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DEPENDENTES QUÍMICOS E A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE

SOCIAL

RESUMO

É de clara concepção que o uso de substâncias psicoativas, desde o início da


humanidade, tem o objetivo de aprovisionar uma necessidade (física ou espiritual)
do ser humano. Infelizmente, com o passar dos anos, esse consumo passou a se
estruturar como um problema social, ao ponto que a sociedade precisou se
organizar para combater o uso abusivo do álcool e demais drogas, ilícitas ou não.
Tais substâncias são promessas de um anestésico para o mal-estar psíquico,
angústias que crescem diariamente no cotidiano da sociedade moderna, tornando
difícil seu combate efetivo. Infelizmente os usuários químicos e todas as demais
relações que os envolvem, ainda estão inseridos em uma visão altamente
marginalizada, colando o dependente químico na posição de criminoso. Na verdade
este DEPENDENTES
problema é mais uma QUÍMICOS E A ATUAÇÃO
das diversas expressões daDO ASSISTENTE
questão social, sendo
necessária a atuação do profissional SOCIAL
da área de Serviço Social, tanto na garantia
dos direitos dos envolvidos, quento dentro dos movimentos direcionados à
prevenção. Tal situação é alarmante e se faz necessário a conversa sobre o
assunto, justificado a necessidade desse tipo de estudo, o qual trata-se de uma
revisão bibliográfica de viés qualitativa e que tem como objetivos, de maneira geral,
mostrar a importância do Assistente Social frente as questões envolvendo
dependentes químicos e debater sobre a necessidade de políticas públicas que
possam agir frente essa expressão e de uma efetiva formação profissional. Para a
construção desse estudo foram utilizados informações descritivas provindas de
dados coletados em artigos publicados em revistas, anais de congressos e outras
bases digitais. As quais permitiram compreender os diversos aspectos sociais que
estão envoltos na temática, caracterizando-se como um problema de saúde pública,
devendo o poder público trabalhar em conjunto com a sociedade para não perder
essa batalha. Um processo impossível de ocorrer sem a interligação da rede e,
pontualmente, sem a atuação do Assistente Social, já que o mesmo através de um
processo formativo de qualidade é capaz de desenvolver habilidades que atinjam o
cerne do problema. Podendo concluir, então, o importante papel desse profissional e
da necessidade de um processo formativo de qualidade.

Palavras-chave: Serviço Social, Questão Social, Dependentes Químicos.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Imagem de uma versão árabe do século 13 do livro “Matéria


Médica”, de Dioscórides, em que o médico, farmacêutico e botânico da Grécia
antiga está com um discípulo segurando uma
mandrágora………………………………………………………………………..……….10
Figura 2 – Escultura feminina descoberta na ilha de Creta, chamada de “a
deusa da papoula”, devido aos ornamentos na cabeça — acredita-se se tratar
de uma deusa minoica………….……………....…..……………………………………10
Figura 3 – núncio de drops de cocaína contra dor de dente, 1885.
Imagem da US National Library of Medicine…………………………………………11
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................……..................…….………..................................….….1
2 CAPÍTULO 1 – A QUESTÃO SOCIAL E A CONSOLIDAÇÃO DO SERVIÇO
SOCIAL.………………………………………………..……………………….......….…....4
3 CAPÍTULO 2 – A UTILIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS………………7
4 CAPÍTULO 3 – SERVIÇO SOCIAL E A ATUAÇÃO FRENTE O USO DE
SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS………………...………………………………….……14
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS …….…………………...………...………………..….….18
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA….…………….………………....…………...……….21
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1. INTRODUÇÃO

