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Psicossociologia do Desenvolvimento

Bem-estar subjetivo ao longo do ciclo de vida

 Bem-estar subjetivo (BES) - a felicidade que as pessoas manifestam em relação à


sua vida, o julgamento afetivo e cognitivo acerca da sua própria vida.
 Medido em 3 dimensões

1. Satisfação com a vida global ou domínios específicos (ex nível de vida, saúde,
profissão, relações)

2. Frequência de emoções positivas

3. Frequência de emoções negativas

 A maior parte das pessoas nos EUA classifica a felicidade em níveis superiores à
média, 30% classifica-se como muito feliz e apenas 10% classifica-se como muito
infeliz
 Estes resultados são equivalentes em diferentes grupos sociais, raciais e de
género.
 Embora os afro americanos tendam a classificar-se como ligeiramente menos
felizes que os americanos nativos.
 Os estudos mostram uma estabilidade moderada no BES ao longo dos anos. A
estabilidade do BES sugere que a maior parte das pessoas têm um nível médio de
felicidade, consistente, apesar dos altos e baixos provocadas por eventos de vida.
 Eventos específicos muito positivos ou muito negativos (ex ganhar a lotaria ou o
diagnóstico de doença crónica), podem temporariamente aumentar ou diminuir
o bem estar mas este acaba por retornar ao seu nível médio antes do evento
 Eventos crónicos têm impactos mais duradouros, visto ser algo desgastante para
as pessoas
 O dinheiro e os bens materiais não são os principais preditores da felicidade mas
as necessidades básicas precisam estar satisfeitas
 O impacto da riqueza no BES vai diminuído à medida que os rendimentos
aumentam para níveis elevados
 Um estudo que comparou bens materiais e pos materiais (autonomia, suporte
social, realização pessoal e respeito) revelou que a satisfação financeira foi o
principal preditores da satisfação com a vida, enquanto que o respeito foi o
principal preditores das emoções positivas
 Ao nível individual, entre os principais preditores do BES estão os traços de
personalidade (extroversão elevada e neuroticismo reduzido) e a satisfação com
as relações - embora estes variem conforme as culturas - mais ou menos
coletivistas
 Autores focam a importância de estudar diferenças culturais do impacto da
personalidade no BES. A conscienciosidade mostrou-se um importante preditores
do BES na Índia

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 O desemprego mostra um impacto forte e duradouro no BES - tem impacto na


estabilidade financeira e na identidade dos indivíduos, podendo sentir-se inúteis,
principalmente em empregos de longa duração
 Ao nível internacional, de modo geral, os níveis de BES são mais elevados nos
países mais ricos (ex, Suíça e Noruega)
 Isso deve-se não apenas ao dinheiro mas também ao facto de serem países mais
democráticos, com leis mais protetoras dos direitos humanos; níveis mais baixos
de corrupção; e melhores obrigarmos de segurança social
 Por sua vez, o BES é preditor de melhor saúde, longevidade, trabalho,
produtividade, rendimentos e relações sociais

Relações e família na idade adulta

 Nas famílias ocidentais, a idade adulta é uma fase de muitas mudanças de papéis
na relação com os outros membros da família
 Há 100 anos atrás a esperança média de vida era mais reduzida e condicionava as
opções dos adultos. Aos 40 anos provavelmente estariam casados
 Hoje a realidade dos adultos é muito variável: casados, solteiros, no 2° ou 3°
casamentos, famílias que se fundem, famílias homossexuais
 Casamento: o padrão de satisfação marital mais frequente forma um U. Satisfação
elevada no início, baixa no meio (filhos bebes, até entrada para a escola) e elevada
até ao final
 Alguns autores, porém, questionam a satisfação em U e sugerem que o aumento
da satisfação após o nascimento dos filhos é ilusório. Na verdade, a satisfação
marital iria sempre diminuir
 Alguns casais, nesta idade, referem várias fontes de satisfação do seu casamento:
os seus esposos são os seus melhores amigos, estão de acordo em relação aos
objetivos para o casamento e são da opinião que os seus esposos melhoram com
o tempo
 A satisfação sexual está relacionada com a satisfação marital e com o acordo do
casal em relação à frequência sexual mas não está relacionada com a frequência
sexual. A frequência do sexo tende a diminuir com o tempo, mas as pessoas não
estão insatisfeitas
 Embora para a maior parte dos casais a satisfação marital comece elevada e
decresça ao longo do tempo, alguns adotam trajetórias distintas: incluindo alta
satisfação e ausência de declínio, satisfação moderada e declínio mínimo e baixa
satisfação e declínio substancial
 Resultados mostram que o casamento, tal como a coabitação, aumentam a
satisfação com a vida para os homens e para as mulheres, por comparação aos
que vivem sós

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 Contudo, a transição para a viuvez tem maior impacto negativo nos homens do
que nas mulheres e o divórcio tem maior impacto negativo nos homens com
menos de 35 anos, por comparação a qualquer outro grupo etário ou de género
 Divórcio na meia idade - tende a aumentar nesta faixa etária. Em 8 melhores que
estejam no seu 1º casamento, 1 vai divorciar se após os 40 anos.
 Em vez da satisfação marital aumentar, após um declínio inicial, mantém se
negativa e conduz ao divórcio.
 Atualmente, as pessoas valorizam mais a paixão e a felicidade. Os estudos
mostram que a paixão tende a diminuir com o tempo. O divórcio tornou se mais
faço, e mais aceite socialmente.
 Existe muito stress e pressões sobre as famílias em que ambos trabalham. Isso
torna o casamento difícil. As pessoas investem menos energia na família e mais
no trabalho e outras atividades fora de casa.
 Independentemente das causas, o divórcio é particularmente difícil na idade
adulta, em especial para as mulheres donas de casa, sem competências
profissionais reconhecidas. Encontram muitas dificuldades em integrar o
mercado de trabalho, podendo permanecer desempregadas.
 No entanto, as pessoas que se divorciam nesta idade acaba, por se revelar
satisfeitas com a situação. As mulheres desenvolvem uma identidade mais
independente e consideram isso positivo.
 O divórcio está associado a mal estar psicológico e até físico, porém, um estudo
monta que para as mulheres em que o nível de satisfação marital era muito mais
baixo no casamento, a satisfação com a vida aumenta após o divórcio. O mesmo
não se observou nos homens.

