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MISSA DO GALO: VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA: UM CONTO – SEIS

VERSÕES
Adrieli Pontarolo (ICV-UNICENTRO)
Regina Chicoski (Orientadora – Dep. de Letras/ UNICENTRO), e-mail:
adripontarolo@yahoo.com.br

Palavras-chave: Paródia, Missa do Galo, Mulher.

Resumo:
O presente trabalho objetiva apresentar os resultados da pesquisa desenvolvida
com a obra Missa do Galo – Variações Sobre o Mesmo Tema. Nessa obra, seis
renomados escritores reescrevem o conto Missa do Galo de Machado de Assis
fazendo uma homenagem ao autor. No decorrer da pesquisa foram analisados os
contos, observando-se as relações dialógicas e parodísticas, especialmente, a
representação da trajetória feminina num século de história, visto que a
representação da mulher é um dos fios condutores da obra.

Introdução
A obra Missa do Galo - Variações Sobre o Mesmo Tema foi organizada pelo escritor
Osman Lins e publicada no ano de 1977. O autor, contando com a participação de
cinco renomados escritores contemporâneos: Antonio Callado, Autran Dourado,
Julieta de Godoy Ladeira, Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon e com a sua própria
produção, organizou a obra, uma coletânea de contos em que todos os autores
recriaram, a partir de uma perspectiva pré-sugerida e no seu estilo de escrita, o
conto “Missa do Galo” de Machado de Assis. O livro, além de expressar a riqueza e
a variedade da literatura brasileira contemporânea, é uma homenagem a Machado
de Assis e à repercussão de sua produção literária. Como a representação da figura
feminina é um aspecto bem explorado no decorrer da obra, o enfoque da análise
comparativa tem como foco central, em cada uma das versões, o dialogismo, a
intertextualidade e a paródia e, principalmente, a representação da trajetória
feminina e o poder de sedução da mulher num século de história.

Materiais e Métodos
Para a realização do presente trabalho foi selecionada a obra Missa do Galo –
Variações Sobre o Mesmo Tema e analisado cada um dos contos que a compõe,
com o intuito de explanar os conceitos de dialogismo e intertextualidade e discutir a
trajetória e a evolução social da mulher ao longo do tempo. Para tanto, buscou-se
embasamento teórico especialmente em Mikhail Bakhtin, José Luiz Fiorin (2006),
Linda Hutcheon (1985), Leyla Perrone-Moisés(1979) e Jean Baudrillard (1991).

Resultados e Discussão
O conto Missa do Galo de Machado de Assis se desenvolve a partir do enlevo e da
sedução que se dá entre as personagens Nogueira e Conceição em plena noite de
Natal. Produzido em meados do século XIX, o conto apresenta a figura feminina,
mostrando-a sob a perspectiva do comodismo, do preconceito e da submissão em
relação ao homem.
Parodiando o conto machadiano, os textos dos demais autores não fogem do enredo
central apresentado por ele. Em Nélida Piñon tem-se, por exemplo, a representação
do personagem Menezes que, narrando a história em primeira pessoa, deixa
transparecer seu caráter devasso e inescrupuloso e o grande preconceito em
relação à mulher existente na época. Osman Lins, numa perspectiva mais moderna,
dá continuidade à narrativa na voz de Nogueira, porém com um leve tom de ousadia,
sedução e erotismo evidenciado pela valorização dos aspectos físicos e a referência
ao corpo feminino como objeto de sedução. Julieta de Godoy Ladeira inovando o
texto a partir do deslocamento do foco narrativo para a voz feminina, explora a
perspectiva da “Boa Conceição”. Antonio Callado aproxima a narrativa de uma
personagem apenas sugerida no texto machadiano – a mãe de Conceição. Autran
Dourado surpreende com uma personagem cuja postura feminina é totalmente
ousada e moderna e, por fim, Lygia Fagundes Telles que transfere a narrativa para
um “eu onisciente”, mostrando os acontecimentos narrativos de um ângulo geral.
Missa do Galo – Variações Sobre o Mesmo Tema é uma obra polifônica e dialógica.
O fio condutor entre os vários textos está na explanação da figura feminina e no
poder de sedução da mulher mostrado de diferentes perspectivas no texto de cada
um dos autores.

Conclusões
Missa do Galo – Variações Sobre o Mesmo Tema, inegavelmente se configura como
uma valiosa e qualitativa produção literária contemporânea. É uma obra polifônica,
intertextual e dialógica que seduz e interessa tanto aos leitores que se atém
simplesmente à história por passatempo ou lazer, quanto aos estudiosos de
Literatura e àqueles que olham-na de um ponto de vista teórico, científico ou crítico.
Fundamentada na paródia e na intertextualidade a obra representa a criatividade e a
vitalidade da atual literatura brasileira e se constitui numa homenagem ao grande
escritor Machado de Assis e a sua repercussão literária.
Em Missa do Galo – Variações Sobre o Mesmo Tema o dialogismo se fundamenta
no constante entrecruzamento de vozes e discursos. A obra mostra claramente os
vários perfis da mulher e a trajetória feminina num século de história, deixando
explícita a sedução como uma arma feminina, afinal é sempre a mulher quem seduz.
Pode-se verificar na obra também o pastiche – a reinvenção de estilos mortos e a
inserção do passado no contemporâneo. O conto Missa do Galo de Machado de
Assis é reinventado e inserido em novos contextos o que lhe atribui novos e
diferentes sentidos e perspectivas o que prova que a linguagem só se constitui no
diálogo e na constante interação.

Referências Bibliográficas
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da Poética de Dostoiéviski. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1997.
BAUDRILLARD, Jean. Da Sedução. São Paulo: Papirus, 1991
FIORIN, José Luiz. Introdução ao Pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006.
HUTCHEON, Linda. Trad. Teresa Lauro Pérez. Uma Teoria da Paródia. Rio de
Janeiro: Edições 70, 1985.
LINS, Osman (org.). Missa do galo - Variações Sobre o Mesmo Tema. São Paulo:
Summus, 1977.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. “A Intertextualidade Crítica”. In: Intertextualidades
(Poétique). Trad. Clara Crablé Rocha. Coimbra: Almedina

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