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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

SUELI DA SILVA CONCEIÇÃO EVANGELISTA

O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA DEPÊNDENCIA


QUÍMICA

Eunápolis
2021
SUELI DA SILVA CONCEIÇÃO EVANGELISTA

O SERVIÇO SOCIAL NA ÁREA DA DEPÊNDENCIA


QUÍMICA

Trabalho de Conclusão de Curso Apresentado à


Universidade UNOPAR – Universidade Norte do
Paraná, como requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel em Serviço Social.

Tutor Orientador: Valquíria Aparecida Dias Caprioli

Eunápolis
2021
Ao Todo Poderoso, autoridade máxima do
universo e autor e consumidor da minha
Fé e ao meu digníssimo esposo Everaldo
E. Santos pelo apoio em todos os
momentos.
AGRADECIMENTOS

Em especial aos meus pais, Boaventura A. Conceição e Izabel


Maria dos S. Conceição (in memória).
Aos meus irmãos, pelo apoio.
Aos meus amigos fruto da Faculdade.
Aos mus amigos incomum, Nubia P. Medrado, Veralucia V. da
Silva e Genivaldo Guerra Mendes.
Ao meu filho Melquisedequi C. Evangelista.
Ao meu esposo, pelos subsídios financeiros.
A minha primeira tutora Elizabete A. Tigre e a minha atual
tutora Indaiá Dias Brasil.
SILVA, Suely. O Serviço Social na área da dependência química. 2021.32p.
Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso - Graduação em Serviço Social)
– Sistema de Ensino Presencial Conectado, Universidade Norte do Paraná,
2021.

RESUMO

Uma característica central da síndrome de dependência de acordo com a


Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento apontada na
Classificação Internacional de Doenças (CID-10) é o desejo forte e irresistível
de consumir drogas psicoativas. O trabalho do Assistente Social ganha espaço
e notoriedade dentro da pragmática que envolve a dependência química e suas
conseqüências. Pois as informações levantadas pelo assistente social ajudarão
na determinação da abordagem mais apropriada para mobilizar o apoio que
será necessário na rede, na família ou comunidade. Assim, tentando elucidar
essas questões do âmbito social, representados pelos assistentes sociais e
esclarecer as duvidas em relação à função desses profissionais nesse mundo
da dependência química através de uma revisão bibliográfica, foi projetado
esse trabalho, dividido em três partes: Sendo a primeira delas correspondente
a um debate do conceito da dependência química. A segunda parte, a prática
profissional do assistente social e suas inserções na área da dependência
química e por fim na terceira parte, a análise da atuação do assistente social
em planos assistenciais às famílias desses dependentes químicos. Para isso,
neste estudo foi utilizada como metodologia a revisão narrativa, na qual se trata
de revisões mais amplas, que se destacam para descrever e discutir o
desenvolvimento ou o “estado da arte” de um determinado assunto, sob o
âmbito teórico ou contextual. Conclui-se que por se tratar de tema bastante
discutido no âmbito social é de grande valia para o enriquecimento pessoal dos
futuros profissionais do Serviço Social.

Palavras-chaves: Dependência química, assistência social, famílias.


SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO ........................................................................................... 07
2.DESENVOLVIMENTO ............................................................................... 11
2.1 BASE CONCEITUAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA ............................ 11
2.1-1 DROGAS: SUAS DEFINIÇÕES E HISTÓRICOS
DE CONSUMO NO BRASIL .......................................................................... 11
2.1-2 DEPENDÊNCIA QUÍMICA: CONCEITO E ALGUMAS
ABORDAGÊNS .............................................................................................. 14
2.1-3 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E AS POLÍTICAS
PÚBLICAS DE ATENÇÃO À DEPENDÊNCIA QUÍMICA .............................. 16
2.2 ASSITENTE SOCIAL E SUA PRÁTICA PROFISSIONAL ..................... 18
2.2-1 O TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL ................................................ 18
2.2-2 PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE
SOCIAL E SUAS INSERÇÕES NA ÁREA DA
DEPENDÊNCIA QUÍMICA .............................................................................. 19
2.3 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM PLANOS
ASSISTENCIAIS ÀS FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS ................ 23
3.CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 28
7

1.INTRODUÇÃO

Durante toda a história da humanidade esteve presente o


consumo de substâncias psicoativas, com algumas modificações na finalidade
do seu consumo. Ainda na Antiguidade surgiu o termo toxicum, que era
definido como uma substância mortal que era utilizada com a finalidade de
envenenar a ponta das flechas pelos povos bárbaros (BENTO, 2016). O
interessante é que esse termo possuía um significado duplo, pois ao mesmo
tempo em que era designado como veneno, também era visto como remédio,
com o intuito de salvar vidas (FERREIRA, 2001). Mostrando assim, a relação
entre o tóxico e o “divino” ou ainda “sagrado”, pois alguns povos acreditavam
fielmente que pelo uso de certas substâncias seria possível alcançar o
sagrado. Sendo assim, não era possível ter o conhecimento das propriedades
específicas de uma substância, pois ela era compreendida com esse duplo
sentido.
Hoje com o avanço crescente da tecnologia e o crescimento
populacional da sociedade, tem levado informações a toda parte do mundo, o
que não é algo ruim, no entanto como todo desenvolvimento também tem seu
ponto negativo, podemos dizer que as substâncias psicoativas na atual
sociedade têm ganhado ainda mais forças com esse avanço social e
tecnológico, atreladas a ela vem também os problemas sociais.
Quando se trata dos tempos atuais essas substâncias
perderam aquele duplo sentido da antiguidade, apresentando-se cada vez mais
como objeto de consumo para o prazer. Usadas para muitos fins, não só
medicinal como no começo da civilização, como chaves para visitar mundos
desconhecidos, medicação transcendental, para sair da rotina, legislar
trabalhar e uma série de outras coisas, o que mais tem preocupado ao longo
dos anos, é como a sociedade tem sido afetada. Estudos feitos pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), apontam em nível mundial que faixa de
10% das populações de centros urbanos, consomem abusivamente
substâncias psicoativas, isso sem depender do sexo, idade, nível de instrução
e poder aquisitivo (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Deste modo o consumo de psicoativos, também conhecido
genericamente como drogas, é um fator que ao longo dos tempos vem
8