O 2º casamento

 Voltar a casar - da maior parte das pessoas que se divorcia, 70 a 80% volta, a casar,
geralmente 2 a 5 anos mais tarde e com alguém divorciado (porque são os que
estão disponíveis e porque têm experiências semelhantes)
 A taxa de segundos casamentos é elevada e em alguns grupos etários é mais
elevada: nos homens mais velhos, em relação às mulheres mais velhas (90% das
mulheres com menos de 25 anos volta a casar, menos de 30% das mulheres com
mais de 40 anos volta a casar)
 Deve-se as regras do gradiente de casamento e ao facto de as mulheres mais
velhas serem consideradas menos atraentes, enquanto os homens são
considerados distintos e maduros
 Porquê voltar a casar?
a) Falta da companhia que o casamento oferece
b) Evitar as consequências do estigma social do divórcio

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c) Benefícios monetários
 Como são os segundos cansamentos?
1) Os casais tendem a ser mais realistas nas suas expectativas de um parceiro e de
um casamento, são mais cautelosos
2) Demonstram mais flexibilidade em relação aos papéis e deveres, distribuição mais
igualitária das tarefas e tomam decisões de modo mais participativo
3) Os segundos casamentos não são mais duradouros que os primeiros, taxa de
divórcios ligeiramente mais elevada
4) Explicações para este fenómeno: mais pressões externas relacionadas com a
união de diferentes famílias; já ter passado por uma experiência de divórcio e ter
ultrapassado, leva os indivíduos a optar novamente, em caso de insatisfação; os
indivíduos terem características de personalidade e emocionais com as quais não
é fácil conviver
5) Muitos permanecem juntos no segundo casamento. Quando permanecem é
porque estão satisfeitos
6) Um estudo comparou indivíduos no 1° casamento e indivíduos no 2° casamento
e mostrou que os 1°s revelam maior satisfação e que a satisfação com o
casamento esteve positivamente relacionada com o nível de escolaridade dos
indivíduos
7) No 2° casamento das mães, a proximidade das crianças aos padrastos está
relacionada com a comunicação aberta entre a mãe de a criança; níveis inferiores
de discussão entre as mães e os padrastos; níveis superiores de concordância e
apoio mútuo entre o casal; e o género dos filhos, a proximidade aos padrastos é
mais fácil para os rapazes

A Família na idade adulta

 Síndrome do "ninho vazio" - experiência de infelicidade, preocupação, solidão e


até depressão, relacionada com a saudade casa dos filhos.
 A saída de casa dos filhos pode estar relacionada com a entrada na universidade,
com o casamento, o serviço militar, trabalho longe de casa.
 Necessidade de adaptação dos pais à nova realidade, principalmente para as
mães que foram donas de casa. É mais fácil para as mães que trabalham fora de
casa. A partida dos filhos produz apenas sentimentos temporários de tristeza e
perturbação.
 Aspetos positivos: o envolvimento em outras atividades que permitem um escape
físico e psicológico.
 Outros adultos encaram este momento como libertador das responsabilidades de
parentalidade.
 Apenas 1 minoria reporta problemas face à saída de casa dos filhos.

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 A qualidade de vida dos indivíduos que manifestam estes sintomas está


relacionada com a qualidade das suas relações com os seus filhos e outros
familiares, com o seu nível de saúde, e com o seu nível de atividade e de
participação social.

Filhos boomerang - fenómeno do regresso dos filhos a casa dos pais, após terem
morado fora de casa durante um período. Nos EUA 14% dos Jovens Adultos (JA) moram
com os pais, na Europa a percentagem é superior.

 A quantidade de JA a viver com os pais e a receber apoio financeiro dos pais, está
a aumentar e nunca foi tão alta, em 60 anos. 39% dos indivíduos, entre os 18-34
anos, vive com os pais ou voltou a viver com os pais por um período de tempo.
 A principal razão do regresso são questões económicas. Dificuldade em encontrar
trabalho, de subsistir financeiramente ou a interrupção do casamento.
 A reação dos pais varia muito, dependendo da razão do regresso. Os pais podem
mostrar-se pouco receptivos, se a razão for o desemprego, principalmente o pai,
não compreendendo as dificuldades de um mercado de trabalho difícil.
 Ao contrário da assumpção de que o apoio parental perturba o processo de
autonomia dos filhos adultos - a investigação mostra que nas atuais condições
económicas e sociais, o apoio dos pais aumenta as perspectivas de independência
financeira de longo termo dos filhos.
 JA a viver em casa dos pais é uma realidade comum em Itália. É encarada como
uma oportunidade de desenvolvimento dos filhos mas também como
consequências de constrangimentos sociais como o desemprego.
 Em Inglaterra a comunicação social refere que este fenómeno está associado a
importantes custos sociais. Este é um fenómeno global e as perspectivas são que
continue a aumentar no futuro próximo.

Geração “sanduiche” – refere-se à necessidade com que se confrontam muitos adultos


em responder simultaneamente, às necessidades dos seus filhos e dos seus pais que
estão a envelhecer.

 Resulta da congruência de vários fatores, os homens e as mulheres casam mais


tarde, têm filhos mais tarde (que precisam de apoio até mais tarde) e as pessoas
vivem mais anos. Assim, a probabilidade de um adulto ter filhos que ainda
precisam de apoio e ao mesmo tempo ter pais ainda vivos que precisam de
cuidados é maior, atualmente.
 Os cuidados prestados aos pais podem ser psicologicamente completos, pela
inversão de papéis.

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 Os filhos assumem um papel de controlo e os pais sentem que perdem a sua


independência e podem resistir à tentativa de ajuda.
 Revelam dificuldade em assumir um papel dependente, sentem-se um peso para
os filhos, preferem viver sozinhos em vez de ir para casa dos filhos.
 Ir viver com os filhos pode apresentar grandes desafios pela negociação de papéis.
É necessário entrar em acordo em relação às tomadas de decisão.
 Estes agregados familiares cresceram entre 1990 e 2000.
 A maior parte das responsabilidades no apoio aos pais recai sobre as mulheres
mesmo quando são os pais dele.
 Outros filhos prestam apoio financeiro ou na gestão de tarefas domésticas.
 A cultura também determina a aceitação dos papéis na prestação de cuidados dos
idosos, os indivíduos nas sociedades coletivistas aceitam melhor este papel
(asiáticos e africanos).
 Apesar do stress provocado pela sobrecarga de responsabilidades a ligação entre
os adultos e os seus pais nesta fase pode ser muito gratificante, pela
responsabilidade de se conhecerem de modo mais realista e de aceitarem melhor
as suas forças e fraquezas.
 Membros da geração “sanduiche” estão em maior risco de problemas de saúde
uma vez que prestar cuidados reduz a quantidade de tempo disponível para os
indivíduos se envolverem a eles próprios em comportamentos de saúde.
 Este efeito é tanto maior quanto maior é o número de filhos a cargo e menor o
nível socio-económico do agregado familiar.
 Indivíduos empregados membros da “geração sanduiche” são uma população em
risco de saúde física e emocional, pela exigência em equilibrar as
responsabilidades profissionais e familiares e cuidar de si mesmo.

