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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO DE JANEIRO

Discurso de Posse
do Prof. Doutor Afonso Carlos Marques dos Santos
na Cadeira de Número Cinco
Patrono: Manuel de Araúj^o Porto Alegre,
Baráo de Santo Angelo

Rio de Janeiro. I I de maio de 2000

Manuel de Araújo Porto-Alegre


e a civilizagáo como ideal no Império do Brasil

É corn o coragáo repleto de satisfagáo que me encontro diante dos senhores para
assumir, na condigáo de sócio efetivo do Instituto Histórico e Ceográfico do Rio dejaneiro,

a cadeira de número cinco e que tem como patrono Manuel de Araújo Porto-Alegre. Recebi

a notícia da eleigáo para esta cadeira como um verdadeiro presente antecipado do


cinqüentenário da minha existéncia, que viria a ser cumprido em margo deste ano, quando
também celebrei vinte e cinco anos de efetivo exercício do magistério superior. Porém,
devo declarar que. á honra de passar a integrar o quadro de titulares deste lnstituto somam-

se outros fatores, fatores que se inscrevem náo apenas no campo intelectual, mas no terreno

amplo dos afetos.

O primeiro fator a ser considerado vincula-se ao próprio objeto preferencial de

estudo desta instituigáo, o Rio de Janeiro, que sempre ocupou um lugar especial nas minhas

investigagóes e que tenho estudado no plano da história urbana, da história política e da


história da cultura. Objeto sem dúvida privilegiado, náo apenas por ter sido o cenário das
grandes definigóes da história brasileira, mas por se constituir num personagem

fundamental dessa mesma história. O Rio de Janeiro, tenho afirmado, constituiu-se no

verdadeiro laboratório da civilizagáo no Brasil e lugar síntese das nossas experiéncias


culturais. Mais importante que a própria condigáo de centro do poder, desde os tempos
coloniais, o seu papel simbólico foi e continua a ser fundamental na construgáo imaginária

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simbolicamente a
do Brasil. Afinal de contas, foi o seu Senado da cámara que representou
Nagáo e os embrióes da vontade nacional na preparagáo e na institucion alizagáo
da

lndependéncia. Assim como foi diante da cámara Municipal da cofte, como


representante

do povo brasileiro, que a República deu os primeiros passos para a sua institucionalizagáo'
com a posse do Governo Provisório'

Nesta terra que nunca foi provinciana e que nasceu cosmopolita, aberta e generosa'

tive a felicidade de nascer, filho e neto de cariocas, isto é, com os pais e os quatro avÓs
cariocas, o que ainda era uma espécie de raridade entre os da minha geragáo nos bancos
escolares. Do lado paterno, a imigragáo de portugueses desde finais do século dezoito e de

um ramo alemáo do século dezenove, fez-me carioca de terceira e quarta geragáo. contudo,
do lado materno, a origem carioca remonta á primeira geragáo de colonos do século

dezesseis e, consequentemente, devido aos cruzamentos étnicos de que os portugueses


foram grandes artífices, poderia afirmar que os meus já andavam por cá desde tempos

imemoriais. Por sinal, os meus primeiros passos na pesquisa histórica se iniciaram, ainda
adolescente, nos tempos do quarto centenário do Rio, pelas máos amigas de carlos
Rheingantz e Gilson Nazareth, nos fichários do Colégio Brasileiro de Genealogia, que
freqüentei inicialmente munido com as memórias recolhidas de minha bisavó Rosalina
Vieira de Aguiar, avó paterna de minha máe. Foi a busca desse passado familiar nas terras
da capitania do Rio de Janeiro que me levou a ler documentos do passado fluminense no
velho prédio do Arquivo Nacional, nos domínios de José Gabriel da costa Pinto, e no
Arquivo Municipal, entáo apenas um Servigo da Divisáo do Património Histórico e
Artístico do Estado da Guanabara, precariamente instalado no número 400 da Avenida
pedro II, em Sáo Cristóváo. É esse passado atávico, ancorado na história dos povoadores
desta terra, seus primeiros sesmeiros, e na história de trabalhadores imigrantes que se
uniram a seus desbendentes que me perm¡te, ainda hoje, percorrer quase todos os bairros do
Rio, associando-os ás histórias vividas pelos que me antecederam.

