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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA
REDE INTEGRADA DE BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS
COMITÊ GESTOR

Rede Integrada de Bancos


de Perfis Genéticos

RELATÓRIO DA REDE INTEGRADA


DE BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS

Maio, 2015
Dados estatísticos e resultados relativos a maio de 2015
Aprovado pelo Comitê Gestor da RIBPG em 17/07/2015
MINISTRO DA JUSTIÇA
José Eduardo Cardozo

SECRETÁRIO EXECUTIVO
Marivaldo de Castro Pereira

COMITÊ GESTOR DA REDE INTEGRADA DE BANCOS DE PERFIS GENÉTICOS


Ministério da Justiça:
Guilherme Silveira Jacques (coordenador) e Meiga Aurea Mendes de Menezes (suplente)
Hélio Buchmüller Lima e Gustavo Chemale (suplente)
Sérgio Martin Aguiar e Renato Teodoro de Paranaíba (suplente)
Isabel Seixas de Figueiredo e Heloísa Helena Kuser (suplente)
Samuel Teixeira Gomes Ferreira e Beatriz Cruz da Silva (suplente)
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República:
Aline Albuquerque Sant’anna de Oliveira e Rafael Luiz Feliciano da Costa Schincariol (suplente)
Representantes regionais:
Região Centro Oeste: Karla Angélica Alves de Paula e Adriana Vieira de Morais (suplente)
Região Nordeste: Sérgio Marques de Lucena e Carmen Lêda de Araújo Gambarra (suplente)
Região Norte: Teresinha de Jesus Brabo Ferreira Palha e Elzemar Martins Ribeiro Rodrigues (suplente)
Região Sudeste: Juliana Romera Mansilha Dias e Ana Claudia Pacheco (suplente)
Região Sul: Trícia Cristine Kommers Albuquerque e Cecília Helena Fricke Matte (suplente)

PARTICIPANTES CONVIDADOS
Ministério Público: Paulo Roberto Galvão de Carvalho
Defensoria Pública: Rafael Raphaelli
Ordem dos Advogados do Brasil: Pedro Paulo Guerra de Medeiros
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa: Antônio Hugo José Fróes de Marques Campos

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Sumário
Introdução ................................................................................................................................................................ 4
I – Normatização e padronização de procedimentos ............................................................................................... 5
II – Laboratórios participantes da RIBPG ............................................................................................................... 6
III – Dados armazenados no Banco Nacional de Perfis Genéticos.......................................................................... 8
III.1 – Vestígios, Condenados e Identificados Criminalmente ........................................................................ 8
III.2 – Dados relacionados a pessoas desaparecidas ........................................................................................ 8
III.3 – Evolução ............................................................................................................................................... 8
III.4 – Contribuição relativa dos laboratórios participantes ............................................................................ 9
IV – Coincidências confirmadas e investigações auxiliadas ................................................................................. 10
V – Identificações confirmadas ............................................................................................................................. 12
VI – Conclusão ...................................................................................................................................................... 14

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Introdução

A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG) surgiu da iniciativa conjunta


do Ministério da Justiça e das Secretarias de Segurança Pública Estaduais tendo por objetivo propiciar
o intercâmbio de perfis genéticos de interesse da Justiça, obtidos em laboratórios de perícia oficial.

Concebida em 2009, prevendo a adesão das diversas Unidades da Federação por meio de
Acordos de Cooperação Técnica, a RIBPG foi formalizada por meio do Decreto nº 7.950, de 12 de março
de 2013. A RIBPG destina-se a subsidiar a apuração criminal e a identificação de pessoas desaparecidas.

