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Anã¡lise Criminal e o Planejamento Operacional
Anã¡lise Criminal e o Planejamento Operacional
Anã¡lise Criminal e o Planejamento Operacional
A ANÁLISE CRIMINAL
E O PLANEJAMENTO
OPERACIONAL
Distribuição Gratuita
Série Análise Criminal | VOLUME 1
A ANÁLISE CRIMINAL
Luiz Inácio Lula da Silva
E O PLANEJAMENTO
GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Sérgio Cabral Filho
OPERACIONAL
José Mariano Beltrame
DIRETOR-PRESIDENTE
Distribuição Gratuita
VICE-PRESIDENTE
Robson Rodrigues da Silva
Volume 1
A ANÁLISE CRIMINAL
E O PLANEJAMENTO
OPERACIONAL
2008
RIO DE JANEIRO
1ª EDIÇÃO
Coleção Instituto de Segurança Pública
Coordenador– Mário Sérgio de Brito Duarte
Série Análise Criminal
Organizadores – Andréia Soares Pinto e Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro
Volume 1
A Análise Criminal e o Planejamento Operacional
Autores
Ana Paula Mendes de Miranda – IPP / Simoni Lahud Guedes – UFF / Doriam Borges – IUPERJ / Cláudio Beato – UFMG
Elenice de Souza – UFMG / Paulo Augusto Souza Teixeira – ISP
A532a
A Análise Criminal e o Planejamento Operacional / Organizadoras Andréia Soares
Pinto e Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro; Coordenador Mário Sérgio de Brito Duarte;
[autores] Ana Paula Mendes de Miranda ...[et al.]. – Rio de Janeiro: Riosegurança,
2008.
ISBN 978-85-60502-32-5
1. Análise Criminal – manuais, guias, etc. I.Pinto, Andréia Soares (Org.) II Ribeiro,
Ludmila Mendonça Lopes (Org.) III. Duarte, Mário Sérgio de Brito (Coord.) II. Título. III.
Série.
CDD: 362.12
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
(Mário Sérgio de Brito Duarte e Robson Rodrigues da Silva)........................................ 7
INTRODUÇÃO
(Ludmila Mendonça Lopes Ribeiro e Andréia Soares Pinto)........................................... 10
APRESENTAÇÃO
Foi por uma postura racional que, segundo Max Weber, a civilização ocidental se
distinguiu no cenário mundial sustentada pelos pilares da ciência, do capitalismo
e da democracia1. Nesse sentido, a otimização de recursos na busca de um “lucro
sempre renovável”, a organização racional do trabalho e a ciência moderna, menos
contemplativa e cada vez mais compromissada com o progresso tecnológico, foram
fatores decisivos para o surgimento do atual conceito de cidadão e da moderna
sociedade industrial.
Em termos de Administração Pública, o conceito weberiano de “lucro renovável”
pode ser traduzido por uma gestão eficiente, eficaz e efetiva que utiliza a ciência para
a alocação racional dos recursos públicos, definindo objetivos, traçando metas factíveis
e construindo indicadores adequados de avaliação e de produtividade. O chamado
planejamento estratégico deve contemplar, portanto, um diagnóstico adequado
da realidade, dos recursos disponíveis e dos óbices que eventualmente dificultem a
consecução desses objetivos.
No campo da segurança pública, mais precisamente no que diz respeito ao
controle da criminalidade e das violências, função que entendemos ser uma das
premissas do Estado-nação, uma gestão que se pretenda moderna não deve abrir
mão da Análise Criminal como instrumento otimizador de suas ações, com todas as
novidades que o progresso científico-tecnológico pode hoje nos proporcionar. Um de
seus objetivos é o de habilitar profissionais na manipulação de softwares estatísticos
e de geoprocessamento para a produção e análise de informações necessárias ao
planejamento e à execução de políticas públicas de segurança eficazes.
O livro que ora temos o prazer de apresentar trata exatamente da Análise
Criminal e faz parte de um conjunto de estratégias desencadeadas pelo Instituto
de Segurança Pública, com vistas à modernização da segurança pública estadual.
Particularmente, objetiva familiarizar atores do chamado sistema de justiça criminal e
segurança pública (polícia, Ministério Público, justiça e presídios) com o instrumental
científico-tecnológico construído pelo Instituto para uma gestão racional da segurança
pública, tanto no plano estratégico, como no tático-operacional. Ele foi elaborado por
1 WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 14 ed. São Paulo, Pioneira, 1999.
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2 Tanto esse quanto outros projetos ou programas aqui citados serão, de alguma maneira, abordados
nos artigos que compõem o presente livro.
3 www.isp.rj.gov.br
4 Cf. nota 2.
5 O piloto desse projeto foi iniciado no Município de São Gonçalo e a expectativa é de que, muito em
breve, ele possa ser expandido para todo o estado.
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6 Cf. Nota 2.
7 Órgão que administra o recebimento das chamadas emergenciais 190.
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INTRODUÇÃO
1 O Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro é uma autarquia ligada à Secretaria
de Segurança Pública, que produz mensalmente estatísticas relativas à ocorrência de crimes no
estado. Esses dados constituem uma gama de informações que poderiam servir como ferramentas
no planejamento e avaliação de políticas públicas da área de segurança
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trabalho construído não apenas a partir dos princípios teóricos e metodológicos que
orientam a análise criminal, mas, sobretudo, a partir do diálogo com os principais
usuários das ferramentas de informação e gestão que foram ensinadas no Curso
de Capacitação em Técnicas Quantitativas e Análise Criminal. Assim, os estudos
publicados neste volume representam uma tentativa de reunir as principais reflexões
sobre análise criminal e, desta forma, mudar o quadro de não uso das ferramentas
estatísticas enquanto instrumento e avaliação das políticas de segurança em razão do
desconhecimento destas.
A estrutura da obra em cinco capítulos reflete este propósito. O primeiro
capítulo analisa conceitualmente o papel da informação, em especial a estatística, na
seara da segurança pública, e a forma como os dados criminais têm sido produzidos
e utilizados no estado do Rio de Janeiro. Nele é desenvolvido o instrumental teórico
acerca da importância da informação no planejamento e avaliação das políticas de
segurança pública, utilizado nos capítulos subseqüentes.
O segundo capítulo apresenta uma discussão sobre os pressupostos da
estatística criminal, principalmente no que diz respeito às possibilidades de aplicação
dessa metodologia a diversas bases de dados criminais (ou não) disponíveis no Brasil. Já
o terceiro capítulo parte de uma dessas bases de dados, com ênfase na base construída
pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, para desenvolver a discussão sobre como foi
montado e como hoje é operado o sistema classificatório das ocorrências policiais.
Os capítulos 3 e 4 discutem a produção e o uso das informações criminais na
elaboração de ações e diagnósticos em segurança pública. O primeiro deles parte do
estudo de caso de Belo Horizonte e salienta que as diversas ferramentas estatísticas
ensinadas no Curso de Capacitação em Técnicas Quantitativas e Análise Criminal,
quando empregadas com o devido rigor metodológico, viabilizam a redução da
incidência criminal e, por conseguinte, a melhoria da qualidade de vida urbana. O
outro capítulo enfatiza as capacidades requeridas para o moderno policial na produção
e no uso das informações estatísticas e de como estas competências são ativadas e
dinamizadas através da metodologia IARA (metodologia orientada para a solução de
problemas composta por quatro etapas: Identificação, Análise, Resposta e Avaliação
- IARA).
O último capítulo discute a transparência dos dados na seara da segurança
pública a partir da análise das ações desenvolvidas de forma integrada pelas polícias
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1 Uma primeira versão deste artigo foi apresentada no Painel Políticas Públicas, Violências e Discursos,
durante o Simpósio da Rede Interdisciplinar de Estudos Comparativos (RIEC): Direito, Justiça e
Segurança Pública - Isaac Joseph, o espaço público e as políticas públicas, no VIII Congresso Luso-
Afro Brasileiro de Ciências Sociais, em Coimbra, 2004.
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 15
3 Embora as Guardas Municipais sejam citadas nesse artigo no §8, não estão listadas entre os órgãos
responsáveis pela gestão da segurança pública. Por outro lado, a polícia ferroviária federal é citada,
mas sua função é apenas proteger o que sobrou do patrimônio da Rede Ferroviária Federal, em
processo de liquidação.
4 Essas informações estão disponíveis na internet, no site www.institutodeseguranca.rj.gov.br.
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9 No Boletim de Monitoramento nº. 02, de julho de 2003 (base junho), foi apresentado um
levantamento que indicava a média percentual de 2,7% de elucidação para os casos de homicídio.
No Relatório Final do Projeto Avaliação do Trabalho Policial nos Registros de Ocorrências e Inquéritos
Referentes a Homicídios Consumados em Áreas de Delegacias Legais (2005), a média de elucidação
de cinco delegacias analisadas foi de 4%.
10 Tal prática foi observada por mim em outras instituições públicas, tais como Cartórios de Registros
Públicos e Arquivos Públicos (MIRANDA 2000 e 2005).
