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Publicacao Livr2018 GCeInovacao
Publicacao Livr2018 GCeInovacao
PAULO D. VILLARES
presidente do conselho de administração do
IBGC entre 2001 e 2004
GOVERNANÇA CORPORATIVA E INOVAÇÃO:
TENDÊNCIAS E REFLEXÕES
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
O rganizadores :
Carlos Eduardo Lessa Brandão
Joaquim Rubens Fontes Filho
Sérgio Nunes Muritiba
São Paulo
2018
Copyright © 2018 Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC)
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Presidente Ricardo Egydio Setubal
Vice-presidentes Henrique Luz
Monika Hufenüssler Conrads
Conselheiros Doris Beatriz França Wilhelm, Isabella Sa-
boya, Israel Aron Zylberman, Leila Abraham
Loria, Richard Blanchet, Vicky Bloch
ISBN: 978-85-99645-61-1
cdd – 658.4
O IBGC não é responsável pelo conteúdo dos textos que compõem a obra. Os autores
conhecem os fatos narrados pelos quais são responsáveis, assim como se responsabilizam
pelos juízos emitidos. Os casos narrados não necessariamente correspondem às
recomendações das melhores práticas preconizadas pelo IBGC.
Produção
Preparação de texto: Andrea Stahel; revisão de provas: Lucas Legnare; projeto gráfico, dia-
gramação e capa: Adriana Garcia; imagem da capa: Shutterstock; impressão: Gráfica Santa
Edwiges
7
1.3 – Administração
Stakeholders: Vitais, mas Sub-representados nos Processos Decisórios e na Go-
vernança Corporativa................................................................................... 119
Roberto S. Waack
Disrupção, Governança e Corporate Venture em Empresas Estabelecidas: Qual
o Papel do Conselho de Administração na Governança da Inovação?................ 129
Maximiliano Selistre Carlomagno
Inovação e Governança Corporativa: Limites das Tecnologias da Informação e
Comunicação.............................................................................................. 141
Carlos Eduardo Lessa Brandão
8
Prefácio
Governança para o Futuro
Ricardo Setubal
O que o IBGC quis provocar com a produção do livro Governança Corporativa e Inovação:
Tendências e Reflexões é uma análise do que já foi realizado até agora, na sociedade e
nas organizações, e compreender como a governança corporativa deve evoluir a partir
da ruptura de conceitos antigos de administração e das facilidades que as novas tec-
nologias trazem aos clientes, funcionários, sócios e demais partes interessadas. Nesse
contexto, o IBGC debate o papel do conselheiro de administração para suportar e ala-
vancar o processo da inovação.
Para enfrentar a complexidade do ambiente atual de negócios, é imprescindível
que o conselho de administração, mais do que nunca, crie e mantenha uma cultura
de inovação em toda a organização, identificando oportunidades e desenvolvendo a
capacidade de pensar e entregar processos, produtos e serviços de formas diferen-
tes e que criem valor. Deve avaliar se o próprio conselho e a liderança da organização
são diversos o suficiente para encontrar respostas para as expectativas e ansiedades
do consumidor e da sociedade, mais exigente e questionadora.
O que sempre se pergunta nos processos de inovação é o quanto a empresa está
disposta a perder – a curto e a longo prazos – e o quanto pretende participar de pro-
jetos com alto nível de incertezas. Essas definições encaminham tipos de investimen-
tos em inovação distintos, seja para reforçar o negócio existente seja para criar novos
negócios. Nesse sentido, é o conselho que definirá o nível de risco que a organização
está predisposta a aceitar em nome da inovação.
Outras questões que deverão ser respondidas pelo conselho nesta jornada são:
por onde começar a inovação? Nos produtos? Nos processos? Nas áreas? Investindo
9
10 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endência s e r ef l ex ões
em startups? Com quem a organização precisa inovar, considerando que nem todo
conhecimento está disponível internamente? Como mensurar e auditar a capacidade
de inovação? Como preparar os talentos da organização e, inclusive, o conselho para
essa discussão?
A inovação é importante para ajudar as empresas a lidar com desafios como as
alterações climáticas e o desenvolvimento sustentável, já que os recursos do planeta
são finitos.
Outro ponto de reflexão está no crescimento demográfico global: a necessidade
de alimentar tanta gente. Mais do que isso, incluí-las no mercado de trabalho, ape-
sar da inteligência artificial e dos processos robotizados, cada vez mais sofisticados,
exigindo dos profissionais competências, habilidades e preparos únicos para esse
novo mundo.
Todas essas questões devem ser administradas com equilíbrio e de forma caden-
ciada, não apenas pelas organizações, mas também por todos os setores e agentes
da sociedade.
O Estado, por exemplo, pode desempenhar um papel mais direto na facilitação
e promoção da inovação. Investimentos conjuntos entre academia, iniciativa pública e
privada, voltados à pesquisa e ao desenvolvimento, podem fazer emergir inúmeras
possibilidades e resultados positivos para todos. Por isso é tão importante que o ecos-
sistema trabalhe em harmonia para encontrar soluções de baixo custo, baixo uso de
matéria-prima e alto desempenho.
O IBGC pergunta a si e ao leitor: estaria a governança corporativa promovendo a
inovação? Houve evolução na jornada da governança em todos esses anos, de uma
maneira que fomentasse o dinamismo dos negócios e acompanhasse os novos desa-
fios da humanidade? Quanto os agentes de governança influenciam positivamente na
capacidade de inovar de uma empresa e o que fazer para que isso aconteça?
Compreender as causas e os impactos de inovações e modelos de negócio que estão
surgindo é fundamental para que a governança corporativa continue evoluindo em prol
de uma sociedade melhor. Esperamos, portanto, que esta obra contribua para: ampliar
o espectro do conceito de inovação, superando o fator da tecnologia para alcançar o
olhar para o cliente; aumentar a capacidade da organização em acompanhar os efei-
tos da quarta revolução industrial; e preparar o conselheiro de administração e demais
agentes de governança para atuar positivamente nessa transformação.
pref ácio – gov ern a n ç a pa ra o f u tu r o 11
referências bibliográficas
Inovação é essencial? Por quê? Como tratar esse tema no âmbito da governança
corporativa?
Uma resposta é que a empresa precisa estar constantemente atenta às mudanças
no contexto dos negócios, que estão desafiando, cada vez mais, sua capacidade de
se manter viável e íntegra ao longo do tempo – a necessidade de pensar e repensar
constantemente a estratégia e sua execução é cada vez mais presente.
Entretanto, pelos mais diversos motivos, as discussões recentes sobre governança
corporativa têm tido um foco excessivo no controle. Embora preservar o valor da empresa
seja importante, a boa governança corporativa também promove a sua criação. Nessa
linha, o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC recomenda
que, na tomada de decisão, os agentes de governança levem em conta, simultanea-
mente, o grau de exposição ao risco, que deve ser definido por cada organização, e a
prudência necessária, evitando-se os extremos tanto de um quanto de outro.
Inovar implica errar, consertar e concertar, além de lidar com falhas. No entanto,
hoje os sistemas de governança estão muito focados justamente em evitar falhas,
criando e/ou reforçando uma cultura de aversão ao erro, à experimentação – depois
de anos de operações como a Lava-Jato, está se criando uma sensação de aversão,
muitas vezes de pânico, diante de potenciais falhas, erros.
Este movimento pendular de foco em controles e aversão a riscos para uma visão
mais ampliada lembra o que ocorreu após os escândalos de governança na virada do
século XXI que levaram os EUA a promulgar, por exemplo, a Lei Sarbanes-Oxley (SOX).
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14 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e r ef l ex ões
Houve quem considerasse as demandas da SOX excessivas, o que teria levado algumas
companhias a listar suas ações fora dos EUA1, embora tenha havido outras razões2.
O tema inovação, assim como outros ativos intangíveis, apresenta desafios para
ser devidamente estudado e implementado pelas empresas e investidores.
Em 2017, o IBGC tratou de outro tema intangível, a integridade na governança cor-
porativa3. A abordagem definiu integridade como a consistência entre o discurso e a
prática. Dois pontos foram levantados: a relação da integridade com o desempenho
da empresa e de que tipo de integridade se está falando, ou seja, sua qualificação.
Quanto ao primeiro ponto, integridade foi entendida como uma condição necessá-
ria, mas não suficiente, para o desempenho superior, tanto no nível individual quanto
no organizacional. Com relação ao segundo ponto, a integridade precisa ser devida-
mente qualificada, para não se promover a ideia indesejável da coerência entre dis-
curso e prática para se cometer ações ilegais, por exemplo.
O mesmo ocorre com o tema da inovação, quanto a ser condição necessária para
o desempenho superior e demandar uma qualificação – afinal de contas até as ativi-
dades criminosas podem se caracterizar pela inovação.
Um ponto de partida para se lidar com a inovação nas empresas está na obra do
economista Joseph Schumpeter 4, que sugeriu que “o impulso fundamental que inicia e
mantém o movimento do mecanismo capitalista decorre dos novos bens de consumo,
dos novos métodos de produção ou transporte, dos novos mercados, das novas for-
mas de organização industrial que a empresa capitalista cria”. Ou seja, assim como a
integridade, a inovação também é uma condição necessária, mas não suficiente, para
que o desempenho empresarial positivo seja mantido ao longo do tempo em ambientes
competitivos. Complementando Schumpeter e usando o código do IBGC como referên-
cia, não estamos tratando de qualquer tipo de inovação, mas daquelas que colaboram
para as empresas atuarem conciliando sua viabilidade com o bem comum.
Este livro se propõe a estimular a discussão sobre inovação no âmbito da governança
corporativa, de modo a assegurar a integridade empresarial ao mesmo tempo que per-
mite às empresas aprenderem, inovarem e se desenvolverem. Definir e implementar a
estratégia caminha junto com controles. Também é importante observar que, por mais
1. Ver: <https://www.investopedia.com/articles/financial-theory/09/how-sox-affected-ipos.asp>.
Acesso em: 15 ago. 2018.