provocando grandes preocupações envolvendo questões culturais, religiosas,


econômicas, políticas e sociais (MINAYO e DESLANDES,1998). Existem
diversas formas de nomear o consumo dessas substâncias, dentre as mais
conhecidas tem-se: toxicomania, drogadição e dependência química. A
toxicomania vem do termo toxicum, da antiguidade, que possuía o duplo
sentido – veneno e remédio, a definição de tóxico de temos nos dias atuais
deu-se origem apenas no século XIX (BENTO,2008) . Já o termo drogadição se
aproxima dos que abordam a toxicomania, pois também adotam a perspectiva
de uma relação entre o indivíduo e um objeto de consumo, especificamente, a
droga (CUNDA e SILVA,2014). E por fim a dependência química, que é a
definição mais utilizada nos dias atuais, e pode ser entendida como uma
doença causada pelos efeitos de uma substância. Nesse sentido, o objeto
droga torna-se responsável por causar a doença (SANTIAGO, 2017).
São diversas as motivações que impulsionam a humanidade a
ter algum tipo de relação com essas substâncias que são capazes de alterar os
estados de consciência, dentre os quais: a busca pelo prazer, alívio de tensões
e preocupações, expansão da consciência, entre outros (FILEV, 2015).
Com alcance de todas essas sensações desejadas, nas
últimas décadas o consumo de drogas na sociedade tem tomado dimensões
assustadoras, com graves conseqüências não só para o indivíduo, bem como
para sua família, comunidade, comprometendo diversos fatores da vida
cotidiana (ZALUAR, 2004) (JORGE e YASUI, 2013).
Foi divulgado em junho deste ano, pelo Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), o Relatório Mundial sobre Drogas de
2021 que permite uma visão geral global da oferta e procura de substâncias
psicoativas e estima-se que 275 milhões de pessoas consumiram drogas em
todo o mundo no último ano. De acordo com estudos da Organização Mundial
de Saúde, um percentual de 11% desenvolve um chamado padrão de uso
arriscado, ao ponto de desenvolver dependência associado ao uso nocivo e à
dificuldade de controlar o consumo, necessitando assim de tratamento clínico.
Nos dias de hoje, de acordo com o manual de Classificação
internacional de doenças e problemas relacionados à saúde (CID-10)
(ORGANIZAÇÂO MUNDIAL DE SAÚDE, 1994) a dependência química é
definida como uma doença que causa transtorno mental e comportamental.
9

Esse entendimento de que a dependência química é uma doença é de suma


importância, visto que, para que um tratamento seja possível, o dependente
químico necessita ter plena consciência de que é portador de uma doença
crônica e, por conseguinte, da necessidade do tratamento.
Em meio à grande complexidade que traz esse fenômeno,
muitos desafios são impostos aos setores envolvidos no assunto, sendo eles: o
Poder Público, Serviço de Saúde, Assistência Social, Educação e Segurança
Pública. Por isso, nesse cenário se torna cada vez mais necessários estudos
esclarecedores voltados para essa temática, justamente pelo fato da situação
de vulnerabilidade e risco social em que são encontrados esses usuários de
drogas.
Ricas Contribuições podem ser trazidas pelo profissional de
assistência social no trabalho com dependentes químicos. Mediante a
relevância atual da referida temática, este trabalho teve como objetivo principal
a prática profissional da atuação do assistente social na área da dependência
química, bem como identificar planos assistenciais às famílias, uma vez que,
ao lidar com uma família que passa por esse tipo de situação há uma grande
desestrutura não só emocional, mas também social, causando diversas
conseqüências. Como objetivo específico pretendeu-se caracterizar a
dependência química e seus conceitos históricos de consumo. Objetivou-se
ainda apontar a prática profissional do assistente social e suas inserções na
área da dependência química e por fim compreender o alcance das ações
desses profissionais em planos assistenciais às famílias desses dependentes
químicos.
O trabalho do Assistente Social ganha espaço e notoriedade
dentro da pragmática que envolve a dependência química e suas
conseqüências. Pois as informações levantadas pelo assistente social ajudarão
na determinação da abordagem mais apropriada para mobilizar o apoio que
será necessário na rede, na família ou comunidade.
As motivações para a escolha do referente tema foi pelo fato
de que hoje a dependência química está no centro das discussões devido a
sua gravidade que chamou a atenção do poder público e que de fato passou a
se considerada um problema mundial, com conseqüências cada vez mais
10

graves na vida social das pessoas, como: desagregação familiar, acidentes de


trânsito, aumento da violência e criminalidade, e altos níveis de suicídio.
Assim, tentando elucidar essas questões do âmbito social,
representados pelos assistentes sociais e esclarecer as duvidas em relação a
função desses profissionais nesse mundo da dependência química através de
uma revisão bibliográfica, foi projetado esse trabalho, dividido em três partes:
Sendo a primeira delas correspondente a um debate do conceito da
dependência química. A segunda parte, a prática profissional do assistente
social e suas inserções na área da dependência química e por fim na terceira
parte, a análise da atuação do assistente social em planos assistenciais às
famílias desses dependentes químicos.
Para isso, neste estudo foi utilizada como metodologia a
revisão narrativa, na qual se trata de revisões mais amplas, que se destacam
para descrever e discutir o desenvolvimento ou o “estado da arte” de um
determinado assunto, sob o âmbito teórico ou contextual. Para coleta de dados
foram utilizados instrumentos bases como: LILACS (Literatura Latino
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Eletronic
Library Online – Brasil) e os ANAIS das Jornadas Internacionais de Políticas
Públicas, a partir dos descritores: Serviço social; Assistência social;
Dependência química; Questão social.
Após a leitura de todo o material, foi feito uma seleção das
principais informações para servir de base para a realização de uma análise
descritiva e reflexiva, a fim de estabelecer uma compreensão e ampliação
sobre o tema pesquisado e elaboração do desenvolvimento do trabalho.
É esperado que este estudo possa vir a trazer muitas
informações a cerca do papel do assistente social ao lidar com pessoas que
passam por esses transtornos que são causados pela dependência,
favorecendo assim a real integração do individuo ma sociedade, sempre
podendo contar com o apoio e assistência dos profissionais do Serviço Social.
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2. DESENVOLVIMENTO