11 Ver RAMOS (2002) e GUEDES (2003).
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implantação no Brasil12. Como ressalta Beato Filho (2000), são raras as secretarias de
segurança no Brasil que dispõem de departamentos de estatística e coleta de dados,
bem como da tecnologia necessária para tal. Em levantamento realizado pelo NUPESP
em 2004, constatou-se que dos 26 estados apenas quatro informavam regularmente
seus dados, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais. No entanto, os
diferentes formatos de classificação não permitem muitas vezes a comparação entre
os mesmos.
Uma outra mudança importante no processo de qualificação estatística do
Rio de Janeiro foi a criação do Programa Delegacia Legal, em 1999. Seu objetivo foi
modificar completamente a forma de operar de uma delegacia de polícia, a partir
da organização das informações e também da prestação de um serviço público de
qualidade à população, com a retirada das carceragens e a melhoria do trabalho
investigativo. No que tange à organização das informações, há um esforço contínuo
de padronizar as classificações, através da redação e divulgação de manuais. Este
processo, no entanto, ainda encontra resistências por parte dos policiais, que mantém
arquivos particulares, com informações sobre criminosos, informantes e até registros
de ocorrências, não incluindo as informações no banco de dados da instituição.
A resistência dos policiais às tentativas de padronização se soma à resistência
com relação à publicidade dos dados, insumo necessário à proposição de políticas
públicas. Entretanto, a resistência não deve ser encarada negativamente, ao contrário,
deve ser considerada um indicador importante do impacto das políticas públicas em
culturas institucionais. Quando não há nenhuma resistência é porque provavelmente
as mudanças não estão surtindo os efeitos esperados. Só se pode falar de efetividade
de uma política pública à medida que ela provoque impacto nas rotinas de uma
instituição, e ao fazê-lo, essa política sofrerá conseqüentemente críticas dos que não
desejam a mudança.
A divulgação sistemática dos registros de ocorrência possibilita um diagnóstico
preliminar, embora limitado, dos problemas que a população leva ao conhecimento da
polícia. No entanto, ater-se apenas ao que foi registrado retifica a imagem da polícia
como uma instituição destinada ao combate ao crime, em detrimento de uma outra
imagem, também existente, da polícia mediadora de conflitos intracomunitários e de
agência que articula a população a outras agências estatais.
12 Os dados referentes à economia, saúde ou educação já são há algum tempo regularmente coletados
e analisados nacionalmente, porém apenas recentemente, os dados oriundos das polícias passaram
a merecer tal tratamento, o mesmo não se pode falar sobre os dados do poder judiciário
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13 Segundo FERREIRA (2004), 50% das ocorrências atendidas pela PMERJ classificam-se como
condução à DP - obrigatória ou por opção das partes; 36% como fatos com procedimentos
administrativos ou assistenciais (sem DP) e; 14% como atendimentos frustrados (não chegaram a
se iniciar.
14 Este projeto é parte de um convênio com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, a Secretaria de
Segurança Pública e o Instituto de Segurança Pública, com financiamento da União Européia.
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dos dados referentes aos registros de crimes no Estado16. A escolha deste recorte
temporal está associada com a cobertura da imprensa durante a divulgação dos
Boletins Mensais de Monitoramento e Análise, pelo Instituto de Segurança Pública.
Foram incluídas ainda algumas análises dos dados levantados pela pesquisa “Avaliação
do sentimento de insegurança nos bairros da cidade do Rio de Janeiro”, em fase de
conclusão17.
A seleção dos jornais ocorreu em função da participação de seus repórteres
durante as entrevistas coletivas, quando foram apresentados os dados estatísticos,
contando com a presença não só dos principais jornais fluminenses (O Globo, O Dia, O
Fluminense, Extra, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio), bem como de dois jornais
paulistas (O Estado de São Paulo e A Folha de São Paulo).
Uma primeira constatação diz respeito ao espaço dado pelos jornais ao tema.
Com exceção do Jornal Extra, cujas matérias sobre as estatísticas aparecem no caderno
denominado “Geral”, os demais apresentaram suas matérias em seções chamadas de
“Dia a Dia” / “Nosso Rio” / “Polícia” (O Dia); “Cidade” (O Fluminense e Jornal do Brasil);
“Rio” (O Globo); “Cotidiano” (Folha de São Paulo); “Cidades” (O Estado de São Paulo);
“Rio de Janeiro” (Jornal do Commercio).
Esta localização certamente não é casual e indica uma associação entre a
representação do cotidiano da vida urbana ao aumento da violência e do crime, o que
já foi amplamente analisado pela ciência social brasileira, conforme apontam Kant de
Lima, Misse e Miranda (2000).
Um outro ponto importante diz respeito aos jornais paulistas que muitas vezes
dão um maior destaque aos fatos ocorridos no Rio de Janeiro e pouco falam sobre os
eventos ocorridos em São Paulo18. Esse silêncio não pode ser considerado casual. Muito
menos se pode imaginar que a principal metrópole do país seja um paraíso na terra,
16 O levantamento foi realizado pelos estudantes de Comunicação Social, Bárbara Tiago Bono e
Gabriel Souza, e de Ciências Sociais, Eliane dos Santos da Luz, estagiários do ISP.
17 A pesquisa foi financiada pela FAPERJ, tendo sido realizada em nove bairros (Bangu, Bonsucesso,
Botafogo, Campo Grande, Copacabana, Lagoa, Méier, Pavuna, Santa Cruz), levando-se em conta o
IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de cada bairro, os critérios de renda, escolaridade, taxa
anual de homicídios e população. Foram aplicados 400 questionários em cada bairro a partir de
uma amostra por cotas de gênero e idade, totalizando 2.000 pessoas. Participaram desse projeto os
pesquisadores do ISP: Ana Luísa Vieira de Azevedo, Andréia Soares Pinto, Renato Coelho Dirk.
18 Ver também RAMOS E PAIVA (2005)
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19 Sobre o tema ver BENEVIDES, 1981; CARDIA, 1994; MINAYO, 1999; RONDELLI, 1997 e 2000.
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Essa visão conservadora predomina nas análises sobre a violência, tendo como
uma rara exceção o trabalho organizado por PEREIRA et al (2000), que sustenta não
ter a violência necessariamente uma conotação negativa. Esta pode ser uma forma
de expressar o descontentamento diante da realidade e até de deflagrar processos de
renovação social, constituindo-se, assim, em um fenômeno de caráter polissêmico,
para o qual as análises normativas e morais não são apropriadas. Ou seja, trata-se de
compreender o sentido que tem a violência, ou suas formas de manifestação, a partir
do ponto de vista da dinâmica cultural de uma dada sociedade.
Nesse sentido, a violência no Brasil pode ser pensada a partir de uma dupla
perspectiva: “por um lado, surge como uma realidade alheia e hostil à realização mais
plena das tentativas democratizantes da sociedade em todos os níveis, da marginalização
do pequeno criminoso até a repressão militar de conflitos trabalhistas. Por outro, a
violência aparece como expressão limite de articulações culturais dinâmicas, a opção
para reivindicar exigências sociais justas, a forma de representar novas identidades
culturais ou ressimbolizar a situação de marginalidade, dando, assim, início a uma
tentativa de superação da exclusão social” (PEREIRA et al, 2000:14-15).
A mídia é uma das instituições políticas, tal como a universidade e a polícia,
que produzem e transmitem verdades, no sentido que Foucault definia como “um
conjunto de procedimentos para a produção, a lei, a repartição, a circulação e o
funcionamento dos enunciados” (1990: 14). Trata-se, portanto, de uma disputa não
“em favor da verdade”, mas sim dos efeitos de poder que se obtém ao se classificar o
que é falso ou verdadeiro.
A credibilidade desfrutada pelos meios de comunicação é um dos dispositivos
de sua influência na construção dos discursos, que se contrapõe à baixa credibilidade
das instituições policiais, conforme podemos observar a partir dos dados levantados
na pesquisa “Avaliação do sentimento de insegurança nos bairros da cidade do Rio
de Janeiro”. Nos nove bairros da cidade do Rio de Janeiro pesquisados, 67,5% dos
entrevistados afirmaram confiar nos meios de comunicação, enquanto 38,5% disseram
confiar na Polícia Civil e apenas 29,3% confiam na Polícia Militar. Quando perguntados
se o que sai na mídia sobre a criminalidade no bairro, 48,6% afirmaram que os meios
de comunicação refletem bem os fatos ocorridos; 30,1% disseram que exageram os
fatos ocorridos; e 21,3% falaram que há uma diminuição dos fatos ocorridos.
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20 Essa estratégia vigorou durante o período de junho 2003 até junho de 2005.
