandiosidade da vista. Ele me conduz para dentro e eu
percebo que estou me sentindo desajeitada e um pouco
tímida. A última vez em que estive aqui fizemos amor em sua
cama enorme, de novo e de novo, mas depois tínhamos
conversado. Foi tão confortável. Eu estava à vontade.
Pergunto-me se ele espera que eu seja capaz de voltar àquele
lugar. Não posso, é claro. Ainda não.

Ele parece compreender, ou talvez só tenha visto o rubor


em meu rosto e sentido que será necessário ser delicado. Ele
me conduz quase formalmente ao largo sofá de couro marrom
na sala de estar e depois desaparece para buscar uma
bebida.

Sento-me rigidamente, perguntando-me se ele me trará


um whisky, o coquetel perigoso que tinha começado tudo.

Mas eu precisarei de uma mente clara hoje à noite. A


batalha está perto demais para esse tipo de indulgência.

Quando Robert volta com uma grande caneca verde, eu


entendo que é chocolate quente e ansiosamente a seguro,
saboreando o gosto agridoce com prazer. É uma bebida tão
inocente, eu me pergunto se mereço. Espero que sim. Espero
absorver algumas das doces qualidades da infância. Quero
sentir um pouquinho dessa inocência.
Robert senta-se ao meu lado. -Vou falar com Dave
amanhã.

-Não, - eu digo simplesmente. -Essa luta é minha.

-Love me disse que Dave pode usar o nosso caso para


conseguir a sua demissão.

Por um momento fico confusa, então percebo que ele


está falando de Tom. Esse é o único Love que poderia lhe
dizer alguma coisa realista.

-Eu impedirei que isso aconteça, - Robert continua. -


Mesmo Freeland não vai jogar fora o meu negócio por
lealdade a um verme de um afilhado.

-Asha sabe também, - eu digo.

-Asha?

-Você a conheceu. Ela está na minha equipe.

Robert deu de ombros, não entendendo a sua


importância. -Não importa o que ela sabe. O mundo pode
saber. Não vai afetar a sua posição. Eu vou...

-Você vai ver o quê? - Eu digo, terminando a frase dele,


em um tom mais áspero do que pretendia. Não adiantou. Não
pude absorver a doçura do chocolate, apenas o amargor. Fico
olhando para a lareira escura. -Ela pensa que eu só consegui
esse emprego porque estava dormindo com Dave, o verme do
afilhado que você está tão ansioso para enfrentar.

-E então? - Robert diz, ainda sem entender o problema.

-Então, ela vai pensar que estou apenas tentando


manter o emprego, dormindo com você.

Seus olhos brilharam ao compreender. -Quem diabos se


importa com o que as pessoas pensam, Kasie? Eles não
interessam. Só você e eu.
-Se isso fosse verdade, o mundo seria diferente do que é.
Se isso fosse verdade, - eu digo, cada palavra soando um
pouco mais irritada, - seríamos deuses. Osiris e Isis, Zeus e
Hera... mas nem isso é verdade, é? Apesar de tudo, mesmo
eles tinham que levar as outras divindades em consideração.

-Você está com raiva de mim?

Eu quase disse que sim, mas depois percebi que não era
verdade. Não exatamente. -Estou com raiva porque gostaria
que tudo fosse tão simples quanto você diz, mas sei que não
é. A culpa é minha. Não posso ser vista como a puta do
escritório. Preciso de respeito para fazer o meu trabalho.
Preciso de respeito para ser capaz de respirar.

-Eles vão respeitá-la quando você se destacar. Tudo o


que precisam é ver seu trabalho para saber que mereceu a
sua posição.

-Mas eles não verão a mim. Eles saberão o que fiz e


prepararão seus olhos para ver a prostituta que Dave e Asha
acreditam que eu seja.

-Tom Love a conhece melhor do que isso.

-E será que Tom ficará em seu emprego para sempre?


Irei sempre me reportar a ele? Você pode me prometer isso?

Robert recostou-se no sofá, abraçando-me com o olhar. -


Sim, eu posso. Posso garantir que Tom nunca se sinta
incentivado a deixar sua posição. Posso moldar o mundo a
seu gosto. Dinheiro e poder são as únicas moedas que você
precisa, se o objetivo é puxar as cordas da indústria. Eu
tenho ambos. Deixe-me comprar-lhe alguma paz de espírito.

Tenho vontade de rir. Ele vai fazer chover e como uma


stripper, Tom deverá ficar de joelhos para recolher os dólares
caindo. Acho que Robert esperaria o mesmo de quase todo
mundo a quem joga dinheiro. Talvez um dia venha a esperar
isso de mim também.
Mas ele não pode comprar a aprovação de meus pais. E
não pode comprar o respeito de meus colegas. Ele pode
apenas incentivá-los a esconder seus verdadeiros
sentimentos. Eu sempre saberei o que estão dizendo atrás
das portas fechadas. E não posso permitir que Robert obrigue
Tom a permanecer em uma carreira estagnada.
Eventualmente terei que me reportar a outra pessoa, outro
homem ou mulher que procurará saber o que fiz para ganhar
minha próxima promoção. Vão me dar clientes que esperarão
ser autorizados a brincar comigo durante nossos encontros,
exibir-me em salas de reuniões com homens famintos por
foder a mulher conhecida por prostituir-se em seu caminho
pelo mundo dos negócios, distribuindo favores sexuais como
cartões de visita.

Robert está longe de ser estúpido. Se ele se permitir


pensar, verá que isso é impossível. Mas ele não está
pensando, está sentindo. Ele diz que quer remodelar o mundo
e, nas horas tardias da noite, logo depois de fazer amor
comigo na mesa da sala de jantar de outro homem, tem
certeza de que pode fazê-lo.

Amanhã, a realidade nascerá com o sol. Mas,


provavelmente, não esta noite. Então, engulo meu
pessimismo como o chocolate, e gentilmente coloco minha
mão em seu joelho. -Estou cansada, - eu digo. -Leve-me para
a cama.

Talvez o chocolate quente tenha transmitido um pouco


de inocência à noite, depois de tudo, porque pela primeira
vez, nos deitamos juntos na cama, sem mergulhar naquele
oceano de energia sexual que está sempre entre nós. Em vez
disso, ele me dá uma de suas camisas para vestir e nos
enroscamos sob os lençóis. Ele está dormindo agora e sua
respiração constante tem uma qualidade calmante que
acalma a minha ansiedade. Por um breve instante quase
posso acreditar nas suas promessas. Como se eu realmente
pudesse estar a salvo aqui, em seus braços, dentro desse
palácio de riqueza capitalista. Isso não é tudo o que eu
sempre quis? Segurança, riqueza, sucesso?

Sim, mas eu quero que as coisas sejam reais, não


fachada. Eu quero o sucesso, por mim mesma. Não posso
compartilhar os sonhos de Robert, senão seguir os meus
próprios. Relutantemente, meus pensamentos se voltam para
Dave. Posso ver agora que minha relação com Dave nunca foi
certa, mas também vejo por que era tão atraente. Seus
sonhos pareciam encaixar-se nos meus. Parecíamos
complementar um ao outro. Ele tinha melhores conexões,
mas eu, indiscutivelmente tinha melhor educação. Sim, ele
era um advogado graduado em Notre Dame, mas eu tenho
um mestrado na Harvard Business School e um graduado em
Harvard nunca aceitará a ideia de que possa haver melhor
educação disponível do que a que ele ou ela possui, não
importa o que EUA News& World Report diga sobre Yale.

Mas o que nos manteve juntos por tanto tempo foram


nossas metas em comum. Nós dois queríamos respeito. Ele
queria ser respeitado no mundo de dinheiro antigo em que os
homens de sua família se moveram, e eu simplesmente
queria o respeito da minha família e do mundo dos negócios.
Disciplina era o atributo que eu tentei cultivar e aperfeiçoar,
enquanto ele tentou exercer controle sobre sua casa, seu
círculo social, sobre mim. Eu temia o fracasso e a rejeição,
até meus próprios impulsos. Ele temia o desamparo, o
ridículo, a irresponsabilidade imprudente da cidade.

Eu sorrio no escuro. É nessa última parte que estou


focada agora. Nessa em que o conhecimento é a chave para
tudo. Obter o respeito daqueles que frequentam o clube dos
homens de elite de Dave, com suas taxas de adesão
proibitivas e complexo de superioridade arraigado, e requer
um conjunto diferente de regras. Imagino as salas escuras
que compõe os estabelecimentos que permitem oficialmente a
admissão de mulheres, mas que nunca as fazem se sentirem
bem-vindas. Eu vejo os charutos nas mãos manicuradas de
homens com pedigree. Ouço suas interações sussurradas.
Nesse mundo não há nenhuma vergonha em exigir a
subserviência da mulher. São histórias que Dave contaria
com prazer. Mas há vergonha em perder a mulher para outro
homem. É vergonhoso ser abandonado. Dave está pedindo
que eu me humilhe em troca do seu silêncio, mas ainda não
lhe pedi para pagar o meu.

Eu sei o que Dave quer e do que ele tem medo. Sei como
machucá-lo.

Cuidadosamente escapo do abraço firme de Robert. Ele


se mexe, acordando o suficiente para ver que o estou
deixando, mas não para perguntar onde estou indo. Ando nas
pontas dos pés até a minha bolsa, puxo meu celular e leio o
texto que sei que está lá.

-Onde diabos você está?

Enviado há uma hora atrás. Em seguida outro, enviado


após vinte minutos.

-Kasie, sério, onde você está?

E dez minutos depois:

-Eu entendo que você esteja chateada. Nós só


precisamos conversar. Por favor, responda.

Eu sorrio. Meu alvo está melhorando.

Ouço Robert mexer-se outra vez, mas sua respiração


logo volta ao padrão tranquilo do sono. Levo o telefone para
seu banheiro. Fecho a porta e acendo as luzes, piscando
algumas vezes para ajustar-me à claridade. O espaço é quase
do mesmo tamanho que o do meu primeiro apartamento. Há
uma banheira de imersão com jatos de água, uma ducha
espaçosa, com paredes de vidro transparente, um espelho
que reveste quase uma parede inteira... é decadente como o
inferno.
E então eu vejo o meu reflexo. Meu cabelo está uma
confusão de ondas que caem sobre meus ombros, meu
delineador, não corretamente removido antes de dormir, está
agora levemente borrado, dando-me um olhar
descuidadamente sensual. Olho para a mensagem de Dave
em minha mão, enquanto uso a camisa de Robert em meu
corpo. Quem é essa mulher?

Eu não conheço essa mulher, disse ele.

... e eu respondi, eu sei quem ela é, só não sei por onde


ela anda.

Olho para o telefone. O aparelho é a única coisa familiar


para mim agora. Nele estão minhas fotos, os números dos
meus contatos, e-mails antigos, e coisas assim. Está cheio
até a borda com lembranças da vida que estou destruindo. E
a estou destruindo pelo homem cuja camisa ainda está sobre
mim.

O diabo trabalha de formas misteriosas.

Mas eu não posso mais viver nela. Vai me deixar louca.


Então, em vez disso, digito a resposta a Dave.

-Sim, precisamos conversar. Vamos nos encontrar


antes do seu jogo de squash amanhã à noite. No
restaurante ao lado do clube.

Eu aperto enviar e espero, um minuto, depois dois e a


resposta chega:

-Você não precisa sair do seu caminho. Podemos nos


encontrar perto do seu trabalho.

Eu sorrio. Ele acaba de mostrar todas as suas cartas,


ele confirmou todas as minhas suposições. Olho de volta para
o espelho, há uma pequena coisa que reconheço nessa
mulher sorrindo para mim: a sua inteligência.
-Não, vamos nos encontrar antes do seu jogo de
squash. É mais fácil.

Desta vez ele leva apenas alguns segundos para


responder.

-Você está com seu carro? Como vai chegar lá?

Ele colocou o alvo no coração e eu carrego minha arma.

-Tenho alguém que vai me dar uma carona.

Sorrio enquanto envio esta última mensagem, sabendo


exatamente as imagens que estão passando na cabeça de
Dave. Ele me imagina entrando no restaurante na frente de
todos os seus amigos. Imagina Robert Dade ao meu lado, um
homem mais forte, mais bem sucedido, mais bonito, que o
supera em tudo o que importa. Vê-se como um corno,
enquanto me sento à sua frente, a mão de Robert na perna
da mulher que um dia ostentou como sua.

Nesta visão, ele é o único envolto em humilhação.

A Balança da Ameaça.

É uma teoria de um professor de Harvard, muito


respeitado. A ideia é muito simples, é linda.

O comportamento de nações independentes é


determinado pela ameaça de outras nações. As pessoas
perdem a habilidade porque se concentram na palavra
errada, ameaça. Mas as ameaças são finitas. Podem
facilmente desmoronar quando um blefe é descoberto. A
palavra que detém o poder é percebida. Percepção é tudo. Não
tenho nenhum interesse em ameaçar Dave tão abertamente
quanto ele o fez comigo. Quero que as minhas sejam, não
declaradas, mas intrínsecas à minha mensagem. Eu nunca
disse que seria Robert quem me levaria ao clube. Nunca disse
que tentaria mostrá-lo aos seus amigos. Quero que sua
imaginação faça o trabalho porque os demônios interiores
sempre influenciam mais do que os de fora.

Finalmente, ele responde com um texto que cheira a


medo e frustração:

-Não quero encontra-la no clube.

Eu respiro fundo. Nesse ponto eu transformo medo em


pânico.

-Vou estar no clube amanhã às 05:45 p.m. Se não


encontrá-lo, perguntarei a seus amigos aonde você está.
Tenho certeza de que se explicar a situação, eles me
ajudarão. Como você disse, precisamos conversar.

Quando leio sua resposta imagino como ficaria se fosse


escrita à mão. As letras estariam instáveis e desiguais, seu
suor mancharia o papel. O texto diz:

-Vou encontrá-la dentro do restaurante. Vou achar


uma mesa na parte e trás. Por favor, vamos fazer isso em
particular. É sobre nós dois, só nós.

Não repondo a esta última mensagem. Se o fizesse, teria


que explicar seu erro. Não é sobre nós dois, absolutamente.
Trata-se de algo maior. É sobre conceitos e percepções, poder
e sofrimento. É sobre o limite entre justa retaliação e
revanchismo ofensivo. É sobre ganhar e perder.

É sobre guerra.

Sorrio para mim mesma, apago as luzes. Um pequeno


quebra-luz ilumina o suficiente para que eu encontre o
caminho até a porta.

E quando eu a abro, ele está ali diante de mim. A


silhueta escura de Robert, nu e forte, delineada pela
iluminação fraca. Ele olha para a minha mão.