Gostaria de destacar ainda outros aspectos dentro deste fator de vínculo profundo
com o Rio de Janeiro. Trata-se do fato de que, ao longo da minha vida profissional e

sempre a partir da condigáo historiador e de professor público, tive algumas excelentes

opoÍunidades de contribuir para a gestáo da cultura na minha cidade: como historiador da

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a partir de
Divisáo do PatrimÓnio Histórico e Artístico do Município do Rio de Janeiro,
lg76; como um dos fundadores do Arquivo Geral da cidade do Rio de Janeiro, em
1979:' e

seu primeiro diretor de pesquisa e a9áo cultural, até 1982; como Diretor
Geral do entáo

DepartamentoGeraldeCulturadaCidade,entrelg83e1986;comoidealizadore
organizador da Biblioteca carioca (hoje infelizmente abandonada pela administragáo
municipal); como conselheiro e depois Presidente do conselho Municipal de Protegáo do
património cultural do Rio de Janeiro e como responsável, em 1984, pela recriagáo do

órgáo executivo do património da Cidade - o atual DGPC - Departamento Geral do

Património Cultural da Prefeitura do Rio. No ámbito do Estado fui, por dois mandatos,
Conselheiro Estadual de Cultura e tive a oportunidade de dirigir o Departamento Cultural
da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Paralelamente a esta atuagáo na área cultural

do Rio, dediquei-me ao magistério superior, no campo da Históri4 em duas instituiqoes


privadas, as Faculdades Hélio Alonso e a Pontificia universidade católica, e, na esfera das
públicas, a universidade Federal Fluminense, ajá citada UERJ e a Universidade Federal do

Rio de Janeiro (a Universidade do Brasil de Pedro calmon), de onde sou originário como
aluno e onde tenho a honra de ser o Professor Titular da Cadeira de Teoria e Metodologia
da História, tendo tido como antecessor o Professor Doutor Arno Wehling, membro deste
Instituto e presidente do lnstituto Histórico e Geográfico Brasileiro.

Estas trés dimens6es: a do interesse do pesquisador, a da própria origem familiar e

o exercício profrssional, vinculam-se áquele primeiro fator indicado, razáo da minha


satisfapáo de estar entre os senhores. Mas gostaria de agregar um segundo fator, mais
diretamente vinculado ao que chamei o terreno amplo dos afetos e que tem ligagóes diretas

com momentos chaves da minha trajetória profissional. Trata-se do fato de que o meu
ingresso neste Instituto deve-se, inicialmente, ¿ Professora Rogéria de lpanema que' com o

apoio da nossa atual presidente, Professora Cybelle de lpanema, do historiador Antonio


Pimentel Winz, entáo presidente, e de um grupo muito querido de sócios, patrocinou a
minha candidatura. E aí reside um desses encontros felizes. Porque foi o saudoso Professor
Marcello Moreira de Ipanema quem me convidou, logo após a fusáo do antigo Estado do
Rio com o Estado da Guanabara, para ocupar a fungáo de paleógrafo na Divisáo do

Património Histórico e Artístico Municipal do Rio de Janeiro, organismo que ele dirigia,
pela segunda ve/, no iá longínquo ano de 1975. Com isso eu redefiniria a minha vida

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profissional, transferindo-me do exercício do magistério municipal para o Arquivo
da

de unir as
Municipalidade, entáo vinculado ao Património, e onde eu teria a oportunidade
minhas duas formagóes básicas, a de arquivista e a de historiador' Quis o
destino que

Rogéria viesse a cumprir, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio de


Janeiro' papel

semelhante ao dé seu pai há duas décadas e meia atrás. Fico, portanto, duplamente

emocionado, de ser recebido neste Instituto pela filha de um amigo


querido e sob a

presidéncia daquela que foi, além de esposa dedicada, uma incansável companheira de
Marcelo Ipanema no trabalho de investigagáo histórica e nos inúmeros estudos que fizeram
juntos, nomeadamente sobre a História da Imprensa no Brasil e no Rio de Janeiro em
part¡cular. O ingresso no Instituto do Rio de Janeiro. portanto, remete-me para o território
precioso dos afetos e da gratidáo, tantos sáo, além de Rogéria e cybelle de lpanema, os
rosfos amigos que me acolhem nesse quadro social e. pafiicularmente. na sua atual
diretoria.

A cadeira que passo a ocupar teve dois antecessores, os professores Mário Antonio

Barata,e Paulo Werneck da Cruz. Sobre o segundo, tenho apenas a registrar que foi
professor de História em várias instituigóes, incluindo a UFRJ, tendo se desligado
voluntariamente do Instituto. Quanto ao primeiro, trata-se de um dos nossos mais ilustres
historiadores da arte e um grande mestre da história e da cultura no Brasil. o historiador

Mário Barata, que integra o quadro social do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de
Janeiro, na condigño de sócio benemérito, é também membro da diretoria do Inslituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, tendo sido Professor Catedrático da Escola Nacional de
Belas Artes da Universidade do Brasil e Professor Titular de História da Arte no Institutc

de Filosofia e Ciéncias Sociais da UFRJ, onde se aposentou, tendo imediatamente recebido

o titulo de Professor Emérito, em reconhecimento á sua contribuigáo ao Departamento de


História e ao Programa de Pós-Graduagáo em História Social. Conheci inicialmente o
Professor Mário barata através de seus escritos, resultado de uma militáncia intelectual,
realizada desde muito jovem, e na qual soube aliar erudigáo, atualizagáo com a produgáo
internacional e um profundo interesse pelas coisas brasileiras. Pude conhecé-lo

pessoalmente no final dos anos 70, quando participava intensamente das atividades que
realiávamos no Arquivo Geral da cidade, tendo integrado o primeiro conselho da sua
Associagáo de Amigos. A partir dos anos 80 passei a ter a oportunidade de conviver com o

