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AGRESSÃO NO ORIENTE MÉDIO: O CASO DE JERUSALÉM ORIENTAL

Samuel Felipe Nascimento Horn*

RESUMO: Jerusalém tem sua titularidade demandada tanto por palestinos como por
israelenses, estando sob controle dos últimos, em sua totalidade, desde 1967. Partindo
das normas convencionais e costumeiras vigentes à época das guerras de 1948 e 1967,
bem como contemporaneamente, esse trabalho analisa a quem pertence a soberania
sobre a cidade histórica. Em sequência, trata da ilicitude da conquista territorial. Por
fim, com o acréscimo jurisprudencial de cortes internacionais e da Definição de
Agressão pela Assembleia Geral das Nações Unidas, será conferido se a unificação de
Jerusalém, a construção de assentamentos e do Muro da Cisjordânia podem configurar a
prática de atos de agressão do Estado de Israel contra o Estado da Palestina.

PALAVRAS-CHAVE: Jerusalém Oriental. Atos de agressão. Estado de Israel. Estado


da Palestina.

ABSTRACT: Jerusalem has had its ownership demanded by both Palestinians and
Israelis, but has been under control by the latter, in its entirety, since 1967. From the
perspective of conventional and customary rules in force at the time of the wars of 1948
and 1967 until the present moment, this paper analyzes to whom belongs the
sovereignty of the historical city. Then, it deals with the unlawfulness of territorial
conquest. Lastly, with the addition of the case-law from international courts and of the
Definition of Aggression by the United Nations General Assembly, it will be conferred
if the unification of Jerusalem, the construction of settlements and of the West Bank
Wall may classify the practice as an act of aggression from the State of Israel against the
State of Palestine.

* Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF). Foi
membro do corpo editorial da Revista de Direito dos Monitores da UFF (RDM-UFF).

Revista Eletrônica de Direito Internacional, ISSN 1981-9439, vol. 23, 2018


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KEYWORDS: East Jerusalem. Acts of aggression. State of Israel. State of Palestine.

INTRODUÇÃO
A cidade de Jerusalém é de enorme importância para três das maiores religiões
monoteístas do planeta. Para os judeus, a cidade era o centro dos antigos reinos de Davi
e Salomão, também abrigando local mais sagrado para a religião, o antigo Templo
judaico, até este ser destruído pelos romanos no ano 70 da Era Comum. Para os cristãos,
Jerusalém foi a cidade onde Jesus foi crucificado e onde posteriormente ressuscitou. Já
para os seguidores da fé islâmica, foi o último local onde Maomé esteve antes de
ascender ao céu. Diante de tamanha importância para tantos povos, a cidade foi objeto
de desejo de inúmeras nações em guerra.
Nos tempos contemporâneos, são dois os principais atores a reivindicar
propriedade sobre a cidade: israelenses e palestinos. Em meio aos argumentos jurídicos
ou políticos levantados por cada estado para defender sua soberania e, por outro lado, a
ilegitimidade do outro, para a sociedade internacional há algumas certezas. Em matéria
de jus in bello, Israel cometeu uma série de ilegalidades contra os palestinos no que se
refere aos assentamentos, ao Muro da Cisjordânia e à anexação de Jerusalém Oriental.
Tal posicionamento já foi afirmado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, pelo
Conselho de Segurança, bem como pela Corte Internacional de Justiça.
No entanto, os mesmos atos não foram analisados à luz do jus ad bellum. Aqui,
no caso, não se está a tratar do início de uma guerra agressiva para buscar solucionar
uma controvérsia, dando início a um conflito armado. O foco, nesse caso, é a Definição
de Agressão e seus atos, conforme dispostos na Resolução 3314 da Assembleia Geral. O
objetivo desse trabalho será de conferir se os mesmos atos já condenados perante as
normas de direito internacional humanitário também configuram atos de agressão. Por
ocasião dos cem anos da Declaração de Balfour e cinquenta anos da vitória israelense na
Guerra dos Seis Dias, a temática ganha importância simbólica.
Para tanto, parte-se dos principais acontecimentos do último século em
Jerusalém para, então, conferir os detalhes envolvendo a soberania sobre a cidade. Em
seguida, empregando-se a técnica de pesquisa histórico-jurídica, se conferirá a evolução
da regulação jurídica da conquista territorial e da ilicitude da agressão para, ao fim, se
proceder especificamente com a investigação se os atos mencionados empreendidos
pelo Estado de Israel podem configurar atos de agressão contra o Estado da Palestina.

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1. JERUSALÉM AO LONGO DO SÉCULO XX


Com a entrada do Império Otomano ao lado das Potências Centrais na Primeira
Guerra Mundial, o destino de suas vastas possessões no Oriente Médio passou a ser
objeto de promessas e reivindicações ainda durante o conflito. Visando atrair o maior
apoio possível, os britânicos acabaram por assumir compromissos em grande escala
incompatíveis entre si. Para atrair o apoio de árabes insatisfeitos com o controle turco, já
a partir de 1915 em correspondências com o Xarife de Meca, Husayn, o Reino Unido
deu indicações de que asseguraria a independência de um reino árabe unificado. Ao
mesmo tempo, todavia, ainda havia prometido a criação de um Lar Nacional judeu na
Palestina, por meio da Declaração de Balfour em 1917 e, no secreto Acordo Sykes-
Picot, acertou a divisão do Oriente Médio em zonas de influência francesa e britânica
(HOURANI, 2006, p. 416-418). Já após esses compromissos, em dezembro de 1917,
seguindo uma série de derrotas otomanas no Levante, os britânicos encerraram os 401
anos de controle turco sobre a cidade (ARMSTRONG, 2011, p. 448).
No contexto da tentativa da reconstrução da paz para os anos seguintes ao
conflito, as potências vencedoras se reuniram na Conferência de Paz de Paris. Como
novo sistema de regência da ordem mundial (NEFF, 2003, p. 50), criou-se a Liga das
Nações e, simultaneamente, o sistema de mandatos territoriais, de modo a evitar a
simples anexação dos antigos territórios dos países derrotados. A convenção assinada
por ocasião da Conferência tratando das determinações impostas ao Império Otomano
foi o Tratado de Sèvres, em cujo artigo 95 havia a previsão de que a Palestina também
seria confiada como mandato a uma potência a ser escolhida e a qual teria de cumprir os
termos da Declaração de Balfour1. Em razão da Guerra de Independência Turca, no
entanto, o tratado nunca foi ratificado (CATTAN, 1973, p. 20), e outro precisou ser
negociado. No Tratado de Lausanne, assinado em 1923, não houve mais previsão
específica à Palestina. Em seu artigo 16, foi previsto que a Turquia renunciaria a todos
os territórios localizados além das fronteiras ali estabelecidas2.
Desde o ano anterior da assinatura do Tratado de Lausanne, o Mandato para a
Palestina havia sido aprovado pelo Conselho da Liga das Nações, e seu controle foi
confiado ao Reino Unido (Ibid., p. 28). O período mandatário foi marcado por

1 O texto do Tratado de Sèvres pode ser acessado, em inglês, em:


<http://treaties.fco.gov.uk/docs/pdf/1920/ts0011.pdf>. Acesso em 7 de nov. 2017.
2 O texto pode ser conferido no site oficial do Ministério das Relações Exteriores da Turquia,
disponível em: <http://www.mfa.gov.tr/lausanne-peace-treaty.en.mfa>. Acesso em 7 nov. 2017.