2.1 BASE CONCEITUAL DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

2.1-1 DROGAS: SUAS DEFINIÇÕES E HISTÓRICOS DE


CONSUMO NO BRASIL

O termo droga pode possuir várias atribuições, como remédios


ou medicamentos com propriedades terapêuticas e sendo mais específicas
como substâncias com capacidade de causar dependência. Partindo de um
contexto legal, refere-se às substâncias psicoativas, e em alguns casos
particulares, às drogas ilícitas ou àquelas cujo uso é regulado por lei. De
acordo com o especificado no parágrafo único art.1º da Lei nº 11.343/2006 que
institui o Sistema Nacional de Políticas Sobre Drogas – SISNAD, droga se
define como “as substâncias ou produtos capazes de causar dependência”.
A Organização Mundial de Saúde possui uma definição atual
mais corrente no meio científico “droga é toda substância natural ou sintética
que introduzida no organismo vivo, pode modificar uma ou mais de suas
funções”. No entanto, é preciso ter em mente que nenhuma substância
considerada isoladamente é droga, ou seja, ela só se torna droga na medida
em adquire a capacidade de modificar o sistema biológico.
Quando se fala na classificação das drogas em relação ao
estatuto jurídico elas possuem dois tipos: as drogas lícitas e as ilícitas. As
drogas lícitas são as substâncias em que seu consumo possui um
reconhecimento legal, levando em consideração algumas restrições no Brasil,
como: a proibição de venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos de
idade; a necessidade da utilização de receitas especiais para medicamentos
psicotrópicos. Dessa forma, a circulação do produto não será caracterizada
como crime, salvo os casos acima citados. Já quando se trata de drogas ilícitas
há a proibição mediante a legislação, não somente da sua produção, mas
também da comercialização e consumo. Pode-se citar como exemplos de
produtos reprimidos pela lei no Brasil a cocaína, o crack e a maconha e de
substâncias legalizadas o álcool, o tabaco.
Oliveira (2003) reporta que,
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[...] as substâncias psicoativas ilícitas não são proibidas somente pelo


seu conteúdo farmacológico, cujo potencial pode produzir danos à
saúde, mas, sobretudo pelos seus valores sociais que mudam a cada
contexto histórico e que a proibição ou a permissão da ingestão de
substâncias psicotrópicas em qualquer tempo resulta de
determinantes socioculturais. Cada contexto sociocultural, político e
econômico determina o modo como o homem relaciona-se com os
produtos psicoativos, estabelecendo normas e critérios que
regulamentam essa convivência. Na contemporaneidade, o álcool é
aceito pelos países do ocidente, entretanto, abolido pelos países
mulçumanos. (OLIVEIRA, 2003, p.24).

Existe também outra classificação que leva em consideração o


tipo de alteração farmacológica efetuada no sistema nervoso central (SNC) e
no comportamento do usuário. E podem ser divididas em três grupos: O
primeiro delas, as chamadas drogas depressoras da atividade do SNC, esse
tipo de drogas são capazes de diminuir e deprimir a atividade do cérebro. São
exemplos delas: álcool, mas há também o grupo dos soníferos ou hipnóticos,
como os barbitúricos (fenobarbital, fenitoína etc.); o grupo dos ansiolíticos,
como os benzodiazepínicos (diazepam, bromazepam, lorazepam etc); os
opiáceos ou narcóticos, que aliviam a dor e dão sonolência, como a morfina e
seus derivados (heroína, codeína, meperidina etc); e os inalantes ou solventes,
como colas, tintas e removedores (ALARCON, S. 2012).
O segundo chamado de drogas estimulantes da atividade do
SNC, que atuam aumentando a atividade do SNC. São exemplos delas: a
cocaína, as anfetaminas e derivados (incluindo alguns anorexígenos usados
em fórmulas para emagrecimento como a dietilpropriona e o femproporex) e o
tabaco (ALARCON, S. 2012).
O terceiro grupo denominado drogas perturbadoras da
atividade do SNC, que agem modificando a qualidade do funcionamento
cerebral. Representa esse grupo as drogas chamadas alucinógenas, como a
mescalina (do cacto mexicano), a maconha ou THC (tetrahidrocanabinol), a
psilocibina (cogumelos), o lírio (trombeteira, zabumba ou saia branca), o LSD, o
ecstasy e os anticolinérgicos (ALARCON, S. 2012).
O uso de drogas está bem longe de ser um fenômeno
moderno, pois ao longo da história da humanidade revela-se múltiplas formas
do seu uso, seja para aliviar seus males ou para trazer uma sensação de
prazer. Desse modo, data-se que desde as primeiras comunidades de
humanos caçadores já se apontava o uso dessas substâncias, pois eles tinham
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a necessidade de saber quais plantas do seu ambiente de vivência eram boas