-Um pouco tarde para fazer chamadas, não é?


-Estava checando meu e-mail, - respondo.

-Minha pequena mentirosa sedutora, - diz ele em voz


baixa.

Abro a boca para me defender, mas paro. -Devemos


contar todos os nossos segredos um ao outro?

-Não, eu gosto de um pouco de mistério. - Ele entra no


banheiro, coloca as mãos em meu rosto, segurando-me
calmamente. -Não insisto em saber tudo.

-Que bom que você não insiste, - eu digo, com um pouco


de provocação misturada a uma forte dose de antecipação.
Fecho os olhos e sinto sua mão movimentando-se no meu
cabelo.

-Você ri, mas há coisas nas quais eu insisto. - Abro


meus olhos outra vez. Ainda está tão escuro. Seus detalhes
se perdem, tornando-o um homem misterioso. Levanto minha
mão e contorno seu rosto com os dedos.

-Eu insisto em que você fique segura, - diz ele. Suas


mãos descem para minhas coxas e, em seguida para a curva
do meu bumbum. -Eu insisto em que aqueles que queiram
machucá-la sejam dissuadidos. - Suas mãos continuam
subindo, até a minha cintura. Com um movimento brusco,
ele me levanta e instintivamente envolvo sua cintura com as
pernas. Posso ver seus olhos castanhos brilhando à luz fraca.

-Eu tenho um plano, - digo. -Ninguém vai me machucar.


Sua amante é uma guerreira.

-Você é agora? - ele pergunta. -Talvez a minha guerreira


venha se juntar a mim no chuveiro.

Ele me desce sobre o balcão, desabotoa a camisa que


estou vestindo, despindo-me rapidamente. É quase uma da
manhã. Sexo no chuveiro agora é completamente
impraticável.
Mas agora estamos cavalgando as ondas de nossos
impulsos e, em vez de me afogar, eu nado.

Ele me leva para o box de vidro, liga a água e me puxa


para um beijo. À medida que a água cai sobre nós, sinto sua
mão na parte de baixo das minhas costas e sinto-o crescer
com força contra mim.

Eu me afasto sorrindo. -A guerreira está com fome, -


digo.

E me ajoelho. Beijo o lado de seu quadril, roçando meus


dedos no topo de sua ereção.

-Kasie, - ele geme. Seu pênis se contrai levemente.

-O que, Robert? - eu pergunto. -Você parece impaciente.

Desta vez traço com o indicador a veia que viaja da base


à ponta, movendo o dedo para cima e para baixo, levemente,
zombando tentadoramente.

-Você foi feita para mim, - ele ofega.

-Talvez. Ou talvez seja o contrário.

Mais uma vez ele alcança meu cabelo. Ele puxa um


pouquinho. Ergo meus olhos para ele.

-Kasie, - ele rosna, -agora.

Algo na maneira como ele fala... desencoraja qualquer


argumento, uma autoridade presunçosa.

E isso me faz querer obedecê-lo imediatamente. Envolvo


meus lábios nele, tomo-o totalmente em minha boca, uma
mão na base, enquanto a outra alcança o lugar entre suas
pernas que o faz estremecer. Ouço-o gemer outra vez quando
movo a boca e as mãos simultaneamente, para trás, para
cima e para baixo. Sua pele brilha com a água quente, os
músculos de suas coxas tensas, faço uma pausa longa o
suficiente para traçar a ponta novamente, agora com a
língua, antes de devorá-lo. Tudo está liso e molhado e
totalmente incrível.

Posso sentir que ele está chegando perto de perder o


controle e relutantemente eu o deixo afastar-se. Ele me ergue,
me beija de novo suavemente, antes de me virar com força e
me curvar. Toco o chão, apoiando minhas mãos.

A penetração é tão profunda que eu grito de prazer e


surpresa. Sinto a água escorrendo pelas costas, pelo cabelo
enquanto ele agarra meus cabelos e arremete dentro de mim
de novo e de novo. Mesmo com ele dentro de mim, eu anseio
por ele, e essa ânsia leva-me rapidamente até a borda. O
orgasmo vem tão forte e tão rápido que minhas pernas
tremem com o prazer. Mas Robert me sustenta em seu abraço
enquanto continua a golpear. Eu suspiro, prevendo a sua
liberação iminente, mas, em seguida, ele pára.

-Não, - ofega, -eu quero ver você.

Ele me libera e fico em pé outra vez, equilibrando-me


antes de virar-me para ele.

Robert molhado é uma bela visão. Com uma graça que


não sabia que tinha, levanto uma perna e envolvo-a na sua
cintura, equilibrando-me contra ele.

-Agora, - eu digo.

E imediatamente ele entra em mim outra vez. A corrente


de água quente bate suavemente em nossas peles como se
nos envolvesse em um beijo. Ele se move dentro de mim, uma
das mãos apoiando minha perna e a outra na minha bunda,
meus seios pressionados contra o seu peito. Estamos
interligados, conectados em todos os sentidos possíveis.
Mantenho meus olhos fechados, tudo o que posso fazer é
sentir a água, ele, o êxtase. É um idílio ganancioso e
indulgente e quando ele pressiona dentro de mim, desliza sua
língua contra a minha, eu gemo.

Seu ritmo aumenta. -Minha guerreira, - ele sussurra


misturando sua respiração com a minha.

-Sempre, - eu respondo.

Ele explode enquanto a água nos lava. Naquele


momento, sou a guerreira mais feliz da Terra.
Capítulo 10

Q uando acordo na manhã seguinte, ele está


sentado ao meu lado, olhando para mim.
Lentamente, lembro-me onde eu estou, mais
uma vez vestindo sua camisa. Sinto a pressão suave de seus
dedos no meu quadril, apenas o tecido fino separando nossas
peles.

-Você não tem que ir, - fala baixinho.

Eu não entendo muito bem o que ele quer dizer. Será


que ele está se referindo a um local específico ou está falando
de algo maior, uma declaração sobre nós dois e o que
podemos ser?

Mas ele rapidamente me traz de volta a Terra com uma


declaração preocupante. -Você não precisa trabalhar hoje.
Eles não precisam de você lá. Eu falo com Love, talvez
Freeland...

-Não posso deixa-lo fazer isso, - digo. Ele já sabia o que


eu ia dizer. Posso sentir pelo seu tom de voz, como violinos
tocando leves notas de esperança, mas abafados pelos sons
dos metais pesados da resignação.

-Eu lhe disse ontem à noite, não vou ficar sentado


vendo-o sacrificá-la. Não é assim que eu vivo.

Faço uma pausa para considerar a frase. Não é como ele


vive. Há algo no que ele disse... mas não consigo definir o que
é.
-Eu posso vencer, - digo, deixando esses pensamentos
de lado. -Sou mais forte do que Dave. Mais inteligente,
também. Posso ganhar.

-Não, se você jogar pelas velhas regras.

Remexo-me desconfortavelmente na cama, puxando o


lençol até a cintura. -Você não acredita em regras? - Penso
em minha irmã, lembro-me dela dançando sobre uma mesa,
desfazendo-se das roupas, assim como de tantas convenções
sociais restritivas.

Robert sorri piscando para a janela, por onde entra a luz


nebulosa da manhã. -Há muitos ditados populares sobre
ganhar. Para o vencedor vai a pilhagem, os livros de história
são escritos pelos vencedores, e assim por diante. Mas só há
um benefício verdadeiramente significativo na vitória. Você
sabe, o vencedor faz as regras. Eu acredito em regras, Kasie.
Acredito nelas, porque no meu mundo eu sou o vencedor.
Sou eu quem as cria. No que eu não acredito, é em jogar
pelas regras dos outros.

A arrogância com que ele diz isso é o suficiente para me


acordar. Eu olho melhor para ele. O que significa
verdadeiramente ser um jogador poderoso? Eu não saberia,
nem Dave. Levei um dia e meio para descobrir como sair do
domínio de Dave. Hoje, às 5:45 pm, espero ter essa situação
um pouco mais sob controle. Asha vai ser mais difícil, ela vai
esperar o seu tempo, afiar suas armas, avançar quando eu
estiver menos protegida. Mas Robert Dade é diferente. Ele
domina o mundo de uma forma que não entendo
completamente e me ocorre que, se eu me entregar do jeito
que ele quer, serei dominada também. E o perigo aqui é que,
de Robert eu não poderia escapar.

Eu me perderia.

Como agora, por exemplo. Vejo a maneira como ele olha


para mim. Como um jaguar olha para uma companheira.
Sem emitir um som, ele ruge para mim. Quão fácil seria para
ele conseguir que eu esqueça meus muitos protestos e
reservas? Quão fácil foi fazer-me arriscar tudo por ele?

Há uma alteração no ar. Sua mão se estende para o


lençol e gentilmente ele o puxa de volta. Sou só eu, em sua
camisa, meu cabelo cobrindo o travesseiro. Eu sinto sua
frustração, que é misturada com um forte desejo. É um
coquetel perigoso.

Sento-me, afastando-me dele. -Eu preciso ir para casa e


trocar de roupa. Você vai me levar ou devo chamar um táxi?

Surge uma tensão em nossa relação. Sua boca se


retorce ligeiramente enquanto ele engole instintivamente suas
exigências. -Vou levá-la.

Ele se levanta e sai do quarto. Ele está exercitando o


autocontrole tentando não me controlar. Mas eu me pergunto
quanto tempo isso vai durar.

Uma hora depois, estacionamos no meu quintal da


frente. Meu carro não está aqui. Está estacionado em uma
vaga no prédio onde trabalho. Mas eu não falo sobre esse
inconveniente. Eu não quero correr o risco de que o vejam
levando-me ao trabalho. Vou encontrar um jeito. Assim como
eu encontrei minhas próprias táticas de batalha.

Viro-me no assento, meio hesitante, meio esperançosa. -


Tenho um plano... que eu já coloquei em movimento.

-Tudo bem, - diz ele, acenando com a aprovação antes


de ouvir um único detalhe.

-Eu preciso de sua presença para que ele funcione.


Preciso que você esteja nesse restaurante. - Retiro um dos
meus cartões de visita e rabisco um nome e um endereço
antes de entregá-lo. -Vou encontrar com Dave lá depois do
trabalho.

Seu sorriso se espalha um pouco mais. -Você quer que


eu vá?

-Sim, - eu confirmo, -por volta das seis. Dave e eu já


estaremos sentados lá, então. Eu gostaria que você viesse à
nossa mesa para cumprimentar-nos, e em seguida,
escolhesse uma mesa para si mesmo. Não importa onde.

-Você quer que eu seja discreto, - pergunta ele, há uma


insinuação de humor em sua pergunta. Eu duvido que Robert
já tenha sido discreto em sua vida.

-Não, eu só quero que você esteja por perto, mas em


uma mesa diferente. Não vou demorar. Devo sair dentro de
quinze minutos após sua chegada, sozinha. Eu só preciso que
Dave saiba que você está lá... como segurança. Como uma
ameaça perceptível.

Robert acena com a cabeça, acolhendo a ideia


rapidamente. -Seis horas, eu estarei lá. Mas, Kasie, se ele
levantar a voz para você, eu não vou ficar na minha mesa. Ele
vai ter que lidar comigo. Isso não vai acabar bem para ele.

Hesito. Vindo dos lábios de outro homem, essa a


declaração significaria a possibilidade de uma briga de bar.

Mas não acho que é isso o que Robert quer dizer. Estou
ansiosa para ganhar esta guerra com Dave, mas eu não
quero aniquilá-lo completamente. Quero que ele reconstrua
sua vida, sem mim. É mais fácil para o vencedor quando o
vencido enxerga uma saída.

Mas, se Robert se envolver, se ele lidar com as coisas à


sua maneira, não acho que Dave terá a chance de fazer isso.
Não acredito que Robert lute, com a graça de um cavalheiro,
seguindo as regras civilizadas de combate. Suspeito que ele
lute como uma potência colonial, dizimando aqueles que
detêm o território que ele quer reivindicar. Se eu vencer essa
guerra do meu jeito, Dave vai me perder. Se lutarmos da
maneira de Robert, Dave vai perder tudo.

-Ele não vai levantar a voz para mim, - eu digo com


cuidado. -Se ele o vir lá, será o suficiente.

Robert acena com a cabeça e eu levo sua a mão à boca,


beijando a palma. -Obrigada, - eu digo.

Seus olhos percorrem meu rosto, meu cabelo, meu


pescoço... Sinto um arrepio indesejável de excitação e me
pergunto aonde isso irá me levar. Não tenho tempo para o
romance e ainda assim algo dentro de mim sabe que se ele
insistisse, se ele tentasse me ter bem aqui, no seu carro, em
frente à minha casa, à vista de todos os meus vizinhos e
amigos, eu não poderia recusar, embora parte de mim não
queira isso.

Isso me assusta e ainda assim o pensamento é


excitante. Por que isso? Como posso lutar tão duro pela
liberdade apenas para ser seduzida pelo cativeiro?

-Vá para casa, prepare-se, - diz ele antes de inclinar-se


para frente, beijando suavemente meus lábios. Depois de um
momento ele se afasta. -Te vejo hoje à noite às seis.

Eu o sinto me observando enquanto ando até minha


porta, ouço o carro dele se afastar quando eu entro.

Subo as escadas, minha mente preguiçosamente


voltando às minhas aulas de filosofia na graduação. A citação
favorita do professor era de Lao Tzu: Dominar os outros é
força. Dominar a si mesmo é poder.
Uma pequena parte de mim teme que Robert Dade tenha a
força para tirar o meu poder.
Capítulo 11

A
pós uma rápida corrida de táxi, entro no meu
escritório com confiança renovada, eu tenho
escondido minhas preocupações sobre Robert e
eu, no meu bolso de trás, que quase me esqueci que elas
estão lá. As coisas estão indo do meu jeito, eu escolhi as
minhas armas, selecionei o meu objetivo. Eu tenho um plano.
Estou pronta para o dia.

Minha equipe me enviou todos os seus relatórios


individuais. Bárbara os imprimiu e os deixou na minha mesa.
Vejo que têm trabalhando duro. Seus relatórios são mais
aprofundados e precisos do que antes. Nossa meta é ajudar a
empresa de Robert a ficar numa situação para que seja uma
opção pública e, agora, enquanto eu estudo os números e as
estratégias de suas várias divisões estabelecidas
detalhadamente, posso ver como tudo se encaixa. O truque
do meu trabalho é saber no que se concentrar. Há sempre
mais números do que você precisa, problemas que não
necessitam de uma resposta imediata, outros que exigem
atenção. Mas uma vez que você saiba o que é realmente
importante e o que pode esperar, consegue ver o tipo de visão
que lhe permite bloquear o ruído de fundo e zerar um
instrumento que precisa ser afinado, exatamente assim, seu
trabalho está praticamente feito. Eu vejo isso agora: o plano
de marketing que seria melhor; eu posso visualizar o
caminho.