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insatisfação tanto do Yishuv3 – que via no país europeu um entrave à maciça imigração
judaica para a região – quanto da população árabe palestina, que sentia sua própria
comunidade ameaçada pelo fluxo considerável de estrangeiros nas terras que habitaram
por séculos (HOURANI, op. cit., p. 435-436). Nos momentos ápices de tensão,
desencadeou-se a violência aberta, como demonstrado pela Revolta Árabe de 1936-
1939 e a Guerra Civil de 1947-1948, a qual culminou na independência de Israel e na
Nakba4 para os palestinos.
Nas tentativas de solução para o conflito, Jerusalém recebeu especial atenção.
Na segunda metade dos anos 30 do século passado, a britânica Comissão Peel sugeriu
que o território do Mandato deveria ser dividido entre um estado árabe palestino e outro
judeu, ao passo que Jerusalém permaneceria permanentemente sob administração
britânica, como um corpus separatum. Com o insucesso da iniciativa, o destino da
Palestina como um todo novamente foi debatido, dessa vez pela recém-criada
Assembleia Geral das Nações Unidas, que em 29 de novembro de 1947 aprovou a
Resolução 1815, novamente separando a região em dois estados – sendo dessa vez o
estado judeu consideravelmente maior do que aquele proposto pela Comissão Peel – e
designou Jerusalém novamente como corpus separatum, mas agora englobando também
a cidade de Belém e sua administração ficando a cargo da própria ONU
(ARMSTRONG, op. cit., p. 463-466).
A Guerra Civil que começou ainda em 1947, todavia, garantiu que a partilha
nos moldes aprovados jamais fosse implementada. Em realidade, os principais atores do
conflito entraram em acordo para desrespeitá-la. Antes ainda do início do conflito
interno, Golda Meir, representando os interesses da Yishuv, se encontrou com o então
Rei da Transjordânia, Abdullah, para acertarem a neutralidade do país árabe em troca da
anexação, por ele, de grande parte do território alocado ao estado palestino pela
resolução6 (SHLAIM, 2007, p. 83-85). Apesar de acabarem por se enfrentarem
ocasionalmente, os objetivos do acordo em larga escala foram cumpridos, e os

3 Nome em hebraico dado à comunidade formada pelos judeus que imigraram à região antes da criação
do Estado de Israel.
4 Significando “catástrofe” em árabe.
5 O texto da resolução, em inglês, pode ser consultado na íntegra em:
<https://undocs.org/A/RES/181(II)>. Acesso em 7 nov. 2017.
6 Abdullah detinha a ambição de tornar-se rei de uma “Grande Síria”, tendo sido esse, inclusive, fator
de maior peso para que países como Síria e Líbano, inequivocamente ameaçados por tal perspectiva,
de intervirem no conflito, e não em razão de um sentimento de solidariedade árabe. Cf. SHLAIM,
2007, p. 81-82.

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transjordanos não prestaram auxílio aos outros países árabes que combatiam Israel 7. Ao
fim, em abril de 1949, Israel e o renomeado Reino Hachemita da Jordânia assinaram o
Acordo de Armistício, ficando cada país com o controle sobre metade de Jerusalém. A
parte ocidental com israelenses e a parte oriental – incluindo a totalidade da Cidade
Velha – com jordanianos8.
Todavia, a Terra de Israel era vista como incompleta. Além da Cidade Velha de
Jerusalém, outros locais sagrados para o judaísmo – como Hebron – estavam fora do
controle israelense, e o sonho de uni-las permaneceu. Não por acaso, a Declaração de
Independência em 1948 não mencionava as fronteiras do novo país. Para muitos
israelenses, as linhas divisórias acertadas pelos Armistícios de 1949 de seu país
constituíam, em realidade, “zonas limítrofes flexíveis” (SAND, 2014, p. 290-291). Este
irredentismo alcançou seu ápice após a conclusão da Guerra dos Seis Dias em 1967.
Mesmo após o lançamento por Israel da Operação Moked e a destruição da
força aérea egípcia – que garantiu notável vantagem militar ao governo de Tel Aviv – a
Jordânia optou por intervir no conflito. Derrotado, o país árabe perdeu o controle sobre
todos os territórios situados a oeste do Rio Jordão (SHINDLER, 2013, p. 124-125).
Israel passou a ocupar as Colinas de Golã, a Península do Sinai9, bem como toda a
Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental. No dia 28 de junho de 1967, poucas semanas
após o fim da guerra, o Knesset10 determinou que a “lei, jurisdição e administração”
israelense se estendia a Jerusalém Oriental, proclamando a unificação da cidade
(ARMSTRONG, op. cit., p. 486). Esse status foi reforçado em 1980, com a aprovação
da Lei Básica de Jerusalém, proclamando a cidade “completa e unificada” como capital
do Estado de Israel11.
Uma nova geração de palestinos, formados em universidades dos países árabes
e empenhados em buscar a autodeterminação de seu povo, começou a surgir já nos anos
seguintes à Guerra de 1948, criando várias organizações a partir do fim da década de 50

7 No decorrer da guerra, o monarca tentou, inclusive, convencer seus pares árabes de que manter o
conflito contra Israel seria desastroso e que era preferível reconhecer a incorporação do restante da
Palestina árabe ao seu país. Sua proposta foi rechaçada. Cf. Ibid., p. 94-96.
8 O texto do Acordo de Armistício, em inglês, pode ser conferido em:
<http://mfa.gov.il/MFA/ForeignPolicy/MFADocuments/Yearbook1/Pages/Israel-
Jordan%20Armistice%20Agreement.aspx>. Acesso em 9 nov. 2017.
9 Por meio dos Acordos de Camp David de 1979, Israel devolveu gradualmente a península para o
Egito, e ambos os países estabeleceram relações diplomáticas. Cf. SHINDLER, 2013, p. 161.
10 Nome do parlamento israelense.
11 Israel não possui uma constituição, mas sim um conjunto de Leis Básicas disciplinando as matérias
de maior importância para o Estado. Acesso ao texto da Lei Básica, em inglês, é possível em:
<http://knesset.gov.il/laws/special/eng/BasicLawJerusalem.pdf>. Acesso em 9 nov. 2017.

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do século passado (KIMMERLING & MIGDAL, 2001, p. 238-239), a principal das


quais foi o Fatah12, fundado em 1959 por Yasser Arafat. O grupo, a partir de 1969,
tornou-se a facção dominante da Organização para a Libertação da Palestina, que havia
sido fundada alguns anos antes no Egito (Ibid., p. 245-248). Após anos de lutas contra
as forças israelenses e vitórias no campo diplomático, em 15 de novembro de 1988 foi
proclamado o Estado da Palestina, renunciando aos territórios localizados além da Faixa
de Gaza e Cisjordânia, incluindo nesta Jerusalém Oriental, que seria a capital do novo
país13. O estado palestino jamais foi reconhecido por Israel, e quanto a Jerusalém, o
discurso oficial é da inegociabilidade da cidade.

2. SOBERANIA SOBRE JERUSALÉM


Para um texto que se propõe a questionar a ocorrência de um ato de agressão a
um determinado território, é necessário conferir a quem pertence tal área. Afinal, se
determinado país movimenta tropas para uma região que lhe pertença, não há de se falar
de agressão. Da mesma forma, se o estado A invade o estado B, não está configurada
uma invasão ao estado C. Por essa razão, para averiguar se Israel cometeu ou comete
ato de agressão contra a Palestina pela incorporação de Jerusalém Oriental, é uma
necessidade inicial verificar quem detém a soberania sobre a referida cidade.
Algumas constatações são incontroversas. Até o fim da Primeira Guerra
Mundial, o território da Palestina como um todo pertencia ao Império Otomano. Por
meio do Tratado de Lausanne, como visto, o estado sucessor da antiga monarquia – a
República da Turquia – renunciou a qualquer pretensão territorial situada fora dos
limites definidos no acordo. Também é certo que a região passou a ser administrada pelo
Reino Unido na forma de um mandato. Isso significa que a soberania sobre Jerusalém e
a Palestina passou ao país europeu?
A Corte Internacional de Justiça foi levada a se manifestar sobre os princípios
que regia o sistema de mandatos por ocasião da opinião consultiva conferida no Caso
Status Internacional da África Sudoeste – atual Namíbia – que havia sido conferida
como mandato à África do Sul após a Primeira Guerra. Na ocasião, foi assentado que tal
relação obrigacional era regida pelos princípios da não-anexação e da autodeterminação

12 Acrônimo reverso para Harakat al-Tahrir al-Watani al-Filastini, significando, em árabe,


Movimento de Liberação Nacional Palestino. Fatah também significa “conquista” em árabe.
13 A Declaração de Independência palestina, em inglês, está disponível em:
<https://unispal.un.org/DPA/DPR/unispal.nsf/0/6EB54A389E2DA6C6852560DE0070E392>. Acesso
em 28 nov. 2017.

