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º
HISTÓRIA
Sociologia
da Educação
Daniel Coelho de Oliveira
Lúcio Flávio Ferreira Costa
Maria da Luz Alves Ferreira
Maria Railma Alves
Regina Célia Fernandes Teixeira
Rômulo Soares Barbosa
Daniel Coelho de Oliveira
Lúcio Flávio Ferreira Costa
Maria da Luz Alves Ferreira
Maria Railma Alves
Regina Célia Fernandes Teixeira
Rômulo Soares Barbosa
Sociologia da
educação
2ª EDIÇÃO
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
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Ministro da Educação Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes
Aloizio Mercadante Oliva Betânia Maria Araújo Passos
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
O surgimento e a consolidação da Sociologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
A Sociologia de Karl Marx . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
A Sociologia de Émile Durkheim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Unidade 4 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
A Sociologia de Max Weber . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Unidade 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
As contribuições de Antonio Gramsci e John Dewey para a Sociologia da educação . . 65
5.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . . 81
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
História - Sociologia da Educação
Apresentação
Prezado Acadêmico (a),
Esta é a disciplina intitulada Sociologia da Educação.
A sociologia tem uma importante contribuição no entendimento da organização da educa-
ção. A análise da educação ou do modo de ser desta, de acordo com os parâmetros do conheci-
mento sociológico, envolve questionamentos amplos a respeito de concepções sobre a natureza
humana e a natureza da sociedade e das formas de justificação e legitimação de ações e política
educacionais, o que inclui discutir o direito universal à educação e aos benefícios da produção
cultural, assim como os mecanismos de transmissão e assimilação de conhecimentos e os dife-
rentes processos de socialização.
Seguramente, nos dias de hoje, a discussão da questão educacional é polêmica e apaixo-
nante. Ela nos angustia e nos confunde, tanto porque somos bombardeados a todo o momento
pela ideia de que a educação é a senha para o futuro, quanto porque estamos muito insatisfeitos
com a escola que temos. Ficamos incomodados porque queremos convencer-nos da importân-
cia decisiva da escola e seu importante papel na construção de uma sociedade mais justa e feliz.
Em nossa disciplina vamos falar muito das atividades que os homens realizam bem como
das relações sociais. Os homens agem uns com os outros. Por meio da convivência, estabelecem
relações sociais. Já repararam? Dia e noite estamos produzindo e interagindo com algum objeti-
vo social, político, econômico e cultural. Dessa imensa produção da vida social resultam as rela-
ções sociais, produto das interações dos homens, de suas comunidades, de conhecidos ou des-
conhecidos, de familiares ou colegas de trabalho, de membros de religiões, enfim, homens que,
próximos ou distantes, estão fazendo a história social.
Discutindo a ementa da disciplina, percebemos que são esses temas de que a Sociologia
trata, pois propõe estudar os fatos históricos que contextualizam o surgimento da Sociologia e
os principais aspectos da metodologia e teoria social de Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx,
bem como das contribuições de John Dewey e Antonio Gramsci para a Sociologia da Educação.
São apresentadas as formas e posturas dos autores quanto à análise da realidade social e os
pressupostos teóricos e metodológicos para observação e análise da realidade pelas ciências so-
ciais. E, ainda, o estudo do homem e o universo sociocultural, analisando as inter-relações entre
os diversos fenômenos sociais.
A disciplina Sociologia da Educação objetiva, primordialmente, desenvolver um “olhar socio-
lógico”, que possibilite a compreensão da complexidade do contexto social no qual se inserem os
indivíduos, as organizações sociais e especialmente a educação.
Assim, a importância do estudo dos aspectos sociológicos da educação propostos nesta
disciplina são fundamentais para a construção de cidadãos mais reflexivos, criativos e atuan-
tes, rumo à transformação da nossa sociedade, vislumbrando um mundo melhor. Isso tem se
refletido nas nossas práticas educativas, justificando assim a importância de um estudo dos as-
pectos sociológicos da educação e seus desdobramentos em nossas práticas reflexivas e trans-
formadoras.
Nesta disciplina buscamos apresentar a Sociologia como parte das Ciências Sociais, enfo-
cando o contexto histórico do seu surgimento, com seus principais autores que, inicialmente,
propuseram seu objeto de estudo e métodos de análise.
Diante do ritmo de mudanças no mundo social contemporâneo, as discussões apresentadas
foram construídas a partir da crença de que a sociologia tem um papel chave na cultura intelec-
tual moderna e um lugar central dentro das ciências sociais. Assim, buscamos sustentação em
Giddens; Mills, Giroux; Gadotti, entre outros, com o objetivo de esclarecer e convencer da impor-
tância da sociologia e na orientação sociológica a que esta disciplina nos convida. Desta manei-
ra, apresentamos a sociologia não apenas como um campo intelectual abstrato, mas buscamos
refletir sobre as implicações práticas mais importantes, deixando de lado nossa visão pessoal do
mundo para olhar mais cuidadosamente para as influências que orientam as nossas vidas e a dos
outros.
As informações abordadas serão fundamentais na discussão dos principais conceitos ela-
borados pela Sociologia, tais como: estrutura social, organização social, instituição social, grupos
sociais, socialização, classes sociais e estratificação, sempre buscando relacioná-los ao contexto
educacional.
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UAB/Unimontes - 1º Período
É indiscutível que o conhecimento científico estimula a atitude crítica e, por isso mesmo, em
boa medida, contribui para o exercício da cidadania nas sociedades contemporâneas.
Ao proceder assim, a Sociologia oferece à sociedade: políticos, organizações civis, movimen-
tos sociais, minorias, enfim, aos atores sociais elementos para melhor compreensão crítica da sua
realidade histórica.
Significativamente, vocês vão perceber que a Sociologia é muito importante para a investi-
gação do processo educacional nas sociedades modernas. É importante explicitar, nesta discipli-
na, que o conhecimento sociológico habilita o educador a compreender a sociedade, seus gru-
pos e instituições sociais.
Assim, vocês, acadêmicos de Pedagogia, deverão ter em mente que a disciplina é muito
importante para sua formação humanística/ artística/científica e para maior compreensão da
organização social e do processo educativo. As discussões realizadas pelos autores são de fun-
damental importância para a compreensão das demais teorias, principalmente sobre questões
pedagógicas.
Esta disciplina tem cinco unidades, e cada unidade está dividida em tópicos ou subunidades.
UNIDADE 1 – O surgimento e a consolidação da Sociologia
UNIDADE 2 – A Sociologia de Karl Marx
UNIDADE 3 – A Sociologia de Émile Durkheim
UNIDADE 4 – A Sociologia de Max Weber
UNIDADE 5 – As contribuições de Antonio Gramsci e John Dewey para a Sociologia da
Educação
Bom estudo!
Os autores
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História - Sociologia da Educação
Unidade 1
O surgimento e a consolidação da
Sociologia
1.1 Introdução
Esta é a primeira unidade da disciplina Sociologia da Educação. Mãos à obra. O objetivo cen-
tral é que você possa conhecer e discutir o contexto do surgimento da Sociologia e quais fatores
contribuíram para o seu aparecimento.
Certamente, ao ler o texto, você perceberá que se tratava de um projeto que visava subs-
tituir a análise dos fenômenos sociais, a partir do senso comum, pelo conhecimento científico.
Objetiva-se que o acadêmico possa distinguir as concepções rotineiras de realidades sociais, de
senso comum, e desenvolver uma nova visão científica, de natureza sociológica, das práticas da
vida cotidiana.
Após esta etapa, o texto apresenta uma breve apresentação dos fundadores da Sociologia,
de forma que você conheça um pouco da vida e obra desses autores.
Considerando nossa proposta de trabalho, esta primeira unidade abordará “o surgimento e
a consolidação da Sociologia” com as seguintes subunidades:
1.2 Sociologia: aspecto conceitual
1.3 A imaginação sociológica
1.4 O contexto do surgimento da Sociologia
1.5 O Positivismo como uma primeira Sociologia
1.5.1 Comte, o Positivismo e a educação
1.5.2 O Positivismo e a educação no Brasil
1.6 Os autores clássicos da Sociologia e a diversidade na explicação da vida social.
Também integradas ao corpo do texto serão encontradas indicações para estimular o estudo
e a apreensão dos temas, bem como aprofundar ou complementar os conhecimentos adquiridos.
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UAB/Unimontes - 1º Período
os modos sutis, porém complexos e profun- a vida social. Essa observação sistemática dos
dos, pelos quais nossas vidas individuais refle- fatos é o cerne da teoria científica, é ela que
tem os contextos de nossa experiência social é em última estância confirma ou nega a quali-
fundamental para a abordagem sociológica. dade científica de qualquer explicação da rea-
A Sociologia é uma ciência que estuda o lidade.
comportamento humano e os processos de Um fator que edifica a Sociologia como
interação social que interligam o indivíduo em ciência é a sua neutralidade valorativa, por-
associações, grupos e instituições sociais. En- tanto a Sociologia não veio para julgar o que
quanto o indivíduo na sua singularidade é es- é bom ou mau na sociedade, não é normativa,
tudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os não dita normas para a sociedade. A Sociolo-
fenômenos que ocorrem quando vários indi- gia estuda os valores e as normas que existem,
víduos se encontram em grupos de tamanhos de fato, na sociedade e tenta identificar as re-
diversos e interagem no seu interior. lações entre as esferas sociais e outras mani-
Os resultados da pesquisa sociológica festações da vida social. Ela procura fazer isso
não são de interesse apenas de sociólogos. sem julgar a sociedade nem os homens e seus
Cobrindo todas as áreas do convívio humano atos. O campo da Sociologia não é dizer como
– desde as relações na família até a organiza- a sociedade deve ser, mas constatar e explicar
ção das grandes empresas, o comportamento como ela é.
político na sociedade até o comportamento Sendo assim, enquanto sociólogo, e só
religioso –, a Sociologia pode vir a interessar, enquanto tal, esse profissional deve fazer todo
em diferentes graus de intensidade, a admi- esforço que lhe for possível para que os seus
nistradores, políticos, empresários, juristas, valores morais não interfiram preconceituo-
professores em geral, publicitários, jornalistas, samente na sua percepção e interpretação da
planejadores, sacerdotes, mas também ao ho- sociedade.
mem comum. Como foi discutido, anteriormente, a So-
A Sociologia somente começou a se con- ciologia estuda manifestações da vida social,
solidar enquanto ciência inspirando-se em ri- porém a atividade do sociólogo não compre-
gorosos procedimentos de pesquisa, a partir ende apenas formulações de hipóteses, ob-
das reflexões de Emile Durkheim (1864-1920). servação, inferência de generalizações e ela-
Só então, ela adquire forma e vem sendo aper- boração de teorias, pois a realidade que está a
feiçoada até hoje. nossa volta é complexa. Portanto, para estudar
Como ciência, a Sociologia tem de obede- fenômenos é preciso, antes de tudo, classificá-
cer aos mesmos princípios gerais válidos para -los. Sem a percepção das partes não é possível
todos os ramos do conhecimento científico, entender a complexa teia de relações sociais
perseguindo um corpo de idéias logicamente que dá unidade a uma grande coletividade
estruturadas entre si. A Sociologia, portanto, humana. Entretanto, a realidade é muito com-
pretende explicar o que acontece na socieda- plexa para ser explicada em sua totalidade e a
de, como um tipo de conhecimento garantido Sociologia não pretende explicar tudo o que
pela observação sistemática dos fatos, poden- acontece na sociedade. Todo conhecimento é
do transformar-se em instrumento de inter- seletivo, sendo senso comum ou científico, isto
venção social. é, limitado a aspectos escolhidos.
A Sociologia é, como toda ciência, predo- A Sociologia, portanto, não se ocupa de
minantemente indutiva, isto é, parte da obser- todas as regularidades observáveis na socie-
vação sistemática de casos particulares para dade humana, mas apenas daquelas que têm
chegar à formulação de generalizações sobre origem nas relações sociais.
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História - Sociologia da Educação
conceitual que abrange o conjunto da refle- Em quarto lugar, o ato de beber um café
xão sociológica. E, ao mesmo tempo, ir além pressupõe todo um processo passado de de-
desse conteúdo, a fim de propiciar ao leitor- senvolvimento social e econômico. Virtual-
-aluno a possibilidade de, por meio da leitura mente, todo o café que é bebido no mundo
e do estudo sistemático, problematizar critica- hoje vem de áreas da América do Sul e África,
mente a sociedade em que vivemos. que foram colonizadas por europeus: não é,
A imaginação sociológica acima de tudo portanto, de forma alguma, uma parte “natu-
exige de nós que pensemos fora das rotinas ral” da dieta ocidental. O legado colonial tem
familiares de nossas vidas cotidianas, a fim tido um impacto enorme no desenvolvimento
de que observemos de modo renovado. O do comércio mundial de café.
que podemos dizer, a partir de um ponto de Em quinto lugar, o café é um produto que
vista sociológico, sobre exemplos de compor- permanece no centro de debates contemporâ-
tamentos aparentemente desinteressantes? neos sobre globalização, comércio internacio-
Muitas e muitas coisas. nal, direitos humanos e destruição ambiental.
