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Configuração

jurídica:
demandas e
expectativas

CURSO DE ATUALIZAÇÃO
Centros de memória:
fundamentos e perspectivas
I CONCEITUAÇÃO DOS CM
1. CENTROS DE MEMÓRIA NO BRASIL

Presença a partir dos anos 1980, vinculados a organizações públicas, privadas e do terceiro
setor, em um cenário de globalização:

• Redemocratização do país após período autoritário;


• Privatização de setores da área pública;
• Controle pelas corporações multinacionais de parte do parque industrial;
• Reestruturação das empresas nacionais, algumas se expandindo para outros países e continentes.

O crescimento do nº dos CM reflete a busca de preservação da cultura e da identidade.


2. SUPORTE LEGAL

Lei 8.159 de 8/1/1991 (sobre a política nacional de arquivos


públicos e privados) considera de interesse público e social:

• Arquivos de pessoas jurídicas de direito privado, fontes relevantes


para a história e o desenvolvimento científico;
• Documentos produzidos por entidades privadas encarregadas da
gestão de serviços públicos.
3. IDENTIDADE

• Reunião de documentos arquivísticos, bibliográficos, museográficos;


• Variedade de formato, alcance e significado;
• Núcleo de armazenamento de informações materializadas em
diversas linguagens: palavra escrita, som, imagem, além de objetos e
artefatos (ausência de linguagem);
• Informação: abundante, não hierarquizada, registrada em suportes
múltiplos, com características complexas (do orgânico ao imaterial).

Hoje se espera mais que centralizar a memória.


Artefatos típicos
dos CM
4. CARACTERÍSTICAS

• Equipamento cultural / documental que funciona como arquivo ampliado;


• Sobreposição ao arquivo da organização sem substituí-lo;
• Tendência a reunir documentos-síntese, próximos do centro de decisão;
• Extensão da jurisdição para documentos não acumulados naturalmente;
• Visibilidade como local de visitação;
• Produção historiográfica produzida com os documentos custodiados e pesquisa;
• Criação de documentos para além das funções intrínsecas da organização.
5. VÍNCULO COM A ENTIDADE

• Área de comunicação/mkt
• Área de sustentabilidade*
• Diretoria corporativa
• Área decisória
• Departamento de pessoal ou de recursos humanos

*Hoje nas corporações: tendência em valorizar o conceito de sustentabilidade, que


abrange a preservação do equilíbrio, do social ao ambiental. Nessa perspectiva a
memória tende a ser vista como fator de equilíbrio e preservação de identidade.
II O ACERVO DOS CM
6. CARACTERÍSTICAS DO ACERVO ARQUIVÍSTICO

• Fragilidade pela perda de contexto e por acumulação não criteriosa;


• Lacunas quanto à cobertura das funções da organização;
• Predominância de docs. ligados às funções de comunicação e/ou mkt, que identificam a
organização/produtos na sua área de atuação e na sociedade;
• Ausência de valor legal*, passível de desmobilização sem maiores problemas;
• Documentos que transcendem o ato administrativo, de guarda errática, proveniente das atividades não
submetidas a uma política de memória.

*O acervo faria parte do arquivo geral que recolhe documentos provenientes das áreas decisórias, jurídicas, de
pessoal, financeiras, contábeis que comprovam direitos e prestam contas, sob legislação específica. Parte
desse conjunto é sigiloso.
7. DOCUMENTOS PROVENIENTES DE ATIVIDADES-MEIO
OU ATIVIDADES-FIM?

• Questionamento teórico sobre a legitimidade arquivística de


documentos ligados a atividades-fim, por não viabilizarem ação, mas
sim seu produto final.

• Os documentos produzidos pelas atividades-meio, rotineiros,


probatórios e espelho das funções da organização, não são
transferidos ao CM.
Um comentário: desprestígio dos arquivos

“Os arquivistas, guardiões do patrimônio documental da sociedade,


não conseguem dar ao público o conhecimento do seu trabalho, não
recebendo da sociedade o apoio para uma tarefa que é superlativa,
pelo volume das massas documentais produzidas e acumuladas pelo
poder público, pelas instituições e pelas pessoas.” (Richard Cox)
Um comentário: dificuldade de compreender a
construção da narrativa histórica
• Reconhecer e identificar processos e não apenas pontos de inflexão e mudança.
• O documento produzido hoje tem estatuto histórico? (defasagem temporal
entre a produção e o momento em que são analisados e interpretados)
• Apego à historiografia oficial que põe em foco empreendedores, pioneiros,
heróis, líderes, com uma visão de mundo que valoriza o vencedor.

Os documentos que provêm das atividades-meio, distantes da zona decisória da


entidade são fontes históricas importantes. Eles comprovam ações e atividades,
sem discurso subjacente.
8. ESTATUTO ARQUIVÍSTICO
• Documentos não diplomáticos são ‘de arquivo’?
• possibilidade de nomear e caracterizar documentos de CM por meio de
glossários, thesaurus, dicionários, catálogos incluindo:
• Atividades: jornalística, de comunicação, de marketing, de vendas, de produção etc.;

• Artefatos: roupas, objetos ornamentais, máquinas e equipamentos industriais,


instrumentos de farmácia, ferramentas, utensílios domésticos, mobiliário etc..

Se os documentos provenientes das atividades-fim não fossem preservados o


que restaria nos centros de memória? Eles registram a atuação da entidade.
Um exemplo:
estatuto
documental e
estatuto
arquivístico
III FUNÇÕES DOS CENTROS DE
MEMÓRIA
9. FUNÇÕES SIMBÓLICAS DOS CM

Século XX
• memorial
• de preservação da memória social (prova contra violações de direitos, p.ex.)

