Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Analisando a situação atual da economia do país, formas mistas adotadas, tais como o regime de bandas
pode-se concluir que o governo deveria aumentar a cambiais e a flutuação suja1 . Mas, qual o motivo de se
liquidez do sistema, reduzindo a taxa de juros. pretender adquirir outra moeda, no nosso caso o dólar? O
principal é a necessidade de importar (transação que requer
Todavia, um aumento da liquidez pode estimular um
moeda internacional) e o fato de o dólar ser considerado
aquecimento inflacionário (para muitos economistas uma moeda estável, portanto muitas vezes utilizado como
a liquidez monetária é o principal condicionante da ativo para proteção e especulações financeiras.
inflação1 ). Existem muitas teorias e versões para Logicamente, quando se emite moeda nacional, ela sofre
explicar a inflação, como por exemplo: inflação de desvalorização. Quando são emitidos títulos, atraem-se
demanda, inflação de custos, inflação monetária, dólares especulativos e valoriza-se a moeda nacional,
inflação estrutural e inflação inercial. Apesar das apesar do aumento do endividamento.
várias teorias, ela pode ser definida como sendo
“uma elevação generalizada, contínua e persistente Contas Públicas
do nível de preços”.
Outro fenômeno econômico relacionado à moeda Neste ponto outra questão vem à tona. Se tanto a
e à liquidez é o câmbio. As duas formas extremas emissão de moeda quanto a venda de títulos (dívida) trazem
de manifestação do câmbio são: câmbio livre ou
flexível e câmbio fixo. Existem, todavia, outras ...
efeitos perniciosos, que motivo leva o governo a realizá-
las? A resposta é que, de forma semelhante a uma empresa,
determinadas pelo FMI. A emissão de títulos traz dois investimentos diretos, feitos por empresas que
alicerces para as pretensões do governo. Primeiro, como já venham a se instalar no país, aumentando a
dito, a taxa de juros alta reduz a demanda, já que o consumo produção e a arrecadação do governo.
e o investimento caem. Como resultado, os preços no curto O segundo caminho não exclui o primeiro, mas a
prazo diminuem ou, ao menos, não aumentam. Porém, há cada momento torna-se mais caro e inviável. Trata-
um desestímulo à produção, e a economia deixa de crescer,
se de um estrangulamento fiscal, ou seja, menores
podendo gerar recessão e desemprego. O segundo efeito
trazido pelos juros altos está relacionado à atração de gastos e transferências (fiscais) por parte do governo
capitais externos, que valorizam a moeda nacional frente e uma maior tributação, gerando assim um superávit
ao dólar e possibilitam adquirir produtos importados com primário, grande o suficiente para equilibrar o
maior facilidade, diminuindo a demanda por produtos orçamento operacional. Esta fórmula, além de
r e v i s t a F A E B U S I N E S S , n . 1, nov. 2001
desagradável, só resolverá o problema se o país metas inflacionárias maiores. É necessário compreender
conseguir “zerar” o orçamento operacional. Caso que o modelo econômico, que caminha por metas
contrário, a cada fechamento de “caixa” negativo inflacionárias mais elásticas, passa por renegociações de
acumula-se a dívida, que induz a um ciclo de acordos já firmados com o Fundo Monetário Internacional
crescimento do endividamento. É como se a inflação (FMI), que podem ou não ser concretizados.
fosse controlada à custa de uma dívida crescente. Dessa Quando se pensa em metas inflacionárias maiores, não
forma, não se estaria resolvendo o problema, mas sim se está idealizando o melhor dos mundos, pois todos sabem
postergando-o, pois existiria uma inflação disfarçada dos malefícios da inflação; porém, esta é uma saída
em dívida pública. dolorosa ante a um remédio que não tem curado a doença,
A última alternativa passa pela monetização de mas sim disfarçado a febre. Muitos seriam os desafios
parte da dívida e/ou pelo financiamento do déficit desta opção, como por exemplo o de adotar um patamar e
através da emissão de moeda. Com isto o país deixaria uma gradualidade que não estimulassem a inercialidade
de absorver novas inflacionária. A qualquer
dívidas, encerrando o Ou o país opta por um modelo que passa manifestação de descontrole
ciclo de endividamento, pelos juros elevados e provável recessão caberia, ao menos tempora-
e conseguiria reduzir a ou por metas inflacionárias maiores riamente, o retorno ao remédio
taxa de juros, estimu- amargo dos juros.
lando a produção e o crescimento. Como subproduto Estes são os caminhos possíveis a trilhar, e é a partir
desta opção, haveria um aquecimento inflacionário, da escolha de um deles que estaremos determinando
tanto pelo aumento da demanda quanto pela quanto tempo falta para o futuro.
desvalorização da moeda nacional.
Não se trata de ser apologista da inflação, mas, de
uma maneira ou outra, algumas opções devem ser
adotadas, entendendo que para cada uma delas cabe
uma renúncia. Ou seja: ou o país opta por um modelo
que passa pelos juros elevados e provável recessão,
que pode ser duradoura (e já tem sido), acumulando Carlos Ilton Cleto é economista, mestre em Desenvolvimento
Econômico pela UFPR, doutorando em Gestão de Negócios pela UFSC
dívidas que podem ou não serem sanadas, ou opta por e professor da FAE Business School. E-mail: cleto@bbs2.sul.com.br
NOTAS
1Concorda-se que a liquidez contribui para a inflação inercial, porém não se pode atribuir-lhe a responsabilidade única pela elevação
de preços.
...
2Entende-se como flutuação suja a adoção do câmbio flutuante, porém com intervenção das autoridades para a obtenção de determinada
cotação. Difere do fixo por ser passível de flutuação e difere do flutuante pelo fato de sofrer intervenção das autoridades responsáveis pela
política econômica.