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18/02/2004 O Fluminense Secretaria divulga nova Pelos números oficiais, nove dos
queda na criminalidade 10 delitos considerados mais
importantes sofreram redução em
janeiro com relação ao mesmo
período de 2003
18/02/2004 O Dia Perigo dentro de casa Número de assaltos a residência é
o único a não cair entre os 10 tipos
de delito
21/04/2004 O Globo Estatística aponta
redução em oito índices Números são menores do que os de
de criminalidade no março de 2003, mas estão em alta
Estado
21/04/2004 Jornal do Em dez modalidades,
Commercio apenas latrocínio Estatística mostra queda
cresceu
18/05/2004 Extra Oito crimes registraram
____________
queda no mês de abril
18/05/2004 Jornal do Brasil Crescem roubos e
____________
latrocínio
18/05/2004 O Estado de São Sobe número de assaltos Apesar disso, invasão de casas é o
Paulo e latrocínios no Rio crime tido como mais problemático
na cidade
18/05/2004 O Dia Sobem índices de dois Roubos a pedestres e seguidos de
crimes morte cresceram mês passado
18/05/2004 O Globo Caem números de oito Latrocínio confirma tendência de
tipos de crimes aumento e assaltos a pedestre têm
361 casos a mais
18/05/2004 Folha de São Paulo Números de latrocínios
e de roubos a pedestres ____________
aumentam no Rio
Fonte: Jornal O Globo, Jornal do Brasil, Jornal O Dia, Jornal O Estado de São Paulo, Jornal Folha de São
Paulo, Jornal Extra, Jornal O Fluminense e Jornal do Commercio
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Pobre do leitor que se utilizar de diversas fontes para estar bem informado!
Se considerasse as manchetes publicadas em julho de 2003, relativas aos dados
divulgados sobre o mês de junho de 2003, não chegaria à conclusão alguma, já que
duas se referem à queda e outras duas se referem ao aumento dos crimes. Afinal, o que
teria acontecido com os registros de crime no estado?
A primeira observação que podemos fazer é que, em primeiro lugar, há uma
confusão entre as noções de criminalidade e violência utilizadas propositadamente
como sinônimas. Essa associação provoca uma série de equívocos. É sabido que não
se pode falar de violência e sim de violências, devendo ser entendidas como um
conjunto de representações de uma idealidade negativa que se opõe às idéias de paz,
consenso, segurança, integração e harmonia social (MISSE, op. cit.). Nota-se ainda
que a criminalidade aparece nas notícias como um conjunto de práticas (roubos e
homicídios) resultantes da ineficácia da ação repressiva da polícia, o que contradiz
a proposta de Machado da Silva (1995 e 1999), de que a criminalidade não pode ser
compreendida apenas pela perspectiva de referência ao Estado (ausência do Estado;
Estado paralelo etc.), e sim pela sua organização social e suas redes de sustentação. O
que está em jogo é principalmente o questionamento sobre os mecanismos formais e
informais de controle social, e não apenas o papel do Estado. Violência e criminalidade
são, portanto, questões distintas que só podem se tornar sinônimas quando se
considera que na interpretação dada pela imprensa há uma mensagem oculta de que
o Estado deve atuar para aniquilar os conflitos, restaurando a ordem, numa concepção
unitária e homogeneizadora da vida social.
A associação das noções de criminalidade e violência acaba também por
obscurecer outras modalidades criminosas, em especial as que se referem aos crimes
econômicos (lavagem de dinheiro, corrupção, sonegação)21.
Uma segunda observação diz respeito à representação construída sobre as
análises elaboradas pelo NUPESP, que enfatizam o fato de que estamos trabalhando
com os registros de ocorrência, que não correspondem à totalidade de eventos
ocorridos no mês anterior. De modo geral, os jornais possuem uma postura ambígua,
ora se referem aos números como a realidade nua e crua, ora insinuam que os números
não são reais porque seriam maquiados.
21 Sobre a relação entre os crimes econômicos e a mídia ver Miranda (1999) e (2002).
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Fonte: ISP, pesquisa “Analisando o sentimento de insegurança nos bairros do Município do Rio de
Janeiro”, 2004.
24 A equipe é composta por policiais civis, militares e pesquisadores, cuja formação é variada (cientistas
sociais, geógrafos, estatísticos), bem como a titulação (especialistas em políticas públicas, mestres
e doutores).
25 As variáveis utilizadas geralmente são dia da semana, hora, local, perfil da vítima, perfil do autor,
modus operandi
26 O curso de Capacitação em Técnicas Quantitativas e Análise Criminal foi desenvolvido com recursos
da União Européia.
27 Outras parcerias já têm se mostrado exitosas no Rio de Janeiro: com a Universidade Estadual
do Rio de Janeiro, no Curso de Extensão em Segurança Pública, que funciona desde 1999; com
a Universidade Federal Fluminense, no Curso de Especialização em Políticas Públicas de Justiça
Criminal e Segurança Pública, criado em 2000.
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28 Crimes sexuais tendem a ser os menos registrados e informados, enquanto o roubo de veículos tem
a menor subnotificação por causa do seguro
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 39
Bibliografia
MIRANDA, Ana Paula Mendes et al. Relatório Final de Pesquisa Avaliação do Trabalho
Policial nos Registros de Ocorrências e nos Inquéritos Referentes a Homicídios
Dolosos Consumados em Áreas de Delegacias Legais. Rio de Janeiro, Instituto de
Segurança Pública, 2005.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. 8ª ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil: 2005.
Doriam Borges
Introdução
Nos últimos anos os fenômenos relacionados à violência, criminalidade e segurança
pública têm sido cada vez mais estudados. No entanto, ainda existem algumas dúvidas
no que se refere às abordagens e os métodos mais adequados para uma análise
criminal. Neste sentido, com o intuito de abordar este tema, discutiremos o estado das
artes das pesquisas e bases de dados deste fenômeno no Brasil, introduzindo os usos
e problemas metodológicos de uma pesquisa, a importância da gestão da informação
no desenvolvimento de políticas públicas, e a criação e manipulação de ferramentas
analíticas para o fenômeno da violência e criminalidade.
Deste modo, o objetivo principal desta discussão é apresentar de uma forma
simples a idéia da pesquisa na área da violência, como instrumento para a construção
do conhecimento do tema, baseado no rigor de certas exigências científicas.
Metodologia de Pesquisa
A) Conceitos da Pesquisa Científica
A estatística é um conjunto de ferramentas matemáticas que permitem coletar,
organizar, descrever e analisar dados e, assim, auxiliar na tomada de decisões.
Na pesquisa científica, deve-se definir:
a. a motivação = importância associada ao trabalho;
b. o objetivo = qual a finalidade específica do trabalho;
c. as hipóteses a serem verificadas.
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 43
Para cada tipo de erro, existe um controle que deve ser realizado, seja sob a
forma de treinamento, seja sob a forma de utilização de técnicas adequadas para
medir ou considerar características do objeto em estudo.
Deve-se ainda determinar quais os parâmetros (variáveis) que serão analisados,
incluindo aqui as variáveis principais (dependentes) e as secundárias (independentes
ou explicativas). As independentes, em muitos casos, são usadas para ajudar a descrever
ou mesmo prever o comportamento das variáveis dependentes.
A fonte dos dados utilizada em uma pesquisa é dita primária (quando você
mesmo realiza a coleta das informações de que precisa) ou secundária (quando se
utiliza dados que uma outra pessoa coletou). Após a coleta, é feito o pré-processamento
da informação (através de codificação e digitação) e parte-se, então, para a análise
(estatística) e a interpretação dos resultados.
é preciso medir também, nos dois períodos, um outro grupo, que não tenha sofrido
esta intervenção. Este é chamado “grupo de controle”, que deve ser, na medida do
possível, o mais parecido com o grupo em que foi implementada a política pública.
Idealmente, a única diferença entre os dois grupos deve ser a intervenção que está
sendo realizada.
Gestão da Informação
A) Conceito de Informação
Informação
Registrar
Organizando os registros
Fato
Formulário Arquivos
Banco de Dados
Relatório
Entrada
Processamento
Saída
C) Fontes de Dados
Para realizar uma análise, um monitoramento ou uma avaliação é preciso conhecer
as fontes de dados. Na área da violência e criminalidade, destacamos três fontes de
dados: as registradas pela Polícia Civil, as coletadas pelo Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e as pesquisas de vitimização.
No estado do Rio de Janeiro a base das estatísticas criminais é coletada através
da Polícia Civil, por meio dos RO - Registros de Ocorrência, cujo preenchimento é
baseado nas categorias criminais definidas pelo Código Penal. O ISP - Instituto de
Segurança Pública divulga estes dados mensalmente, um total de 38 títulos de
ocorrências criminais (homicídios, estupros, vários tipos de roubos, furtos etc) e não-
criminais (desaparecidos, recuperação de veículos, número de registros de ocorrências
etc), abrangendo todo o território do estado. Estes registros são divulgados segundo
desagregação de AISP – Área Integrada de Segurança Pública – e segundo área de
circunscrição de delegacia de polícia.O Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)
tem sua informação inicial gerada pela DO – Declaração de Óbito, que é preenchida
com base no atestado médico, ou, na ausência de médico, por duas pessoas qualificadas
que tenham presenciado ou constatado a morte. O SIM classifica as mortes violentas
como “Causas Externas”, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID).
Do período de 1979 a 1995, para a codificação da causa de morte, foi utilizado a 9ª
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Revisão do CID, e desde 1996 os óbitos passaram a serem classificados através da 10ª
Revisão do CID (CID-10).
