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ESCOLA JUDICIÁRIA ELEITORAL PAULISTA

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DE SÃO PAULO

YANA PIVA

FICHAMENTO

6º Curso de Pós-Graduação – Direito Eleitoral e Processual Eleitoral


Módulo I – Direito Constitucional Eleitoral e Político
Disciplina B – Direito Eleitoral Constitucional
Tema 05 – Imunidade parlamentar e perda de cargo de parlamentares
Palestrante: Dr. Elival da Silva Ramos

Seminário: 19/05/2021 Palestra: 24/05/2021

FICHAMENTO

O mandato parlamentar afirma-se como um dos instrumentos pelos quais a cidadania se


expressa e a soberania popular manifesta-se na democracia representativa. É conferido por eleição popular,
para prazo determinado, dentro do qual por princípio seu titular detém prerrogativas constitucionalmente
reconhecidas. Tais prerrogativas objetivam o exercício autônomo e pleno do mandato. São mecanismos
que asseguram a cada membro do Parlamento as condições para o exercício de suas funções típicas sem a
ingerência de outros Poderes. E, ao fim e ao cabo, afirmar a separação dos Poderes e a própria
representatividade democrática.

Com base nesse pressuposto, evidencia-se que a perda do mandato é medida excepcional,
ocorrendo somente nos estritos termos previstos pela CRFB. Na temática da perda de mandato, conforme o
faz a doutrina, duas formas são estabelecidas: a cassação e a extinção.

Enquanto aquela ocorre nas hipóteses em que o parlamentar comete falta funcional cuja sanção
é a própria cassação, esta decorre de uma circunstância que torna a investidura no cargo inexistente – v.g.,
a morte, a renúncia, a ausência às sessões legislativas.

Nos casos de cassação, a perda do mandato é decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo
Senado Federal; nos casos de perda do mandato, “a decisão é meramente declaratória, porque visa,
apenas, reconhecer uma situação óbvia que pereceu por algum dos motivos constitucionalmente
previstos” (BULOS, 2007, p. 790).
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Rua Francisca Miquelina, 123 – Prédio Brigadeiro - 1º andar – sala 103
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Além do disposto em seu inciso I, o art. 55 prevê outras hipóteses de perda do mandato: falta de
decoro, ausência a mais de 1/3 das sessões ordinárias, perda ou suspensão dos direitos políticos, quando a
Justiça Eleitoral decretar ou sofrer condenação criminal em sentença penal transitada em julgado (BRASIL,
1988).

Veja-se cada uma dessas situações:


“1. Procedimento incompatível com o decoro parlamentar”: importa caracterizar, de modo
inicial, o que se entende pela expressão “decoro parlamentar”. Aqui está em causa uma noção de decência,
recato no comportamento – isto é, o parlamentar deve ter uma conduta eticamente compatível com as
exigências do cargo. Decerto, é um conceito aberto, determinável, a exigir a concretude do caso para a sua
perfeita adequação. Não por acaso, o ministro Paulo Brossard assim se manifestou sobre a expressão
decoro parlamentar:

“seu conceito é mais amplo e flexível; não tem a uniformidade dos fatos
padronizados, conceitualmente enunciados, como as figuras delituosas do Código
Penal; […] dizer que tal comportamento ofende ao decoro parlamentar é de
competência da Câmara competente, em juízo a que não falta uma dose de
discricionariedade, embora não seja puramente discricionário; conforme o caso
será mais ético que político, ou mais político do que ético, ainda que a
predominância de um dado sobre o outro será prevalência e não exclusão; há de
ser jurídico, sem ser exclusivamente jurídico” (BRASIL, 1993).

A despeito da vagueza conceitual, o próprio texto constitucional afirma que, além do definido
pelo regimento interno do Parlamento, o abuso das prerrogativas ou a percepção de vantagens indevidas
constituem quebra de decoro. Assim, a partir de um fato tido por indecoroso, atentatório à dignidade
parlamentar, por um ato de competência do Poder Legislativo, de natureza disciplinar, abre-se um processo
que pode levar à perda do mandato.

O Conselho de Ética e Decoro da Casa à qual o parlamentar acusado pertence é o órgão


encarregado desse processo. Registre-se que qualquer cidadão pode encaminhar uma representação à Mesa
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da Casa legislativa correspondente, que verificará a existência dos fatos e das provas, encaminhando-a – ou
não – ao Conselho de Ética, cujo presidente, designando relator, instaurará o processo.