Eu posso visualizar o caminho. Certamente esse será o


mantra do dia.
Passei a primeira metade do dia, reunindo todos esses
relatórios individuais num único relatório que será submetido
a Robert.

Tom entra no escritório. Como de costume, ele não dá


uma batida na porta ou dá a Bárbara uma chance de
anunciá-lo. Bárbara está atrás dele agora, um olhar de
derrota pesando em suas feições. Como sempre, aceno com a
mão em um gesto indicando que está perdoada e ela nos
deixa, silenciosamente, fechando a porta para que nós
fiquemos sozinhos.

Ele se senta à minha frente, com os olhos arrastando


pela minha roupa. Eu estou vestida de forma mais
conservadora do que normalmente uso. Calça bege feita de
um tecido delicado, blazer recortado de uma cor semelhante,
fechado sobre uma blusa de cetim de um tom metalizado.
Como acessório, um lenço de seda longo que eu,
estrategicamente, envolvi e amarrei em volta do meu pescoço.
Os únicos pedaços de pele que estão sendo exibidos são os
das minhas mãos e rosto. Mas posso dizer que não é isso que
Tom está vendo. Ele está vendo o vestido da noite passada e
tudo o que foi exposto.

Eu olho para a minha mesa, contorcendo-me


ligeiramente na minha cadeira, então me amaldiçoo por fazer
isso. Eu não quero me lembrar daquela tortura.

-O relatório da Maned Wolf está pronto? - Tom pergunta.

Eu olho novamente para ele, surpresa. Esta não é a


pergunta que eu esperava.

-Eu acabei de enviar uma versão final para minha


equipe e para você, e em uma hora a equipe e eu teremos
outra reunião para decidirmos quais partes do plano serão
apresentados e por quem.

-É isso que ele quer?


-Quem? - Eu pergunto confusa. -Rob, eu quero dizer, o
Sr. Dade? É claro que é isso que ele quer. Foi para isso que
ele nos contratou.

Tom ergue a sobrancelha. A pergunta que ele não deve


fazer ecoa nos meus ouvidos. Foi para isso que ele nos
contratou? Ou foi para que ele pudesse reivindicar você?

A pergunta silenciosa me conduz a lembranças rudes,


de declarações feitas.

Prostitutas fazem sexo visando o lucro.

As palavras de Asha. Eu fecho meus olhos e tento retirá-


las da minha cabeça. Eu nem sabia quem ele era quando eu
o conheci. Minhas ações foram erradas, mas meus motivos
foram físicos e emocionais, nunca monetários.

-Será que ele quer que a equipe inteira apresente o


relatório ou só você?

Eu abro os meus olhos. -Eu pensei que nós iríamos


fingir que você não sabe sobre... sobre o meu relacionamento
com o Sr. Dade.

-Sim, bem, eu pensei sobre isso, e se ele me pedir para


fingir, então farei exatamente isso, porque, afinal, tudo isso é
sobre o que ele quer.

-Você está debochando de mim?

Tom inclinou a cabeça para o lado; ele não esperava


essa pergunta. -Por que eu iria debochar de você? Eu gosto
de você e a respeito, embora a minha definição de "respeito"
possa ser diferente da sua. Eu respeito um traficante de
drogas, se ele faz bem o seu trabalho.

-Você não tem moral.

Ele facilmente deu de ombros diante da acusação. -


Olha, Robert é o maior cliente que temos. Quero tanto os
projetos da empresa Maned Wolf, quanto o seu dinheiro, que
o nosso departamento for capaz de conseguir. Eu sei que eu
preciso de você para isso, mas eu também preciso de você
para mantê-lo feliz.

-Você está seriamente sugerindo que eu tenho que


transar com ele? - Eu atiro, a obscenidade chega aos meus
lábios com um pouco mais de facilidade.

Ele ri. -Claro que não. Isso seria... qual é a palavra que
você gosta de usar? - Ele estala os dedos algumas vezes como
se estivesse tentando se lembrar. -Ah, sim, imoral. Não, eu
não estou dizendo que você tem que transar com ele. Eu
estou dizendo que você tem que continuar transando com ele.

-Você está delirando.

-Do que você está falando? - Ele agita a cabeça, seu


sorriso oscilando. -Eu apenas estou lhe pedindo para fazer o
que você quer fazer.

-E eu farei o que eu quero fazer, - eu digo simplesmente.


-Mas você não tem o direito de esperar isso de mim.

-Sério? - Ele se inclina para frente. Eu ouço o meu


celular tocando na minha bolsa, mas o ignoro.

-Diga-me, Kasie, você gosta do seu trabalho?

Eu não respondo. Ele sabe muito bem a resposta.

-Você acha que é justo que eu espere que você faça o


seu trabalho?

-Isso é diferente, - eu digo, vendo a armadilha.

-É mesmo? - Sua postura está relaxada, ele está seguro


de sua posição. -Você gosta do seu trabalho e eu espero que
você o faça. Você gosta de transar com o seu cliente? Espero
que continue assim, também. E sim, pode haver aspectos de
seu trabalho e sobre o seu caso que você pensa que estão
abaixo de você. Tarefas que você considera humilhantes. Faz
parte da natureza da coisa. Trabalhe nisto.

Há um ligeiro pensamento que muda o meu humor para


uma nova direção. Tom deveria ser meu aliado, mas se ele
está mudando de lado, estou preparada para tirar o seu
sangue. -Não foi você que salientou o que podia acontecer se
o Sr. Freeland descobrisse sobre o Sr. Dade e eu? - Eu
pergunto. -Dave sabe, Tom. Você sabe disso melhor do que
ninguém. Você deveria estar me incentivando a encontrar
uma saída honrosa para o caso para que todos possamos sair
disto ilesos.

-Kasie, eu vou sair disso ileso, seja como for. Se você for
demitida, isso será péssimo para mim. Realmente ruim. Você
é uma consultora incrível, a melhor analista que eu tenho. Há
uma chance de que eu ganhe uma promoção no próximo ano
e se consegui-la, você vai ser parcialmente responsável e,
provavelmente, vai ficar com o meu trabalho. Mas nos
impérios existem ascensões e quedas. Reis e rainhas são
derrubados e substituídos por outros, aqueles que usam
títulos diferentes, usam diferentes coroas, mas são tão
implacáveis quanto seus antecessores. Nós somos todos
substituíveis, no final.

No corredor ouço alguém rindo, um zumbido de


atividade. -Você está ameaçando meu emprego? - Eu lhe
pergunto.

-Não seja ridícula. - Os olhos de Tom preguiçosamente


viajam pela sala. -Meu único objetivo é manter a conta.
Tenho certeza de que o Sr. Dade lhe disse que ele falou
comigo ontem à noite.

-Ele disse.

-Ele vai cuidar de Dave Freeland, - ele diz, enquanto


finalmente volta a sua atenção para mim. -E se Freeland tiver
problema com os termos do Sr. Dade, bem, ele é apenas o co-
fundador, afinal. O Sr. Dade vai colocar a pressão correta
sobre as pessoas certas. Você vai manter o seu emprego,
enquanto mantivermos essa conta, e isso significa,
definitivamente, que é mais do seu interesse mantê-lo feliz.

Meus dedos deslizam sobre a superfície da minha mesa.


Para mim isso tem tanta importância quanto qualquer trono.
Eu conquistei o meu lugar aqui. Dave me deu a entrevista,
não o trabalho. Eu mereço ter a atribuição que me foi dada
por Robert, mesmo que ele não soubesse disso na época em
que ele me deu. -O Sr. Dade e eu conversamos sobre isso, -
eu explico. -Ele não vai cuidar de ninguém. Eu vou. Esta é
minha luta e eu vou lutar sozinha.

A expressão de Tom não se altera, seu rosto não se


move. O único indício de frustração está na maneira como ele
aperta o braço da cadeira, firme o suficiente para fazer com
que as pontas dos dedos fiquem brancas. -Essa não é uma
escolha sensata, Kasie.

-É a escolha que eu fiz. Eu tenho um encontro com Dave


esta noite. Até amanhã ele não vai mais ser um problema.
Freeland nunca terá motivos para me atacar. Estará
terminado.

-E se as coisas não saírem do seu jeito?

Eu aperto os meus lábios numa linha fina de revolta. Eu


não aceitarei essa hipótese.

-Ah, não há plano B? Bem, então vamos usar o meu: se


você não conseguir ter controle sob isso, vamos deixar o Sr.
Dade lidar com isso.

-Como? Dizendo ao conselho de administração que eles


precisam me manter até que ele se canse de mim?

-Se for necessário. Mas não se preocupe, Kasie. Eu


receio que nenhum homem jamais se cansará de você.
-Eu não posso acreditar nisso, - eu resmungo.

-Sério? - Ele franze a testa. -Você é a única que faz essa


bola rolar. E é uma boa bola. Nós todos vamos ficar muito
mais ricos por causa de seus talentos... Todos os seus
talentos.

Mais uma vez eu não respondo e Tom suspira. -Olhe, -


diz ele, com a voz irritada, quase furiosa: -Eu realmente não
me importo como isso será feito, contanto que seja.
Convenhamos que, se você está lidando com isso sozinha, é
porque o Sr. Dade está lhe permitindo isso. Esse homem dá
todas as cartas. O que me traz de volta à minha pergunta
original. Será que ele quer que a equipe inteira faça a
apresentação, ou talvez ele queira que você lhe dê os detalhes
íntimos, pessoalmente? Porque eu juro por Deus, Kasie, se
você tiver que colocar um biquíni em tons pastéis para lhe
dar esse relatório, enquanto esfrega sua bunda contra o
mastro dele, para podermos manter esse negócio, então é
melhor você ter o aval da empresa e ter lido o livro de
Frederik de Hollywood8.

-Saia do meu escritório.

-Não.

Eu me inclino para trás na minha cadeira. -Você quer


manter o Sr. Dade feliz, certo? O quão feliz você acha que ele
vai ficar se eu lhe disser que você está me assediando?

E agora um sorriso está de volta. -Essa é a minha


garota. Agora você está pensando como a empresária
implacável que eu conheço e amo. - Ele se levanta. -Para que
conste, eu não quero incomodá-la. Eu quero você feliz,
saudável e disponível... para o Sr. Dade. Vou manter contato

8
Frederick Fell Publishers, Inc Segundo a Wikipedia, trata-se de uma editora independente americana
especializada em livros de autoajuda para negócios, entretenimento, filhos, saúde e cozinha. Um protesto contra
um livro assustou em 1952, quando o fundador recebeu uma bomba relógio dentro de um pacote no seu escritório.
com ele também, mas você sempre será o principal ponto de
contato...

-Isso deveria ser um trocadilho? - Eu atiro.

Tom pisca, surpreso e então ri, uma risada


completamente jovial, como um Papai Noel pervertido.

-Caramba, como você está paranóica nestes dias! - ele


exclama uma vez que voltou ao normal. -Mas é bom. Ponto de
contato... estou certo de que o Sr. Dade ficará muito satisfeito
com você. - Ele balança a cabeça enquanto se vira para sair,
inexplicavelmente bem-humorado.

-Você sabe, você acha que nós dois somos parecidos,


mas não somos.

Tom se vira e espera que eu continue.

-Eu cometi um erro. Eu me envolvi com alguém quando


eu já estava envolvida com outra pessoa. Foi errado.

-E eu já lhe disse que eu não critico você.

-Mas você deveria, - eu digo. -A única razão de você não


fazer isso é porque você não tem decência. Não tem nenhuma
noção do certo e do errado. Você é um narcisista mulherengo
que provavelmente compra seu romance no Craigslist9. Eu
estraguei tudo. Você estragou tudo.

Tom espera um segundo. Ele teria uma expressão


perfeitamente impassível se não fosse pela pressão na
mandíbula. Mas, então, ele encolhe os ombros com
naturalidade forçada. -Vou ligar para o Sr. Dade e descobrir
como ele quer que o relatório seja entregue, - diz ele, quando
ele chega até a porta.

9
A Craigslist é uma rede de comunidades online centralizadas que disponibiliza anúncios gratuitos aos
usuários. São anúncios de diversos tipos, desde ofertas de empregos até conteúdo erótico. O site da
Craigslist também possui fóruns sobre diversos assuntos.
-Tom! - eu digo. Ele pára e se vira para mim. -Você não
precisa ligar para ele. Eu segurei a conta dele
maravilhosamente bem, até agora. Todos os executivos da
Maned Wolf confiam em mim. Não prejudique toda a equipe
interferindo nisso. - Eu cruzo meus braços sobre os seios
propositadamente para demonstrar minha teimosia. Acho que
vejo um brilho nos olhos de Tom, mas eu não sei o que
significa.

Finalmente, ele acena com a cabeça. -Muito bem, faça


as coisas à sua maneira. Como eu disse, apenas mantenha-o
feliz. Se eu souber por ele que você não está, haverá
problemas. Não só da minha parte, mas dos superiores. -
Percebo que o sorriso de Tom está mais difícil agora. Eu
marquei um ponto com o meu desabafo.

-Você realmente deveria parar de cruzar os braços na


frente dos seus seios assim, - acrescenta.

-O que você disse?

-Isso me faz lembrar quando você cruzou os braços na


cozinha de Dave. Você se lembra disso, não é? Quando você
estava tentando esconder o quão duro seus mamilos
estavam, mas, em seguida, o gesto acidentalmente me deu
um vislumbre do seu... ponto de contato.

Eu sinto meu rosto arder. Eu entendo o que ele está


fazendo. Ele está com raiva. Ele quer que eu seja consciente,
menos honrada.

Mas ele também não quer perder mais do seu tempo.


Sem outra palavra, ele se vira e sai.

Eu volto a me sentar, para tentar relembrar os últimos


minutos da conversa. Tom está errado. Robert não tem todas
as cartas na mão, e, sim, eu vou lidar com Dave depois do
trabalho.
Mas, agora, Dave é apenas mais um dos muitos
inimigos. A guerra encoraja os terroristas, e apesar da
confiança que eu sentia esta manhã, eu ainda não tenho
armas suficientes no meu arsenal para lutar com todos.
Capítulo 12

O
dia se arrastou. A ligação que eu perdi
enquanto conversava com Tom era de
Simone. Diante do meu silêncio recente, ela
deve ter percebido que algo estava errado. Eu lhe envio uma
mensagem prometendo ligar para ela amanhã. Eu não posso
falar com ela agora, enquanto eu ainda estou me
recuperando da audácia de Tom. Eu chego à minha reunião
com a equipe. Mais uma vez Asha está com o seu melhor
comportamento. Ela não ganharia nada em me contrariar
assim, prefere esperar pelo seu momento. Será que ele virá
em breve? Será que ela encontrará um ângulo que funcione?