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dos povos. Da mesma feita, a Liga das Nações não poderia ser compreendida como um
“mandante” na concepção de direito interno. Como a Corte esclareceu, os beneficiários
do mandato eram seus habitantes14. Não há interpretação a ser depreendida que permita
afirmar ter-se passado a soberania sobre Jerusalém ao Reino Unido e tampouco à Liga.
Qual a resposta, então, para tal indagação? Como menciona Michael Dumper,
uma outra possibilidade seria a de ter surgido um “vácuo de soberania” sobre a região
(2011, p. 118). A Palestina teria se tornado uma espécie de res derelicta internacional.
Essa é, justamente, a posição oficial israelense. O país afirma que, visto que desde o
Tratado de Lausanne não há um soberano reconhecido sobre os territórios palestinos,
não podem eles ser considerados ocupados, mas sim “em disputa”15. No entanto, essa
posição é defendida em relação ao restante da Cisjordânia, mas não em relação a
Jerusalém Oriental, considerada pelo país como parte integrante de seu território, bem
como sua capital.
A tese de vácuo de soberania apresenta alguns problemas insuperáveis. Por
mais que contendo inúmeras peculiaridades de ordem não-jurídica, ao Mandato para a
Palestina se aplicava a mesma principiologia desse sistema de tutelagem aplicável aos
demais. O artigo 22 do Pacto da Liga das Nações foi o responsável por trazer os
objetivos do mandato, afirmando que:
Àquelas colônias e territórios que, em consequência da última guerra,
deixaram de estar sob a soberania dos Estados que anteriormente os
governaram, e que são habitados por povos ainda incapazes de sustentar-se
por si mesmos, nas estrênuas condições do mundo moderno, deverá ser
aplicado o princípio de que o bem-estar e o desenvolvimento de tais povos
formam um sagrado encargo de civilização, e que garantias para o
cumprimento deste encargo deverão fazer parte deste Covenant.

Mais especificamente em relação aos antigos territórios otomanos no Oriente


Médio, dispôs o mesmo artigo:
Certas comunidades anteriormente pertencentes ao Império Turco já
atingiram um grau de desenvolvimento em que sua existência como nações
independentes pode ser provisoriamente reconhecida sujeita à prestação de
conselho e assistência administrativos por uma Mandatária, até a ocasião em
que sejam capazes de sustentar-se sozinhas. A vontade dessas comunidades
deve ser a principal consideração na escolha da Mandatária 16.

14 International status of South-West Africa, Advisory Opinion: I.C.J. Reports 1950, p. 131-132.
15 Tal posicionamento pode ser visto em:
<http://mfa.gov.il/MFA/ForeignPolicy/Issues/Pages/FAQ_Peace_process_with_Palestinians_Dec_20
09.aspx>. Acesso em 10 nov. 2017.
16 Texto em português retirado do apêndice de CATTAN, 1973, p. 181. O texto em inglês pode ser
conferido em: <http://avalon.law.yale.edu/20th_century/leagcov.asp>. Acesso em 7 nov. 2017.

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Não há como coadunar o objetivo do desenvolvimento dos povos com vácuo


de soberania. No que se refere especificamente aos mandatos das “comunidades
anteriormente pertencentes ao Império Turco” a linguagem do artigo é ainda mais forte,
visto que afirma o “reconhecimento provisório” das mesmas como “nações
independentes”. Tal provisoriedade, explica Cattan (op. cit., p. 66), não significa uma
condição a este reconhecimento, somente fazendo referência à transitoriedade do
período sob mandato. A soberania sobre a Palestina foi passada, então, aos seus
habitantes. Reforça esse entendimento o fato da Turquia ter renunciado a soberania
sobre a região em nome das “partes interessadas”, levando Verdross a dizer que a
expressão se refere aos “estados recentemente criados nos territórios asiáticos
destacados do Império Otomano” (1929 apud CATTAN, op. cit., p. 67).
Diante da força da linguagem e das consequências do artigo 22 do Pacto da
Liga, uma variação da tese de vácuo de soberania afirma que esta situação teria surgido
não após o fim da Primeira Guerra, mas do fim abrupto do mandato britânico e do
desfecho da Guerra de 1948 (DUMPER, op. cit., p. 118). Contudo, a soberania palestina
não “se perdeu” durante o conflito. Seu pleno exercício foi negado pelos principais
atores do conflito, nominalmente Israel e Jordânia. Qualquer alteração sobre a mesma
dependeria da ação de seus titulares. Reforçando a noção de titularidade popular da
soberania, ilustram Accioly, Silva e Casella (2012, p. 814):
O desenvolvimento do espírito democrático no mundo criou certo movimento
de opinião, especialmente a partir de meados do século XIX, em favor da
ideia de que nenhuma cessão de território deve ser válida sem que a
respectiva população tenha, mediante plebiscito, dado sua aquiescência.

No entanto, se a soberania sobre a Palestina como um todo passou aos seus


habitantes, como explicar o não-surgimento de um estado palestino por décadas e a
fundação de outro sobre grande parte de seu território e gozando de amplo
reconhecimento internacional? Cattan, por exemplo, responde a essa indagação partindo
de uma série de ilegalidades perpetradas durante o período mandatário e após a criação
da Organização das Nações Unidas para afirmar que, baseado no princípio ex injuria jus
non oritur, tudo o que foi aprovado sobre a Palestina foi inválido, incluindo a
Declaração de Balfour, o mandato e a própria resolução de partilha (op. cit., p. 63).
Entretanto, como mencionado acima, a visão majoritária da sociedade internacional é de
não ser ilegítimo ou ilegal o Estado de Israel, não devendo a posição do autor palestino
– do ponto de vista jurídico – prevalecer.

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Em obra sobre criação de estados, James Crawford reconhece que o sistema de


mandato como previsto no Pacto da Liga não foi devidamente observado. Ainda assim,
o autor ressalta que a Liga das Nações, durante sua existência, afirmou a validade do
mandato e, quando da elaboração da Carta das Nações Unidas, seu artigo 80 afirmou a
validade de todos os mandatos preexistentes (2007, p. 429). Mais relevante ainda foi a
oportunidade que a Corte Permanente de Justiça Internacional teve, no Caso
Mavrommatis, de analisar o Mandato para a Palestina. A Corte baseou sua jurisdição,
principalmente, no artigo 26 do documento17. Sendo o mandato inválido, isso não teria
sido possível.
Quando constatou não ser mais capaz de encontrar uma solução para a
violência prevalecente na região, o governo britânico unilateralmente anunciou que
terminaria o mandato e entregou a questão às Nações Unidas, como mencionado acima.
A Resolução 181 da Assembleia Geral estipulou uma solução que dividiria a Palestina
em dois estados e um corpus separatum. É sabido que tal modelo nunca se materializou,
mas uma dúvida que se põe é o real alcance legal da resolução. Tratou-se de mera
recomendação ou efetiva disposição do território do mandato? Se essa última
possibilidade for verdadeira, Jerusalém como um todo, até os dias atuais, é um corpus
separatum sob ocupação, inicialmente israelense e jordaniana e, desde 1967, somente
pelo primeiro país, tendo em vista que foi designada como um território autônomo dos
demais. Entretanto, a compreensão da Resolução 181 como dispositiva em sua força
jurídica não aparenta ser uma interpretação dominante. Fosse assim, todo o território
tomado por Israel em excesso à partilha18 seria também compreendido como ocupado, o
que não ocorre19. É um exemplo a linguagem da Resolução 242 do Conselho de
Segurança, que demanda que o estado judeu se retire dos territórios ocupados na Guerra
de 1967, mas não menciona os demais tomados em 194820.
Não sendo dispositiva, deve a resolução da partilha ser compreendida, de fato,
como de caráter recomendatório. Não por acaso, a Resolução 186 (S-2) da Assembleia
Geral, adotada ainda em maio de 1948, nomeava um mediador – que acabou por ser o

17 The Mavrommatis Palestine Concessions (Greece v. United Kingdom), Objection to the jurisdiction
of the Court made by His Britannic Majesty’s Government, Judgement of 30 August 1924, p. 12.
18 Como as cidades de Acre, Lida e Beersheva, originalmente alocadas ao estado árabe.
19 Mais comum é a negação da legitimidade israelense como um todo. Henry Cattan, por exemplo, se
dedica a explicar por que – segundo o autor – não há soberania israelense seja sobre os territórios
tomados em excesso ou mesmo aqueles alocados ao país pela Resolução 181. Cf. op. cit., p. 79 e ss.
20 O texto da Resolução 242 está disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=S/RES/242(1967)>. Acesso em 13 nov.
2017.

