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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS
DISCIPLINA DE HIDRÁULICA

SÉRGIO WEINE PAULINO CHAVES

CAPÍTULO II - ESCOAMENTO ATRAVÉS DE VERTEDORES

MOSSORÓ - RN
2013
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SUMÁRIO

2 VERTEDORES .................................................................................................................. 3
2.1 Importância dos vertedores ........................................................................................... 3
2.2 Finalidade dos vertedores .............................................................................................. 3
2.3 Características dos vertedores ....................................................................................... 3
2.4 Classificações dos vertedores ......................................................................................... 4
2.4.1 Quanto à forma ............................................................................................................. 4
2.4.2 Quanto à altura relativa da soleira ............................................................................... 4
2.4.3 Quanto à espessura ....................................................................................................... 5
2.4.4 Quanto à largura da soleira .......................................................................................... 5
2.5 Vertedor retangular de parede delgada ........................................................................ 6
2.5.1 Fórmulas práticas para vertedor retangular ................................................................. 8
2.5.2 Influência da contração no vertedor retangular .......................................................... 11
2.6 Vertedor triangular de parede delgada ....................................................................... 12
2.6.1 Fórmulas práticas para vertedor triangular ................................................................ 13
2.7 Vertedor trapezioidal de parede delgada .................................................................... 14
2.7.1 Fórmula prática para vertedor trapezoidal ................................................................. 14
2.8 Vertedor de parede espessa.......................................................................................... 14
2.9 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 16
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2 VERTEDORES

São aberturas efetuadas na parte superior em paredes de reservatórios, canais etc, acima
da superfície livre dos líquidos, através dos quais um líquido escoa. Trata-se de um orifício
de grandes dimensões incompleto, no qual não possui borda superior.

2.1 Importância dos vertedores

Os vertedores são estruturas relativamente simples, mas de grande importância prática,


devido a sua aplicação em diversas estruturas hidráulicas, como projetos de irrigação,
estações de tratamento de água e esgotos, barragens, medição de vazão em córregos etc (Porto
2004).

2.2 Finalidade dos vertedores

Os vertedores têm sido utilizados, ao longo do tempo, de forma relativamente eficiente,


na medição de vazão de pequenos cursos d’água e condutos livres, assim como no controle
de escoamento em galerias e canais.

2.3 Características dos vertedores

a) Crista ou soleira: é a borda horizontal ou inferior do vertedor em que há contato


com a veia líquida ou lâmina vertente.

b) Faces laterais: são as bordas verticais do vertedor.

c) Faces: são os perímetros interno e externo de um vertedor, localizados,


respectivamente, à montante e à jusante da parede de um reservatório.

d) Altura da soleira (p): é a diferença de nível entre a crista e o fundo do reservatório


ou do canal de acesso.

e) Carga do vertedor ou Carga hidráulica (H): é a diferença de nível entre a crista


e a superfície livre do líquido, medida a uma distância “d”, à montante da parede do vertedor,
igual ou maior a cinco vezes a própria carga “H” (4H ≤ d ≤ 5H). Para medir “H” é necessário
fazer algumas tentativas, até que a condição (4H ≤ d ≤ 5H) seja obedecida. Isso se justifica,
devido ao rebaixamento do nível da veia líquida sobre a crista do vertedor.
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f) Altura do vertedor (Hv): é a diferença de nível entre a superfície livre do líquido


e o fundo do reservatório ou do canal de acesso. A altura do vertedor “Hv” é obtida no mesmo
local de medida de “H”, dessa forma pode-se dizer que “Hv” é igual ao somatório da altura
da soleira “p” com “H”.

g) Largura ou comprimento da soleira (L): é a distância horizontal entre as faces laterais


do vertedor.

h) Largura do reservatório ou do canal (B): é a distância horizontal entre as paredes


laterais do canal de acesso ao vertedor.

i) Topo: é a borda superior da parede do vertedor.

j) Folga: é a distância vertical entre a superfície livre do líquido e o topo do vertedor.

l) Altura da lâmina vertente (p’): é a diferença de nível entre a superfície livre do líquido
à jusante do vertedor e o fundo do canal de escoamento.

m) Ventilação da soleira: é o espaço sob a veia líquida ocupado com ar à pressão


atmosférica.

2.4 Classificações dos vertedores

2.4.1 Quanto à forma

Os vertedores podem ser de formas geométricas simples e compostas. São considerados


simples, os vertedores que apresentam uma única forma geométrica em sua composição.
Esses vertedores podem assumir geometrias retangulares, triangulares, trapezoidais,
circulares etc (Figura Xa). Nas formas geométricas compostas, os vertedores apresentam mais
de uma geometria, que combinadas, resultam e vertedores do tipo triangular e retangular,
retangular e trapezoidal etc (Figura Xb).