para consumo e quais eram venenosas. Assim, a grosso modo, por tentativa e
erro conseguiram acumular conhecimentos de quais eram as plantas que
poderiam ser usadas para aliviar dor e tratar sintomas de doenças, foi daí que
surgiram os chamados curandeiros,xamãs ou ainda feiticeiros (IVERSEN,
2012).
De acordo com Macrae (2001) “desde a pré-história os
membros das diferentes culturas humanas tem sabido utilizar plantas e
algumas substâncias de origem animal para provocar alterações de
consciência com os mais variados fins” (MACRAE, 2001).
A disseminação do uso dos diferentes tipos de drogas cresceu
com o homem e suas migrações, sendo culturalmente aceitável e banal em
quase que todas as culturas e povos. Com o a explosão da revolução industrial
e o avanço da indústria química e farmacêutica, que o uso de drogas ganhou
um novo cenário e dimensão (BERGERET; LEBLANC, 1991).
Vale ressaltar que esse avanço científico contribuiu bastante
para a disseminação de diversas drogas. Além da heroína e morfina, foi neste
meio de pós-revolução industrial e de consolidação da economia capitalista,
que apareceu a cocaína.
Pode-se dizer que a cocaína provoca efeitos excitantes e
eufóricos, além de apresentar uma variedade de formas de consumo, podendo
ser inalada, injetada ou ainda fumada, devido a isso alcançou seu estado de
sucesso. Seu consumo na época só não foi considerado uma “epidemia” por
conta do seu alto valor de compra, assim não era tão consumida pelas classes
sociais mais baixas. Mas para tais classes, houve o surgimento de novos
produtos derivados da coca, como é o caso do craque.
O Craque possui um alto poder de dependência e aliado ao
seu baixo custo, foram fatores que favoreceram muito o aumento do seu
consumo. Hoje a prova desse alastro de consumo é a conhecida região da
Cracolâdia em São Paulo, onde muitas vidas se perderam nesse mundo do
crack.
O consumo de drogas tem aumentado em larga escala na
sociedade, nota-se que este consumo tem se propagado em todas as camadas
da população, atingindo cada vez mais aquelas de baixa renda. “Não se trata
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apenas de produtos ilícitos, mas também, e principalmente do abuso de muitos


produtos lícitos como álcool, tabaco, medicamentos psicotrópicos e inalantes”
(PRAXEDES, 2009).
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde o
alcoolismo é classificado como o problema principal da drogadição, além disse
estima-se que 1,2 bilhões de pessoas em todo o mundo são dependentes do
cigarro, 90% dos fumantes ficam dependentes da nicotina entre 5 anos e 19
anos de idade. Além disso, o tabagismo é responsável por 30% de todos os
tipos de câncer e por 90% dos casos de câncer no pulmão.
Infelizmente diante de todas essas informações sobre os
efeitos do abuso do uso dessas drogas disponibilizados até pela mídia, ainda
assim é notório como o tema é tratado com indiferença em relação aos efeitos
nocivos desencadeados na vida da pessoa ou na sua relação com os outros,
os quais podem acarretar um alto custo social, além de pesados sofrimentos
físicos e morais aos usuários, às famílias e à sociedade.

2.1-2 DEPENDÊNCIA QUÍMICA: CONCEITO E ALGUMAS


ABORDAGÊNS
Após a revolução industrial, substâncias químicas mais
potentes foram sendo fabricadas e com isso o houve também um aumento do
uso, assim multiplicaram-se os casos de dependência química nos países
ocidentais. A partir daí o uso dessas substâncias começa a ser visto como um
certo problema, onde nesse momento aparece a noção de dependência de
drogas, causadora de tantos prejuízos em várias áreas da vida de quem a
consome e de pessoas próximas (BERGERET e LEBLANC,1991)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde existe uma
diversidade de conceituações de dependência química, porém o conceito
principal: A dependência é uma relação alterada entre um indivíduo e seu
modo de consumir certa substância. Na qual essa relação alterada é capaz de
trazer diversos tipos de problemas para o usuário.
Dentro da sociedade o uso de drogas se encaixa antes de
obter o prazer, é a sensação de não pensar em algo, não sofrer. Assim, o uso
de drogas se torna a tentativa de não sentir a dor existencial. Esse momento
acaba se tornando uma espécie de anestésico, em que as barreiras habituais
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do desgosto, da infelicidade, encontram-se levantadas. É assegurado um


estado de prazer incomparável, podendo baixar as tensões psíquicas
(MELMAN, 1990).
De acordo com Melman:

A droga assegura ao toxicômano, enquanto isto funciona, um estado


de prazer, sendo suscetível de baixar as tensões psíquicas, ideal
buscado gozando de sua própria morte; indo assim ao fim do que é
gozo de seu próprio excremento. Se para o toxicômano, o principio do
prazer é assegurado por sua droga, o que faz o gozo para ele é
justamente, o momento de falta, gozo atroz (MELMAN, 1990).

O primeiro uso da droga é quase sempre através do incentivo


de um amigo, namorado, colega de sala, ou até mesmo para ser aceito em um
determinado grupo. Dessa forma convencidos que aquele uso lhes fará bem
acabam cedendo o uso pela primeira vez e muitas das vezes acabam se
tornando escravos dela. Os motivos para iniciar nesse mundo das drogas são
variados, desde desajuste familiar, fuga de problemas, modismo, imitação,
busca de prazer, pais alcoólicos ou drogados, tranqüilizarão, complexo de
inferioridade, ociosidade; pais separados; filhos adotados; falta de
religiosidade, desinformação, ausência de amor, auto-afirmação, curiosidade,
modernismo, permissividade, desespero, contestação, entre outros.
Uma característica central da síndrome de dependência de
acordo com a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento
apontada na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) é o desejo forte
e irresistível de consumir drogas psicoativas. Ainda, segundo a CID-10, pelo
menos três dos comportamentos abaixo precisam está presentes para que seja
diagnosticado a dependência química:
“ • Forte desejo ou senso de compulsão para consumir a
substância;
• Dificuldade em controlar o comportamento de consumir a
substância em termos de seu início, término ou níveis de consumo;
• Uma síndrome de abstinência quando o uso da substância
cessou ou foi reduzido;
• Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes
são requeridas para alcançar efeitos originais;
16

• Abandono progressivo de prazeres ou interesses alternativos


em favor do uso de substâncias psicoativas;
• Persistência no uso da substância, a despeito de evidência
clara de conseqüências manifestamente nocivas.”