Para uma melhor compreensão da pers- Os indivíduos podem escolher beber somente
pectiva sociológica, buscamos no exemplo café orgânico, café naturalmente descafeínado
“do café” utilizado por Giddens (2005) algumas ou café “comercializado honestamente”.
reflexões pontuais sobre a nossa perspectiva Os consumidores de café podem decidir
sociológica. O café não é somente um refresco. boicotar o café vindo de certos países que
Ele possui valor simbólico como parte de nos- violam os direitos humanos e acordos am-
sas atividades sociais diárias. Frequentemente, bientais. Os sociólogos estão interessados
o ritual associado a beber café é muito mais em entender como a globalização aumenta
importante do que o ato de consumir a bebida a consciência das pessoas acerca de assuntos
propriamente dita. Duas pessoas que combi- que vêm ocorrendo em cantos distantes do
nam de se encontrar para o café estão, prova- planeta, estimulando-as a desenvolver novo
velmente, mais interessadas em ficarem juntas conhecimento em suas próprias vidas.
e conversar do que naquilo que realmente be- Nesse sentido, a perspectiva sociológica
bem. Na realidade, comer e beber, em todas as aqui apresentada pretende um alargamento
sociedades, fornece ocasiões para a interação da nossa visão e dos discursos, possibilitando
social e para a encenação de rituais, oferecendo que a nossa racionalidade humana aprofunde,
um assunto rico para o estudo sociológico. coletiva e analiticamente, o conhecimento so-
Em segundo lugar, café é uma droga, bre nós mesmos e os processos sociais que ar-
por conter cafeína, que tem efeito estimulan- ticulamos para o exercício de nosso viver.
te sobre o cérebro. Muitas pessoas bebem o A imaginação sociológica nos permite
café pelo “estímulo extra” que ele propicia. Os ver muitos eventos que parecem dizer respei-
sociólogos estão interessados no porque da to somente ao indivíduo, na verdade, refletem
existência de tal consumo. questões mais amplas: o divórcio, o desem-
Em terceiro lugar, um indivíduo que bebe prego, entre inúmeros outros, tornam-se as-
uma xícara de café é apanhando numa com- sunto público, expressando amplas tendên-
plicada trama de relacionamentos sociais e cias sociais.
econômicos que se estendem pelo mundo. Desse modo, as primeiras teorias socio-
Estudar tais transações globais é uma impor- lógicas, surgidas em meados de século XIX na
tante tarefa da sociologia, uma vez que mui- Europa, voltaram o foco de seu interesse para
tos aspectos de nossas vidas são agora afe- o problema da relação dos indivíduos entre si
tados por influências e comunicações sociais e com a sociedade.
em escala mundial. Segundo Tomazi (1993, p.15),
São essas situações que interessam à sociologia. Situações cujas causas não são
encontradas na natureza ou na vontade individual, mas antes devem ser pro-
curadas na sociedade, nos grupos sociais ou nas instituições sociais que a con-
dicionam. É tentando explicar essas situações que a sociologia colocará como
básico o relacionamento indivíduo e sociedade. A sociologia volta-se o tempo
todo para os problemas que o homem enfrenta no dia-a-dia de sua vida em
sociedade.
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UAB/Unimontes - 1º Período
Figura 1: Mulheres e ►
crianças trabalhando
em tecelagens
inglesas.
Fonte: Disponível em
<http://www.miriamsal-
les.info/cndvirtual2004/
revindus/EX1182.jpg>
Acesso em 23 abr. 2013.
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História - Sociologia da Educação
cientes de seus interesses com os proprietários tornando uma sociedade industrial. Mas o de-
dos instrumentos de trabalho. senvolvimento acarretado por essa industriali-
O pensamento filosófico do século XVII zação causava aos operários franceses miséria
(Iluminismo) contribuiu para popularizar os e desemprego. Com a industrialização france-
avanços do pensamento científico. “A teologia sa, conduzida pelo empresariado capitalista, DICA
deixaria de ser a forma norteadora do pensa- repetem-se determinadas situações sociais Para compreender me-
mento. A autoridade em que se apoiava um vividas pela Inglaterra. A partir da terceira dé- lhor este contexto, su-
dos alicerces da teologia cederia lugar a uma cada do século XIX, intensificaram-se na socie- gerimos que você assis-
ta ao filme “Germinal”,
dúvida metódica que possibilitasse um co- dade francesa as crises econômicas e as lutas que retrata o modo de
nhecimento objetivo da realidade” (BACON, de classes. A contestação da ordem capitalista vida da classe trabalha-
1561-1626). O novo método de conhecimento feita pela classe trabalhadora passa a ser repri- dora francesa no século
(observação e experimentação) ampliaria in- mida, com violência, pelos empresários. XIX. O filme de 1993
finitamente o poder do homem e deveria ser No meio de toda essa confusão, pensa- destaca um grupo de
pessoas no norte da
estendido e aplicado ao estudo da sociedade. dores imaginaram ser necessário fundar uma França vitimadas pela
O visível progresso das formas de pensar, fruto nova ciência – a Sociologia - que permitisse redução dos salários.
das novas maneiras de pensar e de viver con- reorganizar essa sociedade. O surgimento da Zola, autor do livro que
tribuiria para afastar interpretações fundadas Sociologia significou o aparecimento da pre- deu origem ao filme,
em superstições e crenças infundadas, abrindo ocupação do homem com o seu mundo e a também descreve as
condições de vida e o
espaço para a constituição de um saber cientí- sua vida em grupo. Desencadeou-se, então, a princípio das organiza-
fico sobre os fenômenos histórico-sociais. preocupação com as regras que organizavam ções política e sindical
A burguesia, ao tomar o poder da antiga a vida social. Regras que pudessem ser obser- da classe operária.
nobreza feudal, criou um Estado que assegu- vadas, medidas e comprovadas, capazes de
rava sua autonomia diante da Igreja, além de dar ao homem explicações plausíveis, num
incentivar e proteger a empresa capitalista. mundo onde passou a imperar o racionalismo.
Aconteceu, aí, uma liquidação do regime anti- Regras, enfim, que tornassem possível prever
go. O Estado confiscou propriedades da Igreja, e controlar os fenômenos sociais.
suprimiu os votos monásticos e responsabili- Portanto, o aparecimento da Sociologia
zou o Estado pela educação. Acabou com anti- significou que as questões concernentes às re-
gos privilégios de classe amparou e incentivou lações entre homens deixariam de ser apenas
o empresário. matéria religiosa e do senso comum: passaram
A França, no início do século XIX, ia se a interessar, também, aos cientistas.
Para tanto, Comte dedicou-se a três temas básicos para reflexão, sendo:
a. a filosofia da história, também chamada de filosofia positiva ou pensamento positivo;
b. classificação das ciências;
c. Sociologia – incorporada mais tarde como religião positivista ou catecismo positivista.
O primeiro tema da filosofia de Comte pode ser resumido na Lei dos Três Estados: o Teológi-
co, o Metafísico, o Científico/Positivo.
O segundo tema é a classificação das ciên- logia da Educação, Biologia e Sociologia. Esta
cias, apresentadas em ordem crescente de im- última é a mais importante e mais complexa
portância, por Comte: Astronomia, Física, Socio- das ciências, pois é responsável pela educação
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História - Sociologia da Educação
moral da humanidade, pela reforma intelectual diante, comporta o conjunto de nossas con-
do homem. Comte lembra ainda que “é unica- templações reais (COMTE, 1988).
mente pela observação aprofundada desses Ao analisar os tipos de movimentos vi-
fatos que se pode atingir o conhecimento das tais da sociedade, dois aspectos ou “duas óp-
Leis Lógicas” (COMTE, 1988, p.10). ticas fundamentais” se destacam: a estática e
Podemos destacar a Sociologia como o a dinâmica.
terceiro tema trabalhado por Comte, que ar- A estática corresponde à ordem moral vi-
gumentava sobre a urgência e a importância gente na sociedade, e a dinâmica do progres-
da constituição da física social da seguinte for- so, representado pela urbanização, industria-
ma: “já agora que o espírito humano fundou a lização, etc. Ambos se complementam, mas é
física celeste, a física terrestre, quer mecânica, importante destacar que ORDEM e PROGRES-
quer química; a física orgânica, seja vegetal, SO são fundamentais se o primeiro regular o
seja animal, resta-lhe, para terminar o sistema segundo; caso contrário teremos crises sociais
das ciências de observação, fundar a física so- e uma sociedade “doente”, debilitada de re-
cial” (COMTE, 1988, p. 9). gras e valores morais capazes de garantir a co-
O pensador não só assinala para a impor- esão social. Com essa ideia, Comte propõe es-
tância, mas também para a evidência de que a tudar as instituições sociais responsáveis pela
ciência social é a mais importante de todas, so- ordem e pelo progresso, a estática e a dinâmi-
bretudo porque fornece o único elo, ao mes- ca social, influenciando toda uma geração de
mo tempo lógico e cientifico que, de agora em intelectuais nos séculos XIX e XX.
Comte preocupou-se também com a espírito seria encontrada na ciência. Por isso,
educação, propôs a “reforma geral da educa- na escola de inspiração positivista, os estudos
ção” – chamando atenção para “a necessidade científicos prevalecem sobre os literários.
de substituir nossa educação européia, ainda O filósofo acreditava ainda que todos os
essencialmente teológica, metafísica e literá- seres humanos guardam em si instintos tanto
ria, por uma educação positiva, conforme ao egoístas quanto altruístas. A educação deve-
espírito de nossa época e adaptada às neces- ria assumir a responsabilidade de desenvolver
sidades da civilização moderna” (COMTE, 1988, nos jovens o altruísmo em detrimento do ego-
p.15). ísmo, mostrando a eles que o objetivo existen-
Como Comte tinha a ordem na conta de cial mais nobre é dedicar a vida às outras pes-
valor supremo, para ele era fundamental que soas. A educação positivista visa a informar o
os membros de uma sociedade aprendessem aluno sobre a ordem – isto é, como o mundo
desde pequenos a importância da obediência funciona – e formar seu caráter, tornando-o
e da hierarquia. A imposição da disciplina era, mais bondoso.
para os positivistas, uma função primordial da O pensamento de Comte tinha forte as-
escola. pecto empirista, por levar em conta apenas os
Segundo Comte, a evolução do indivíduo fenômenos observáveis e considerar anticien-
segue um trajeto semelhante à evolução das tíficos os estudos dos processos mentais do
sociedades. Assim, na infância passa-se por observador. Na educação, isso acarreta ênfase
uma espécie de estágio teológico, quando a na aferição da eficiência dos métodos de ensi-
criança tende a atribuir a forças sobrenaturais no e do desempenho do aluno.
o que acontece a seu redor. A maturidade do
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UAB/Unimontes - 1º Período
brasileira se deve ao fato de que a filosofia pela formação de grande número de positivis-
PARA SABER MAIS
positiva tem um caráter pedagógico muito tas brasileiros. Desse modo, a criação de esco-
Sociologia dialética e grande, pois, além de procurar reorganizar a las técnicas esteve associada a uma orientação
crítica. Marx utilizou o
sociedade através do estudo da ciência po- positivista, que via no ensino científico a base
método dialético para
explicar as mudanças sitiva, também busca no ensino científico o de uma educação racional, enquanto as insti-
importantes ocor- suporte para que as ciências especializadas tuições religiosas dedicaram-se a uma educa-
ridas na história da se desenvolvam. Desse modo, a área da edu- ção humanística.
humanidade através cação foi, sem dúvida, a que mais recebeu a Segundo Tambara (2005, p.173; citado por
dos tempos. Para
influência do positivismo. MOTTA; BROLEZZI, 2008, p. 4664-4665), além
ele, o movimento da
história possui uma Seus seguidores pregavam a liberdade de da ação pessoal de alguns positivistas nos di-
base material, econô- ensino, provavelmente como uma forma de versos estabelecimentos de ensino, com desta-
mica e obedece a um reação ao tipo de educação jesuítica predomi- que para a Escola Politécnica, Colégio Pedro II,
movimento dialético. E nante na época. Com isso, ao mesmo tempo Escola Militar do Rio de Janeiro, Colégio Militar,
conforme muda esta re-
em que as escolas particulares confessionais Escola Naval do Rio de Janeiro, Escola de Medi-
lação, mudam-se as leis,
a cultura, a literatura, exerciam uma ação contrária ao positivismo, cina, Escola Livre de Direito do Rio de Janeiro e
a educação e as artes conseguiram, graças à atuação positivista, a Instituto Lafayete, encontramos a influência do
(FGV, 1986, p. 723). abertura do mercado brasileiro. São as escolas positivismo também nas reformas de ensino
livres, como as de Direito e a Politécnica, e as elaboradas por Benjamin Constant, em 1890, e
escolas e academias militares que se destacam pelo Ministro Rivadávia Correia, em 1911.
18
História - Sociologia da Educação
GIANNOTTI, José Arthur; LEMOS, Miguel. Introdução In: COMTE, Auguste. Curso de Filosofia Po-
sitiva: discurso sobre o conjunto do positivismo; Catecismo Positivista. Tradução de José Arthur
Giannotti; Miguel Lemos. São Paulo: Nova Cultural, 1988. p. 43- 61.
MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 08-98.
MILLS, C. Wrigth. A imaginação sociológica. Tradução de Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar,
1970.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque
de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. 2. ed. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002. p. 09-26.
TAMBARA, Elomar. Educação e positivismo no Brasil. In: STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria H.C.
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TOMAZI, Nelson Dacio (coord). Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993.
LALLEMENT, Michel. História das idéias sociológicas: das origens a Max Weber. Petrópolis, RJ: Vo-
zes, 2003. p.119.
19
História - Sociologia da Educação
Unidade 2
A Sociologia de Karl Marx
2.1 Introdução
Caros acadêmicos, na primeira unidade vimos o surgimento da Sociologia, com des-
taque para as condições históricas e as condições intelectuais que possibilitaram o surgi-
mento da ciência da sociedade, bem como os principais autores das primeiras escolas do
pensamento sociológico como: Auguste Comte, Saint-Simon, Owen, entre outros. Desses,
somente August Comte foi apresentado.
Nesta unidade vamos introduzi-lo ao pensamento de Karl Marx, um autor muito im-
portante dentro das matrizes da Sociologia clássica, juntamente com Emile Durkheim e
Max Weber.
A Sociologia de Marx é, com certeza, uma das grandes contribuições para a compre-
ensão da evolução das sociedades, desde as comunidades primitivas até o comunismo.
Embora o objetivo do autor tenha sido fazer uma critica radical à sociedade capitalista,
destacando seus antagonismos e contradições, ele nos presenteia com uma belíssima
análise sociológica, mostrando como a sociedade se desenvolveu desde o seu início, as
comunidades primitivas, passando pelo escravismo, pelo feudalismo, pelo capitalismo,
pelo socialismo e finalmente pelo comunismo que, na visão do autor, era o maior grau de
evolução da sociedade humana.