O uso de substâncias psicoativas varia conforme a cultura e o tempo. As


drogas constituem uma situação de saúde coletiva que acompanha cada vez mais a
sociedade moderna. A Dependência Química é uma enfermidade crônica e com
caráter continuo progressivo que afeta todos os aspectos de um indivíduo, gerando
um ônus para a sociedade que é causadora e vítima dessa situação.
A atuação do Assistente Social deve ser direcionada através de arcabouços
éticos e teóricos que possibilitem uma prática profissional reflexiva, transformadora e
emancipatória. Promover tal intervenção é observar e considerar as configurações
da sociedade e das demandas expressas naquela realidade, que afligem a
sociedade moderna. Ao longo da História da humanidade, novas demandas foram
sendo percebidas, as então denominadas expressões da questão social, e
atualmente o uso abusivo de drogas, lícitas ou não, tem se constituído enquanto
uma expressão da questão social, sendo considerado um problema de saúde
pública.
O papel do Assistente Social estruturou-se na ação frente as questões sociais
e na promoção da seguridade das políticas destinadas aos vulnerabilizados pelas
sequelas e refrações do sistema. Em seu início o serviço social foi direcionado por
um projeto conservador, que reforçava os sociais, culturais e econômicos das
classes dominantes, mas com o passar dos anos sofreu grandes modificações e
emergiu como uma profissão direcionada ao tratamento dos problemas sociais em
todos os seus parâmetros. A atuação do assistente social na perspectiva da redução
de danos é de grande valia na transformação da realidade das vítimas das sequelas
da questão social, focando nesse trabalho nos dependentes químicos.
O ato de refletir sobre as políticas públicas voltadas aos usuários de álcool e
outras drogas caracteriza-se como uma situação de urgência, tendo em vista que
este problema avança sobre as populações vulneráveis, bem como causando
diversos impactos na sociedade, nas famílias e no indivíduos.
Frente ao apresentado, este projeto foi estruturado com o objetivo geral
demonstrar a importância da ação profissional do Assistente Social frente as
questões vinculadas a dependência química e a questões sociais envolvidas na
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temática. Além disso, tem como objetivos específicos: relatar a importância do papel
do Assistente Social frente a luta contra as questões sociais que envolvem os
dependentes químicos; evidenciar a importância da formação acadêmica para o real
trabalho frente a temática; e discorrer a respeito da necessidade de políticas
públicas que possam agir frente essa expressão da questão social que abala a
sociedade moderna.
Sabe-se que É alarmante o aumento e precocidade do consumo de
substâncias psicoativas, lícitas e ilícitas, na última década. A complexidade desse
fenômeno gera grandes desafios ao Poder Público, especialmente aos serviços de
saúde, assistência social, educação e segurança pública. O profissional da área de
Serviço Social está apto a trazer importantes contribuições no trabalho com a
temática, já que recebe dentro do seu processo formativo ferramentas praticas e
teóricas de como atuar frente as expressões da questão social, tendo o Projeto Ético
Político sempre como perspectiva.
Dentro da realidade de aumento excessivo do consumo abusivo de drogas é
de grande valia que se realize estudos que tragam a reflexão sobre a temática e
permitam traçar estratégias que direcionem ações que visem enfrentar tal situação
de vulnerabilidade e risco social, desencadeando por inúmeras situações, vivenciada
por essa grande parcela da sociedade, justificando assim a importância deste
trabalho.
O qual trata-se de uma revisão bibliográfica e deve ser caracterizado como
tendo viés qualitativo (BOGDAN, BIKLEN, 1994), de maneira a levar em conta as
relações complexas existentes entre o tema central do projeto e os indivíduos que
participarão da pesquisa. Diferentemente da pesquisa quantitativa, que converte as
observações em números, a qualitativa considera as interações complexas entre o
investigador e o sujeito/objeto investigado (GODOY, 1995).
Para construir a argumentação foram utilizados informações descritivas de
maneira que se torne possível entender o que está sendo estudado (GODOY, 1995)
e olhar de forma detalhada os dados coletados. Os dados foram coletados em textos
e artigos publicados em revistas, anais de congressos principalmente em bases
digitais como Google Acadêmico e Scielo, além de consultar documentos oficiais,
livros e sites que reflitam sobre a temática escolhida. As palavras-chave utilizadas
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de forma isolada ou combinada para a pesquisa será: políticas públicas, questão


social, drogas, dependentes químicos, Assistente Social, ação profissional.
Vale ressaltar que autores como: Uzeda, R. L.; Woerner, C. B.; Renault, A. C.
N.; Baracho, L. A. N.; Almeida, V. L. foram escolhidos para compor o referencial
teórico deste trabalho, por apresentarem posicionamentos de grande valia às
pesquisas vinculadas às questões sociais envolvendo dependentes químicos.
Após a coleta e consolidação das informações, ocorreu a fase de análise,
momento que Bardin (1995, apud BELEI et al., 2008) intitula como “Análise de
Conteúdo”, consistindo em uma leitura crítica e detalhada do material coletado,
identificando fatos e palavras que auxiliem na construção e na formulação da
pesquisa como um todo.
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2. CAPÍTULO 1 – A QUESTÃO SOCIAL E A CONSOLIDAÇÃO DO SERVIÇO


SOCIAL.

De acordo com Behring (2009), no final do século XIX e início do século XX


as bases que sustentavam as teorias liberais enfraqueceram, resultado de
processos político-econômicos, como por exemplo o crescimento do movimento
operário o qual passou a se destacar também em espaços políticos importantes,
obrigando a burguesia a reconhecer os direitos sociais e políticos cada vez mais
amplos para esses segmentos, e o a concentração e monopolização do capital
desestabilizando as concepções liberais utópicas (BEHRING, 2009).
Na última metade do século XIX o capitalismo sofreu grandes modificações
econômicas e estruturais, período este marcado pelo aparecimento do capitalismo
monopolista em consonância com o surgimento do fenômeno imperialista, trazendo
posicionamentos que mantiveram as politicas neocolonialistas, consolidando as
contradições elementares entre a socialização da produção e a apropriação privada
(NETTO, 2005).
Com a chegada do século XX, o futuro do capitalismo tornou-se incerto,
principalmente depois da Primeira Grande Guerra, a qual encerrou o momento de
paz entre as grandes potências e abalou as antigas relações econômicas. Com o
impacto da Grande Depressão as concepções liberais foram abaladas e os
pressupostos que o liberalismo econômico traria a tão esperada seguridade caiu por
terra. Ao final da Segunda Guerra Mundial iniciou-se o chamado “anos dourados do
capitalismo”, pois, mediante as alterações realizadas no sistema econômico, os
países industrializados e aqueles em processo de industrialização passaram por um
enorme crescimento de capital (BEHRING, 2009; PRONI, 1997).
Foi neste ponto que os mecanismos de proteção social surgiram,
principalmente, na Europa, na tentativa de harmonizar as relações entre o trabalho e
o capital (PRONI, 1997). Mas nem tudo foram flores nos anos dourados do
capitalismo. Estudiosos começaram a chamar atenção para o crescente abismo que
cada vez mais se formava entre os países ricos e pobres, além da deterioração do
meio ambiente, os riscos do armamento exacerbado e as tendências inflacionarias
que aos poucos cresciam (PRONI, 1997). As desigualdades pautadas nestes
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problemas foram entendidas como “questões sociais”, estando indissociáveis da