Vale ressaltar que a definição de morte violenta dada pelo SIM é diferente da
dada pelas polícias. Pelo SIM os homicídios são definidos segundo a CID, enquanto que
para as polícias a definição é feita segundo o Código Penal. Com isto, por exemplo,
as mortes por homicídio classificadas pelo SIM abrangem mais de um tipo de morte
violenta registradas pelas polícias. Deste modo, as taxas de homicídio contabilizadas
pelos dados da saúde são sempre maiores que as contabilizadas pelas polícias. Além
disto, os dados da polícia se referem ao local da ocorrência do fato, enquanto que os
do SIM se referem ao local do óbito. Por exemplo, supondo que um indivíduo levou um
tiro em um município Y, e foi levado para um hospital do município X, e faleceu. Para
a Polícia, o crime ocorreu no município Y, enquanto que na saúde a morte é registrada
no município X. Logo, não é possível realizar comparações entre as duas fontes de
dados, e ao se trabalhar com os dados da saúde, levar em conta que o registro se refere
ao local da morte e não o local de ocorrência, que é o mais importante no estudo da
segurança pública.
As pesquisas de vitimização são um tipo de levantamento na população
sobre a experiência com o crime. Gera informações que eventualmente sirvam no
desenvolvimento de políticas para o controle da criminalidade, e quantifica a ocorrência
de violações específicas para aproximar à realidade os dados divulgados pelos órgãos
oficiais.
Tem como objetivo obter informações sobre a experiência das pessoas com
respeito ao crime, risco de vitimização, propensão a registrar queixa policial, atitudes
com relação à polícia e a punição dos criminosos, estratégias de prevenção ao crime e
avaliação dos serviços prestados pelas forças policiais.
Indicadores Sociais
Em projetos sociais, indicadores são parâmetros qualificados e/ou quantificados que
servem para detalhar em que medida os objetivos de um projeto foram alcançados,
dentro de um prazo delimitado de tempo e numa localidade específica, e permitem
tirar conclusões sobre o desenvolvimento dos fenômenos sociais em questão.São
expressões numéricas de fenômenos quantificáveis, representando fenômenos sociais
politicamente relevantes, que não podem ser medidos diretamente. Como o próprio
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 49
nome sugere, são uma espécie de “marca” ou sinalizador, que busca expressar algum
aspecto da realidade sob uma forma que possamos observá-lo ou mensurá-lo. A
primeira decorrência desta afirmação é, justamente, que eles indicam mas não são a
própria realidade. Baseiam-se na identificação de uma variável, ou seja, algum aspecto
que varia de estado ou situação, variação esta que consideramos capaz de expressar
um fenômeno que nos interessa.
Os indicadores sociais devem possuir duas características fundamentais:
• Validade: A validade de um indicador corresponde ao grau de proximidade
entre o conceito e a medida, ou seja, sua capacidade de refletir, de fato,
o conceito abstrato que o indicador se propõe a “operacionalizar” ou
“substituir” (JANNUZZI, 2001: 26).
• Relevância: Enquanto propriedade desejável de um indicador social, a
relevância diz respeito à pertinência desse indicador para a tomada de
decisão acerca dos problemas sociais. Uma iniciativa pode ser considerada
como “relevante” se a mesma em seus objetivos mencionasse a orientação
de políticas públicas.
Os indicadores podem ser utilizados para medir ou revelar aspectos relacionados
a diversos aspectos sociais. Podem, por exemplo, medir a disponibilidade de bens,
serviços e conhecimentos, ou captar processos em termos de intensidade e sentido de
mudanças. Neste sentido, os indicadores se referem a aspectos tangíveis e intangíveis
da realidade. Os tangíveis são os facilmente observáveis e aferíveis quantitativa ou
qualitativamente, como renda, escolaridade, saúde, organização, gestão, conhecimentos,
habilidades, formas de participação, legislação, direitos legais, divulgação, oferta etc.
Já os intangíveis são aqueles sobre os quais só podemos captar parcial e indiretamente
algumas manifestações: consciência social, auto-estima, valores, atitudes, estilos de
comportamento, capacidade empreendedora, liderança, poder, cidadania.
A escolha dos indicadores em um projeto também ocorre em função dos
ângulos que se quer avaliar:
• Eficiência: boa utilização dos recursos
• Eficácia: se as ações do projeto permitiram alcançar os resultados
previstos
• Efetividade: em que medida os resultados do projeto estão incorporados
50 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
Bibliografia
Introdução
Aproveito a ocasião da comemoração dos cem anos de publicação de um dos textos
fundadores das Ciências Sociais, proporcionada pelos colegas do IFCS/UFRJ, para iniciar
uma reflexão baseada em um material empírico um tanto novo para mim. Acentuo,
de imediato, o caráter preliminar e algo rudimentar desta reflexão, que não pretende
de modo algum ser uma análise da prática policial no Rio de Janeiro (como a de KANT
DE LIMA, 1994, e as análises históricas de HOLLOWAY, 1997 ou CUNHA, 1998, entre
outros). Trata-se, principalmente, de um exercício referente à relação entre a “função
classificatória” e a construção de saberes profissionais. Dito de outro modo, objetivo
fazer algumas observações acerca do modo pelo qual um sistema classificatório de
referência partilha da produção de habitus profissionais específicos (BOURDIEU, 1980).
Neste caso, a produção destes saberes e deste habitus está, certamente, mediada pelas
inúmeras formas de administração e gerenciamento da “população”, característica
fundamental das técnicas de poder, a partir do século XVIII, como acentua Foucault
(1979, 1980, 1987). Sob esta perspectiva, como espero demonstrar, o tema que trago
permite relacionar esquemas geradores da ação e uma “teoria da prática”, questão
particularmente importante para a compreensão de atividades profissionais que se
definem, prioritariamente, como constituídas de um “saber prático”. Minhas observações
centram-se exclusivamente no referido sistema classificatório que, suponho, tomado
em si mesmo, permite levantar uma ou duas hipóteses sobre os princípios sóciológicos
que o animam.
utilizadas outras oito categorias que expressam princípios distintos: uma refere-se a
uma figura do código penal (furto qualificado, definido, neste instrumento legal, como
aquele que envolve “destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa
ou com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza”), portanto,
neste caso e só neste caso, utiliza-se como critério de classificação os meios pelos
quais o furto é cometido; seis termos referem-se ao local do furto (auto, coletivo,
estabelecimento comercial, estabelecimento financeiro, estabelecimento de ensino,
residência), valorizando aqueles cometidos em alguns locais e, simultaneamente,
lançando ao limbo genérico da primeira categoria (furtos tout court) os ocorridos em
outros locais. Uma única categoria refere-se ao objeto do furto (autocarga), sinalizando
também seu valor em relação a todos os objetos furtáveis. Assim, por exemplo, o
furto da carga de um caminhão de transporte, estacionado na garagem interna de
um estabelecimento comercial, da qual se arrombou a porta, pode ser classificado
simplesmente como furto, como furto qualificado (pois rompeu-se um obstáculo),
como furto em estabelecimento comercial e, ainda, como furto de autocarga.
Este pequeno exercício, que poderia ser repetido em vários pontos do sistema
classificatório em questão, não visa, absolutamente, fazer coro aos questionamentos
internos em relação à propriedade e/ou eficácia das categorias especificadas. Não
tem também, de modo algum, intenção de folclorizá-lo. Visa demonstrar, sobretudo,
o ponto que já enunciei acima, a saber, que é fundamental o que ele não diz e o
espaço que abre para a construção coletiva de interpretações. Sob esta perspectiva, ele
é muito bem sucedido e muito bem construído. Permite, ademais, avançar a reflexão
em uma outra direção.
Continuando a usar como exemplo as especificações sobre furto, poderíamos
elaborar a hipótese de que a importância maior da especificação de locais (no caso,
meios de transporte, lojas, bancos, escolas e residências) ou objeto (autocarga) relaciona-
se quer com sua maior freqüência quer com a visibilidade maior que tenham estas
ocorrências na sociedade. Poderiam ser encaradas como parte fundamental da relação
da polícia com o que é transformado, em cada momento, em “problema de segurança”
maior pelos segmentos sociais dominantes. Assim, por exemplo, poderíamos pensar
que a existência, no nível maior de abrangência, do código 003 – trânsito, com toda
a ambigüidade que apresenta, responde, na verdade, a uma enorme concentração da
atividade do policial militar nos eventos neste setor: segundo dados da própria PM,
cerca de 56% das intervenções em 2001 foram classificadas neste código (RAMOS,
2002). Nesse sentido, o estudo sistemático das inclusões e exclusões ocorridas no
sistema – se é que ocorreram – permitiria desenredar alguns indícios sobre o que vai
se tornando mais ou menos importante na atuação policial. Tudo isso também nos
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 61
faz recordar o objetivo mais amplo, implícito neste sistema classificatório: produzir
estatísticas sobre as ocorrências policiais.
De certo modo, a função classificatória, neste caso, concretiza-se, em última
instância, na produção de estatísticas que medem e avaliam, simultaneamente,
através dos inúmeros índices que produz, o conjunto das atividades da polícia militar e
os eventos “problemáticos” da vida social2. Aqui é útil relembrar Foucault e a questão
fundamental do gerenciamento das populações, nas quais o saber produzido pelas
estatísticas é o eixo das técnicas de poder. Também creio ser útil lembrar Lévi-Strauss
e as diferenças entre modelos mecânicos e estatísticos. Talvez pudéssemos dizer que os
policiais, na interpretação das ocorrências em que se envolvem, operam com modelos
mecânicos para transformá-los em modelos estatísticos. O que está no meio disso é
o vivido e a “experiência” dos profissionais envolvidos que devem, entre outras coisas,
aprender a classificar sua vivência em determinadas direções. Experiência obrigada a
se auto-inscrever para produzir estatísticas, limitada pela classificação pré-existente
(ou seja, a experiência de outros), mas movendo-se no campo aberto pela utilização,
na classificação, de princípios operatórios distintos.