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Professor Barata, como colega, no IFCS da UFRJ, e de
privar da sua generosidade
e uma alegria sucedé-lo na
intelectual e da sua cordialidade pessoal' Assim, é uma honra
cadeira número cinco e também uma responsabilidade e um desafio'

MárioBarataéumareferénciaobrigatóriaparaospesquisadoresdaHistóriadaArte
e da História da cultura no Brasil e autor de quem nos valemos inúmeras vezes nos nossos
senhores, devo
trabalhos. Além dessa dimensáo intelectual, sobejamente conhecida dos
dizerqueomestreMárioBarataintegraoelencodosrostosamigosquemeacolhemnessa
casa. Ao longo dos anos, compartilhamos momentos de alegria e também dividimos
momentos de dor, quando da despedida de amigos comuns, como foi o caso do nosso

querido José Luiz Werneck da Silva, que prematuramente nos deixou'

cabe-me, agora, chamar a atengáo para o terceiro dos fatores anteriormente

anunciados e que corresponde, exatamente, á figura do patrono da cadeira de número


cinco

e que passo doravante a ocupar, Manuel de Araújo Porto-Alegre e o seu significado no que

tenho chamado de a invengáo do Brasil. Trata-se de uma das personalidades mais notáveis
da história intelectual e artística do Brasil; é um nome que integra' de maneira destacada, o
panteon dos grandes construtores do Brasil, o que amplia ainda mais a minha

responsabilidade.

Nascido na Cidade do Rio Pardo, na brava Província do Rio Grande do Sul, em 29


de novembro de 1806, no seio de uma família de origem portuguesa, chamou-se

originalmente Manuel José de Araújo, adotando mais tarde, na época da independéncia, o


nome de Manuel de Araújo Pofo-Alegre. Seus primeiros estudos sáo realizados na capital

da província, onde também inicia a pintura. Vem para o Rio de Janeiro em


janeiro de 1827 ,

onde passa a estudar com Jean-Baptista Debret. Freqüenta os primeiros anos da Escola
Militar, a aula de filosofia do padre mestre Frei José Policarpo e estuda anatomia e
fisiologia com o Doutor cláudio Luiz da costa. Por dois anos, freqüentou as aulas de
anatomia no Hospital da Santa Casa de Misericórdia. Hospedado inicialmente em casa do

Senador Antonio Vieira da Soledade, o jovem Porto Alegre torna-se hóspede do Bispo do

Rio de Janeiro, D. José Caetano, passando a residir no Palácio do Morro da conceigáo. Na


suajuventude na corte teve a oportunidade de conviver com figuras notáveis da geragáo da
indeoendéncia. inclusive com os irmáos Andrada e com vários artistas e intelectuais.

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O lmperador D' Pedro I interessou-se por ele ao conhecé-lo em 1830' mas a

abdicaQáo impediria que fosse apoiado pelo monarca na sua viagem


de estudos á Europa.

Com o retorno de Debret á Franqa, após a abdicagáo de Pedro I' Porto Alegre
consegue

apoio para patrocinar a sua viagem acompanhando o mestre francés' Em Paris'


ingressa na
David, e
escola do Baráo Gros que, como Debret, também fora aluno de Jacques-Louis
acaba apoiado
ingressa na Escola de Belas Artes. Passou por dificuldades financeiras, mas
pelo representante diplomático do Brasil junto ao Governo francés, o conselheiro José

quem
Joaquim da Rocha. Foi, ainda, apoiado por Debret e seu irmáo Francisco Debret, de
freqüentou a aula de arquitetura. Conviveu com gscritores e compositores franceses e
italianos, tendo feito amizade com o célebre escritor portugués Almeida Garret.

um fato marcante na sua vida logo após a chegada a Paris, em outubro de I 83 I, foi

o encontro com o lmperador Pedro l, a quem teve a oportunidade de visitar no rápido exílio
francés, após té-lo encontrado casualmente na rua. Em setetnbro de 1834 partiu para a
Itália, viagem obrigatória dos artistas de seu tempo, na companhia do amigo Domingos
José Gongalves de Magalháes, com quem dividiu seus parcos recursos. Mais tarde
consideraria esta fase como a melhor da sua vida. viajou pela ltália e reencontrou em
Roma, onde fora estudar, a protegáo de José Joaquim da Rocha, que para lá havia sido
transferido. Foi também apoiado pelo sucessor deste, o conselheiro Drummond.

