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ESTUDO DAS EXPANSÕES DE POLIGLUTAMINAS E DOENÇAS

NEURODEGENERATIVAS
(1) (2)
Lúciu Rezende Fernandes ; Joaquim Manoel da Silva
1
Acadêmico do curso de Biologia – UNEMAT. Campus Universitário de Nova Xavantina –
2
luciufernandes@gmail.com ; Professor Orientador, Depto de Biologia, UNEMAT. e -mail:
joaquimmanoel@unemat.br

Resumo: Uma série de proteínas humanas normais contém tratos de


poliglutaminas, entre elas fatores de transcrição, proteínas que “ativam” a função de
outro gene. É possível que essas sequên cias estejam frequentemente presentes em
cromossomos humanos normais porque são tolerada s dentro de uma faixa normal e
não por desempenharem uma função crítica. Muitos estudos têm sido realizados
com o intuito de identificar proteínas que interagem com pro teínas que contém
expansões trinucleotídicas. O presente estudo realizou um levantamento das
principais doenças provocadas por mutações dinâmicas, e comparou sequências
normais com sequências mutadas utilizando ferramentas disponíveis na rede web.

Introdução: Em 1968, Kennedy e colaboradores apresentaram um quadro


neurológico de herança recessiva ligada ao cromossomo X – uma forma rara de
doença dos neurônios motores inferiores, de início tardio ( KENNEDY et al. 1968).
Somente em 1991, com o estudo da genét ica molecular, permitiu-se a identificação
de mutação no gene receptor de androgênio. Estes receptores de andrógenos estão
normalmente concentrados em motoneurônios espinhai s e bulbares (LA SPADA et
al. 1991. Na mutação ocorre inserção de sequências repeti das de trinucleotídeos
CAG (citosina, adenina, guanina) (LA SPADA et al.1992 ; ASHLEY & WARREN
1995). na região codificadora do gene do receptor de androgênio, localizado no
braço longo do cromossomo X, segmento 11 -12(Xq 11-12) com expansão no éxon 1
da extremidade 5’ deste gene (KAIMEN-MACIEL et al.1998).
O gene é a unidade de informação genética, compondo -se de elementos
reguladores da transcrição, íntrons e éxons (GRIFFITHS et al. 2006). Os éxons são
parte do gene que será traduzida em aminoácidos, são s equências codificadoras.
Íntrons são trechos de DNA intercalados entre os éxons, não sendo traduzidos em
polipeptídeos.
A rede web mudou inteiramente a forma como os cientistas procuram e
trocam informações. Dados que antes precisavam ser comunicados em pa pel, agora
são digitalizados e distribuídos a partir de bancos de dados centralizados. Os
bancos de dados de seqüências geralmente se especializam em um tipo de
seqüências: DNA, RNA ou proteínas. O banco de dados de seqüências de DNA
cresceu lentamente durante sua primeira década. Em 1992, o GenBank
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/) continha cerca de 78.000 seqüências de DNA – um
pouco mais de 100 milhões de pares de bases de DNA. Em 1995, com o projeto do
genoma humano e os avanços na tecnologia de seqüencia mento colocaram o
crescimento do GenBank em marcha acelerada. Atualmente, o tamanho do
GenBank dobra a cada 6 ou 8 meses.
Com os avanços recentes da genética molecular, os genes responsáveis por
diversas doenças hereditárias foram localizados e caracteriza dos em detalhes. As
doenças neurodegenerativas formam um grupo heterogêneo de patologias,
compreendendo entidades causadas por uma série de mecanismos diferentes. Um
desses mecanismos é a ocorrência de mutações dinâmicas. Essas mutações são
caracterizadas por expansões de diferentes tipos de sequências de trinucleotídeos
que são instáveis durante a transmissão genética ( LI SH et al. 1993). Com todo esse
desenvolvimento, as doenças resultantes de repetições de trinucleotídeos estão
entre os grandes paradigma s da última década e até o momento existem registros
de pelo menos 18 doenças neurológicas res ultantes desse tipo de mutação ( PULST
S-M, 2003). Além disso, parece haver relação direta entre a gravidade das doenças
e o maior número de repetições.
O mecanismo pelo qual as mutações dinâmicas levam a neurodegeneração
ainda não é totalmente compreendido, o que se sabe é que indivíduos normais
possuem os segmentos de trinucleotídeos dentro de um limite normal, enquanto
pacientes apresentam esses segmentos de tama nho aumentado ou “expandido”.
Existem muitas evidências sugerindo um mecanismo patogênico comum causador
da morte neuronal. Apesar de esse mecanismo ser ainda desconhecido, acredita -se
que nessas doenças ocorra um ganho de função tóxica pelas proteínas que contêm
trechos de poliglutaminas expandidos (LI SH & LI HJ, 1996; LIN X et al. 2000).
Os objetivos do estudo foram identificar quais genes estão relacionados às
doença e qual o número de repetições de trinucleotídeos é considerado normal e
doente. Observamos que na maioria das doenças ocorre um ganho de função tóxica
pelas proteínas que contém trechos de poliglutaminas expandidos.