2. Ver: <http://www.nytimes.com/2008/08/08/business/08norris.html>. Acesso em 15 ago. 2018.
3. C. E. L. Brandão, J. R. Fontes Filho e S. N. Muritiba (orgs.), Governança Corporativa e Integridade
Empresarial: Dilemas e Desafios, São Paulo, Saint Paul, 2017.
4. J. A. Schumpeter, Capitalism, Socialism and Democracy, 3. ed., Londres, Routledge, 1949.
in tr od u ç ã o 15
1.1
Contexto Internacional
Corporate Governance:
Leadership, Strategy and Innovation
Thomas Clarke
19
20 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e r ef l ex ões
products and processes. This principle was firmly set in the first sentence of the origi-
nal Principles of Corporate Governance commissioned by the London Stock Exchange
(1992) where Cadbury stated “the role of the board is to drive the company forward”.
Without accountability the risk is recklessness in the company, but without strate-
gic direction and innovation the risk is paralysis. It is balancing these two dimensions
of board duties in a productive and forward-looking manner that is the real challenge
boards of directors face. This balance of board responsibilities is made very clear in
Tricker’s influential Framework of Board Duties1 (Figure 1). On the left side of the matrix
there is the emphasis on providing accountability and monitoring and supervising both
the past and the present. While on the right side are the duties of strategy formulation –
reviewing strategy, formulating new strategy, and creating and resourcing a future
focused organisation capable of and committed to innovation. This framework clearly
illustrates the competing demands and continual tensions upon boards of directors
to balance conformance and performance, to monitor the present while preparing for
the future, to provide monitoring and endorse strategy formulation. The framework is
a reminder of the multidimensional roles and responsibilities of boards and directors,
and of the need to avoid placing the entire emphasis on single functions.
The ideal portrayal of the board is as an active, deliberative, and decisive forum for
the business: boards of directors collectively determine the fate of the corporation by
the decisions they make. Certainly, the extensive portfolio of significant board activities
encompassing succession planning, budgeting, strategy, innovation, risk management,
compliance, disclosure, and corporate social and environmental responsibility suggests
a very full agenda. However to neglect strategic direction and innovation in favour of
a focus on compliance and monitoring is not going to deliver a vibrant and successful
future for the company. It is boards that are able to maintain strategic direction, inno-
vation, and accountability that are truly fulfilling their duties. Boards effectively man-
age the tension between accountability and value creation.
quantity, quality, and accessibility and usefulness of ideas, creativity, and information,
rather than simply the material means of production. Schumpeter first recognized the
importance of knowledge in the economy in his reference to “new combinations of knowl-
edge” at the heart of innovation and entrepreneurship6. Later Penrose with her view of
dynamic capabilities identified the immense increase in the value of transferable knowl-
edge in the economy to the firm “the rapid and intricate evolution of modern technol-
ogy often makes it necessary for firms in related areas around the world to be closely
in touch with developments in the research and innovation of firms in many centres”7.
The scope of innovation has broadened as more industry sectors engage in con-
tinuous innovation, in technological innovation but also organisational and marketing
innovation. Innovation is associated with high technology industries but is relevant also
in medium and low technology industries. As the complexity and costs of innovation
have increased, innovation has become more open as firms partner to share costs,
discover complementary expertise, gain access to new technologies and knowledge,
and join innovative networks often around open source software.
This collaboration is often the key to innovation with companies working with exter-
nal partners, suppliers, customers, and universities. The degree of openness influences
access to knowledge, and while firms often seek to retain their core capabilities, open
innovation can involve less risk and cost than in-house development, with a larger base
of ideas and technologies to draw upon. The development of knowledge networks and
markets becomes critical to the innovation process with the transfer of intellectual prop-
erty, know-how, and software.
Innovation incorporates five types of activity:
This latter type especially contains new methods of creating value through collab-
orative innovation including through partnerships, strategic alliances, joint ventures,
and technology/patent relationships that allow firms combining own competencies with
those of other firms
However, innovation carries risks that executives and boards often are reluctant to
face8. Business people often recognise the need for innovation, and there is a thirst for
fresh ideas. The underlying tone often suggests that “it’s interesting” rather than “it’s
central to our strategy”. Managers are well aware of the need to innovate constantly.
However, they often convey a sense of interest, as opposed to urgency and priority. It
has to be realised that innovation is not something you just do at one point in time –
it has to be continual. You can’t stop still with so many significant changes occurring
and the advent of the internet, and the Internet of Things. This impacting upon much
of what is going on in the world today, that you need to be continually upgrading your
8. L. Leung et al., The View From the Top, 2016 Innovation Report, 2016.
24 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e r ef l ex ões
business and making sure that you are fit for market in every sense of the word, which
means continually transforming your processes and developing your people.
There’s often a recognition by boards that if you do not innovate you will become
irrelevant. There is a thirst for knowledge. Boards spend a lot of time searching for
outside stimulus and learning from different perspectives. Industry can be very insu-
lar, and business executives talk frequently and often convince themselves the world is
as it is, when fundamental changes are occurring out of their line of sight. The scope
of real interest in innovation tends to be more “incremental” than “game changing”
as this is safer. Because incremental innovations are less risky and generate quicker
return on investment, many companies prefer to focus on these. It is easier to carry
investors with incremental innovation when results are more immediate, if often only
modest. Executives and boards of directors may willingly contemplate the scenarios
of a digital world threatening their business model. But they do not see the disruptive
threats that may threaten them immediately. Though in the back of their minds exec-
utives and board members are often worried that radical innovation could always hap-
pen externally and sweep away any competitive advantage they may presently possess.
In normal circumstances boards do not pursue strategies of their own and act in
concert with executive management in developing strategy. “Corporate entrepreneur-
ship is the result of interactions between board members and the TMT [top management
team]16 […]. Boards’ contribution occurs through continuative actions and interactions
with managers; henceforth, collaboration, empowerment, and trust should be consid-
ered as key drivers of effective innovation activities”17. (However, at times of company
crisis – the responsibility for which is attributed to the incumbent executive manage-
ment –, it is sometimes necessary for the board of directors to seize the reins of power,
if only to install a new executive management.)
The competitive challenges that companies face and need to devise strategies to
succeed in are complex, and the composition and talents of boards are diverse, and
therefore the strategic role that boards may play and how they play this is difficult to
define in advance. As Pugliese and Zattoni conclude:
Selection of New CEOs, and Change in Corporate Strategy”, Strategic Management Journal, vol. 22,
n. 12, pp. 1113-1137, 2001.
13. W. M. Sanders and M. A. Carpenter, “Internationalization and Firm Governance: The Roles of CEO
Compensation, Top Team Composition, and Board Structure”, Academy of Management Journal, vol.
14, pp. 158-178, 1998.
14. A. Pugliese and A. Zattoni, “Board’s Contribution to Strategy and Innovation”, 2012, p. 221.
15. Idem. A. Pugliese et al., “Boards of Directors’ Contribution to Strategy: A Literature Review and
Research Agenda”, 2009.
16. S. A. Zahra, I. Filatotchev, and M. Wright, “How Do Threshold Firms Sustain Corporate
Entrepreneurship? The Role of Boards and Absorptive Capacity”, 2009.
17. A. Pugliese and A. Zattoni, op. cit.
26 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e r ef l ex ões
Close working between the executive and non-executive cadres promotes enhanced stra-
tegic discussion, greater information flow between members, and a lack of dominance of any
one individual or sub-group over the board as a whole. One major problem with the adversar-
ial view is that it downplays the role boards can play in the strategy process and in shaping
the identity of the organization […]. Board involvement in the strategy process entails a much
higher degree of collaboration between executives and non-executives and in a real sense a
relaxing of the constraints of independence in order for trust to be generated and social cohe-
sion to be established23.
As with the conduct of other board duties however, there is a gradation of engage-
ment in strategic involvement, from passive boards that adopt a minimalist approach
to their statutory duties, to boards that adopt a review and approve stance, to boards
that do seek an active partnership with executive management in establishing the stra-
tegic direction of the enterprise (Table 2).
A strategic board is one that contributes to the leadership and direction of the
business through a mix of monitoring and supportive behaviours vis-à-vis executives.
Non-executives need to be continuously active in respect of both strategy process
(how strategy is developed) and strategy content (the substance of choice, change,
and risk involved in corporate strategy). There is a strong consensus that responsibil-
ity for developing strategy rests with the chief executive, in concert with his/her exec-
utive committee. Non-executives then make an important contribution by bringing to
bear experience and knowledge gained outside the organization, to challenge and test
both the overarching strategic framework of the business as well as specific propos-
als for strategic investment, divestment, and change24.
There is a frequent concern that too great an involvement in developing and monitor-
ing strategy will lead inevitably to the board attempting to second-guess executives as
they strive to implement strategies and make them succeed. Cadbury and Millstein advise:
Perhaps boards should focus on a narrower band of responsibilities. For example, it has
been suggested that boards focus primarily on strategies to maximise the long-term sustain-
able value of the company, with oversight of operational decision-making becoming less of a
focus. This would allow the board to look beyond financial results and enable it to instead look
to sustainable performance indicators such as product or service quality, customer satisfaction,
23. P. Stiles and B. Taylor, Boards at Work: How Directors View Their Roles and Responsibilities, 2002,
p. 2.
24. T. McNulty, J. Roberts, and P. Stiles, Creating Accountability Within the Boardroom: The Work of the
Effective Non-Executive Director, 2003, p. 2.
28 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e r ef l ex ões
innovation, employee commitment and relationships with outside stakeholders. Boards should
be urged to assure themselves that their responsibilities are realistic and capable of being ful-
filled, not just enumerated. Investor and management expectations should be managed, so
that boards are held accountable for those matters within their remit25.
Pro-forma
Minimalist
Statutory
Statutory boards Managerial control
Ratifying
Passive Legalistic
First-level board
Active Collegial
Shared leadership
Partnership Participative
Normative/strategic
Maximalist
Partnership
Source: Adapted from P. Stiles and B. Taylor, Boards at Work: How Directors View Their Roles and Respon-
sibilities, 2002.