Ao voltar a Paris, em novembro de 1835, Porto-Alegre passa a ter relagóes com o


Institut Historique e funda, juntamente com seus amigos Gongalves de Magalháes e o
Conselheiro Francisco de Sales Torres Homem, a Revista Nitheroy - Revista Científica,

literária e artística, que se tornaria, apesar de só terem publicado dois números, num
importante programa do projeto civilizatório desta geragáo. No primeiro número revelaram
o interesse de acostumar o público brasileiro a "refletir sobre objetos do bem comum e de
glória da pátria". Essa seria a marca da sua geragáo de "inventores do Brasil". No prólogo
deste primeiro núinero da Revista Nitheroy concluíam:

"E destarte, desenvolvendo-se o smor e a simpatia gerol prtra ludo


que é justo, santo, belo e útil, veremos a pálria marchar na ertrada

luminosa do civilizaqdo, e locar qo ponto de grandcza' que a


Providéncia lhe destina ".

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Manuel de Araújo Porto-Ategre, nos últimos tempos da sua temporada em
Paris'

holandesa e belga e
recebe apoio financeiro oficial do governo brasileiro, visita as escolas
da perda de seu amigo o
conhece Londres. Retorna ao Rio em maio de 1837, sob o signo

célebre Evaristo da Veiga. Também já haviam falecido o Senador Soledade e o Bispo do


Rio de Janeiro, seus grandes amigos. Manda buscar a sua máe no Rio Grande
do Sul' com

quem passa a viver no Rio. Em 13 de outubro de 1838 contrai núpcias com Ana
Paula

Delamare, tendo os amigos Gonqalves de Magalháes e Torres Homem como testemunhas'


Na Corte, Porlo-Alegre dedica-se também a escrever para teatro, encontrando no ator Joáo
caetano dos santos, a maior expressáo teatral da época, um dos veículos para a sua criagáo.
Contribuiu para inovar o campo da afte dramática, introduzindo o cenário e as roupas ¿
caráter nas pegas de teatro, mas também sofreria decepgóes nesse campo'

Porto-Alegre recebe encomendas, de pintura, do grande incentivador da civilizagáo


no Brasil. José clemente Pereira, entáo Provedor Mor da Santa casa de Misericórdia
contudo, será com a proclamagáo da maioridade do jovem Imperador que Porto-Alegre
passa a ter grandes e especiais encomendas, como a Varanda da coroagáo de D. Pedro Il,

uma de suas obras mais significativas e importantes' Recebeu, também, a honrosa

incumbéncia de desenhar o figurino das vestes imperiais, complementando, assim, a sua


intervengáo na elaboragáo simbólica da institucionalizagáo do Estado imperial. A qualidade

do seu trabalho levou o governo, por ocasiáo do casamento do lmperador com a Princesa de

Nápoles, Dona Teresa Cristina, a nomeá-lo para dirigir tanto as festas oficiais da Corte
como os trabalhos do Pago.

Porto-Alegre destaca-se, ainda, em vários campos de atuagáo. Como arquiteto,


projetou a nova Escola de Medicina, o Banco do Brasil e o Cassino Fluminense. Foi
chamado para exercer fungóes de Vereador na Cámara Municipal da Corte, onde propós a

criagáo de escolas, inúmeros melhoramentos para a Cidade e preparou um código de


posturas, verificando que a Cámara náo usava nos seus instrumentos legais as palavras
arquitetura e arquiteto. Dedicou-se também, á criagáo literária, escrevendo intensamente em
jornais e revistas. Entre as suas inúmeras criagóes destaca-se o poema Colombo, sobre o
descobrimento da América. Ocupou cargos importantes no magistério oflcial e em órgáos
oúblicos. como a Academia de Belas Artes, a Escola Militar e o Museu Nacional, entre

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de Cónsul
outros. Foi diplomata, na fase madura da sua vida, tendo exercido os cargos
de Baráo de Santo
Geral do Brasil na Alemanha e em Portugal Recebeu em 1874 o título
Ángelo e faleceu, em Lisboa, a 29 de dezembro de 1879' Foi sepultado
em Lisboa e

iorn"nt" em 1922 teria os restos mortais transferidos para o Rio de Janeiro' indo
definitivamente, em 1929, descansar na sua cidade natal'

A elaboraqáo artística da geragáo de Porto-Alegre precisou cumprir uma

tarefa assumidamente pedagógica. Era a pedagogia da civilizagáo que deveria acompanhar


a constituigáo de uma sociedade nacional. Organizado o Estado lmperial, era necessário
projetar a nagáo no caminho da civilizagáo, realizando o que Nabuco chamou

posteriormente de "a mais terrível das instabilidades". Tratava-se de encontrar o ponto de


equilíbrio entre a pátria, que se queria brasileira, e a heranga de uma civilizagáo européia.
Ainda ecoam as esclarecedoras palavras de Joaquim Nabuco, em Minha Formaqño, ao
dizer:

"A instabilídade a que me refiro provém de que na América Jhlta d


paisagem, a vida' ao horizonle' d arquitelura' a tudo o que nos
cerca, o fundo histórico, a perspecliva humana; e que na Europa
nos falta a pótia, isto é, a iórma em que cada um de nós foi
vozado ao nascer' De um lado do mar senle-se a ausáncia du

mundo; do outro a auséncia do país. O sentimento em nós é


brasileiro, a imaginagdo européia ".