sociabilidade capitalista (BARISON, 2014). Nas palavras de Lima e seus
colaboradores (2009, p.10):
A questão social é um conjunto das expressões das
desigualdades sociais engendradas na sociedade
capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do
Estado, que este, por ora, é provocado por uma tensão
de conflitos pelas classes subalternas a implantar
direitos civis, sociais e políticos e aos direitos humanos.

No final do século XX, pós Segunda Guerra Mundial, um conjunto de políticas


públicas foram estruturadas, visando à seguridade social e o exercício da plena
cidadania, uma modalidade estatal que equilibrava o social e o empresarial, esse foi
o Welfare State, “Estado do Bem-Estar” (PRONI, 1997, BEHRING, 2010), que visava
a formação de um Estado com uma ampla rede de serviços sociais, baseado nos
princípios de busca do pleno emprego e o desenvolvimento acelerado através do
investimento do Estado em combinação com o setor privado (VIEIRA, 2001 apud
BECKER, 2014). O Estado de Bem-Estar Social demonstrou que era possível
proporcionar melhorias à população, promovendo uma sociedade mais igualitária
através de políticas públicas sociais (GOMES, 2006; BECKER, 2014; PIANA, 2009).
A política social, na verdade, já havia emergido em meio às mobilizações
operarias no século XIX frente aos problemas oriundos do sistema capitalista, sendo
constituídas como forma de intervenção da expressão da “questão social”, as quais
são resultados de um modo de vida e da reprodução da classe capitalista. Tais
politicas devem ser vistas de uma maneira multifacetada, integrada na totalidade da
sociedade e definida dentro de conceitos científicos, éticos e civis (SENNE, 2017).
Deitos (2010 apud BECKER, 2014) afirma que:
as políticas sociais compreendem um conjunto de
necessidades sociais e políticas estabelecidas
socialmente numa determinada sociedade, como
resultado e expressão da forma social de reprodução das
condições materiais da existência. As políticas sociais se
apresentam como o resultado da constante disputa entre
as classes, pois a política social nada mais é do que uma
parte da síntese possível das tensões e disputas
econômicas, sociais e políticas, e, portanto, das
contradições que geram (p.08).

Para organizar, priorizar e sustenta as políticas sociais, a partir da década de


90, foram utilizados os chamados “indicadores sociais”, os quais tornaram-se nos
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dias atuais extremamente necessários para a implantação, monitoramento e


avaliação das atividades públicas. São classificados como ferramentas aptas a
identificar as prioridades de uma administração, já que são expressos
estatisticamente, transformando as dimensões sociais em termos operacionais
(SAMPAIO, KEMKAMP, 2014).
A estrutura dessas politicas sociais foi associada ideologicamente ao processo
de reconhecimento das questões sociais pela burguesia. Tais politicas representam
uma alternativa às necessidades básicas que acabam não sendo supridas na
sociedade capitalista, ações estas provindas do Estado pensando em amenizar as
relações sociais resultantes no mundo da produção (BEHRING, 2010). BEHRING e
BOSCHETTI (2011 p.51 apud MEDEIROS, 2013) afirmam que:
As políticas sociais e a formatação de padrões de
proteção social são desdobramentos e até mesmo
respostas e formas de enfrentamento – e, em geral,
setorizadas e fragmentadas – às expressões
multifacetadas da questão social no capitalismo, cujo
fundamento se encontra nas relações de exploração do
capital sobre o trabalho.

Mesmo o “Welfare State” tendo sido formulado para suprir as carências sociais
da sociedade, de acordo com Piana (2009), nos países mais pobres esse Estado de
Bem-Estar nunca ocorreu completamente. Devido ao alto nível de desigualdade
entre as classes, as políticas sociais não apresentaram um acesso universal à
população. Nestes países, o qual inclui-se o Brasil, essas políticas assumiram um
formato categórico, já que o seu acesso foi restrito a categorias específicas da
população.
Nesse contexto histórico-social emerge o Serviço Social, uma profissão
iniciada por organizações filantrópicas e cuja consolidação ocorre através da gradual
incorporação de teorias científicas e no afinamento de um instrumental operário de
natureza técnica (NETTO, 2005). No início da profissão, o serviço social foi
direcionado por um projeto conservador, que reforçava os mecanismos do poder
econômico, político e ideológico no sentido de subordinar a população trabalhadora
às diretrizes das classes dominantes. Tal profissão nasceu da luta entre Estado e
Sociedade, na tentativa de atuar sobre a questão social gerada através do sistema
capitalista, passando, posteriormente, por uma reforma metodológica entre as
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décadas de 80 e 90 (LIMA, 2009).