This projects a better working relationship for board’s involvement in strategy, rather
than continually intruding on management’s implementation, or challenging manage-
ment in open confrontation, the board works consistently to shape the sustainable
future of the enterprise:
The board’s engagement in gatekeeping activity, screening strategic options and revis-
ing and in some case rejecting strategic proposals, provides a strong means to shape the
direction of the organization. Though research had identified the board’s role in reviewing
25. A. Cadbury and I. M. Millstein, The New Agenda for ICGN, 2005, p. 27.
corporat e governance: l earder sh ip, stra tegy a n d in n ov a tion 29
and assessing proposals as an important element in adding value to the organization26, the
lack of evidence for boards overturning proposals has been used to support the manage-
rialist claim. However, in teasing out the detail of this process, it is clear that boards set
standards, for the quality and nature of proposals that are eventually presented before it;
they set the boundaries of what is acceptable in a proposal and what is not27.
The dilemmas concerning the proper role of the board of directors in strategic direc-
tions are related to the differing views regarding the purposes of value creation. As
Huse and Gabrielsson suggest there are markedly different views regarding the true
purpose and direction of value creation by companies with agency theorists assuming
value creation is primarily for shareholders, and managerialists suggesting it is monop-
olized by the interests of management, while stakeholder perspectives adopt a broader
view of the purposes of value creation for all those who have made a contribution to
the success of the company, and team production theories that see value creation in
terms of the broad interests of the firm and recognize the importance of value creation
through the whole of the value chain28.
leadership
Ultimately the role of the board of directors, and the purpose of corporate governance,
is to practice leadership. There are many definitions and qualities of leadership stretch-
ing from great men, to strongly task oriented, to the capacity to shape relationships,
and offer transcendental values for example in pursuing shared goals29. In facing the
complex challenges of today leadership necessarily involves the capacity to under-
stand complex global socio-economic and environmental risks, and emergent tech-
nologies. This requires the development of a global and systems mind-set, developing
skills of open-mindedness, inclusivity, and long-term thinking, with the capacity to
navigate complexity30.
26. A. Pettigrew, “On Studying Managerial Elites”, Strategic Management Journal, vol. 13, pp. 163-182,
1992. E. Ferlie et al., The New Public Management in Action, Oxford, Oxford University Press, 1996.
27. P. Stiles and B. Taylor, op. cit., p. 119.
28. M. Huse and J. Gabrielsson, “Board’s Contribution to Strategy and Innovation”, 2012, p. 234.
29. CISL, Global Definitions of Leadership and Theories of Leadership Development, 2016.
30. Idem.
30 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e r ef l ex ões
references
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2002.
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corporat e governance: l earder sh ip, stra tegy a n d in n ov a tion 31
Jacques Marcovitch
resumo: O artigo mostra, por meio de casos concretos internacionais e brasileiros, como a
inovação e a boa governança corporativa conciliam a produtividade e a sustentabilidade.
Para isso, é recomendado que incentivos remuneratórios, normalmente associados ao
desempenho financeiro, sejam aplicados às metas socioambientais. Trata-se de metas
incontornáveis para que o Brasil cumpra a Contribuição Nacionalmente Determinada assu-
mida em Paris para o horizonte 2030. São metas de redução de emissões de carbono e
de expansão da cobertura florestal. Metas que demandam inovações tecnológicas, como
aquelas já realizadas no campo das energias renováveis, além de novas políticas de requa-
lificação e educação. Políticas que dependem de empresas e governos unidos em uma
sinergia voltada para que o país conquiste seu lugar no futuro.
palavras-chave: inovação, sustentabilidade, pesquisa, governança, educação, ética, Brasil
33
34 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
pode atender, a fim de levar o processo industrial para muito além da manufatura
e da distribuição. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), respon-
sável por esta publicação, é outra importante fonte brasileira de dados para alimen-
tar novas políticas e estratégicas de empresas focadas em novos métodos de ges-
tão e produção.
conformidade em pauta
sustentabilidade e produção
Outro fator que influencia cada vez mais o universo corporativo é a sustentabilidade
nas ações empresariais. No Brasil, um exemplo veemente na direção à chamada eco-
nomia verde foi dado pelo setor sucroenergético. Desde o início dos anos 1980, as
indústrias automotiva e canavieira vêm adotando práticas inovadoras com a produção
do mais limpo e menos custoso biocombustível do mundo. Imaginemos, para avaliar
as vantagens ambientais do etanol brasileiro, um cenário com as ruas da capital de
São Paulo. Ali estão benefícios invisíveis, mas absolutamente reais, trazidos pelo uso
do etanol à qualidade de vida na grande metrópole.
Desde quando a nossa indústria automotiva implantou a tecnologia flex no Brasil,
o uso do biocombustível feito de cana, seja na forma de etanol anidro (misturado à
gasolina) ou hidratado (obtido direto na bomba), em carros e motos nacionais evitou a
emissão de 437 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) na atmosfera1. O cálculo
é da Unica, entidade que congrega os maiores produtores de etanol do Brasil, e ganha
ainda mais força quando associado à metodologia da Fundação SOS Mata Atlântica
para estimar a absorção de CO2 por árvores nativas via fotossíntese. São necessárias
7,14 árvores para tragar cada tonelada de carbono. Com isso, para obter o mesmo
benefício do poluente evitado pelo etanol em uma década e meia, seria preciso plan-
tar e manter mais de três bilhões de árvores nos próximos vinte anos.
Em complemento, análises do professor Paulo Saldiva, da USP, realizadas na década
de 2010, concluíram que o consumo do etanol em oito regiões metropolitanas – e o
consequente descarte de gasolina – evitou aproximadamente 1,5 mil mortes por pro-
blemas cardiovasculares e mais de nove mil internações decorrentes de problemas
respiratórios e cardiovasculares ligados aos gases emitidos por combustíveis fósseis2.
Além disso, estudo recente comprova que o volume de partículas ultrafinas na cidade
de São Paulo aumenta quando é reduzida, por motivo de disponibilidade ou de política
de preços relativos dos combustíveis, a quantidade de etanol que se coloca na gasolina3.
Tais benefícios na qualidade do ar poderão ser ainda maiores até 2030, ano em que
o Brasil terá de atingir a meta de redução de 43% das emissões domésticas de gases
de efeito estufa (GEE), conforme assumiu no Acordo de Paris. O nosso país, referência
1. Única, “Emissões Evitadas pelo Etanol nos Flex Equivalem a Plantio de Bilhões de Árvores”, 20 dez.
2017.
2. P. H. N. Saldiva et al., “O Etanol e a Saúde”, 2010.
3. A. Salvo et al., “Reduced Ultrafine Particle Levels in São Paulo’s Atmosphere during Shifts from
Gasoline to Ethanol Use”, Nature Communications, 2017.
s us t ent ab il idade e inovaç ã o n a gov er n a n ç a c orpor a tiv a 37
4. Ethos, “Lettre demandant aux sociétés pétrolières de s’engager davantage pour soutenir l’objectif de
l’Accord de Paris”, 19 abr. 2018.
s us t ent ab il idade e inovaç ã o n a gov er n a n ç a c orpor a tiv a 39
Uma boa unidade de medida, escreve Robert Crease, deve satisfazer três condi-
ções. Tem de ser fácil de relacionar, combinar elementos para medir com a escala
apropriada (nenhum índice usando centímetros para descrever distâncias geográficas)
e ser estável no tempo. Em seu livro World in the Balance (2011), esse professor des-
creve a busca do homem pela mensuração e mostra que a metrologia pode, nas mãos
certas, contribuir para mudar o mundo.
Indicadores são meios pelos quais a sustentabilidade ambiental pode ser mais con-
creta e definida mais especificamente. Os indicadores quantitativos são a base para a
fixação de metas e avaliação de desempenho. Há dois grupos principais de mensura-
ções relevantes para a sustentabilidade ambiental:
o nordeste e a inovação
5. O. Balmant, “Visão do Resto do País sobre Nordeste é Negativa e Falsa, Diz Economista”, Folha de
S.Paulo, 22 mar. 2018.
s us t ent ab il idade e inovaç ã o n a gov er n a n ç a c orpor a tiv a 41
uma tendência que ilustra, de forma clara, um viés promissor: o preço da energia eólica
ficou abaixo da energia produzida pela Usina de Belmonte6.
Especialistas calculam que as usinas eólicas, em consequência da rapidez de sua
construção e montagem, chegarão em 2020 a 12% da matriz brasileira e a 25% em
2030, o ano em que o Brasil anunciará os resultados de sua estratégia para cumpri-
mento da sua Contribuição Nacional Determinada (CND) no Acordo de Paris. Atualmente,
já estamos entre os dez países com mais extensos parques de energia eólica e entre
os cinco maiores investidores anuais nessa fonte energética.
Tendo entrado na matriz energética mais cedo, em 2009, a energia eólica apre-
senta hoje bem mais significativa capacidade instalada do que a energia solar. Já se
mostra como alternativa natural para o Nordeste no caso de agravamento da estiagem
constante e do desnível dos rios.
Só em 2015 teve início a produção de energia solar na região, a cargo da empresa
italiana Enel Green Power Brasil, que também lidera a geração eólica em Pernambuco,
Bahia, Piauí e Rio Grande do Norte. Rodrigo Sauaia, presidente da Associação Brasileira
de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) fez uma declaração ao jornal Folha de S.Paulo
que explica a escolha do Nordeste como nicho para o investimento nessa fonte: “Pela
quantidade de irradiação solar, o rendimento em produção de energia na região seria
o dobro de uma usina exatamente igual instalada na Alemanha”7.