Enganaram-se aqueles que viram em Porto-Alegre apenas os vínculos com o


oficialismo de seu tempo e que náo avaliaram adequadamente o drama destes a¡tífices da
nacionalidade do século XIX. Os artistas e intelectuais viviam mergulhados na contradigáo

de tentar construir a ordem e a civilizagáo onde havia escravidáo e dependéncia. Contudo,

coube a homens como Manuel de Araújo Porto-Alegre a tarefa de organizar o imaginário

da sociedade do séu tempo, contribuindo para instituir a sua própria sociedade. A nagáo náo

estava dada pela natureza, era tarefa dos homens e, entre nós, era uma tarefa que os homens

de Estado deviam assumir. É neste quadro que devemos compreender os múltiplos esforgos
de Porto-Alegre numa geragáo que precisava inventar o Brasil, realizando aqui a tarefa que

seus contemporáneos em outras partes do mundo assumiriam com relagáo ás suas na96es

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específicas. Estudar Porto-Alegre representa investigar as bases
da nossa construQáo

imaginária.Construgáoquefoiintensa,dopontodevistadaelaboragáosimbólica,nos
Estado e que eram' também'
momentos de institucionalizagáo do poder e de afirmagáo do

momentos fundacionais.

os mestres da missáo artística francesa, como Jean-Baptiste Debret e Grandjean de


Montigny, já haviam participado desses momentos: na Aclamagáo de D' Joáo
Vl e na
como na
coroagáo de D. Pedro L Participaram, tanto na feitura de uma arquitetura efémera,
preparagáo dos símbolos e na representagáo pictórica do ocorrido. Tudo isso num quadro de

singularidades, que só o Brasil possui em todo o continente americano, por ter sido
o único
que
país a afirmar a sua legitimidade nacional através da opgáo monárquica. Singularidade
já estava presente. no fato inédito da Aclamaqáo de um monarca europeu no Novo Mundo.
logo após a transformagáo dos domínios americanos em Reino unido á velha metrópole. A
complexa elaboragáo simbólica que aqui se verificava correspondia a uma arquitetura
institucional magnífica, que equilibraria contradigóes profundas, mas também construiria
uma unidade territorial admirável - base incontestável da legitimidade do Império do BrasiL

no concerto dos Estados nacionais da época. Este tema tem sido, por vezes, desprezado por

aqueles que tentam minimizar os resultados desse processo. Porém, ao tentar atingir e
XlX, corre-se o risco de desqualificar a
desqualificar aquela elite cosmopolita do século
própria trajetória histórica da Nagáo brasileira, minimizando a sua importencia e
legitimidade.

Lembremo-nos, ainda, que a instituigáo maior que nos abriga - o Instituto Histórico
e Geográfico Brasileiro -, fundado em 1838, foi pega fundamental na construgáo simbólica

a que estamos nos referindo e lugar central do que estamos chamando de invengáo do
Brasil, porque lugar da busca incessante de um passado específico para a Nagáo. Neste
processo, é importante sublinhar, o Brasil foi rigorosamente contemporáneo dos principais
esforgos historiográficos europeus, como os de Jules Michelet na invengáo-construgáo da
NaQáo francesa através de seu passado. Costumo dizer que os historiadores franceses foram

mestres táo efrcientes nessa tessitura que levaram náo apenas OS seus compatriotas, mas até

os seus inimigos, a acreditar na antiguidade da sua nacionalidade. lsto porque lidaram com
<js dois fermentos básicos da construgáo nacional, como indicou Ernest Renan: a memória e

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I

mas se
a vontade política. E a memória, sabemos, náo se herda pura e simplesmente'
Nagáo ou da
constrói no presente vivido. Daí o perigo do desaparecimento de uma
quando se
autonomia de um país, quando se considera que náo é mais necessário lembrar,
aposta no esquecimento, na fragmentagáo ou no conflito produtor da
desuniáo' Perigos que
existéncia. uma
ocorrem quando uma sociedade nacional deixa de celebrar a sua própria
NagáoquepodeprescindirdaMemóriaéumaNagáoquepodeprescindirdasuaprópria
autonomia.

No nosso caso específ¡co, a construgáo da Nagáo é parte da elaboragáo simbólica da

afirmagáo de um Estado independente. Daí ser totalmente incorreto tentar minimizar


a

importáncia de construtores simbólicos como Porto-Alegre, reduzindo-os a uma dimensáo


puramente áulica. Enganam-se, ainda, os que consideram as op96es estéticas desses artistas

do século XIX, baseadas em modelos europeus, como mera reprodugáo de uma "realidade"
pertencente a outro mundo, a uma outra sociedade, como Se estivessem mergulhados numa
qspécie de alienagáo profunda. Essa foi a crítica dos modernistas, também eles empenhados

numa idealizagáo do país, e que desejavam romper com os mimetismos culturais das elites

das geragdes anteriores. Nem por isso libertaram-se do aristocratismo denunciado por
Mário de And¡ade, numa das mais terríveis autocríticas feitas por urn intelectual brasileiro,
nem superaram o bovarismo nacional denunciado, anos antes, por um dos maiores críticos
da nossa burguesia republicana, o carioca Afonso Henriques de Lima Barreto'

o estudo sistemático e cuidadoso da obra de um autor como Manuel Araújo Porto-

Alegre pode nos conduzir a compreender melhor os caminhos da nossa formagáo mental'
vejamos, portanto, alguns momentos da reflexáo desse artista e intelectual, quando, por
exemplo, em 1850, na Revista O Guanabara, expressa o que intitulou como "Algumas
idéias sobre as Belas Artes e a Indústria no lmpério do Brasil". Neste texto, Porto-Alegre,

após teorizar sobre a especificidade das construgóes civilizadoras europeias, comenta:

"nós temos balizas infatíveis para o pleno conhecimento do estado

cle um povo em qualquer époco que seja, logo que soubermos do

estado de um dos seus elementos de civilizaqdo: ndo há indústria


sem comércio, ndo háfilosofa sem ciéncias, e ndo há belas artes
sem literatura: este último elemento é sernpre o mais fiel

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
' representante dos idéias do tempo; é por assim dizer o

daguerreótipo que apanha as feig\es da época e as transmirc A

ProsPeridade "

Porto-Alegre tomava o exemplo francés para tratar da questáo da civilizagáo'


política daquele
articulando o gosto e as escolhas culturais e estéticas com a própria história
oaís. Construía, ainda, uma atitude metodológica ao afirmar
que:

"o artista é sempre um espelho fidedigno do estado de espírito da


sociedade, e que a matéría que é modificada ou transfusado pela
mdo da irulústria, é um eco que acompanha o caráter do século' e o

eslado dss idéias contemporóneos. "


.
Pofo-Alegre considerava, ainda, que

"nos grandes momento8 nessos moles que engrondecem com os


séculos, lé-se no diferente caráter das construQóes esse espírito da

lransigdo dos temPos. "

Mas Porto-Alegre se revelará também, nesse texto, um crítico das nossas


construgóes monumentais, náo fosse, ele também, um arquiteto e criador. Encontra
especificidade na nossa arquitetura religiosa, de origem colonial, mas a critica duramente
quando afirma:

. "E os nossos arqu¡telos, engenheiros e meslres de hoje, vdo

riscando e construindo um princípio de imitaqdo, aquilo mesmo que

foi filho da pobreza colonial e que os tempos foram ornando, sem

consultarem quais os princípios de harmonia, ou de utilidade, que


ocasíonaram semelhonte salto de linhas, e o acanhamento natural
que resulta de um tal estreitamento. "

Impiedoso na crítica, aPonta:

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
I

"Veja-se o Carmo, Sdo Francisco de Paula' Capela Imperial' a


melhor
Cruz, Santa Rita, e todos os mais' exceto Sdo Bento' que é o
e o mats regular de todos "

Critica, ainda, os agentes da colonizagáo porluguesa:

. "Nesse país, ao fundar a Cidade do Rio de Janeiro' nunco


pensaram que ela seria algum dia a sede de um Império' e que os
mangues que a circundavam se achariam mais tarde cobertos de

casartas e cruzados por catros e veículos de transportes' que eles


ndo imaginaram. "

Faz um diagnóstico da situagáo arquitetónica e urbanística da corte criticando o


improviso dos colonizadores e o desejo de regressar á máe pátria, fazendo com
que

construíssem:

"a cidade das 3 portinhas; caráter distintivo do Rio de Janeiro' e

que só desaparecerá quando esla primeira, e mesmo segtnda


' camada de edifcios cair, ou se reconstruírem de novo: ou quando
no espírito dos Brasileiros se desenvolver em larga e permanente
escala o gosto pela arquitetura, pela simeffia, e pelo c6modo' ou
entdo que lhes chamem o varóes que saibam alguma coisa mais que

o ordinário dos homens, e que prefiram o engrandecimento do seu


poís ds temporárias concessdes do egoísmo ínqualifictiwel da época'
a quem cabe a glória de deixar grandes entroves e horríveis
desPesas aos vindouros "

Na crítica ao urbanismo municipal, desfere, ainda:

"Abrem-se novas ruas, e o espírito municipal na sua imobilidade

rotineira, marca-lhe 60 palmos de largo, como o espaQo ma$


amplo e maís que necessário para toda a concorréncia dos
diferentes meios de transporte da civilizaqdo moderna."

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
Numaavaliagáoseveraeimplacável,Porto-AlegredenunciaosIimitesdonosso
urbanismonacapitaleosatacaduramente.Paraele..asconstrugoesdeumacidade,sáo
como o vestuário do homem, que gradua, e denota á primeira vista
a hierarquia a que
ánimo de seus
pertence". O aspecto da cidade denotaria"o estado de sua civilizagáo' e do
no plano das
habitantes". Esses comentários náo desconheciam as contradigóes existentes
relaQóes sociais, mas atacam o que Porto-Alegre chamava de "o
amor da rotina, entre nós"'

Via, entretanto, em 1850, algum avango nas construgóes desde a época da Maioridade'
,.alguns indícios de gosto aparecendo nos edificios particulares", "algum
identificando
progresso de pensamento" presidindo "as novas construgóes" e um "desejo de regularizar

as pragas", mas encontrando "pouca coisa nas obras do governo".