Para facilitar a compreensão em relação ao autor, a unidade será dividida da seguin-
te maneira:
2.2 O contexto geral da obra de Karl Marx
2.3 Papel do cientista, objeto e método de análise
2.3.1 Dialética
2.4 A Teoria dos Modos de Produção Social ▲
2.5 A divisão social do trabalho e classes sociais Figura 4: Karl Marx
2.6 A análise da sociedade capitalista Fonte: Disponível em
2.7 Luta de classes, mercadoria e mais-valia <http://sociologasrespon-
2.8 Conceitos de alienação e ideologia demnira.blogspot.com.
br/2010/06/segundo-karl-
2.9 Atualidades do marxismo -marxqual-o-papel-da.
2.10 Karl Marx e a educação html> Acesso em 23 abr.
2.11 Formação Integral – Formação Omnilateral 2013.
21
UAB/Unimontes - 1º Período
seus estudos em Direito nas Universidades de crevendo com ele vários textos importantes,
Bonn e Berlim. Em 1841 defendeu sua tese de mas também publicando vários textos sozi-
doutorado com apenas 23 anos de idade, na nho.
área de filosofia, com a tese “As diferenças da O quadro sociopolítico em que o referido
filosofia da natureza em Demócrito e Epicuro”, autor viveu, tanto em sua juventude na Alema-
cuja temática versava sobre o materialismo na nha, quanto na sua passagem pelas capitais
antiguidade grega (COSTA, 1997). Paris, Bruxelas e Londres foi marcado por ele-
Paralelamente à produção intelectual, ele mentos importantes: 1) no âmbito político, o
dedicou-se ao jornalismo; foi editor chefe de processo tardio de unificação liberal-burguesa
um jornal chamado a Gazeta Renana. Ao dei- vivido pela Alemanha a partir de 1830; 2); na
xar esse cargo, intensificou seus estudos bem esfera intelectual, a tradição filosófica alemã,
como a sua militância política e intelectual vinda de autores como Kant e Hegel, fomenta-
no eixo Paris-Bruxelas-Londres, cenários de dores de uma atitude antipositivista, expressa
grande parte da sua produção científica onde, nas diferentes análises de Marx. A influência
juntamente com Engels, construiu uma obra hegeliana na formação intelectual de Marx im-
monumental que objetivava analisar, criticar e pactou profundamente a estruturação do seu
lutar para a transformação radical da socieda- pensamento, assim como sua experiência de
de capitalista. Vale ressaltar que Engels, quan- vida na França e na Inglaterra, países em que a
do estudante, adere a ideias de esquerda, o industrialização estava em estágios mais avan-
que o leva a aproximar-se de Marx. Engels foi çados do que na Alemanha (ARON, 2005).
um grande colaborador da obra de Marx, es-
22
História - Sociologia da Educação
BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 65). Em sua essên- tariado e burguesia estariam em luta constan-
cia o capitalismo representa um sistema que te, na medida em que historicamente a classe
mercantiliza as relações, as pessoas e também dominante – senhores de escravos, senhores
as coisas. Ele identificou no proletariado o sujei- feudais e burguesia – entravam em luta com a
to capaz de realizar a grande mudança, ou seja, classe dominada para continuar com o seu do-
superar essa forma de sociedade. Nesse contex- mínio de classe.
to, o centro do pensamento de Karl Marx era a Para Karl Marx a análise social do materia- DICA
interpretação do regime capitalista enquanto lismo histórico considera que as relações ma- Sugerimos como
contraditório, isto é, dominado pela luta de teriais que os indivíduos estabelecem, o modo aprofundamento de es-
classes motor da história, sendo a luta de clas- como produzem seus meios de vida formam a tudos a leitura do livro
ses o objeto de análise do autor, que vincula a base de todas as suas outras relações sociais. ‘A Ideologia Alemã’, que
crítica da sociedade à ação política. Nesse contexto, em todas as formações – po- representa a base do
materialismo histórico,
Marx sustentava o argumento de que lítica, econômica e social –, a posição dos indi- e ali Marx e Engels
toda a história da sociedade humana era a víduos em relação à propriedade ou não dos fazem as suas críticas
história da luta de classes. Portanto, escravos meios de produção seria determinante de to- aos outros pensadores
e senhores, servos e senhores feudais, prole- das as demais relações sociais. idealistas alemães.
2.3.1 Dialética
Marx trabalha em suas obras com o método dialético e o materialismo histórico. A dialéti-
ca significava para os filósofos gregos antigos a arte de discutir ou a argumentação dialogada, e
para Marx é pensar o movimento. Para ele, pensar as mudanças naturais e sociais a partir da dia-
lética é o mesmo que acreditar que no universo tudo é movimento e transformação.
Para entendermos a dialética em Marx e Engels, é preciso buscar a discussão em Hegel. Para
esse autor alemão a dialética aborda o movimento do espírito, e se realiza segundo um conjunto
de três elementos inter-relacionados:
• a tese é a ideia inicial ou a afirmação de uma ideia;
PARA SABER MAIS
• a antítese, a negação da tese (afirmação de uma ideia oposta, mas relacionada à tese); e
Nos primeiros anos • e a síntese, a negação da antítese, ou negação da negação. A síntese decorre da resolução
da década de 1860, desta contradição numa nova ideia que englobe elementos das duas anteriores. Isso signifi-
acontecimentos es-
petaculares ocorridos ca que a tese é uma nova unidade que pode ser negada, e no processo de negação torna-se
no cenário internacio- antítese, resultando em mudanças que se tornarão uma síntese, ou uma nova tese.
nal fizeram com que Esses são os elementos principais do sistema idealista hegeliano. Karl Marx e Friedrich En-
lideranças sindicais gels serão os fundadores do materialismo dialético, o qual inverterá o sistema idealista hegelia-
e ativistas socialistas no, postulando que não é o pensamento que determina as condições materiais, mas as condi-
começassem a pensar
em fundar uma organi- ções materiais que determinam o pensamento.
zação que reunisse os
sentimentos universais Aqui não partimos daquilo que os homens dizem, imaginam crêem, nem muito
em favor da luta dos menos de que são nas palavras, pensamento, imaginação e representação de
trabalhadores e das outrem, para atingir finalmente os homens em carne e osso. Não, aqui parti-
nações oprimidas. O mos dos homens tomados em sua atividade real, segundo o seu processo real
resultado disso foi a de vida, representando também o desenvolvimento dos reflexos e dos ecos
criação da Primeira ideológicos desse processo vital (MARX; ENGELS, 1992, p. 51).
Associação Internacio-
nal dos Trabalhadores Para Marx e Engels, a dialética é a ciência são partes de um processo dialético. De acordo
em Londres, no ano de das leis gerais do movimento tanto do mundo com essa concepção, não são as ideias ou os va-
1864.
exterior quanto do pensamento humano. A lores que os seres humanos guardam que são
grande ideia fundamental é que o mundo não as principais fontes da mudança social. Em vez
deve ser considerado como um conjunto de disso, a mudança social é estimulada primeira-
coisas acabadas, mas como um conjunto de mente por influências econômicas (GIDDENS,
processos em que as coisas, aparentemente es- 2005, p. 32).
táveis, bem como seus reflexos mentais no nos- Portanto, os processos naturais e sociais
so cérebro, os conceitos, passam por uma série não são coisas perfeitas e acabadas, estão em
ininterrupta de transformações. constante movimento, transformação, desen-
Aplicando esse princípio ao processo de volvimento e renovação e não em estagnação
produção da vida social e ao processo histó- e imutabilidade. Logo, o mundo não pode ser
rico, esses autores concluem que o homem, a entendido como um conjunto de coisas pré- fa-
partir do trabalho, realiza a produção das suas bricadas, mas como um complexo de proces-
necessidades e, ao mesmo tempo, cria a socie- sos. Karl Marx faz da dialética um instrumento
dade. Portanto, as transformações que o ho- de análise e crítica social, com a finalidade não
mem realiza (tanto materiais quanto de ideias) de interpretar o mundo, mas de transformá-lo.
24
História - Sociologia da Educação
trabalhos preliminares de O Capital e cons- citados por inúmeros cientistas sociais por
tituem-se nas mais sistemáticas tentativas apresentarem as ideias centrais do que Marx
de enfrentar o problema da evolução social denominou o “fio condutor” da análise do de-
da sociedade humana. Ambos são bastante senvolvimento histórico.
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UAB/Unimontes - 1º Período
QUADRO 2
Modos de produção
O autor se ocupa das relações que os ho- Em Marx é o conjunto das relações de
mens estabelecem entre si, resultante da es- produção, constituído pela estrutura econô-
pecialização do trabalho (troca). Essas relações mica da sociedade, que representa a base
se tornam cada vez mais sofisticadas, até que concreta, a infraestrutura sobre a qual se
a invenção do dinheiro, a produção de mer- constitui a superestrutura jurídica e política,
cadorias e a troca permitam a acumulação de que correspondem às formas de consciência
capital. social determinada. Para o autor, o modo de
Ele destaca ainda que a dupla relação de produção da vida material dos homens condi-
trabalho-propriedade é progressivamente ciona em geral todo o processo de vida social,
rompida na medida em que o homem se afas- política e intelectual.
ta de sua relação primitiva com a natureza; tal O Materialismo histórico nos permite,
relação assume a forma de uma progressiva pela primeira vez, estudar com precisão as
separação entre o capital e o trabalho livre e condições sociais da vida das massas e as mo-
as condições objetivas de sua realização/sepa- dificações dessas condições. Na sua visão, o
ração entre os meios e os objetos de trabalho, marxismo abriu caminho para o estudo global
consequentemente, a separação entre o traba- e universal do processo de gênese do desen-
lhador e a terra como seu laboratório natural volvimento e de declínio das formações eco-
de trabalho. nômicas e sociais. O exame do conjunto das
Essa separação se completa no capi- tendências contraditórias, reduzindo-as às
talismo quando o trabalhador é reduzido a condições de existência e de produção clara-
simples força de trabalho. Inversamente, a mente determinadas, das diversas classes da
propriedade se reduz ao controle dos meios sociedade, e assim afastando o subjetivismo
de produção inteiramente divorciados do tra- ao considerar que somos nós os “artífices da
balho, culminando na separação total entre o história” (LÊNIN, 1980).
uso e a troca.
26
História - Sociologia da Educação
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UAB/Unimontes - 1º Período
28
História - Sociologia da Educação
Uma vez abolida a base, a propriedade privada, e instaurada a regulamentação PARA SABER MAIS
comunista da produção, que abole no homem o sentimento de estar diante de
seu próprio produto como diante de uma coisa estranha, a força da relação da A sociedade inca era
oferta e da procura é reduzida a zero e os homens retomam o seu poder, o in- extremamente ordena-
tercâmbio, a produção, a sua modalidade de comportamento uns face aos ou- da e organizada. Aos
tros (MARX; ENGELS, 1992, p. 60). olhos dos povos do
império, o Sapa Inca
encarnava o deus e a
Em síntese, Marx destacou a progressão tas também seriam suplantados e uma nova nação, que ocupava
de estágios históricos, que começou com pri- ordem seria instalada, o socialismo. o topo da pirâmide.
mitivas sociedades comunais de caçadores e Para Marx e Engels, a classe operária, en- Imediatamente abaixo:
Sumo Sacerdote, o
coletores e passou através de antigos sistemas gajada em sua luta contra a burguesia, era a Chefe do Estado-
escravistas e sistemas feudais baseados na di- força política que realizaria a destruição do -Maior do Exército, os
visão entre proprietários de terra e servos. O capitalismo e uma transição para o socialismo. oficiais comandantes
aparecimento de mercadores e artesãos mar- Pertencer a uma classe, porém, depende de das Províncias, postos
cou o início de uma classe comercial ou capi- conhecer sua própria condição e posição den- mais elevados da
Administração Pública
talista que veio para substituir a nobreza pro- tro do processo de produção, ampliando para como juízes, generais
prietária de terras. Em concordância com essa uma identidade de interesses e daí para a luta e funcionários civis, os
concepção de história, Marx argumentou que, política, em partidos, sindicatos e movimentos administradores locais,
da mesma forma que os capitalistas tinham se sociais. Vejamos como essa discussão foi apre- os artífices especializa-
dos, como os marcenei-
unido para depor a ordem feudal, os capitalis- sentada por Marx: ros, ourives e pedrei-
ros. A grande massa
Na medida em que milhões de famílias camponesas vivem em condições eco- popular constituía a
nômicas que as separam umas das outras e opõem o seu modo de vida, os base da sociedade inca
seus interesses e sua cultura aos das outras classes da sociedade, estes milhões e era composta pelas
constituem uma classe. Mas na medida em que existe entre os pequenos cam- famílias rurais que
poneses apenas uma ligação local e em que a similitude de seus interesses não habitavam as aldeias,
cria entre eles comunidade alguma, ligação nacional alguma, nem organização onde cultivavam a terra
política, nessa medida não constituem uma classe (MARX, 1977, p. 277). e cuidavam do gado.
capitalista urbanos
Fonte: Disponível em <
http://www.jornallivre.
com.br/images_enviadas/
revolucao-industrial-
Para Marx o ponto central na análise da realização do destino já traçado (QUINTANEI- -20040711a.jpg> Acesso
sociedade moderna é a contradição. O con- RO; BARBOSA; GARDÊNIA, 2002). em 23 abr. 2013.
flito entre o proletariado e os capitalistas é o Por que a crítica ao capitalismo? De
fato mais importante da sociedade moderna, acordo com Marx, o capitalismo é inerente- ATIVIDADE
o que revela a natureza essencial dessa so- mente um sistema desigual, no qual as rela- Faça uma análise do
ciedade, ao mesmo tempo em que permite ções de classe são caracterizadas pelo confli- quadro 2 e destaque
prever o desenvolvimento histórico. Ele ar- to/antagonismo. Ainda que os detentores do como se davam as
gumenta que é impossível separar o soció- capital e os trabalhadores sejam dependen- relações de poder no
feudalismo e como era
logo do homem de ação, já que demonstrar tes um do outro – os capitalistas precisam de a divisão social do tra-
o caráter antagônico do capitalismo leva ir- mão-de-obra e os trabalhadores precisam de balho. Os comentários
resistivelmente a anunciar a autodestruição salários –, a dependência é altamente dese- devem ser postados no
do capitalismo e ao mesmo tempo incitar os quilibrada. fórum de discussão.
homens a contribuir de alguma forma para a
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UAB/Unimontes - 1º Período
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História - Sociologia da Educação
32
História - Sociologia da Educação
Karl Marx ilustra bem esta trajetória. Na de uma “base científica e tecnológica” e na
realidade Marx não elegeu a educação como “transformação social e de autotransformação
objeto central do seu pensamento, suas teorias dos sujeitos.” O quadro abaixo resume a pro-
alimentaram estudiosos nas análises da educa- posta da Educação Politécnica.