Tornar-se Avô

 Sinal inequívoco do envelhecimento.


 Para muitos, é uma fase de ansiedade, pela energia e entusiasmo e mesmo pelas
exigências geradas por uma criança pequena, considerando o próximo passo na
progressão natural da vida.
 Alguns podem sentir-se insatisfeitos por ser um marco do envelhecimento.
 Estilos relacionais dos avós:
a) Envolvimento – estão ativamente empenhados no papel de avós, têm
influência direta na vida do neto e nutrem expectativas claras em relação
à forma como eles se devem comportar. Avós que tomam conta dos netos
durante a semana;
b) Companheirismo – têm um papel mais descontraído, em vez de
assumirem responsabilidades, agem como amigos e apoiantes. Avós que

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visitam e telefonam com frequência, levam os netos de férias e recebem


visitas destes.
c) Remoto – o estilo mais indiferente, desvinculado e desinteressado.
Raramente visitam e quando os veem podem até queixar-se do seu
comportamento infantil.
 Diferenças de género – as avós demonstram mais interesse e maior satisfação,
especialmente quando têm um alto nível de interação com os netos.
 Diferenças culturais – os avós afro-americanos demonstram um maior
envolvimento com os netos do que os caucasianos. É mais frequente a
prevalência de 3 gerações a coabitar no mesmo agregado familiar. Existem mais
famílias monoparentais entre os afro-americanos, verifica-se uma maior
dependência do apoio dos avós que assumem um papel ativo.
 Os avós que ficam responsáveis por criar os seus netos, por impossibilidade dos
pais, experienciam dificuldades financeiras, dificuldades em conciliar com o
trabalho, mudanças na habitação, deteriorização na saúde e nas relações sociais.
 Os avós mais novos – precisam de mais apoio para continuarem nos seus
empregos remunerados e fornecer uma casa adequada aos netos.
 Os avós mais velhos – precisam de serviços de saúde específicos que lhes
permitam cuidar dos netos.

Violência Doméstica

Violência Doméstica – qualquer ação ou omissão de natureza criminal, entre pessoas


que residam no mesmo espaço doméstico, ou, não residindo, sejam ex-cônjugues, ex-
companheiros, ex-namorado/a, progenitor de descendente comum, ascendente ou
descendente e que inflija sofrimentos físicos, sexuais, psicológicos ou económicos.

 Violência mais comum: contra as mulheres, em contexto de relação conjugal;


 Violência conjugal: uma parte da violência doméstica específica entre cônjugues.

História da violência conjugal:

 A violência contra as mulheres é aceite atualmente em muitas culturas. No


passado foi considerado um ato aceitável no ocidente e contemplada na lei dos
EUA.
 Em 1800, a lei limitou o tipo de violência que um homem podia exercer sobre a
mulher – “Não podia usar um objeto que fosse mais largo que o seu polegar”.
Apenas no séc. XIX a lei foi abolida.
 A violência contra as mulheres está relacionada com a estrutura do poder
tradicional e é maior quanto maior for a discrepância de poder entre géneros.

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 Nos casos em que as mulheres têm um estatuto particularmente inferior ou


superior. Tornam-se, respetivamente, um alvo fácil da violência ou os seus
maridos sentem-se ameaçados e podem tornar-se violentos.
 74% de todos os crimes de assassinato e suicídio nos EUA envolvem um parceiro
íntimo (cônjugue, ex- cônjugue, namorado/a). Destes, 96% foram mulheres
mortas pelos seus parceiros íntimos.

Fatores associados à violência doméstica:

 Em famílias numerosas em que há preocupações financeiras e em que existem


níveis elevados de agressão verbal.
 Os adultos que em crianças viveram em famílias em que a violência estava
presente tendem a ser mais violentoos enquanto adultos.
 O incesto é mais comum nas famílias ricas.
 É mais comum em famílias que vvem em ambientes stressantes, baixo nível
socioeconómico, famílias monoparentais e em situações de elevados níveis de
violência.

O ciclo da violência – de acordo com esta hipótese da teoria da aprendizagem social, a


violência e a negligência infantil conduzem à predisposição para a violência nos adultos.

A violência é perpetuada entre gerações, pela identificação com modelos familiares:


crianças cujas mães são vítimas de violência doméstica conjugal estão em maior risco de
consequências adversas de saúde física e psicológica, incluindo tornar-se vítimas ou
perpetuadoras de violência nas suas relações.

O ciclo de violência não explica todo o fenómeno – apenas 1/3 das pessoas que foram
maltratadas enquanto crianças, maltratam os seus filhos quando adultos; os restantes
2/3 dos agressores não foram agredidos em crianças.

A transmissão de violência a partir da exposição à violência na família de origem, porém


foi mediada pelo género, num estudo com 303 reclusos. Apenas se observou quando o
agressor foi o pai ou ambos, e não se foi apenas a mãe.

A violência doméstica funciona como um sistema circular – o chamado ciclo de violência


doméstica – que apresenta, regra geral, 3 fases:

1. Aumento da tensão – agressor mostra indisposição, a mulher pode tentar


acalmá-lo ou retirar-se da situação o agressor sente a vulnerabilidade e aumenta
a tensão;
2. Ataque violento – violência física aguda que em muitos casos leva a
hospitalizaçõ ou morte;
3. Lua de mel – o agressor sente remorsos e pede desculpa pelos seus atos, não
em todos os casos.

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Ele pode prestar apoio e tratamento à sua companheira, assegurando não voltar a ser
violento. Muitas mulheres permanecem na relação, gostam dos seus maridos e encaram
a violência como uma forma aceitável de resolver conflitos.

As mulheres podem sentir que contribuíram para despoletar a agressão, querem


acreditar que a violência não se vai repetir. Outras mantêm os seus casamentos, porque
acreditam que não têm alternativas melhores ou permanecem por medo.