Século XXI
• Instrumento de gestão da informação;
• Referência de identidade e da cultura institucional*;
• Instrumento de reforço do valor das marcas.

* p.ex.: a profissionalização das empresas familiares, as fusões corporativas e o


desenvolvimento do conceito de sustentabilidade fortalecem essas funções.
10. O QUE ALMEJAM (1)

• Oferecer uma visão prospectiva e global;


• Ser local de aprendizado interno e responder a demandas externas;
• Ser um motor de tomada de consciência dos valores culturais;
• Ser um repositório de informações que contribua para a inovação.
10. O QUE ALMEJAM (2)

• Protagonizar o processo decisório em sua esfera de atuação, com


vistas a exercer funções estratégicas, diferenciadas e contínuas no
ambiente institucional;
• Potencializar o acesso às informações de interesse institucional,
operando com seus diferentes setores e atendendo a todo tipo de
demanda;
• Gerir, no sentido de antecipar e presumir as necessidades da
organização, viabilizando o acesso a pistas para obter respostas.

São discursos recorrentes, mas nem sempre efetivos


11. FUNÇÕES PRÁTICAS DOS CM

• Constituir um acervo documental que testemunhe as funções


primordiais da entidade ou aquelas eleitas consensualmente;
• Criar uma política de alimentação do acervo pela transferência
regular de conjuntos documentais relevantes;
• Mapear a história e as atividades da instituição por meio de
pesquisa, a fim de contextualizar os documentos do acervo.
12. FUNÇÕES PRÁTICAS DOS CM: TRATAMENTO TÉCNICO DO ACERVO

• Preservar: limpar, acondicionar e acomodar adequadamente, guardar


em local com condições climáticas controladas, garantir segurança e
proteção quanto a ameaças internas e externas;

• Descrever: analisar, indicar as características físicas, a datação e o


contexto dos documentos – por que foram produzidos, com que
função, para cumprir qual atividade ou no âmbito de qual evento;
• Informatizar o acervo para permitir a pesquisa e a consulta online

• Dar acesso: divulgar documentos e informações interna e


externamente.
13. OUTRAS LINHAS DE ATUAÇÃO

• Pesquisar a trajetória da instituição e do setor de atuação;


• Buscar subsídios que estejam fora da entidade (trabalhos acadêmicos
e científicos, matérias jornalísticas, bibliografia);
• Produzir docs. que facilitem a compreensão de processos históricos
da organização, por meio inclusive de técnicas de história oral;
• Acompanhar a instituição e sua área de atuação no presente, fazer
retrospectivas para constituir um universo de informações
consistente em torno do acervo de documentos e/ou referências.
IV OS CM HOJE
14. UMA METÁFORA: idades dos centros de memória

INFÂNCIA
• Presença de massa documental histórica acumulada
origens: reunião sem critério, por pessoas e interesses diversos, mistura com
documentos pessoais de gestores, fragmentos de bibliotecas técnicas ou
recreativas, fotos sem contexto, clippings, equipamentos e troféus.
conteúdos: documentos relativos a funções de planejamento, direção e
execução de serviços, em vários níveis de autoridade e responsabilidade.

Os documentos de arquivo passam por processamento técnico: são


descritos, com ou sem digitalização e base de dados eletrônica.
15. UMA METÁFORA: idades dos centros de memória

JUVENTUDE

• Ampliação dos conteúdos com documentos de matrizes diferentes:


• livros, artigos científicos, teses, manuais, legislação e publicações técnicas.

• ‘Fabricação de documentos’:
• cronologias, listas, resumos, correlacionando dados dispersos para responder
a necessidade de mobilização rápida de informação;
• notícias e reportagens para publicações internas;
• depoimentos de história oral para recuperar histórias, processos, eventos.
16. UMA METÁFORA: idades dos centros de memória

MATURIDADE

• Construção de uma política do CM;


• Constituição de um acervo que cubra as principais funções da
entidade;
• Garantia da qualidade da informação;
• Atenção à produção documental do presente.
17.UM PANORAMA: dispersão de patrimônio público

• Uma empresa privada compra uma estatal ou uma estatal passa de


uma esfera governamental para outra e recebe o seu arquivo, não
recolhido por instituições públicas de custódia

• CTB/Telesp (sistema Telebrás) /Telefônica


• Banespa/Banco Santander
• Ferrovia Paulista S.A. (Fepasa) / Rede Ferroviária Federal S.A.

O que fazer?
18.UM PANORAMA: acervos sem dono

• Uma empresa fecha ou é reestruturada abrindo mão de algumas


atividades ou descontinua produtos de seu portfolio.

O CM guarda o acervo relativo às atividades desmobilizadas.

O que fazer?
19. UM PANORAMA: acervos perdidos

• A empresa compra marcas ‘sem passado’, pois seus arquivos se


dispersaram à medida que foram mudando de dono.

Perdeu-se a trajetória das marcas quanto ao início, fabricação dos


produtos, inovação, produção, comunicação, presença na sociedade.

O que fazer?
20. UM PANORAMA: acervos desmobilizados

• A entidade é alvo de investigação por problemas dos proprietários ou


por envolvimento em atividades ilícitas: a memória vai para o limbo.
• A entidade passa por crise financeira e a memória deixa de ser
investimento e se transforma em custo.
• Muda a direção da entidade e a memória é considerada supérflua.

O que fazer?
Diversidade: a casa
museu de WDL (1)
Diversidade: a casa
museu de WDL (1)
Diversidade: CDM
abriga museu
desmobilizado (2)
obrigada
silvanagoulart17@gmail.com

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