ção no contexto da sociedade capitalista. A formação omnilateral, preocupação de
A preocupação maior da teoria de Marx Marx e Engels, é um dos aspectos relevantes
e Engels sobre a Educação foi orientada pelos da Educação Politécnica e da Escola Unitária,
efeitos da Revolução Industrial. Ao elaborar a concepção que será discutida por Antonio
concepção de educação, os pensadores de- Gramsci. Por isso também apresentamos sua
nunciaram a inserção da criança no processo definição.
de produção capitalista – considerado ele- Destacamos, ainda, os principais pensa-
mento singular de suas preocupações. dores que, sendo marxistas, discutiram e por
A Educação Politécnica, junção direta en- vezes implementaram as ideias de educação
tre a educação e o trabalho é a indicação apre- de Marx e Engels, entre eles: Lênin (1870-1924),
sentada por Marx e Engels. Na visão de Tomazi Nadejda Kuspskaya (1869-1937), Anton Maka-
(1997, p.7), a proposta advém “da experiência e renko, (1888-1939) e Antônio Gramsci (1891-
dos escritos, de Robert Owen (1771- 1858), um 1937).
dos ‘socialistas utópicos’ que muito contribuí- Por fim, chamamos a atenção para o fato
ram para o desenvolvimento do pensamento de que inúmeros outros pensadores manifes-
socialista”. taram suas preocupações com a educação,
A contribuição da “instrução escolar com fundando a chamada Sociologia da Educação.
o trabalho produtivo” constitui-se, em “um dos Algumas indagações são apresentadas:
mais poderosos meios de transformação so- quais são estes estudiosos? Quais suas propos-
cial” (TOMAZI, 1997, p. 7-8). O autor reuniu em tas de estudos? São compreensíveis as ques-
três fatores a Educação Politécnica: tões porque se faz necessária uma indicação
• o Ensino Geral, que deveria compreender dos mesmos, já que tantas influências exerce-
língua e literatura materna e estrangeira, ram e ainda exercem no campo educacional.
além do ensino das ciências, pois isso ele- No entanto, é importante lembrar que foi
varia o nível cultural da classe trabalhadora no final da década de 60 e começo dos anos
e lhe propiciaria uma visão universalista; 70 que a sociologia da educação conduziu
• a Educação Física, compreendendo os seus trabalhos orientados pela crítica marxista.
exercícios físicos coordenados, conforme A inspiração na teoria marxista apontou
o conhecimento da época, que visavam novos aspectos ou novas análises no campo
salvaguardar a condição física dos meni- educacional. Os principais trabalhos desses pe-
nos e futuros adultos. Em determinado ríodos, alguns de teóricos americanos e euro-
momento propõem a instrução militar, peus, podem ser assim apresentados, vejamos:
pois dessa forma os trabalhadores já esta- Na realidade aqui listamos apenas alguns
riam habilitados também para a luta con- autores e temas, sabendo que na atualidade
tra os opressores; e existe a urgência de estudos mais aprofun-
• os Estudos Tecnológicos deveriam incluir dados das teorias educacionais e, acima de
os princípios gerais e científicos de to- tudo, a necessidade de uma política educacio-
dos os ramos industriais. Isso permitiria a nal que tenha como prioridade o homem in-
aquisição de um saber fazer que, de um tegral, o homem em sua totalidade. O desafio
lado, exigia conhecimentos científicos apresentado é que, ao eleger como principal
e, de outro, o aprendizado da manipula- referência o ser humano, é preciso alargar nos-
ção de instrumentos, possibilitando aos sa visão de mundo – relacionar teoria e prática
trabalhadores o conhecimento e a apro- com vistas à educação para o sujeito e sua ga-
priação das condições de organização rantia de ampliação dos horizontes através do
do processo de trabalho e , consequente- conhecimento crítico e responsável.
mente, o seu controle. A perspectiva da educação politécnica
E qual seria o papel do Estado na condu- insere-se na busca da articulação dialética en-
ção da Educação? Para Marx e Engels o Estado tre educação e trabalho, de tal maneira que
deveria limitar-se em “fornecer as condições a educação não seja reduzida a um mero ins-
materiais”, especialmente “a dotação de recur- trumento útil de preparação para o trabalho.
sos para educação”, e também a ”inspeção e Não compreende o vínculo trabalho-educação
fiscalização do cumprimento das leis de ensi- como uma simples demanda do processo de
no” (TOMAZI, 1997, p. 8). produção de atributos a serem formados no
A educação na ótica de Marx e Engels aju- sujeito pela educação. Compreende a edu-
dará na formação do sujeito político através cação como processo inserido na busca de
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UAB/Unimontes - 1º Período
Referências
ARANHA, Antônia. Educação Integral: Educação Omnilateral. In: FIDALGO, Fernando; MACHADO,
Lucília. Dicionário de Educação Profissional. Belo Horizonte: NETE-UFMG, 2000a. p. 126.
COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna, 1997.
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História - Sociologia da Educação
LALLEMENT, Michel. História das idéias sociológicas: das origens a Max Weber. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003. p.119.
MARX, Karl. Prefácio à contribuição à crítica da economia política. In: MARX, K.; ENGELS, F. Obras
escolhidas. São Paulo: Alfa-Omega, 1977.
MARX, Karl; ENGELS, F. A ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque
de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
TOMAZI, Nelson Dacio (Coord). Iniciação à Sociologia. São Paulo: Atual, 1993.
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História - Sociologia da Educação
Unidade 3
A Sociologia de Émile Durkheim
3.1 Introdução
A unidade III aborda a contribuição teórica de Émile Durkheim para a formação da So-
ciologia clássica. Como um dos fundadores da Sociologia, apresentaremos e discutiremos
as principais noções, conceitos e análises desenvolvidas por Durkheim.
Terá destaque o contexto de produção intelectual do autor, bem como seu campo
de diálogo e suas heranças teórico-metodológicas. Trataremos do objeto da Sociologia de
Durkheim, buscando compreender como sua construção se associa com a consolidação
da Sociologia como ciência. Isto é, seu despojar-se da filosofia, o diálogo com o organicis-
mo e o positivismo, e a afirmação como campo científico.
Para entendermos a abordagem sociológica de Durkheim, discutiremos o conceito
de Fatos Sociais. Também sua proposição metodológica central, de tratar os Fatos Sociais
como Coisa. No entremeio objeto e método, apresentaremos alguns conceitos e noções
desenvolvidas pelo autor, que são fundamentais para a compreensão do campo analítico
construído por ele.
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UAB/Unimontes - 1º Período
38
História - Sociologia da Educação
consolidadas como espaço de organização da adianta o coração cumprir bem sua função de
vida social. bombeamento do sangue, se o pulmão estiver
Esse cenário que se torna visível a todos, comprometido, doente. Certamente, o corpo
principalmente a partir da segunda metade do como um todo padecerá.
século XIX, e suas consequências, em termos Tomando de empréstimo esse raciocínio
de rearranjos econômicos, sociais e culturais, e também a noção positivista de que as socie-
esteve na base da análise sociológica de Émile dades são regidas por determinadas lógicas
Durkheim. que podem ser compreendidas pelo pensador
Como já vimos anteriormente, influen- social, Durkheim desenvolverá a ideia herdada
ciado pela perspectiva positivista, Durkheim de corpo social.
procurará entender a complexidade da Europa Mas de que maneira?
moderna, propondo uma Sociologia que con- O corpo social é composto por um
centra os esforços analíticos na tentativa de conjunto de órgãos ou organismos sociais.
responder questões relativas às regras de fun- Durkheim herda essa noção do organicismo.
cionamento das sociedades. Para ele, as instituições sociais seriam esses
Nesse sentido, é importante perguntar o organismos, que teriam funções específicas.
que é uma sociedade? Durkheim afirmou que Portanto, ao sociólogo caberia a missão de
a sociedade deve ser compreendida como um identificar as instituições sociais presentes em
corpo social. Para a Biologia, o corpo huma- variadas sociedades e, principalmente, quais
no é produto de uma complexa relação entre as suas funções. Isto é, qual a razão de sua
órgãos e tecidos, que cumprem funções es- existência? Qual a sua serventia? Quais as suas
pecíficas e mutuamente dependentes. Não atribuições?
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UAB/Unimontes - 1º Período
Sociedades não modernas, como as indígenas, por exemplo, são também compostas por
instituições sociais. Assim, cabe ao sociólogo, identificá-las, caracterizá-las e entender suas atri-
buições para o funcionamento do corpo social.
Em suma, as instituições sociais podem ser entendidas como um conjunto de regras e pro-
cedimentos socialmente definidos e aceitos pela sociedade. Assim, as instituições sociais objeti-
vam manter a organização do corpo social.
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História - Sociologia da Educação
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UAB/Unimontes - 1º Período
nar fato aquilo que as sociedades compreen- formarem um grupo social ou uma sociedade.
dem e definem, ao longo da história, como o Por anomia, podemos compreender um esta-
seu ordenamento comportamental (agir, pen- do de desagregação social de tal intensidade,
GLOSSÁRIO sar, sentir) são submetidas, cotidianamente, que reinaria a falta ou inexistência de normas
aos tensionamentos advindos da relação entre e regras condutoras da vida em sociedade.
Anomia: etimologi-
camente tem origem
os “espíritos” dos indivíduos e as representa- O processo anômico se verificaria em três
grega a+nomos,(a = ções sociais. situações: a) crises industriais e comerciais; b)
ausência + nomos = Durkheim reconhece o comportamento conflito entre capital e trabalho, desarmonia
lei, norma). Anomia inovador, a gênese das instituições sociais. Po- entre patrões e empregados; c) especialização
é um sentimento de rém, “essa ação transformadora é tanto mais extrema no interior da ciência (QUINTANEIRO;
falta de objetivos ou
de desespero, provo-
difícil quanto maior o peso ou a centralidade BARBOSA; OLIVEIRA, 2002).
cados pela vida social que a regra, a crença ou a prática social que se Mas retomemos então a indagação fei-
moderna. Isso deixa quer modificar possuem na sociedade” (QUIN- ta anteriormente. Como Durkheim entende a
muitos indivíduos em TANEIRO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 21). mudança social?
sociedades modernas A Sociologia de Durkheim foi bastante As condutas individuais são conformadas
sentindo que suas vidas
cotidianas carecem de
criticada por ser uma abordagem que privile- pelas maneiras de pensar, agir e sentir que são
significado. gia o comportamento funcional das institui- suscetíveis de exercer coerção exterior; em ou-
ções sociais e a relação entre esse e as possi- tras palavras a ação individual é constrangida
bilidades de coesão e harmonia social. Ou pelos Fatos Sociais, a mudança social reside
ainda, os riscos que transformações nas regras, na transformação destes. Se as instituições so-
normas e leis que regem a vida em sociedade ciais regem a vida em sociedade, é também aí
podem causar para a saúde social. o foco da perspectiva de análise da mudança.
Porém, como vimos, embora a ênfase na Os Fatos Sociais que se expressam nas re-
mudança social não seja o motor analítico de gras, normas, leis, acordos tácitos, tradições,
Durkheim, e os conflitos expressassem patolo- costumes, ritos, expectativas de comporta-
gias sociais, não é possível dizer que sua abor- mento, etc. estão profundamente arraigados à
dagem não forneça elementos para pensar prática institucional. A família, a escola, as leis/
como as sociedades se transformam. códigos do direito, o estado, entre outras insti-
Não devemos esquecer que a segunda tuições, portam e são os guardiões das regras
metade do século XIX e as duas primeiras dé- de funcionamento da vida social.
cadas do século XX foram momentos de inten- Portanto, a mudança social só se efetiva a
sas transformações na Europa. As Regras do partir de mudanças nos fatos sociais, nas ins-
Método Sociológico, obra seminal do pensa- tituições sociais. É, então, produto da relação
mento de Durkheim, foi escrita em 1895, quan- entre os indivíduos e as instituições sociais. De
do já se vivenciava intensamente na Inglaterra um lado, deriva do tensionamento, da coerção
e, também na França, a consolidação de gran- exercida pelos fatos sociais, por intermédio
des centros urbanos e industriais. Mais ainda, das instituições sociais e, de outro, dos “espí-
ocorreria entre 1914 e 1918 a primeira grande ritos” ou consciências individuais. São mudan-
Guerra Mundial. E em 1917 a insurreição comu- ças que, para se consolidarem como tal, de-
nista na Rússia. mandam tempo na história.
ATIVIDADE Imerso num ambiente de grandes con- Essa abordagem de Durkheim faz com
flitos e de mudanças estruturais com vistas que observemos nele muito mais um teórico
Analise as figuras
15, 16, 17 e 18 e faça à consolidação do capitalismo industrial na do funcionamento social, no sentido da coe-
um pequeno texto Europa, Durkheim viverá a perturbação ana- são social, do que propriamente um teórico da
enfocando a mudança lítica de responder à indagação: o que rege a mudança social. Vem, principalmente, dessa
social, utilizando os organização das sociedades? Quais as lógicas perspectiva a crítica de que Durkheim é um
conceitos de Durkheim. e dinâmicas de seu funcionamento? O que faz pensador conservador.