Ao criticar os gestores da

Cidade de seu temPo afirma:

' "ainda ndo chegou a época de se acreditar que o arquiteto é tdo


útil d civilizaqdo de um país, como o médico d saúde do indivíduo'"

Porto-Alegre, que nesta altura já alcangara a idade de quarenta e quatro anos, faz
uma avaliagáo do que faltaria ao Brasil para que as artes pudessem contribuir para a sua
construQáo. Adotando uma postura nitidamente nacionalista, denunciava que o que

tínhamos até entáo era,.,pela maior parte importado", constituindo-se, portanto, em "f,ruto

de outras civilizag6es, e náo da nossa". Para ele,

"a arte vernaculado, aquela que é exercida por nós, e que lem o
seu impulso, a sua direqdo primordial na mdo do Brasileiro, ainda

nóo chegou; e para lá pouco se caminha: ainda ndo sobemos


distinguir o aparenle do re(11, e o falso do verdadeiro; ainda
ocreditamos que uma mediocridade estrangeira é superior aos
nossos homens, que lá mesmo estudaram, e que melhor conhecem o

País' "

Mas a sua avaliagáo crítica comportava também um programa:

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
"Twlo temos que esperar clo Brasil' que comeqa hoje a olhar o

de oulra diregdo'
futuro, e a preparar a mocidade debaixo
e

circulada de outros elementos "

nem ataca a
. Porto-Alegre, no entanto, náo desacredita das instituig6es do Império'
Nesse mesmo texto
figura do imperante, embora critique frontalmente a elite de seu tempo'
mesmos alguma coisa
conclui com a af,trmagáo: "faqamos do Império do Brasil e de nós
mais do que somos na realidade".

suas falas e
O compromisso com o país amado, com a pátria, esteve presente nas
Vamos reencontrá-lo no seu discurso de posse na diregáo da Academia
lmperial de
escritos.
quem tanto criticara Os
Belas Artes, lugar que fora ocupado por Félix Émile Taunay, a
discursosdaAcademia,realizadosdiantedasautoridades,tambémhaviamservidopara
TaunaydefenderumprogramaestéticoeumapolíticadeapoiodoEstadoásartes,Podo-
para indicar
Alegre. náo fugindo á tradiqáo da casa. aproveita esse molnenlo da posse
nacionais, ao afirmar
caminhos a serem trilhados pelas artes na diregáo das especificidades
oue:

' "As Arres só triunfam quando descem das regiíes celestes para o

grémio da párria, e aí se identificam com o religidt'' com us lei:;' e

com u existéncia social como a expressdo de uma verdade

necessória. "

Manuel de Araújo Porto-Alegre localiza, entretanto, o lugar do Estado na tarefa


civilizadora ao apontar para o papel do monarca numa nagáo em construgáo' afirmando:

"As belas artes exigem tantos e tdo constantes esluclos que o nosso
país ainda ndo está em estado de bem avaliar' Siio poucas as
vestais que guardam o fogo sagrado e mui diminuto ainda o
número de sacerdotes do belo; mas em compensaQAo desle estado
natural em um país novo temos frente da naqdo um homem tuja
d

organizagdo harmoniosa nos compreende debaixo de suas vestes

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
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magnAnimamenÍe progressivas; e este homem vós


conheceis: é o

ImPeratlor. "

sua impoftáncia na organizagáo


Para defender o papel da educagáo dos artistas e a

social, Porlo Alegre ainda recorre a Vasari, para afirmar:

"(Jm monumento público de mau goslo' levantado na época em que


que
existem artistas hábeis, é una iniúria feita d naqdo e ao século
o viu ediJicar' e um molivo de vergonha elernu paro aqueles que
o

ordenaram' "

Eml854,ManueldeAraújoPorto-Alegre'aoava|iarna..IlustraqáoBrasileira,'o
,,novo o "pensamenÍo
estatuário," defende as encomendas públicas que viessem a expressaf
acentua os avangos do reinado de Pedro ll' a quem chama
de "filho da
nocional',
de letras' entre os
lndependéncia". Esse Imperador que se assentava "enlre os homens
do que todos os
poetas", protetor das aftes e que, na expressáo do artista, fazia"ele só mais
milionários clo Brasil, porque a ark nAo está no retrato' que pertence ao egoísmo ou it
novos titulafes e
vaiclade". Era a crítica direta aos emergentes do Irnpério, á vaidade dos
valores da arte e da
aos membros de urna elire económica pouco culrivada e distanciada dos
homem do futuro e
cultura. Mas Porto-Alegre vé o Imperador como "amigo do progresso'
Pedreira da
organizado para a meditagdo profundd'. Ao referir-se á chamada reforma
o crítico e pedagogo reafirma, mais uma vez' o papel da "arte
,A.cademia de Belas Artes,

como elemento civilizador" e como "legítimo veículo dos progressos da


indústria de um

país". Com isso defende um lugar fundamental para a experiéncia estética e


o

desenvolvimento da formas aftísticas no processo de desenvolvimento do


país.