Mas esses pensamentos são tão inúteis quanto um


chapéu de palha debaixo de uma tempestade. Eu estou na
chuva, eu vou ficar molhada, então para que serve pensar
sobre sol?

Eu sobrevivo ao dia e chego ao restaurante, detectando


imediatamente Dave numa mesa na parte de trás. Eu vejo
que ele pediu taças de vinho branco e uma lula de entrada.
Nós provavelmente vamos beber o primeiro e ignorar o
último.

Eu vejo também que ele está preocupado, enviando


olhares furtivos para os lados, como se esperasse que uma
emboscada entrasse pela janela ao invés da entrada
principal. Ele me reconhece com um aceno tímido quando eu
me sento na frente dele e me ofereçe um sorriso quase
agradecido.
-Você está sozinha! - diz ele. Seu alívio dispara dele,
como o vapor de uma chaleira.

-Por ora. - Eu tomo um gole do meu vinho. É seco, com


notas citricas. Dave parece um pouco desconfortável.

-Eu fui longe demais na noite passada, - ele gagueja. -


Eu exagerei.

As palavras me soam familiares. Há pouco tempo atrás


eu tentei ser um pouco mais agressiva com Dave,
sexualmente falando. Eu tinha me comportado de forma
espontânea, montando sobre ele, enquanto ele terminava o
seu vinho; pedi-lhe para me tomar com palavras muito mais
grosseiras que as seduções suaves que ele aprovava. Ele se
recusou. Rejeitou-me completamente.

Então, ele pediu desculpas no dia seguinte. Ele me disse


que tinha exagerado, porque o meu comportamento era
completamente desajustado. Ele não queria que eu mudasse.

Agora eu vejo o absurdo dessa explicação. Tudo muda.


Tudo. E, realmente, tudo o que eu fiz foi tentar ser compatível
na cama. Se isso não for uma mudança em que podemos
acreditar, então o que diabos é isso?

Mas havia algo de sinistro nisso, também. Ele saiu


quando eu abertamente tentava seduzi-lo. Afastou-se no
momento em que tentei propor uma nova ideia, como jogos
divertidos e inconsequentes. Dave sempre tentou me
controlar.

Essa sua natureza controladora tinha sido o que tinha


me atraído nele. Eu tinha medo da liberdade, medo dos meus
próprios impulsos.

Eu mudei.

-Kasie, você está me ouvindo? Eu fui longe demais.


-Eu o ouvi, - eu digo suavemente. Na mesa de canto há
uma mulher sentada sozinha, rindo. Levo um momento para
identificar o telefone celular que ela tem contra sua orelha.

Os gestos de Dave levam minha atenção em direção a


outra mesa, uma mais perto da entrada. Três homens que
parecem interessados nas suas bebidas. -Eles são membros
do meu clube, - diz ele. -Eu preferia não fazer uma cena aqui.

-Você prefere? - Eu pergunto. -Eu não vim aqui para


fazer uma cena, mas eu acho interessante que você pense
que me importo com o que você prefere.

Seus olhos se voltam novamente para mim. -Você me


traiu. Você me chifrou. Eu dei tudo para você. Eu lhe dei um
trabalho...

-Você me conseguiu uma entrevista.

-O que foi mais do que você conseguiria sozinha! Eu lhe


comprei rosas brancas, eu lhe dei esse rubi que você ainda
usa em seu dedo! Eu valorizei você!

Eu balanço a minha cabeça. Sons veem da cozinha, um


carro buzina lá fora. -Você nunca me valorizou. Você me
idealizava.

-Do que você está falando? - Ele rosna. -Você está


louca? Isso é um jogo para você?

-Não, isso é uma guerra. Eu reconheço a carnificina.

-Eu vou contar para Dylan.

Eu sorrio. No fim ele é apenas uma criança correndo


para os mais velhos para fofocar. Eu olho em direção da
entrada... e lá está ele. Robert. Ele está falando com a
recepcionista, mas olhando para mim.

-Eu não acho que seria uma boa ideia, - eu disse


lentamente. - Dizer-lhe.
-Eu aposto que você não acha! - Dave zomba. -Você
achou que poderia escapar... - Sua voz falha, porque ele vê
Robert, também, enquanto ele caminha na nossa direção. É
impossível não sentir sua chegada. Robert tem esse tipo de
presença. Ele chega até a mesa, com os olhos grudados em
Dave.

-Então você é o homem que está prestes a perder, - diz


ele.

Estremeço com as suas palavras. Eu não me importo de


confrontar Dave, mas eu me ofendo com a ideia de que outra
pessoa o faça em meu nome. Eu não tinha me importado
tanto na noite passada quando Tom me ajudou, mas porque
aquela situação era mais urgente. Aqui na segurança do
restaurante, a limitação seria satisfatória.

Dave abre a boca para falar, mas em vez de uma fala


inteligível, ele libera uma série de pedaços, -Você deve ser...
por quê... quando fiz...

Robert o observa com uma atitude confusa, antes de


colocar uma mão suavemente no meu ombro. -Eu vou estar
naquela mesa ali. - Ele aponta para uma mesa vazia no
centro da sala. É um local que lhe dará uma visão perfeita de
todo o restaurante e vice-versa. -Tudo que você precisará
fazer é acenar, - diz ele, olhando para mim antes e pedindo
licença com um aceno.

O rosto de Dave estava vermelho. Ele mexe no garfo à


sua frente, batendo levemente contra a mesa, como se
testasse a facilidade que ele tem de espetar.

-Você me trouxe aqui para me humilhar, - ele sussurra.

-Você me ensinou muito bem.

Seu olhar mal-humorado está fixo na mesa; a batida do


garfo com um pouco mais de força. É o metrônomo que define
o tom do nosso encontro.
-Não precisa ser assim, - eu digo. -Nós podemos
simplesmente parar de nos machucar. Podemos fazer uma
trégua, reconstruir nossas vidas, nós podemos seguir em
frente.

-Separadamente, - diz ele.

Eu não posso dizer se é uma pergunta ou uma


afirmação. De qualquer maneira, eu confirmo com um aceno
de cabeça.

-Eu preciso de você, - diz ele. Novamente seu olhar


percorrendo ao redor da sala, levemente pousando sobre a
mulher com o cabelo tingido antes de se lançar para o
homem vestindo roupas caras e tatuagens, depois para a
mulher que ainda ria sozinha e, por último em Robert Dade. -
Eu não gosto dessa cidade, - continua ele, com a voz
vibrando de emoção. -É de mau gosto, descarada, ela...

-Ela assusta você, - eu termino por ele.

-Eu não disse isso, - ele rosna.

-Não, você não disse, não com tantas palavras. Mas você
me disse de mil maneiras diferentes. - Ele me encara, mas me
permito continuar. -Você é de um mundo onde as boas
maneiras são mais silenciosas, - eu digo. -Onde o
tradicionalismo ainda significa alguma coisa e a modéstia é
um atributo e não um obstáculo. Você veio para Los Angeles
devido a uma oferta de emprego. Você chegou a pensar que
poderia lidar com o brilho de Hollywood, as vívidas
diversidades, as mulheres agressivas, e os homens
presunçosos, mas você não consegue lidar com nada disso,
não é?

Dave se remexe no seu assento, o garfo continua sua


vibração. Eu me inclino para frente, determinada a ser
ouvida. -Então você tentou controlar a sua pequena parte da
cidade, - eu digo. -Você conseguiu isso, se unindo a clubes
que desdenham daqueles que não se encaixam na sua velha
escola, que não se preocupa com os problemas mundanos.
Você encontrou uma casa num bairro onde a única
diversidade que pode haver é entre as diferentes marcas de
carros de luxo. Você manteve sua casa gritante ao ponto da
austeridade, como se para compensar a selvageria da cidade
e você me escolheu porque eu tinha a aparência certa, os
gestos certos, e a educação... e porque eu deixei você me
controlar. Você me disse quem você queria que eu fosse e eu
me encaixei no seu modelo e fiquei assim durante anos.

Ele olha para mim agora; ele está suplicando por mim,
sem dizer uma palavra.

-Eu não posso mais fazer isso, Dave. Eu mudei. Você


pode me punir por isso, se quiser, mas isso não vai fazer
nenhum bem. Na melhor das hipóteses você vai se
envergonhar; na pior, você vai se tornar motivo de piada. De
qualquer forma, vamos terminar. Já não sou mais adequada
para viver dentro desse canto do mundo.

A mulher rindo finalmente desliga o telefone, e só assim,


seu sorriso desaparece.

-Você está me segurando por medo, não por amor, - eu


finalmente acrescento. -Mas, infelizmente, essa relação nunca
irá fazer você se sentir seguro novamente.

Dave deixa o garfo cair de volta sobre a mesa, mas ele


mantém o seu silêncio. Concordo com a cabeça, sabendo que
ele está me dando a sua resposta. Ele não vai até Freeland,
ele não vai lutar mais. Esta batalha terminou. Ele está me
deixando ir.

Discretamente eu tiro o rubi do meu dedo e o empurro


na sua direção. Tenho muito cuidado com isso. Eu não quero
que mais ninguém note. Ele franze o rosto com raiva para a
joia.
-Eu odeio este anel, - ele resmunga. -Eu o odiei quando
você o escolheu e eu odeio isso ainda mais agora.

-Claro que sim, - eu digo, não há nenhum julgamento


na minha voz. -Você queria uma mulher que se sentisse
confortável com a fácil transparência dos diamantes, e não
com a paixão imperfeita dos rubis.

-Falhas, - diz ele. -Isso é o que o joalheiro chama de


imperfeições num rubi. Eu não entendo isso. Por que você
daria um nome tão bonito para uma imperfeição?

Eu sorrio e suspiro. -Eu sei que você não vê a beleza


nisso. É por isso que nós somos inadequados um para o
outro.

Eu olho para as minhas mãos, já sem o adorno. -Eu


lamento por tê-lo magoado. Não deveria ter tido um caso,
para encontrar a mim mesma. Eu deveria ter descoberto isso
tudo sozinha. Eu deveria ter sido mais forte. Eu estou muito,
muito pesarosa que você teve que sofrer pela minha fraqueza.

Dave concorda bruscamente com a cabeça. -Vocês vão


sair juntos? - Ele pergunta.

Eu olho para a mesa de Robert. -Não. Ele vai sair


poucos minutos depois de mim. Se você preferir, você e eu
podemos sair juntos, para manter as aparências.

Ele se anima um pouco com isso. É a primeira coisa que


eu disse durante todo esse encontro que faz com que ele fique
confortável.

Ele pede a conta e eu retiro meu celular para enviar


uma mensagem para Robert.

Eu vou sair com Dave, mas depois vamos nos


separar, permanentemente. Tudo foi resolvido. Não há
necessidade de me seguir.
Eu vejo quando Robert olha para baixo no seu telefone,
enquanto a garçonete lhe traz uma xícara de café. Ele lê
enquanto bebe, sem se incomodar de colocar qualquer creme
ou açúcar. Ele o toma puro. Eu não sabia disso.

É engraçado, mas isso me incomoda. Que outros


pequenos detalhes eu ainda não sei sobre o homem que
redefiniu a minha vida?

Sua resposta é rápida e sem rodeios.

Você não deve ficar sozinha com ele. Eu vou segui-


la.

É a resposta que eu tinha previsto, mas eu esperava


mais.

Está tudo bem. Ele e eu combinamos de parar de


nos ferir. Eu preciso que você confie em mim, quando
digo isso.

Eu pressiono enviar quando Dave dá a garçonete seu


cartão de crédito.

Eu posso ver o cenho franzido de Robert quando ele lê


isso. Por um momento eu questiono a sabedoria de usá-lo
como minha "ameaça oculta." É um pouco como usar um
leão da montanha como um cão de guarda. Você não tem
nenhum controle realmente sobre quem e quando ele vai
atacar.

Mas Robert encontra os meus olhos através da sala e me


dá um aceno rígido antes de me enviar outro texto.

Se eu não tiver notícias suas em cinco minutos eu


vou atrás de você.

É engraçado porque eu sei que o seu interesse é me


proteger, mas a mensagem faz com que eu sinta como se eu
estivesse na mira dele.
Coloco o meu celular de volta na minha bolsa e sorrio
para Dave. -Vamos.

Ele fica em pé primeiro, está educadamente esperando,


enquanto eu me levanto. Saímos lado a lado, passamos pelo
homem tatuado e pela mulher de cabelos tingidos e, também
Robert, nós só paramos brevemente à mesa dos comerciantes
que cumprimentam Dave calorosamente, e a mim com a
cortesia necessária.

Lá fora caminhamos até o quarteirão onde estou


estacionada. Meu anel no seu bolso e as chaves estão na
minha mão.

Quando chego até o meu carro eu digo para ele. -Nós


temos coisas nas nossas casas. Devo levá-las para a sua casa
e pegar as minhas coisas ou vice-versa, ou...

-Eu vou levar suas coisas para você e pegar as minhas, -


ele me interrompe. -Se estiver tudo bem, eu vou fazer isso
quando você estiver no trabalho; deverá ser na segunda-feira
à tarde. Vou lhe enviar a chave reserva que você me deu, ou...

-Você pode simplesmente deixar a chave debaixo


daquela planta...

-O vaso de planta que fica na entrada da cozinha...

-Sim, aquele que eu comprei no ano passado em


Boething.

-Eu me lembro.

Nós paramos. Ele enfia suas mãos nos bolsos, direciona


sua atenção para os carros que passam. Despedidas nunca
são elegantes. Há sempre coisas a serem ditas, pequenas
lembranças que precisam ser deixadas de lado, encontrar um
jeito de descartá-las. Afinal, aquilo que deveria ser muito
fácil, era sempre mais dificil.
-Eu acho que eu deveria ir, então, - eu digo baixinho.

Ele balança a cabeça, vira para trás mas depois pára. -


Eu tive um caso, também.

Eu deixo cair as minhas chaves. Confusão seguida por


uma nova sensação de indignação. Toda aquela ira que ele
tinha jogado em mim e ele também era culpado? Ele estava
brincando comigo?

Quando ele se vira para mim, espero ver um homem


triunfante que nocauteou alguém, mas eu só vejo sua
tristeza.

