-Perspectiva concreta: em que se descreve a sociedade tal como é na
complexidade do seu quadro histórico (a “imagem” assim obtida dá-nos o chamado regime econômico)
-Perspectiva abstrata – que “desbasta” o concreto numa tentativa de
desvendar a realidade essencial subjacente. O sistema social pode ser observado por variadíssimos prismas, a cada um dos quais corresponderá um subsistema. O sistema econômico é um desses subsistemas.
-Sistema econômico: é um conjunto de elementos interdependentes e de
relações entre eles e entre os respectivos caracteres.
• Elementos:
-os sujeitos econômicos (família, empresas e governo) com os seus
objetivos e preferências, com a sua hierarquização etc.;
- os processos de consecução de objetivos cuja sequência lógica seria a
implementação da decisão – resultados; - as instituições, que são padrões estabilizados de inter-relações entre sujeitos econômicos: os mercados, a propriedade privada, a moda, a tributação, a caridade, o trabalho etc.
• Definições:
- Sistema de economia fechada: também chamado sistema de
economia de subsistência em que os produtores (famílias, domínio rural) buscam apenas satisfazer as suas próprias necessidades, produzindo tudo o que necessitam sem terem que comprar ou vender bens.
- Sistema de economia de troca: neste, os produtores especializam-se
em determinadas atividades (há divisão do trabalho) e, porque produzem mais do que basta para a sua subsistência, cedem os excedentes em troca (direta ou monetária) de outros bens que não produzem e de que carecem. Encontramos uma diversidade de sistemas dentro da economia de troca, dos quais dois são diametralmente opostos: o de pura economia de livre iniciativa (de mercado ou capitalista pura) e o de economia socialista de direção central.
A estes sistemas devem acrescentar-se outros de natureza mista ou
híbrida.
• 2) SISTEMAS ECONÔMICOS
Um sistema econômico pode ser definido como sendo a forma política,
social e econômica pelo qual estar organizada uma sociedade. Engloba o tipo de propriedade, a gestão da economia, os processos de circulação das mercadorias, o consumo e os níveis de desenvolvimento tecnológico e da divisão do trabalho. • Elementos Básicos
1) os estoques de recursos produtivos ou fatores de produção, que são
os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas naturais e a tecnologia;
2) o complexo de unidades de produção, que são constituídas pelas
empresas e;
3) o conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais,
que constituem a base de organização da sociedade.
• Tipos de Sistemas
Sistema Capitalista: Na cultura corrente, ao termo Capitalismo se
atribuem conotações e conteúdos frequentemente diferentes. Uma primeira acepção restrita designa uma forma particular, historicamente específica, de agir econômico, ou um modo de produção em sentido estrito ou subsistema econômico. A característica é a de que ao lado da racionalização técnico-produtiva, administrativa e científica promovida diretamente pelo capital, está em ação uma racionalização na inteira “conduta de vida” individual e coletiva.
Sistema Socialista: Em geral tem sido historicamente definido como
programa político das classes dos trabalhadores que se foram formando durante a Revolução Industrial. A base comum das múltiplas variantes do socialismo pode ser identificada na transformação social do ordenamento jurídico e econômico fundado na propriedade privada dos meios de produção e troca, numa organização social na qual: a) o direito de propriedade seja fortemente limitado; b) os principais recursos econômicos estejam sob o controle das classes trabalhadoras; c) a sua gestão tenha por objetivo promover a igualdade social (e não somente jurídica ou política), através da intervenção dos poderes públicos.
• 3) CONCEITO DE REGIME ECONÔMICO
- Características institucionais que determinam, no âmbito de um
sistema econômico, as condições de organização prática do funcionamento da economia.
• 4) ORDENAMENTO JURÍDICO E SISTEMAS ECONÔMICOS
• O Direito e as relações fundantes da economia capitalista:
– busca de relações de determinação entre economia e direito
(marxistas);
– direito previsível como precondição para o desenvolvimento do
capitalismo (weberianos);
– instituições como objeto da economia política (os “antigos”
institucionalistas).
• Normas jurídicas e comportamento dos agentes econômicos
– Efeitos das normas sem condutas; sistemas de incentivos etc.
(Law & Economics; Nova Economia Institucional e demais Institucionalistas);
– Ordem jurídica como um complexo de motivações para a conduta
real (sociologia do Direito, Weber).