Gostaria de terminar lembrando que realizei aqui apenas um pequeno exercício
a partir do texto de Durkheim e Mauss, buscando pensar, particularmente, aquele
segundo momento em que, após ter estabelecido o postulado de que “a classificação
das coisas reproduz a classificação dos homens”, demonstrando a precedência lógica
da organização social sobre o sistema classificatório, insistem, em seguida, no processo
dialético contínuo de realimentação entre os dois níveis: “(...) as idéias são organizadas
sobre um modelo que é fornecido pela sociedade. Mas uma vez que esta organização
da mentalidade coletiva exista, ela é suscetível de reagir sobre a sua causa e contribuir
para modificá-la.” (DURKHEIM e MAUSS, 1968: 184, tradução minha).
2 O lugar ocupado pela produção de índices estatísticos é absolutamente central para avaliação
da prática policial. Nessa direção creio que seria produtivo: (1) examinar os usos e impactos dos
índices na organização interna da prática policial em seus diversos níveis (relações com as outras
instituições de policiamento, relação com a Secretaria de Segurança Pública, produção de normas
etc.); (2) examinar os usos e impactos dos índices na forma como são divulgados pela mídia; (3)
examinar a diferença entre usos internos e externos das estatísticas. Assim, por exemplo, segundo
a reportagem do Jornal do Brasil, em 08 de maio de 2003, p C2, o Secretario de Segurança do
Estado do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, teria estabelecido em termos estatísticos as metas
da política de segurança, estipulando “uma média percentual de 12% para a redução de, pelo
menos, 10 delitos”. A manchete da reportagem “Limite do ano: 4.171 homicídios” pode ser lida
como, intencionalmente, irônica, pois ao mesmo tempo em que reproduz a proposta de redução
de índices, expõe um número que pode ser absolutamente assustador para os cidadãos comuns.
Assim, as reações expostas na própria reportagem explicitam a necessidade de se “reduzir a zero”
os homicídios e seqüestros.
62 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
Bibliografia
1 Versão resumida de 2. BEATO FILHO, C. C. . Crime and Violence diagnostics and information. World
Bank Working papers, Washington DC, v. 1, n. 35135, p. 1-45, 2005.
64 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
efetividade deles. Qual o impacto efetivo deles nas taxas de violência e criminalidade?
Que aspectos funcionaram melhor? Qual o lapso de tempo necessário para que se
produzam efeitos? Que tipos de combinações são necessários para a produção de
resultados promissores? Como evitar gastos desnecessários com abordagens que na
realidade são inúteis, embora bem intencionadas? A análise dessas questões é cada vez
mais necessária, dada a freqüente escassez de recursos que nossos governos nos mais
diversos níveis tendem a enfrentar, e o natural interesse em identificar e reorientar
políticas de prevenção de crime a partir de decisões baseadas em modelos de custo e
benefício.
Esta aula vai discutir como podemos levantar dados a respeito de problemas
de segurança, como transformar estes dados em informação, e a informação em
conhecimento que permita uma base de ação sólida e consistente através de programas
de prevenção, além de possibilitar a avaliação dessas ações.
2 Taxas são o número de delitos que ocorrem em um grupo de dez ou cem mil habitantes. Eles são
calculados como o número de homicídios, por exemplo, divididos pela população e multiplicados
por cem mil habitantes. A razão de se utilizar este denominador de dez ou cem mil habitantes,
é que isso nos permite comparar o número dos delitos em relação a populações de tamanhos
distintos.
66 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
organizações mais bem estruturadas. Isto em geral ocorre nas cidades pólos de cada
região (CASTRO, ASSUNÇÃO E OTTONI, 2002)
Por outro lado, taxas de homicídio podem ser indicadores agregados que
terminam ocultando uma série de fenômenos distintos que podem ser do interesse do
planejador em conhecer. Podemos ter a mesma taxa de homicídios em duas cidades
e, no entanto, distribuições serem completamente diferentes (LYNCH, 1995). No
ano de 1996, a região metropolitana do Rio de janeiro, segundo o SIM – Sistema de
Informações de Mortalidade, teve uma taxa de homicídio de 59,35 homicídios por cem
mil habitantes. A região metropolitana de São Paulo também teve um taxa parecida
de 55,58. No entanto, as similaridades entre as taxas ocultam importantes diferenças.
No Rio de janeiro, a taxa de morte por homicídios entre os jovens entre 15 e 29 anos
é 34% maior do que as taxas no mesmo grupo de idade em São Paulo. Além disso, as
mortes por armas de fogo representaram 87% das mortes por homicídios no Rio de
Janeiro, ao passo que em São Paulo elas representaram 47% (BATITTUCI, 1999). Estes
números nos indicam que, embora as taxas sejam parecidas, do ponto de vista de sua
composição, elas são bastante diferentes.
Finalmente, existe a discussão acerca da agregação de coisas diferentes sob
o mesmo rótulo de homicídio. Tomarmos as definições oficiais da ocorrência de
homicídios nos leva à falsa idéia de que todos eles têm uma mesma motivação3. Uma
forma de compreendermos a diversidade de tipos poderia ser tratá-los com base
no relacionamento entre o agressor e a vítima (PARKER & SMITH, 1979. SMITH &
PARKER, 1980. PARKER, 1989). Nessa perspectiva, foram classificados quatro tipos
de homicídio: (a) homicídio não primário resultante de roubo; (b) homicídio não
primário como resultado de outros crimes; (c) homicídio primário entre pessoas não
íntimas tais como amigos e; (d) homicídios primários entre pessoas íntimas tais como
familiares. Apenas o homicídio primário, isto é, aquele que ocorre entre pessoas que
têm um prévio relacionamento, correlaciona-se com indicadores socioeconômicos
de desenvolvimento. Os homicídios não-primários, vinculados a casos de assalto ou
roubo, tendem a seguir o mesmo padrão de outros delitos contra a propriedade.
Toda a digressão acima não nos deve conduzir à falsa idéia de que os
homicídios não são indicadores extremamente importantes da situação de violência
3 Muitos estudos tendem inclusive a analisar os distintos tipos de homicídio como se todos tivessem
uma mesma causa definida por fatores ordem estrutural, sejam eles de ordem socioeconômica,
institucional, social ou demográfica (KATZ, 1988).
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 67
4 No Brasil, isto significa o assalto seguido de morte, que é, inclusive, investigado pelas delegacias de
crimes contra o patrimônio.
5 A legislação dos Three Strikes é extremamente severa, estabelecendo que após a terceira reincidência
o delinqüente terá uma pena de 25 anos, não importando a gravidade do delito cometido.
68 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
reduzindo a menos da metade suas taxas de homicídios por cem mil habitantes,
conforme vemos no quadro abaixo. O programa “Seguridad Y Convivencia Ciudadana”
articulou simultaneamente programas na área de justiça e polícia envolvendo
desenvolvimento tecnológico de comunicação e bases de dados para a polícia, além
da provisão de equipamentos. Além disso, projetos voltados para grupos vulneráveis
e de recuperação de espaços públicos foram implementados, além de fortalecimento
do sistema de justiça e reforma das instituições policiais através de programas de
treinamento e equipamentos.
facilmente disponíveis para sua utilização. O custo financeiro ou até mesmo político da
organização desses dados muitas vezes inviabiliza qualquer utilização mais sistemática
deles. Registros policiais encontram-se em forma manuscrita e dispersos em porções
e salas mal preparadas. Por outro lado, muitos dos detentores de informações vitais
para a compreensão de um problema podem ter muitas e variadas razões para não os
fornecerem aos representantes do poder público.
No que diz respeito aos dados oficiais sabemos que informações criminais e
judiciais são precárias, pouco sistematizadas e sua divulgação é errática. Isto torna
difícil a construção de séries históricas, além de inviabilizar as comparações inter e
intra-regionais, ou internacionais6.
Algumas condições afetam negativamente essa qualidade que tem a ver com
características das organizações encarregadas da coleta destes dados. Uma delas refere-
se às tecnologias de processamento de dados: raramente as organizações policiais ou
de justiça possuem computadores integrados em rede e submetidos a mecanismos
eletrônicos de coleta de dados. Ainda usa-se muito papel no preenchimento das
ocorrências, sendo o computador uma máquina absolutamente estranha ao cotidiano
dos quartéis e delegacias. Outra tem a ver com a qualificação das pessoas alocadas
nas atividades de coleta e registro de informações. É sempre importante lembrar
que quando se pretende montar um sistema de informações, deve-se ter pessoal
minimamente qualificado para a tarefa, que tenha um domínio no manejo de bancos
de dados eletronicamente disponíveis, planilhas e, se possível, de algum software de
análise estatística de dados.
A par das condições necessárias para se transformar dados em informações
que possam ser utilizadas pelos agentes destes programas, temos outra ordem de
fatores a conspirar contra a transformação dessas informações em conhecimento.