Para ser útil na apuração criminal, a RIBPG depende da devida inserção de perfis
genéticos das amostras biológicas deixadas pelos infratores nos locais de crime (ou no corpo das
vítimas), os vestígios, sejam eles oriundos de casos com ou sem suspeitos. Esses vestígios, além de
serem confrontados entre si, o que já permite a detecção de crimes seriais, podem ser identificados por
meio do confronto com o os perfis genéticos dos indivíduos cadastrados nos termos da Lei nº 12.654, de
28 de maio de 2012: os condenados e os identificados criminalmente. O cumprimento da Lei nº
12.654, com o efetivo cadastramento destas pessoas, é fundamental para que os vestígios sejam
identificados e a RIBPG possa auxiliar na elucidação de crimes, bem como a evitar condenações
equivocadas.

A identificação de pessoas desaparecidas ocorrerá mediante a alimentação sistemática


dos perfis genéticos de quatro tipos diferentes de amostras biológicas: cadáveres e restos mortais não
identificados, pessoas de identidade desconhecida, referências diretas de pessoas desaparecidas e
familiares de pessoas desaparecidas, as quais são confrontadas periodicamente para verificação de
eventual vínculo genético entre as mesmas.

O presente relatório apresenta os principais resultados obtidos pela Rede Integrada de


Bancos de Perfis Genéticos até o dia 28 de maio de 2015.

4
I – Normatização e padronização de procedimentos

O Decreto nº 7.950 além de criar o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) e a Rede
Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), também criou o Comitê Gestor da RIBPG, com as
seguintes competências:

I - promover a padronização de procedimentos e técnicas de coleta, de análise de material


genético, e de inclusão, armazenamento e manutenção dos perfis genéticos nos bancos de dados
que compõem a Rede Integrada de Perfis Genéticos;

II - definir medidas e padrões que assegurem o respeito aos direitos e garantias individuais nos
procedimentos de coleta, de análise e de inclusão, armazenamento e manutenção dos perfis
genéticos nos bancos de dados;

III - definir medidas de segurança para garantir a confiabilidade e o sigilo dos dados;

IV - definir os requisitos técnicos para a realização das auditorias no Banco Nacional de Perfis
Genéticos e na Rede Integrada de Banco de Perfis Genéticos; e;

V - elaborar seu regimento interno.

Até o momento foram publicadas seis resoluções do Comitê Gestor da RIBPG, conforme a tabela
abaixo:

Resolução Assunto Publicação no D.O.U.


1 Regimento Interno do Comitê Gestor da RIBPG 06/05/2014, Seção 1, p. 17
Manual de Procedimentos Operacionais da RIBPG 06/05/2014, Seção 1, p. 18. Anexo
2
(Revogada). no portal do MJ. (Revogada).
Padronização da coleta de material biológico prevista na
3 14/05/2014, Seção 1, p. 40
Lei nº 12.654/2012
Detalhes técnicos do uso do banco de dados na
4 14/05/2014, Seção 1, p. 41
identificação de pessoas desaparecidas
5 Requisitos técnicos para a realização de auditorias 07/10/2014, Seção 1, p. 41
Manual de Procedimentos Operacionais da RIBPG, 12/05/2015, Seção 1, p. 40. Anexo
6
versão 2. no portal do MJ.

Todas as resoluções podem ser encontradas no endereço:

www.justica.gov.br/sua-seguranca/ribpg

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II – Laboratórios participantes da RIBPG

A Lei nº 12.654 estabelece que os bancos dados de perfis genéticos devem ser
gerenciados por unidades oficiais de perícia criminal. O Decreto nº 7.950, por sua vez, cria o Banco
Nacional de Perfis Genéticos e a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, no âmbito do Ministério
da Justiça, prevendo a adesão das Unidades Federativas à RIBPG por meio de Acordo de Cooperação
Técnica. O BNPG fica sediado na Diretoria Técnico-Científica do Departamento de Polícia Federal e é
administrado por Perito Criminal Federal habilitado, segundo as diretrizes estabelecidas pelo Comitê
Gestor. Os demais bancos de dados participantes são gerenciados por cada unidade de perícia oficial e,
periodicamente, alimentam o BNPG.