2.4.2 Quanto à altura relativa da soleira

A altura relativa da soleira dos vertedores é estabelecida conforme a altura da soleira em


relação à altura da lâmina vertente à jusante, sendo denominados de vertedores completo
(livre) e incompleto (afogado). O vertedor é dito completo quando a altura da soleira for
maior que a altura da lâmina vertente à jusante (p > p’). Por outro lado, se a altura da soleira
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for menor que a altura da lâmina vertente à jusante (p < p’), o vertedor é considerado
incompleto.

2.4.3 Quanto à espessura

As espessuras dos vertedores variam conforme as espessuras das paredes


dos reservatórios, sendo denominados de parede delgada (fina) e de parede espessa (grossa).
A parede é considerada delgada quando o jato líquido apenas toca a crista em uma linha
que constitui o contorno interno do vertedor. Isso ocorre quando a aresta à jusante é biselada,
limitando o contato da veia líquida, como nos orifícios, ou quando, a espessura da parede
é inferior ou igual a dois terços da carga hidráulica do vertedor (Equação 2.1).

onde:
e = espessura da parede do vertedor, m;
H = carga hidráulica do vertedor, m.

Numa parede espessa, diferente da delgada, verifica-se a aderência da veia líquida


à crista do vertedor, estabelecendo sobre ela o paralelismo das linhas de corrente. Além disso,
também, observa-se que a espessura da parede é superior a dois terços da carga hidráulica
do vertedor (Equação 2.2).

2.4.4 Quanto à largura da soleira

Os vertedores podem ser considerados sem contração lateral e com contração.


É considerado sem contração, o vertedor cujo comprimento da soleira “L” é igual à largura do
canal “B” (L = B). Desse modo, pode-se dizer que a veia líquida ou jato líquido não sofre
contração lateral, assumindo a mesma dimensão de “L”. Num vertedor com contração,
o comprimento da soleira “L” é menor que a largura do canal “B” (L < B), e ao contrário
do sem contração, a veia líquida sofre contração lateral, assumindo uma dimensão menor
que “L”. Nesse caso, é necessário a correção do comprimento da soleira (L’), que depende
do número de contrações (Equação 2.3).
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onde:
L’ = largura ou comprimento da soleira corrigida, m;
L = comprimento da soleira do vertedor, m;
n = número de contrações do vertedor;
H = carga hidráulica do vertedor, m.

2.5 Vertedor retangular de parede delgada

As Figuras XA e XB representam a seção transversal e longitudinal, respectivamente,


de um vertedor descarregando o líquido de um reservatório para a atmosfera. Segundo
Porto (2004), trata-se de uma parede delgada, com soleira horizontal e biselada,
instalada perpendicularmente ao escoamento, ocupando toda largura do canal “B”,
portanto sem contrações laterais e com ventilação sob a veia líquida ocupado com ar.
Conforme a Figura XB, as partículas ou filetes líquidos que fluem do fundo do reservatório
elevam-se até acima da crista, enquanto que os filetes líquidos que fluem superfície livre
do líquido sofrem rebaixamento, convergindo para o vertedor.
No caso dos vertedores, que podem ser considerados orifícios de grande dimensão,
a descarga de um orifício retangular de grande dimensão é dada pela fórmula a seguir:

Com relação à área do vertedor “A”, verifica-se que:

Dessa forma, substituindo à equação 2.5 na equação 2.4, a vazão poderá ser expressa,
também, em função de “b” (largura da base do orifício que equivale ao comprimento
da soleira “L”), e reescrita da seguinte forma:

ou, ainda, se a velocidade de aproximação “v” do líquido à montante do vertedor


for considerada:
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Além disso, no escoamento através de vertedores, pode-se considerar a borda superior


nula (H1 = 0) e a altura sobre a borda inferior correspondente à carga hidráulica (H2 = H),
resultando na Fórmula de Weissbach:

onde:
Q = vazão do vertedor, m3.s-1;
Cd = coeficiente de descarga médio dos orifícios, adimensional (Cd = 0,62);
g = aceleração da gravidade, m.s-2;
L = largura da soleira do vertedor, m;
H = carga hidráulica do vertedor, m;
v = velocidade de aproximação do vertedor, m.s-1.