Este ciclo caracteriza-se pela repetição ao longo dos meses ou anos, podendo ser cada
vez maiores as fases de tensão e de apaziguamento.

Intervenção em mulheres vítimas de violência conjugal:

 Partir da premissa básica de que a violência nunca é uma forma aceitável de


resolver conflitos;
 Sugerir a possibilidade de chamar a polícia;
 Informar que o remorso, mesmo sincero, pode não ter correspondência no
futuro;
 Informar sobre a existência de refúgios secretos para as mulheres vítimas de
violência;
 Sugerir o pedido em tribunal de uma ordem de restrição cautelar;
 Encaminhar para uma associação de apoio à vítima.

Adulto Maduro (> 60 anos)

1. Alterações demográficas – a esperança média de vida (EMV) está a aumentar;


2. Em Portugal, a EMV à nascença é de 75,2 anos para os homens e 81,6 anos para
as mulheres. Aos 65 anos a EMV é, em média, de +18 anos;
3. População, aumento do topo e diminuição na base das faixas etárias;
4. Pela 1ª vez na história, a partir de 2020, a população mundial terá uma população
envelhecida (15%) superior à população infantil e jovem (7%);
5. Na Europa, até 2050, a taxa de envelhecimento será ainda supeior (20%).

 O envelhecimento traz mudanças físicas, internas e externas.


 Redução do tamanho do cérebro; redução da circulação sanguínea cerebral e no
geral; na respiração e na digestão.
 A visão diminui à distância; a audição pode diminuir; o olfato e o paladar tornam-
se menos discriminativos.
 Redução do tempo de reação e do processamento de informação em geral –
verificam-se mais acidentes em adultos maduros.

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Hipóteses
1) O SN periférico torna-se menos eficiente e 2) Existe uma desaceleração generalizada
demora mais tempo a transmitir a informação do SN central.
do SN central aos membros;

Não se comprovou nenhuma hipótese

Envelhecimento

Primário Secundário
Mudanças universais e irreversíveis que Mudanças no funcionamento físico e
devido à programação genética ocorrem à cognitivo que se devem à doença, aos
medida que as pessoas envelhecem. hábitos de saúde e a putras diferenças
individuais e não ao envelhecimento em
si.

Doenças físicas mais típicas nos AM – doenças cardíacas, cancro e AVC.

Devido ao enfraquecimento do sistema imunitário, é comum existir uma doença crónica


de longo termo, artrite, hipertensão.

Em Portugal, 32,2% das mortes são por doença do aparelho circulatório; 21,7% tumores
malignos, ambas estão a baixar nos últimos anos.

Auto-apreciação sobre a saúde, em Portugal:

 47% das pessoas entre os 45 e os 74 anos apreciava o seu estado de saúde como
razoável; 46% com mais de 74 anos considerava como mau ou muito mau;
 Doenças psicológicas – 15 a 25% dos inidvíduos com mais de 65 anos apresenta
alguma perturbação psicológica;
 Depressão Major é a mais comum, consequência de sucessivas perdas de pessoas
próximas, do declínio da sua saúde e das capacdades e da perda de
independência;
 As demências (Alzheimer é a + comum) relacionadas com a perda de memória e
outras funções mentais;
 Ou perturbações psicológicas resultates da combinação de medicamentos.

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Envelhecimento - Sociedade e Cultura

A abordagem da estratificação da idade – a idade, como a etnia e o género, permitem


classificar as pessoas na sociedade.

Na sociedade, os recursos económicos são distribuídos de modo desigual, pelas várias


idades do ciclo de vida.

Como se processa o declínio socioeconomico após a reforma?

 EMV aumenta e as pensões tendem a ser fixas e a não acompanhar a inflação.


Entre a idade da reforma e a EMV (65-85 anos) vão cerca de vinte anos de
diferença. Nesse período muitos AM descem abaixo do limite da pobreza.
 O envelhecimento está associado à necessidade aumentada de cuidados de
saúde, problemas financeiros e fenómenos de exclusão social.
 A saúde deteriora-se, os idosos gastam cerca de 20% do rendimento em custos
de saúde.
 Em sociedade não industrializadas o envelhecimento é visto de modo mais
positivo, as atividades agrícolas permitem aos AM acumular recursos (terra,
animais).

Questões financeiras

As questões financeiras no adulto maduro (AM) – os mais pobres na idade adulta tendem
a ser pobres na 3ª idade e o nível de pobreza acentua-se:

 10% dos AM vive em condições de pobreza


 As mulheres são a maior percentagem em todos os grupos e a probabilidade de
viverem em pobreza é o dobro em relação aos homens

Envelhecimento e cultura - as sociedades asiáticas estimam mais os adultos maduros


por comparação à sociedade ocidental

Trabalho e reforma no adulto maduro

Alguns AM não desejam a reforma, outros reformam-se assim que podem:

 A reforma traz mudanças para a identidade dos indivíduos de trabalhador ativo


para reformado - sentem falta do título profissional, já não são contactados para
aconselhamento técnico
 Por outro lado, representa a possibilidade de mais lazer. O tempo de reforma é
muito superior do que em anteriores gerações
 Muitos indivíduos permanecem a trabalhar depois da idade da reforma por razões
pessoais ou financeiras

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Trabalhadores mais velhos – combater a discriminação pela idade – Idadismo

 Apesar da lei nos EUA proibir a reforma compulsiva, muitos AM sentem a


discriminação face à idade e são encorajados à reforma pelas empresas. Assim,
podem contratar trabalhadores mais jovens
 Existe a crença de que os trabalhadores mais velhos perdem a capacidadade de
corresponder às exigências do trabalho e de se adaptar às mudanças
 Estudos com trabalhadores mais velhos (polícias, bombeiros, guardas prisionais)
demostraram que não é a idade que afeta a performance, mas as características
individuais dos trabalhadores