A efetiva participação de um laboratório pericial oficial de genética forense na RIBPG,


no entanto, também está condicionada ao cumprimento de requisitos técnicos, os quais se encontram
detalhados no Manual de Procedimentos Operacionais da RIBPG. Tratam-se de requisitos de experiência
laboratorial, de qualificação técnico-científica do pessoal para a execução das análises (incluindo
atividades como procedimentos de coleta, interpretação dos resultados e emissão do laudo pericial), de
estrutura física (em termos de equipamentos e instrumentos, dos procedimentos e metodologias
aplicadas às análises) e de monitoramento do cumprimento destas atividades, conforme padrões
estabelecidos. Também serão exigidos requisitos quanto à estruturação, utilização, implantação,
monitoramento e gerenciamento do banco de perfis genéticos.

Em maio de 2015 participavam efetivamente da RIBPG 18 laboratórios estaduais e 1


laboratório federal (tabela abaixo e figura 1).

Sigla Unidade Órgão ao qual o laboratório está vinculado


AM Amazonas Departamento de Polícia Técnico-Científica (DPTC)
AP Amapá Polícia Técnico-Científica (POLITEC)
BA Bahia Departamento de Polícia Técnica (DPT)
CE Ceará Perícia Forense do Estado do Ceará (PEFOCE)
DF Distrito Federal Polícia Civil
ES Espírito Santo Polícia Civil
GO Goiás Polícia Científica
MG Minas Gerais Polícia Civil
MS Mato Grosso do Sul Coordenadoria-Geral de Perícias (CGP)
MT Mato Grosso Perícia Oficial e Identificação Técnica (POLITEC)
PA Pará Centro de Perícias Científicas Renato Chaves
PB Paraíba Polícia Civil
PE Pernambuco Polícia Científica
PF Polícia Federal Departamento de Polícia Federal
PR Paraná Polícia Científica
RJ Rio de Janeiro Polícia Civil
RS Rio Grande do Sul Instituto-Geral de Perícias
SC Santa Catarina Instituto-Geral de Perícias
SP São Paulo Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC)

6
Figura 1. Unidades da Federação que participavam efetivamente da RIBPG em maio de 2015 (verde).

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III – Dados armazenados no Banco Nacional de Perfis Genéticos

III.1 – Vestígios, Condenados e Identificados Criminalmente

Tipo de amostra Nº de perfis genéticos


Vestígios 1967
Condenados 569
Identificados Criminalmente 38
Decisão judicial 1
Total 2575

III.2 – Dados relacionados a pessoas desaparecidas

Tipo de amostra Nº de perfis genéticos


Familiares de pessoas desaparecidas 398
Restos Mortais Não Identificados 636
Referência Direta de Pessoa Desaparecida 6
Pessoas Vivas de Identidade Desconhecida 6
Total 1046

III.3 – Evolução

Evolução do Banco Nacional de Perfis Genéticos


4000

3621
3500

3000

2500 2584 2575

2000

1617 1698
1500

1000 1046
1024 886
329
593
500 171

0 158
dez/13 mar/14 jun/14 set/14 dez/14 mar/15 jun/15

Casos Criminais Pessoas Desaparecidas Total

8
III.4 – Contribuição relativa dos laboratórios participantes

Em maio de 2015, sete dos dezenove laboratórios da RIBPG contribuíam com mais de 76% dos
perfis genéticos armazenados no BNPG: São Paulo, Polícia Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul,
Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro.
Em novembro de 2014, apenas 6 laboratórios tinham mais de 100 perfis genéticos no BNPG. Em
maio de 2015 já eram 10 laboratórios.