Na medida que avançou, relacionando-se com outras estruturas sociais,
emergiu como uma profissão direcionada ao tratamento dos problemas sociais em
todos os seus parâmetros, legitimando-se como mediadora e organizadora das
políticas sócias, estando sob os auspícios do capitalismo monopolista, mas tendo a
oportunidade de agir nas classes e suas frações, atuando nas refrações da questão
social, ou seja, essa profissão é marcada e tensionada por uma dupla dinâmica: a
que decorre do confronto entre os protagonistas sócio-históricos da ordem
monopólica e a que instaura quando ocorre sua instrumentalização dando corpo a
alternativas de intervenção social (NETTO, 2005).

3. CAPÍTULO 2 – A UTILIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS

A utilização de substâncias psicoativas é tão antiga quanto a própria história


da humanidade (Figura 1 e 2), a diferença é que tais drogas não eram utilizadas com
a mesma finalidade dos dias atuais, estando mais restrito seu uso em rituais
religiosos, com o objetivo de suportar a fome, o cansaço e também com a finalidade
terapêutica. As referências ao consumo de drogas na Antiguidade são escassas e
isoladas, mas abe-se, no entanto, da existência de um comércio internacional de
substâncias psicoativas desde 1000 a.C. (MATYSZAK, 2019).
Salles (2015) afirma que foram encontradas estátuas egípcias, datadas de
2500 a.C., mostrando homens fabricando cerveja. Uma pesquisa mais profunda
encontrou registros datados de 8000 anos a.C. do consumo da folha de coca; de
5700 a.C. do consumo de ópio na região onde hoje é a Itália; e de 10000 a.C. do
consumo da maconha na ilha de Taiwan.
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Figura 1 – Imagem de uma versão árabe do século 13 do livro “Matéria


Médica”, de Dioscórides, em que o médico, farmacêutico e botânico da Grécia
antiga está com um discípulo segurando uma mandrágora.

Fonte: MATYSZAK (2019).

Figura 2 – Escultura feminina descoberta na ilha de Creta, chamada de “a


deusa da papoula”, devido aos ornamentos na cabeça — acredita-se se tratar
de uma deusa minoica

Fonte: MATYSZAK (2019).


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Trazendo a debate o processo histórico da utilização de drogas pela


humanidade, em 1805 Antoine Lavoisier já havia desenvolvido a capacidade de
fracionar compostos orgânicos, extraindo pela primeira vez o princípio ativo de uma
planta, o ópio. A descoberta incentivou outros cientistas e após o ópio, a grande
descoberta foi o princípio da folha de coca, a cocaína, e, por seus efeitos
estimulantes, o seu consumo rapidamente se espalhou pela Europa (SALLES,
2015). Matyszak (2019) afirma que na metade do séc. XVIII, ocorreu um crescimento
considerável no consumo do ópio, por seu efeito analgésico, e da cocaína (Figura 3)
nos Estados Unidos, por ponta da Guerra Civil norte-americana, sendo a morfina e a
heroína sintetizadas no século seguinte para uso farmacológicos.

Figura 3 – Anúncio de drops de cocaína contra dor de dente, 1885.


Imagem da US National Library of Medicine.

Fonte: DEDERICH (2020)


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Com o advento da revolução industrial, o álcool passa a ser usado em


grande quantidade pelos operários no sentido de amenizar o sofrimento causado
pelas péssimas condições de trabalho e de vida da época. A partir desse ponto a
sociedade passou a se organizar no combate ao uso abusivo de álcool e outras
drogas, sendo fundado o “Alcoólicos Anônimos”, em Akron /Ohio, em 1935. Nos
EUA o século XX ficou marcado pelo surgimento da “Lei Seca”, com o objetivo de
retrair a crise social e econômica que se encontrava o país, mas tal ação moralista
em nada adiantou (DIEHL, 2011).
A dependência química passa, a partir desse ponto, a ser reconhecida como
um problema social, principalmente na década de 1980, com o surgimento da AIDS,
a qual foi associada ao uso de drogas injetáveis. As instituições mundiais de saúde
promovem ações voltadas para amenização do problema. Dá-se o surgimento de
um movimento de redução de danos, como a distribuição de agulhas e seringas e
criação de espaços para uso e comercialização de drogas consideradas mais “leves”
(UZEDA, 2018).
Já na década de 1990, inicia-se a utilização do crack, o qual se trata de um
derivado mais barato da cocaína. O uso dessa droga logo tomou uma proporção
assustadora em todo o mundo, principalmente pelo fato de ser uma substância que
cria dependência muito mais rápido que as demais (DIEHL, 2011; UZEDA, 2018).
No Brasil, o uso do álcool, ao longo dos anos tem sido o principal foco de
combate dos órgão públicos. Para solucionar ou amenizar o problema o país adotou
em 2008 a conhecida “Lei seca” (Lei 11.705), com intuito de diminuir o consumo de
álcool (UZEDA, 2018). É de fácil observação que o consumo de drogas lícitas e
ilícitas no Brasil é cada vez maior e mais difundido em meio a sociedade moderna.
Infelizmente o contato com tais substâncias vem ocorrendo cada vez mais cedo,
uma realidade percebida principalmente nas grandes metrópoles, aonde percebe-se
mais escancaradamente as ações geradas frente as expressões da questão social.
Mas é importante compreender que as drogas estão presentes em
praticamente todos os meios sociais e há muito tempo deixou de ser sinônimo de
vulnerabilidade financeira/social, pois atinge hoje todas as classes da sociedade,
formalizando-se como uma questão global que tem crescido e desencadeado
inúmeros problemas de ordem social, os quais atingem toda a sociedade direta e
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indiretamente, e principalmente as famílias mais vulneráveis (BARACHO, 2018).