2.1-3 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA E AS POLÍTICAS


PÚBLICAS DE ATENÇÃO À DEPENDÊNCIA QUÍMICA

De acordo com fatos históricos, diferentes pontos de vista


podem ser entendidos quando se coloca em pauta as políticas sobre drogas.
Assim, fica-se diante de três parâmetros: No primeiro acredita-se que o
“problema” desaparecerá reprimindo a sua oferta, com políticas que se
amparam nos poderes judiciários e policiais, no segundo o “problema” existe
em função da pouca flexibilidade da sociedade, sendo a política a política à
promoção da autogestão do uso e organização de um sistema social que
compensasse os danos eventuais, numa resposta de legalização. E em
terceiro, o “problema” não tem solução definitiva, mas de certa forma necessita
de apoio por meio de programas sociais. Frente a isso, periodicamente a
política precisa se reorganizar mediante as novas drogas, aos novos hábitos de
consumo e às crises geradas nas relações sociais que perturbam o indivíduo.
Diante do avanço da dependência química e dos problemas
gerados resultantes do uso de drogas, o Estado foi obrigado a dar uma
resposta. Em meados do século XX, o Brasil orientou sua iniciativa legislativa
alinhando-se às resoluções internacionais lideradas pelas grandes potências
econômicas.
Um marco importante foi em 1921, que foi promulgado o
Decreto-Lei nº 4.294, que estabelece “penas aos que comercializarem cocaína,
ópio, morfina e seus derivados, cria um estabelecimento especial para
internação dos intoxicados pelo álcool ou substâncias venenosas e estabelece
normas de julgamento dessas infrações”. (MORAIS, 1997)
Com decorrer dos anos o Brasil foi criando outros instrumentos
legais, um deles foi o Decreto Lei, no ano de 1934, reforçando a criminalização
do uso e do tráfico. Quatro anos depois o Decreto Lei nº891, de 25 de
novembro de 1938, que anos mais tarde foi incorporado ao artigo 281 do
17

código penal. Versava sobre a fiscalização de entorpecentes e a internação do


usuário dependente químico. Nela não se levava o desejo dos indivíduos, mas
sim a vontade dos policiais e dos judiciários, como Ministério Público.
No ano de 1961 o Brasil começo a fazer parte da Convenção
de Viena sobre Drogas, que implementou o tratamento proibicionista dado à
questão das drogas, “De acordo com o Artigo 4º desta convenção, os países
signatários têm o dever de cooperar fazendo um controle severo das
substâncias mediante uma ação coordenada e universal.” (REGHELIN, 2002)
Mediante a Lei 7.560, foi criado o Fundo de Prevenção,
Recuperação e Combate às Drogas de Abuso, logo em seguida com a
Constituição Federal de 1988, fica definido que o trafico de drogas seja
classificado como crime inafiançável (Art. 5º - XLIII) (BRASIL, 1988). No dia 11
de dezembro de 2001, essa Secretaria, em parceria com o Departamento da
Polícia Federal, elaborou a Política Nacional Antidrogas, instituída por meio do
Decreto Presidencial nº 4.345, de 26 de agosto de 2002, que tinha como
objetivos alocar a questão do uso de álcool e outras drogas como problema de
Saúde Pública. Com passar dos anos várias leis foram sendo modificadas e
novas leis foram sendo implementadas na tentativa de solucionar o problema e
as conseqüências advindas das drogas.
Há anos o uso de drogas era considerado um ato
criminalizado, por isso houve-se muita dificuldade de acesso do dependente
aos meios de tratamento, por conta do medo da pena que poderia vir a ser
recaída sob eles. Dessa forma o dependente não tinha facilidade em optar por
tratamento, pois sua conduta era julgada como criminalizada. Assim com o
surgimento da nova Lei de drogas, que além de descriminalizar o consumo
implementou a política de redução de danos decorrentes do artigo 196 da
Constituição Federal, que dispõe:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Dentro dessas estratégias de redução de danos a dependentes


químicos, o assistente social pode ricas contribuições. Pois a partir de
situações que acontecem no cotidiano desse profissional, ele é capaz de saber
18

a realidade daquelas situações e assim propor propostas criativas que são


capazes de preservar e efetivar direitos. Assim, trata-se de um profissional
preparado para ajudar na redução de danos em relação aos usuários de
drogas, que demanda um profissional de ações críticas, interventivo, que
possui um olhar minucioso para o contexto socioeconômico e político bem
como para as peculiaridades das comunidades atendidas e as implicações
sociais desta nova política.

2.2 ASSITENTE SOCIAL E SUA PRÁTICA PROFISSIONAL

2.2-1 O TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL

A trajetória do Serviço Social Brasileiro completou 85 anos. A


história começou no ano de 1936, quando houve a criação da primeira Escola
de Serviço Social na PUC de São Paulo, uma trajetória advinda de muitas
lutas, rupturas e construções. Toda essa construção histórica vem mostrando
que o avanço rumo à política social possui uma linha ascendente, conseguindo
atingir um patamar de maturidade acadêmica profissional bem consolidado e
principalmente se renovando a cada momento. Mas vale ressaltar que não
foram somente crescimentos, pois toda história de crescimento te seus recuos,
que ter sido identificada por conta da postura de relacionadas ao mercado, com
definições no conservadorismo, que está ligada tanto ao exercício do
profissional, como na sua formação. Dessa forma nota-se que esse itinerário
histórico do Serviço Social se divide hora entre uma prática missionária,
conservadora e vinculada aos segmentos dominantes da sociedade e hora
uma prática transformadora, renovada e comprometida com os interesses da
classe trabalhadora (Castro, 1989)
Desde o inicio da profissão até os primeiros anos da sua
institucionalização, a influência da Igreja Católica foi fortíssima. Porém,
diferente do que se é visto nas Leis Sociais que surgem a favor do proletariado,
que não devem servir apenas a eles, bem como a classe dominante no seu
quesito com a questão social, até como forma de manter o controle e a ordem,
ameaçada pela questão social. Na realidade atual da profissão a laicidade e o
materialismo histórico dialético compõem o argumento central. O ponto chave
19