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Conde Bernadotte – para, em cooperação com as autoridades relevantes, “promover um


ajuste pacífico da situação futura da Palestina21”, ou seja, superando os termos da
Resolução 181.
Por isso, a melhor compreensão jurídica sobre o nascimento de Israel parece
ser aquela proposta por James Crawford. O país nasceu de uma unidade territorial
representada pelo Mandato para a Palestina através de uma secessão, sendo seu
território inicial aquele que emergiu da Guerra de 1948, e não o da partilha (Ibid., p.
432-434). Consequentemente, Jerusalém não deve ser vista como um corpus separatum
sob ocupação. É digno de nota de que o Acordo de Armistício de 1949 entre Israel e
Jordânia previu, em seu artigo VI, de que as linhas divisórias ali estabelecidas –
posteriormente conhecidas como a Linha Verde – não seriam definitivas, uma das
razões pela qual o governo de Tel Aviv ocasionalmente afirma que não há como definir
a Cisjordânia como território ocupado. Entretanto, nesse sentido merece menção o
entendimento exarado no voto concorrente prolatado pelo Juiz Al-Khasawneh no Caso
Construção de um Muro, que mencionou que se Israel diminuir a importância da Linha
Verde, colocará em questão a legalidade do próprio título ao território incorporado em
excesso à resolução de partilha de 194722.
Assim, Jerusalém Ocidental, como parte do estado que se separou do restante
do território palestino, deve ser reconhecida como território israelense. É curioso notar,
contudo, que há reticência, por parte dos países que reconhecem Israel, de
expressamente afirmar que tal porção da cidade pertence ao país23. De modo ainda mais
claro, nenhum país reconhece Jerusalém como a capital do estado judeu. Em relação a
Jerusalém Oriental, assim como o restante da Cisjordânia, foi mantida sob a soberania
preexistente. A ocupação jordaniana entre 1948 e 1967, bem como a ocupação
israelense desde 1967 em nada alterou isso. O nascimento do estado palestino deu-se
somente em 1988, mas é o sujeito de direito internacional apto a exercer os poderes
advindos da soberania do povo que lá reside. É fato que a natureza da Palestina
enquanto estado ainda não é uníssona na sociedade internacional. No entanto, após a

21 A Resolução 186 (S-2) está disponível em:


<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/186(S-2)>. Acesso em 13 nov. 2017.
22 Legal Consequences of the Construction of a Wall in the Occupied Palestinian Territory, Separate
Opinion of Judge Al-Khasawneh: I.C.J. Reports 2004, p. 238, para. 11.
23 Serve como exemplo o consulado mantido pelos Estados Unidos, tradicional aliado israelense, em
Jerusalém. O corpo diplomático lá localizado não atua perante a chancelaria do estado judeu, mas
está creditada para agir pelos interesses americanos em relação a “Jerusalém”, não a “Israel”. O site
oficial do consulado está disponível em: <https://jru.usconsulate.gov/>. Acesso em 13 nov. 2017.

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aprovação, em 2012, da Resolução 67/19 da Assembleia Geral24, reconhecendo a


Palestina como “estado observador não-membro”, não há mais muito espaço para
questionamentos de ordem jurídica sobre a questão25.
Dessa feita, tendo em vista de que a soberania sobre a Palestina, após o Pacto
da Liga e o Tratado de Lausanne, passou aos seus habitantes, e considerando a secessão
do Estado de Israel, Jerusalém Oriental deve ser vista como parte integrante do Estado
da Palestina.

3. AGRESSÃO NO DIREITO INTERNACIONAL


a. Desenvolvimento histórico da ilicitude da conquista
O uso da força e aquisição territorial por conquista são temas cuja regulação foi
bastante modificada ao longo da evolução do direito internacional. Mesmo no início do
século XX, Lassa Oppenheim condenava aqueles que defendiam a ilicitude do recurso à
força para a resolução de uma controvérsia26, inclusive para a aquisição territorial27
(1912, p. 59-72). Ao longo das décadas seguintes, no entanto, tal concepção começou a
mudar. Ainda na Primeira Conferência Pan-americana de 1890 já havia sido condenada
a conquista territorial, entendimento que posteriormente foi reforçado ao ser previsto na
Carta da Organização dos Estados Americanos28. Fora do continente americano, podem
ser citados ainda a garantia fornecida pelo Pacto da Liga das Nações contra ameaças de
agressão externa à integridade territorial dos países-membros29, bem como o Pacto
Briand-Kellog de 192830, o qual serviu de fundamento para as sentenças do Tribunal de

24 A resolução está disponível em:


<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/67/19>. Acesso em 13 nov. 2017.
25 Para uma leitura mais detalhada da classificação da Palestina como estado. Cf. SLOBODA, 2015.
26 Oppenheim afirma que a noção de ser a guerra contrária ao direito internacional é um “absurdo” e
afirma que tais ideias angariavam apoio pela influência de “pacifistas impacientes”. Cf. 1912, p. 59.
27 Oppenheim chega a dizer que somente “indivíduos sem discernimento” considerariam uma guerra
lançada para alcançar unidade nacional como injusta. Cf. Ibid., p. 72.
28 Também chamada de Carta de Bogotá, traz a seguinte previsão em seu artigo 21: “O território de
um Estado é inviolável; não pode ser objeto de ocupação militar, nem de outras medidas de força
tomadas por outro Estado, direta ou indiretamente, qualquer que seja o motivo, embora de maneira
temporária. Não se reconhecerão as aquisições territoriais ou as vantagens especiais obtidas pela
força ou por qualquer outro meio de coação.” Disponível em:
<http://www.oas.org/dil/port/tratados_A-
41_Carta_da_Organiza%C3%A7%C3%A3o_dos_Estados_Americanos.htm#ch5>. Acesso em 14
nov. 2017.
29 Previsão trazida no artigo 10 do Pacto, o qual enuncia: “Os Membros da Sociedade comprometem-
se a respeitar e manter contra toda agressão externa a integridade territorial e a independência política
presente de todos os Membros da Sociedade. Em caso de agressão, ameaça ou perigo de agressão, o
Conselho resolverá os meios de assegurar a execução desta obrigação.”
30 Disponível, em inglês, em: <http://avalon.law.yale.edu/20th_century/kbpact.asp>. Acesso em 14 nov.
2017.

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289

Nuremberg no pós-Segunda Guerra que condenaram líderes nazistas por atos de


agressão praticados (WRIGHT, 1970, p. 74).
Após a Segunda Guerra Mundial e a criação da Organização das Nações
Unidas, nova investida pela ampliação desta ilegalidade foi empreendida. No preâmbulo
da Carta das Nações Unidas já veio expressa a intenção de “preservar as gerações
vindouras do flagelo da guerra”. E em seu artigo 1 – que traz os propósitos da
organização – no parágrafo 1, é disposto o seguinte:
Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são:
1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar,
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos
de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e
de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um
ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz31;

Por fim, se destaca ainda, no âmbito da ilegalidade do recurso à força para a


resolução de controvérsias como um todo, o conteúdo da Carta em seu artigo 2,
parágrafo 4:
Artigo 2. A Organização e seus Membros, para a realização dos propósitos
mencionados no Artigo 1, agirão de acordo com os seguintes Princípios:
[…]
4. Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a
ameaça ou o uso da força contra a integridade territorial ou a dependência
política de qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os
Propósitos das Nações Unidas32.

A Resolução 2625 da Assembleia Geral das Nações Unidas, dispondo mais


detalhadamente sobre a ilicitude do emprego da força – ou sua ameaça – como
mecanismo de resolução de litígios trouxe especificamente que o “território de um
Estado não será objeto de aquisição por outro Estado em resultado de ameaça ou uso da
força” e que “[n]enhuma aquisição territorial resultando da ameaça ou uso da força será
reconhecida como legal”33. Por fim, sintetiza Valerio Mazzuoli quanto à ilegalidade
contemporânea da conquista (2016, p. 552):

31 Tradução constante do Decreto 19.841 de 22 de outubro de 1945, o qual promulgou internamente a


Carta das Nações Unidas no Brasil, e está disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm>. Acesso em 14 nov. 2017.
32 Tradução constante do Decreto 19.841 de 22 de outubro de 1945, o qual promulgou internamente a
Carta das Nações Unidas no Brasil, e está disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm>.
33 A Resolução 2625 de 1970 aprovou a Declaração Sobre os Princípios de Direito Internacional
Envolvendo Relações Amigáveis e Cooperação Entre Estados em Acordo com a Carta das Nações
Unidas, e está disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/2625(XXV)>. Acesso em 14. nov.
2017.

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Em suma, hoje em dia a conquista não é mais um modo válido de aquisição


de território, não podendo gerar nenhum efeito jurídico34, vez que se encontra
repudiada pelo moderno direito das gentes, por perturbar a paz, a segurança e
a estabilidade da sociedade internacional.