-Anos atrás, e durou apenas um mês. Ela era uma


estudante da faculdade fazendo um estágio na minha
empresa. Você andava um pouco mal-humorada. Quando
estávamos juntos, você parecia... Eu acho que melancólica é
uma boa palavra para isso. Eu achei que estava perdendo
você. E então essa jovem ambiciosa, com cabelos escuros e
olhos claros... assim como você, vem para a minha empresa,
cheia de ideais, olhando para mim com admiração... Eu fui
fraco porque eu achava que estava perdendo você.

-Mas quando... - Minha voz some quando uma


lembrança se insinua na minha frente. -Nós só estávamos
namorando a um ano...

-Sim, você se lembra daquela vez, há cinco anos. Você


estava trabalhando há alguns meses e, de repente, você se
afastou de mim. Tentei alcançá-la com romance, pequenos
gestos de carinho, mas você não correspondia e eu fui muito
covarde para enfrentar o problema de frente.

Muito covarde. Bem, isso era uma coisa que Dave e eu


tínhamos em comum. Com exceção... -Você foi falar comigo
sobre isso. Estávamos na minha casa, terminando uma
garrafa de vinho e você me perguntou se eu estava perdendo
o interesse. Você perguntou se você estava me fazendo infeliz.
-E você começou a chorar. Essa foi a primeira vez que
você me contou sobre a sua irmã.

-Era o décimo aniversário de sua morte.

Um pássaro passou voando levemente na calçada pelos


nossos pés, catando algumas migalhas de bolachas que
alguém tinha deixado cair. -Foi quando você rompeu o caso
com ela?

Novamente ele concorda. O pássaro continua a se


alimentar. -Eu soube quando eu ouvi a história de sua irmã
que você era a mulher perfeita para mim.

-Como assim? - Mais uma vez a indignação invadiu o


meu rosto.

-Você dizia que eu estava com medo, Kasie? Bem, você


estava apavorada. Você estava apavorada com a ideia de estar
descontrolada, tanto assim que, sim, você me deixou impor
mais regras para nós, você me permitiu exercer um monte de
controle. Se você sentia algum impulso de rebeldia, você
esmagava isso tudo com a intenção de não ser como Melody.

-Você se aproveitou da minha tragédia.

-Porque você queria que eu fizesse isso.

O pássaro, satisfeito agora com o seu lanche, voou para


encontrar o próximo curso. Dave olha para baixo, para as
migalhas restantes e as arrasta com seus pés. -Eu sabia que
estávamos em apuros quando você insistiu com um rubi ao
invés de um diamante.

-É uma coisa pequena.

-Foi o suficiente para me deixar saber que a corrente


havia mudado. - Ele se abaixa para pegar minhas chaves. Eu
tinha me esquecido delas. -Eu acho que você não está mais
com medo, não é?
-Eu não diria isso, - eu digo, enquanto eu pego as
chaves de suas mãos.

-Bem, pelo menos você não está sozinha. - Ele faz uma
pausa antes de acrescentar: -Essa mulher com a qual eu lhe
traí, está casada agora, com outro cara que trabalhava na
minha empresa. Duvido que ela já tenha contado a ele sobre
mim. Eu não a vejo hà anos, mas seu marido e eu
frequentamos os mesmos círculos. Eu ouço coisas. Eles têm
um bebê agora. Aparentemente, ela decidiu que uma carreira
jurídica não é a sua praia. Muito feia e agressiva. Agora ela
está fazendo carreira na escola dominical da sua igreja ou
algo assim.

-Parece que ela teria sido perfeita para você.

-Sim, talvez ela tivesse sido. - Ele olha nos meus olhos.
Sua tristeza está misturada com um pouco de raiva e talvez
algumas doses de arrependimento. -Eu escolhi a mulher
errada.

Eu ainda estou fora do meu carro e vejo quando ele vai


embora, não para o clube, mas para algum outro destino. Eu
nunca vou saber para onde. As pequenas minúcias do dia a
dia da sua vida estão fora dos meus limites. Ele vai se tornar
um estranho.

Talvez ele sempre tenha sido.

Eu viro a minha cabeça, não querendo ver o momento


em que ele desaparece.
Capítulo 13

E
u tinha apenas aberto a porta do carro,
quando ouvi ele chamar meu nome. Eu
me virei para ver Robert caminhando na
minha direção. -Onde ele está? - pergunta ele, sua voz é
constante, mas eu posso ouvir a corrente de agressão.

-Ele foi embora. Como eu disse no texto, acabou.

Ele estuda meu rosto, em seguida, olha em volta para


ver se ele pode ver Dave. -Ele não vai desistir tão facilmente.

-Nada disso foi fácil, - eu digo.

-Ele vai falar com Freeland. Ele é mesquinho assim.


Você apenas tem que olhar para ele, para perceber.

-Mesquinho, é a palavra errada, - eu digo, mas não


posso pensar em outra descrição. A única palavra que me
vem à mente é perdido. -Ele não vai falar com Freeland.

-Por que não?

-Porque ele é como o resto de nós, guiado por interesses


próprios. Não tem mais nada para ele. O melhor é
simplesmente ir embora.

Robert balança a cabeça, incapaz de acreditar que


qualquer homem aceitaria a derrota tão prontamente. O
vento sopra, fazendo os galhos das árvores farfalharem acima
de nossas cabeças, derrubando as folhas entre nós.

Robert olha para baixo e levanta minha mão esquerda. -


Ele pegou sua aliança de rubi?
-Eu dei a ele.

Um flash de aprovação, talvez até mesmo alívio, passa


por seus olhos. -Vamos para minha casa. Nós vamos pedir
comida chinesa e conversar. Eu sei que você quer confiar
nele, mas temos que estar preparados.

Uma folha seca cai no meu sapato. A árvore não precisa


dela. Tem muitas outras folhas mais verdes e mais saudáveis
para enfeitar seus ramos. Esta folha aqui está morta. Ela
deve ter morrido no galho, bem antes de cair.

Mas eu me pergunto se a árvore vai sentir sua falta de


qualquer maneira.

-Eu acho que eu gostaria de passar a noite na minha


casa, - eu digo.

-Tudo bem, eu nunca estive em sua casa...

-Não, Robert, quero ficar sozinha.

Por um momento, eu posso ver a sua confiança


desaparecer, ele pensou que meus dias de afastá-lo estavam
acabados. Talvez seja, mas hoje eu preciso chorar por um
relacionamento que morreu no galho.

Eu coloco minha mão em seu braço. -Segunda-feira eu


vou até você, ou você pode vir a mim, se quiser. Mas eu estou
cansada, Robert, de muitas maneiras. Você precisa me dar
alguns dias para recuperar-me.

Ele acena com a cabeça, compreendendo. -Meu carro


está no estacionamento na próxima quadra. Caminhe comigo
até lá, há algo que eu quero lhe dar.

Concordo com a cabeça e caminho ao seu lado. Em


algum momento, ele pega a minha mão, esfrega o polegar
para trás e para frente sobre o meu dedo anelar nu. É uma
sensação estranha, de mãos dadas em público assim. Na
verdade, ainda parece errado.

Mas quanto tempo eu passei fantasiando sobre estar em


um relacionamento com este homem? Velejar para longe com
ele, escalar as pirâmides maias, fazer amor no chão do
Museu... em minha mente Robert e eu temos sido um casal
por algum tempo.

E ainda assim eu nunca imaginei-nos descendo uma


rua de Los Angeles de mãos dadas.

-Asha foi um problema hoje? - ele perguntou.

-Não, não Asha. Hoje foi Tom quem me tratou como uma
prostituta.

As palavras saíram rapidamente dos meus lábios antes


que minha mente tivesse tempo para envolver-se, antes que
ela pudesse me lembrar com quem eu estava falando.

-Tom... Love? O que ele fez?

Esta é uma história que precisa ser significativamente


diluída para Robert. Eu não sei por que, mas eu sinto que
seria melhor se eu parecesse imperturbável. Infelizmente, não
posso reprimir um arrepio quando me lembro da situação. -
Ele está apenas sendo Tom, isso é tudo. Agora que ele tem a
confirmação sobre a natureza da nossa relação, ele... - Minha
voz falha quando eu tento pensar na melhor maneira de
resumir tudo.

-Ele o quê?

-Não é um grande negócio, - eu disse rapidamente. -Só


vai levar algum tempo para lembrá-lo de que a minha vida
pessoal não é nenhum de seus negócios. Eu posso lidar com
isso.
O aperto de Robert na minha mão, fica mais forte, mas
ele não diz nada. A falta de resposta verbal é, provavelmente,
a melhor resposta que posso esperar.

Chegamos ao estacionamento e eu deixo sair um riso


cético. -Este é o lugar onde você estacionou seu Alfa Romeo
8C Spider? - O local é um pouco caído. Carros estão
estacionados praticamente grudados, e o vento espalha
pedaços de lixo pelo chão. Luxo não é uma palavra aplicada
aqui.

-Eu dei ao atendente algum extra para cuidar dele para


mim, - diz Robert e faz gestos até o final do estacionamento,
onde apenas um carro está estacionado.

Eu tento especular sobre quanto "um extra" equivale,


mas me pergunto se isso é necessário. Há algo intimidante
sobre Robert, mesmo quando ele não está tentando ser. Eu
não posso imaginar alguém tentando testá-lo, estragando seu
carro de $ 300.000 dólares.

Ele se aproxima e abre o porta-malas, e puxa uma caixa


que é aproximadamente do tamanho de uma caixa de
chapéu. Ele pega um par de camisas, pondera sobre as duas,
antes de me entregar uma. -Durma nesta até eu ver você
novamente, - diz ele. Ele lança um olhar fugaz para o sol se
pondo. -Coloque-a assim que você chegar em casa. Use
apenas a camisa, nada mais. Pense em mim.

Eu pego a camisa, levanto-a para o meu nariz. Cheira


um pouco de sua colônia. Eu sorrio concordando. Eu vou
dormir com ela, e pensar nele nunca foi um problema.

Ele abre a porta do passageiro para mim e me diz que


vai me levar de volta para o meu carro. Eu começo a
protestar, dizendo-lhe que eu prefiro andar, mas ele insiste e
eu concordo facilmente.
Quando ele liga o motor eu percebo que quando se trata
de Robert, eu cedo facilmente com bastante frequência.

Quando eu finalmente chego em casa, a sinto


estranhamente vazia. Eu vivo sozinha desde a faculdade, mas
antes de tudo isso, eu era capaz de preencher o espaço vazio
com os planos e expectativas. Na mesa de café estão revistas
de viagens para ajudar Dave e eu a planejar nossas próximas
férias. Na prateleira de vinhos está a garrafa de Merlot caro
que eu planejava levar para a festa de aniversário de um dos
colegas de trabalho de Dave. No andar de cima um calendário
aonde consta a cada dia, anotações em detalhes perfeitos
com reuniões de almoço e jantares de negócios, junto a eles,
uma lista de potenciais clientes para quem eu gostaria de
promover minha empresa, ganhando o seu negócio e
impressionando meus parceiros.

Eu ainda tenho as coisas, mas elas não significam nada.


O que antes era pesquisa para viagem, são agora apenas
algumas revistas com imagens bonitas. O que era um
presente, agora é apenas álcool esperando para ser
consumido. O calendário de dias planejados, agora é apenas
um papel cheio de rabiscos inúteis.

Talvez a lista de potenciais clientes ainda seja útil.


Afinal de contas, eu tenho certeza que estou certa sobre
Dave. Ele não vai falar com Freeland. Talvez ele nunca fale.
Eu não acho que ele possa enfrentar a vergonha mais do que
eu posso. Asha é impotente sem a cooperação de Dave. Puta
do mal que ela é, ela provavelmente vai encontrar alguém
mais vulnerável à tortura. Tom vai voltar ao normal, depois
de ver que eu tenho tudo sob controle...
...exceto Robert. Eu não o tenho sob controle. E é claro
que eu não quero controlá-lo, mas sua imprevisibilidade é
enervante. Talvez eu não tenha tempo para abordar novos
clientes. Talvez ele me dê cada vez mais e mais tarefas, que
irão consumir todo o meu tempo. Ele poderia me manter
amarrado a ele com cordas feitas de números e fusões.

Eu jogo a camisa de Robert em uma cadeira da sala de


jantar, mas eu vou buscá-la novamente. Tenho camisas de
noite que são mais confortáveis do que esta. Mais tarde, esta
noite, quando eu ficar cansada, vou mudar para uma delas.
Ele não vai me ver com a camisa, então não há nenhuma real
necessidade de usá-la.

Coloque-a, logo que você chegar em casa. Pense em mim.

Minha mão vai para o lenço em volta do meu pescoço e


eu cuidadosamente retiro-o, deixo-o sobre a mesa... uma
mesa que não é tão diferente daquela na casa de Dave.

Eu faço isso só porque a minha casa é quente. Eu não


preciso do lenço. Eu não preciso do casaco, também. Eu tiro
o casaco, coloco-o sobre outra cadeira.

Pense em mim.

Eu tinha tirado tudo para ele bem rápido, lá mesmo na


mesa de Dave. Ele tinha corrido as mãos sobre meu corpo,
beijou-me, me provou...

...assim que chegar em casa. Pense em mim.

Eu desabotoei minha blusa. Estou sozinha aqui. Não


importa.

Ele tinha beliscado meus mamilos, me fez gozar para


ele. Minha mão vai para o meu sutiã.

...mais nada, apenas minha camisa.


O sutiã cai no chão e ele está aqui. Eu o sinto no ar, o
ouço no silêncio, eu seguro a camisa em meu rosto, respiro o
perfume de modo que agora todos os meus sentidos estão
envolvidos.

...posso tocar em você com um pensamento.

Será que ele está pensando em mim agora? É isso que


eu estou sentindo? Ele, atingindo toda a distância com uma
fantasia, como uma bruxa em um conto de fadas? Eu tiro o
meu cinto, coloco-o sobre o meu casaco, meus dedos se
atrapalham com os botões que seguram as minhas calças à
minha cintura. Ele me guia, orienta-me, me obriga a ir mais
longe.

...use apenas a camisa, nada mais. Pense em mim.

Eu removo minhas calças, minha calcinha está ao lado,


eu agarro a camisa na minha mão.

...mesmo quando estou longe de você, eu estou dentro de


você. Posso tocar em você com um pensamento.

Eu sinto o pulsar entre as pernas. Lentamente eu solto


meu domínio sobre o tecido de algodão, escorregando-a em
um braço, depois o outro. O tecido é leve, quase provocante
contra a minha pele. Arrepios sobem por todo o meu corpo.
Lá fora eu ouço o vento batendo em minhas janelas,
clamando por entrada.