Se a velocidade de aproximação for desprezada, a equação 2.8 ficará ainda mais


simplificada, sendo conhecida como Fórmula de Du Buat:

Segundo Neves (1979), quando a velocidade de aproximação da água no vertedor deve


ser considerada, o emprego da expressão de Weissbach não é natural, pois a velocidade
depende da vazão, e como está não é conhecida, deve-se proceder por aproximações,
calculando-se a velocidade pela expressão da continuidade:

onde a vazão “Q” é obtida pela expressão de Du Buat e a área “A” por B(H + p):
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Uma transformação da expressão de Weissbach permite considerar o efeito


da velocidade de aproximação em função das dimensões do vertedor e da carga hidráulica.
Dessa forma, desenvolvendo o parêntese a seguir:

pela fórmula do binômio de Newton, obtém-se:

Como a parte da expressão entre colchetes já envolve uma aproximação,


pode-se substituir a expressão que representa a velocidade (Equação 2.11) na expressão
simplificada de Weissbach (Equação 2.14):

considerando, ainda, que a largura do canal de acesso é igual ao comprimento da soleira


(B = L),

e que:

obtém-se a fórmula geral dos vertedores retangulares em parede delgada sem contração,
que leva em consideração a velocidade de aproximação, no entanto independe
do conhecimento do seu valor:
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2.5.1 Fórmulas práticas para vertedor retangular

Existe grande número de fórmulas para o cálculo da vazão nos vertedores, e todas elas
se enquadram no tipo geral:

apresentando-se sob as formas das equações (2.8), (2.9) e (2.18). A seguir são indicadas
as fórmulas de uso mais frequente.

a) Fórmula de Bazin (1889): válida para 0,08 m < H < 0,70 m, L > 4H m
e 0,20 m < p < 2,00 m. É uma fórmula muito usada no Brasil. O coeficiente de descarga
é variável com a carga, ficando:

logo,

O segundo membro da equação desaparece quando não se leva em consideração


a velocidade de aproximação, nesse caso:

b) Fórmula de Francis (1905): válida para 0,03 m < H < 0,90 m, p > 0,30 m e p > H.
É uma fórmula muito usada nos Estados Unidos e Inglaterra. O coeficiente de descarga
é constante e igual a 0,6224, ficando:
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ou, ainda, se o valor da velocidade de aproximação não for conhecida

No caso, em que a velocidade de aproximação é menor que 1,0 m.s-1, a área da seção
transversa do canal de acesso é menor que seis vezes a área do vertedor e a medida de vazão
no vertedor não requer grande precisão, pode-se considerar a seguinte expressão:

c) Fórmula da Sociedade Suíça de Engenheiros e Arquitetos (1947): válida para


0,025 m < H < 0,80 m, p > 0,30 m e p > H. O coeficiente de descarga é variável com a carga,
ficando:

logo,

Desprezando a velocidade de aproximação, o segundo membro da equação desaparece,


ficando:
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d) Fórmula da Rehbock (1912): válida para 0,25 m < H < 0,80 m, p > 0,30 m e p > H.
O coeficiente de descarga é variável com a carga, ficando:

logo,

e) Fórmula da Rehbock (1929): válida para 0,03 m < H < 0,75 m, L > 0,30 m, p > 0,30
m e p > H. O coeficiente de descarga é variável com a carga, ficando:

logo,

e
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2.5.2 Influência da contração no vertedor retangular

Segundo Porto (2004), na prática, as medições de vazão em campo não apresentam as


mesmas condições evidenciadas em laboratório. Uma destas condições corresponde a
instalação de um vertedor retangular de largura “L” no meio de um canal de largura “B” maior
que “L”, o que provoca o aparecimento de contrações laterais. Com o objetivo de se manter a
validade das equações discutidas, considera-se, em vez de “L”, a largura efetiva (L’)
disponível para o escoamento (Equação 2.3). Conforme Francis (1871), a contração lateral no
vertedor retangular, com a face lateral afastada da parede do canal mais de 4H e com L > 3H,
é igual a um décimo de “H’ (L’ = L - 0,1H), já para a contração lateral dupla, é igual a dois
décimos de “H’ (L’ = L - 0,2H). Assim, as correções de Francis podem ser aplicadas tanto
para a Fórmula Prática de Francis, reescrita conforme a Equação 2.37, quanto para as demais
expressões de vertedores retangulares.

onde:
n = número de contração lateral do vertedor.