Contribuição relativa por laboratório

39 32
70 53
90
92 616
105

119

134

237
611

250

259
502
380

SP PF MG RS PA PE RJ
PB MT AP PR BA AM CE
GO MS ES SC DF

9
III.5 – Categorias de amostras, por laboratório

Categorias de amostras, por laboratório

SP

PF

MG

RS

PA

PE

RJ

PB

MT

AP

PR

BA

AM

CE

GO

MS

ES

SC

0 100 200 300 400 500 600 700

Vestígios Condenados/Identificados Restos Mortais NI Familiares de PD Outros

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IV – Coincidências confirmadas e investigações auxiliadas

Os bancos de perfis genéticos podem


auxiliar investigações criminais relacionando diferentes O BNPG permite o cruzamento de dados
entre diferentes unidades. Sua primeira
vestígios biológicos, usualmente coletados pela perícia em
coincidência confirmada, envolvendo
locais de crime ou no corpo ou vestes de vítimas de
vestígios encontrados em locais de
agressão. A informação de que dois ou mais crimes foram
crime, foi detectada em maio de 2014. O
cometidos pela mesma pessoa permite que esforços
BNPG revelou que a mesma pessoa que
investigativos independentes sejam unificados e lança luz
cometeu um crime investigado pela
sobre o modus operandi utilizado pelo criminoso serial ou
Polícia Federal, no interior de
organização criminosa. Pernambuco, cometeu um segundo crime
na cidade de São Paulo, investigado pelas
Assim, as duas principais ferramentas para autoridades locais. Este resultado
se avaliar os resultados de bancos de perfis genéticos são o demonstra a importância da integração e
número de coincidências confirmadas e o número de colaboração entre as instituições
investigações auxiliadas. Uma “investigação auxiliada” é envolvidas na persecução penal e o
definida como um procedimento de investigação criminal potencial da RIBPG em contribuir na
no qual o banco de perfis genéticos adiciona valor ao melhoria da segurança no país.
processo investigativo.

A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos, até o dia 28 de maio de 2015, havia
obtido 47 coincidências confirmadas, auxiliando 91 investigações.

Condenados Coincidências Investigações


Sigla Unidade Vestígios
criminalmente confirmadas auxiliadas
AM Amazonas 51 0 0 0
AP Amapá 23 82 0 0
BA Bahia 84 0 1 2
CE Ceará 6 47 0 0
ES Espírito Santo 19 0 0 0
GO Goiás 14 24 0 0
MG Minas Gerais 160 42 2 4
MS Mato Grosso do Sul 26 0 0 0
MT Mato Grosso 108 0 0 0
PA Pará 70 0 0 0
PB Paraíba 80 50 2 4
PE Pernambuco 0 250 0 0
PF Polícia Federal 506 60 12 25
PR Paraná 76 14 0 0
RJ Rio de Janeiro 21 0 0 0
RS Rio Grande do Sul 198 0 4 5
SC Santa Catarina 9 0 0 0
SP São Paulo 512 0 25 51
BNPG Banco Nacional - - 1 -
Total 1963 569 47 91

As coincidências confirmadas detectadas até então foram observadas entre vestígios.


Ainda não foi detectada coincidência entre vestígio e condenado ou identificado criminalmente.

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V – Banco de perfis genéticos pode auxiliar pessoas inocentes

Ao auxiliar na identificação de vestígios de crimes, os bancos de perfis genéticos


podem oferecer à Justiça revelações não esperadas. A reportagem abaixo, do jornal O Globo, ilustra um
caso no qual a identificação do vestígio pode auxiliar a pessoa que foi condenada a tentar reverter sua
condenação. A detecção de condenações equivocadas pode apontar oportunidades de melhoria no
sistema de justiça criminal.