No Global Trends in Renewable Energy Investment 2018 é destacado que a ener-
gia solar, em todo o mundo, vem agregando mais capacidade geradora que outras
fontes. O salto é liderado pela China, que apresenta um crescimento de 58% em rela-
ção ao ano anterior. As quedas sucessivas nos custos de produção das fontes eóli-
cas e solar, conforme o relatório, atraem cada vez maior número de investidores em
muitos países. O ano de 2017 foi o oitavo a assinalar, em ritmo consecutivo, que os
aportes nesses setores ultrapassaram US$ 200 bilhões. Um cálculo a partir de 2004
registra a movimentação acumulada de US$ 2,9 trilhões. No Brasil os investimentos
em energia solar chegaram em 2017 a US$ 6,2 bilhões, 10% a mais do que em 2016.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) calcula que, até 2024, a fonte fotovol-
taica representará 15% da matriz energética brasileira. Considera-se também a exis-
tência atual de quinhentos parques eólicos em todo o país, predominantemente nos
estados nordestinos.
6. L. Alvarez, “Energia Limpa Tem Potencial para Suprir Demanda”, Folha de S.Paulo, 28 mar. 2018.
7. Ibidem.
42 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
futuro do trabalho
De acordo com o relatório World Employment and Social Outlook 2018: Greening with
Jobs, a maioria dos setores da economia global pode se beneficiar da criação líquida
de empregos. A questão a ser colocada é em que países esses novos empregos serão
criados. Dos 163 setores econômicos analisados, quatorze teriam perdas líquidas de
empregos. Dois setores, extração e refino de petróleo, apresentam perdas de um milhão
de empregos, ou mais. A pesquisa mostra que 2,5 milhões de postos de trabalho serão
criados no setor de energia renovável, compensando cerca de quatrocentos mil empre-
gos perdidos na geração de eletricidade baseada em combustíveis fósseis. A transição
para uma “economia circular”, que inclui atividades como reciclagem, reparos, alu-
guel e remanufatura – substituindo o modelo econômico tradicional de “extração, fabri-
cação, uso e descarte” –, poderia criar seis milhões de empregos em escala global9.
Novas tecnologias engendram, portanto, uma nova economia. Verde, sim, mas
também compensadora para todos. Diante dos avanços aqui relatados, uma dúvida
começa a surgir no universo do trabalho – que abrange assalariados e seus empre-
gadores, estes últimos excluídos na retórica socializante. Teme-se que o uso da tec-
nologia concorra para a escassez de empregos. Cabe ponderar que os países mais
beneficiados pelo progresso tecnológico (Estados Unidos, Alemanha, Japão e China,
por exemplo) ostentam notoriamente as menores taxas de desemprego. E na Alemanha
o ritmo da chegada de robôs à indústria equipara-se ao da geração de empregos no
mercado de trabalho. Considere-se ainda, o surgimento de novas profissões em con-
sequência da evolução tecnológica e o seu impacto positivo na distribuição de renda.
Sabe-se, porém, que em vários setores da produção a mão de obra convencional
vem refluindo perigosamente, o que reclama novas e agressivas políticas de requalifi-
cação profissional e educação. Isso exige das empresas e dos governos uma sinergia
maior, igualmente inovadora e ambiciosa. Mais do que nunca, impõe-se uma agenda
comum para garantir o futuro do trabalho no Brasil.
referências bibliográficas
9. ILO, World Employment and Social Outlook 2018: Greening with Jobs, 2018.
44 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
Marcovitch, Jacques. “Como Avançar na Rio+20”. Revista Política Externa, vol. 20, n. 4,
mar.-abr.-maio 2012.
_____. (org.). Universidade em Movimento: Memória de uma Crise. São Paulo, Com-Arte /
Fapesp, 2017. Disponível em: <http://www.livrosabertos.sibi.usp.br/portaldelivrosUSP/
catalog/view/141/119/607-2>. Acesso em: 7 jul. 2018.
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2018. Disponível em: <http://www.natura.com.br/blog/natura-e-reconhecida-como-14a-
empresa-mais-sustentavel-do-mundo>. Acesso em: 7 jul. 2018.
Novais, Washington. “Energia – Atenção para Não Perder o Bonde”. O Estado de S. Paulo,
13 abr. 2016 (seção Opinião.). Disponível em: <https://opiniao.estadao.com.br/noticias/
geral,energia-atencao-para-nao-perder-o-bonde,70002266223>. Acesso em: 7 jul. 2018.
Politécnico de Lisboa. “Regulamento Geral de Proteção de Dados”, maio 2018. Disponível
em: <https://www.ipl.pt/iplisboa/regulamento-geral-de-protecao-de-dados>. Acesso
em: 7 jul. 2018.
Saldiva, Paulo Hilário Nascimento et al. “O Etanol e a Saúde”. In: Souza, Eduardo L. Leão de
& Carvalho, Isaias de. Etanol e Bioeletricidade: A Cana-de-açúcar no Futuro da Matriz
Energética. São Paulo, Luc Projetos de Comunicação, 2010, pp. 99-135. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/37651191/Etanol-e-bioeletricidade-A-cana-de-acucar-
na-matriz-energetica-brasileira>. Acesso em: 7 jul. 2018.
Salvo, Alberto et al. “Reduced Ultrafine Particle Levels in São Paulo’s Atmosphere during Shifts
from Gasoline to Ethanol Use”. Nature Communications, vol. 8, n. 77, 2017. Disponível em:
<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5516031/>. Acesso em: 19 jul. 2018.
Única, “Emissões Evitadas pelo Etanol nos Flex Equivalem a Plantio de Bilhões de Árvores”, 20
dez. 2017. Disponível em: <http://www.unica.com.br/noticia/1025713892034872045/
emissoes-evitadas-pelo-etanol-nos-flex-equivalem-ao-plantio-de-bilhoes-de-arvores/>.
Acesso em: 19 jul. 2018.
Como a Cultura de um País Influencia a
Inovação: Israel, a Startup Nation
Adriana Adler
resumo: Há um país que, com apenas setenta anos, já é considerado o país da inovação.
Israel é o país com maior número de startups no mundo e Tel Aviv é considerada a segunda
cidade mais inovadora. Este artigo tem como objetivo analisar como a cultura contribui
para esse estado de inovação.
palavras-chave: Israel, startup nation, cultura, inovação
Israel tem chamado atenção por algo muito intrigante: como um país de apenas setenta
anos, com 8,8 milhões de habitantes, em um território minúsculo, poucos recursos
naturais e em constante conflito é considerado o país da inovação? Israel é um dos
maiores centros de inovação do mundo e tem o maior número de empresas na Nasdaq
depois dos Estados Unidos e China. Tel Aviv é considerada a segunda região mais ino-
vadora, atrás de Vale do Silício, tendo uma das maiores concentrações de startups do
mundo, de que se origina seu apelido: Startup Nation.
Alguns de seus unicórnios (startup avaliada em mais de US$ 1 bilhão), como o
Waze, que foi comprado pelo Google, e a Mobileye, adquirida por mais de US$ 15
bilhões pela Intel, chamam atenção.
Para ter uma ideia, quinhentas novas empresas por ano são criadas, enquanto a
Europa inteira conta com cerca de seiscentas a setecentas. E, ao considerar os 8,8
milhões de habitantes de Tel Aviv, comparados aos setecentos milhões do continente
europeu, o número impressiona ainda mais.
Muito do que usamos atualmente teve origem em Israel. Alguns exemplos: o pen-
drive, a memória flash de computador, Waze, Fiverr (marketplace que reúne freelancers
47
48 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
Para melhor entender como a cultura de um país influencia sua qualidade de inova-
ção é preciso compreender alguns aspectos de sua fundação.
Depois do exílio pelos romanos em 70 d.C, o povo judeu migrou para a Europa
e Norte da África. Na diáspora (dispersos fora da Terra de Israel), eles estabelece-
ram vidas culturais e econômicas e continuaram a sua cultura nacional. Na primeira
metade do século XX, houve grandes ondas de imigração de judeus para Israel, vindos
de países árabes e da Europa. Durante o domínio britânico na Palestina, os judeus
foram submetidos a grande violência e massacres conduzidos por civis árabes ou
forças dos estados árabes vizinhos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o regime
nazista na Alemanha dizimou cerca de seis milhões de judeus, na grande tragé-
dia do Holocausto.
Em 1948 as forças britânicas deixaram a Palestina e foi declarada a independência
do Estado de Israel, um Estado democrático parlamentar – o único no Oriente Médio.
Do seu território minúsculo, de 22 mil km2 e que pode ser percorrido de uma ponta
a outra em poucas horas de carro – equivalendo a 0,25% do Brasil e 1% do Oriente
Médio –, 60% é deserto. Portanto tem-se aí uma fórmula: país pequeno, sem recursos,
rodeado de inimigos, que busca sua sobrevivência em uma eterna crise geopolítica.
Uma combinação que dá ensejo – principalmente devido à necessidade de sobre-
vivência – à emergência de sua cultura e de seu espírito inovador. Inovação, ini-
cialmente, para criar possibilidades de sobrevivência, defesa, alimento e água. O
desenvolvimento de tecnologias foi a estratégia para garantir a sobrevivência, seja
com o a cul t ura de um pa ís in f l u en c ia a in ov a ç ã o. . . 49
Cada vez mais se tem estabelecido um vínculo entre cultura e desempenho. Richard
Barrett, estudioso da cultura organizacional, traz o conceito dos sete estágios de desen-
volvimento psicológico. O primeiro é o da sobrevivência. O sexto se refere ao desejo de
fazer a diferença no mundo e cooperar com os outros. No sétimo, o trabalho se torna
gradativamente altruísta e gera bastante motivação nos profissionais.
Podemos comparar esses estágios com o desenvolvimento da cultura de um país.
No inicio do Estado de Israel a motivação foi pautada pela narrativa da sobrevivência.
O povo se uniu para comer, para sobreviver aos que tentavam aniquilar o Estado. Esses
fatores serviram como principal função e propósito. Ademais, na realidade, existe um
profundo alinhamento a partir de um ideal – o direito de todo judeu viver livre e de
forma independente. É uma forte motivação que une tantos os israelenses quanto os
judeus na diáspora.