2.6 Vertedor triangular de parede delgada

Os vertedores triangulares são particularmente recomendados para medições de vazões


reduzidas, abaixo de 30 L.s-1, e com cargas entre 0,03 e 0,50 m. É um vertedor tão preciso
quanto os retangulares nas faixas de 30 a 300 L.s-1 (Neves, 1979). São geralmente trabalhados
em chapas metálicas. Na prática, somente são empregados os que têm forma isóscele, sendo
mais usuais os de 90° (Azevedo Neto et al., 1998).
A Figura X representa a seção transversal de um vertedor triangular com um ângulo de
abertura “θ” e carga hidráulica “H”. A relação entre vazão e carga pode ser facilmente
determinada desprezando a carga cinética de aproximação (Porto, 2004).
A vazão elementar, em uma faixa horizontal de altura “dh” e largura “x”, é dada por:

onde:
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que corresponde a área do orifício de pequena dimensão “dA”;

que corresponde a largura da faixa horizontal e é obtido por semelhança de triângulos e;

que corresponde a largura da superfície livre do líquido no vertedor e é obtido da razão entre o
cateto oposto e cateto adjacente de “θ / 2”.
Substituindo as expressões 2.39, 2.40 e 2.39 na expressão 2.38, temos:

A vazão do vertedor triangular será obtida integrando-se a expressão 2.42, “dQ”, entre
os limites 0 e “H”.

Dessa forma, a expressão 2.43 resultará na seguinte equação:

e que:

onde:
Q = vazão do orifício, m3.s-1;
Cd = coeficiente de descarga, adimensional;
g = aceleração da gravidade, m.s-2;
θ = ângulo de abertura do vertedor;
H = carga hidráulica do vertedor, m.
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Segundo Hégly citado por Lencastre (1972), válida para 0,10 m < H < 0,50 m,
a carga cinética de aproximação, para vertedor de 90°, pode ser evidenciada a partir da
seguinte fórmula:

onde:
A = H2 = área do vertedor limitada pela carga hidráulica, m2;
S = seção transversal de escoamento no canal de chegada, m2.

2.6.1 Fórmulas práticas para vertedor triangular

Dentre os vertedores triangulares, o mais usado nas medições práticas é aquele com
ângulo de abertura de 90°, e para esta abertura as fórmulas experimentais mais usadas são:
a) Fórmula de Thompson: válida para 0,05 m < H < 0,38 m, p > 3H m
e B > 6H. O coeficiente de descarga pode assumir valores de 0,59 até 0,62, ficando:

b) Fórmula de Gourley e Crimp (1915): válida para 0,05 m < H < 0,38 m, p > 3H m
e B > 6H. Nessa fórmula “θ” pode assumir os valores de 90°, 60° e 45°, além disso,
o expoente de “H” é um pouco menor que 2,5, ficando:

2.7 Vertedor trapezioidal de parede delgada

Os vertedores trapezoidais não encontram tanto interesse de aplicação como os


vertedores retangulares e triangulares (Porto, 2004). A descarga do vertedor trapezoidal é
calculada pela soma das vazões de um vertedor retangular de largura “L” e de um vertedor
triangular de ângulo “θ” correspondente a duas inclinações. A Figura X representa a seção
transversal de um vertedor trapezoidal com um ângulo de abertura “α” e carga hidráulica “H”.
A relação entre as vazões “Q1” e “Q2” é dada a seguir:
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onde:

que corresponde a vazão do vertedor retangular (Equação 2.9);

que corresponde a vazão de uma das duas inclinações do vertedor trapezoidal.


Dessa forma, a expressão 2.50 resultará na seguinte equação:

2.7.1 Fórmula prática para vertedor trapezoidal

Em geral, o vertedor trapezoidal, também conhecido como vertedor de Cipoletti (1886),


tem a forma de um trapézio isósceles, com base menor em baixo. A inclinação dos lados é tal
que compensa o efeito da contração do vertedor. Este resultado obtém-se pela inclinação dos
lados 1:4 (horizontal para vertical), ou, ainda, α = 14° (Lencastre, 1972).
Admitindo a largura efetiva da soleira e talude 1:4, a Fórmula de Cipoletti conhecide à
expressão para vertedor retangular (Equação 2.9):

Tendo sido determinado experimentalmente, o coeficiente de descarga para o vertedor


de Cipoletti (Cd = 0,63) é praticamente constante para 0,08 m < H < 0,60 m, L > 3H, p > 3H
e 3H < B < 6H. Com isso, a Fórmula de Cipoletti pode ser simplificada da seguinte forma:
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2 REFERÊNCIAS

AZEVEDO NETO, JM. Manual de hidráulica. 8. Ed. São Paulo. Edgard Blucher, 1998.
670p.

LENCASTREM, A. Manual de hidráulica geral. São Paulo. Edgard Blucher, EDUSP, 1972.
411p.

PORTO, RMM. Hidráulica básica. 3. Ed. São Carlos. EESC/USP. Projeto Reenge. 2004.
540p.

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