Reforma e lazer no Adulto Maduro

 As necessidades contemporâneas do mercado de trabalho talvez possam ajudar


a combater esta discriminação. À medida que a forma do trabalho diminui, as
empresas oferecem incentivos aos adultos para permanecerem a trabalhar
 A decisão da reforma baseia-se em vários fatores dependendo dosindividuos:
frustração e cansaço com o trabalho, problemas de saúde, incentivos dos
empregadores para a reforma, outros planearam a reforma durante ante, viajar,
estar com filhos e netos
 Fases da reforma
1. Lua de mel (envolvem-se em atividade como viajar, que eram impedidas pelo
trabalho);
2. Desencantamento (a reforma não era o que esperavam, podem sentir falta de
estimulação e companhia, podem ter dificuldade em manter-se ocupados);
3. Reorientação (reconsideram as suas opções e envolvem-se em novas atividades
compensadoras. Se for bem conseguida esta fase, a pessoa sente-se preenchida
– rotina da reforma. Alguns indivíduos nunca atingem esta fase, ficam sempre
desencantados);
4. Terminus (alguns interrompem a reforma para voltar a trabalhar, outros tornam-
se fisicamente debilitados e não o podem fazer).
 nem todos passam por estas fases e a sequência não é universal - depende das
razões que levaram à reforma, negativas (saúde), positivas (vontade de fazer
coisas pelo gozo), se gostavam do seu trabalho ou se estavam frustrados com o
trabalho.
 Estudo mostra que o BES aumenta nos primeiros anos de reforma e sofrem um
declínio uns anos depois
 O trabalho pode proporcionar estimulação, desafios, interação social é um
sentido de ser socialmente valorizado
 Vários estudos têm indicado um efeito protetor do trabalho assalariado face à
depressão e ao bem estar emocional.

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 As atividades profissionais pós-reforma possuem o potencial de ajudar a resolver


paroleámos sociais, contrariar a escassez de especialistas e ao mesmo tempo
reduzir a carga sobre os sistemas de segurança social.
 Trabalho e atividades pos reforma conferem características ocupacionais;
realização e valorização profissional; motivação, apreciação, autonomia
 As consequências psicológicas da reforma variam muito entre os indivíduos. Para
muitos é a continuação de uma vida bem vivida e usam-na ao máximo.
 Planear uma boa reforma:

1. Financeiramente (poupanças, seguros de vida)

2. Profissionalmente (reforma gradual)

3. Lazer (explorar interesses)

4. Conjugal (objetivos com o parceiro)

5. Habitação (onde viver, considerar ou não a venda de uma casa)

Descontinuidade no Adulto Maduro

Erikson - estágio integridade do ego vs desespero - caracterizado pelo processo de


avaliação e balança em relação à vida

 as pessoas que sucedem, vivem satisfação e sentem-se realizadas em relação às


possibilidades que a vida lhes ofereceu, demonstram poucos arrependimentos -
resultando num sentimento de integridade pessoal
 Outros vivem insatisfação, podem sentir que perderam oportunidades
importantes e não realizaram o que desejavam, sentem que falharam. Podem
sentir-se infelizes, deprimidos, zangados em relação ao que fizeram, resultando
em desespero

Robert Peck - teoria das tarefas do desenvolvimento - o desenvolvimento da


personalidade nesta idade consiste em 3 tarefas importantes:

 Redefinição do self vs preocupação com o papel - o indivíduo deve ser capaz de


se redefinir sem ser com base na sua ocupação ou papel profissional. Ajustar-se à
reforma e aceitar outros papéis e atributos pessoais (ser avó, viajante, jardineiro).
 Transcendência do corpo vs preocupação com o corpo - o indivíduo precisa
aprender a lidar com as mudanças do corpo, transcendê-las, sob o risco de ficar
preocupado com a deterioração física em detrimento do D da personalidade.
 Transcendência do ego vs preocupação com o ego - as pessoas enfrentam a
proximidade da morte, embora a morte seja inevitável, devem compreender que
fizeram a sua contribuição para a sociedade. Se aceitam que esta contribuição
transcende a sua própria existência, experienciam a transcendência do ego. Caso

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contrário, tornam-se preocupados com o valor que a sua vida terá para a
sociedade.

Retrospectiva de vida no AM

Retrospectiva de vida e reminiscência – a revisão da vida é um trabalho importante


focado nas várias teorias do envelhecimento – as pessoas avaliam a sua vida, olham para
trás e relembram e reconsideram o passado

o Traz benefícios - melhor compreensão do passado; resolução de problemas e


conflitos com pessoas e maior serenidade; pode conduzir a um sentimento de
partilha e ligação aos outros
o Traz benefícios cognitivos - refletindo ativam e melhoram a memória; podem
despolpar outras melhorias e trazer vistas, sons e até cheiros do passado
o Produz continuidade entre o passado e o presente, favorece maior consciência
do mundo contemporâneo, permitindo continuar o desenvolvimento da
personalidade e funcionar de modo mais eficiente no presente
o Pode ser negativo - se as pessoas se tornam obsessivas acerca do passado;
revivendo velhos insultos e erros que não consegue, rectificar; podem sentir culpa
ou agressividade contra pessoas do passado - reduz o funcionamento psicológico
o Estudos mostram que as atividades de reminiscência podem ser uma forma de
intervenção terapêutica importante nos mais velhos
o Estudo experimental com uma amostra de veteranos de guerra (M = 82 anos).
Uma intervenção em atividade de reminiscência em 8 sessões: quatro semanas,
duas vezes por semana. Melhoraram os sintomas depressivos
o Estudo quase-experimental que pretendeu apoiar seniores na adaptação de
mudanças através de uma atividade de reminiscência - relembrando momentos
de stress do passado e de como ultrapassaram as situações adversas.

Envelhecimento com sucesso

Não existe uma resposta única para o sucesso no envelhecimento dos individuos,
depende das características do indivíduo e do contexto em que se insere. existem 3
teorias sobre o sucesso no envelhecimento:

1. Teoria do desinvestimento

 Estudos iniciais apoiam perspetiva. O sucesso depende de uma retirada gradual


dos indivíduos do mundo ao nível físico, psicológico e social
 Fisicamente têm menos energia e tendem a desacelerar; psicologicamente
investem menos e demonstram menos interesse nos outros, passam mais tempo

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em introspeção; socialmente interagem menos com os outros e participam


menos socialmente
 A retirada é um processo bilateral, devido às normas e expectativas em relação
ao envelhecimento, a sociedade desinveste progressivamente nos mais velhos,
através da reforma e da retirada de papéis sociais
 O desinvestimento social não é algo negativo, permite aos indivíduos tornarem-
se mais reflexivos e menos condicionados por papéis sociais
 Tornam-se mais seletivos nas relação interpessoais, focam-se nas que melhor
suprem as suas necessidades. Deseinvestindo emocionalmente nas relações
ficam mais capazes de se ajustar às mudanças e perdas do envelhecimento