...mesmo quando estou longe de você, eu estou dentro de


você.

Eu sinto um choque de eletricidade, um pequeno


espasmo. Estendo a mão para o encosto da cadeira como
apoio. Minha respiração é irregular. É apenas o algodão,
apenas o traço de Colónia, apenas os ventos de Santa Ana
limpando a névoa, incentivando o fogo.

Pense em mim.
Eu fecho meus olhos, para tentar recuperar a
compostura. Há coisas que eu deveria fazer, as malas, uma
perda que eu deveria lamentar. Isso não está certo. É uma
loucura. Ele não está aqui.

Posso tocar em você com um pensamento... pense em


mim.

Eu me abaixo na cadeira, dedilho o tecido, eu posso


senti-lo acariciando o interior das minhas coxas, beijando
meu ombro. Eu não me toco. Eu não preciso.

Posso tocar em você com um pensamento.

Seus dentes arranham meu pescoço, suas mãos correm


até minhas costas. Eu deslizo mais na minha cadeira, abro
minhas pernas apenas o suficiente. Seus movimentos de
língua para trás e para frente contra o meu clitóris, e eu
deixo escapar um pequeno suspiro quando contorço-me na
cadeira, passando minhas mãos para cima e para baixo em
sua camisa.

Mesmo quando estou longe de você, eu estou dentro de


você.

Eu sinto ele me penetrar, meus músculos se contraem


como se eu me perdesse na fantasia fantasmagórica. O vento
uiva em silêncio e eu mordo meus lábios saboreando a
energia que está no ar. Ele me cerca, me oprime.

Pense em mim.

Sinto-me à beira de perder o controle. Há uma dor


dentro de mim que é tanto erótica, como torturante. Parece
impossível que eu possa alcançar o orgasmo sem a ajuda de
minhas mãos, sem a sua presença física. Mas Robert é muito
mais do que a carne, sangue e músculos que o compõem. Ele
é uma força, um fenômeno. Ele é o poder, intriga, sedução e
perigo. Ele lambe a minha garganta, acaricia minha coxa.
Mesmo quando estou longe de você, eu estou dentro de
você.

O latejar intensifica-se, eu arqueio minhas costas, sua


língua está agora nos meus mamilos, suas mãos estão no
meu cabelo, sua ereção me preenche. Isso está realmente
acontecendo comigo?

Posso tocar em você com um pensamento.

Quando a explosão vem, eu fecho meus olhos e


mergulho.
Capítulo 14

O
feitiço desaparece lentamente ao longo dos
dias seguintes. Permanece comigo, mas com
menor intensidade, enquanto livro minha vida
da de Dave. Eu coloquei suas coisas em caixas, certificando-
me que tudo está limpo e bem dobrado. Eu deixo-a perto do
hall de entrada, mas não na porta. Eu não quero que pareça
que eu estou empurrando-o para fora. Ele pode tomar outras
medidas se pensar assim. Eu puxo as fotos de nós fora de
porta-retratos e coloco-as em álbuns de fotos que serão
armazenados na parte de trás de um armário com os antigos
anuários e esqueletos negligenciados.

Mas minha mente não está totalmente engajada nas


tarefas. Este era para ser um fim de semana para despedidas,
as últimas noites para relembrar, as noites para lágrimas de
indulgência e pensamentos pesados.

Mas nas últimas noites não têm sido assim, e isso me


incomoda. O que me incomoda ainda mais é que eu usei a
camisa de Robert cada noite. Logo que o sol se afasta de Los
Angeles, eu coloco-a. É domingo à noite e eu estou usando-a
agora. Por que isso? Robert não ligou para saber como estou.
Ele nem sequer me enviou uma mensagem. Será que alguma
vez ele realmente espera que eu o coloque em primeiro lugar?

Sim... sim, é claro que ele espera. E ele sabe que eu


estou usando sua camisa agora. É por isso que ele não ligou
ou mandou uma mensagem. Ele não precisa.

Então, quando eu passo de sala em sala com a camisa


do meu amante, Dave, o homem com quem eu passei os
últimos seis anos desaparece. Como quando tem um rápido
terremoto em menor grau que acorda você às cinco da
manhã. Você sabe que você sentiu alguma coisa, mas você
não consegue descobrir o que aconteceu, ou se era real.

Eu não acho que eu quero saber o que isso diz sobre


mim.

Eu como uma refeição leve, tento me distrair com um


pouco de TV, abro aquela garrafa superfaturada de Merlot, e
tento acostumar-me com o cheiro da colônia de Robert.

É quase dez quando o telefone toca. Algo me diz que não


é Robert antes mesmo de eu olhar para a tela. Mas eu estou
surpreso quando vejo o nome de Tom Love.

Dez horas de uma noite de domingo não é um momento


adequado para ele chamar. Meus olhos varrem o quarto como
se estivessem procurando uma arma que vai chegar através
de uma linha telefônica. Não é até o último toque que eu
finalmente atendo.

-O que, - eu digo, em vez de Olá. Realmente,


considerando a raiva que eu estou dele, poderia ter sido
muito pior.

-Relaxe. - A voz de Tom mantém o ar de espanto, mas eu


não sinto a presunção de sexta-feira. -Estou ligando para
pedir desculpas.

-Eu deveria tê-lo demitido por assédio sexual.

-Provavelmente. Olha, eu não faço sempre as coisas


certas. Ambição me mantém avançando, mas também pode
confundir meu cérebro. Eu fico tão focado no que está por vir,
eu não penso sobre o que eu estou dizendo no momento.

Eu me mexo um pouco no meu lugar, seguro minha


língua, espero por ele para chegar ao ponto. Eu já trabalhei
com Tom tempo suficiente para saber que, se ele está se
desculpando, ele tem algo a ganhar com isso.

-Foi errado da minha parte, pedir-lhe para continuar


seu caso com o Sr. Dade, para o bem da empresa, e era
ridículo sugerir que você deve fazê-lo por minha causa. Eu sei
que eu nunca poderia pressioná-la para dormir com alguém
que você não quer dormir, e mesmo se eu pudesse, eu não
faria isso.

-Conversa fiada.

Novamente uma risada triste. -Eu acho que mereço isso.


Mas eu sinto muito pela maneira que eu falei com você. Esse
tipo de conversa só é apropriado em balneários e clubes de
strip, eu deveria saber, eu aparentemente passei tempo
suficiente em ambos.

Eu suspiro e pego o controle remoto, lentamente


percorrendo as estações de notícias, observando com
interesse suave como eles habilmente entrelaçam tragédia
com entretenimento. Pessoas morrem no Oriente Médio e um
príncipe Europeu quer introduzir uma celebração ao estilo
americano de Halloween para a família real. Um homem de
Nova York mata sua esposa e filhos e Kim Kardashian faz
outra aparição por US$ 600.000. As âncoras escapam de
uma história para outra com apenas uma pausa, seus
sorrisos e carrancas piscando de vez em quando com a
rapidez do piscar das luzes da árvore de Natal.

-Eu gostaria que você considerasse algo, no entanto, -


Tom continua, insistindo em minha atenção. Ele tem falado
por um tempo agora, atrapalhando-se através de várias
formas de um pedido de desculpas, mas nada que ele disse
foi remotamente tão interessante quanto a manicure US$ 500
de Kim.

-E o que seria isso? - Peço com um suspiro.


-Não deixe o seu relacionamento ir pelo bem da
empresa, mas não acabe com ele por causa do orgulho. Você
gosta dele, Kasie. Se você não gostasse, você não teria
arriscado tanto para estar com ele.

-Eu cuidei de Dave, - eu digo friamente. -Assim como eu


disse que faria.

-Então ele não vai sair correndo para Freeland,


chorando sobre a traição de sua namorada com o grande e
mau Senhor Dade? Bem feito! Eu subestimei você.

-Que é outra coisa pelo que você deve desculpar-se. - Eu


tomo um gole do meu vinho. Um jovem apresentador está
apresentando histórias verdadeiras de acidentes estranhos.

-Você está certa, você está certa, - Tom diz. -Sinto


muito. Mas isso não muda o cerne do que eu estou dizendo.
Ninguém está fazendo nada, mas não jogue uma relação
inteira longe só para fazer um ponto.

-Você está fazendo isso de novo, - eu digo.

-Fazendo o quê?

-Me subestimar. Você realmente acha que eu não posso


ver isso? Você está mudando o seu texto, e não a mensagem.
Você quer que eu continue vendo Robert Dade porque
beneficia a empresa. Meu coração não é de interesse para
você.

-Agora, isso não é justo... pelo menos não é inteiramente


justo. Eu quero que você aproveite seu romance, porque eu
gosto de você. Minhas desculpas e conselhos são tão
legítimos quanto as suas acusações e raiva. Mas em algum
momento você vai ter que aceitar que temos uma relação
simbiótica. Se eu aconselho que você siga o seu coração e
escute, todo mundo ganha. Sim, minhas motivações são mais
egoístas, mas eu não vejo como isso muda alguma coisa.
Este é, provavelmente o melhor que Tom já tentou. Isso
não diz muito, mas o fato de que ele está tentando, já vale
alguma coisa. -Você realmente quer as contas da Maned Wolf,
não é?

-Bem, você não é rápida.

Eu ri apesar de mim. -Eu não quero nunca ouvir sobre


aquela noite que você viu... Eu não quero falar sobre aquele
vestido... - Eu coro e cerro os dentes, irritada com o meu
próprio embaraço. -Só nunca mencione esse assunto
novamente, tudo bem? - Eu finalmente digo.

-Nunca, - diz ele rapidamente. -Isso é uma promessa.

Eu gostaria de poder fazê-lo prometer que não vai


pensar nisso nunca mais, também. Eu poderia pedir a ele
para dizer que ele não vai, mas eu estou tão cansada de
mentiras e falsas negações. Eu sei que Tom tem revivido
aquele momento milhares de vezes. Eu sei que em suas
fantasias, ele não é tão honroso. Eu sei qual a imagem que
salta a frente de sua mente quando ele olha para mim agora.
Minha humilhação parece espinhos em minha pele, me faz
contorcer um pouco, mas pelo menos a minha humilhação é
real. E, pela primeira vez na minha vida, eu sou capaz de
reconhecer o que eu realmente estou sentindo, ao invés de
negá-lo e fingir ter emoções mais puras.

-Eu ainda não terminei as coisas com o Sr. Dade. Eu


não tenho planos para fazer isso.

-Você vai me contar quando você decidir? Só assim eu


consigo me preparar e a empresa.

-Isso é uma promessa, - Eu digo, imitando suas


palavras e tom.

Eu quase posso ouvir o sorriso de Tom. -Você é um


tesouro, Kasie.
-Boa noite, Tom.

Eu desligo o telefone.

Na TV as crianças estão sendo testadas. O jornalista diz


que estes testes provam que mesmo a criança mais
responsável, irá aceitar o convite de um estranho, se o
incentivo for forte e a mentira suave. Crianças são
impulsivas, o jornalista afirma. E quando forem abordadas
por um adulto encantador e bem-vestido, que fala com
autoridade, elas vão responder. Elas vão esquecer o que foi
ensinado, esquecer os avisos e seguir o estranho para o
perigo.

Olho para a camisa que eu uso como uma camisola,


sentindo-me como uma criança.
Capítulo 15

A
noite estendia-se. Por volta das onze eu vou
dormir inquieta. Meus sonhos são misturados e
inquietantes.

Existe um no qual eu estou na parte de trás de uma


limusine com Dave ao meu lado... exceto que ele é um
fantasma, eu só posso ver o seu contorno.

-Eu o matei? – Eu pergunto enquanto a limusine faz uma


curva fechada e depois outra.

Ele apenas sorri com os lábios transparentes.

-Há muito a temer neste mundo, - diz ele com um sorriso.

Só que não é sua a risada, ele fala com a voz de minha


irmã. Em pânico, eu tento sair, correr para o outro lado da
limusine, e tento abrir as portas, mas elas estão trancadas.

-Tola. - Escuto sua voz em murmúrios no meu ouvido,


mesmo que Dave não tenha se movido. -Não é de mim que você
tem que ter medo! Isso seria como ter medo de si mesmo!

-Eu não sou como você, - eu digo a ela, Dave, para quem
quiser ouvir.

-Sério? - Diz a voz provocando. -Diga ao Sr. Dade.

Os sonhos continuam assim. Pesadelos e fantasmas,


confrontos com adversários invisíveis. Eu acordei algumas
vezes, enrolada nos lençois como se eu tivesse lutado na
cama. Não é até bem depois das duas que minha mente
finalmente escapa das imagens alarmantes e deixa-me cair
em um sono profundo e contínuo.

Eu acordo com o som de música clássica. Meu


despertador, é claro. Acho que é mais fácil começar o dia com
a construção de uma sonata lenta do que com o grito
repentino de uma guitarra elétrica. Eu mantenho meus olhos
fechados e me deixo ser atraída para a música. É uma peça
barroca do século XVII – do maestro Tomaso Albinoni, um
dos meus favoritos. O som é baixo e sedutor, decadente a
ponto de ser pecador. Eu torno-me consciente do sentimento
da camisa de Robert contra a minha pele e deixo um pequeno
som de prazer escapar através dos meus lábios fechados,
respiro profundamente pelo nariz, e sinto o cheiro de café.

Lentamente, quase com medo, eu abro meus olhos. Na


minha mesa de cabeceira ao lado do meu alarme está uma
xícara de café.

E do outro, sentado na poltrona cinza do meu quarto,


segurando outra xicara de café, está Robert Dade.

Não me movo, não sento, não digo uma palavra. Eu


penso sobre os sonhos e pesadelos que tive apenas algumas
horas antes. Este não é como os sonhos, e ainda não faz
sentido que ele poderia estar aqui, segurando um dos meus
copos de cerâmica cheios de café.

-Você sabe que ele é um veneziano, - diz ele, apontando


para o meu rádio relógio.

-O quê?

-Albinoni. Ele era um veneziano. Parece apropriado


quando se considera como nos conhecemos.

Eu puxo os lençóis até o queixo. -Como você entrou


aqui?
-Como você pode lembrar, eu sei como abrir uma
fechadura.

-Eu tenho um sistema de segurança.

-Eu sei. Minha empresa fez isso.

-Robert, você não pode simplesmente entrar...

-Você lembra-se que você me disse que eu poderia vir


para você em poucos dias. Já faz alguns dias. - Eu viro meus
olhos para o relógio.

-É verdade. - Eu concordo. - Também é sete e quinze da


manhã.

Ele suspira, bebe o café. -Você sabe como foi difícil para
mim, ficar longe neste fim de semana? Sabendo que ele ainda
tem a chave desse lugar? Sabendo que ele poderia vir aqui e
tentar vingar-se a qualquer momento?