Poste o texto no fórum
de discussões. com que se tenha coesão social e processo Como Durkheim analisaria as transforma-
harmônicos? O que leva à patologia e à desa- ções decorrentes das insurreições revolucio-
gregação social ou à anomia? Ou qual é a or- nárias? O êxito de mudanças profundas ou ra-
dem régia da mudança com coesão social? dicais na estrutura das relações sociais estaria
Vejamos que não são questionamentos ancorado na capacidade de tais processos de
simples. São, antes, inquietações profundas imprimirem alterações nas maneiras de pen-
para um pensador como Durkheim. Por isso sar, agir e sentir que exercem coerção sobre os
estudaremos as noções de coesão social e indivíduos. Isto é, transformações no conteú-
anomia, e dos conceitos de Solidariedade So- do funcional das instituições sociais.
cial e de Divisão do Trabalho Social. Dessa maneira, Durkheim acreditava que
Para os nossos propósitos atuais, pode- as revoluções eram muito mais suscetíveis de
mos conceber coesão social como o laço que produzir patologias sociais e anomia; a desa-
permite aos indivíduos se interconectarem e gregação social.
42
História - Sociologia da Educação
Durkheim via no socialismo “apenas in- da segunda metade do século XIX era pro-
dicadores de um mal-estar social expresso fundamente distinta da Europa medieval. As
em símbolos”. Ele rejeitava “as soluções para relações mercantis, os processo produtivos, o
os problemas sociais propostas pelos grupos campo normativo do direito, o Estado foram
que se qualificavam socialistas” (QUINTANEI- drasticamente mudados. Todavia, foram pro-
RO; BARBOSA; OLIVEIRA, 2002, p. 45). Para ele, cessos que levaram séculos para se consolida-
essa abordagem se concentrava nos aspectos rem nas instituições sociais.
econômicos da vida,sem observar sua dimen- O ordenamento funcional “saudável”, ou
são moral. seja, não patológico da sociedade garantiria a
A mudança social estaria associada à no- coesão social, condição indispensável para o
ção de progresso. As sociedades evoluem, progresso. A socialização dos indivíduos, rea-
progridem e se complexificam. Não havia dú- lizada principalmente pelas instituições família
vida para Durkheim de que a Europa industrial e escola, é parte essencial desse processo.
Antes, é preciso indagar sobre o que é trabalho. Todos os pensadores da Sociologia clássi-
ca, Karl Marx, Max Weber e Émile Durkheim tiveram a temática do trabalho e da divisão deste
nas sociedades modernas e não modernas como preocupação central. Não poderia ser diferente,
pois se organizava de maneira sólida na Europa do século XIX uma sociedade centrada no traba-
lho fabril.
43
UAB/Unimontes - 1º Período
Assim, também os produtos gerados para a satisfação das necessidades, bem como a ma-
neira de produzi-los, são igualmente construções sociais. Ou seja, derivam da forma como as
sociedades ou grupos se organizam para realizar trabalho.
Organizar-se coletivamente para realizar trabalho significa dividir-se individualmente e/
ou em estratos sociais para o seu cumprimento. Então, todas as sociedades, todos os grupos
humanos, em todos os momentos de suas histórias, a partir da Horda se dividiram para realizar
trabalho.
Mas como se dá essa divisão? É espontânea? É definida por alguém? Qual a sua força motriz?
44
História - Sociologia da Educação
Certamente, uma sociedade indígena ou tribal, que Durkheim denominou de não moder-
nas, têm formas distintas das sociedades ditas modernas, para dividir o trabalho social, princi-
palmente da Europa industrial.
Isto é, as tarefas produtivas que a sociedade deve cumprir para gerar a satisfação de suas
necessidades têm relação com a educação e a socialização:
45
UAB/Unimontes - 1º Período
O homem não pode viver em meio às coisas sem formar a respeito delas
idéias, de acordo com as quais regula sua conduta. Acontece que, como essas
noções estão mais próximas de nós e mais ao nosso alcance do que as reali-
dades a que correspondem, tendemos naturalmente a substituir estas últimas
por elas e a fazes delas a matéria mesma de nossas especulações. Em vez de
observar as coisas, de descrevê-las, de compará-las, contentamo-nos então em
tomar consciência de nossas idéias, em analisá-las, em combiná-las. Em vez de
uma ciência de realidades, não fazemos mais do que uma análise ideológica
(DURKHEIM, 1995, p. 16).
De acordo com Ortiz (1989), a Sociologia Portanto, para Durkheim, a postura me-
como ciência positiva, feita por Durkheim, todológica fundamental do sociólogo é coisi-
teve por imperativo a definição rigorosa do ficar seu objeto de análise. Isto é, despojar-se
objeto e do método. “Ao propor que os fatos das ideias previamente estabelecidas em sua
sociais se apresentam como ‘coisas’ para a mente acerca daquilo que é o seu objeto, os
observação, ele inverte a perspectiva anterior Fatos Sociais.
que tomava como premissa o que eles ‘deve- Lendo agora essa proposição metodoló-
riam ser’. Fundar uma ciência ‘positiva’ implica- gica de Durkheim e estudando a disciplina de
va partir da realidade, ‘afastar as pré-noções’, Iniciação Científica, vocês devem estar se inda-
o que impunha uma abordagem indutiva que gando: mas qual a relação entre tratar os fatos
a diferenciava do discurso filosófico” (ORTIZ, sociais como coisa e o pressuposto positivista
1989, p. 09). de neutralidade da ciência?
Tratar os fatos sociais como coisa significa Durkheim não está advogando uma neu-
a tarefa metodológica do sociólogo de estra- tralidade do sociólogo. O que ele diz é que os
nhamento daquilo que lhe é familiar. Quando fatos sociais possuem uma objetividade que
utilizamos, cotidianamente, a palavra Coisa deve ser atingida pela ciência sociológica.
para identificarmos algum objeto, o fazemos Concordando com que disse Ortiz (1989),
para dar significado a algo que não consegui- estabelecer uma ciência positiva, tendo por
mos a priori estabelecer seus atributos. base “afastar-se das pré-noções”, significava
Quando possuímos, antecipadamente, o delimitar o campo científico da Sociologia,
significado de determinado objeto, ou como separando-o, definitivamente, do campo filo-
prefere Durkheim, a ideia prévia sobre o real, sófico.
assim indagamos e respondemos: O que é Embora, contemporaneamente, seja ine-
isto? Isto é um quadro negro; isto é uma mesa, gável que as ideias preexistentes, sejam elas
isto é uma escola; isto é um livro. de ordem moral, religiosa, estética, ideológica,
Ao contrário, quando não possuímos em etc, fazem parte do crivo analítico de qualquer
mente os atributos ou características definido- sociólogo, é preciso localizar as proposições de
ras do objeto em questão, podemos dizer que Durkheim no seu tempo e no campo de deba-
se trata de uma Coisa. te entre a Sociologia e a Filosofia do século XIX.
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História - Sociologia da Educação
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UAB/Unimontes - 1º Período
Para Durkheim, as práticas educativas não devem ser entendidas como isoladas de outras
práticas sociais.
Os fins da educação variam com os esta- acreditar que tudo se pode fazer brincando”
dos sociais, com as diversas espécies de so- (PIAGET, 1994, p. 267).
ciedade, com diferentes tempos e situações Nesse sentido, o papel do professor se
históricas. Eles estão diretamente relacionados torna fundamental no processo ensino- apren-
com as necessidades sociais de um tempo e lu- dizagem, assim, “uma vez que é pelo professor
gar. Assim, é a coletividade que impõe os fins que a regra é revelada à criança, é do profes-
da ação educativa.É ela que exerce sobre os sor que depende tudo. A regra não pode ter
educadores uma pressão moral no sentido de outro poder que aquele que lhe dá, isto é,
desenvolver nos educandos as qualidades co- aquele cuja idéia ele sugere às crianças” (PIA-
muns do grupo social e seus ideais coletivos. GET, 1994, p. 267).
Portanto, Durkheim opõe-se a esta edu- Para Durkheim, cuja perspectiva em edu-
cação baseada no interesse individual e na li- cação é considerada funcionalista, uma vez que
vre iniciativa, que recomenda a “escola ativa” tem como preocupação a manutenção e a in-
sob todas as formas. “Nem tudo é brinquedo tegridade da vida social, não se pode interpre-
na vida; portanto, é preciso que a criança se tar a primazia das necessidades sociais sobre o
prepare para o esforço, para a dificuldade e, homem como se a sociedade exercesse sobre
por conseguinte, seria desastroso deixá-la este insuportável tirania, pois seu argumento
48
História - Sociologia da Educação
DEMO, Pedro. Metodologia Científica em Ciências Sociais. São Paulo: Altas, 1995.
DURKHEIM, Émile. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
KONDER, Leandro; TURA, Maria de Lourdes Rangel (org). Sociologia para Educadores. v.1. Rio
de Janeiro: Quartel, 2001.
ORTIZ, Renato. Durkheim: arquiteto e herói fundador. Revista Brasileira de Ciências Sociais. AN-
POCS, n.11, v.4, 1989, p.5-22.
QUINTANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia de. Um toque
de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2002.
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História - Sociologia da Educação
Unidade 4
A Sociologia de Max Weber
4.1 Introdução
Caros acadêmicos, até o momento já foi apresentado para vocês o contexto de formação da
Sociologia enquanto disciplina, além do referencial teórico de dois importantes autores: Émile
Durkheim e Karl Marx. Na atual unidade abordaremos a teoria de outro ilustre pensador, o soció-
logo alemão Max Weber.
Cada um de vocês deve estar se perguntando: o que este novo teórico pode ajudar em sua
formação acadêmica e pessoal? A teoria weberiana pode contribuir na formação de vocês em
muitos aspectos. Primeiro por se tratar de um intelectual que nos ensinou que é necessário li-
dar diretamente com os problemas que estão à nossa volta. Sua motivação de pesquisar estava
ligada a uma tentativa de compreender situações vivenciadas em seu país. O fato de procurar
respostas para os problemas de sua realidade não tirou de Weber o rigor nas suas investigações
científicas. Como poucos intelectuais, ele conseguiu separar o cientista e o político que havia
dentro dele.
A posição weberiana nos interessa, sobretudo, porque ela se diferencia dos dois primeiros
clássicos da Sociologia apresentados nesta disciplina. Sua abordagem distancia-se de análises
centradas em estruturas sociais; difere também do entendimento dialético da história. Weber se
preocupa com o comportamento da ação humana. Não qualquer ação, mas uma ação que pos-
sui sentido; somente aquelas ações que têm o outro como referência. Através da teoria weberia-
na, é possível entender ações cotidianas, presentes no seu ambiente familiar, na associação de
bairro, ações do Estado, ou até mesmo um relacionamento amoroso que você vive no momento.
A teoria weberiana nos permite verificar que as ações racionais, emotivas ou tradicionais po-
dem ser compreendidas muito além do aspecto psicológico. No nosso cotidiano, podemos ob-
servar que, quando compartilhamos nossas ações com várias pessoas, estamos produzindo rela-
ções sociais. Certamente, a própria produção deste caderno significa compartilhar informações;
há diversos personagens envolvidos neste projeto: eu que escrevo, o revisor que propõe altera-
ções, e vocês que estarão lendo o material e compartilhando com cada um de nós a inconfundí-
vel sensação de descobrir um outro universo de conhecimentos.
Para melhor apresentarmos as ideias do autor, a unidade será dividida nos seguintes tópicos:
4.2 Biografia de Max Weber
4.3 Contexto histórico do pensamento weberiano
4.4 Indivíduo e sociedade na perspectiva weberiana
4.5 Especificidade das Ciências Sociais
4.6 Subjetividade e objetividade do conhecimento
4.7 O que é tipo ideal?
4.8 Tipos puros de ação social
4.9 As relações sociais
4.10 Os três tipos puros de dominação
4.11 Max Weber e a educação
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UAB/Unimontes - 1º Período
e o gosto pelo debate político. Em 1869, sua de Versalhes. Um intelectual que, embora não
família muda-se para Berlim. A casa paterna tenha ocupado nenhum cargo político, esteve
era frequentada por personalidades acadêmi- presente em todos os debates políticos do seu
cas e políticas, a convivência em um ambiente tempo.
erudito e intelectual também contribuiu deci- No outono de 1894, assume a cadeira de
sivamente para sua formação. Economia da Universidade de Friburgo, onde
Em 1882, Weber se inscreveu no curso de trabalhou intensamente por dois anos, até se
Direito da Universidade de Heidelberg, período transferir para a Universidade de Heidelberg.
em que estudou outras disciplinas, como Filo- De volta à sua antiga casa, Weber tornou-se
sofia, História e Economia. Somente no final da colega de seus ex-professores. Em 1898 co-
sua carreira ocorreu uma dedicação explícita meça a apresentar sintomas de esgotamento
à Sociologia, ainda que seus primeiros traba- psíquico, crise que o afastou das atividades
lhos já apresentassem aspectos sociológicos. acadêmicas por praticamente cinco anos. Em
Seu doutoramento ocorreu em 1889, com uma 1903, recebe em Heidelberg o título de profes-
tese sobre as companhias comerciais da Idade sor honorário, fato que lhe permitiu organizar
Média. No ano seguinte, volta para Berlim e toda sua vida, mas conseguirá realizar em três
▲ atua como advogado. Nesse período também períodos de quatro anos cada: 1903 a 1906, de
escreve um tratado de análise sociológica e 1911 a 1913, de 1916 a 1919 uma extraordinária
Figura 21: Max Weber
econômica do Império Romano, intitulado produção intelectual.
Fonte: Disponível em
<http://mortenahistoria. “História das Instituições Agrárias”. Weber casa-se em 1893, com Marianne
blogspot.com.br/2012/03/ Além de se dedicar à vida acadêmica, Schnitger, uma intelectual que participou ati-
morte-de-max-weber. Weber participou ativamente da vida política vamente do movimento feminista da épo-
html> Acesso em 23 abr.
2013. alemã. Auxiliou na elaboração da Constituição ca. Após morte sua morte, em 14 de Julho de
da República de Weimar, em 1919. No mesmo 1920, ela organizou e publicou vários textos
ano, integrou o corpo de delegados que re- deixados pelo esposo e escreveu uma rica bio-
presentaram a Alemanha durante o Tratado grafia de sua vida.