Caso a representação seja feita por partido político, não há verificação pela Mesa, que
endereçará o pedido diretamente ao Conselho de Ética. Aberto o processo, serão garantidos ao parlamentar
todos os meios de defesa e o contraditório. Observado o devido processo legal, determina-se a sessão de
julgamento. De fato, quem julgará se houve ou não a quebra do decoro é o Plenário da Casa à qual pertence
o parlamentar processado, em sessão com voto aberto e por maioria absoluta, conforme a Emenda
Constitucional (EC) nº 76 (BRASIL, 2013), de 2013.

Em caso de condenação, além da perda do mandato, o parlamentar ficará inelegível por oito
anos após o término da legislatura. Há a possibilidade de o parlamentar renunciar, se estiver sendo
processado em situação que o leve à perda do mandato. Nessa hipótese, a renúncia terá seus efeitos
suspensos até as deliberações finais, conforme o art. 55, §§ 2o e 3o da CRFB e o Decreto Legislativo nº 16,
de 1994 (BRASIL, 1994).

A perda do mandato é penalidade disciplinar de natureza política e incumbe ao próprio Poder


Legislativo. Portanto, não é dado ao Judiciário, por respeito à separação dos Poderes, qualquer julgamento
sobre o mérito da decisão que implicar a perda do mandato por quebra de decoro parlamentar. É, pois,
matéria interna corporis.

2. “Ausência a mais de 1/3 das sessões ordinárias”: Aqui está uma causa de extinção do
mandato: num ato de natureza declaratória – e não constitutiva – a Mesa, verificada a ausência e
assegurada a ampla defesa, pronuncia a perda do mandato sem qualquer deliberação política.

3. “Perda ou suspensão dos direitos políticos ou quando a justiça eleitoral decretar”: Diante do
caso de perda ou de suspensão dos direitos políticos ou por decretação da justiça eleitoral, configura-se a
hipótese de extinção do mandato a ser declarada de ofício ou por provocação de qualquer de seus membros
ou partido político com representação no Congresso Nacional, pela Mesa da respectiva Casa. A título de
exemplo, citam-se os casos em que a Justiça Eleitoral decide sobre causas de inelegibilidade, impugnação
de mandato por abuso de poder econômico e quebra de fidelidade partidária.
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4. “Perda ou suspensão dos direitos políticos por sofrer condenação criminal em sentença penal
transitada em julgado”: Essa é uma hipótese de cassação de mandato, nos termos supramencionados. Na
análise dessa hipótese, impõe-se reconhecer os seguintes elementos normativos: o art. 55, inc. IV, dispõe
que perderá o mandato o parlamentar que tiver seus direitos políticos suspensos (BRASIL, 1988).

Desse modo, uma das causas de suspensão dos direitos políticos é a condenação criminal
transitada em julgado, conforme previsto no inc. VI do art. 55 da CRFB.

No caso de um deputado federal ou de um senador, em razão da prerrogativa de foro, essa


decisão será prolatada pelo STF. Sucede que o § 2º do art. 55 dispõe que, nos casos dos incisos I, II e VI
(respectivamente, infração às vedações do art. 54 da CRFB, quebra de decoro parlamentar e sanção penal
condenatória transitada em julgado), a perda do mandato será decidida pela Câmara ou pelo Senado, por
maioria absoluta, mediante provocação da Mesa ou de partido político (BRASIL, 1988).

Portanto, a questão controvertida é: transitada em julgado a condenação criminal, há a perda


automática do mandato parlamentar? Pela regra do inc. IV do art. 55, sim. Todavia, o § 2º do mesmo artigo
dispõe que a perda do mandato depende de um ato da Câmara dos Deputados ou do Senado. Logo, a
condenação criminal, mesmo que oriunda do STF, não acarretaria a perda automática do mandato.
Aparentemente, há incoerência entre as normas constitucionais.

Quanto a imunidade parlamentar, destaca-se que esta é compreendida como prerrogativa


necessária concedida para o exercício da função de representatividade do povo e para o fortalecimento do
poder legislativo.

O instituto da imunidade parlamentar não é criação o nosso ordenamento jurídico, ele foi
importado do ordenamento jurídico inglês e por lá se fortaleceu em 1688.

Na Constituição do Império em 1824, já existia o instituto da imunidade parlamentar que se


enfraqueceu durante o regime ditatorial.

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Muitos confundem imunidade parlamentar com privilégios, mas isso não é verdade, o privilégio
é dado a uma determinada pessoa e o instituto da imunidade parlamentar visa proteger a função, o cargo de
parlamentar para o bom desempenho de suas funções.

Esta “proteção” da imunidade parlamentar se dá no ato da diplomação do representante do povo.

O referido instituto não é renunciável visto que não se pode renunciar a aquilo que não lhe
pertence. Também não ampara o suplente visto que protege a função parlamentar.