Este princípio foi, inclusive, reforçado pelo Conselho de Segurança das Nações
Unidas especificamente quando da anexação de Jerusalém Oriental por Israel por
inúmeras vezes após 1967. A supracitada Resolução 242 é enfática em logo em sua
segunda cláusula preambular ao afirmar estar “[e]nfatizando a inadmissibilidade da
aquisição de território pela guerra, e a necessidade de trabalhar por uma paz justa e
duradoura em que todo Estado da região possa viver em paz e segurança”.

b. Definição de agressão e seus atos


Apesar do desenvolvimento mencionado quanto à ilicitude do direito de
conquista, ainda faltava uma conceituação mais precisa do que constituiria agressão. Tal
tarefa coube à Resolução 3314 da Assembleia Geral que trouxe a Definição de
Agressão, cuja conceituação consta de seu artigo 1, o qual enuncia:
Agressão é o uso de força armada por um estado contra a soberania,
integridade territorial ou independência política de outro estado, ou de
qualquer maneira inconsistente com a Carta das Nações Unidas, como
definido nesta Definição.
Nota explicativa: Nesta Definição o termo “estado”:
(a) É usado sem prejuízo de questões de reconhecimento ou se um estado é
membro das Nações Unidas;
(b) Inclui o conceito de um “grupo de estados” quando apropriado.

Percebe-se que a Definição fez eco ao conteúdo do artigo 2, parágrafo 4, da


Carta. Quando da análise do Caso Nicarágua, a Corte Internacional de Justiça
mencionou ainda a relevância de analisar se as “circunstâncias e motivações do
ataque35” revelam a existência de um animus aggressionis (GRAY, 2008, p. 178-179).
Os atos de agressão em si são definidos no artigo 3 da Definição, o qual traz:
Quaisquer dos seguintes atos, independente de uma declaração de guerra,
deverão, sujeito ao e em concordância com as previsões do artigo 2,
qualificar como um ato de agressão:
(a) A invasão ou ataque por forças armadas de um estado do território de
outro estado, ou quaisquer ocupações militares, mesmo temporárias,
resultantes dessa invasão ou ataque, ou qualquer anexação pelo uso da força
de um território de outro estado ou parte do mesmo;

34 Como exemplos de Estados que foram totalmente anexados e tiveram a restauração de sua
soberania plena posteriormente, Henry Cattan cita a Etiópia e a Albânia, anexadas pela Itália em 1936
e 1939, respectivamente. Cf. op. cit., p. 61.
35 Military and Paramilitary Activities in and against Nicaragua (Nicaragua v. United States of
America), Merits, Judgment: I.C.J. Reports 1986, p. 121.

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(b) Bombardeio pelas forças armadas de um estado contra o território de


outro estado ou o uso de quaisquer armas por um estado contra o território de
outro estado;
(c) O bloqueio dos portos ou costas de um estado pelas forças armadas de
outro estado;
(d) Um ataque pelas forças armadas de um estado às forças terrestres,
marítimas ou aéreas, ou às frotas marinha ou aérea de outro estado;
(e) O uso das forças armadas de um estado que estejam dentro do território de
outro estado com o acordo do estado recebedor, em contravenção às
condições acertadas para o acordo ou qualquer extensão da sua presença
neste território após o fim do acordo;
(f) A ação de um estado em permitir que seu território, o qual tenha colocado
à disposição de outro estado, seja usado por este outro estado para perpetrar
um ato de agressão contra um terceiro estado;
(g) O envio por ou em nome de um estado de bandos, grupos, irregulares ou
mercenários armados, que conduzam atos de forças armadas contra outro
estado de tal gravidade que se assemelham aos atos listados acima, ou seu
substancial envolvimento nos mesmos36.

A menção, logo no início do artigo 3, ao artigo 2, faz referência ao poder


conferido ao Conselho de Segurança de, “à luz de outras circunstâncias relevantes”, não
determinar que o ato praticado configure agressão. Da mesma forma, o artigo 6 afirma
que a Definição não alarga e tampouco restringe os casos nos quais o uso da força é
lícito, como, por exemplo, na legítima defesa. Dinstein destaca a previsão trazida pelo
artigo 5, pela qual uma “guerra de agressão” é um crime, enquanto “agressão” gera
responsabilidade internacional. Não é necessário o lançamento de uma guerra agressiva
para o estado incorrer em responsabilidade, bastando a prática de um ato de agressão
(2011, p. 135).

c. Ato de agressão como um conceito jurídico


Uma questão que deve ser colocada antes da checagem propriamente dita se há
o cometimento ou não de ato de agressão por Israel contra o estado palestino é se, diante
das previsões trazidas pela Carta das Nações Unidas acerca das responsabilidades do
Conselho de Segurança, a definição do cometimento de um ato de agressão estaria
inserida exclusivamente no campo político, e não no jurídico.
A Carta é expressa, em seu artigo 39, ao dispor que “[o] Conselho de
Segurança determinará a existência de qualquer ameaça à paz, ruptura de paz ou ato de
agressão, e fará recomendações ou decidirá que medidas deverão ser tomadas […]”.
Conforme afirma Aziz Saliba, “a Carta concedeu ao Conselho de Segurança
discricionariedade na decisão de quando […] e como agir” (2009, p. 26). Diante da

36 Este trecho e o anterior foram traduzidos da versão original em inglês da resolução, disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/3314(XXIX)>. Acesso em 14 nov.
2017.

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292

especificidade do poder de veto dos cinco membros permanentes do Conselho, a


quantidade de vezes que o órgão reconheceu a ocorrência de uma destas situações foi
reduzida. A vagueza da expressão “ameaça à paz” permitiu que ela fosse reconhecida
em um número maior de vezes – até mesmo por ocasião da Guerra de 194837 – e
principalmente após o fim da Guerra Fria (SHAW, 2008, p. 1237-1241).
O artigo 24 da Carta das Nações Unidas dispõe que “seus Membros conferem
ao Conselho de Segurança a principal responsabilidade na manutenção da paz e da
segurança internacionais”. Diante desta responsabilidade principal, quando o Conselho
nada afirma, significa que não houve um ato de agressão? Esta foi uma das teses
levantadas pelos Estados Unidos da América por ocasião do julgamento do Caso
Nicarágua. Diante da supracitada previsão da Carta, não poderia – seguindo o
entendimento americano – tal análise ser efetuada pela Corte diante do silêncio do
Conselho38. Em obra sobre o órgão, Aziz Saliba introduz o questionamento se o
Conselho seria legibus solutus, ou seja, se o mesmo teria uma margem de atuação
ilimitada, ao que o autor conclui que não: o Conselho está obrigado a atuar conforme o
direito internacional (op. cit., p. 95-132). Um exemplo citado pelo autor é o famoso caso
Barcelona Traction, no qual a Corte afirmou o seguinte:
[U]ma distinção essencial deveria ser feita entre as obrigações de um estado
em relação à comunidade como um todo e aquelas exigíveis de um outro
estado […]. Pela própria natureza, as primeiras são de interesse de todos os
estados. Tendo em vista a importância dos direitos envolvidos, todos os
estados podem ser considerados possuidores de interesse jurídico na sua
proteção; elas são obrigações erga omnes. Tais obrigações derivam, por
exemplo, no direito internacional contemporâneo, da ilegalização dos atos de
agressão e de genocídio, bem como dos princípios e regras concernentes aos
direitos fundamentais da pessoa humana, inclusive a proteção contra
escravidão e discriminação racial39.

Diante do entendimento da Corte, a ilegalidade dos atos de agressão é uma


norma de jus cogens, e a obrigação de observá-la é erga omnes (Ibid., p. 109-110).
Nesse sentido, em seu voto separado no Caso Atividades Armadas no Território do
Congo, o Juiz Elaraby, com muito acerto, afirmou que “[m]esmo que o uso do termo [de
agressão] no discurso político e popular é constantemente bastante controverso, ainda

37 O artigo 1 da Resolução 54 do Conselho de Segurança, aprovada em julho de 1948, determina que


“a situação na Palestina constitui uma ameaça à paz no sentido do artigo 39 da Carta das Nações
Unidas”. Seu texto, em inglês, está disponível em: <http://undocs.org/S/RES/54(1948)>. Acesso em
16 nov. 2017.
38 Military and Paramilitary Activities in and against Nicaragua (Nicaragua v. United States of
America), Jurisdiction and Admissibility, Judgment, I.C.J. Reports 1984, p. 431-432.
39 Tradução retirada do livro de SALIBA, 2009, p. 110. Barcelona Traction, Light and Power
Company, Limited, Judgment, I.C.J. Reports 1970, p. 32.

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assim se mantém que agressão é um conceito legal com conotações legais e


consequências legais, […]”40. A Corte também já assentou, no Caso Certas Despesas,
que a responsabilidade do Conselho de Segurança em manter a paz e a segurança
internacionais é “primária” e não “exclusiva”41.
Assim sendo, diante da violação, em tese, de uma norma de jus cogens que é a
prática de um ato de agressão, devem entidades não-governamentais e internacionalistas
se debruçarem sobre a narrativa fática e conferir se há a presença de atos ilícitos sendo
cometidos. É com esta análise com a qual este trabalho estará empenhado no próximo
tópico.