Porém esse ideal tem mudado de formato. A geração atual está motivada para
uma nova forma de pioneirismo. Se a geração que chegou a Israel drenava pânta-
nos, a atual está em outro ciclo, de alcance que impacta o mundo. Embora o desa-
fio da sobrevivência ainda persista, perceberam que Israel como luz que irradia
conhecimento às outras nações já é fato2. A medicina de Israel está salvando vidas,
graças à inovação médica; em outras palavras, o país está pondo em prática o Tikun
Olam 3 – um conceito judaico que significa reparação no mundo e justiça social, por
meio de soluções globais de impacto. Além disso, são também bastante representa-
tivos de sua cultura a responsabilidade social, o trabalho em comunidade, o pensar
“nós” e o foco em soluções para o coletivo.
Quase todas as tecnologias contêm um pouco da contribuição de Israel. Por ano,
o país exporta em torno de US$ 2 bilhões em tecnologias de água para o mundo4. E
seja fazendo pesquisa ou parceria, existe um potencial para aumentar drasticamente
o impacto dessas contribuições tecnológicas.
2. D. Senor e S. Singer, Start-up Nation: The Story of Israel’s Economic Miracle, 2009.
3. Tikun Olam: “(hebraico: םלוע ןוקיתou םלוע ןוקת, significando literalmente ‘reparação do mundo’ e
alternativamente ‘construção para eternidade’) é um conceito no judaísmo interpretado no judaísmo
ortodoxo como a perspectiva de superação de todas as formas de idolatria, e por outras denomina-
ções judaicas como uma aspiração para o comportar-se e agir de forma construtiva e benéfica. É
importante no judaísmo e frequentemente usada para explicar o conceito judaico de justiça social. O
uso documentado do termo data de antes do período mischnaico. Desde os tempos medievais, a lite-
ratura cabalística ampliou o uso do termo. Na era moderna, entre os movimentos pós-Haskalah
Ashkenazi, tikun olam é a ideia de que os judeus carregam a responsabilidade não apenas pela sua
própria moral, espiritual e bem-estar material, mas também pelo bem-estar da sociedade como um
todo. Aos ouvidos dos rabinos contemporâneos pluralísticos, o termo conota ‘o estabelecimento de
qualidades divinas em todo o mundo’”. Fonte: Wikipedia. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/
wiki/Tikun_Olam>. Acesso em: 7 jul. 2018.
4. V. Barbosa, “As Soluções High Tech de Israel para Salvar Água e Faturar Alto”, 6 jul. 2017.
com o a cul t ura de um pa ís in f l u en c ia a in ov a ç ã o. . . 51
O tipo de inovação que Israel desenvolveu refere-se ao modo como lidar com uma situa-
ção na qual a realidade muda e o que se fazia antes já não tem muito valor. O profes-
sor Eugene Kandel, chairman da Start-Up Nation Central comenta em uma entrevista
que os judeus são as pessoas mais adequadas para este tipo de inovação “porque
passaram dois mil anos aprendendo como prever mudanças. Aqueles que não previ-
ram simplesmente não sobreviveram”13. Em Israel, houve a adaptação, identificação
de oportunidades, assumindo riscos. E um pilar muito importante foi o alinhamento
e a parceria de todo um ecossistema para fomentar essa cultura empreendedora: a
começar pelo governo, que entende a inovação como recurso muito valioso e promove
o empreendedorismo com muito mais naturalidade do que outros países. Um grande
diferencial é a parceria muito afinada entre governo, universidades, centros de pes-
quisa e potenciais empreendedores. Há nove grandes universidades localizadas geo-
graficamente próximas a cerca de 31 incubadoras, 72 aceleradoras de startups e mais
de oitenta fundos de investimento14. Rapidamente, desde o início, o governo israelense
percebeu a necessidade de fortalecer esse ecossistema. A agilidade na burocracia para
abrir uma empresa é exemplo disso: em Israel leva menos de um mês, às vezes qua-
torze dias, enquanto no Brasil demora cem dias.
15. “O [Instituto] Weizmann abriga cerca de três mil cientistas, estudantes, técnicos e equipe de apoio. O
Weizmann desenvolve uma ampla gama de pesquisas baseadas na curiosidade, para gerar conheci-
mentos em benefício da humanidade. O Instituto está sempre em busca de novos caminhos para com-
bater doenças e a fome, desenvolver novas tecnologias e materiais e criar estratégias para proteger
o meio ambiente” (“Jovens Cientistas do Instituto Weizmann Vêm ao Brasil para uma Série de Eventos
e Participam do Merkaz, no Clube A Hebraica, no dia 26 de Abril”, 11. abr. 2018).
56 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
concluindo
O livro Start-Up Nation16, publicado em 2009, traz com maestria essa inspiração para
a inovação, em um país onde se transformam adversidades em vantagens, investe-se
16. D. Senor e S. Singer, Start-Up Nation: The Story of Israel’s Economic Miracle (ed. bras.: Nação
Empreendedora: O Milagre Econômico de Israel e o que Ele nos Ensina). Também publicado em chi-
nês, russo, coreano, tcheco, búlgaro, árabe e hebraico, o livro alcançou o topo da lista de best-sel-
lers do New York Times e do Wall Street Journal e é considerado uma cartilha para cada CEO que
com o a cul t ura de um pa ís in f l u en c ia a in ov a ç ã o. . . 57
referências bibliográficas
queira desenvolver a próxima geração de líderes, apresentando fortes insights para toda empresa que
busca crescer em meio às dificuldades econômicas atuais.
58 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
André de Almeida
resumo: As revelações que vieram à tona, com a Operação Lava Jato, acerca da má admi-
nistração da Petrobras fundamentaram o ajuizamento de uma class action contra a empresa
nos Estados Unidos. O artigo define o instituto da class action, focando-se no desenvolvi-
mento da ação contra a Petrobras, que culminou com um acordo bilionário de indeniza-
ção aos investidores. Esse resultado é um alerta às empresas brasileiras que, em tempos
de globalização, devem conduzir suas atividades em observância aos padrões internacio-
nalmente aceitos de boa governança corporativa, caso queiram se beneficiar das vanta-
gens oferecidas pelo mercado financeiro internacional.
palavras-chave: class action, Petrobras, boa governança corporativa, Operação Lava Jato
introdução
O presente artigo pretende demonstrar como a economia globalizada exige, por parte
das empresas brasileiras, a observância de padrões internacionalmente aceitos de
boa governança corporativa bem como alertar acerca das implicações legais advin-
das dessa nova realidade.
Para tanto, fazemos uma análise do caso paradigmático que foi a class action
movida pelos investidores que adquiriram ações da Petrobras negociadas na Bolsa de
Nova York nos Estados Unidos, em decorrência da abrupta perda no valor dos investi-
mentos devido ao escândalo de corrupção sistêmica revelado no âmbito da Operação
Lava Jato (In Re: Petrobras Security Litigation, a “Class Action” ).
61
62 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
A class action (em tradução livre, ação de classe, ou coletiva) nada mais é do
que um instrumento processual existente nos Estados Unidos que permite ao Poder
Judiciário solucionar, em apenas uma demanda, questões relativas a número enorme
de pessoas geograficamente dispersas, de forma relativamente simples e econômica,
em casos nos quais os afetados sejam numerosos demais para, de forma conveniente,
ingressarem no feito.
A Class Action de que tratamos aqui configura um caso emblemático, tanto por sua
contribuição ao aperfeiçoamento da ética empresarial brasileira, como por demons-
trar, de forma inequívoca, que o mercado globalizado, ainda que de forma indireta,
dispõe, cada vez mais, de mecanismos jurídicos de proteção aos seus investidores.
Assim, um breve histórico dessa Class Action é útil, para melhor compreensão.
A class action foi por nós concebida no primeiro semestre de 2014, quando ficou
claro, pelo teor das informações trazidas pela mídia, que a questão da corrupção na
Petrobras teria direto reflexo econômico também no exterior.
Começamos então a refletir sobre a possibilidade de concretizar tal ação, e nossa
avaliação inicial, que posteriormente se provou correta, era a de que os investidores
estrangeiros formavam uma classe numerosa, que poderia ser defendida nos Estados
Unidos por meio de uma class action.
No entanto, as coisas não eram assim tão simples. Em primeiro lugar, porque
naquele ano de 2014 a Operação Lava Jato ainda não contava com número tão grande
de delatores, e uma série de questões ainda estava por ser revelada.
Contudo, tais condições se mostraram presentes à medida que as confissões
ocorridas no âmbito da Operação Lava Jato evidenciaram que os danos haviam sido
causados por má gestão, eivada de dolo, não havendo como escapar da inevitável
conclusão de que a companhia, por meio de seus principais gestores, tinha agido
de forma omissiva, ilegal e intencional, cabendo reparação àqueles que, de boa-fé,
nela investiram.
Vale lembrar que, no segundo semestre de 2014, quando da idealização da ação,
nenhum grande empresário ou político envolvido no esquema de corrupção da Petrobras
estava preso ou fora punido, pairando no país certo sentimento de desalento, dado
que a impunidade parecia se anunciar como resultado inexorável também neste caso.
Nesse contexto, a ideia da Class Action foi uma tentativa de utilizar os instrumentos
acessíveis a um advogado da área internacional para fazer com que aqueles que prati-
caram atos de corrupção fossem obrigados a reparar os danos causados aos investido-
res e para demonstrar que existem limites para a corrupção desenfreada, especialmente
quando seus efeitos transbordam para além do cenário nacional.
as l ições da c l a s s a c t i o n em f a c e d a petrob ra s. . . 63
A Class Action, portanto, foi uma resposta, idealizada dentro dos recursos que
tínhamos naquele momento, para defender os princípios éticos que devem ser obser-
vados na atividade empresarial – dentre os quais aqueles relativos à boa governança
corporativa –, essenciais para a inserção do Brasil no contexto econômico mundial.
Era evidente que estávamos numa situação de risco, de vulnerabilidade, pois o
caso tinha envolvimento direto de pessoas que ocupavam os mais altos cargos da
República, bem como de alguns dos maiores empresários e grupos econômicos do
país, sendo que, na qualidade de advogados privados, não podíamos contar com as
prerrogativas legais e de garantias institucionais de um órgão como, por exemplo, o
Ministério Público Federal.