A primeira tem a ver com a centralidade dessas atividades no conjunto das práticas
organizacionais. Estatísticas são produzidas por departamentos e unidades que
nada tem a ver com o planejamento operacional das organizações e
6 Ver (1) “INDICADORES SOCIAIS DE CRIMINALIDADE” Trabalho elaborado de acordo com o convênio
SG nº 033/86 e o Termo de Renovação SG-003/87, celebrados entre a Fundação João Pinheiro (FJP)
e o Ministério da Justiça - Programa Ruas em Paz.
(2) IBGE, Rio de Janeiro. Pesquisa de vitimização: dificuldades e alternativas. Rio de Janeiro, 1985.
Mimeo.
(3) PACHECO, Lúcia Maria M.; CRUZ, Olga Lopes da; CATÃO, Yolanda S. D. Construção de indicadores
de criminalidade. Rio de Janeiro, IBGE. Mimeo.
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 71
(FJP, 1988. RUBIO, 1998b. MOSER e SHARADER, 1999. BEATO, 2000. BUVINIC e
MORRINSON, 2000). Conseqüentemente, nossos policy-makers não são donos de sua
própria agenda, tendo que reagir ao sabor dos fatos espetaculares noticiados pela
mídia, ou sob a pressão de figuras influentes.
“Para enfrentar os nossos graves problemas de criminalidade, antes de tudo,
devemos equipar as nossas polícias que andam em carros velhos, enfrentando bandidos
com armas mais poderosas e ganhando um salário miserável.”
Um exemplo eloqüente da ausência de diagnósticos é a famosa resposta de
“aparelhamento das polícias” que muitas vezes nossos prefeitos tendem a repetir
em suas cidades, através da provisão de recursos materiais para as organizações
policiais. Poderíamos arriscar um diagnóstico alternativo que, mais grave que o
sucateamento material das polícias é seu estado de indigência administrativa e
gerencial. As organizações policiais latino-americanas são reféns de antigos modelos
de gerenciamento, muitos deles de inspiração militar, que não se coadunam à
realidade da criminalidade urbana de nossos dias (BUVINIC e MORRINSON, 2000b.
BEATO, 2001b)
“Para que estatísticas detalhadas? Quem quiser informações sobre a
criminalidade, que leia os eloqüentes relatos que nossos jornais de circulação diária
trazem sobre o tema.”
Este é, provavelmente, o mais preconceituoso dos argumentos, pois ignora
o fato de que a mídia é seletiva em relação aos fatos criminais noticiados. Apenas
os “grandes crimes” ou os fatos notáveis são objeto de atenção por parte de jornalistas.
Muitas vezes, estes fatos envolvem pessoas que supostamente não deveriam
ser vítimas da violência (em geral da classe média para cima), desconhecendo a
violência cotidiana e corriqueira nos espaços urbanos em que habitam grupos
desprivilegiados.
Por outro lado, se é verdade que grandes crimes noticiados pela imprensa são
importantes na formação da percepção de nossas populações, os eventos que mais a
afligem são os pequenos delitos urbanos, que nem sempre resultam em ferimento ou
morte das vítimas. Esta é uma dimensão da violência urbana que apenas estatísticas
detalhadas são capazes de fornecer.
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 73
Informações oficiais
As informações oficiais podem ser coletadas a partir de dados disponíveis nas agências
oficiais encarregadas da produção de informações a respeito de crimes e criminosos,
bem como das próprias agências da justiça criminal (polícias, promotoria, juizes e
prisões). Registros oficiais e administrativos são produzidos por organizações policiais,
hospitais de pronto-socorro e organizações encarregadas da emissão de atestados
de óbito dentre outras. Conforme veremos adiante, um dos problemas com este tipo
de fonte de informação refere-se aos eventos que não chegam ao conhecimento
da polícia pelas mais diversas razões. Mais adiante nos dedicaremos a este tipo de
problema conhecido como “cifra negra".
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 75
Fonte: Indicadores Sociais de Criminalidade. Belo Horizonte; Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos
Políticos e Sociais, 1987
No que diz respeito às etapas iniciais do processamento de crimes e criminosos
no Brasil, há três sistemas de classificação de crimes violentos: o das Polícias Militares
Estaduais; Polícias Civis e, em relação aos homicídios, o Sistema de Informações de
Mortalidade do Ministério da Saúde. Em alguns estados, como Rio de Janeiro e São
Paulo, dados da Polícia Militar são agregados pela Polícia Civil, que se encarrega da
apuração do crime. Mesmo ao tomarmos apenas os delitos de homicídio, que por sua
própria natureza nos levariam a supor um menor grau de subnotificação, observamos
diferenças resultantes das distintas tarefas que cada uma das organizações policiais
cumpre.
A tabela 1 ilustra essa discrepância em relação aos eventos atribuídos a cada
uma das organizações no que diz respeito aos homicídios. Conforme se vê, as diferenças
entre essas fontes podem chegar a quase 50% dos homicídios registrados. Em 1991,
por exemplo, a PMMG havia contabilizado 231 homicídios; a Polícia Civil, 312; e o SIM,
308. As discrepâncias são bastante expressivas, e já foram observadas outras vezes (FJP,
1987). O Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde registra as
76 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
Sistema de Informações
Ano Polícia Militar Polícia Civil
sobre Mortalidade
baratas de se obter informações podem ser utilizadas, Grupos focais com moradores e
interessados da região, entrevistas com pessoas chave, observação participante e até
mesmo lançar mão de gravações em vídeo podem ser recursos bastante eficazes para
o levantamento de informações.
A tabela abaixo, por sua vez, descreve as diferenças de taxas para outros delitos
considerados na pesquisa.
8 O mais eloqüente caso de sub-registro refere-se aos delitos de violência doméstica dirigidas contra
a mulher e crianças.
82 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
No caso de agressões, 20% julgaram que não era necessário, 19,4% disseram que não
queriam envolver a polícia, 17,5% resolveram sozinhos e 14,7% não acreditavam
na polícia. A proporção dos que não acreditavam na polícia como motivo para não
recorrer a ela é maior quando se trata de roubos e furtos (27,7%).
Não se deve, contudo, superestimar os benefícios deste tipo de pesquisa. Elas
não substituem, mas complementam as outras formas de levantamento de dados. Não
devemos negligenciar o fato de que pesquisas de vitimização são instrumentos que
produzem informações a nível individual, mas não produzem bons dados a respeito de
organizações comerciais, por exemplo. Na verdade, este tipo de enquete, não obstante
sua importância para descortinar a “cifra negra” de alguns tipos de delitos, não é bom
instrumento para revelar crimes contra empresas, ou orientar políticas focalizadas ao
nível de vizinhança. A produção de pesquisas que revelem o tamanho das vitimizações
de empresas contribuiria para compreendermos importantes aspectos do crime
organizado em grandes centros urbanos. Por outro lado, as limitações decorrentes do
tamanho da amostra neste tipo de pesquisa terminam por torná-la inoperante como
instrumento de definição de políticas e programas a nível local.
GEOARQUIVO
Análise Problemas
Desenvolvimento
Estratégico
Prevenção + Intervenção
Comunidade e Agências sistema justiça
Consumado
Homicídio
Crimes contra a Tentado
pessoa
Estupro Consumado
A residências urbanas
A estabelecimento bancário
A ônibus / coletivo
A casa lotérica
A padaria
A mercearia / supermercado
Roubos sem
A depósito em geral
o uso de arma
A veículo automotor
A táxi
A transeunte
Crimes violentos
A postos de combustível
A residências urbanas
A estabelecimento bancário
Crimes contra o
patrimônio
A residências urbanas
A estabelecimento bancário
A ônibus / coletivo
A casa lotérica
A padaria
A mercearia / supermercado
Roubos à mão
A depósito em geral
armada (assalto)
A veículo automotor
A táxi
A transeunte
A postos de combustível
A residências urbanas
A estabelecimento bancário
Violência doméstica
88 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
Renda
Idade
Anos de escolaridade
Porcentagem de idosos
Porcentagem de crianças
Características Porcentagem de brancos
populacionais Porcentagem de homens
Porcentagem de empregados
Porcentagem de ocupados em profissões formais
Porcentagem de desnutridos
Taxa de mortalidade infantil
Taxa de analfabetismo
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 89
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MCEWEN, Tom (org). Crime Mapping and Crime Prevention. Crime Prevention Studies,
Crime Justice Press, Monsey, New York, 1998.
WILSON, James Q. Thinking about crime. Nova York, Vintage Books, 1983.
92 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
Elenice de Souza
Introdução
Um dos maiores desafios lançados às organizações policiais está em potencializar
sua capacidade de produzir, organizar, processar informações de forma sistemática,
bem como de desenvolver uma metodologia de gestão que possa orientar, com base
em evidências e análises, tanto o planejamento estratégico e operacional de suas
atividades quanto a avaliação e o monitoramento de seus resultados.
Aumentar a capacidade analítica das polícias com o objetivo de alcançar
resultados mais eficientes requer mudanças profundas no modo tradicional de
conceber o papel e a função da polícia nas sociedades modernas. A polícia precisa
priorizar problemas substantivos, recorrentes, que causam prejuízos às comunidades,
mais do que simplesmente reagir a chamadas urgentes e fazer cumprir a lei. Isso desafia
o modelo tradicional de polícia como uma organização orientada para incidentes com
a função primordial de controlar crimes.