52
História - Sociologia da Educação
dustrialismo ocidental. É importante ressaltar da sua vida, em 1918, Weber pronuncia uma
que, embora acreditasse que o capitalismo conferência em Viena a respeito do socialis-
industrial fosse uma premissa para alcançar o mo, onde faz duras críticas ao regime bolche-
poderio nacional, defendia com veemência a vique.
democracia e a liberdade individual. Em 1914, eclode na Europa a Primeira
A situação política e econômica russa Guerra Mundial. Na opinião de Weber, a Guer-
também chamou a atenção de Weber. Em ra era fruto de rivalidades políticas e econômi-
1905, após retornar de uma longa viagem aos cas entre várias nações europeias. A posição
Estados Unidos, se deparou com os aconteci- nacionalista faz com que Weber inicialmente
mentos da primeira revolução russa. Apren- acolha com entusiasmo o início do conflito.
deu russo, para acompanhar diariamente as Porém, no seu decorrer, critica duramente as
notícias daquele país, além de manter conta- posições adotadas pelo governo alemão, ra-
to permanente com intelectuais russos. Seus zão que o fez mudar de posicionamento e de-
estudos tiveram como fruto dois ensaios so- fender um entendimento diplomático para o
bre a situação vivenciada pela Rússia. Ao final fim da Guerra.
1889 Doutor em Direito com a tese sobre a história das empresas comerciais medievais
1919 Realiza conferências sobre: O ofício da vocação científica e o ofício e a vocação do político
53
UAB/Unimontes - 1º Período
54
História - Sociologia da Educação
havia ideologias estranhas à educação. O es- seu trabalho denominado a Ciência como vo-
pírito crítico e a liberdade de pensamento es- cação.
tavam sendo ameaçados pela crescente po- Há uma clara pretensão do autor em de-
lítica nacional socialista. Muitos professores monstrar que a prática científica permite o de-
estavam utilizando a cátedra como um palan- senvolvimento de tecnologias para “controlar
que para discursos de inspiração fascista, na a vida”, o “desenvolvimento de métodos de
visão de Weber, postura prejudicial não só à pensamento”. Através da ciência, também é
prática da educação, mas também ao futuro possível dizer que ela mesma permite indicar
da Alemanha. meios para atingir metas determinadas. Ou
Weber faz uma importante diferenciação seja, a ciência contribui de forma prática para
entre os objetivos da ciência e da política, em o desenvolvimento da racionalidade.
Toda ‘realização’ científica suscita novas ‘perguntas’: pede para ser ‘ultrapassa-
da’ e superada. Quem desejar servir à ciência tem de resignar-se a tal fato. As
obras científicas podem durar, sem dúvida, com ‘satisfações’, devido a sua qua-
lidade artística, ou podem continuar importantes como meio de preparo. Não
obstante, serão ultrapassadas cientificamente – repetimos – pois é esse o seu
destino comum e, mais ainda nosso objetivo comum. Não podemos trabalhar
sem a esperança de que outros avançarão mais do que nós. Por que alguém se
dedica a alguma coisa que na realidade jamais chega, e jamais pode chegar, ao
fim? (WEBER, 1982, p. 164)
55
UAB/Unimontes - 1º Período
Nem toda ação ou conduta social possui da ação entre o indivíduo e o outro indivíduo
um significado objetivo. Atividades religiosas ou entre o indivíduo e o grupo. Se o sociólogo,
vivenciadas por um grupo social, por exemplo, em sua análise científica, pretende ultrapassar
podem possuir significado subjetivo. Contudo, uma mera descrição da realidade, Weber suge-
é possível através de métodos científicos ob- re a utilização de instrumentos metodológicos
ter uma compreensão racional do significado denominados tipos ideais.
vistos)? Para ele a sociedade existe concreta- Também é importante lembrar que nem
mente, mas não é algo extremo e que estaria toda ação é objeto de análise da Sociologia.
acima dos indivíduos; ela é o conjunto das Weber (2001) ressalta que a conduta religiosa
ações deles relacionando-se reciprocamen- contemplativa, por exemplo, não se caracte-
te. Assim, Weber, partindo do indivíduo e de riza como ação social, porque não está orien-
suas motivações, pretende compreender a tada pela ação do outro, ou seja, ação sem o
sociedade como um todo. caráter “social”.
A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações dos ou-
tros, as quais podem ser ações passadas, presentes ou esperadas como sendo
futuras (por exemplo: vingança por ataques futuros). Os ‘outros’ podem ser in-
divíduos e conhecidos ou até uma pluralidade de indivíduos indeterminados
e inteiramente desconhecidos (o dinheiro, por exemplo, significa um bem de
troca que o agente admite no comércio porque a sua ação está orientada pela
expectativa de que muitos outros, embora indeterminados e desconhecidos,
estejam dispostos também a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura) (WEBER,
2001, p. 415).
Podemos entender que tudo que se en- seguir vários “mandamentos” como um ideal
contra fora do plano analítico da ação social de vida, por exemplo: sendo honesto e não
não pertence mais ao campo das Ciências So- roubando, vivendo a castidade antes do ca-
cais, mas filosófico. Segundo Nogueira (1999), samento, não trabalhando no domingo, entre
o fenômeno na disciplina, reconhecido como inúmeras outras condutas possíveis. Em suma,
efetivamente real são as ações sociais. Weber a relação racional em relação a valores possui
acredita que os problemas da Sociologia só como aspecto central a obediência a valores
devem ser tratados como tal, se puderem ser imperativos, que em certas situações podem
traduzidos no plano da análise concreta das ser considerados irracionais, pois almejam
ações sociais. Não foi seu objetivo construir mais o caráter absoluto da própria ação do
uma teoria abstrata entre sujeitos e estruturas, que as consequências racionais. Ou seja, a im-
ou determinar características subjetivas entre portância não se encontra nos “fins”, mas na
agentes e situações. própria conduta.
Weber diz que toda ação social pode ser Os hábitos e costumes condicionam a ação
compreendida em quatro categorias: 1) Racio- do tipo ação tradicional. São modos de condu-
nal em relação a fins; 2) Racional com relação a tas que obedecem a estímulos habituais. A tra-
valores 3) Afetiva; 4) Tradicional. São classifica- dição de escolher padrinhos para o casamento,
ções que se aproximam da ação real, tipos ide- ou para batizar o filho, pode ser definida como
ais puros, construídos para auxiliar a pesquisa uma atitude tradicional. Quase todas as nossas
sociológica. atitudes cotidianas podem ser consideradas
Agir racionalmente com relação a fins tradicionais. O ideal simbólico que conduz essa
significa dizer que o agente disporá de todos ação segue uma conduta racional.
os meios necessários para atingir um fim pré- A ação social de um grupo ou indivíduo
estabelecido. Nesse caso, o agente calcula é afetiva quando a conduta não tem moti-
racionalmente quais os resultados prováveis vação racional, e é do tipo afetivo. Exemplos:
de suas atitudes, mas sua ação individual tem emoções imediatas, desespero, admiração, or-
como referência os sujeitos externos e objetos gulho, medo, inveja, entusiasmo, afetos, ódio,
do mundo exterior. Um agente econômico é vingança, etc.
um exemplo clássico de um comportamen- Os tipos puros de ação social devem ser
to relacionado a fins; ao investir no mercado compreendidos pelo pesquisador: os sentidos
financeiro, seu objetivo último é o lucro. Para e motivações dos agentes, o desenvolvimento
alcançá-lo traça estratégias, que são a todo da ação, os efeitos da conduta. Explicar é cap-
tempo recalculadas, a partir da atitude dos ou- tar e interpretar a “conexão de sentido em que
tros agentes que fazem parte do mercado. As se inclui uma ação”.
atitudes deste agente não são condicionadas Através da tipologia de ação social, criada
pela tradição, tampouco por atitudes afetivas. por Weber, podemos analisar inúmeras práti-
A ação racional com relação a valores é cas e condutas presentes em nossa sociedade.
também um tipo de ação racional, porque Certa atitude do nosso presidente da Repúbli-
previamente o agente estipula objetivos coe- ca pode ser analisada a partir de um tipo ideal
rentes. O agente orienta suas atitudes segun- de ação weberiano. Mas não são raros os casos
do um ideal dominante, possui um compor- em que se faz necessário combinar elementos
tamento fiel às suas convicções. Um indivíduo de vários tipos de ação para entender a reali-
que acredita em uma crença religiosa pode dade empírica.
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UAB/Unimontes - 1º Período
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História - Sociologia da Educação
O segundo tipo é a dominação tradicional, cujo tipo mais puro é o domínio patriarcal; sua
associação é do tipo comunitária. A autoridade que ocupa o lugar superior é referendada ou san-
tificada pelos “súditos”, a partir da tradição ou do costume. Estes não estão submetidos a regras
impessoais como na dominação legal, mas à fidelidade da tradição.
A carismática é um tipo peculiar de dominação, na qual existe certa entrega dos dominados
à pessoa do chefe, devido aos seus dotes sobrenaturais, como o heroísmo e o poder intelectual.
Seu tipo mais puro é a dominação do profeta ou do grande demagogo, a associação dominante
é de caráter comunitário. Assim como na dominação carismática não existe o conceito racional
de competência para nortear a escolha do quadro administrativo, nem o estamental de “privilé-
gio”, escolhe-se segundo o carisma e a vocação pessoal.
Ao criar uma tipologia ideal de domina- te, não consegue se desvincular da esfera do
ção, Weber consegue importante arcabouço domínio tradicional. Seus estudos sobre domi-
teórico para analisar o Estado Alemão que, nação influenciaram e continuam influencian-
mesmo inserido num processo de racionaliza- do inúmeros estudiosos pelo mundo.
ção administrativa, de burocratização crescen- Todos esses conceitos, na perspectiva so-
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UAB/Unimontes - 1º Período
ciológica de Weber, formam tipos ideais. Eles construções hipotéticas podem ser muito úteis,
são modelos conceituais ou analíticos que po- já que qualquer situação no mundo real pode
dem ser usados para compreender o mundo. ser compreendida ao compará-Ia a um tipo ide-
No mundo real, os tipos ideais raramente exis- al. Dessa forma, tipos ideais servem como um
tem - frequentemente, apenas alguns de seus ponto fixo de referência para análise de situa-
atributos estarão presentes. Contudo, essas ções concretas presentes nas sociedades.
60
História - Sociologia da Educação
lares de sistemas de educação, o que supõe “Naturalmente, essas certidões ou diplomas GLOSSÁRIO
sua orientação para uma formação de três ti- fortalecem o ‘elemento estamental’ na po- Estamento: constitui
pos de sujeitos sociais, em cada um dos quais sição do funcionário” (WEBER,1982, p.233). uma forma de estra-
sendo particular a formação educacional com Na atualidade, o diploma teria o mesmo va- tificação social com
relação à cultura e ao destino nas diferentes lor que a ascendência familiar, no passado. A camadas sociais mais
posições sociais: Uma educação carismática: educação é justamente um dos recursos uti- fechadas do que as
classes sociais, e são
orientada para despertar a capacidade con- lizados pelas pessoas que ocupam posições reconhecidas por lei,
siderada como um dom puramente pessoal. de maior privilégio e poder para manterem e/ tradição e geralmente
O carisma não se pode ensinar, nem adquirir, ou melhorarem seu status. O prestígio social ligadas ao conceito de
não se trata de uma tarefa de formação, mas decorrente da posse de um determinado tipo honra e prestígio. Para
sim de conversão: o aluno tem que negar-se de educação não é algo específico da buro- Weber uma pessoa
compõe um estamento
em seu estado atual e tratar de alcançar ou cracia (GONZALEZ, 2008). quanto compartilha
recuperar sua autêntica personalidade (VILE- A formação do homem culto versus a com outras um modo
LA, 2001). formação do especialista é uma questão pre- de vida específico,
O segundo sistema trata de uma edu- sente nas sociedades capitalistas, na medida geralmente baseado no
cação formativa: orientada, sobretudo, para em que a burocratização atinge tanto os se- prestígio.
cultivar um determinado modo de vida que tores públicos quanto os privados da socie-
admita atitudes, os comportamentos particu- dade, atribuindo cada vez mais importância
lares. Esse modo de vida pode ser muito diver- ao saber especializado.
so, pois constitui sempre um conjunto articu- Os três tipos de
lado de atitudes fundadas em um ethos que é, educação descritos pelo
em cada caso característico, ascético, literário, autor expressam as de-
musical ou científico. Assume a finalidade de sigualdades intrínsecas
educar para determinadas atitudes frente à às sociedades capita-
vida (pode até vir acompanhado por um caris- listas a partir da coe-
ma e por um saber ou conhecimento, mas não xistência da educação
o exige). Se a educação carismática era a edu- racional-legal, da edu-
cação dos eleitos do destino, esse segundo cação carismática e da
tipo é próprio de um grupo particular. educação que visa à for-
Esse segundo tipo de sistema educativo mação do homem culto
constitui a instância reprodutora de uma ca- (GONZALEZ, 2008).
tegoria estamental, isto é, de uma categoria O grande méri-
social que define sua posição em termos de to das lições de Weber
conduta de vida, o que se traduz em prestí- para o entendimento da
gio. Este tipo de educação exige e favorece educação na atualida-
a adoção de técnicas particulares de inculca- de, que tem sido devi-
ção. Ser culto não é algo que está relacionado damente apropriada na
com o saber, com o conhecimento, embora sociologia da educação,
este necessariamente não precise estar exclu- pode ser sintetizada em
ído, mas significa, sobretudo, estar familiari- duas amplas dimensões.
zado com a cultura, com as maneiras de ser e De um lado, a abor-
agir do grupo. dagem do sistema es- ▲
O terceiro sistema foi denominado como colar, dentro do processo de racionalidade
Figura 22: Getulio
educação racional para a burocracia ou uma burocrática, de seus mecanismos de organi- Dornelles Vargas -
educação especializada, que está orientada zação e de suas funções práticas, objetivas, Governou o Brasil
para instruir o aluno em conhecimentos, de do papel que desempenham para os sujei- por mais de 18 anos,
saberes concretos, necessários, principalmen- tos escolarizados e para grupos profissionais, sendo até hoje o mais
te para o exercício de papéis sociais especí- permite não só o entendimento de seus me- polêmico de todos os
políticos brasileiros,
ficos das sociedades racionalizadas, como canismos de funcionamento e sua função so- graças ao carisma capaz
profissionais ou políticos. É, portanto, corres- cial na ordem estabelecida, mas permite tam- de mobilizar milhões de
pondente à estrutura de dominação legal e bém o desvelamento da sua ideologia. brasileiros.
está associada ao processo de racionalização Mas a grande contribuição encontra-se Fonte: Disponível em
e burocratização da sociedade contemporâ- nas possibilidades abertas para entendimen- <http://www.paginaespiri-
ta.com.br/getulio_vargas.
nea, segundo Weber. to dos processos de relação do sistema esco- htm> Acesso em 23 abr.