Era grande o receio de retaliação, em especial por parte do governo, que, em oca-
siões similares, já havia se mostrado extremamente agressivo em resposta a seus crí-
ticos. Também a Petrobras, claro, era considerada uma poderosa oponente, por ter
recursos praticamente ilimitados para sua defesa.
A decisão de ajuizar a class action foi, portanto, um ato de coragem, talvez ins-
pirado pela ação de tantos outros que, no decurso da Operação Lava Jato, enfrenta-
ram riscos ainda maiores.
Iniciamos, então, ações preparatórias para sua concretização, tendo em mente que
parceria com um escritório local era conditio sine qua non também em razão dos cus-
tos envolvidos; ao fim das negociações, nossa escolha foi pelo Wolf Popper, um dos
mais tradicionais escritórios de securities litigation de Nova York.
A elaboração da peça inicial foi feita conjuntamente, a partir de julho de 2014, por
duas equipes de advogados, uma era composta dos profissionais do Wolf Popper em
Nova York e a outra, formada por profissionais do Almeida Advogados em São Paulo.
O trabalho foi exaustivo, em virtude do imenso número de informações envolvi-
das no caso, número que só crescia, diariamente, em decorrência de novos acordos
de delação premiada.
Finalmente, a class action foi ajuizada no dia 8 de dezembro de 2014, e sabíamos,
desde o início, que ela seria uma ação extremamente complexa e difícil, em particular
porque a Petrobras é detentora de grande poder econômico e não hesitaria em utili-
zar, perante a justiça americana, todos os recursos a sua disposição.
a class action
Com efeito, os investimentos nos mercados financeiros dos Estados Unidos estão pro-
tegidos por leis federais, executadas por órgãos do governo (em particular pela Securities
and Exchange Commission – SEC).
Ademais, as leis norte-americanas relativas a investimentos em títulos são desenvol-
vidas, complexas e baseadas em uma filosofia de publicidade que protege a integridade
dos mercados financeiros ao exigir dos emissores e dos ofertantes de ações plena divul-
gação de todas as informações relevantes, propiciando tomadas de decisões conscien-
tes por parte dos investidores.
No âmbito federal, o Securities Act de 1933 (lei que regula os valores mobiliários) e o
Securities Exchange Act de 1934 (lei do mercado de capitais) estabelecem regras seve-
ras objetivando a proteção dos investidores norte-americanos contra fraudes, declara-
ções falsas e enganosas e/ou a falta de divulgação de informações relevantes, adotando
uma política de transparência e exigindo que qualquer oferta ou venda de valores mobi-
liários seja registrada na SEC.
É importante destacar, contudo, que a SEC apenas exige que as informações fornecidas
sejam precisas, mas não garante sua veracidade, o que permite que os investidores que
comprem títulos e sofram perdas tenham direito de ação contra as empresas que emitiram
os títulos (e outras pessoas ou entidades envolvidas nas ofertas) se puderem provar que
houve divulgação incompleta ou imprecisa de informações relevantes (exatamente como
ocorreu na Class Action).
Ademais, os investidores americanos dispõem da class action, instituto proces-
sual eficiente e adaptado para a discussão judicial de tais questões, ainda inexistente
no Brasil.
Simplificadamente, as pessoas que se encontram na mesma situação de fato e de
direito (no caso da Class Action, os investidores) são consideradas membros de uma
classe, cujos interesses são defendidos por um deles, denominado líder da ação, ou
lead plaintiff, que é um dos autores da ação formalmente designado pelo juiz para
assumir a liderança do caso e ser o principal responsável por conduzir o processo em
nome da classe.
Por fim, a decisão judicial aplica-se a todos os membros da classe, independen-
temente de sua participação na demanda, o que implica o poder multiplicador de
tais ações.
A Petrobras, como prevíamos, jogou pesado e, após o ajuizamento da Class Action,
apresentou uma motion to dismiss, que equivale a uma tentativa de extinguir o pro-
cesso, por inépcia, antes mesmo de uma análise mais aprofundada das alegações
apresentadas pelos investidores.
66 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
o resultado
Uma correção de rumos se fazia imperiosa, e, nesse sentido, a Class Action cons-
titui uma metáfora perfeitamente acabada de como atualmente o direito responde às
exigências da globalização econômica e de como, cada vez menos, será possível evi-
tar a responsabilização (não apenas criminal, mas também cível) decorrente do cenário
de corrupção endêmica que, lamentavelmente, foi há até muito pouco tempo tolerado
por grande parte de nossa sociedade.
Em suma, a Class Action foi um dos instrumentos que propiciaram que a Petrobras
corrigisse seus erros e aperfeiçoasse suas práticas de boa gestão corporativa, permi-
tindo que o mercado volte a aceitar, sem desconfiança, a negociação de suas ações,
o que implica benéfico impacto positivo para a imagem do país e de nossas empresas.
A Class Action revelou, ainda que de forma dura, uma série de lições que necessitam
ser aprendidas por parte do empresariado brasileiro.
A primeira delas é que está demonstrado, de forma incontroversa, que a observân-
cia de normas de governança corporativa se tornou essencial para empresas e demais
organizações que pretendem atuar internacionalmente.
E não poderia ser diferente, diante da premissa de que a confiança é condição sine
qua non para o desenvolvimento de toda e qualquer atividade econômica, servindo
como pilar que dá sustentabilidade ao mercado financeiro. De fato, somente por meio
da confiança podemos assumir obrigações econômicas com terceiros, seja em uma
simples operação de compra e venda, seja na obtenção de um empréstimo bancário.
A mesma confiança é, igualmente, a base sobre a qual são construídas, no mer-
cado financeiro internacional, complexas estruturas de investimento que permitem a
alocação de recursos de inúmeros investidores de diversas partes do planeta.
É evidente que ninguém irá investir (ou até mesmo negociar) com entidades que
não gozam de credibilidade. Quem paga por um produto ou serviço tem a expectativa
de recebê-lo, e quem investe em uma companhia, da mesma forma, tem a mesma
legítima expectativa de receber os resultados de seu investimento (seja na forma de
juros, em caso de empréstimos, seja na forma de participação nos lucros, em caso
de investimento direto).
A obtenção de confiança no mercado internacional, contudo, apresenta dificulda-
des adicionais, uma vez que enseja a cooperação de agentes econômicos transitando
entre culturas, línguas e sistemas legais diversos, o que implica a necessidade da con-
solidação de alguns padrões comuns (legais, administrativos e contábeis, entre outros)
68 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
a serem observados por todos os envolvidos a fim de estimular a criação das condi-
ções necessárias para que a atividade econômica prospere1.
As regras de governança corporativa, dentro desse contexto, constituem um dos
elementos essenciais para construir um ambiente de confiança e responsabilidade,
necessário para fomentar o investimento a logo prazo, a estabilidade financeira e a
integridade empresarial.
Foi exatamente por essa razão que a OCDE reconheceu expressamente a importância
do papel que as empresas desempenham na persecução de objetivos econômicos mais
amplos, no tocante à confiança dos investidores na formação e alocação do capital2.
Trata-se de uma questão significativa, uma vez que a qualidade da governança
corporativa das sociedades afeta diretamente o custo para o acesso ao capital neces-
sário ao seu crescimento/desenvolvimento.
Por essa razão, se as empresas querem colher os benefícios do mercado financeiro
internacional, em especial no tocante a captação de investimentos de longo prazo,
suas práticas de governança corporativa devem estar em conformidade com princípios
internacionalmente aceitos, pois apenas a correta condução dos negócios da compa-
nhia possibilitará a captação (e a diminuição do custo) do capital.
1. Por essa razão, o instituto da governança corporativa está rapidamente se internacionalizando. Inicia-
do nos países de common law, na década de 1980, com estudos desenvolvidos pelo American Law
Institute, e pelo Cadbury Report, de 1992, no Reino Unido, a governança corporativa, em resposta a
uma série de escândalos corporativos ocorridos na década de 1990 e no início dos anos 2000, foi
objeto do Sarbanes-Oxley Act que institucionalizou e consolidou as melhores práticas de governança
corporativa nos Estados Unidos. Igualmente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento
Econômico (OCDE) elaborou um guia contendo princípios de governança corporativa, em 2004, deno-
minado Os Princípios da OCDE sobre o Governo das Sociedades, que objetiva servir como referência
para a instituição de padrões internacionais. Com efeito, desde a década de 1990 cada vez mais paí-
ses, em todos os continentes, têm adotado regras de governança corporativa, em um movimento que,
atualmente, tem claro caráter global. O Brasil, evidentemente, não poderia ficar ao largo de tal ten-
dência. Aqui, as discussões sobre governança corporativa se iniciaram com a criação do IBGC em
1995, sendo importante marco a adoção, pelo Novo Mercado, em 2000, de classificação conforme
os padrões de governança corporativa adotados pelas empresas cujos títulos são negociados. No
direito positivo, entendemos que atualmente o principal fundamento legal da governança corporativa
é um mandamento para o acionista controlador, determinando-lhe a forma como deve ser o seu poder
de controle, previsto no artigo 116, parágrafo único da Lei n. 6.404/76, que determina que “O acio-
nista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir
sua função social, e tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os
que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente
respeitar e atender”.
2. OCDE, Princípios de Governo nas Sociedades do G20 e da OCDE, 2016.
as l ições da c l a s s a c t i o n em f a c e d a petrob ra s. . . 69
3. R. Azevedo, “As Brasileiras que Despertaram a Ira do Investidor Gringo”, Exame, 13 ago. 2016.
as l ições da c l a s s a c t i o n em f a c e d a petrob ra s. . . 71
referências bibliográficas
Azevedo, Rita. “As Brasileiras que Despertaram a Ira do Investidor Gringo”. Exame, 13 ago.
2016. Disponível em: <https://exame.abril.com.br/mercados/as-brasileiras-que-desper-
taram-a-ira-do-investidor-gringo/>. Acesso em 8 jul. 2018.