A música assumiu um anseio de qualidade. Sua melodia


me mantém calma. -Dave não é psicótico. Ele é um homem
que ficou ferido. Isto é tudo. Ele me deu de volta um pouco da
dor que eu lhe dei e agora ele está se movendo em outra
direção.

Ele estuda seu café, inclinando-o como um especialista


sommelier que inclina um copo de vinho, enquanto procura
pistas para a sua idade e peso. -Colocá-la com aquele vestido,
- diz ele, -mostrando-a na frente do Love, como se fosse um
brinquedo ou uma prostituta... talvez não seja psicótico, mas
aponta para um indicio... uma sensibilidade demoníaca. - Ele
olha para cima de seu café, bloqueia seus olhos nos meus. -
Você acha que sabe do que ele é capaz. Você não sabe.

Eu gemo e olho para o meu teto creme. É cedo, eu não


estou pensando direito. Mas para ele entrar em minha casa
para me avisar do que Dave pode ser capaz me parece
irônico.
-Aquelas caixas lá embaixo são as coisas dele?

Concordo com a cabeça.

-Quando ele vai vir pegá-las?

-Mais tarde, esta tarde. - Eu me viro do meu lado,


piscando-lhe um sorriso pacificador. -Eu não vou estar aqui.

Robert acena com a aprovação, caminha para a cama,


coloca a xícara de café ao lado da minha. -Você não vai vê-lo
sozinha novamente. Não é seguro. Se você precisar encontra-
lo, você vai me chamar primeiro.

-Você não tem o direito de me dizer como lidar com isso.

-Não, - ele inclina a cabeça para o lado. -Você arriscaria


seu bem-estar apenas para ser rebelde? Por que eu duvido
que faça isso?

Há uma melodia suave, mas de zombaria em sua voz.


Eu mordo o lábio. Eu deveria expulsá-lo. Esta manhã ele é
um criminoso. Meu anjo está indignado. Mas o meu diabo
tem gostos de Hollywood e busca glorificar o crime.

Talvez sou eu quem tenha a sensibilidade demoníaca.

-Talvez você devesse tirar o dia de folga, - ele sugere. -


Ou trabalhar na minha casa. O que dará a Love mais um dia
para reavaliar o seu comportamento.

-Não, eu preciso estar no trabalho. Eu não posso deixar


meu estress pessoal manter-me longe das minhas
responsabilidades profissionais.

Robert não diz nada. Ao contrário, ele puxa o lençol para


trás, corre os olhos sobre a camisa que cobre meu corpo. -
Você fez o que eu pedi.

De todas as coisas que ele disse e fez, esta manhã, esta


frase é de longe a mais instigante. E ainda assim,
estranhamente, emociona ao mesmo tempo que soa os
alarmes. A combinação de emoções preocupa-me. Ele precisa
sair do meu quarto. Eu preciso beber o meu café, me
orientar, encontrar o bom senso de castigá-lo por seu
comportamento magisterial.

Mas eu não me movo. Meu pedido de privacidade morre


antes que chegue até meus lábios. Em vez disso eu fico aqui e
espero por seu próximo passo, sabendo no fundo que o que
ele exige eu quero dar.

É aí que reside o perigo.

Com a mão firme, mas gentil, ele me empurra do meu


lado nas minhas costas. -Você pode ir para o trabalho hoje se
isso é realmente o que você quer fazer. Mas você vai se
atrasar.

-Eu não posso...

Ele coloca um dedo contra meus lábios. -Você pode falar


mais tarde. Agora você precisa desabotoar sua camisa.
Mostre-se para mim.

É um jogo de poder. Meu orgulho entra em ação, e eu


quase recuso.

Mas não o faço.

Algo na maneira que ele está olhando para mim, algo em


seu tom...

Meus dedos se atrapalham com os botões da camisa.


Tinha sido tão fácil recusar Dave, mas Robert é diferente.

Abro a camisa, mas ela ainda me cobre. Uma pequena


faixa de pele é revelada entre os meus seios.

Ele se inclina, puxa suavemente o tecido de volta para


que ele coloque sobre os ombros e se espalha para os lados,
como a asa fechada de uma mariposa. Ele endireita sua
postura, ergue-se sobre mim, enquanto ele estuda as
nuances da minha figura. Minha respiração é irregular e eu
olho para longe dele. Eu não deveria querer isso. Eu não
deveria querer seguir os comandos de um homem. Não depois
do que eu passei com Dave.

E, no entanto...

-Abre as pernas, Kasie.

Eu fecho meus olhos. -Eu tenho que ir trabalhar, - eu


sussurro.

-Mais tarde. Abra suas pernas.

Será que é porque eu sei o que é ter este homem dentro


de mim? Eu sou como qualquer viciado, querendo me
humilhar por mais uma dose? Ou há uma parte de mim que
realmente não está pronta para enfrentar a música do dia?
Estou usando um sentido prático de subserviência para
justificar este pequeno adiamento?

Será que isso importa?

Lentamente, eu abro minhas pernas. Eu espero que ele


me toque, mas ele não faz. Ao contrário, ele circula na cama,
com movimentos de lobo.

-Você quer lidar com as coisas do seu próprio jeito, - diz


Robert, seus olhos se movendo para cima e para baixo do
meu corpo com um apetite, sem remorso. -Eu respeito isso.
Eu vou permitir isso.

Permitir... Abro a boca para protestar, mas de novo ele


se inclina, coloca o dedo contra os meus lábios. -Como eu
disse, você pode falar mais tarde. Mas agora, eu quero que
você ouça. E você vai fazer o que eu quiser, não vai, Kasie?

Meu coração está batendo tão forte, eu me pergunto se


ele pode ouvi-lo. Ele tira o dedo e eu fico em silêncio.
Novamente seus olhos vagueiam em cima de mim,
acariciando minhas coxas e param ali, bem ali entre as
minhas pernas.

-Você está molhada, Kasie?

Eu não respondo, em parte porque eu não sei se ele


quer me dizer, em parte porque eu tenho vergonha de admitir
que estou.

-Toque-se, - diz ele, seu tom não deixa espaço para


negociação. -Chegue entre as pernas; me diz se você está
molhada.

Minha mão se contorce ao meu lado, quase como se


estivesse lutando consigo mesmo, mas a minha vontade de
obedecer é esmagadora. Com uma estranha mistura de
relutância e antecipação eu passo minha mão entre minhas
pernas. Meus dedos deslizam sobre o meu clitóris e eu pulo,
surpresa com minha própria sensibilidade. Mas eu sei que ele
quer mais. Eu deslizo um dedo dentro de mim e ele vê.

-Sim, - eu digo baixinho, quase humildemente: -Eu


estou molhada.

Ele acena com a cabeça, satisfeito com a minha


resposta. Ele se abaixa, dirige suavemente o movimento da
minha mão. -Use dois dedos, - ele diz, sua voz é mais gentil
agora, mas o ar de autoridade ainda é importante, -e use o
polegar para esfregar seu clitóris. Quando eu disser para você
se masturbar, é isso que eu quero que você faça, a menos que
eu diga o contrário.

E, quando ele puxa a mão dele, eu faço como me pediu.


Meus dedos mergulhando dentro de mim enquanto eu me
estimulo ainda mais com o meu polegar.

-Como eu estava dizendo antes, - diz ele, com os olhos


colados em mim, enquando eu estou a contorcer-me nos
lençois abaixo de mim, -eu vou permitir isso. - Ele coloca
especial ênfase na palavra que ele sabe que vai ficar sob a
minha pele, mas eu acho que não tenho mesmo a menor
capacidade de desafiá-lo. Eu tento me concentrar, mas minha
mente está nublada com a confusão e êxtase. Por que estou
fazendo isso por ele? Por que isso me incita?

-No entanto, - continua ele, com a voz ainda calma, -se


ele tentar prejudicá-la, se ele tenta estabelecer uma única
mão em você, eu vou entrar em cena e eu vou cuidar dele e
eu vou decidir como fazer isso. Se há linhas que não podem
ser cruzadas, vou apagar essas linhas. Eu vou mantê-la
segura. Você não vai ficar no meu caminho sobre isso.

Estou chegando perigosamente perto de um orgasmo, e


de alguma forma o pensamento de gozar na frente dele,
enquanto ele está totalmente vestido, tão calmo e tão
imponente, intensifica a minha agitação. Eu olho para longe,
mas ele atinge mais, orienta meu queixo para trás em sua
direção. -Você entende, Kasie?

Concordo com a cabeça, mas não é o suficiente.

-Eu preciso de mais do que isso. Não, não, não goze


ainda, - diz ele, quando eu arqueio as costas, o pouco
controle que me resta se esvaindo. -Eu preciso de você para
me responder primeiro. Diga-me o que você entende.

-Eu entendo, - Eu suspiro.

-...e você não vai ficar no meu caminho.

-Eu não vou ficar no seu caminho, - eu repito. É tudo


que eu posso controlar.

-Isso é bom. - Ele se senta na beira da cama, ele observa


o movimento da minha mão com interesse quase acadêmico.
-Quão perto você está de gozar, Kasie?

-Oh Deus!
-Isso não é uma resposta. Quão perto você está?

Tento desviar o olhar novamente, mas novamente os


dedos deslizar sob meu queixo. -Responda-me.

-Estou muito... muito próximo... de...

Minha voz falha. Eu posso sentir o orgasmo que fica à


beira da ruptura através de mim, mas só então Robert com
firmeza, mas com cuidado agarra minha mão, parando-a e
depois a puxando longe do meu corpo.

-Ainda não, - diz ele.

Meus olhos se arregalaram de surpresa. O choque de ser


negado, quando estou tão perto, é demais. De repente, eu não
me importo com o resultado da minha submissão. Eu não me
importo que ele assumiu o comando de mim, sem ter de lutar
comigo. Eu certamente não me importo com o quão tarde eu
vou chegar no trabalho. Eu preciso da satisfação que meus
dedos haviam prometido. Eu tento mudar a minha mão de
volta entre as minhas coxas, mas seu domínio é muito forte.

-Por favor, - Eu suspiro.

-Por favor, o que, Kasie?

Eu levanto meu rosto vermelho de frustração e desejo


incontido. -Por favor, deixe-me gozar.

Ele sorri e beija minha testa, protetor. -Não se mova,


você não está autorizado a se tocar, não agora. Basta esperar.

Ele se levanta e novamente por razões que não estão


claras, eu obedeço, apesar de um crescente desespero.

Lentamente, ele tira a camisa, depois a calça. Eu o olho,


enquanto eu me esforço para ficar quieta. Meu corpo está em
chamas.
Finalmente, ele expõe sua ereção para mim. Estou
desesperada para obtê-lo dentro de mim, mas ao invés disso
ele me puxa para cima a fim de que eu esteja sentada para
trás em meus calcanhares. Ele puxa os meus joelhos
afastados o suficiente para que ele possa me ver
completamente e, em seguida, puxa meu cabelo. -Eu sei o
que você quer. Você quer que eu te foda nesta cama. Você
está desesperada para gozar. Mas o boquete virá primeiro,
Kasie. Entendeu?

Mais uma vez eu balanço a cabeça e sorrio antes de


pressionar suavemente a cabeça para frente. Eu envolvo
meus lábios em torno dele, minha mão desliza sobre a base
de seu pênis, enquanto minha língua encontra as veias e
cumes, brincando com a ponta antes de levar mais dele na
minha boca. Ouço-o gemer e o som me incentiva, me
eletrifica. Eu vou para frente e para trás, preparando-o,
esperando que o meu sucesso seja recompensado com algo
ainda melhor.

Novamente ele geme e puxa rapidamente a minha


cabeça. -Agora, - ele diz. E então ele me empurra para trás na
cama e em um instante ele me dá o que eu desejo. Ele está
dentro de mim, respondendo aos apelos do meu corpo para a
liberação. Meu orgasmo vem rapidamente, rasgando meu
corpo como um tornado, fazendo o quarto girar. Ele continua
a mover-se dentro de mim, batendo em mim, mordendo meu
pescoço. Tento segurá-lo, mas ele segura meus braços para
baixo e sua força é insuperável.

-Ninguém vai tocar em você, - diz ele, com a voz tão


baixa que eu tenho que lutar para ouvi-lo. -Ninguém além de
mim.

Ele empurra novamente e eu grito. Ele me oprime,


batendo em mim, enquando eu estou derrotada embaixo dele.

Sim, este é um homem perigoso. Perigoso, porque o seu


poder vem do meu próprio desejo e seu poder sobre mim está
aumentando com o tempo e familiaridade. Eu posso lutar
contra Dave, eu posso lutar com Asha.

Mas Robert Dade?

Eu olho em seus olhos. Ele pode ler meus pensamentos?


Aquele sorriso tranquilo sugere que ele sabe. Eu envolvo
minhas pernas em volta de sua cintura, sua boca se move
para baixo no meu ouvido. -Kasie, - ele suspira.

Ele pega-me, vira-me mais, e entra em mim novamente.


Mais uma vez eu grito, meus seios esmagados contra o
colchão firme. Eu agarro as barras de madeira da cabeceira,
como um condenado na grade pedindo a liberdade.

Novamente sua boca vai para minha orelha enquanto ele


empurra dentro de mim de novo e de novo. -Ninguém além de
mim, - diz ele novamente, sua voz está rouca, enquanto ele
luta por um último momento de controle. Mas quando eu
empurro meus quadris contra ele eu sei que seu controle está
quase acabando.

-Agora, - ele geme e naquele momento nos reunimos. A


sensação é tão forte e original, que parece quase perigosa.

Eu sinto o peso de seu peito em cima de mim, quando


ele finalmente entra em colapso, eu fecho meus olhos e tento
me trazer de volta à Terra.

Eu poderia estar mais segura com Dave.


Capítulo 16

E
u estou quase uma hora atrasada para o
trabalho. Barbara me olha surpresa,
quanto eu passo por ela. Eu me esqueci de
ligar para avisá-la da minha chegada tardia, não é algo que
eu já tenha feito antes. Mas está tudo bem. Estou composta
agora. Os eventos hipnóticos da manhã passaram. No
momento em que nos separamos, a voz de Robert adotou um
tom baixo e casualmente normal, confiante.

Mas quando eu sento na minha mesa, ponderando o


conteúdo de minha caixa de entrada, uma sensação irritante
de distração me preocupa. Eu me perdi antes, eu me
entreguei a ele, meu corpo, minha vontade... O anjo no meu
ombro, por muito tempo negligenciado e ignorado, levanta
sua voz, me pede para ser ponderada. Rezo para ouvi-lo
apenas uma vez.

