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A PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS PELA AGRICULTURA FAMILIAR NO

MUNICÍPIO DE HUMILDES – BAHIA

Ramon dos Santos Dias


Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
ramon.dias17@gmail.com

Daíse de Jesus Ferreira


Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
Daise.ferreira22@gmail.com

Wodis Kleber Oliveira Araujo


Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
wodis@bol.com.br

Rosângela Leal Santos


Universidade Estadual de Feira de Santana-UEFS
Rosangela.leal@gmail.com

Resumo

São inúmeros os documentos que defendem a importância da agricultura familiar no contexto


agropecuário brasileiro, atribuindo-lhe papel fundamental na produção de alimentos, além do
fator redutor do êxodo rural e na geração de empregos. Este trabalho tem como objetivo através
de visitas a área de estudo e referencial bibliográficos fazer um analise sobre a produção de
hortaliças no Distrito de Humildes localizado no município de Feira de Santana – Bahia.

Palavras chave: Agricultura familiar. Hortaliças. Humildes-Ba.

Introdução
A produção de hortaliças é uma atividade com grande acuidade, pois devido esse cultivo
fazer parte das refeições diárias dos brasileiros e também por ser uma importante fonte
de vitaminas. Sua produção é feita geralmente em torno das cidades devido a sua alta
perecibilidade, sendo assim, tem um mais rápido e eficaz escoamento de sua produção
evitando assim grandes perdas, e devido a isso também seu estoque nos supermercados
e feiras livres é praticamente renovado todos os dias.
Sua produção geralmente é feita por agricultores familiares, pois esse tipo de cultivo
utiliza-se de pouco espaço, pouco insumo, e por ter um ciclo bastante curto, o seu único
problema é a grande necessidade de água. Os produtos geralmente são comercializados

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nas feiras livres. Este artigo tem como objetivo fazer um estudo sobra à produção de
hortaliças no distrito de Humildes, localizado na cidade de Feira de Santana – BA.
A história do seu surgimento é a partir da construção de uma capela pelo proprietário da
Gameleira, o senhor Romão Gramacho Falcão, que era bandeirante, baiano e devoto de
Nossa Senhora dos Humildes, e que mais tarde o mesmo fez a doação das terras, onde
hoje se encontra o distrito de humildes. Por volta do século XVIII iniciaram-se a
construção da Igreja Matriz em estilo barroco com belas e ricas obras de arte, baseadas
nas construções portuguesas da época.
Humildes é um distrito do município baiano de Feira de Santana. É o único distrito de
Feira de Santana que se localiza fora do polígono das secas, e conta com uma população
de 2356 habitantes. O distrito é conhecido regionalmente pela Festa de São Pedro, onde
reúnem centenas de pessoas todos os anos no mês de Junho. As religiões predominantes
são o catolicismo e o protestantismo, sendo que este último tem se propagado
rapidamente no distrito.

Figura 01 – Localização de Feira de Santana - Bahia

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Figura 02 – Mapa de localização do distrito de Humildes:

Fonte: Google maps

Procedimentos metodológicos

Para este trabalho utilizamos pesquisas bibliográficas sobre a temática de estudo,


envolvendo os conceitos de agricultura familiar, pois segundo Venturi (2009), a
delimitação clara do que se pretende estudar é fundamental para realizar a escolha
adequada das fontes e do levantamento bibliográfico necessário ao desenvolvimento da
pesquisa.
Assim, para a elaboração desse artigo, os procedimentos foram divididos em três
etapas. A primeira etapa se consistiu, na consulta de fontes secundárias, ou seja, no
levantamento bibliográfico, no qual se pesquisou livros e publicações que pudessem
enriquecer as informações pertinentes à proposta para a confecção do artigo. Ainda

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nessa etapa pesquisamos e fizemos a escolha de alguns recursos para serem utilizados
nas etapas posteriores como: Fotos de lugares em nossa área de estudo, que pudessem
representar à temática deste artigo e visitas a área de estudo para observar a dinâmica
dos agricultores familiares que produzem hortaliças para buscar o sustento de sua
família. Essas visitas constituíssem das fontes primárias que segundo Silva (1971 apud
Venturi, 2009), são os dados, fatos, testemunhos originais relativos à dada situação. Na
geografia existe uma diversidade de fontes primárias, como registros de trabalho de
campo, entrevistas, levantamento cartográfico entre outros.
Na segunda etapa sistematizamos as informações e os dados coletados, avaliando o
material de forma crítica para a confecção do texto final. A terceira etapa se constituiu
na confecção do artigo e revisão do mesmo para garantir uma melhor qualidade do
mesmo.