Brasil. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as Sociedades por Ações.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6404consol.htm>. Acesso
em: 9 jul. 2018.
OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Princípios de
Governo Nas Sociedades do G20 e da OCDE. Paris, OCDE, 2016. Disponível em: <https://
www.oecd-ilibrary.org/governance/principios-de-governo-das-sociedades-do-g20-ocde_
9789264259195-pt>. Acesso em: 8 jul. 2018.
Governança entre Essência, Aparência e
Resultados: Precisamos Avançar!
governança corporativa
1. Report of the Committee on the Financial Aspects of Corporate Governance (1992). O comitê era pre-
sidido por sir Adrian Cadbury.
73
74 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
Não há, por óbvio, um modelo único de governança que sirva para todas as empre-
sas – afinal, elas atuam em contextos diversos e têm características particulares no
tocante a natureza jurídica, forma de controle, tipo de controlador, cultura e identidade.
Entretanto, independentemente da estrutura de governança escolhida, as empresas
precisam atuar de forma ética e têm a obrigação de cumprir as leis e os regulamen-
tos aplicáveis. Assim, a adoção das melhores práticas de governança corporativa cor-
responde a ações diferenciadas de gestão.
A qualidade da governança adotada tem destacado papel na criação ou na des-
truição de valor de uma empresa – e é mais fácil comprovar essa relação de causa
e efeito no segundo caso, como foi possível observar na recente história corporativa
brasileira. Empresas longevas, com relevantes históricos em suas respectivas áreas
de atuação, foram severamente atingidas pela revelação da prática de atos ilícitos, e
não são poucas as que hoje lutam para sobreviver. As externalidades negativas causa-
das por falhas em governança são expressivas, o que confirma na prática a importân-
cia de as empresas compreenderem que suas atividades impactam não apenas seus
stakeholders internos (acionistas, funcionários e administradores), como também os
externos. Elas têm uma responsabilidade corporativa, que não pode ser negligenciada.
Conselhos de administração e investidores institucionais têm muito a contribuir para
a melhoria da governança corporativa no país.
conselhos de administração
A healthy culture both protects and generates value. It is therefore important to have a con-
tinuous focus on culture, rather than wait for a crisis. Poor behaviour can be exacerbated when
companies come under pressure. A strong culture will endure in times of stress and mitigate the
impact. This is essential in dealing effectively with risk and maintaining resilient performance3.
A política de remuneração deve ser muito bem estruturada visando a alinhar inte-
resses e evitar que a empresa assuma riscos excessivos ou incentive fraudes e/ou atos
ilícitos para que resultados impraticáveis sejam atingidos.
A PricewaterhouseCoopers (PwC) e Escola de Administração de Empresas de São
Paulo da Fundação Getulio Varga (Eaesp/FGV) apresentaram em 2018 a 4a edição do
2. Atuação dos investidores institucionais nas empresas visando promover a adoção das melhores práti-
cas de governança corporativa.
3. Sir Winfried Bischoff, “Foreword”, em FRC, Corporate Culture and the Role of Boards, 2016.
governança ent re es s ên c ia , a pa r ên c ia e r esu l ta d os. . . 77
investidores institucionais
A BlackRock, gestora de recursos americana que possui US$ 6,3 trilhões de recursos
sob gestão, aproveitou a celebração de seus trinta anos para fazer profunda reflexão,
compartilhada por meio de impactante carta de seu CEO, Larry Fink: “Um Sentido de
Propósito”. Um importante diagnóstico apresentado foi a ansiedade e a polarização
no mundo atual, causadas pela combinação entre baixa capacidade de poupança dos
trabalhadores com sistemas de aposentadoria inadequados e incapacidade de mui-
tos governos em lidar com questões que vão desde aposentadoria, infraestrutura até
automação e requalificação de trabalhadores.
Essa desafiadora realidade faz a sociedade demandar, cada vez mais, que as empre-
sas reflitam sobre seu papel na sociedade, respondendo a desafios mais amplos, e
que tenham um propósito social. Como estão gerenciando o impacto de suas ativi-
dades no meio ambiente? Contribuem para o aumento da diversidade de suas equi-
pes? Estão se adaptando às mudanças tecnológicas? Preparam seus funcionários e
o negócio para um mundo cada vez mais automatizado? Instruem os colaboradores
para planejarem a sua aposentadoria? As empresas precisam se conscientizar sobre
o impacto social causado por suas atividades e sobre o modo como as mudanças em
curso no mundo podem afetar seu potencial de crescimento. A BlackRock acredita
que empresas sem propósito social podem vir a perder sua licença para operar e não
conseguir atingir o seu pleno potencial. Larry Fink incentiva as empresas a se enga-
jarem de forma proativa com investidores e outros stakeholders relevantes mediante
um diálogo aberto e contínuo.
The time has come for a new model of shareholder engagement – one that strengthens and
deepens communication between shareholders and the companies that they own. I have writ-
ten before that companies have been too focused on quarterly results; similarly, shareholder
engagement has been too focused on annual meetings and proxy votes. If engagement is to be
meaningful and productive – if we collectively are going to focus on benefitting shareholders
instead of wasting time and money in proxy fights – then engagement needs to be a year-round
conversation about improving long-term value4.
A atividade de stewardship pode ser definida como a forma pela qual os investi-
dores institucionais atuam nas empresas em que investiram. O Reino Unido também
foi pioneiro no lançamento do seu código de stewardship em 2010, sendo seguido
por outros países. O stewardship é um movimento crescente ao redor do mundo, e
em 2018 o International Corporate Governance Network (ICGN) concederá pela pri-
meira vez os Stewardship Champion Awards, ao reconhecer indivíduos, organizações
ou colaborações cujas ações ajudaram a tornar o stewardship uma realidade nos mer-
cados em que atuam.
O movimento chegou ao Brasil com a edição, em 2016, do Código Amec de
Princípios e Deveres dos Investidores Institucionais – Stewardship, cuja elaboração
foi capitaneada pela Associação de Investidores no Mercado de Capitais. O objetivo
do Código é desenvolver cultura de stewardship no Brasil promovendo o senso de pro-
priedade nos investidores institucionais e criando padrões de engajamento responsá-
vel, o que por sua vez propiciará a adoção de boas práticas de governança corporativa
e maior geração de valor.
O Código é composto por sete princípios: implementação/divulgação de programa
de stewardship; administração de conflitos de interesses; consideração de aspectos
ambientais, sociais e de governança corporativa (ASG); monitoramento de empresas;
exercício dos direitos de voto; definição de critérios de engajamento coletivo; ga-
rantia de transparência às atividades de stewardship. O regulamento já está em vigor
e norteará o enforcement sobre os signatários do código ao estabelecer normas e
procedimentos relativos à análise dos relatórios anuais. Eventuais sanções, no entanto,
serão aplicadas somente a partir de 2021. A avaliação dos relatórios ficará a cargo
de uma comissão de especialistas do mercado, formada por pessoas indicadas
pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar
(Abrapp), Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima), Apimec Nacional e IBGC, e até quatro membros apontados pela Amec.
A questão do exercício do voto é de grande relevância – investidores institucionais
não podem abrir mão do exercício do voto nas assembleias, pois é assim que eles
opinam sobre a qualidade da gestão das empresas em que investiram. A MSCI, pro-
vedora de produtos e serviços para investidores institucionais, iniciou, em janeiro de
2018, um mapeamento sobre opiniões acerca de ações com direitos desiguais a voto.
Pioneira na elaboração de índices compostos de uma carteira teórica de ações 7, os
índices MSCI são adotados como benchmark 8 para a performance de fundos. O moti-
vador da consulta veio de duas constatações: o aumento da participação de fundos
passivos (que replicam o índice MSCI) no mercado acionário e a ampliação de IPOs de
grandes empresas que decidiram limitar a possibilidade de voto dos acionistas com a
emissão de ações com direitos desiguais.
A MSCI perguntou aos investidores se ações de empresas com direitos desiguais
de voto deveriam compor o índice e se o direito ao voto deveria ser critério de peso no
índice (hoje apenas o free float tem peso no cálculo). No caso da primeira pergunta,
o MSCI entende que sim; em relação à segunda, pondera haver um dilema na situa-
ção de ações sem direito a voto integrarem fundos passivos. Investidores passivos de
ações sem direito a voto não podem nem tomar decisões em desacordo com a com-
posição dos respectivos benchmarks nem exercer influência nas políticas das empre-
sas. Uma eventual mudança no peso das ações sem direito a voto na composição do
índice MSCI tenderia a impactar positivamente a avalição de empresas cuja totalidade
das ações tem direito a voto e a afetar negativamente as empresas que têm também
ações sem direito a voto.
Investidores institucionais não podem abrir mão do exercício do voto nas assem-
bleias, pois é assim que eles opinam sobre a qualidade da gestão das empresas em
que investiram. O aumento da participação dos fundos passivos aumenta a responsa-
bilidade fiduciária dos investidores e a necessidade de se engajar com as empresas
e votar. A BlackRock, por exemplo, possui US$ 1,7 trilhão sob gestão em fundos ati-
vos e nestes fundos ela pode optar por vender ações de uma empresa se tiver dúvidas
sobre sua direção estratégica ou crescimento de longo prazo. No entanto, na gestão
de seus fundos passivos, a gestora não pode expressar sua eventual desaprovação
a uma empresa, vendendo suas ações, caso a participação da empresa no índice se
mantenha. Os investidores de fundos passivos são investidores de longo prazo, que
fornecem capital para as empresas crescerem e prosperarem.
a jornada
8. Benchmark é um índice com determinada composição, revista de acordo com periodicidade prevista.
82 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
seja pela pressão da falta do tempo para reflexão. Di Miceli chama a atenção para a
governança no século XXI. Segundo ele, é necessário um novo modelo – a sociedade
demanda essa mudança10.