• 5) Direito e Desenvolvimento Econômico
Parte do texto de Luiz Carlos Bresser Pereira ao ser consultado sobre os estudos de direito econômico desenvolvidos pela FGV do Rio de Janeiro disponível no portal ASA:
Tendo o direito como objeto a ordem jurídica ou o próprio Estado enquanto
instituição normativa e organizacional, ele estuda o sistema normativo fundamental que coordena todas as sociedades. Só podemos compreender como funciona a vida econômica, política e social de uma sociedade qualquer se partirmos da premissa que essas manifestações só fazem sentido se considerarmos que sua coordenação básica deriva das normas jurídicas. O mercado – o objeto da economia – é também uma instituição e um mecanismo de coordenação social, mas só pode operar se for, antes, definido juridicamente. Quando surge o desenvolvimento econômico, com a Revolução Capitalista, quando o progresso técnico e a acumulação de capital começam a transformar profundamente a sociedade, a ordem jurídica tende a impedir as mudanças. Ou impedia. Foi isto que Marx percebeu há 150 anos. De acordo com ele, o Estado era o instrumento de ação coletiva da alta burguesia. Mas isto ocorria no Estado Liberal, e já representava um avanço em relação ao que ocorria no Estado Absoluto, em que o Estado era mero instrumento da oligarquia aristocrática e patrimonial. Quando, com a Revolução Capitalista, a burguesia se tornou dominante, o Direito passou a ser o defensor das liberdades civis ou do estado de direito. No século XX, quando os países mais desenvolvidos transitam para o Estado Democrático, não é mais apenas a burguesia, mas também a classe média profissional e os trabalhadores que também passam a participar, de alguma forma, do poder do Estado.
O Direito é fundamental para o desenvolvimento econômico, mas tem sido pouco
útil nessa tarefa. Desenvolvimento é um processo de acumulação de capital e incorporação de progresso técnico à produção, associado às transformações econômicas, sociais, e políticas. Ou seja, está associado a transformações na estrutura técnica e produtiva, a mudanças na estrutura social e na cultura política; e a mudanças no sistema institucional ou na ordem jurídica que resultem na elevação dos padrões de vida da população. Nesse processo de desenvolvimento econômico o Direito é o sistema normativo da sociedade com poder coercitivo. É o Estado enquanto sistema constitucional-legal ou ordem jurídica. O Estado, portanto, é o próprio Direito, mas é mais amplo que a ordem jurídica porque compreende também a organização ou aparelho que o estabelece e o garante. Estado e Direito são mais que irmãos gêmeos – são irmãos siameses. A única diferença entre um e outro é que o Estado é maior do que o Direito porque é dotado de uma organização, enquanto o Direito é só a norma. Como pode o Direito estimular o desenvolvimento? Fundamentalmente, formulando e interpretando as instituições jurídicas de forma que elas estimulem a acumulação de capital e a incorporação de progresso técnico. Como se criam oportunidades de investimento? Os neoliberais, ou seja, os liberais radicais que no último quartel do século vinte se tornaram dominantes nos Estados Unidos e, depois, no mundo, têm uma receita ortodoxa convencional. Para eles é muito simples: as instituições devem garantir a propriedade e os contratos. Ponto final; a partir daí o mercado se encarregará de tudo. É a tese central de Douglass North. Mas essa é uma tese inaceitável. É importante proteger a propriedade e os contratos. Como os investidores investirão se não tiverem as garantias? Mas há uma instituição que é muito mais importante do que a mera proteção da propriedade – uma instituição ampla e inclusiva: as estratégias nacionais de desenvolvimento que existem nos países que atravessam períodos de forte desenvolvimento econômico. Mas estratégia nacional de desenvolvimento é uma instituição? Sim. Uma estratégia nacional de desenvolvimento é um conjunto de instituições, de leis, de políticas, diagnósticos, de crenças, de valores, objetivos, que orientam o comportamento das pessoas – dos empresários, dos trabalhadores, dos técnicos, dos políticos e burocratas no Governo. Todos eles têm na estratégia nacional de desenvolvimento um referencial. Quando o país tem uma estratégia nacional de desenvolvimento, a ordem jurídica faz parte dela, embora, naturalmente, seja mais ampla; a ordem jurídica é um referencial não apenas do comportamento aceitável, mas do comportamento economicamente desejável. A China, por exemplo, tem, desde o início dos anos 1980, uma estratégia nacional de desenvolvimento; os chineses têm um referencial. Nós tínhamos uma estratégia nacional de desenvolvimento no Brasil nos anos 1930, 40, 50; depois da crise dos anos 1960, voltamos a tê-la com os militares, embora dessa estratégia fossem excluídos os trabalhadores e mais amplamente os democratas. Mas desde 1980 não temos nada que possa ser identificado com uma estratégia nacional de desenvolvimento. A estratégia que adotamos desde o início dos anos 1990 é importada – é a ortodoxia convencional ou consenso de Washington, que provoca a quase-estagnação dos países que a adotam, como, por exemplo, o Brasil e do México.