2. Teoria da atividade

 Embora estudos iniciais apoiassem a teoria do desinvestimento, estudos


posteriores mostram que os adultos mais velhos que mantêm o investimento na
vida social são tão felizes quanto os que desinvestem
 O desinvestimento não é um processo universal, em muitas sociedades os
indivíduos matêm-se investidos socialmente
 Esta teoria sugere que o sucesso no envelhecimento decorre das pessoas se
adaptarem às novas circunstâncias da sua vida e de não se retirarem
 A felicidade e o BES aumentam com um elevado envolvimento social
 A qualidade e natureza da atividade não é considerada nesta teoria
 Manterem uma continuidade em relação às atividades que perseguiram durante
a idade adulta. Quando não é possível procederem à substituição das atividades

3. Teoria da continuidade

 Nem a teoria do desinvestimento nem a teoria da atividade fornecem a explicação


total para o sucesso no envelhecimento
 O sucesso está na integração das duas perspectivas, nalguns casos, reside no
desinvestimento e inatividade, noutros reside em preservar um nível significativo
de atividade e envolvimento
 Existem adultos mais ativos ou mais retirados que apreciam interesses mais
solitários (ler, passear), vão ser mais felizes se conseguirem esse nível, de
sociabilidade quando envelhecerem
 Pessoas precisam manter o seu nível cerro de envolvimento social de modo a
maximizar o seu bem estar e autoestima
 Outros fatores de sucesso:

1. Boa saúde física e mental, segurança financeira satisfatória, autonomia,


independência, controlo sobre a própria vida

2. A forma como percecionam o envelhecimento

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Psicossociologia do Desenvolvimento

3. Podem viver tantas emoções positivas como os jovens e são mais eficazes a
regular emoções

Modelo da otimização seletiva com compensação - parte do princípio que o


envelhecimento traz perdas físicas e cognitivas mas que é possível compensar essas
perdas através da otimização seletiva

1. Concentrar o investimento em áreas de atividade particulares, reduzindo o


investimento em outras áreas menos eficazes e relevantes. Implica uma transformação e
redução das atividades mas que se torna eficaz

2. É possível correr a maratona e manter-se um pianista virtuoso

3. A idade traz perdas de capacidades mas é possível compensar quaisquer perdas,


aproveitando os recursos existentes e investindo em áreas particulares de interesse

Alguns autores defendem, em vez do termo sucesso, o uso do termo "envelhecimento


ativo", por ser mais holístico, por focar tanto os aspetos individuais como os sociais, ser
mais orientada para o curso da vida e foca igualdade de género

 Porém tem sido dominado por uma perspetiva económica que prioriza extensão
do trabalho na vida
 Tem a vantagem de capacitar os países a responder aos desafios do
envelhecimento da população
 Num estudo longitudinal sueco, ao longo de 8 anos, com adultos mais velhos,
revelou que existem perfis de envelhecimento com padrões desiguais de sucesso
e insucesso aos níveis social, cognitivo e emocional

Cada pessoa tem um conceito diferente de envelhecimento, visto que têm perfis e
personalidades diferentes. Assim sendo, cada um vive o envelhecimento da forma que
quer (uns são mais ativos, outros preferem ficar em casa no sossego).

Estudo questiona o conceito de envelhecimento com sucesso pela sua dimensão


normativa. Análise da literatura em gerontologia social sugere:

1. Expansão multidimensional de critérios de envelhecimento bem sucedido


2. Acrescentar significados subjetivos dos mais velhos, nas medidas de
envelhecimento com sucesso
3. Maior inclusão da diversidade, evitar a discriminação e intervir em contextos
estruturais do envelhecimento
4. Modelos alternativos, designadamente, baseados em filosofias orientais

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Psicossociologia do Desenvolvimento

Quotidiano do adulto maduro

Pessoas podem encontrar felicidade nesta idade:

Viver em sua casa - 2/3 das pessoas com mais de 65 anos vive nas suas casas
acompanhado por um familiar, uma pequena percentagem vive numa instituição

 Na maior parte dos casos vivem com o conjugue, uma parte menor com os filhos
ou em contextos multigeracionais
 Quem vive com o conjugue sente-se a viver a continuidade da vida adulta
 Os que vivem com filhos sofrem um período de adaptação, sentem lerda potencial
de independência e privacidade e podem entrar em desacordo com os filhos em
relação à educação dos netos
 Os conflitos podem ser atenuados com o estabelecimento de regras básicas e
papéis bem definidos
 Os AM afro americanos rendem a viver em famílias multigeracionais
 Contextos especializados - cerca de 5% dos AM vivem numa instituição. A maior
parte vive toda a vida em contextos familiares

Institucionalismo - estado psicológico que as pessoas desenvolvem em lares de má


qualidade, caracterizado pela apatia, indiferença e falta de consideração por si mesmos

1. Regulação de horas, alimentação, atividades imposta pelas instituições, como lares

2. Sentimento de restrição no poder de escolha da sua vida e das suas tarefas

3. Sentimento de inutilidade

 Um estudo mostrou que o ambiente residência, pode levar a sintomas


depressivos - começou a oferecer-se disponibilidade e atividades para os idosos,
como jardinagem, desporto, promovendo a sua atividade físico e cognitiva
 Promoção da participação em clubes mostrou melhorias na identidade pessoal,
maior capacidade cognitiva e na sua atividade

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Psicossociologia do Desenvolvimento

O fim do ciclo de vida - a Morte

Definições de Morte
Morte funcional Ausência de respiração e batimento cardíaco
Morte cerebral Ausência de atividade mental, medida pelas ondas
cerebrais. A lei define a morte com base neste
critério
Morte psicológica Perder a capacidade de pensar, sentir e
experienciar coisas pode ser suficiente para
declarar a morte, mesmo que exista atividade
cerebral (em casos de coma os danos cerebrais
são irreversíveis e podem impedir a experiência de
uma vida humana digna; alguns autores defendem
que esta deveria se a definição de morte)

A morte ao longo do ciclo de vida

A morte está associada ao envelhecimento, no entanto, as pessoas podem experienciar


a morte em todas as idades. A morte em idades jovens não é considerada natural e
provoca reações extremas.

Morte na infância:

1. A quantidade de pais que passa por este evento é elevadas as reações são profundas

2. A morte pré-natal é particularmente difícil, criam-se laços entre os pais e o feto. Os


amigos e família tendem a não compreender o impacto emocional do aborto.

