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ECONOMIA APLICADA AO DIREITO

Aula 3

• 1) Noções de Sistemas Econômicos

• Perspectivas da Economia

-Perspectiva concreta: em que se descreve a sociedade tal como é na


complexidade do seu quadro histórico (a “imagem” assim obtida dá-nos
o chamado regime econômico)

-Perspectiva abstrata – que “desbasta” o concreto numa tentativa de


desvendar a realidade essencial subjacente. O sistema social pode ser
observado por variadíssimos prismas, a cada um dos quais
corresponderá um subsistema. O sistema econômico é um desses
subsistemas.

-Sistema econômico: é um conjunto de elementos interdependentes e de


relações entre eles e entre os respectivos caracteres.

• Elementos:

-os sujeitos econômicos (família, empresas e governo) com os seus


objetivos e preferências, com a sua hierarquização etc.;

- os processos de consecução de objetivos cuja sequência lógica seria a


implementação da decisão – resultados;
- as instituições, que são padrões estabilizados de inter-relações entre
sujeitos econômicos: os mercados, a propriedade privada, a moda, a
tributação, a caridade, o trabalho etc.

• Definições:

- Sistema de economia fechada: também chamado sistema de


economia de subsistência em que os produtores (famílias, domínio rural)
buscam apenas satisfazer as suas próprias necessidades, produzindo
tudo o que necessitam sem terem que comprar ou vender bens.

- Sistema de economia de troca: neste, os produtores especializam-se


em determinadas atividades (há divisão do trabalho) e, porque
produzem mais do que basta para a sua subsistência, cedem os
excedentes em troca (direta ou monetária) de outros bens que não
produzem e de que carecem. Encontramos uma diversidade de sistemas
dentro da economia de troca, dos quais dois são diametralmente
opostos: o de pura economia de livre iniciativa (de mercado ou
capitalista pura) e o de economia socialista de direção central.

A estes sistemas devem acrescentar-se outros de natureza mista ou


híbrida.

• 2) SISTEMAS ECONÔMICOS

Um sistema econômico pode ser definido como sendo a forma política,


social e econômica pelo qual estar organizada uma sociedade. Engloba
o tipo de propriedade, a gestão da economia, os processos de
circulação das mercadorias, o consumo e os níveis de desenvolvimento
tecnológico e da divisão do trabalho.
• Elementos Básicos

1) os estoques de recursos produtivos ou fatores de produção, que são


os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a
terra, as reservas naturais e a tecnologia;

2) o complexo de unidades de produção, que são constituídas pelas


empresas e;

3) o conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais,


que constituem a base de organização da sociedade.

• Tipos de Sistemas

Sistema Capitalista: Na cultura corrente, ao termo Capitalismo se


atribuem conotações e conteúdos frequentemente diferentes. Uma
primeira acepção restrita designa uma forma particular, historicamente
específica, de agir econômico, ou um modo de produção em sentido
estrito ou subsistema econômico. A característica é a de que ao lado da
racionalização técnico-produtiva, administrativa e científica promovida
diretamente pelo capital, está em ação uma racionalização na inteira
“conduta de vida” individual e coletiva.

Sistema Socialista: Em geral tem sido historicamente definido como


programa político das classes dos trabalhadores que se foram formando
durante a Revolução Industrial. A base comum das múltiplas variantes
do socialismo pode ser identificada na transformação social do
ordenamento jurídico e econômico fundado na propriedade privada dos
meios de produção e troca, numa organização social na qual: a) o direito
de propriedade seja fortemente limitado; b) os principais recursos
econômicos estejam sob o controle das classes trabalhadoras; c) a sua
gestão tenha por objetivo promover a igualdade social (e não somente
jurídica ou política), através da intervenção dos poderes públicos.

• 3) CONCEITO DE REGIME ECONÔMICO

- Características institucionais que determinam, no âmbito de um


sistema econômico, as condições de organização prática do
funcionamento da economia.

• 4) ORDENAMENTO JURÍDICO E SISTEMAS ECONÔMICOS

• O Direito e as relações fundantes da economia capitalista:

– busca de relações de determinação entre economia e direito


(marxistas);

– direito previsível como precondição para o desenvolvimento do


capitalismo (weberianos);

– instituições como objeto da economia política (os “antigos”


institucionalistas).

• Normas jurídicas e comportamento dos agentes econômicos

– Efeitos das normas sem condutas; sistemas de incentivos etc.


(Law & Economics; Nova Economia Institucional e demais
Institucionalistas);

– Ordem jurídica como um complexo de motivações para a conduta


real (sociologia do Direito, Weber).