Infelizmente o consumo de álcool e demais drogas está envolto pela
sociedade por um certo glamour, o qual as coloca em um patamar de relação com a
jovialidade, o poder, a sedução, etc. Tal posicionamento, acaba incentivando o uso
exacerbado de tais substâncias, principalmente com a desculpa de não ser
submetido a regras que sessem o acesso aos prazeres (BARACHO, 2018).
Gonçalves (2003 apud BARACHO, 2018) afirma que o ato de drogar-se constitui a
promessa de um prazer absoluto e a possibilidade de evitar o mal-estar, fazendo
com que a droga ocupe o posto mais poderoso de todos os objetos de consumo.
Consumo esse que, dentro dessa realidade apresentada, possibilita:
o afastamento do mal-estar e promete um encontro com
a felicidade, que constitui a demanda de todo ser
humano. Assim, a evitação do sofrimento e a busca de
felicidade são cartas oferecidas ao sujeito pela ordem
capitalista, que impõe a obrigação do gozo, tendo a
droga como seu objeto por excelência (IBIDEM, 2003
apud BARACHO, 2018, p.06).

Quando se reflete sobre a relação da droga no dia a dia da sociedade


moderna, principalmente a buscar força, vigor, força, juventude e até mesmo um
corpo perfeito, é possível correlacionar esse o quanto cada vez mais indivíduos
estão buscando o sonho do prazer e da conquista instantânea, um sentimento de
prazer imediato e permanente de “curtição” da vida. De acordo com Frazão (2016),
normalmente, o uso de drogas inicia-se na adolescência como consequência de
vários fatores dentre eles:
 Pertencimento: necessidade de fazer parte de determinado grupo, geralmente
na escola ou no bairro onde residem, e, para isso, podem até experimentar e
fazer uso contínuo de drogas;
 Influência: quando é motivado por algum membro da família ou outra pessoa
próxima que é usuária, ou quando o indivíduo vive em um meio facilitador;
 Fatores de ordem emocional: pode ser provocado pela necessidade de fugir
da realidade ou dificuldade de adequação no mundo em que vive;
 Uso casual ou recreativo: começam a usar em festas e com amigos,
casualmente sem se dar conta de que usam com frequência.
Baracho (2018) sita Freud (1930) ao falar sobre este ponto, trazendo a
elucidação de que a intoxicação química seria um meio eficaz de produção imediata
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de prazer, proporcionando também aos homens um afastamento da realidade, que