do surgimento do Serviço Social no Brasil, também está ligado ao inicio da


industrialização e o forte crescimento da população em áreas urbanas, pois a
partir daí a profissão passou por certa reestruturação de grande significado,
mas vale ressaltar que ainda é bastante marcada pelo sincretismo que
acompanho a sua trajetória histórica.
O assistente social possui um amplo espaço ocupacional no
Estado, tanto nas esferas do poder executivo, quanto legislativo e judiciário,
bem como nas empresas privadas, nas organizações da sociedade civil sem
fins lucrativos e na assessoria a organização e movimentos sociais. Todas
essas áreas envolvem distintas funções na divisão social e técnica do trabalho,
dessa forma implicam relações sociais particulares. É importante ter em mente
que todas essas incidências com o profissional na sociedade, não irão
depender somente da atuação do assistente social na área, mas de várias
relações e condições sociais em que são realizadas.
Atualmente o perfil do assistente social, está ligado a uma
soma de experiências adquiridas que outros profissionais de outras áreas
conseguiram absorver ao longo de toda a história. Pois hoje é possível, com
base na demanda que se é colocado o profissional, responder a exigências e a
contradições da sociedade capitalista. Sendo assim, a atuação desses
profissionais estará ligada a formulação e execução de políticas públicas, em
varias áreas, que já foram citadas no parágrafo acima, sempre direcionadas
pela idéia de defesa e ampliação dos direitos da população (CRESS–PR,2007).

2.2-2 PRÁTICA PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL E


SUAS INSERÇÕES NA ÁREA DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

Como foi dito anteriormente a profissão de assistente social


tem suas atribuições alocadas no âmbito das políticas sociais, relacionadas ao
enfrentamento de expressões da questão social. Nesse contexto, quando se
estabelece um conjunto de políticas públicas e espaços institucionais voltados
ao tratamento, acolhimento e atenção dos usuários de drogas, abre-se uma
lacuna grande para se pensar em possíveis intervenções do assistente social.
20

Barroco, 2012 estabelece que a atuação profissional deva


sempre se pautada no que está previsto no Código de Ética do Assistente
Social, nos princípios fundamentais, a saber:

I Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das


demandas políticas a ela inerentes- autonomia, emancipação e plena
expansão dos indivíduos sociais;
II Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do
autoritarismo;
III Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa
primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis
sociais a políticos das classes trabalhadoras;
V Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que
assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos
programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;
X Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população
e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência
profissional;
XI Exercício do Serviço Social sem ser descriminado/a nem
discriminar por questões de inserção de classe social, gênero, etnia,
religião, nacionalidade, orientação sexual, identidade de gênero,
idade e condição física. (Barroco, 2012)

De acordo com o Código de Ética acima pode-se vê o vasto


campo de trabalho do Serviço Social dentro da sociedade, permitindo assim
reconstruir relações, mediante ações que contribuam para a defesa dos direitos
e para inúmeras transformações na vida dos usuários dos serviços. Segundo
(Guerra, 2011), essa instrumentalidade “refere-se, não ao conjunto de
instrumentos e técnicas, mas a uma capacidade ou propriedade constitutiva da
profissão, construída e reconstruída no processo sócio-histórico”. Assim é
possível perceber que se querem as dimensões, ético-política, teórico-
metodológica e técnico-operativa são suportes fundamentais para a superação
dos desafios no exercício da profissão, pois, trata-se de uma maneira de
articular a teoria e a prática, a investigação e a intervenção, pesquisa e ação,
ciência e técnica. Isso possibilita ao Assistente Social se capacitar no espaço
de trabalho, criando habilidades, ainda que em meio às dificuldades para maior
eficácia, eficiência e efetividade da sua atuação junto às políticas públicas.
Quando se fala em competências de formular análises
fundamentais e responder a demandas apresentadas por usuários de
substâncias psicoativas, os profissionais de assistência social são os indicados
para tais competências. “O fenômeno do consumo de psicoativos pode se
configurar como conteúdo transversal que incide sobre demandas, requisições
21

ou normas institucionais cotidianas, das quais a/o assistente social participa”


(CFESS, 2016). Dentro desse contexto, cabe ao assistente social independente
da área que atua contribuir para superar perspectivas moralizantes e
preconceitos.
O Conselho Federal de Serviço Social (2013) são inúmeras as
medidas que poderiam ser implementadas para o avanço da redução de
danos:
Descriminalizar posse de drogas para uso pessoal- consumo;
descriminalizar o cultivo para uso pessoal- o cultivo para consumo
pessoal não deve ser delito; precisar as definições de “porte para
consumo pessoal” e/ou “porte com finalidade de tráfico”- é necessário
especificar parâmetros que possibilitem definir e distinguir,
explicitando usuários e traficantes; atenuar escala penal para os
pequenos atores dessa cadeia do tráfico- os níveis mais baixos dessa
cadeia são penalizados como se fossem do alto escalão do tráfico;
compartilhar droga a título gratuito não deve se enquadrar como
crime ou tráfico; regular as atuais drogas “ilegais”, assim como ocorre
com as outras drogas- plantio, cultivo, produção e comercialização,
como ocorre com as “drogas legais”; priorizar tratamentos
ambulatoriais em detrimento das internações; fortalecer a estratégia
de redução de danos nas políticas de atenção integral a usuários/as
de drogas, dentre outras.” (CFESS, 2013)

Essas medidas devem ser inseridas nas mobilizações e lutas


da classe dos assistentes sociais, com intuito de garantir os direitos dos
usuários de drogas e álcool, que irá garantir sigilo nos atendimentos,
tratamento com base nos princípios da humanidade e respeito.
A atuação do profissional assistente social se insere numa
sociedade que julga que os valores são determinados por interesses de
classes antagônicas. Em que o caráter lícito ou ilícitos de substâncias são
determinados por esses interesses. De acordo com Bandeira 2014, o
profissional possui diversas formas de realizar as suas ações, pois para cada
usuário tem que se considerar a circunstância e a particularidade que levou
aquele atendimento. Pois os usuários estão em sua maioria em situações de
vulnerabilidade social, necessitando assim de uma tensão especial de uma
equipe multidisciplinar, incluindo o assistente social. Por conta de todas essas
particularidades é importante para o profissional manter-se num debate e troca
de informações contínuas, para fortalecer os processos de resistência e
tomada de decisões em cada caso.
22

Para que seja possível realizar essa mediação, se faz necessário o


aperfeiçoamento da formação profissional, a educação continuada e
permanente, que promova o aperfeiçoamento constante do
profissional. (BANDEIRA, 2014).