FLUXOGRAMA

ESCOLHA DO

FONTE SECUNDARIA: FONTE PRIMÁRIA:

Material Bibliográfico: Trabalho de Campo na área de


estudo
• Livros
• Artigos

SELEÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS:


Avaliação, sistematização de informações e dados para
confecção do texto

ELABORAÇÃO DO

Hortaliças

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A produção de hortaliças é uma atividade quase sempre presente em pequenas
propriedades familiares, seja como atividade de subsistência ou com a finalidade da
comercialização do excedente agrícola em pequena escala. Segundo Faulin (2010), a
produção de hortaliças, tanto comercial como para a subsistência, possui um papel
importante para a atividade agrícola familiar, contribuindo para o seu fortalecimento e
garantindo sua sustentabilidade. Possibilitam também um retorno econômico rápido,
servindo então de suporte a outras explorações com retorno de médio a longo prazo.
Sendo assim, para Embrapa(2007), a produção e utilização das hortaliças é importante
como alternativa para a agricultura familiar, tanto pelo fornecimento de nutrientes,
como pela facilidade de adaptação a essa prática, principalmente por demandar mais
mão - de- obra e menos área.
Atualmente o consumo de hortaliças tem aumentado devido à maior conscientização da
população em busca de uma dieta alimentar mais rica e saudável. Segundo Brasil
(2010), as hortaliças são plantas de suma importância para o fornecimento
principalmente de vitaminas, sais minerais e fibras, com algumas delas também
servindo como fonte de carboidratos e proteínas. Determinadas espécies são excelente
fonte de substâncias antioxidantes, como a vitamina C, o b- caroteno e o licopeno,
devido a isso o consumo destes alimentos tem crescido no país. Existem diferentes tipos
de hortaliças, são elas: folhosas (alface, couve), frutos (tomate, vagem), flores (couve-
flor, brócolis), raízes (cenoura, beterraba).
As hortaliças são plantas de consistência herbácea, geralmente de ciclo curto e tratos
culturais intensivos, cujas partes comestíveis são diretamente utilizadas na alimentação
humana, ou seja, in natura ou com pouco processamento.

Trata-se de uma cultura que necessita de uma extensão de terra muito


pequena, em relação a outras produções agrícolas, para que seja
economicamente viável, além de exigir pouco conhecimento técnico e um
baixo nível de investimento para se iniciar na atividade. (Faulin, 2010).

Em contra ponto esse tipo de cultivo possui um alto grau de pericibilidade, o que faz sua
produção ser sempre localizada em torno das cidades, para que logo após a colheita
chegue ao seu destino de venda, que pode ser: uma grande rede de supermercados ou
feiras livres.

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Agricultura Familiar

O conceito de agricultura familiar vem sendo bastante debatido ao longo dos anos, por
diversos autores em diferentes países. Divergindo devido aos diferentes fatores
econômicos, sociais, históricos e ambientais, pelo qual passam os países. Segundo
Abramovay (1998 apud Carneiro, 2008) que estudou a evolução da agricultura familiar
dos países desenvolvidos, precisamente Estados Unidos, Inglaterra e Comunidade
Europeia. Abramovay também considera que nestes países diferentes conceitos são
atribuídos a agricultura familiar, conforme suas estruturas fundiárias. Já Nikolitch
(1969 apud Carneiro, 2008) que estudou os estabelecimentos agrícolas nos Estados
Unidos, a definição de estabelecimento familiar não esta relacionada ao seu tamanho
físico, volume de vendas ou montante de recursos investidos, mas sim ao grau que a
gestão e o trabalho nas propriedades apóiam-se na família e seus membros. E segundo
Gasson (1988 apud Carneiro, 2008) que estudou a propriedade rural na Grã-Bretanha; o
estabelecimento familiar caracteriza-se por três traços básicos: a) os membros estão
relacionados por parentescos ou casamento; b) a propriedade dos negócios é usualmente
combinada com controle gerencial e c) o controle é transmitida de uma geração para
outra dentro da mesma família.
Entre os diversos autores, e os diferentes países, que debatem a agricultura familiar os
principais fatores que o caracteriza são: as relações de trabalho, diversidades de cultivo
e o tamaho da propriedade, que segundo (Di Sabatto, 1999) que faz uma delimitação do
universo da agricultura familiar em seu relatório para a proposta de metodologia para o
Projeto Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA)/Food and
Agriculture Organization of the United Nations (FAO), onde delimitou a área máxima
que deveria ter o estabelecimento para se caracterizar como familiar. Para o nordeste
brasileiro essa área foi estabelecida em 694,5ha. Confundindo assim o modo de praticar
a agricultura com o seu porte. Devido a essas diferenças fica bastante confusa a
conceituação de agricultura familiar, causando problemas, principalmente quando
tratamos de políticas publicas.
(Lamarche, 1993), explica que apesar das diferenças existentes em cada país, seja nos
sistemas sociopolíticos, formações sociais ou evoluções históricas, a produção agrícola
assegura-se nas explorações familiares, em menor ou maior grau. Existem, entretanto,
diferenças significativas entre as explorações familiares desses países, partindo de uma
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agricultura familiar arcaica e baseada na subsistência de seus membros, ate aquela com
uso de alta tecnologia e integrada ao mercado. Lamarche considera uma tarefa difícil,
abarcar todas as diferenças nesta categoria, para conceituar a agricultura familiar, sendo
assim sugeri uma delimitação do conceito. Assim para o autor:

