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Há algumas semanas mencionei os livros "deuterocanônicos do Novo Testamento" (ver

aqui: https://www.facebook.com/carlosmartins.nabeto/posts/2964292707007338). Muitos


leitores ficaram surpresos em encontrar essa "espécie" de livros também no NT, pois
dado os contatos e debates com protestantes, esperavam encontrá-los tão somente no
Antigo Testamento (AT), onde costumam ser impropriamente chamados de "apócrifos".

Entretanto, o NT grego não só tem alguns livros deuterocanônicos (os quais já


citamos anteriormente: Hebreus, Tiago, 2Pedro, 2João, 3João, Judas e Apocalipse)
como o AT (onde estão Tobias, Judite, 1Macabeus, 2Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico
e Baruc), como AINDA possui algumas "partes deuterocanônicas", da mesma forma como
ocorre no AT (onde temos os "capítulos gregos" de Ester 11 a 16 [segundo a
numeração da Vulgata latina], e as "porções gregas" de Daniel: Cântico de Azarias
na fornalha ardente [Dan. 3,24-50]; Cântico dos três jovens [Dan. 3,51-90]; a
História de Suzana [Dan. 13]; e Bel e o dragão [Dan. 14]).

E quais seriam as "partes deuterocanônicas do NT"? Geralmente as Bíblias de Estudo


costumam apontá-las entre colchetes [] (muito embora a maioria dos colchetes
indiquem também variantes, não necessariamente partes deuterocanônicas) ou em
alguma nota de rodapé. Estão todas elas nos Evangelhos, num total de 54 versículos:

1) O chamado "final canônico" de Marcos (Mar. 16,9-20), que trata sobretudo das
aparições do Senhor Jesus ressuscitado;

2) O "suor de sangue" durante a agonia de Jesus no Horto (Luc. 22,43-44);

3) O detalhe do "movimento da água" no tanque de Betesda, realizado por um Anjo


(João 5,3b-4);

4) O episódio da "mulher adúltera" (Jo. 7,53-8,11), cujo estilo de escrita porém


não concorda com o estilo do Evangelho de João, sendo muito próximo do de Lucas
(razão pela qual há antigos manuscritos que o colocam após Lucas 21,38);

5) Todo o capítulo 21 do Evangelho de João (Jo. 21).

Ao contrário das "variantes" (acréscimos, omissões, etc.), estas passagens foram


oficialmente reconhecidas como inpiradas e canônicas pela Igreja Católica (tal como
os livros deuterocanônicos do AT e do NT) e, por isso, encontram-se em qualquer
Bíblia católica (ou ortodoxa), muito embora não constem nos manuscritos mais
antigos.

E mais do que isso! Essas porções também são encontradas na maioria das Bíblias
protestantes, inclusive e especialmente naquelas baseadas no chamado "Textus
Receptus" (ver foto, extraída da ACF), empregadas pelos mais "fundamentalistas".

Temos então aqui mais uma prova de que ***o cânon destas Bíblias não-católicas
baseiam-se sobretudo na autoridade da Tradição e do Magistério da Igreja
Católica*** (a quem, como Lutero, deveriam ser muito gratos), apesar de desprezarem
os livros e partes deuterocanônicas do AT.

Caso contrário como explicariam a recepção, em suas Bíblias, além dos 7 livros
deuterocanônicos do NT, também desses exatíssimos 54 versículos? 😉

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