possibilita suportar o sofrimento derivado da própria civilização, ou seja, a utilização
de drogas não pode ser analisada como um fenômeno isolado, devendo ser
considerada um aspecto específico de um conjunto mais abrangente de
comportamentos sociais caracterizados por um imaginário fortemente individualista.
O uso de drogas é um problema social e cada vez mais complexo pelo
crescente uso observado na sociedade. Essa condição foi denominado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1964, como Dependência Química. A
Classificação Internacional de Doenças, a define como transtornos mentais e de
comportamentos decorrentes do uso de substâncias psicoativas (WOERNER, 2015).
Segunda essa visão, a Dependência Química não deve ser encarado como
um hábito, um vício ou um sintoma de transtorno da personalidade, esta deve ser
encarada como uma enfermidade primaria crônica, progressiva e de terminação fatal
que afeta todos os aspectos da pessoa: físico, mental, emocional, espiritual e social
requerendo uma abordagem que integre e intervenha em todos estes elementos em
um tratamento global (OMS, 2013, apud UZEDA, 2018).
As medidas de prevenção do uso abusivo de drogas precisam ser encaradas
como estratégias que visam planejar, implantar e implementar objetivos voltados
para a redução dos fatores de vulnerabilidade e risco específicos, além do
fortalecimento dos fatores de proteção. Tendo a participação e atenção de todos os
segmentos sociais disponíveis, buscando atuar dentro de suas competências, para
facilitar processos que levem à diminuição da iniciação no consumo, do aumento e
das consequências do uso em padrões de maior acometimento de drogas. Para
tanto, a lógica da redução de danos deve ser considerada como estratégica ao
planejamento de propostas e ações preventivas (BRASIL, 2004 apud UZEDA, 2018).
De acordo com dados da ONU, atualmente cerca de 5% da população
mundial entre 15 e 64 anos usa drogas ilícitas, uma realidade que vem a cada ano
aumentando proporcionalmente com o crescimento da população. No Brasil, devido
ao número alarmante de dependentes químicos, desde 1985, foi elaborado um
Plano Nacional sobre Drogas, que visava orientar e levar a sociedade a um
conhecimento conceitual, teórico e prático, mais amplo a respeito da prevenção e da
dependência química.
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Desde 2008 uma luta contra o uso abusivo de álcool e tabaco foi lançada
pelo Governo Federal, influenciando positivamente o número de morte causado no
trânsito por uso indevido de álcool e de doenças vinculadas ao tabagismo.
Atualmente o Governo Federal, em parceira com o setor público e privado, se
esforça para implantar uma rede pública de serviços de assistência em saúde
mental, tratamento do alcoolismo e outras dependências de drogas com o objetivo
de oferecer o tratamento adequado para a recuperação e reinserção na sociedade
(ALMEIDA, 2019).
De acordo com Laranjeira (2013), inclusive o aumento da violência no Brasil
se deve, consideravelmente, à evolução do uso de drogas, principalmente o álcool.
A própria Organização Mundial da Saúde já apontou que no
Brasil o consumo de bebidas alcoólicas é responsável por
cerca de 8% de todas as doenças existentes. Na violência
entre casais, o álcool está presente em mais de 45% dos
casos. Cerca de 50.000 mortes ocorrem no trânsito, todos os
anos no Brasil, e pelo menos metade dessas mortes são
devidos ao consumo de álcool entre os adolescentes o álcool é
a principal droga de abuso, com 1 em cada 7 adolescentes
(16%) tendo episódios regulares de excesso de consumo.
Cerca de 1% da população brasileira faz algum consumo de
cocaína, e aparentemente metade desse consumo é na forma
de crack (LARANJEIRA, 2013, s/p).

Baracho (2018) afirma que a sociedade, infelizmente, ainda marginaliza


muito este assunto, colando o dependente químico como um criminoso, que em
nada se difere de um assaltante, traficante ou assassino. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (2013 apud CRESS-MG, 2013):
A Dependência Química não é um hábito, nem um vício, nem
um sintoma de transtorno da personalidade; é uma enfermidade
primaria crônica, progressiva e de terminação fatal que afeta
todos os aspectos da pessoa: físico, mental, emocional,
espiritual e social requerendo uma abordagem que integre e
intervenha em todos estes elementos em um tratamento global
(s/p).

A dependência não é encarada como uma doença (físico-social) que precisa


ser tratada para evitar graves problemas. A dependência química causa problemas
que atingem não só a família do usuário, mas também a sociedade como um todo,
sendo assim o Serviço Social deve moldar intervenções dentro desse contexto
visando ações que eliminem ou diminuam as consequências dessa situação.
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CAPÍTULO 3 – SERVIÇO SOCIAL E A ATUAÇÃO FRENTE O USO DE


SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS.

A sociedade capitalista é berço das expressões da questão social, já que as


desigualdades sociais geram violência, pobreza, criminalidade, e muitas outras
situações de vulnerabilidade à população. O Assistente Social é convocado, então, a
agir nesse meio, contribuindo para que os indivíduos alcancem seus direitos. Seu
objetivo central é articular em meio às contradições na luta pelos direitos para que
os indivíduos consigam viver com dignidade, transformando a sociedade a partir da
intervenção nas expressões da questão social, as quais se enquadram como
matéria prima ou o objeto de trabalho profissional (BARACHO, 2018).
As medidas de combate às drogas pelas políticas nacionais têm se
organizado com o enfoque no tratamento para a reinserção do dependente químico
na sociedade. Por esse motivo, este profissional desempenha papel importante na
sociedade, pela capacidade de enxergar a realidade social, profunda e amplamente,
e a partir disso, matizar as possibilidades de intervenção (UZEDA, 2018).
Neste cenário, o agir do Assistente Social, está atrelado às políticas
públicas, que abarcam toda a família e a comunidade mais próxima ao usuário,
devendo focar na quebra de barreiras e de preconceitos e agir de forma
multidisciplinar para ampliar seu conhecimento acerca do assunto e garantir a
eficácia do trabalho, principalmente, se possível, de caráter preventivo (UZEDA,
2018).
O Assistente Social, ao entrar em contato com os problemas desencadeados
pela dependência química, precisa utilizar de seus arcabouços éticos e teóricos para
promovera inclusão social dos usuários de drogas, através da adoção de uma
abordagem de atenção integral estimulando a qualidade de vida e o exercício pleno
da cidadania, disponibilizando informação e orientação, acolhimento e apoio
(BARACHO, 2018). Santos e Freitas (2012) trazem o seguinte posicionamento:
Considerando que o Serviço Social tem nas políticas públicas
um espaço privilegiado para o exercício profissional, as ações
da Política Nacional sobre Drogas podem configurar-se como
possibilidades de trabalho efetivo na defesa de direitos e
principalmente como partícipe nesse conjugar de esforços com
vistas à prevenção ao uso de drogas (p. 02).
15