Nas burocracias os títulos educacionais lar com a macroestrutura, com a sociedade 2013.
são símbolos de prestígio social e utilizados nacional e global, e para o estudo dos seus
muitas vezes como vantagem econômica. mecanismos particulares de dominação.
61
UAB/Unimontes - 1º Período
Referências
ficando a importância
dos sistemas educacio-
nais em Weber. Diga
onde, na educação bra-
sileira ou mundial atual,
torna-se importante o COHN, G. Max Weber. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006. p. 7-34.
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63
História - Sociologia da Educação
Unidade 5
As contribuições de Antonio
Gramsci e John Dewey para a
Sociologia da educação
5.1 Introdução
Para pensarmos em um projeto emancipatório, temos que analisar algumas questões: a so-
ciedade, o indivíduo e a educação que temos e que queremos.
O homem moderno simplesmente não consegue imaginar uma vida além do trabalho. O
homem adaptado ao trabalho, ou seja, a um padrão está fazendo com que a qualidade especí-
fica do trabalho se perca e se torne indiferente. O homem moderno não passa de mercadoria
produzindo mercadoria e vendendo sua própria mercadoria. Os homens tornam-se dependentes
de uma relação abstrata do sistema (SANTOS, 2008).
É na sociedade moderna que se forma a ideia de educação para formar cidadãos, escolariza-
ção universal, gratuita e leiga, que deve ser estendida a todos; a escola passa a ser a forma predo-
minante da educação.
De acordo com Enguita (1989), era preciso inventar algo melhor e inventou-se e reinventou-
-se a escola; criaram escolas onde não havia, reformaram-se as existentes e nelas introduziu-se a
força toda a população infantil. A instituição e o processo escolar foram reorganizados de forma
tal que as salas de aula se converteram no lugar apropriado para se acostumar às relações sociais
do processo de produção capitalista, no espaço institucional adequado para preparar as crianças
e os jovens para o trabalho.
Como já mencionamos antes, a perspectiva que temos é a constituição de um sujeito como
objetivo, capaz de construir uma sociedade igualitária, criativa, diversa, livre e prazerosa no ócio
(SANTOS, 2008).
Como podemos enfocar elementos teóricos básicos e decisivos para entendermos melhor
como podemos elaborar um projeto emancipatório, norteado pelos aspectos apresentados? Exis-
te uma enorme quantidade de autores e teorias que buscam tratar essa questão, mas aqui selecio-
namos dois autores que, dentro da Sociologia da Educação, discutem a sociedade, o indivíduo e a
educação que temos e que queremos. Estes autores são John Dewey e Antonio Gramsci.
Antonio Gramsci foi um filósofo italiano nascido em 1891 e que faleceu em 1937. Conforme
vamos poder observar adiante, Gramsci trouxe uma grande contribuição para algumas linhas te-
óricas em educação ao tentar adaptar o pensamento político marxista às exigências da socieda-
de do século 20.
John Dewey (1859-1952) é geralmente reconhecido como o educador norte americano
mais reputado do século XX. Numa carreira prolífica que trespassou sete décadas (a sua obra
completa engloba trinta e sete volumes), Dewey centrou-se num vasto leque de preocupações,
sobretudo e de uma forma notável, no domínio da filosofia, educação, psicologia, sociologia e
política.
Para melhor apresentarmos as ideias dos autores, a unidade será dividida nos seguintes
tópicos:
5.2 Biografia de Antonio Gramsci
5.3 O homem como sujeito histórico
5.4 Gramsci e a importância da escola unitária
5.5 Dados biográficos de John Dewey
5.6 John Dewey: pragmatismo e educação progressiva
65
UAB/Unimontes - 1º Período
66
História - Sociologia da Educação
BOX 1
Os indiferentes
▲
Odeio os indiferentes.
Acredito que viver significa tomar partido. Figura 24: Antonio
Gramsci
Indiferença é apatia, parasitismo, covardia.
Fonte: Disponível em
Não é vida. <http://educacao.uol.com.
Por isso, abomino os indiferentes. br/biografias/antonio-
Desprezo os indiferentes, também, porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos -gramsci.jhtm> Acesso em
23 abr. 2013.
inocentes.
Vivo, sou militante.
Por isso, detesto quem não toma partido. Odeio os indiferentes.
Com isso Gramsci “queria exatamente dizer que todos pensam, todos ligam causa e efeito,
mas de modo empírico, não organizado.” (JESUS, 1998, p.37)
Ou seja, “que todos são cultos” (JESUS, 1998, p.37).
O princípio educacional que mais prezou foi a capacidade de as pessoas trabalharem inte-
lectual e manualmente numa organização educacional única ligada diretamente às instituições
produtivas e culturais.
Foi histórico defensor da escola socialista, a chamava de escola única de escola unitária, evo-
cando a ideia de unidade e centralização democrática.
Criticou a escola tradicional que dividia o ensino em “clássico” e “profissional”, o último des-
tinado às “classes instrumentais” e o primeiro às “classes dominantes e aos intelectuais”. Propõe a
superação dessa divisão, defendendo que uma escola crítica e criativa deve ser ao mesmo tempo
“clássica”, intelectual e profissional. Postulou a criação de uma nova camada intelectual.
67
UAB/Unimontes - 1º Período
Assim, Gramsci reuniu elementos teóricos que lista da escola ou de uma escola do trabalho
visavam à construção da proposta teórica da – escola única. Um exemplo pode ser regis-
chamada escola unitária. trado a partir da Carta enviada a seu filho.
É no caderno do Cárcere 12 que Gramsci Nota-se a preocupação com seu processo de
apresenta sua proposta e concepção Socia- formação:
E por que essas questões estão sendo co- neamente ou de forma natural, o que significa
locadas? Porque é necessário uma contextua- dizer que ela é resultado de um intenso traba-
lização histórica de inserção de Antonio Gra- lho de penetração cultural.
msci para análise da cultura e do debate sobre Através da cultura é possível conectar-
a escola. -se ao campo de organização das massas e
A cultura, na perspectiva Gramsciana, é ter acesso à aquisição de instrumentos para o
apresentada como condição essencial à for- raciocínio lógico ou seja a “liberdade de pen-
mação da “consciência unitária do proletário”. samento”.
Essa formação implica um intenso traba- No pensamento gramsciano, a vida so-
lho cultural ou a conquista de uma “consciên- cial, na verdade a ação política libertadora é,
cia superior”; que difere do saber enciclopédi- pois, produto da ação dos homens, conscien-
co. Os sujeitos, através da cultura, reúnem as tes, capazes de provocarem transformações
condições essenciais para a implementação na realidade, organizados através da “ativida-
do seu campo organizacional. Dessa forma, de prática”, motivados pela vontade.
“a palavra cultura tem um significado bastan- O fato de ter construído seu pensamento
te amplo, a ponto de justificar toda liberdade a partir de problemas reais, estando plena-
de espírito, mas, por outro lado, tem conteúdo mente envolvido no movimento da história,
preciso...” (JESUS, 1998, p.36). da sociedade e os desafios que sua época
Assim, através da aquisição dos instru- provocou, lhe permitiu elaborar as análises
mentos apropriados, os sujeitos poderiam in- tomando como referência as mudanças nas
fluenciar novas relações sociais e, consequen- condições de vida dos menos favorecidos.
temente, alterar e transformar as condições O encaminhamento do processo de es-
de vida dos menos favorecidos, verificados truturação da hegemonia se dará a partir de
sob a orientação da construção de uma nova todas as relações sociais, fundamentalmente
hegemonia. dos campos econômico e político, pois a pró-
A concepção de cultura adotada por Gra- pria estrutura da sociedade é fortemente de-
msci propiciará o alargamento da convivência terminada por ideias e valores, ou seja, uma
democrática e independente do domínio ide- questão de cultura.
ológico e intelectual, fora da passividade e da É por isso que a esfera da cultura, en-
subordinação. A sua definição está relacionada quanto espaço de desenvolvimento da cons-
às condições do desenvolvimento da consci- ciência crítica do ser social, que o torna capaz
ência crítica do ser social, e também da “orga- de intervir na realidade, é ressignificada por
nização, disciplina do próprio interior, tomada Gramsci como reação à ideologia secular da
de posse da própria personalidade, conquista igreja e da mentalidade católico –jesuítica,
da consciência superior pela qual se consegue que criou uma postura de passividade, sub-
compreender o próprio valor histórico, a pró- serviência e conformismo aos dogmas da so-
pria função da vida, os próprios direitos e os ciedade burguesa e ao avanço do poder do
próprios deveres” (JESUS, 1998, p.32). Estado.
O fator determinante na concepção gra- Assim é que a elevação cultural das mas-
msciana é que ela apresenta alguns elemen- sas assume importância decisiva nesse proces-
tos considerados bastantes significativos para so, a fim de que possam libertar-se da pressão
a formação de uma “consciência unitária” do ideológica das velhas classes dirigentes e ele-
proletariado que não pode ocorrer esponta- var-se à condição destas últimas. Neste sen-
68
História - Sociologia da Educação
tido, pode se dizer que “não restam dúvidas nifesta na prática política, o que foi chamado
quanto aos objetivos de Gramsci: ele idealiza por Gramsci de “reforma intelectual e moral”.
a cultura como instrumento de libertação total Nesse sentido, é que situamos a proposta
da sociedade” (JESUS, 1998, p.24). da Escola Unitária de Antonio Gramsci. Apre-
A partir daí, a vontade coletiva vai se fir- sentamos a seguir seu significado elaborado
mando e desenhando uma visão do mundo, pela professora Antônia Aranha (2000, p. 144),
formando uma nova consciência que se ma- como se segue:
O pensador considerou como escola “toda organização que desenvolve a cultura”. Assim,
69
UAB/Unimontes - 1º Período
70
História - Sociologia da Educação
71
UAB/Unimontes - 1º Período
flexibilidade e opor-se ao dogmatismo e, alternativas pelas quais se deve lutar, pois ten-
em particular, a sua discordância relativa- tou evitar todas as “predeterminações” basea-
mente a fins explícitos pré-determinados, das na classe, ou em algo mais.
Dewey revela-se demasiadamente “neu- Além do mais, é questionável se um de-
tro” perante aqueles que se encontram terminado tipo de propósito social comum
envolvidos ativamente na luta por uma e de cidadania ativa defendido por Dewey é
transformação social radical. A sua anti- possível numa sociedade capitalista com ta-
patia perante o ensino de crenças social- manhas e acentuadas desigualdades de poder
mente fixas revelava-se em contraste com e riqueza e dominada pelo consumismo.
as abordagens de muitos educadores so- Alguns questionaram também que a
ciais reconstrucionistas que acreditavam crença de Dewey na ciência era um equívo-
que tal defesa política era uma aspecto co. Tal como C. Wright Mills salientou, a in-
inevitável na educação (TEITELBAUN; AP- teligência científica poderia ser usada tão
▲ PLE, 2001, p. 199). facilmente tanto para servir a propósitos de-
Figura 26: Fernando de Contrariamente a Dewey, pensavam que mocráticos como para aumentar a domina-
Azevedo os estudantes deveriam identificar e exami- ção. Não obstante essas críticas, Dewey per-
Fonte: Disponível em nar problemas específicos do capitalismo manece ainda como uma das maiores figuras
<http://www.jornaldebel-
trao.com.br/blogs/brasili-
norte-americano de forma a encorajar não só da política, filosofia e educação norte-ame-
dade-paranismo-sudoest/ uma compreensão, como ainda uma aliança ricana, uma presença sólida cujo trabalho
biblioteca-de-fernando- com as relações econômicas e sociais mais merece ser lido atentamente, uma vez que a
-de-azevedo-gallo-e-
-unb-7007/> Acesso em 23
cooperativas. sua análise intensiva de muitas das questões
abr. 2013. Os educadores socialistas hesitaram ain- sociais prementes continua ainda hoje a assu-
da menos em ensinar os valores do coletivis- mir uma preocupação vital (TEITELBAUN; AP-
mo e da luta de classe aos estudantes, PLE, 2001, p. 200).
justificando esta posição como uma ne- A sua articulação e compromisso com a
cessidade de contra-reagir à perniciosa democracia participativa nas escolas e outros
influência da cultura capitalista na vida espaços representam a grande contribuição
das crianças da classe trabalhadora. O má- de Dewey para o radicalismo norte- america-
ximo admitido por Dewey era a aplicação no. Na verdade, embora seu otimismo acerca
de uma investigação criativa e científica do progresso, liberdade, comunidade, ciência,
aos problemas sociais (TEITELBAUN; AP- etc, possa ser por vezes visto como despro-
PLE, 2001, p. 200). porcional perante a realidade da cultura he-
Na verdade, a sua orientação vol- gemônica, este serve, nestes tempos cínicos e
tada para o presente e a sua perspectiva pessimistas, para nos relembrar muitos dos
experimentalista, tende, pelo contrário, a caminhos da mudança social progressista
resultar numa descrição bastante vaga de (TEITELBAUN; APPLE, 2001, p. 200).
educação progressiva
<http://ozildoroseliafa-
zendohistoriahotmail.
blogspot.com.br/2010/12/
anisio-teixeira.html> Aces-
so em 23 abr. 2013.