Mas eu não posso correr de Robert. Não agora, não


ainda. Tom estava certo: não é o que eu quero. Obviamente, o
meu relacionamento beneficia a empresa, minha carreira, e
assim por diante, mas, tanto quanto eu estou preocupada é
tudo irrelevante. Eu não posso correr de Robert, porque eu
não quero. Eu simplesmente não tenho a vontade necessária
para fazer minhas pernas se movimentarem.

Tom explode em meu escritório com a sua


desconsideração característica. Barbara está atrás dele com
um encolher de ombros e um sorriso, antes de fechar a porta
atrás de si, dando-nos a privacidade.
-Tom, eu sinto muito por não ter ligado avisando que
chegaria atrasada; eu... - mas algo me impediu. O brilho de
suor que aparecia em sua testa, o rubor de suas bochechas e
a rigidez de sua mandíbula, tudo isso junto não parecia nada
bom. -Aconteceu alguma coisa? - Eu pergunto.

-Meu pedido de desculpas não foi bom o suficiente, - ele


coaxa. Eu nunca ouvi a voz dele com este tom de tenor. Ele é
fino, simples, o que aponta para um oceano de raiva que
ameaça submergir todo o edifício. -Eu não fui sincero o
suficiente?

Eu balancei minha cabeça, sem entender.

-Eu fui longe demais na sexta à noite, eu sei disso. Pedi


desculpas por isso!

-Você fez, - eu concordo, em seguida, virei as palmas


das mãos em sinal de confusão. -Sinto muito, Tom, eu ainda
não entendi. O que está acontecendo? Por que você está
chateado?

-Ele me mandou embora.

-Mandou embora?

-TUDO!

O grito é tão alto que Barbara apressa-se em voltar,


como se esperasse para apartar uma briga. Mas quando ela
vê o rosto de Tom, vê a dor, ela recua para fora, e fecha a
porta novamente.

Eu queria que ela tivesse ficado. O homem diante de


mim é um homem destruído, o que seria plausível, se ele me
dissesse que alguém tinha invadido sua casa e matou seus
filhos, estuprou sua esposa, roubado todas as suas posses.

Mas Tom não tem filhos, nem esposa, e todos os seus


bens estão segurados.
Tanto quanto eu sei, a única coisa que Tom tem, a única
coisa que ele realmente se preocupa, é o seu trabalho.

Eu caio de volta na minha cadeira. O ar parece ter


assumido o cheiro sulfuroso de mau agouro.

-O que aconteceu? - Pergunto novamente. Mas eu sei.


Eu sei que Tom vai sair hoje, com os restos de sua carreira
aqui, embalados em uma caixa pequena. Eu sei que o seu
coração está triturado com a mesma insensibilidade que
usamos para analisar os números de uma divisão que está
previsto para liquidação.

E eu sei quem é o responsável.

Como Tom deixa o silêncio falar por ele, eu mudo de


posição; Tom sempre foi capaz de provocar em mim uma
estranha mistura de escárnio e respeito. E ele não apenas
passou por cima da linha na sexta-feira. Ele a destruiu. Se eu
não estivesse com medo de danificar minha reputação, eu
poderia processá-lo.

Mas esta é a coisa. Eu nunca quis processá-lo. Eu


estava pronta para aceitar seu pedido de desculpas. Eu
estava dispostoa a assumir isso em uma base do dia a dia.
Eu queria ver se poderíamos fazer tudo funcionar. Não fazê-
lo, não era apenas ruim para Tom. Era ruim para mim.

-Com que fundamentos? - Pergunto fracamente. -Eles


têm que ter fundamentos, certo?

-A denúncia de um cliente, - ele sussurra. -


Aparentemente eu fiz alguns comentários depreciativos a
algumas das mulheres que trabalham na Maned Wolf Inc...
mulheres que eu tenho certeza que eu nunca falei uma
palavra na minha vida, mas todas elas estão dispostas a
assinar depoimentos que dizem que eu fiz. E depois há outras
empresas que trouxeram seus negócios aqui, as pequenas
empresas que, de repente, lembrei-me que era impróprio com
as mulheres em suas empresas, também.

Ele olha para mim, esperando por uma resposta. Minha


boca se abre, mas não sai nada.

-É uma piada, claro, - diz ele, então desvia os olhos de


mim, vira o rosto para a parede, levanta o punho. -É. UMA.
PIADA! - Com cada palavra, ele bate com o punho na parede.
Eu posso praticamente ver Barbara, do outro lado da porta,
perguntando-se se ela deve vir de novo.

Ele continua a olhar para a parede. -É uma piada, - diz


ele de novo, desta vez mais suave. -Eu nunca assediei uma
mulher em toda a minha carreira profissional.

-Bem.

Tom gira lentamente, zomba de mim. -Você? - Ele leva


um passo mais perto. -Eu disse algumas observações
ousadas, no dia seguinte que você me ofereceu sua vagina.

Eu fico fria, minhas unhas raspam minha mesa. -Eu


não me OFERECI para você.

-Diga-me, se eu não tivesse trancado Dave fora de casa,


se tivesse aceitado o seu convite para jantar, você teria me
servido? Gostaria de ter derramado meu vinho enquanto
usava um vestido feito da mesma quantidade de material,
como um pano? Será que você se sentaria ao meu lado, sem
calcinha, sabendo como a barra se elevaria assim que
atingisse a cadeira, sabendo que eu estaria olhando para você
enquanto você estava literalmente seminua pela noite inteira?
Será que você deixaria Dave rebaixar você na minha frente,
deixa-lo entrar em sua pequena fantasia de vingança?

Agora sou eu quem fica vermelha. A humilhação


daquela noite dispara através de mim, como a dor de um
músculo danificado que foi consertado.
-Não há necessidade...

-Porque foi assim que me pareceu, - Tom continua, me


cortando. -Você se sentiu encurralada. Você sentiu como se
você não tivesse escolha. Mas eu dei-lhe uma escolha. Aquele
bundão de seu noivo estava tão ansioso para mostrar? Salvei-
a! Deixei! Liguei para o Sr. Dade! Eu não sou o cara mau
aqui, então por que diabos você soltou seu cão de merda em
mim? Porque eu disse o que você não quer ouvir?

-Eu não fiz qualquer coisa sobre você, - eu chio.


Lentamente eu me levanto. -Eu sou grata que você não agiu
como um idiota quando Dave tentou usá-lo como uma arma
contra mim. Eu sou grata que você chamou o senhor Dade.
Mas nada lhe dá o direito de me tratar do jeito que você fez
na sexta-feira. Mas apesar de tudo isso, eu não pedi para ser
demitido.

-Você espera que eu acredite?

-Eu não me importo com o que você acredita! - Eu atiro,


não permitindo que ele termine seu pensamento. -Eu apenas
falei com meu namorado sobre o meu dia de trabalho. Isso é
tudo. Ponto. Eu tenho o direito de fazer isso! Tudo o que eu
tinha feito desde que eu o tinha visto pela última vez.

-E o mesmo não funciona para mim? Você realmente


acredita que ele tinha o direito de fazer isso? - Tom deixa
escapar a questão com veemência, mas depois que ele falou,
isso paira no ar como uma espada sobre a minha cabeça.

Tom parece ver a espada, também, e isso o acalma. Ele


está aparentemente satisfeito por estar abalando-me. Mas
com a calma vem uma nova melancolia. Eu vejo como seus
ombros caem, a cor vermelha é drenada e, de repente, Tom só
parece velho. Pelo menos dez anos mais velho que sua
aparência na sexta-feira, quando ele, rindo e sem saber selou
seu destino.
Ele exala alto. É um som desesperado e triste.

Quando ele se vira para mim ele parece vazio. Depois de


tanta teatralidade inesperada ele deixa meu escritório com o
silêncio e o peso de um fantasma.

Tom sempre foi mais que um aliado incômodo do que


um inimigo. Assim como a China ou a Arábia Saudita. Para o
governo, eles não se amam, mas são países cujo valor é
reconhecido. Como diria Tom, eu reconheço a relação
simbiótica. E se esta é uma guerra... Sempre foi, e Robert é
um mercenário. Ele luta por suas próprias regras, e não as de
um soldado mais honrado, mas ele luta para mim. Eu
paguei-o em... em quê? Sexo? Carinho? Eu paguei, dando-lhe
o controle da minha própria vida?

Eu me levanto de novo, minhas pernas estão bambas,


mas eu conseguo reunir minha bolsa e sair do escritório. -Eu
estou tirando o resto do dia de folga, - eu digo para Barbara.

-Oh, eu sei, - diz Barbara, sorrindo para mim. – O


Senhor Dade já ligou para dizer que você o faria. Ele disse
que você deve encontrá-lo na casa dele. Eu teria dado o
recado dele mas você parecia... ocupada.

Eu fico olhando para ela, com certeza eu tinha ouvido


mal. Ela leva um momento para inclinar para frente,
sussurros de conspiração, - eu não tinha ideia! Ele é tão
quente, Kasie!

Eu endureço; minha garganta aperta, então eu respondo


apenas com um aceno de cabeça dura, antes de virar e ir
embora.

No meu caminho para o elevador eu me deparo com


Asha. Ela pára, me oferece um sorriso fino que paira nessa
terra de ninguém entre admiração e ressentimento. -Ouvi
dizer que você está sendo promovida à posição de Tom, - diz
ela.
Eu congelo. Tudo assume uma qualidade surreal. As
sombras projetadas pela luz assumem a forma de espectros e
sombras de pessoas.

-Estou impressionada, - ela continua. -Você fez isso.


Você ganhou. -Ela me dá um aceno relutante de deferência. -
Ao vencedor os despojos.

Para o vencedor vão as regras.

-Eu tenho que ir.

Eu empurro-me, passando por ela, antes que ela possa


dizer mais. A viagem de elevador faz-me ter náuseas. Eu sei
que não estou em condições de dirigir, mas eu tenho que
chegar ao meu carro de qualquer maneira. Eu fico abaixo do
limite de velocidade, esperando que isso me de tempo para
pensar. Mas isso não ajuda. As únicas coisas em minha
cabeça são a raiva, confusão, medo... medo de quê?

Mas a resposta para isso é fácil. Tenho medo do meu


protetor.

Quando eu chego à casa de Robert, o portão está aberto.


Eu entro na garagem, puxo as minhas chaves da ignição e,
cuidadosamente, faço o meu caminho através do jardim
fechado e entro na casa. Nada está fechado para mim. Tudo
começa com um simples toque.

Eu encontro-o sentado na sala, lendo alguns relatórios.


Ele olha para mim e sorri. -Você é bem-vinda, - diz ele, antes
de voltar sua atenção para os papéis na mão.

Eu balancei minha cabeça. -Você acha que eu estou


aqui para agradecer a você?

-Por que não? Já cuidei de Tom para você. Só Dave


ainda é um problema

-Ele não vai ser.


-Mas, se ele for, - Robert continua: -Eu vou cuidar dele
também.

Atrás dele está uma pintura. Eu já a admirava antes.


Uma imagem de amantes abstratos cercado por um
redemoinho caótico de formas não figurativas e coloridas, que
parecem impotentes em seus esforços para separá-los.
Quando eu a tinha visto pela primeira vez, eu tinha pensado
que a pintura era um testemunho do poder do amor.

Agora eu me pergunto se é apenas um testamento ao


poder.

-Isso não é como eu faço as coisas, - eu digo. -Eu não


vivo em um mundo onde não há problema em destruir
aqueles que me atravessam o meu caminho.

-Confie em mim, você vai se acostumar com isso.

-Eu vou te deixar.

Ele finalmente baixa os papéis, levanta-se, move-se para


mim. Nós estamos a um pé de distância agora. Eu não quero
responder a ele, mas meu corpo não vai cooperar. É quase
pavloviano.10 Ele chega perto de mim e meu coração acelera,
minha respiração se torna mais superficial, e depois há o
pulsar suave entre as minhas pernas.

Eu viro minha cabeça, envergonhada pela traição do


meu corpo, sabendo que ele pode vê-lo.

-Você me disse isso mais de mil vezes, - diz ele em voz


baixa. -Você não consegue, Kasie. Você já tentou, mas você
não pode ir embora. Às vezes você acha que deveria, mas você
não pode. Eu disse que queria estar com você quando você
não era verdadeiramente minha. Agora que você é.

10
Ivan Petrovich Pavlov foi um fisiólogo russo. Foi premiado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1904, por suas
descobertas sobre os processos digestivos de animais. Conhecido como condicionamento clássico, é um processo que
descreve a gênese e a modificação de alguns comportamentos com base nos efeitos do binômio estímulo-resposta
sobre o sistema nervoso central dos seres vivos.
-Não, - eu disse fracamente, tentando encontrar força na
repetição, - não é assim que eu faço as coisas.

Com a mão, ele orienta meu queixo de volta para ele,


assim como esta manhã. Ele olha para baixo em meus olhos.
-Está tudo bem, - diz ele. -Eu já reformulei o nosso mundo.

Um pequeno grito escapa dos meus lábios. Eu viro e


corro para a porta.

Mas quando eu saio, e subo de volta no meu carro e saio


para fora da garagem, eu sei que não posso ficar longe dele.

Mesmo quando eu não estou com ele, ele está dentro de


mim. Pode tocar em mim com um pensamento.

Estou em apuros.

Onde é que a escolha de Kasie vai levá-la?


Avisos
Aviso 1

Por favor, não publicar o arquivo do livro em comunidade de redes sociais, principalmente no
facebook!

Quer baixar livros do PL? Entre no grupo de bate-papo, entre no fórum, no blog, lá você encontrará
toda a biblioteca do PL ou envie por email a quem pedir.

Postagens de livros no facebook podem acarretar problemas ao PL!

Ajude-nos a preservar o grupo!

Aviso 2

Gostou do livro e quer conversar com sua autora favorita?

Evite informá-la que seus livros em inglês foram traduzidos e distribuídos pelos grupos de revisão! Se
quiser conversar com ela, informe que leu os arquivos no idioma original, mas, por favor, evite tocar
no nome do PL para autores e editoras!

Ajude a preservar o seu grupo de romance!

A equipe do PL agradece!

Aviso 3

Cuidado com comunidades/fóruns que solicitam dinheiro para ler romances que são trabalhados e
distribuídos gratuitamente!

Nós do PL somos contra e distribuímos livros de forma gratuita, sem nenhum ganho financeiro, de
modo a incentivar a cultura e a divulgar romances que possivelmente nunca serão publicados no Brasil.

Solicitar dinheiro por romance é crime, é pirataria!

Seja esperta (o)

Você também pode gostar