4. RESPONSABILIDADE DE ISRAEL POR ATOS DE AGRESSÃO


a. Estado da Palestina como vítima de ato de agressão em 1967?
Esse trabalho almeja averiguar se houve a prática de ato de agressão por Israel
contra o Estado da Palestina. É importante fazer essa ressalva nesse momento tendo em
vista que não é o foco analisar uma possível ilicitude das ações israelenses frente a
outros países. Nesse sentido, aqui não será debatido a licitude do recurso à força por
Israel ou pelos demais países árabes na Guerra dos Seis Dias. Nesse sentido, a
indagação desse subtópico é, antes de adentrar o mérito em si, se o Estado da Palestina
já poderia sofrer um ato de agressão em 1967.
Como visto, após o Pacto da Liga, a soberania sobre o território palestino
passou aos seus habitantes, e jamais pertenceu à Jordânia, de modo que a anexação de
Jerusalém Oriental como ato isolado não pode ser considerado um ato de agressão a
esse país. Isso significa a possibilidade do estado palestino figurar como vítima de um
ato de agressão? Um cuidado essencial é evitar uma análise anacrônica, considerando o
direito internacional atualmente existente para analisar a legalidade de atos passados.
Afinal, como classicamente afirmou Max Huber quando do Caso Ilha de Palmas: “um
fato jurídico deve ser avaliado à luz do direito contemporâneo ao mesmo, e não do
direito em força no tempo quando a disputa a respeito do mesmo surgir ou não for
resolvido42.”

40 Traduzido do inglês. Armed Activities on the Territory of the Congo (Democratic Republic of the
Congo v. Uganda), Separate Opinion of Judge Elaraby: I.C.J. Reports 2005, p. 330.
41 Certain expenses of the United Nations (Article 17, paragraph 2, of the Charter), Advisory Opinion
of 20 July 1962: I.C.J. Reports 1962, p. 163.
42 No original, em inglês: “a juridical fact must be appreciated in the light of the law contemporary with
it, and not of the law in force at the time when a dispute in regard to it arises or falls to be settled.”
The Island of Palmas Case (or Miangas) (United States of America v. The Netherlands). Award of the
Tribunal. Arbitrator M. Huber. 4 abr. 1928.

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É certo que, apesar de a soberania sobre Jerusalém ter sido passada ao povo
palestino desde o fim da Primeira Guerra, o estado palestino somente nasceu em 1988.
A Organização para a Libertação da Palestina (doravante, OLP), nascera em 1964
(KIMMERLING & MIGDAL, op. cit., p. 248) e somente tornou-se uma entidade
observadora nas Nações Unidas na década seguinte43, quando intensificou-se o debate
sobre a existência de personalidade internacional de movimentos de libertação nacional
(SHAW, op. cit., p. 245-246).
Por uma leitura contemporânea da Definição de Agressão trazida pela
Resolução 3314 da Assembleia Geral, não aparenta ser possível a prática de um ato de
agressão contra um movimento de libertação nacional, tendo em vista de que tal forma
intraestatal de recurso à força não está inserido na lógica do jus ad bellum, mas somente
do jus in bello e as normas que regulam conflitos armados, se um for configurado.
Sendo assim hodiernamente, também o era em 1967, quando sequer havia uma
codificação mais autorizativa do que configuravam atos de agressão – a Definição
somente seria aprovada sete anos após o conflito – e que o estudo da responsabilidade
internacional do estado ainda se pautava na imprescindibilidade do dano causado por
um estado a outro, como desenvolvido por Anzilotti no início do século XX
(SLOBODA, 2017, p. 447-448).
Dessa feita, é certo que a “Palestina” como estado – que ainda não existia – não
poderia sofrer um ato de agressão em 1967. Isso não significa que a anexação de
Jerusalém Oriental não tenha sido ilícita, conforme foi definido pelo Conselho de
Segurança. Mesmo considerando a ressalva acima feita sobre a análise da
responsabilidade a partir do direito vigente àquele tempo, a conquista como meio legal
de aquisição territorial já havia sido banida havia décadas, como visto anteriormente.
No entanto, a inexistência, à época, da Palestina como estado impede que o país, quando
da unificação da cidade, tivesse sofrido um ato de agressão.

b. Estado da Palestina como vítima de ato de agressão por atos pretéritos?


O porquê da ilicitude da anexação de Jerusalém Oriental é clara e já foi
explicada. Todavia, como tratado no tópico anterior, o estado soberano sobre o território
ainda não existia e não podia sofrer um ato de agressão. A Declaração de Independência

43 Isso se deu por meio da Resolução 3237 da Assembleia Geral, cujo texto está disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/3237(XXIX)>. Acesso em 17 nov.
2017.

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Palestina foi proclamada baseada nas previsões do Pacto da Liga das Nações e no
Tratado de Lausanne, e ainda anunciando Jerusalém Oriental como a capital do país.
Pouco após, a Assembleia Geral aprovou a Resolução 43/177, afirmando a “necessidade
de permitir que o povo palestino exerça sua soberania sobre o território ocupado desde
1967” e determinou que a designação oficial da Organização de Libertação da Palestina
nas Nações Unidas passaria a ser “Palestina44”. A situação fática de Jerusalém, todavia,
era a mesma desde 1967 à luz do direito interno israelense, e ainda fora “aprimorada”
pela Lei Básica de 1980. Era possível falar que agora havia um estado agredido?
Inicialmente, é necessário avaliar a natureza do ato ilícito perpetrado por Israel.
A anexação tratou-se de um ato instantâneo de efeitos contínuos ou um ato contínuo? A
resposta para essa pergunta é de suma importância, visto que, caso a primeira alternativa
esteja correta, por mais ilícito que o ato seja, uma vez consumado não há como revertê-
lo. Ambas as formas de violação do direito internacional são trazidas no artigo 14 do
Projeto de Artigos sobre Responsabilidade Estatal da Comissão de Direito Internacional,
cujos dois primeiros parágrafos dispõem:
1. A violação de uma obrigação internacional por um ato de um estado não
tendo uma natureza contínua ocorre no momento quando o ato é praticado,
ainda que seus efeitos continuem.
2. A violação de uma obrigação internacional por um ato de um estado tendo
uma natureza contínua estende sobre o período durante o qual o ato continue
e permaneça em desconformidade com a obrigação internacional.

James Crawford, o último relator especial da Comissão de Direito


Internacional para o tema da responsabilidade estatal e responsável final pela
consolidação do texto do projeto45, classificou como a distinção principal entre ambas
as naturezas possíveis para o ato ilícito a possibilidade do ato contínuo ser cessado,
acrescentando que “[e]m essência um ato ilícito contínuo é um que já tenha sido
iniciado mas não foi concluído no tempo relevante46” e que “[u]m ato não possui
natureza contínua apenas por seus efeitos ou consequências estenderem-se pelo
tempo47” (2002, p. 136). Como exemplo de ato instantâneo, o atual juiz da Corte
Internacional de Justiça cita uma expropriação que fora executada seguindo o devido

44 Resolução disponível em:


<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/43/177>. Acesso em 27 nov. 2017.
45 É digno de nota, todavia, que grande parte do projeto de 2001 reflete as propostas feitas pelo segundo
relator especial, o ex-juiz da Corte Internacional de Justiça Roberto Ago. Cf. SLOBODA, 2017, p.
444 e ss.
46 No original: “In essence a continuing wrongful act is one which has been commenced but has not
been completed at the relevant time.”
47 No original: “An act does not have a continuing character merely because its effects or consequences
extend in time.”