a exploração familiar, tal como a concebemos, corresponde a uma unidade de


produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à
família. A interdependência desses três fatores no funcionamento da
exploração engendra necessariamente noções, mas abstratas e complexas, tais
como a transmissão do patrimônio e a reprodução da exploração.
(LAMARCHE, 1993. P. 15)

No Brasil o setor agropecuário familiar é responsável pela geração de emprego,


produção de alimentos (voltada especialmente para autoconsumo), tendo assim mais um
caráter social que econômico o que pode ser devido a sua menor produtividade e
incorporação das tecnologias agropecuárias. Porem precisamos destacar a importância
da participação de setor no Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Segundo Guilhoto (2000), destaca utilizando dados disponibilizados do IBGE, sobre a
participação da agricultura familiar no PIB do país, que segundo o autor entre 1995 e
2005 o setor agropecuário familiar correspondeu a cerca de 10% do PIB brasileiro,
sendo uma parcela bastante expressiva. Sendo que a participação do agronegócio
correspondeu a cerca de 30% da economia no país, tornando inegável a importância da
agricultura familiar no Brasil, que segundo Lamarche (1993), classifica como sociedade
de um sistema capitalista que depende da agricultura familiar, onde esta se apresenta de
maneira heterogenia, ora com características de um modelo de funcionamento, mais
parecido com o camponês, ora com estruturas de produção mais modernas e bem
relacionada com o mercado.
Entretanto alguns autores desconsiderando a importância da agricultura familiar para
economia brasileira, incentiva que a agricultura seja uma segunda opção para o pequeno
produtor, que passe a tirar seu sustento de atividades não-agricolas. Segundo Graziano,
que cita como uma das soluções para combater a pobreza e o êxodo rural o incentivo de
trabalhos não agrícolas no campo:

...a criação de empregos não-agrícolas nas zonas rurais é. portanto, a única


estratégia possível capaz de, simultaneamente, reter essa população rural
pobre nos seus atuais locais de moradia e ao mesmo tempo, elevar o seu nível
de renda (Graziano da Silva, 1999, p. 26).
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Resultados

Através das pesquisas e visitas a área de estudo podemos interrelacionar a teoria sobre o
conceito de agricultura familiar e a sua prática. A produção de hortaliças no município
de humildes é bastante importante devido à proximidade de dois grandes centros
consumidores: Feira de Santana (tem cerca de 600 mil habitantes) e Salvador (capital da
Bahia com cerca de 2 milhões de habitantes). Entretanto o destino da produção familiar
seja para Feira de Santana nas feiras livres, como a do centro de abastecimento, feirinha
da estação nova e a feira do tomba.
Visitando uma propriedade que caracterizamos como agricultura familiar, devido as
suas características como: mão de obra 100% familiar, diversidade de cultivos (além de
só trabalhar com hortaliças do tipo folhagem, também planta feijão e mandioca),
propriedade com 5 hectares, sendo todo as áreas exploradas por familiares, utilização de
técnicas de irrigação através de bombeamento de água de poço e utilização de insumos
como esterco e uréia.(Figura 03)

Figura 03: fotos da propriedade visitada em humildes – Bahia.

Entretanto observamos que essa produção esta bastante ameaçada, pois os agricultores
familiares do município, dificilmente conseguem manter sua subsistência com a

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produção de hortaliças devido aos seguintes fatores: baixo preço dos produtos agrícolas
(principalmente no inverno, época de maior produção, que seguindo a lei da procura e
demanda, quanto maior a demanda menor a procura, menor o preço);
A falta de incentivo das políticas publica para auxiliar os agricultores, sendo só
fornecido semente de feijão e um trator para arar a terra; O alto custo da energia, pois o
bombeamento da água para irrigação das hortaliças é feito com bomba elétrica. A
grande participação de vendas de hortaliças pelas redes de supermercados (sendo
importante salientar que o principal vendedor de hortaliças eram as feiras livres), a
resistência de encontrar mão de obra seja ela assalariada ou familiar (devido à relação
trabalho e dinheiro não ser favorável), recorrendo assim a pluriatividade, para
complementar a renda familiar, que segundo Carneiro (1999), a pluriatividade está
relacionada com a própria dinâmica de funcionamento do estabelecimento familiar. É
algo inerente a ele, dadas as funções de cada membro familiar nas atividades agrícolas
ou ligadas à geração de renda para a família.