No modelo tradicional, espera-se que os policiais a cada turno respondam
rapidamente às chamadas de emergência e estejam liberados para atender às próximas
chamadas. Nesse ciclo vicioso, raramente os policiais compartilham informações com
seus pares sobre os problemas enfrentados no seu dia-a-dia e as formas alternativas
de solucioná-los. Isso tem dificultado a condução de uma análise mais precisa sobre
problemas repetitivos, similares e muitas vezes comuns que ocorrem freqüentemente
em locais específicos. Como conseqüência, a habilidade do policial em resolver
problemas tem resultado mais da sua experiência individual e do seu conhecimento
prático do que de um processo criativo, fundamentado em um método analítico
consistente.
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 93
para emergência de problemas substantivos para a polícia. De acordo com esse modelo,
“problemas” são um conjunto recorrente de incidentes similares e relacionados
entre si, que causam prejuízos ao público, o qual espera que a polícia vá resolvê-los.
(GOLDSTEIN, 1990; 1979).
Origem do conceito
O policiamento orientado para a solução de problemas foi introduzido pela primeira
vez em 1979, por Herman Goldstein – professor de Direito e consultor do Departa-
mento de Polícia de Chicago – num período de intenso questionamento em relação à
eficiência do modelo profissional de polícia de controlar e prevenir o crime.
A principal crítica de Goldstein (1990, 1979) a esse modelo é a prioridade
dada aos “meios” da atividade policial em detrimento dos seus “fins”. Como resultado,
as polícias têm diminuído sua capacidade analítica e preventiva direcionada para re-
sultados e investido em estratégias tradicionais de caráter muito geral para lidar com
uma ampla gama de problemas distintos. Assim, os policiais têm se limitado a fazer
nada mais do que registrar e atender incidentes.
Ao contrário do modelo tradicional, o policiamento orientado para a solução
de problemas baseia-se na metodologia da pesquisa ação. Essa metodologia própria
das Ciências Sociais tem como pressuposto básico o estreitamento entre o conhe-
cimento orientado por evidências científicas, próprio de pesquisadores acadêmicos,
e o conhecimento orientado pela experiência prática, próprio daqueles que são in-
tegrantes de uma determinada organização, comunidade, ou sociedade em estudo
(GOLDSTEIN, 1990).
No caso específico do policiamento orientado para a solução de problemas,
a metodologia de pesquisa ação pressupõe que pesquisadores acadêmicos e policiais
façam parte de uma equipe interdisciplinar de solução de problemas. Juntos, são res-
ponsáveis pelo desenvolvimento de um processo analítico cuidadoso de identificação
dos fatores que contribuem para emergência de problemas para os quais o público
espera que a polícia dê uma resposta, bem como pela implementação de respostas,
avaliação e monitoramento de resultados. Neste sentido, o conhecimento científico
dos acadêmicos soma-se à expertise dos profissionais de polícia, complementando-se
e propiciando uma interlocução valiosa entre teoria e prática.
100 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
I. Identificação
II. Análise
III. Resposta
Criatividade é o elemento chave desta etapa, a qual envolve o desenvolvimento
de estratégias alternativas de prevenção e controle de crime e outros problemas
correlatos. Essas respostas devem ir além da captura e prisão de agentes infratores,
podendo envolver a participação de parceiros em potencial, como outros órgãos
governamentais, instituições, igrejas, comércio e o público em geral, todos que
diretamente estão envolvidos com o problema e sofrem suas conseqüências.
4) Conclusão
Para que as polícias aumentem sua capacidade analítica e o modelo de polícia inteligente
orientado para a solução de problemas realmente se torne uma estratégia policial
bem sucedida, é preciso que as lideranças policiais e os pesquisadores acadêmicos
se comprometam a desenvolver um conhecimento sistemático sobre problemas
substantivos que constantemente demandam a atenção policial. Além disso, devem
fornecer assistência e recursos para aprimorar a capacidade tanto das corporações
policiais quanto de seus profissionais de coletar, analisar e usar informações, bem como
avaliar resultados, aumentando sua responsabilidade para com as comunidades.
Por um lado, as organizações policiais precisam colocar em prática a metodologia
de pesquisa - ação, característica do policiamento orientado para a solução de
problemas, dinamizando suas unidades de estatística e análise criminal. Estas unidades
de análise deveriam desenvolver projetos de prevenção e controle de crime no sentido
de solucionar problemas substantivos colocados para as polícias. Conduzir, também,
sistemática avaliação do processo analítico e seus efeitos na prevenção. Além disso,
essas unidades teriam que auxiliar as polícias não apenas a produzir e organizar um
conhecimento sistemático e consistente sobre o que funciona e o que não funciona em
termos de prevenção e controle da criminalidade, mas disseminar esse conhecimento
dentro de toda a organização policial. Enfim, as unidades de análise de crime deveriam
ter um importante papel no desenvolvimento da capacidade pró-ativa das polícias,
aumentando-se assim a eficiência policial na prevenção.
Por outro, as agendas de pesquisa precisam investir no estudo de tipos específicos
de problemas em que haja demanda de intervenção policial pelo público, auxiliando
assim as corporações policiais a pensar em como preveni-los, com a participação de
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 103
Bibliografia
OS CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE
SEGURANÇA E OS DADOS OFICIAIS
Introdução
Uma questão que tem assumido grande relevância na atualidade é a transparência dos
atos da administração pública, em especial, de áreas do Estado consideradas “sensíveis”,
como a Segurança Pública. Sem ter a pretensão de esgotar o tema, o presente trabalho
visa discutir os limites e as possibilidades de divulgação dos dados oficiais sobre a
criminalidade e a violência nos Conselhos Comunitários de Segurança, permitindo,
assim, o desenvolvimento de ações integradas entre as organizações policiais e as
comunidades onde elas atuam.
A Lógica do Segredo
Gostaria de delimitar de forma mais clara o termo “inteligência” para este texto. Muitas
vezes, o termo é empregado no discurso público em alusão à capacidade cognitiva, ora
associado à compreensão de regras, como as normas e procedimentos de uma atividade
profissional, ora relacionado à solução de problemas novos, para os quais não há uma
regra previamente definida. Em ambos os casos, “inteligência” está ligada ao processo
de tomada de decisão, como no texto a seguir publicado na revista Época1:
“A causa próxima é a absoluta incompetência. Faltam investigação, inteligência,
interesse. Há desvios de função e corrupção”.
Entretanto, ao me referir à inteligência ao longo desse texto, procurei me
ater ao conjunto de organizações governamentais que compõem a “comunidade de
inteligência” ou os “serviços de inteligência”. Desse modo, a atividade de inteligência é
o que eles fazem e o conhecimento de inteligência o que eles produzem.
1 OLIVEIRA, Antônio Cláudio Mariz de. Descaso e incompetência. Época, São Paulo, n.418, p.54, mai.
2006.
106 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
Os Registros Policiais
Usualmente os conceitos de criminalidade e violência são empregados como sinônimos
no discurso público sobre o tema, mas cabe esclarecer que se tratam de dois conceitos
distintos. Nem todas as condutas classificadas por uma determinada sociedade como
crimes são necessariamente violentas. Por outro lado, diversas violências são toleradas
socialmente sem que sejam entendidas como crimes. A fonte básica para as pesquisas
sobre criminalidade são os registros policiais. No Brasil, esses registros podem ter
várias origens, pois coexistem diversas organizações que atuam na área da segurança
pública.
A população usualmente aciona a Polícia Militar em situações consideradas de
risco individual ou coletivo, geralmente consideradas urgentes e de certa gravidade.
O sistema de atendimento de chamadas de urgência, conhecido popularmente
através do telefone “190”, recebe milhares de ligações diárias e se constitui numa das
principais interfaces entre a polícia e o público. O policial militar se depara com uma
grande quantidade de demandas da população, que variam de elementos suspeitos
a ações de grupos armados. Essa diversidade de intervenções da Polícia Militar cobre
não somente aquilo que se classifica por crime, mas tudo aquilo que, no entender do
cidadão, viola a ordem e a tranqüilidade públicas. O policial militar realiza registros
de suas intervenções e, desta forma, temos a primeira visão parcial das questões de
2 Para uma análise mais aprofundada da questão consultar “Cidadania e controle democrático do
acesso aos documentos sigilosos”. Palestra proferida por Alberto Nogueira Jr, no CPDOC, dia 07 de
abril de 2004. Disponível no site da FGV.
108 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
criminalidade e violência, bem como de questões difusas que constituem grande parte
das atividades e do tempo empenhado pelos policiais nos seus serviços.
Com base no Código de Processo Penal, a Polícia Civil é a encarregada de
registrar e de investigar os fatos entendidos como crimes, após a apreciação da
autoridade policial. Suas ações visam esclarecer a materialidade e a autoria dos delitos
para apresentação à Justiça. Essa competência acaba tornando os registros da Polícia
Civil a fonte primária dos pesquisadores e gestores de políticas públicas voltados para
o controle da criminalidade. A sistematização da coleta e armazenamento dos dados
permite organizar os eventos em categorias baseadas na legislação penal. Existem
outras fontes que registram crimes e seus resultados, como as organizações policiais
federais e os serviços de estatísticas de outras secretarias estaduais, como o registro
dos óbitos pela área de saúde.