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processo legal internamente, ao passo que atos contínuos são a ocupação ilegal do
território de outro estado, a detenção de reféns ou a manutenção de uma dominação
colonial (Ibid., loc. cit.).
Crawford afirma que a percepção de um ato como contínuo ou consumado
dependerá da obrigação primária e das circunstâncias do caso concreto (Ibid., loc. cit.).
Um caso analisado pela Corte Europeia de Direitos Humanos também tratou, em última
análise, dos efeitos de uma alteração de controle territorial com base no uso da força
estatal, no caso a invasão do Chipre pela Turquia e posterior fundação da República
Turca do Chipre do Norte. No Caso Loizidou v. Turquia, a requerente afirmava que o
país demandado estava a violar a Convenção Europeia de Direitos Humanos por não
permiti-la acesso às suas propriedades localizadas na parte da ilha sob controle do
hipotético novo país do Chipre do Norte. O estado turco, por sua vez, argumentou que
as terras em questão haviam sido expropriadas conforme as normas trazidas pela
constituição do Chipre do Norte. Em resposta, a Corte trouxe a reação do Conselho de
Segurança à proclamação de independência, a qual seria “legalmente inválida”,
demandando ainda o fim da ocupação do território cipriota. Assim, concluiu que diante
da ausência de validade jurídica da lei fundamental citada, a expropriação se
caracterizava como um ato ilícito contínuo48.
Como encaixar um ato de agressão nessa lógica? Como visto anteriormente, a
proibição de praticar um desses atos constitui uma norma de jus cogens e obrigação
erga omnes. A lógica do caso acima também se aplica ao caso palestino, e a linguagem
usada pelo Conselho de Segurança inclusive é muito similar àquela usada quando da
condenação da anexação de Jerusalém Oriental. O texto da Resolução 25249, além de
declarar a incorporação inválida, conclamou ao estado judeu que rescindisse todas as
medidas tomadas e que se abstivesse de novas ações que visassem alterar o status da
cidade. Como Jerusalém Oriental permanece anexada desde o fim da Guerra dos Seis
Dias, o ato ilícito se mantém continuamente desde então. Nesse sentido, afirma Yoram
Dinstein que “[a] execução de atos de agressão é um crime contínuo” (op. cit., p. 144).
Dessa feita, diante da conclusão de que um ato de agressão possui natureza
contínua, o fato do soberano legítimo sobre dado território nascer após um ato ilegal de
anexação do mesmo, além de não interferir em sua licitude, também não o desqualifica

48 Case of Loizidou v. Turkey. Application no. 15318/89. Judgment. Strasbourg. 18 december 1996.
49 Aprovada após a unificação administrativa de Jerusalém, em maio de 1968, e disponível em:
<https://undocs.org/S/RES/252(1968)>. Acesso em 28 nov. 2017.

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como vítima do referido ato. Assim sendo, não há óbice para que o Estado da Palestina
seja vítima de atos de agressão iniciados em 1967, visto que os mesmos se mantém até
os dias atuais.
Após essa análise prévia necessária, agora serão analisados os principais atos
executados por Israel que, de alguma forma, afetaram Jerusalém Oriental, e se os
mesmos configuram atos de agressão à luz da Resolução 3314 da Assembleia Geral. As
ações consideradas serão a unificação da porção oriental com a porção ocidental de
Jerusalém, bem como a construção de assentamentos e do Muro da Cisjordânia que, por
mais que se estendam ao restante do território palestino, seus reflexos são bastante
perceptíveis na Cidade Santa, uma área não somente densamente povoada como
habitada por muitos árabes palestinos, os mais afetados por tais ações.

c. Ações individualmente consideradas


i. Unificação de Jerusalém
Conforme foi exposto nas seções anteriores, logo após a Guerra dos Seis Dias,
o Knesset aprovou uma emenda a uma lei de 1948 determinando que a “lei, jurisdição e
administração” israelense se estenderia a Jerusalém Oriental. De modo mais explícito,
como citado anteriormente, em 1980 foi aprovada a Lei Básica que definiu Jerusalém
“completa e unida” como a capital de Israel. Como destaca Dinstein, o Knesset em
momento algum utilizou a expressão “anexação” ou outro termo correlato, seja por via
de lei ordinária ou por Lei Básica. Independentemente disso, diante das consequências
das medidas legislativas tomadas, o autor israelense destaca que “não pode haver uma
sombra de dúvida de que o Knesset considerou Jerusalém Oriental anexada” (2009, p.
18).
A impossibilidade de aquisição territorial pela força foi tratada acima nesse
trabalho. A questão agora é se, uma vez procedida tal anexação, há constituição de um
ato de agressão. Ou melhor, haveria alguma possibilidade de uma anexação não
constituir um destes atos? A alínea “a”, in fine, da Definição de Agressão fala em
“qualquer anexação”. Indo por partes, é certo que a aquisição territorial em uma guerra
de agressão, fosse esse o objetivo desejado ou não, configuraria um ato de agressão e
seria ilícito perante o direito internacional. Além disso, tampouco seria possível que tal
nulidade fosse “convalidada” por um tratado de paz que, após a agressão bem-sucedida,
confirmasse a transferência do domínio sobre o território. Isto ocorre pelo enunciado do
artigo 52 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, o qual dispõe que “[é]

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nulo um tratado cuja conclusão foi obtida pela ameaça ou o emprego da força em
violação dos princípios de Direito Internacional incorporados na Carta das Nações
Unidas50”. Aquisição territorial pelo agressor sempre será ilícita.
Pouco após o conflito e a imediata condenação pelo Conselho de Segurança da
anexação da cidade, o jurista americano – que posteriormente viria a ser juiz da Corte
Internacional de Justiça – Stephen M. Schwebel defendeu que Israel adquirira título
sobre a cidade em virtude das circunstâncias sui generis que a cercavam. Partindo da
tese de “vácuo de soberania”, trazida anteriormente, defendeu haver uma distinção entre
“conquista agressiva” e “conquista defensiva”, esta a qual seria lícita (1970, p. 344-
347). Schwebel defendeu o poder do agredido, unilateralmente, após fazer uso de sua
legítima defesa e “em nome da segurança”, expandir suas fronteiras com o território que
passasse a ocupar. Comentando a situação de Jerusalém Oriental, afirmou que o título
israelense sobre a cidade seria “superior” ao jordaniano, visto que a anexação da
Cisjordânia por esse país em 1948 foi ilícita e a ocupação israelense se deu após o lícito
exercício de legítima defesa (Ibid., loc. cit.).
Se o uso da força por Israel se configurou em lícito exercício da legítima
defesa, seja em 1967 ou mesmo em 1948, não é objeto desse trabalho. O jurista
americano tem razão ao dizer que a anexação da Cisjordânia – incluindo Jerusalém
Oriental – pela Jordânia foi ilícita. No entanto, tal ilicitude está pautada, principalmente,
na real titularidade sobre a soberania do território e, por esse viés, a anexação israelense
foi igualmente ilícita. Como explicado anteriormente, a Cisjordânia não se tornou res
derelicta após a Guerra de 1948. Além disso, quanto à tese de “conquista defensiva”
promovida por Schwebel, nessa hipótese o agredido faria uso de sua legítima defesa
para “lucrar” com a guerra, o que, além de ir contra o princípio da inadmissibilidade de
aquisição territorial pelo uso da força51 – não havendo distinção entre “agressiva” ou
“defensiva” – também significaria uma subversão dos parâmetros da necessidade e
proporcionalidade, intrínsecos à legítima defesa. Não por outra razão, assim entendeu o

50 Trecho em português retirado do texto da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados como
promulgada no Brasil por meio do Decreto nº 7.030 de 14 de dezembro de 2009, disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm>. Acesso em 28 nov.
2017.
51 O próprio Schwebel reconhece que sua tese não está de acordo com a doutrina dominante, ao
mencionar que a tese de impossibilidade absoluta da conquista “requer modificações”. Cf. 1970, p.
346.

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Conselho de Segurança, destacando-se as Resoluções 25252 e 47853, que decretaram


como inválidas as medidas que visem alterar o status de Jerusalém.
Estando a soberania sobre a Cisjordânia definida desde o fim da Primeira
Guerra Mundial, e diante da manutenção israelense de sua pretensa propriedade sobre a
cidade, não há dúvida de que a anexação de Jerusalém Oriental é um inequívoco ato de
agressão dirigido contra a integridade territorial de outro estado. A conclusão que se
impõe é que a anexação de Jerusalém Oriental, por parte de Israel, representa um ato de
agressão contra o Estado da Palestina.

ii. Assentamentos
Outros atos praticados na Cisjordânia, mesmo ilícitos, não têm sua
classificação como atos de agressão tão autoevidente como a anexação territorial. Esse é
o caso dos assentamentos construídos dentro do território palestino ocupado como um
todo. Sua contrariedade perante o direito internacional – particularmente face à Quarta
Convenção de Genebra de 1949 – foi enunciada tanto pelo Conselho de Segurança,
como pela Assembleia Geral e ainda pela Corte Internacional de Justiça. Todavia, assim
como a anexação de Jerusalém Oriental, para conferir se constituem atos de agressão à
luz da Definição trazida pela Resolução 3314 da Assembleia Geral, deve ser
demonstrado o animus aggressionis.
A política de construção de assentamentos teve início logo após a Guerra dos
Seis Dias (MORRIS, 2014, p. 116), e foi fruto de condenação permanente – mesmo por
parte de aliados israelenses, como os Estados Unidos – da sociedade internacional ao
longo dos anos. Alheios a isso, as autoridades israelenses permitiram – e patrocinaram –
a expansão dos assentamentos. Segundo dados da ONG B’Tselem, ao fim de 2014 eram
cerca de 205 mil colonos israelenses que viviam em Jerusalém Oriental54. A sua
principal contrariedade, como mencionado, é perante a Quarta Convenção de Genebra,
cujo artigo 49 enuncia que “[o] Poder Ocupante deverá não deportar ou transferir partes
de sua própria população civil para os territórios que ocupa55.” No Caso Construção de
um Muro, a Corte ainda esclareceu que tal proibição não se refere somente às

52 Trazida anteriormente na nota 49.


53 Aprovada após a promulgação da Lei Básica, em 1980, e disponível em:
<https://undocs.org/S/RES/478(1980)>. Acesso em 28 nov. 2017.
54 Informação disponível em: <http://www.btselem.org/settlements/statistics>. Acesso em 28 nov.
2017.
55 Disponível em: <https://ihl-
databases.icrc.org/applic/ihl/ihl.nsf/Treaty.xsp?documentId=AE2D398352C5B028C12563CD002D6
B5C&action=openDocument>. Acesso em 28 nov. 2017.