Dewey propõe a educação pela ação, cri- Tendo o conceito de experiência como
tica severamente a educação tradicional, prin- fator central de seus pressupostos, chega à
cipalmente no que se refere à ênfase dada ao conclusão de que a escola não pode ser uma
intelectualismo e à memorização. Para Dewey, preparação para a vida, mas, sim, a própria
o conhecimento é uma atividade dirigida que vida. Assim, para ele, vida-experiência e apren-
não tem um fim em si mesmo, mas está dirigi- dizagem estão unidas, de tal forma que a fun-
do para a experiência. As ideias são hipóteses ção da escola encontra-se em possibilitar uma
de ação e são verdadeiras quando funcionam reconstrução permanente feita pela criança da
como orientadoras dessa ação. experiência.
A educação tem como finalidade propi- A educação progressiva está no cresci-
ciar à criança condições para que resolva por mento constante da vida, na medida em que o
si própria os seus problemas, e não as tradicio- conteúdo da experiência vai sendo aumenta-
nais ideias de formar a criança de acordo com do, assim como o controle que podemos exer-
modelos prévios, ou mesmo orientá-la para cer sobre ela. É importante que o educador
um porvir. descubra os verdadeiros interesses da criança,
72
História - Sociologia da Educação
para apoiar-se nesses interesses, pois, para ele, somente com base nesses interesses a experi-
esforço e disciplina são produtos do interesse e ência adquiriria um verdadeiro valor educativo.
73
UAB/Unimontes - 1º Período
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74
História - Sociologia da Educação
Resumo
• A Sociologia é uma ciência que estuda o comportamento humano e os processos de intera-
ção social que interligam o indivíduo a associações, grupos e instituições sociais.
• A imaginação sociológica, acima de tudo, exige de nós que pensemos fora das rotinas fami-
liares de nossas vidas cotidianas, a fim de que observemos de modo renovado.
• Os fatores que proporcionaram o surgimento e a consolidação das Ciências Sociais e da So-
ciologia são resultado de processos e de transformações econômicas, políticas e culturais
verificadas no século XVIII. Exemplo da revolução industrial e da revolução francesa, que pa-
trocinaram a instalação definitiva da sociedade capitalista.
• Pequenas cidades passaram a grandes cidades produtoras e exportadoras. Essas bruscas
transformações implicariam uma nova organização social, ocorrida graças à transformação
da atividade artesanal em manufatureira, e logo depois em fabril.
• A revolução industrial determinou o aparecimento de novas classes sociais: o proletariado e
a burguesia.
• No século XIX, pensadores imaginaram ser necessário fundar uma nova ciência – a Socio-
logia – que permitisse reorganizar a sociedade, que tornasse possível prever e controlar os
fenômenos sociais.
• A Sociologia pretende explicar o que acontece na sociedade, como um tipo de conhecimen-
to garantido pela observação sistemática dos fatos, podendo transformar-se em instrumen-
to de intervenção social.
• O campo da Sociologia não é dizer como a sociedade deve ser, mas constatar e explicar
como ela é.
• Comte, pensador positivista do início do século XIX, diz que os estados ou ordens são suces-
sivos, onde o teológico será substituído pelo metafísico e este será substituído pelo cientí-
fico ou positivo. A vida social será explicada pela ciência, triunfando sobre todas as outras
formas de pensamento.
• Comte classificou, assim, em ordem crescente de importância, as ciências: astronomia, física,
química, biologia e Sociologia. Esta última é a mais importante e mais complexa das ciên-
cias, pois é responsável pela educação moral da humanidade, pela reforma intelectual do
homem.
• A Sociologia não é uma ciência de apenas uma orientação teórico-metodológica dominan-
te. Ela traz diferentes estudos e diferentes caminhos para a explicação da realidade social.
• A Sociologia tem ao menos três linhas mestras explicativas, fundadas pelos seus autores
clássicos, das quais podem se citar: a primeira Positivista-Funcionalista, que tem como fun-
dador Auguste Comte; seu principal expoente clássico é Émile Durkheim. A segunda é a So-
ciologia compreensiva iniciada por Max Weber. A terceira, corrente de explicação sociológi-
ca é dialética e crítica, iniciada por Karl Marx.
• Karl Marx (1818-1883), juntamente com Friedrich Engels (1820- 1995), compõe a escola crí-
tica que, como o próprio nome evidencia, ocupou-se de criticar radicalmente a sociedade
capitalista.
• Para elaborar a teoria do Materialismo Histórico, Marx refletiu sobre três fontes e recebeu in-
fluências que atuaram no desenvolvimento do seu pensamento: A filosofia idealista clássica
alemã com o método dialético; o socialismo utópico francês e Inglês, que aproveitou suas
bases para elaboração da sua teoria do socialismo científico; e a economia política clássica
inglesa para uma nova leitura da economia política burguesa fundada no pensamento eco-
nômico liberal.
• Na visão de Marx, o conhecimento e a ciência deviam assumir um papel político absoluta-
mente crítico em relação ao capitalismo, devendo ser instrumento de compreensão e de
transformação radical da sociedade.
• Partindo desse pressuposto, o pensador defendia o argumento de que o papel do cientista
social seria o de participar ativamente dos atos de transformação da sociedade capitalista,
através do desempenho de uma função política revolucionária, posicionando-se ao lado das
lutas do proletariado, sendo um observador participante e militante.
• Para Marx e Engels, a dialética é a ciência das leis gerais do movimento tanto do mundo
exterior quanto do pensamento humano. A grande ideia fundamental é que o mundo não
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UAB/Unimontes - 1º Período
deve ser considerado como um conjunto de coisas acabadas, mas como um conjunto de
processos em que as coisas, aparentemente estáveis, bem como seus reflexos mentais no
nosso cérebro, os conceitos, passam por uma série ininterrupta de transformações.
• Marx aplicou a dialética na análise histórica, criando o materialismo histórico, ou uma teoria
para explicar as sociedades.
• Para Marx é preciso distinguir sempre entre as mudanças materiais ocorridas nas condições
econômicas de produção e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas,
numa palavra, as formas ideológicas em que os homens adquirem consciência desse confli-
to e lutam para resolvê-lo.
• Não se pode julgar um indivíduo pelo que ele pensa de si mesmo. Não se pode julgar épo-
cas históricas pela sua consciência. Deve-se explicar esta consciência pelas contradições da
vida material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de pro-
dução.
• Em Marx é o conjunto das relações de produção, constituído pela estrutura econômica da
sociedade, que representa a base concreta, a infraestrutura sobre a qual se constitui a su-
perestrutura jurídica e política, que correspondem às formas de consciência social determi-
nada. Para o autor, o modo de produção da vida material dos homens condiciona em geral
todo o processo de vida social, política e intelectual.
• Os homens são produtos das circunstâncias, pois criam e alteram suas bases de existência
social, quando a ação humana pode alterar o conjunto das relações sociais.
• A distribuição de tarefas entre os indivíduos ou grupos é produto da sociedade e expressa
as condições históricas e sociais de acordo com a posição que cada um deles ocupa na es-
trutura social e nas relações de propriedade.
• A forma de propriedade capitalista, ocorre quando a divisão do trabalho corresponde à divi-
são entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção (ou do capital). As duas
principais classes sociais que se formam são burguesia e proletariado. A primeira é detento-
ra do capital, a segunda é proprietária da força de trabalho que é vendida como mercadoria
no sistema capitalista.
• A persistência da divisão do trabalho típica do capitalismo acontece por causa do domínio
do capital sobre os produtores diretos.
• Para Marx e Engels, a classe operária, engajada em sua luta contra a burguesia, era a força
política que realizaria a destruição do capitalismo e uma transição para o socialismo.
• Uma classe só pode agir com êxito se adquirir consciência de si mesma da maneira prevista
pela definição de transformar-se de classe em si para classe para si e se, ao contrário, isso
não se realizar, sua ação política fracassará.
• A força de trabalho é a mercadoria que possui a propriedade única de ser capaz de criar va-
lor, ingrediente essencial para a produção capitalista e criação do lucro.
• Na perspectiva marxista, a burguesia, para afirmar-se como capitalista, precisa não só apro-
priar-se do produto do trabalho excedente (não pago/mais-valia), mas também reconhecer
o produtor do trabalho excedente, a mais-valia, que aparece na sua consciência como lucro.
• Alienação para Marx é a ação pela qual (ou estado no qual) um indivíduo ou grupo social se
tornam alheios, estranhos, separados, enfim alienados aos resultados ou produtos de sua
própria atividade produtiva. Alienação, para Marx, nasce da forma como a força de trabalho
é utilizada no sistema de produção capitalista, pois é uma mercadoria,
• A ideologia para Marx é a consciência falsa, equivocada, da realidade, não deliberada, mas
necessária ao pensamento de determinada classe social, a burguesia, sob determinadas
condições de sua posição e funções em relação às demais classes.
• Sua contribuição teórica ultrapassa a dimensão apenas da ciência, constituindo uma verda-
deira ética humanista, que conclama a justiça e a igualdade entre os homens.
• Deve-se a Durkheim a institucionalização da Sociologia como disciplina acadêmica, com de-
finição rigorosa de teoria e de método.
• Herdando de Comte e do positivismo a ideia de que as sociedades modernas funcionam a
partir de determinadas regras que orientam o modo de pensar, agir e sentir dos indivíduos
que as compõem, é que Durkheim iniciará seus estudos sociológicos. Deriva dessa perspec-
tiva o conceito de Fato Social, que Durkheim desenvolverá.
• O bom funcionamento das partes que compõem a sociedade, em outras palavras, as insti-
tuições sociais, garantem a ordem ou harmonia social, garantindo a saúde do corpo social e,
com isso, o seu progresso.
• Durkheim afirmou que a sociedade deve ser compreendida como um corpo social.
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História - Sociologia da Educação
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78
História - Sociologia da Educação
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História - Sociologia da Educação
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História - Sociologia da Educação
Atividades de
aprendizagem - AA
1) Auguste Comte foi um pensador positivista que propôs uma nova ciência, a Sociologia. Sobre
a relação Sociologia e educação desse autor, analise as afirmativas e assinale as opções marcan-
do (V) para VERDADEIRO e (F) para FALSO.
( ) No estágio positivo a vida social será explicada pela filosofia, triunfando sobre todas as ou-
tras formas de pensamento.
( ) A imposição da disciplina era, para os positivistas, uma função primordial da escola, pois ali
os membros de uma sociedade aprenderiam desde pequenos a importância da obediência e da
hierarquia.
( ) A maturidade do espírito seria encontrada na ciência, por isso, na escola de inspiração positi-
vista, os estudos literários prevalecem sobre os científicos.
( ) Defendeu a necessidade de substituir a educação europeia, ainda essencialmente teológica,
metafísica e literária, por uma educação positiva, conforme o espírito da civilização moderna.
2) Sobre a teoria da alienação e da ideologia em Karl Marx e Friedrich Engels podemos afirmar os
seguintes pressupostos, EXCETO:
( ) Alienação para Marx nasce das formas de consciência social presentes na vida social, nas
instituições sociais.
( ) Alienação para Marx é o processo pelo qual (ou estado no qual) um indivíduo ou grupo so-
cial se afasta de sua real natureza, torna-se alheio, estranho, separado, enfim alienado.
( ) A ideologia, como consequência da alienação, é a consciência falsa, equivocada da realidade,
não deliberada, mas necessária ao pensamento de determinada classe social.
( ) Os detentores do poder econômico usam a ideologia dominante (conservadora) e tiram
proveito dela para controlar a sociedade e para atenuar ou neutralizar os movimentos de revolta
social.
3) Durkheim concluiu que a educação é necessariamente mais austera entre os povos civilizados
do que entre os povos “primitivos” que têm uma vida mais simples. A frase INCORRETA que com-
plementa esse pressuposto é:
4) As lições de Weber para o entendimento da educação, na atualidade, e que têm sido devida-
mente apropriadas na sociologia da educação, podem ser sintetizadas nas seguintes dimensões,
EXCETO:
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UAB/Unimontes - 1º Período
5) Weber diz que o papel do professor na modernidade deve ser de permitir que o aluno reflita e
que possa criticar o mundo moderno, formulando suas conclusões a partir das suas observações.
As afirmativas relativas à relação professor-aluno estão corretas, EXCETO:
( ) O professor deve adotar uma ética que exponha a sua opinião ao apresentar um conteúdo e
que o faça com honestidade.
( ) É necessário que o professor adote uma ética não partidária na sala de aula.
( ) O conteúdo ensinado deve permitir a reflexão do aluno fora da sala de aula e o professor
deve evitar impor qualquer posição política ao aluno em sala.
( ) O professor deve incentivar o aluno a adotar uma opinião condizente com a sua compreen-
são, de modo que seja neutra por parte do professor.
6) Em relação ao método proposto por John Dewey e sua visão de experiência educativa, analise
as afirmativas e assinale a alternativa INCORRETA:
7) Em Gramsci, a escola unitária ou a escola única do trabalho significa a unidade do trabalho in-
telectual ao produtivo, e expressa os seguintes pressupostos, EXCETO:
( ) A participação do aluno tem que ser ativa e só pode existir se a escola for ligada à vida, que
colabore para a reprodução da hegemonia dominante.
( ) A formação do jovem deve ajudá-lo na condução da escolha profissional, formando-o entre-
mentes como capaz de pensar, de estudar, de dirigir ou de controlar o processo histórico-social.
( ) A universidade tem a tarefa de educar os cérebros para pensar de modo claro, seguro e pes-
soal, libertando-os das névoas e do caos nos quais uma cultura inorgânica, pretensiosa e confu-
sionista ameaça submergi-los.
( ) O início de novas relações entre trabalho intelectual e trabalho industrial ocorre não apenas
na escola, mas em toda a vida social.
9) Que críticas John Dewey dirigiu à escola tradicional, ao defender o seu método educacional?
10) Durkheim defende que a socialização dos indivíduos é realizada principalmente pelas insti-
tuições família e escola, e esta última é parte essencial desse processo. Explique esse enunciado.
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