Nesse sentido temos alguns tipos de imunidades: A imunidade material, absoluta ou


inviolabilidade.

Diz respeito ao caput do artigo 53 da CF: “Os deputados e senadores são invioláveis por suas
opiniões, palavras ou votos.”

Ocorre que por vezes o parlamentar se exaspera fiscalizando ou defendendo um projeto e nesse
sentido ele está protegido pelo instituto, portanto nesse caso o parlamentar não será processado pelos
crimes contra honra (injúria, calúnia e difamação) aqui o crime nem se consuma, sendo o entendimento da
doutrina que há uma exclusão da tipicidade penal. Ele também não será parte numa ação por danos
morais por exemplo, por conta da imunidade material que o protege.

Havemos de ressaltar que o parlamentar estará amparado pela imunidade parlamentar se o


assunto tratado tiver conexão com a atividade parlamentar, mesmo fora do recinto ao qual o parlamentar
está exercendo suas atividades, portanto ainda que numa entrevista ou ainda que esteja em férias, se a
conduta do parlamentar estiver conexa com a sua atividade de parlamentar, ele estará protegido.

A imunidade material ou absoluta atinge o vereador desde que na circunscrição em que ele foi
eleito e que por óbvio o assunto seja pertinente a sua atividade parlamentar.

A imunidade formal ou relativa trata da prisão do parlamentar e nesse sentido o parlamentar


somente poderá ser preso por crimes inafiançáveis (rol do artigo 5º da CF) e em caso de flagrante delito.

Numa eventual prisão, a autoridade policial lavrará um auto de prisão e encaminhará num prazo
de 24 horas para a casa legislativa ao qual o parlamentar pertence, se senador, o Senado Federal, se
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deputado, a câmara dos deputados. A casa decidirá pela manutenção da prisão do parlamentar. É o que
chamamos de juízo de admissibilidade.

Outra imunidade a ser destacada é a do § 6º do artigo 53 da CF onde se diz que o parlamentar


não será obrigado a testemunhar sobre informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do seu
mandato.

Também subsistirá a imunidade do parlamentar durante de defesa e estado de sítio conforme §8º
do artigo 53 da CF.

O Presidente da República faz parte do poder executivo e por essa razão deve fazer mais e falar
menos, por isso suas imunidades são diferentes, são 3 portanto:

O Presidente da República será preso somente após sentença penal condenatória com trânsito em
julgado; Será feito um juízo de admissibilidade feito pela câmara dos deputados tanto para crime comum
(quem julga é o STF) quanto para crime de responsabilidade (quem julga é o Senado Federal); O
Presidente da República não será responsabilizado por atos estranhos ao exercício das suas funções, no
exercício do seu mandato.

Dessas imunidades apenas o juízo de admissibilidade é extensível aos Governadores e essa


autorização é feita pela Assembléia Legislativa nesse caso.

Os prefeitos são regidos pelo decreto-lei nº201/67.

“São crimes de responsabilidade dos prefeitos municipal, sujeitos a julgamento do


Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da câmara dos
vereadores”.

O instituto da incompatibilidade tem caráter pós-eleitoral. O artigo 55 da CF trata da perda do


mandato, tal fato deve ser condicionado a decisão da casa legislativa respectiva que pode agir de ofício ou
mediante provocação.

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A perda ou suspensão dos direitos políticos se dá em hipóteses muito restritas, conforme artigo
15 da CF.

“É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos


casos de:
I- Cancelamento da naturalização por sentença transita em julgado,
II- Incapacidade civil absoluta,
III- Condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos,
IV- Recusa de cumprir obrigação todos imposta ou prestação alternativa, nos
termos do art 5º, VIII;
V- Improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.”

A destituição do parlamentar desfaz o vínculo de representação, mas não alcança os atos


praticados durante a sua vigência.

Ressalta-se que as imunidades dos parlamentares não são direitos absolutos, ainda que
fundamentais. Se justificam para o exercício da livre manifestação do pensamento e para o bom
desempenho do representante eleito, através do exercício pleno do sufrágio.

Entretanto qualquer excesso deve ser punido na forma da lei a fim de que seja mantido a lisura nas
eleições, a representatividade e o princípio democrático.

Bibliografia:

GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. São Paulo: Atlas, 2016.


RAMAYANA, Marcos. Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2016.
https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/54/216/ril_v54_n216_p67.pdf
https://jus.com.br/artigos/65520/imunidade-parlamentar-e-perda-do-mandato-parlamentar
https://www.conjur.com.br/dl/eduardo-fortunato-bim-cassacao-mandato.pdf

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