Diante das inúmeras demandas de posicionamento e medidas


de tomadas de decisões do atendimento no âmbito da saúde mental,
especialmente no atendimento a usuários de psicoativos, requer do assistente
social reconhecimento do sujeito em sua complexidade de forma crítica e
clareza no seu posicionamento político. Algumas questões precisam ser
enfrentadas com muita articulação pelos profissionais, por conta da falta de
recursos e diminuição de investimentos políticos sociais. A atuação do
Assistente Social deve se dá na perspectiva de tratamento em meio aberto
como indicado em na Lei 3.088 de 2011, busca ressignificação da vida dos
sujeitos, que muitas vezes possui sua dinâmica de vida centrada no uso de
psicoativos.
Vale ressaltar que o tratamento envolve primeiramente o
acolhimento e socialização de informações com vista na adesão do usuário ao
tratamento e aos familiares. “Produzir e ofertar informações sobre direitos das
pessoas, medidas de prevenção e cuidado e os serviços 45 disponíveis na
rede.” (BRASIL, 2011). É importante salientar que a presença da família é de
extrema importância, pois ela é afetada diretamente pelo uso das drogas e
assim necessitam de tratamento assim como os usuários. Por isso o assistente
social deve manter a família informada sobre os aspectos do fenômeno da
dependência química, com intuito de estabelecer novas relações familiares que
possam vir a trazer mudanças positivas na vida de usuário e previna recaídas.
O atendimento deve seguir uma perspectiva que visa a
reinserção social do usuário, recuperando as perdas e criando novas formas de
fortalecimento de uma rede de apoio. “É um processo longo, gradativo e
dinâmico, pois implica numa revisão de estigmas sociais estabelecidos, no
resgaste da cidadania e na retomada de hábitos saudáveis sociais.” (Gomes,
2013). Dessa forma, o tratamento pode iniciar fazendo-se uma analise social,
na qual tem-se o objetivo de conhecer a realidade do usuário, para que seja
possível traçar um “Plano Terapêutico Singular”, que seja levado em conta o
aspecto pessoal, econômico, sócio comunitário, a vontade do usuário, dentre
23

outros. É importante que as ações se dêem no sentido de incentivar sempre a


autonomia do usuário e melhorar tanto as relações familiares quanto
comunitárias, por meio de atividades de lazer, trabalho e relações
interpessoais.
Sendo assim, não existe uma fórmula especifica para o
atendimento aos usuários, pois são casos diferentes, com históricos também
diferentes, que devem ser levados em consideração. Acaba se tornando um
desafio a atuação do profissional do Assistente Social no âmbito da
Dependência Química, pois não é uma tarefa fácil realizar uma intervenção
pautada nos princípios do Projeto Ética Político que garanta a qualidade dos
serviços prestados aos usuários e seus familiares diante de um contexto de
retração do Estado.

2.3 ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL EM PLANOS


ASSISTENCIAIS ÀS FAMÍLIAS DE DEPENDENTES QUÍMICOS

O uso problemático de substâncias químicas dependentes trás


inúmeros fatores para a família, pois ela é a primeira a sofrer os danosos
impactos. Os conflitos surgem e se tornam cada vez mais graves, gerando
sentimentos de tristeza, culpa e frustração. O apoio familiar é sem dúvidas
indispensáveis ao tratamento do dependente químico. Porém, vale ressaltar
que essas pessoas também podem ter sua qualidade de vida diminuída, além
da possibilidade de acometimento de transtornos psiquiátricos (ARAGÃO;
MILAGRES e FIGLIE, 2009).
São inúmeras as influencias positivas da família no
desenvolvimento do tratamento, influencias essas que podem ser: conseguir
ouvir os profissionais que estão fazendo o tratamento com o paciente, tornando
possível participar junto com o paciente. Essas ações podem vir a evitar o
boicote ao tratamento, como também aumentar a motivação do paciente em se
tratar, procurando sempre buscar compreender a doença e o problema.
(HERZOG e WENDLING, 2013). Além disso, a família é objeto de inúmeras
produções legislativas, como pode ser visto no artigo 227 da Constituição
Brasileira de 1988:
24

Com o dever de assegurar os direitos da infância sendo da família, da


sociedade e do Estado. Além disso, o artigo 226 declara que a família
é a base da sociedade e tem especial proteção do Estado, retomando
para o Estado a obrigação legal de estabelecer políticas públicas de
proteção às famílias (BRASIL, 2003).

Assim, a participação da família no processo torna-se


essencial, para que seja possível saber lidar com as situações impostas,
evitando diversos tipos de situações, como comentários críticos ou até a super
proteção que podem vir a atrapalhar no tratamento. Além de que conhecendo
mais sobre a doença e obtendo um diagnostico claro, a família passa a ser
uma aliada de grande importância para os profissionais especializados.
Tendo tudo isso em vista, espera-se da família:

É o cuidado, a proteção, o aprendizado dos afetos, a construção de


identidades e vínculos afetivos, visando uma melhor qualidade de
vida a todos os seus membros e a inclusão social em sua
comunidade. É a família quem, primeiro encoraja o usuário a se
tratar. Muitas vezes o dependente não consegue entender o quanto a
família o quer recuperado, mesmo que ela tome partido da situação, a
fim de ajudá-lo (ARAGÃO, 2009).