Justiça vai rever condenação com base em banco de DNA de criminosos


Pela primeira vez no Brasil, uma condenação poderá ser revista em função do banco de DNA de criminosos. Quem alega
inocência é Israel de Oliveira Pacheco, que passou quase cinco anos atrás das grades por estupro. Mais de um ano depois
da sentença, com a evolução da tecnologia, novo laudo pericial mostrou que o sangue encontrado na colcha da cama da
vítima, onde a agressão ocorreu, era de um homem relacionado a outros dois delitos sexuais. Israel pediu a absolvição,
negada pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS). O caso chegou ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília,
que determinou ao TJRS fazer um novo julgamento. O processo está pronto para entrar na pauta.
Para o defensor Rafael Raphaelli, que apelou ao STJ e conseguiu colocar o condenado em prisão domiciliar até que o novo
julgamento seja feito, a Justiça superestimou o reconhecimento visual feito pela vítima, que apontou Israel como o autor do
estupro. — Na ótica da defesa, não houve uma valoração correta daquela prova científica, dando-se prevalência ao
reconhecimento da vítima, que, aliás, é a maior causa de erro judiciário. Acreditamos que ele é inocente, de fato — afirma
Raphaelli.
O teste genético no qual se apoia o pedido de absolvição foi obtido em 2011 pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) do Rio
Grande do Sul. Antes disso, no período de investigação do crime, ocorrido em 2008, a mancha de sangue já havia sido
comparada com uma amostra que Israel doou voluntariamente. O resultado deu negativo, mas não apontava de quem era
aquele material genético. Novas informações só surgiram depois que o IGP implantou em 2011 o Codis, programa doado
pelo FBI a estados brasileiros para a implementação do banco nacional de DNA de criminosos e de vestígios em cenas de
crime.
Dotada da tecnologia, a instituição começou a incluir os materiais genéticos relacionados a agressões sexuais que estavam
armazenados nos laboratórios. Processando as amostras, o Codis revelou que um mesmo agressor era responsável por três
estupros na cidade gaúcha de Lajeado, incluindo o que foi imputado a Israel. Em um deles, o autor já havia sido identificado:
era outro homem, não Israel, naquela altura condenado a 11 anos e meio de prisão, em função de a vítima ter apontado com
segurança para ele no reconhecimento feito na delegacia.
Esse outro homem, no entanto, já havia aparecido nas investigações do caso, ao ser flagrado pela polícia com os pertences
da vítima, que, além de estuprada, foi roubada. Na delegacia, o detido apontou Israel, cadastrado nos registros policiais
por histórico de menor infrator, como o autor do roubo e da agressão sexual, colocando-se na condição de mero receptador
dos objetos. Acabou condenado por ter recebido e comercializado os artigos roubados, no valor de cerca de R$ 4 mil, o que
lhe rendeu regime aberto de prisão, segundo descrito no primeiro pedido de revisão criminal.
Israel negou as acusações na época. E continua afirmando que não conhece nem o homem como quem praticou o roubo e o
estupro nem a vítima que o reconheceu. O jovem diz ter esperanças de que os desembargadores do TJRS revejam a posição
sobre a revisão criminal.
— Eu espero que eles façam pelo certo, desta vez, porque só fizeram pelo errado. Eu falei para o juiz, falei para todo mundo
que não fui eu. Mas ninguém acredita. Até na prisão, quando eu dizia, os presos falavam ‘tá bom, aqui todo mundo é inocente’
— afirma Israel. — Eles (juízes) até podiam me condenar por furtos, brigas, outras coisas que cometi quando era menor de
idade, mas isso (estupro) eu não fiz.
Um dos argumentos dos que defendem a revisão do caso é que jamais se mencionou, mesmo na denúncia, um segundo homem
na casa da vítima, onde o estupro foi consumado. Outra fragilidade apontada diz respeito a dados do Innocence Project,
entidade que já conseguiu anular 329 condenações nos Estados Unidos por meio do teste de DNA. Desse total, sustenta a
organização, 75% tiveram o reconhecimento equivocado feito pela vítima como fator contribuinte para o erro judiciário.
No Brasil, o uso do DNA na investigação de crimes já é realidade em boa parte dos estados que contam com o laboratório
apropriado para esse tipo de perícia. Em geral, o que se faz é comparar vestígios da cena de um crime — como sêmen ou
fio de cabelo — com o material genético de um suspeito, para confirmá-lo ou excluí-lo, ainda na fase de apuração. O caso
de Israel é atípico porque, além de ele já ter sido condenado, foi o banco de DNA, e não uma análise individual, que levantou
a dúvida sobre a culpa do jovem. A capacidade de cruzar informações de vários crimes, identificando agressores em série,
é uma das maiores vantagens dessa tecnologia.
Fonte: Adaptado de reportagem do Jornal O Globo, de 4 de abril de 2015.