Pensando por esse viés, o assistente social exerce papel importante na


consolidação de mudanças significativas na vida dos indivíduos, principalmente
aqueles em vulnerabilidade. Silva (2007 apud UZEDA, 2018) afirma que este
profissional é aquele que pode contribuir com a transformação societária em suas
diversas dimensões, construindo respostas aos desafios e às demandas do contexto
adverso, buscando instrumentos que sejam efetivos no processo de trabalho e na
consolidação da cidadania.
Sendo assim, é justo afirmar que toda esta atuação, voltada para garantia
dos direitos, para a melhoraria da qualidade de vida e da proteção social, pode ser
entendida como um intento importante na tentativa de diminuir a criminalidade, a
violência, a miséria e, consequentemente, o uso de drogas; ações essas, que
podem partir de qualquer política pública (UZEDA, 2018). É imprescindível salientar
que a garantia desses direitos, dentro de uma realidade criada pelo capitalismo,
exige a figura de um profissional que consiga realizar as articulações necessárias
entre esses dois processos, e o assistente social possui essa capacidade
(RENAULT, 2012).
Autores trazem que o Assistente Social, em meio a gama de profissionais
que atuam nas questões vinculadas à dependência química, é peça fundamental
nesse processo, por lidar próximo às expressões da questão social, nesse caso a
drogadição. Nesse sentido, de acordo com Uzeda (2018):
a inserção do profissional de Serviço Social nesse lócus,
pode ser entendida para além da possibilidade de
ocupação profissional, mas como dever de uma
profissão, que tem no seu caráter ontológico o
compromisso ético da defesa e aprofundamento da
cidadania (p. 06).

Inclusive, é importante ressaltar que o Serviço Social atua na prevenção,


que é, de fato, o melhor empreendimento na guerra contra as drogas. A prevenção
ao uso de drogas pode desenvolver-se inclusive no âmbito da defesa de direitos,
entre eles o direito a vida, previsto também nas ações da política pública de saúde,
que parte da necessidade de garantir ao indivíduo condições para o seu pleno bem-
estar físico, mental e social. De acordo com Santos e Freitas (2012):
a necessidade de se construir caminhos para a prevenção ao
uso de drogas é imperativa na contemporaneidade e
considerando a responsabilidade do Estado no
16

desenvolvimento das ações, partiu-se da intersetorialidade


entre políticas públicas, em especial assistência social e saúde,
como possibilidades de construção de programas efetivos de
prevenção ao uso de drogas. Com o paradigma do indivíduo
como sujeito de direitos desenvolvido nas políticas públicas
principalmente a partir da Constituição de 1988 e
especificamente na política de assistência social a partir de
1993, com a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a
prevenção ao uso de drogas pode desenvolver-se inclusive no
âmbito da defesa de direitos, entre eles o direito a vida, previsto
também nas ações da política pública de saúde, que parte da
necessidade de garantir ao indivíduo condições para o seu
pleno bem-estar físico, mental e social (p. 08).

Os planejamentos voltados à prevenção do uso abusivo ou dependência de


álcool e outras drogas é um processo de planejamento, implantação e
implementação de diversas estratégias voltadas para a redução dos fatores de
vulnerabilidade e risco. Desta maneira, se torna necessário a inserção da
comunidade nas práticas propostas, tendo a colaboração dos segmentos que
formam as redes de apoio, de forma a facilitar os processos que permitam diminuir a
iniciação no consumo. Para tanto, a lógica da redução de danos deve ser
considerada como estratégica ao planejamento de propostas e ações preventivas
(SALLES, 2015).
A atuação do profissional assistente social dentro da sociedade é o de
articular em meio às contradições na luta pelos direitos para que os indivíduos,
usuários das políticas públicas, consigam viver com dignidade (SALLES, 2015). O
assistente social precisa ser aquele que, com no seu código de ética e mediante seu
processo formativo, intervém para transformar significativamente a realidade,
desemprenhando papel importante na sociedade, já que possui a capacidade de
enxergar a realidade social e a partir disso, matizar as possibilidades de intervenção.
Contudo, vale ressaltar que a aquisição de conhecimento deve ser um processo
contínuo e não pode ser encerrado no campo acadêmico, mas alargado e
aprimorado, no cotidiano da vida profissional (UZEDA, 2018).
Salles (2015) afirma que não existe ainda uma ação preventiva sistematizada
dos profissionais do Serviço Social no trabalho de prevenção à dependência
química, mas existe um processo iniciado de busca e construção. Desta forma, fica
a este profissional, o desafio de ocupar seu espaço frente essa demanda.
Frente ao exposto, o profissional assistente social é chamado pela sociedade
a ocupar esse espaço, rompendo visões simplistas e reducionistas, preconceituosas
17

e moralistas, que instigam a permanecia de uma visão distorcida da intervenção


nessa área dificultando o processo de consolidação dos avanços e das conquistas
das políticas públicas. Posicionamentos que reforçam ações autoritárias e
higienistas, submetendo as pessoas com dependência química à lógica da
moralidade, culpabilizando-a pelos seus fracassos e recaídas, sem inseri-las, de
fato, em serviços que proporcionem uma atenção integral baseada no respeito à
dignidade (SALLES, 2015).
18