3. Provoca stress extremo por não anteciparem essa situação, desenvolvendo


sentimentos de culpa

4. Por parte dos pais, existe uma dor profunda e sentimentos de perda intensos devido
aos laços fortes. Sentem culpa porque o seu papel é protegerem os filhos de qualquer
mal

Estudo com 53 pais de 35 crianças falecidas tiveram reunião com médico cerca de 3
meses depois. Análise de conteúdo com o objetivo de descrever os processos de
significarão em relação à morte dos filhos. Quatro processos de significado:

1. Procurar sentidos - busca de explicações biomédicas para a morte, recusava do


decisões terapêuticas tomadas

2. Encontrar benefícios - explorar consequências positivas da morte do filho,


encontrando formas de ajudar os outros, dar feedback aos outros e ao hospital,
voluntariado

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Psicossociologia do Desenvolvimento

3. Manter a ligação - conexão permanente com a criança falecida, partilhando fotos,


eventos de comunidade para homenagear a criança

4. Reconstrução da identidade - mudanças no sentido do self dos pais, incluindo


mudanças nos relacionamentos, no trabalho, casa e lazer

Estas reuniões podem ajudar os pais a superar algum


sofrimento, dar um significado à morte, integrá-la.

A morte vista pelas crianças

 Antes dos 5 anos não desenvolvem um conceito de morte definitivo é irreversível,


pensam que há uma redução da vida e que é temporária, as pessoas podem ser
reanimadas se os vivos desejarem (bela adormecida).
 As interpretações erradas podem gerar sofrimento, podem sentir-se culpadas
(mau comportamento) ou pensam que as pessoas, se quisessem, poderiam voltar
à vida.
 Após os 5 anos compreendem melhor a realidade da morte mas ainda não a
entendem como universal. Até aos 9 anos pensam que acontece apenas a
algumas pessoas. Na idade escolar aprendem os rituais da morte (funerais).
 É importante explicar que a criança não teve culpa e a pessoa que morreu não
volta porque não pode, senão voltaria.
 Estudo mostra que crianças entre 5 e 7 anos compreendem a morte biológica e
os conceitos de cessação da vida e irreversibilidade.
 Estudo mostra que as crianças a partir dos 7 anos temem a morte e vivem
preocupações, insegurança e ansiedade, especialmente se estiverem nas salas de
espera em hospitais.
 Por períodos conseguem atenuar o medo quase completamente quando a
condição dos pais é estável, ocupando-se com os seus hobbies.
1. Mecanismos positivos para lidar com a morte, fazer coisas significativas para o familiar,
achar que podem fazer alguma magia
2. Evitar falar com as crianças sobre a morte não as protege de pensamentos sobre a
mesma
3. A formação de profissionais de saúde e professores deve ser reforçada no sentido de
os preparar para o aconselhamento

A morte vista pelo adolescente

 A visão da morte nos adolescentes também é tendencialmente irrealista. Embora


reconheçam a irreversibilidade, acham que não acontece a eles, só aos outros.

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Psicossociologia do Desenvolvimento

 Quando confrontados com uma doença incurável podem mostrar zanga e revolta,
entrarem em negação, achando que a vida foi injusta com eles. Podem ainda
dificultar a intervenção médica.

A morte no jovem adulto

 Altura em que os indivíduos têm muitos projetos, a ameaça de morte é recebida


como inesperada, com sentimentos de injustiça e revolta por ameaçar o futuro.
 As preocupações perante a ameaça de morte incidem sobre as relações íntimas,
expressão da sexualidade e ter filhos (deve casar mesmo que o outro fique viúvo?
Deve ter filhos que o outro vai criar sozinho?), incidem sobre os planos de
carreira.
 Geralmente são maus doentes, tendem a ser agressivos para os técnicos de
saúde.

A morte no adulto médio

 A morte não é sentida como um choque tão forte, a aceitação é ainda difícil.
 A principal causa de morte é paragem cardíaca" embora inesperada, pode ser
mais fácil do que uma doença prolongada, sem sofrimento, sem amputação de
partes do corpo.
 Nesta idade, a preocupação com a morte é frequente, as pessoas começam a
pensar quanto tempo lhes resta para viver.

A morte no adulto maduro

 Sabem que vão morrer nesta faixa etária, experienciam a morte dos outros
próximos, torna-os conscientes da própria finitude.
 São menos ansiosos e mais reflexivos acerca da morte.
 Alguns suicidam-se (mais 85 anos), é a idade com maior número de suicidios.
Como consequências de depressão severa, com doenças terminais, demência,
morte de conjugues.
 Focam-se no questionamento se a sua vida tem valor, se são um fardo para a sua
família, se estão a morrer ou apenas doentes.
 As pessoas reagem à notícia da morte se formas diferentes, dependendo da sua
personalidade, os mais ansiosos reagem de forma mais preocupada.

Diferentes concepções da morte


- diferenças culturais determinam se a morte é encarada como:

 O início da vida eterna, um julgamento acerca da participação da vida.

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Psicossociologia do Desenvolvimento

 Uma continuação da vida, as pessoas movem-se para uma ilha habitada por todas
as pessoas e animais, a morte é aceite sem revolta.

A educação sobre a morte - fala-se pouco no ocidente, esconde-se, protege-se as crianças.


Os tanatologistas (estudam a morte) sugerem que devia haver formação para ajudar as
pessoas a lidar com a morte dos outros e delas próprias:
o Educação de intervenção na crise - fornece explicações sobre a morte e o
sofrimento, ações decorrem perante eventos críticos (11 de setembro).
o Educação de rotina sobre a morte - nos EUA é normal haver formações no
secundário e em certas licenciaturas.
o Educação sobre a morte para profissionais de saúde - é necessária uma formação
mais específica para os técnicos saberem lidar melhor com a morte dos doentes.