• 5) Direito e Desenvolvimento Econômico


Parte do texto de Luiz Carlos Bresser Pereira ao ser consultado sobre os
estudos de direito econômico desenvolvidos pela FGV do Rio de Janeiro
disponível no portal ASA:

Tendo o direito como objeto a ordem jurídica ou o próprio Estado enquanto


instituição normativa e organizacional, ele estuda o sistema normativo fundamental
que coordena todas as sociedades. Só podemos compreender como funciona a
vida econômica, política e social de uma sociedade qualquer se partirmos da
premissa que essas manifestações só fazem sentido se considerarmos que sua
coordenação básica deriva das normas jurídicas. O mercado – o objeto da
economia – é também uma instituição e um mecanismo de coordenação social,
mas só pode operar se for, antes, definido juridicamente.
Quando surge o desenvolvimento econômico, com a Revolução Capitalista,
quando o progresso técnico e a acumulação de capital começam a transformar
profundamente a sociedade, a ordem jurídica tende a impedir as mudanças. Ou
impedia. Foi isto que Marx percebeu há 150 anos. De acordo com ele, o Estado
era o instrumento de ação coletiva da alta burguesia.
Mas isto ocorria no Estado Liberal, e já representava um avanço em relação ao
que ocorria no Estado Absoluto, em que o Estado era mero instrumento da
oligarquia aristocrática e patrimonial. Quando, com a Revolução Capitalista, a
burguesia se tornou dominante, o Direito passou a ser o defensor das liberdades
civis ou do estado de direito. No século XX, quando os países mais desenvolvidos
transitam para o Estado Democrático, não é mais apenas a burguesia, mas
também a classe média profissional e os trabalhadores que também passam a
participar, de alguma forma, do poder do Estado.

O Direito é fundamental para o desenvolvimento econômico, mas tem sido pouco


útil nessa tarefa. Desenvolvimento é um processo de acumulação de capital e
incorporação de progresso técnico à produção, associado às transformações
econômicas, sociais, e políticas. Ou seja, está associado a transformações na
estrutura técnica e produtiva, a mudanças na estrutura social e na cultura política;
e a mudanças no sistema institucional ou na ordem jurídica que resultem na
elevação dos padrões de vida da população. Nesse processo de desenvolvimento
econômico o Direito é o sistema normativo da sociedade com poder coercitivo. É o
Estado enquanto sistema constitucional-legal ou ordem jurídica. O Estado,
portanto, é o próprio Direito, mas é mais amplo que a ordem jurídica porque
compreende também a organização ou aparelho que o estabelece e o garante.
Estado e Direito são mais que irmãos gêmeos – são irmãos siameses. A única
diferença entre um e outro é que o Estado é maior do que o Direito porque é
dotado de uma organização, enquanto o Direito é só a norma.
Como pode o Direito estimular o desenvolvimento? Fundamentalmente,
formulando e interpretando as instituições jurídicas de forma que elas estimulem a
acumulação de capital e a incorporação de progresso técnico. Como se criam
oportunidades de investimento? Os neoliberais, ou seja, os liberais radicais que no
último quartel do século vinte se tornaram dominantes nos Estados Unidos e,
depois, no mundo, têm uma receita ortodoxa convencional. Para eles é muito
simples: as instituições devem garantir a propriedade e os contratos. Ponto final; a
partir daí o mercado se encarregará de tudo. É a tese central de Douglass North.
Mas essa é uma tese inaceitável. É importante proteger a propriedade e os
contratos. Como os investidores investirão se não tiverem as garantias? Mas há
uma instituição que é muito mais importante do que a mera proteção da
propriedade – uma instituição ampla e inclusiva: as estratégias nacionais de
desenvolvimento que existem nos países que atravessam períodos de forte
desenvolvimento econômico. Mas estratégia nacional de desenvolvimento é uma
instituição? Sim. Uma estratégia nacional de desenvolvimento é um conjunto de
instituições, de leis, de políticas, diagnósticos, de crenças, de valores, objetivos,
que orientam o comportamento das pessoas – dos empresários, dos
trabalhadores, dos técnicos, dos políticos e burocratas no Governo. Todos eles
têm na estratégia nacional de desenvolvimento um referencial. Quando o país tem
uma estratégia nacional de desenvolvimento, a ordem jurídica faz parte dela,
embora, naturalmente, seja mais ampla; a ordem jurídica é um referencial não
apenas do comportamento aceitável, mas do comportamento economicamente
desejável. A China, por exemplo, tem, desde o início dos anos 1980, uma
estratégia nacional de desenvolvimento; os chineses têm um referencial. Nós
tínhamos uma estratégia nacional de desenvolvimento no Brasil nos anos 1930,
40, 50; depois da crise dos anos 1960, voltamos a tê-la com os militares, embora
dessa estratégia fossem excluídos os trabalhadores e mais amplamente os
democratas. Mas desde 1980 não temos nada que possa ser identificado com uma
estratégia nacional de desenvolvimento. A estratégia que adotamos desde o início
dos anos 1990 é importada – é a ortodoxia convencional ou consenso de
Washington, que provoca a quase-estagnação dos países que a adotam, como,
por exemplo, o Brasil e do México.

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