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A desigualdade social é uma marca fortemente presente no Brasil, sendo uma


constante da sociedade moderna, provinda do sistema capitalista, o qual gera o
capital que move a economia, mas às custas dos direitos humanos essenciais
daqueles que vendem sua mão de obra e fazem com que este mesmo sistema
caminhe, aumentando cada vez mais a distância entre as classes sociais.
O assistente social emerge profissionalmente em meio a esta realidade
tendo que arcar com as questões sociais, se posicionar frente seu código de ética,
levado em conta as necessidades de seus usuários e atuando frente a estrutura de
trabalho que encontra-se submetido.
Este profissional está na linha de frente das relações entre as necessidades
e a construção das políticas sociais, mas para que tais ações realmente sejam
pautadas mediante uma idoneidade profissional, seus valores morais, assim como
os das organizações contratantes de seu serviço, devem ser minimizados, para que
sua ética profissional possa, através do Código de Ética do Serviço Social, conduzir
a tomada de decisões, de maneira a proporcionar a garantia e manutenção dos
direitos sociais a todos que deles tiverem direito.
Entende-se que a consolidação do Código de Ética deve ser o caminho a ser
seguido pelo profissional para que as políticas sociais possam ser garantidas ao
cidadão, mesmo dentro de situações que dificultam a práxis do assistente social em
seu cotidiano, tal documento deve clarear as tomadas de decisões e nortear seu
trabalho para que o respeito e o resguardo dos direitos civis, políticos e sociais de
qualquer cidadão seja garantido acima de qualquer outro julgamento moral ou
econômico.
Pensando nessas questões, compreende-se que nos dias de hoje, a
dependência química é reconhecida como uma doença e, mais que isso, uma
expressão da questão social, que necessita de soluções imediatas, pois atinge a
sociedade, ano após ano, com uma velocidade alarmante. A utilização de drogas é
uma questão que envolve aspectos sociais e ameaça profundamente a estrutura
física e psicológica do ser humano, sendo, sem dúvidas nenhuma, um problema de
saúde pública e necessita ser encarado como tal para que a sociedade e o poder
19

público encontrem uma solução.


É entendível que o uso em abundância de substâncias químicas
transformou-se em um grave problema de saúde pública em praticamente todos os
países, estando, de acordo com a literatura utilizada, associadas com
comportamentos violentos e criminais, elevando drasticamente os índices de
morbidade e mortalidade. Estigmatizava-se que tais problemas estavam ligados
apenas a determinadas classes sociais e aos grandes centros urbanos, mas,
infelizmente, a drogadição está infiltrada em todos os ambientes, atinge pessoas de
diferentes faixas etárias, de todas as classes sociais e diversas culturas, sendo os
danos causados pela dependência química cada vez mais alarmantes.
Mediante esta afirmação e dado o exposto neste trabalho, é extremamente
evidente as possibilidades de atuação do Assistente Social na prevenção da
dependência química como profissional articulador. Embasado nos princípios
fundamentais do Código de Ética, sobretudo a defesa dos direitos humanos, é
possível que este profissional assuma o compromisso de colaborar com a
transformação social.
Para trabalhar com dependentes químicos o Assistente Social precisa
compreender a importancia da aprendizagem contínua, além de conseguir utilizar de
formas criativas capazes de promover ações de fortalecimento e resgate dos
vinculos afetivos e sociais, possibilitando o diálogo entre dependentes químicos e
sociedade. Acredita-se que o profissional Assistente Social, através de um processo
formativo de qualidade é capaz de enxergar além das aparências, podendo, assim,
desenvolver habilidades que atinjam o cerne do problema em meio à sociedade,
neste caso, o uso abusivo de drogas.
Sendo este um problema social de saúde pública se faz importante que as
concepções de rede e de gestão intersetorial das políticas públicas, sejam postas
em prática e compreendidas pelos órgãos gestores. Refletindo diretamente na
proteção e manutenção dos direitos básicos da população, a qual necessita de uma
visão mais integrada de suas demandas.
Para finalizar, fica claro que o Assistente Social tem o dever de atuar, livre
de preconceitos e pré julgamentos, no resgate de usuários químicos mediante
reinserção desse indivíduo no meio social, além do encaminhamento dos
20

dependentes para centros de tratamentos. Fica compreendido, também, como papel


do profissional da área de serviço social orientar a população do verdadeiro
problema da dependência química, além de apoiar as famílias que enfrentam tal
problema, pois essas se tornam muito vulneráveis diante da situação e da pressão
da sociedade.
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