Confronto com a morte


Teoria sobre a morte - através da metodologia de entrevista, 5 passos básicos pelos
quais as pessoas passam quando são informadas de doença terminal:

Negação (choque)- a pessoa resiste à ideia de que vai morrer, argumentam que deve ser
engano médico
1. Pode assumir várias formas: rejeição do diagnóstico, esquecimento de sementas de
internamento, oscilação entre recusar a notícia e confessar que sabe
2. A negação pode ser vista como negativa - em termos de saúde mental ou como um
mecanismo de defesa adaptativo, permitindo à pessoa absorver a notícia.
Agressividade - podem zangar-se e magoar as pessoas à sua volta
1. Questionar em voz alta porque são eles e não outros a morrer. Podem zangar-se com
deus. Não é fácil estar perto das pessoas nesta fase.
Negociação - tentam ser uma melhor pessoa na esperança de serem recompensados e
permanecerem vivos.
1. Tentam negociar prazos para a aceitação da morte (até ao casamento da filha) mas
acabam por estabelecer sempre novos prazos, até que a morte os impeça mesmo.
2. Parece ter consequências positivas, as taxas de mortalidade refletem isso, aumenta,
após dias importantes, feridos religiosos - o poder da motivação.
Depressão - quando a negociação já não é possível, as pessoas são atingidas por um forte
sentimento de perda, em relação aos seus entes queridos e à sua volta.

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Psicossociologia do Desenvolvimento

 Depressão relativa - tristeza em relação a eventos que ocorreram (perda de


dignidade, emprego, saber que não volta a casa, não ter filhos)
 Depressão preparatória - tristeza em relação a futuras perdas, fim dos
relacionamentos, impossibilidade de ver as gerações futuras a crescer e a
inevitabilidade da morte.
Aceitação - a morte é eminente e os indivíduos aceitam-na conscientemente.nao revelam
emoções positivas e negativas, não comunicam, não desmontaram ter sentimentos em
relação ao passado ou ao futuro. Desejam estar sós, retirada relacional.

A teoria tem sido muito testada e criticada:

1. Limitada a pessoas cujo prognóstico é incerto


2. Nem todos passam pelos mesmos estágios e a sequência pode ser diferente, repetição
estágios
3. Negligencia aspetos como a ansiedade à morte e aos sintomas
4. Há diferenças na reação à morte consoante a causa, a duração do processo, a idade,
sexo, personalidade e apoio recebido

A escolha da natureza da morte


Não reanimar – pedido efetuado pelo doente para que o deixem morrer no caso de terem
que aplicar procedimentos médicos extremos, invasivos e dolorosos para o manter vivo.

Decisão difícil:

 Decidir sobre diferenciação entre procedimentos extremo vs extraordinário


 Quem decide, o técnico ou a família?
 Como se determina se a qualidade de vida de um doente vai aumentar ou
diminuir devido a uma intervenção?
 É complexo aplicar, necessário analisar as necessidades do pacinte, a sua história
médica, idade, religião, etc
 Os médicos desconhecem muitas vezes o pedido de não reanimar dos seus
doentes ou mostram relutância em aceitá-lo
 Testamento vital: documentos legais que expressam os tratamentos médicos que
os indivíduos não desejam ou nomeiam um representante para tomar as decisões
caso estejam impossibilitados

Eutanásia ou suicídio assistido


Eutanásia: a prática de ajudar alguém em estado terminal de doença a morrer de forma
mais rápida, quando o outro participa.

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Psicossociologia do Desenvolvimento

Suicídio assistido: assistir pessoas que estão em estado terminal de doença a interromper
a sua vida, sendo o próprio a realizar o ato.
A lei portuguesa proíbe, com pena de prisão até 3 anos
Na Holanda é permitido se forem cumpridas 3 condições:
1. Diagnóstico de 2 médicos (a indicar que a pessoa está mesmo em fase terminal)
2. Sofrimento físico e psicológico
3. Consentimento informado assinado pelo paciente e informação familiares com
antecedência (têm de ser avisados)
Eutanásia passiva – remover máscara de oxigénio ou outro equipamento médico que
mantém a vida do paciente artificialmente
Eutanásia ativa – intervir no sentido de provocar a morte antes de ela ocorrer
naturalmente (administrar medicação em dose letal)
A eutanásia é controversa, mas praticada. Estudo revela que 20% dos enfermeiros
entrevistados relatou ter deliberadamente antecipando a morte a pelo menos um
doente

Apoiantes da eutanásia – temos o direito de controlar e decidir sobre a nossa vida


Oponentes da eutanásia – é moralmente errado, assassinato; o prognóstico dos médicos
sobre o tempo que resta pode ser errado; os pacientes estão geralmente em depressão
profunda e depois de tratados com anti-depressivos a sua opinião pode mudar

Prestação de cuidados aos doentes terminais


Os hospitais não são os locais mais adequados p acompanhar as pessoas na morte (são
preparados para dar vida às pessoas):
1) Restrição de visitas, muitas horas sozinhas
2) Impessoalidade nos cuidados (rotatividade dos técnicos)
3) Falta de recursos/formação para apoiar as necessidades emocionais dos doentes
e da família
4) Vocação para a recuperação, cuidados muito caros
Alternativas à hospitalização:
a) Em casa – familiares prestam cuidados e os médicos fornecem serviços
domiciliários. Embora os pacientes prefiram os cuidados em casa, nem todas as
famílias podem prestar esse apoio. É muito exigente física e emocionalmente para
os cuidadores, também devido à sua falta de formação e ao facto de não se
sentirem preparados.
b) Unidades de cuidados paliativos – estão integradas em hospitais; doentes sabem
que vão morrer mas beneficiam de um conjunto de serviços que pretendem

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Psicossociologia do Desenvolvimento

promover o seu bem-estar físico e psicológico (massagens, decoração


acolhedora, animais de estimação, cozinha para as visitas, serviços religiosos.
c) Centros de doentes terminais – instituições vocacionadas para fornecer cuidados
às pessoas em estado terminal. Opõem-se a tratamentos agressivos para manter
os indivíduos vivos. Têm o objetivo de promover o bem-estar físico e psicológico.

Falecimento e sofrimento
Para um evento que é universal, a maioria dos indivíduos manifesta estar muito mal
preparada. Tende a considerar a morte como algo atípico, torna a aceitação mais difícil.
Rituais finais (funeral) – consiste em serviços de transporte, preparação do corpo e caixão.
É determinado por normas e estruturas sociais, representa uma transição para os entes
queridos e para o resto da comunidade. É um ato público e um reconhecimento da
mortalidade de todos.
Há diferenças culturais:

 Ocidente – preparação do corpo, celebração religiosa, procissão, visita à família


em luto; no exército, colocam-se badeiras do país em cima do caixão
 Outras culturas – familiares rapam o cabelo ou deixam o cabelo crescer em sinal
de dor; podem contratar-se carpideiras, noutros impera o silêncio

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