oexamedasposigÓesedatrajetóriadessegrandebrasiIeironosIevariaa
é táo extensa e intensa
ultrapassar os limites aceitáveis desta oragáo' Sua própria biografia
queapenasenumerar,demaneiradetalhada,osseusfeitoseassuasobrastambémnos
levaria a prendé-los aqui por horas a fio, o que seria imperdoável'

No entanto, náo posso encerrar essa evocagáo de Manuel de Araújo Porto-Alegre

semlembrarasuarelagáocomacasaquenosabriga,olnstitutoHistóricoeGeográfico

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
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e orador oficial por quatorze anos'


Brasileiro, onde foi sócio honorário, primeiro secretário
tendo contribuído para enriquecer a sua notável
Revista'

olnstitutoHistóricoeGeográficoBrasileiroostenta,nesteambientequenosabriga.
embora inacabada, da representagáo da Coroagáo do
nosso segundo
a tela monumental,
que' como todo o edificio' sempre nos evoca
Imperador, ocupando lugar de honra nesta sala
a lembranga do saudoso Presidente Pedro calmon.
Náo vos contarei, por hoje, a história
o fato de que ele deve ser compreendido no
deste quadro, apenas chamo a atengáo para

conjuntodase|aboragÓessimbó|icasdanossaconstrugáonaciona|.Nodestaquedapintura
está o Imperador jovem, de pé, diante do trono
flanqueado por colunas coríntias e que

aparece emoldurado por estreito e alto docel rematado


em cúpula e franjado a ouro' Ai
imperiais' destacando-se a figura do
estáo presentes os dignitários do Império e as insígnias
Brasil, que langa sua bengáo'
Arcebispo D. Romualdo AntÓnio de Seixas, Primaz do
voltado para o lmPerador.

Esta tela inscreve-se no género de pinlura histórica


aprendido com o Inestre Jean-
na Sala da Memória
Bapliste Debret. Seu estudo completo está em exposiqao permanente
tivemos a honra de reformular'
do Estado lmperial do Museu Histórico Nacional' sala que
comocurador,aconvitedasuadiretoraProfessoraVeraTostes'ilustresóciadestacasa'
Esta representagao remonta a outro importante trabalho
de Porto-Alegre' a Varanda da

CoroaQáo, de quem foi autor dedicado e genial, mas cuja análise postergamos para outra
ocasiáo.

Santo Ángelo' mereceria


Com certeza, Manuel de Araújo Porto Alegre, o Baráo de
terasuatrajetóriamelholestudada,masfalta-nosotemponecessárionestaSo|enidade,
de estudos Porlo
no entanto, surge aqui como um compromisso e um programa
FazC-lo,
de pesquisador' como um
Alegre, há muito tempo, já fazia pafie das nossas preocupagóes
dosagentesfundamentaisdoquetemoschamadode..invengáodoBrasil''ede..projeto
civilizatóriodolmpério''.DevotambémafirmarqueéimpossívelestudaroRiodeJaneiro
do século XIX .sem localizar Porto-Alegre como projetista e agente
de uma nova
com as
urbanizagáo, cujos ideais só viriam a ser plenamente realizados na República'
de um novo modelo civilizatório
reformas do Governo Rodrigues Alves e na implantagáo
na Capital Federal, mas isso já é uma outra história'

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141
{_j
I

Senhores, nada do que possa ser estudado sobre a


história e a cultura do Rio de
Tudo o que se refere á sua
Janeiro, nosso objeto comum, é de interesse puramente local'
fundamental da sua
História é, sem dúvida, de interesse nacional Esta é a marca
constituiQáo como lugar síntese do Brasil e dos brasileiros
Daí a nossa tarefa de
- tragos decisivos e que
historiadores do Rio de Janeiro ter releváncia e expressáo nacionais
da nossa Cidade' no
muito cedo aprendi no magnífico aceryo documental do Arquivo
ArquivodeFranciscoAgenordeNoronhaSantos,AurelianoRestierGonqalves'Marcello
Machado e tantos
de lpanema, Trajano Quinhóes, José Luiz Werneck da Silva' Helena
outros.

Senhora Presidente do lnstituto Histórico e Geográfico do


Rio de Janeiro, querida

Professora Cybelle de Ipanema' Ilustríssimos Sócios do nosso lnstituto carioca e

fluminense,doravanteconfrades,queroapenasmanifestaraminhagratidáoereiterara
com a História dessa
rninha alegria de estar entre vós, reafirmando o meu compromisso
de todos os brasileiros'
terra abengoada, terra dos meus antepassados e pátria simbólica
Muito obrigado'

PUBLICADO EM: Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, 2000. p. 127 - 141

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