Um dos primeiros passos para a compreensão dos fenômenos associados
à criminalidade é o estabelecimento de uma metodologia consistente de coleta,
classificação e disseminação de informações. Há algumas características julgadas
essenciais a uma metodologia consistente para tratar dos dados de criminalidade, são
elas: a constância do modelo de classificação, permitindo, assim, o estabelecimento
de análises temporais; a publicidade dos dados e uma regularidade de produção e
divulgação dos dados.
A questão das estatísticas na área de segurança pública também é abordada
por Lima: “Trata-se da origem da demanda por informações que, conforme demonstra
Senra (2000), vai ter impacto direto na sintonia dos tempos da demanda e da oferta
de dados, na medida em que podem comportar interpretações diversas do sentido e
do papel das estatísticas. Em outras palavras, é possível pensar as estatísticas, no caso,
como resultados de demandas externas, como algo que não nasceu, aparentemente,
da lógica organizacional das instituições de justiça criminal e, por conseguinte, exige
que seja incorporada e legitimada pelas organizações de justiça criminal”.
O Estado do Rio de Janeiro criou em 1999, um núcleo de pesquisa que objetivava
implantar uma metodologia de tratamento de dados da criminalidade, visando
subsidiar políticas públicas nessa área. Esse núcleo (Núcleo de Pesquisa em Justiça
Criminal e Segurança Pública – NUPESP) hoje faz parte do Instituto de Segurança
Pública (ISP). O Instituto desenvolve ainda diversos outros produtos para os gestores
da área de segurança, como os Boletins das Áreas Integradas de Segurança Pública e o
Monitoramento Mensal. Uma das características relevantes é que os registros de todas
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 109
todo o Rio de Janeiro. Esse regulamento possui alguns dispositivos muito importantes,
como, por exemplo, a obrigatoriedade de divulgar os dados estatísticos da AISP no
início de cada reunião. Outros pontos essenciais são: o aumento da flexibilidade
nos limites geográficos dos Conselhos Comunitários, podendo assim atender a
muitas conformações de associação da sociedade civil e, também, a composição
dos Conselhos com membros natos (representantes das organizações policiais) e
eleitos (representantes da sociedade civil), ficando a presidência do Conselho sob a
responsabilidade de um membro eleito.
da comunidade (art. 17, inciso III). Neste artigo, que trata da dinâmica da reunião, há
um tempo reservado para a apresentação dos dados estatísticos do mês anterior (art
33, inciso IV), e o parágrafo 5º desse artigo explica que, “na apresentação dos dados
estatísticos serão abordados obrigatoriamente os itens publicados pela SESP, em Diário
Oficial, referentes ao mês mais recente”. O parágrafo 6º autoriza os membros natos a
“produzir informações quantitativas próprias no intuito de esclarecer fatos específicos
relacionados à área em questão”.
São dois os grandes problemas a serem resolvidos. O primeiro está relacionado
ao formato dos dados que serão disponibilizados aos conselhos e aos recursos
necessários para o envio desses dados. Entendo que a simples divulgação da variação da
quantidade de registros das modalidades criminosas publicadas no Diário Oficial pode
ser insuficiente para um acompanhamento da efetividade das ações adotadas pelas
polícias. A outra questão diz respeito ao limite de autonomia das unidades policiais,
pois, sendo instituições estaduais elas estão sujeitas ao estado geral de tranqüilidade
das outras AISP. Assim, mesmo após terem sido definidas as prioridades para uma área
específica, pode haver necessidade de realocar recursos temporariamente em outro
ponto do estado, em virtude de eventos, programados ou não. Dessa forma, há um
certo limite para a execução das ações planejadas, tornando ainda mais importante o
estabelecimento de prioridades e o acompanhamento das ações.
Outra característica do regulamento que gostaria de destacar é o fortalecimento
da transparência nas relações da polícia com a comunidade, em conformidade com os
preceitos constitucionais. Alguns países, como Portugal, Brasil e Espanha consagram
nas suas Cartas Magnas o direito à informação como um direito fundamental3. Desta
forma, os representantes das polícias ficam obrigados a oferecer quaisquer explicações
solicitadas pelo CCS sobre o serviço policial, admitindo-se invocar sigilo sobre as
informações reservadas que a legislação assim classificar (art. 17, inciso XIII). Mas a
preocupação com a transparência não se restringe aos policiais que participam das
3 CF/88, art. 5º, IX – “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”; XIV – “é assegurado a todos o direito à informação e
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”; XXXIII – “todos têm
direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo
ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”; XXXIV – “são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas: ...b) a obtenção de certidões em repartições públicas,
para defesa dos direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal”; art. 37, parágrafo 3o –
“A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração pública direta e indireta,
regulando especialmente: ...II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações
sobre atos de governo, observado o disposto no art. 5o, X e XXXIII”
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 113
reuniões. Aos superiores hierárquicos imediatos dos membros natos cabe exigir que
prestem contas à comunidade em relação às medidas que estão sendo adotadas para
a melhoria da segurança pública local (art. 39, inciso III). A questão da transparência
proposta através da resolução esbarra na questão tratada inicialmente sobre a lógica
do segredo. Contudo, as organizações policiais estaduais têm dado passos firmes na
direção de tornar públicos os seus dados.
Cabe destacar que o mesmo comportamento não ocorre, por exemplo, nas
organizações policiais federais (Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal), onde há uma
certa “opacidade” em relação às suas ações, dificultando, assim, um acompanhamento
mais efetivo pela população.
Há previsão de apoio técnico do ISP para desenvolver duas ações específicas.
A primeira é no sentido de orientar a realização de pesquisas de opinião junto à
comunidade, que serão planejadas e coordenadas pelo Diretor Social e de Assuntos
Comunitários (art. 22, inciso VIII) e a segunda é o fornecimento de relatórios analíticos
para subsidiar as discussões sobre as incidências mensais da área (art. 33, § 5º).
As pesquisas de opinião previstas na resolução podem ajudar a difundir a idéia
de participação popular na área de segurança pública, além de servir de instrumento
para identificar as demandas de cada localidade, reduzindo assim a particularização
das demandas trazidas às reuniões pelos representantes da sociedade civil. Dessa
forma, podemos atingir o morador individualmente, ouvindo as suas opiniões e
compreendendo os seus problemas. O modelo de pesquisa de opinião pode variar de
acordo com os problemas locais e o Nupesp possui pessoal capacitado para formatar
a pesquisa e orientar a sua tabulação e análise.
Em relação aos relatórios analíticos, devido ao esforço necessário para a sua
confecção e a necessidade de comparar resultados em prazos mais longos, considero
que tais relatórios devem ser confeccionados a cada seis meses e o seu formato deve
ser definido através de uma reunião específica envolvendo representantes do ISP, das
organizações policiais e dos presidentes dos Conselhos Comunitários de Segurança.
Conclusões
Em linhas gerais, podemos afirmar que a divulgação de dados através das
reuniões dos Conselhos Comunitários esbarra em diversas questões importantes. A
primeira delas é a lógica do segredo que ainda distancia a sociedade das organizações
114 | SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL
policiais. Desse modo, a interação entre elas se dá de forma complexa e com reservas
de ambos os lados. A outra questão relevante diz respeito à produção dos dados,
geralmente através dos registros das delegacias policiais. Esses dados possibilitam uma
visualização parcial dos crimes que afligem a sociedade, mas um conjunto imenso de
dados referentes aos acionamentos da polícia militar não é sistematizado. A análise
desse conjunto de informações poderia permitir o desenvolvimento de políticas
públicas em diversas áreas, contribuindo, assim, para adoção de medidas de prevenção
aos crimes e a melhoria da qualidade de vida da população.
Os dados disponíveis para a área de segurança pública devem ter um duplo
referencial: a sua disponibilidade e a sua usabilidade pelo público. Em relação à
disponibilidade temos encontrado iniciativas importantes nas polícias estaduais,
não havendo o mesmo esforço nas polícias federais. Já em relação ao uso, julgamos
importante o desenvolvimento de modelos distintos para os diversos públicos, como
os pesquisadores do tema, os gestores públicos das diversas áreas e os cidadãos em
geral.
Finalmente, apresentamos os Conselhos Comunitários de Segurança como
um instrumento que pode ajudar a transformar a lógica do segredo através da
cobrança sistemática de transparência das informações sobre as medidas adotadas
pelas organizações policiais. O processo de institucionalização desses conselhos pode
ser considerado um aprendizado social . Assim, as idéias de controle e definição de
prioridades poderão ser vistas como aliadas na melhoria e no aumento da efetividade
da ação policial.
SÉRIE ANÁLISE CRIMINAL | 115
Bibliografia
ANTUNES, Priscila Carlos Brandão. SNI & Abin: uma leitura da atuação dos serviços
secretos brasileiros ao longo do século XX. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
Paulo Augusto Souza Teixeira – Ten Cel da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro e Coordenador dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública no ISP -
teixeira@isp.rj.gov.br