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VI – Identificações de pessoas desaparecidas

Inúmeras famílias que buscam um familiar desaparecido enfrentam um sofrimento


sem fim. Ao mesmo tempo, milhares de restos mortais são encontrados e levados aos IMLs do país,
muitos permanecendo sem identificação. Os bancos de perfis genéticos podem contribuir na
identificação destes restos mortais e em sua restituição à família, que podem encerrar sua busca. Em
alguns casos, sobretudo quando o desaparecido é incapaz de se comunicar, seja por ser um bebê, seja
por apresentar algum transtorno mental, a pessoa desaparecida também pode ser encontrada com vida e
reintegrada à sua família com a ajuda dos bancos de perfis genéticos.
O primeiro caso de sucesso na identificação de pessoa desaparecida por meio do
banco de DNA ocorreu no Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense da Polícia Civil do Rio
de Janeiro, em 2014. Em maio de 2015 estavam cadastrados no BNPG 636 restos mortais não
identificados, notadamente do Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
À medida que a RIBPG for sendo alimentada com mais dados relativos a pessoas
desaparecidas, mais famílias poderão dar fim à angústia de ter um ente querido desaparecido.

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VII – Conclusão, desafios e perspectivas

A Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos encontra-se em crescimento e já vem


mostrando resultados, tanto no auxílio a investigações criminais quanto na identificação de pessoas
desaparecidas.

Dentre os principais desafios da RIBPG encontram-se a execução da Lei nº 12.654/2012


de forma mais efetiva, com o cadastro dos condenados por crimes contra a pessoa e hediondos, e a
integração dos nove estados da federação cujas unidades de perícia criminal ainda não apresentam
laboratório de genética forense ou os requisitos técnicos mínimos exigidos para integração à RIBPG.

A Lei nº 12.654 completou três anos em maio de 2015. É uma lei moderna aprovada pelo
Congresso Nacional com o objetivo de detectar criminosos seriais e, assim, salvar vidas. Além disso,
tem o potencial de evitar condenações equivocadas, como demonstrado na seção V. Para que seus
objetivos possam ser alcançados, entretanto, a Lei precisa ser cumprida. O número de 569 condenados
cadastrados representa menos de 1% do total de condenados por crimes hediondos e contra a pessoa,
segundo estimativas do próprio Comitê Gestor da RIBPG (o número total de condenados por esses
crimes, em todo o Brasil, é estimado em aproximadamente 60 mil pessoas).

Um estudo realizado nos Estados Unidos1 revelou que, em média, um aumento de 10%
nos bancos de perfis genéticos leva a uma redução de 5,2% no número de homicídios e de 5,5% no
número de estupros. Mesmo que os dados americanos não possam ser diretamente importados para o
Brasil, é difícil não imaginarmos que mais de 2500 vidas poderiam ser salvas e mais de 2500 estupros
poderiam ser evitados, a cada ano, com o uso adequado desta tecnologia – considerando-se que ocorrem
mais de 50 mil homicídios e mais de 50 mil estupros por ano no Brasil2.

Espera-se que a RIBPG continue crescendo e trazendo bons resultados para a população
brasileira, e, a exemplo de outros países desenvolvidos, contribuindo na modernização das investigações
criminais e da identificação de pessoas desaparecidas. E, dessa forma, que o uso da ciência e da
tecnologia aplicadas ao auxílio da Justiça possam conferir uma maior segurança e eficácia ao sistema de
justiça criminal, contribuindo para a redução da impunidade em crimes graves e para o fortalecimento
da produção da prova penal, evitando-se condenações equivocadas.

1
Doleac. J. 2015. The Effects of DNA Databases on Crime. Disponível em:
http://www.batten.virginia.edu/sites/default/files/fwpapers/Doleac_DNA_Databases%20working%20paper%202015.pdf
2
Segundo o 8º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2013 houve 53.646 mortes violentas e 50.320 estupros no
Brasil. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//anuario_2014_20150309.pdf
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