Considerações finais

Nas visitas de campo, observando a dinâmica do lugar, podemos observar que a prática
da produção de hortaliças pela agricultura familiar esta enfraquecendo no município de
humildes, deixando assim de ser uma atividade principal e passando a ser só mais um
complemento na renda familiar, quando não ocorre o seu extermínio total.
Por isso é necessário prestar maior atenção na agricultura familiar, que é bastante
importante para o Brasil, implantando políticas de incentivo, assistência agrícola,
extensão rural, apoiando o pequeno produtor, para que ele a partir da agricultura tire seu
sustento e sua reprodução social. Para que essa atividade, não se extingue, pois demos
lembrar que as hortaliças que abastecem as feiras livres são predominantemente
produção de agricultura familiar. Segundo Lima e Wilkinson (2002), a produção
familiar é a principal atividade econômica de diversas regiões brasileiras e precisa ser
fortalecida, pois o potencial dos agricultores familiares na geração de empregos e renda
é muito importante. É preciso garantir a eles acesso ao crédito, condições e tecnologias
para a produção e para o manejo sustentável de seus estabelecimentos, além de garantias
para a comercialização dos seus produtos, agrícolas ou não.

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Sendo assim é necessário a não reprodução desses pensamentos de que a atividade não
agrícola é uma forma de acabar com a pobreza no campo, pois esses pensamentos
acabariam com culturas, tradições, e conhecimentos que vieram sendo passados de pais
para filhos durante gerações. E que transformaria o produtor rural, acostumando a
comandar seu ritmo de trabalho, a ser dono do seu instrumento em um simples soldado
do exercito de reserva do capitalismo. Em outras palavras, o produtor familiar, quando
recebe apoio suficiente, é capaz de produzir uma renda total, incluindo a de
autoconsumo, superior ao custo de oportunidade do trabalho. Neste sentido, não são
corretas as analogias com a situação nos países desenvolvidos, onde as remunerações
obtidas com atividades não-agrícolas elevam a renda média do setor rural porque, aqui,
o potencial de geração de renda do setor agrícola familiar está longe de ser plenamente
utilizado.

Referencias

ABRAMOVAY, R. Paradigmas do capitalismo agrário em questão. 2. Ed. São


Paulo: HUCITEC, 1998.
CARNEIRO, M. J. Agricultores familiares e pluriatividade: tipologias e políticas.
Rio de Janeiro: Mauad, 1999.
CARNEIRO, W. M. A. Pluriatividade na agricultura familiar: o caso do pólo de
desenvolvimento de agronegócios cariri cearense. Banco do Nordeste do Brasil.
Fortaleza, 2008.
DI SABATTO, A. Metodologia para caracterização do perfil da agricultura
familiar e de seus principais sistemas de produção. Brasília, DF: IBGE, 1999.
GASSON, R. et al. The farm as a family business: a review. Journal of Agriculture
Economics, v. 39, n. 1, p. 1- 43, 1988.
GRAZIANO DA SILVA, J. O Novo Rural Brasileiro. (Coleção Pesquisas 1)
Campinas, SP: Instituto de Economia/Unicamp, 1999.

GUILHOTO, J. J. M. et al. A importância da agricultura familiar no Brasil e em


seus Estados. Núcleo de estudos agrários e desenvolvimento rural – Ministério do
desenvolvimento agrário: FIPE – Fundação instituto de pesquisas econômicas. 2000.
LAMARCHE, H. A agricultura familiar: comparação internacional. Campinas:
Editora: UNICAMP, 1993.
LIMA, Dalmò M de Albuquerque e WILKINSON, John (org). Inovação nas tradições
da agricultura familiar. Brasília: CNPq/Paralelo 15, 2002.

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NIKOLITCH, R. Family-operated farms: their compatibility with tecnological advance.
American journal of Agriculture Economics, v. 51, n. 3, p. 530 – 545, agosto de 1969.
VENTURI, Luiz Antonio Bittar. Praticando geografia: técnicas de campo e
laboratório. São Paulo, SP: Oficina de Textos, 2005. 239p.

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