Material e Métodos: Foi feito um treinamento de forma a conhecer as diferenças


entre os tipos de dados fornecidos pelo banco de dados GenBank do NCBI, que
contém dados de seqüências de DNA e o Protein Data Bank (PDB)
(http://www.rcsb.org/pdb/home/home.do ), para dados de estrutura molecular ; de
forma a pesquisar o conjunto de dados mais apropriados ao trabalho proposto.
Para a pesquisa de seqüências de aminoácidos fez uso do servidor ExPASy
do Swiss Institute for Bioinformatics (http://expasy.org/cgi-bin/sprot-search-ful), para
alinhamento múltiplo de seqüências, no formato FASTA, foi usado o programa
CLUSTAL-W (http://www.ebi.ac.uk/clustalw/). Para pesquisar seqüências em banco
de dados a partir de uma seqüência sonda utilizamos a ferramenta PSI -BLAST
(Position Specific Iterated-Basic Local Alignment Search Tool) do NCBI.

Resultados e Discussão : No estudo observarmos que a ocorr ência de mutações


dinâmicas podem ser associadas às doenças neurodegenerativas . Foram
levantadas inicialmente as doenças neurodegenerativas ocorridas pela inserção de
sequências repetidas de trinicleotídeos CAG (glutamina) ou CTG (leucina), conforme
quadro abaixo (1).
Para um estudo mais detalhado escolhemos a Doença de Hu ntington (DH), a
qual afeta 1 entre 10.000 indivíduos. O mapeamento cromossômico mostrou que o
defeito genético está no cromossomo 4p16.3, consistindo da amplificação de
poliglutaminas, na região codificada do gene da doença de Huntington: IT15.
O servidor Expasy do Swiss Institute for Bioinformatic foi utilizado para a
busca da sequências de aminoácidos da proteína huntingtina. Inicialmente
buscamos quais outras espécies apresentavam gen es relacionados através da
ferramenta PSI-BLAST e a proteína huntingtina foi utilizada como sequência sonda .
Introduzimos blocos de poliglut aminas na proteína, os quais tinham tamanhos
distintos: 11 à 28 repetições de glutaminas (gene normal); 29 à 34 (bai xa
probabilidade de manifestação da doença ); 35 à 41 (probabilidade moderada) e
acima de 41 repetições ,os indivíduos quase certamente sofrerão da doença na sua
forma mais grave. Novamente foi feita uma busca exaustiva por proteínas
homologas, através da ferramenta PSI-BLAST.

Quadro 1: Doenças neurodegenerativas causadas por expansão de trinucleotídeos.


Doença Gene Repetição Local afetado Número de
Produtor repetições
Normal Afetado
Doença de DM - CTG Multissistêmico 5-30 45-3000
Steinert 19q13.3
Doença de Huntingtina CAG Córtex 11-34 37-121
Huntington IT15 – cerebral
4p16.3
Ataxia Ataxina CAG Células de 25-36 43-81
espinocerebral 6p22-23 Purkinje
Doença de MJDI CAG Córtex 13-36 68-79
Machado- 14q32.1 cerebral
Joseph
Atrofia dentor- Atrofina CAG Medula 7-25 49-68
rubro-palido- 12p12-13 espinhal
luisiana
Doença de Receptor CAG Neurônios 11-33 40-62
Kennedy androgênico motores
Xq11-12

Conclusão: A função de trechos de poliglutaminas associadas a alelos normais,


ainda não é clara. Muitos estudos têm sido realizados com o intuito de identificar
proteínas que interagem com as proteínas que contêm expansões de glutaminas
(SKINNER, P.J. et al. 1997). Apesar desses esforços, não existe tratamento
específico para nenhuma delas. Grupos de pesquisa no mundo têm utilizado
ferramentas e metodologias muito mais avançadas para estudar o problema sob o
foco da análise estrutural das proteínas com tratos de poliglutaminas, em suas
formas normais e expandidas; assim como na identificação de proteín as ligantes
específicas para cada uma das doenças (CHILDS, B. & VALLE, D. 2000;
CUMMINGS, C.J. & ZOGHBI, H.Y, 2000 & SILVA, T.C.L. et al. 2000).
Referências Bibliográficas

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