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transferências forçadas, mas também ao incentivo público para que tais transferências
ocorram56. Independente do partido que comandasse o governo israelense, a política de
assentamentos prosseguiu. Comentando as diferenças entre a esquerda e a direita
israelense, Shlomo Sand destaca que a primeira comandava um colonialismo hesitante e
a segunda um colonialismo acelerado (op. cit., p. 302-304).
De todo o exposto acima, é evidente a ilegalidade dos assentamentos, mas sua
construção pode ser considerada um ato de agressão? Inequivocamente, é certo que sua
manutenção atinge a soberania, integridade territorial e a própria independência política
da Palestina, estado o qual nada pode fazer contra a entrada de colonos em seu país. No
entanto, não é somente isso que deve ser demonstrado para a configuração de um ato de
agressão. O artigo 1 da Definição fala em “uso de força armada”. No caso dos
assentamentos, este evidentemente não é o caso. A sua construção ocorre por uma
ausência de real capacidade de resistência do estado palestino, e não pelo uso de força
armada. Além disso, dos atos listados no artigo 3 da Definição, nenhum se aproxima da
construção de assentamentos. É inegável a violação, por parte de Israel, de normas de
direito internacional humanitário, mas a construção de assentamentos não constitui um
ato de agressão à Palestina.

iii. Construção do muro


Já o muro – o qual Israel chama de “cerca”, terminologia rejeitada pela Corte57
– teve sua construção definida em 2002. Sob a pretensão de atuar em legítima defesa –
tese que também foi rechaçada pela Corte – Israel impôs sérias restrições à população
palestina que vive na área onde o muro foi construído. Todo palestino acima de 12 anos
de idade necessita de uma permissão oficial de residência, caso contrário será expulso
de sua casa. A liberdade de locomoção também foi amplamente atingida, separando
palestinos de seus terrenos de plantio, bem como dificultando o acesso às escolas e aos
hospitais. Mesmo com toda a documentação exigida, ocasionalmente Israel determina o
fechamento absoluto das poucas passagens existentes ao longo do muro. A área entre o
muro e a Linha Verde foi declarada, ainda em 2003, uma área militar fechada, em que

56 Legal Consequences of the Construction of a Wall in the Occupied Palestinian Territory, Advisory
Opinion: I.C.J. Reports 2004, p. 183.
57 Foi utilizado o termo “muro”, o mesmo adotado pela Assembleia Geral. Legal Consequences of the
Construction of a Wall in the Occupied Palestinian Territory, Advisory Opinion: I.C.J. Reports 2004,
p. 164.

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pese a manutenção e expansão da grande maioria dos assentamentos israelenses nessa


região58.
Não por acaso, a Corte também deixou clara a ilegalidade do muro, conforme
também fizeram outros órgãos das Nações Unidas. Há violação à Terceira Convenção
da Haia de 1907, cujos artigos 43, 46 e 52 demandam a restauração e garantia, no que
for possível, da vida e da ordem pública, além do respeito – salvo em casos
excepcionais de necessidade do exército ocupante – à propriedade privada da população
atingida pela ocupação59. Além disso, a Quarta Convenção de Genebra novamente foi
violada, tendo a Corte identificado inúmeros dispositivos desrespeitados, dentre os
quais os artigos 52 e 5360, que preveem, respectivamente, a vedação de medidas que
visem criar desemprego ou restringir oportunidades de trabalho e, novamente, de
destruir propriedade privada. A Corte identificou ainda o desrespeito às normas do
direito internacional dos direitos humanos, como o direito de liberdade de locomoção –
garantido pelo artigo 12, §1º, do Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos – e
o direito ao trabalho, garantido pelos artigos 6 e 7 do Pacto Internacional Sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Em suma, a Corte reconheceu uma tentativa de criar
um fato consumado que seria equivalente a uma anexação de facto61.
O traçado, ao incorporar a maior parte dos assentamentos israelenses,
demonstra uma disposição real de torná-lo a fronteira de Israel. Não por acaso, como
noticia a ONG B’Tselem, vários políticos israelenses já a consideram como tal62, tendo
algumas propostas sido apresentadas para formalizar uma anexação63. A alínea (a) do
artigo 3 da Definição de Agressão fala em “qualquer anexação”. Seria a construção um
desses casos? Embora seja inconteste que ele pode, sim, ser qualificado como um
“caminho para a anexação”, esta anexação ainda não correu. A própria Corte afirmou
que o muro “pode levar”, e não que ele, per se, já constitui uma anexação. O uso de

58 Dados disponíveis em: <http://www.btselem.org/separation_barrier>. Acesso em 28 nov. 2017.


59 A Terceira Convenção da Haia está disponível em: <https://ihl-
databases.icrc.org/applic/ihl/ihl.nsf/Treaty.xsp?documentId=BD56907463617993C12563CD002D67
74&action=openDocument>. Acesso em 28 nov. 2017.
60 A Corte mencionou ainda como violados os artigos 47, 49 e 59. Legal Consequences of the
Construction of a Wall in the Occupied Palestinian Territory, Advisory Opinion: I.C.J. Reports 2004,
p. 185.
61 Legal Consequences of the Construction of a Wall in the Occupied Palestinian Territory, Advisory
Opinion: I.C.J. Reports 2004, p. 184-189.
62 Como demonstrado no link trazido à nota 58.
63 Sendo um exemplo a ideia defendida, em janeiro de 2017, pelo ministro da educação israelense,
Naftali Bennet, de propor uma lei que, se aprovada, anexaria o assentamento de Ma’ale Adumin, um
dos maiores de todos e localizado a leste de Jerusalém Oriental. Disponível em:
<https://www.theguardian.com/world/2017/jan/03/far-right-israel-minister-naftali-bennett-bill-annex-
maale-adumim-settlement-palestinian-territories>. Acesso em 28 nov. 2017.

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força armada também não fica evidente neste caso. Por essas razões, assim como a
construção dos assentamentos, tem-se que a construção do muro na Cisjordânia
representa mais uma violação às normas de direito internacional humanitário, mas não
um ato de agressão.

CONCLUSÃO
Apesar de o povo palestino permanecer sem a reparação que lhe é devida,
alguns órgãos internacionais, organizações não-governamentais e internacionalistas em
geral se dedicaram a estudar e denunciar atos ilícitos cometidos contra esse povo. No
entanto, a grande maioria dessas iniciativas centrou-se em violações a normas de direito
internacional humanitário ou crimes contra a humanidade, tendo sido algumas delas
mencionadas ao longo do texto. O objeto desse trabalho, a possível prática de atos de
agressão por parte de Israel envolvendo Jerusalém, é tema sobre o qual ainda não havia
muito material, sendo uma das motivações por trás desse trabalho.
Em razão dos limites que cercam e distinguem o jus ad bellum do jus in bello,
a maioria das ações consideradas se inserem exclusivamente no âmbito do direito
internacional humanitário, não sendo passíveis de resultar no cometimento de um ato de
agressão. Ainda assim, dos atos estudados, chegou-se a um que, de fato, representa um
ato de agressão: a anexação de Jerusalém Oriental. Por sua natureza de ato ilícito
contínuo, respondendo a indagação que guiou este trabalho, deve-se afirmar: Há,
efetivamente, responsabilidade internacional do Estado de Israel pelo cometimento de
um ato de agressão contra o Estado da Palestina, devendo, portanto, incidir sobre aquele
país as normas que ditam a responsabilidade estatal pelo cometimento de atos ilícitos
perante o direito internacional público.

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