Por parte dos profissionais da assistência social que atuam


com as famílias é importante que busquem sempre compreender totalmente
seus diferentes contextos e relações, para conseguirem traçar planos eficazes
para resolução dos problemas causados pela doença na família. Mesmo
sabendo que este é um ambiente de contradições, em que a ação do
assistente social encontra um espaço para intervenções no seu exercício
profissional, sendo de grande importância estabelecer uma continuidade de
repensar seus saberes e práticas de acordo com as mudanças sociais
constantes da sociedade contemporânea. Desta forma, pretende-se tecer
reflexões acerca do trabalho social realizado com famílias, a partir da análise
das políticas de atendimento às suas necessidades nas questões referentes à
abordagem de Álcool e outras Drogas.

A família passa a ser parte essencial no cotidiano do


profissional de Assistência Social, havendo assim a necessidade de buscar
abordagens que irão produzir melhores resultados nas intervenções das
diferentes demandas trazidas pelas famílias, como àquelas que se propõe
25

através das redes de apoio nos diferentes territórios de abrangência, onde se


articulem as diferentes políticas sociais voltadas para o atendimento das
necessidades das famílias.

O serviço social trabalha geralmente com famílias as quais se


encontram em situação de vulnerabilidade social extrema, em que as
expressões da questão social se manifestam de formas diversas: desemprego,
violência, conflitos relacionais, adoecimento, drogadição, alcoolismo etc. Assim,
é necessário que o profissional busque diferentes respostas para demandas
que lhes são apresentadas, sem esquecer que a concepção da família é o
sujeito histórico que estão intimamente relacionados com a conjuntura social,
cultural e política existentes, superando uma visão de família carregada de
limitações, como o que se tem pelo modelo de família “nuclear ideologizado”
(JOSÉ FILHO, 2007).

“Fortalecidas, as famílias que são acompanhadas pelo Serviço Social,


juntamente com profissionais de áreas afins, podem ter instrumentos
de enfrentamentos das situações que permeiam seu cotidiano familiar
e social. Ao serem fortalecidas, essas famílias podem apresentar as
potencialidades de seus integrantes, na medida em que podem criar,
construir relações que auxiliam os membros mutuamente, rumo ao
crescimento coletivo familiar. O trabalho com famílias deve ser
realizado de maneira sistemática, fugindo do pragmatismo ou da
abordagem aleatória.” (JOSÉ FILHO, 2007)

Quando se trata do trabalho assistencial com as famílias a


partir da rede de apoio, o cotidiano da vida dessas pessoas é de extrema
importância, pois tem que se pensar sobre a inclusão de alguns fatores que
estão distantes das famílias atendidas pelo serviço social, tais como o lazer, a
cultura, a educação, a capacitação profissional, a segurança pública, o direito à
saúde, alimentação e habitação de qualidade
Nesse contexto, superar esses desafios presentes no decorrer
do caminho do cotidiano profissional, não é um trabalho fácil. Pois é preciso
desenvolver um olhar crítico para a realidade considerando a capacidade de
proposição e elaboração de políticas e programas sociais que atendam os
contornos e as especificidades das famílias.
26

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando se fala em dependência química, cada caso tem sua


complexidade e o correto é, antes de qualquer coisa, informar-se e buscar
ajuda profissional colaborando para que o usuário deixe de ser dependente. É
preciso admitir que exista o problema e buscar ajuda, preservando a identidade
do dependente e a reparação de danos causados por ele e o trabalho com
outros usuários de drogas que queiram se recuperar. Os tratamentos para cada
tipo de dependência dependerá do tipo e dos fatores que levaram a ela,
podendo variar de acordo com as características do paciente, no que
dependerá também de qual o tipo de droga e consumo o usuário está exposto.
Dentro dessa perspectiva, os assistentes sociais são os
profissionais mais apropriados para lidarem com esses tipos de casos. E
devem, assumir o compromisso com o projeto ético-político do serviço social na
garantia de serviços de qualidade que atendam às necessidades e os direitos
das pessoas que apresentam esses problemas decorrentes do uso de drogas.
Para isso é necessário a inesgotável busca por conhecimento e melhoria,
sempre revisando os meios para traçar melhores estratégias, buscando
capacitação em todos os âmbitos que envolvem o trabalho do assistente social.
Conclui-se então que na prática profissional do Serviço Social,
umas das atribuições do assistente social é a democratização de informações e
principalmente dos direitos, os quais o dependente químico nem sempre tem
atendidos, por isso a importância dessa prática. Para desenvolver tal prática, o
profissional precisa estar sempre se atualizando e se capacitando. Isso é
realizado não só via academia (especialização, mestrado e doutorado), mas
também através do conhecimento, leitura e discussão dos acontecimentos.
Precisa, também está sempre em consonância com o Código de Ética
profissional e o Projeto Ético-político da profissão, assim como à teoria
específica de sua área de atuação.
Percebe-se ainda com a finalização dos estudos que a
organização familiar é um aspecto importante no prognóstico do quadro de
dependência química. Os programas devem ser com base no foco da família,
pois a família na maioria dos casos está perto do doente, sendo assim também
27

necessita de atenção e cuidados e necessita de tratamento para conseguir lidar


com seus próprios conflitos, causados pelas conseqüências que traz a
proximidade com dependente químico. Assim, seus membros estarão mais
bem preparados para oferecer apoio ao dependente químico, participando de
forma assídua do tratamento, encorajando o doente, indo as reuniões e cada
vez mais conseguindo entender que a sua presença ali é de extrema
importância não só para proteger o paciente, mas como também evitar
recaídas e permanência no vício.
Por fim o trabalho em rede pode abrir novos espaços
profissionais e possibilitar uma atuação onde as pessoas serão acolhidas em
suas diferentes necessidades individuais, assim como familiares, bem como
exige conhecimento maior para que seja possível estender as inúmeras
expressões da questão. Com intuito de tornar-se um instrumento que possa
ajudar o profissional de Serviço social, este trabalho traz muitas informações
acerca das demandas advindas dos atendimentos e intervenções realizadas
nos diferentes serviços da rede de apoio, podendo ajudar na realização de
novas frentes de trabalho e novos projetos profissionais.
28

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