Vivemos uma gravíssima crise ética no Brasil, todavia é possível encontrar impor-
tantes avanços institucionais em governança corporativa no país. Eles estão nas esferas
de regulamentação, autorregulação, fiscalização e enforcement de leis e regulamen-
tos. A compreensão de que falhas na governança não só impactam a empresa e seus
stakeholders internos, como também têm a capacidade de gerar externalidades nega-
tivas relevantes na economia e sociedade, impulsiona esses movimentos. Deve-se
observar com atenção a crescente atuação da sociedade, que se torna cada vez mais
consciente, crítica e ciente do seu poder de vocalização, potencializado pelo intensivo
uso das mídias sociais.
O aumento do enforcement das leis no país é uma excelente notícia. No caso
Petrobras já há dois desdobramentos. Quatro ex-diretores da companhia arrolados na
Operação Lava Jato foram condenados por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro
e associação criminosa. Em relação a ex-conselheiros da empresa, está em curso
uma detalhada e inédita investigação sobre suas respectivas condutas. Em novembro
de 2017, o Ministério Público Federal (MPF) propôs uma ação civil pública por ato de
improbidade administrativa11 que pede punição para nove ex-conselheiros de adminis-
tração da Petrobras pela condução de sua política de preços de combustíveis baseada
em fins diversos daqueles previstos na lei e no estatuto da companhia. O MPF reivin-
dicou também a condenação da União, de forma subsidiária, para ressarcimento de
danos causados por abuso de poder na qualidade de acionista controladora da esta-
tal, em razão do controle dos preços de combustíveis para evitar aumento da inflação.
Dentre os avanços institucionais recentes em governança no Brasil, destacam-
-se a 5a edição (2015) do Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa
do IBGC, os lançamentos do Código Amec de Stewardship e do Código Brasileiro de
Governança Corporativa – Companhias Abertas (CBGC), ambos em 2016, a edição da
Instrução Normativa n. 586 da (CVM)12 e novas exigências criadas pela reforma do
Novo Mercado da B3, ocorrida em 2017.
10. A. D. M. da Silveira, Ética Empresarial na Prática: Soluções para Gestão e Governança no Século XXI,
2018.
11. Inquérito civil público 1.30.001.000733/2015-34 (MPF).
12. Instrução publicada em junho de 2017. Exige informe anual sobre aderência ao CBGC das compa-
nhias abertas autorizadas a emitir ações, debêntures conversíveis ou outros instrumentos que pos-
sam ser transformados em ações.
84 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
conclusão
O país tem desafios particulares, como histórico de cultura mais permissiva, forte hie-
rarquia nas organizações, em grande parte influenciada pela estrutura patriarcal da
sociedade brasileira, e Estado com grande presença na economia e com baixa gover-
nança. O porte e a qualidade da governança do Estado brasileiro o tornam um campo
vulnerável para atos ilícitos. A sociedade deve discutir o tamanho do Estado que deseja
ter e deve exigir que ele tenha boas práticas de governança.
A evolução institucional da governança corporativa no país é notória, assim como
o enforcement das leis. Essas condições de contorno, aliadas ao funcionamento efi-
caz dos conselhos e engajamento dos investidores institucionais com as empresas,
poderão concretizar uma grande transformação no país.
A qualidade da governança adotada tem destacado papel na criação ou na destrui-
ção de valor de uma empresa, e as externalidades negativas causadas por falhas em
governança podem ser expressivas, como mostra a recente história corporativa brasi-
leira. Vale lembrar que, em ambientes de festa, quando o volume da música aumenta
e a iluminação é reduzida, os convidados são obrigados a fazer grande esforço para
ouvir e enxergar – mas muitas vezes não conseguem superar as limitações impostas
pelo entorno festivo. De forma análoga, em cenários de euforia de mercado o cuidado
e a diligência precisam ser redobrados.
Os conselhos de administração precisam compreender as mudanças em curso, que
podem ser assim resumidas: empresas precisam ter propósito mais amplo do que sim-
ples geração de resultados financeiros, e aspectos ambientais sociais e governança
precisam ser contemplados. A sociedade está cada vez mais consciente, exigente e
dotada de canais de vocalização, os investidores estão mais engajados, nota-se um
aumento do enforcement das leis, evoluções tecnológicas disruptivas estão mudando
de forma brutal a economia e sociedade, os desafios representados pelos dilemas éti-
cos integram o dia a dia. A cultura organizacional é o coração corporativo e é dela que
irradiam os sinais para toda a empresa.
O Reino Unido tem dado grande relevância à cultura organizacional, e a recomen-
dação do FRC para os conselhos de administração é concentrar esforços contínuos na
cultura organizacional como um catalisador de valor no longo prazo – cabe aos conse-
lhos monitorar, avaliar e implementar a cultura desejada. Esse processo tem três pon-
tos fundamentais: a conexão de propósito e estratégia com a cultura organizacional, o
alinhamento de valores e incentivos (recrutamento, monitoramento de performance e
86 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
referências bibliográficas
Cristiana Pereira
Tiago Curi Isaac
introdução
89
90 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
em assembleias gerais, tanto por meio de voto quanto por meio de apresentação de
propostas para deliberação.
A CVM optou por uma adoção gradual da norma, no que se refere tanto às assem-
bleias em que a possibilidade de participação a distância estaria disponível quanto às
empresas que precisariam adotar tal sistemática. Dessa forma, 2018 foi o primeiro ano
em que todas as empresas registradas na CVM como categoria A, com ativo admitido
a negociação em bolsa e com ações em circulação no mercado, tiveram a obrigação
de disponibilizar os novos mecanismos, ainda restritos às assembleias gerais ordiná-
rias e assembleias com eleição de membros da administração. Sendo assim, já é pos-
sível identificar avanços alcançados e desafios que permanecem no sentido de chegar
a um efetivo exercício do voto nas assembleias.
O artigo divide-se em seis partes, além desta Introdução. Na primeira parte dis-
cutiremos a origem dessa regulamentação e suas motivações, detalhando as princi-
pais modificações trazidas pela norma e o modo como se operacionalizam o voto e a
inclusão de propostas para deliberação. Nas segunda e terceira partes discutiremos de
que forma as funcionalidades introduzidas pela instrução representam uma inovação
e benefícios para as práticas de governança de emissores e investidores, respectiva-
mente. Na quarta parte avaliaremos alguns limites da norma e os desafios apresenta-
dos nos primeiros anos de sua aplicação. Por fim, concluiremos apresentando algumas
perspectivas para os próximos anos.
2. Mais informações sobre a regra Disclosure of Proxy Voting Policies and Proxy Voting Records by
Registered Management Investment Companies estão disponíveis em <https://www.sec.gov/rules/
final/33-8188.htm>. Acesso em 10 jul. 2018.
92 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
• falta de clareza sobre a propriedade das ações, especialmente quando são deti-
das em contas omnibus, em que o titular é a instituição financeira intermediária e
não está explícito para as empresas quem são os beneficiários finais das ações;
• falta da adoção generalizada de mecanismos eletrônicos para exercício do voto;
• falta de um sistema confiável para confirmação do exercício do voto3.
Esse último ponto, sobre a confirmação do voto, foi objeto de outro documento
divulgado pela ICGN em dezembro de 2016, ressaltando como a falta de um processo
claro e disseminado de confirmação de voto acaba afetando o efetivo cumprimento do
dever fiduciário dos investidores institucionais ao redor do mundo4.
No Brasil, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais
(Anbima) divulga diretrizes para a política de exercício de direito de voto em assem-
bleias para fundos de investimento, estabelecendo a obrigatoriedade do exercício do
voto, com as seguintes exceções: quando a. a assembleia ocorrer em cidade que não
seja capital de estado e não seja possível o voto a distância; b. o custo relacionado
com o exercício do voto não for compatível com a participação do ativo financeiro no
fundo de investimento; c. a participação total dos fundos de investimento sob gestão
na fração votante na matéria for inferior a 5% e nenhum fundo de investimento pos-
suir mais de 10% de seu patrimônio no ativo em questão5.
Também no Brasil, em outubro de 2016, Associação dos Investidores no Mercado
de Capitais (Amec) lançou seu código de stewardship com os princípios e orientações
sobre a melhor forma de atender o dever fiduciário pactuado entre o gestor de recursos
e aqueles indivíduos que confiaram suas poupanças a esses gestores. Um dos princí-
pios do código diz respeito à diligência no exercício dos direitos de voto, afirmando que
“longe de ser um fim em si mesmo, o direito de voto é a forma pela qual os detento-
res de valores mobiliários cumprem o seu papel na estrutura de governança corpora-
tiva dos emissores investidos”6.
Pelo lado das companhias, a legislação estabelece uma série de situações em que
são necessárias a manifestação e a aprovação dos acionistas, seja daqueles com direito
de voto, seja dos preferencialistas. No contexto de empresas com capital disperso, ou
7. Para maiores detalhes sobre a cadeia de prestadores de serviços de voto para investidores não resi-
dentes e seus desafios, ver ICGN, Cross Border Proxy Voting, 2003.
94 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endências e ref l ex ões
Fonte: B3.
Os mecanismos trazidos pela ICVM n. 561 representaram uma série de inovações, que
se traduziram em vantagens para as empresas emissoras. São basicamente três gran-
des benefícios, que listamos a seguir.
% de votos em D-1
vs Capital Social
Fonte: B3.
A nova regra estabelece, então, um prazo de pelo menos um mês para a convo-
cação de assembleias gerais extraordinárias (AGEs) e assembleias gerais ordinárias
(AGOs) que venham a utilizar o voto a distância, antecedência mínima exigida para que
a companhia divulgue o boletim de voto ao mercado.
inclusão de candidatos
inclusão de propostas
Fonte: B3.
as inovações tra z id a s pel o v oto a d istâ n c ia 99
Isso abre inúmeras oportunidades de atuação mais efetiva por parte dos investi-
dores, podendo inclusive estimular uma maior aproximação de minoritários antes das
assembleias para garantir indicação de temas relevantes para a companhia, bem como
a indicação de candidatos de forma conjunta. É provável que o ativismo de minoritá-
rios ganhe força no país nos próximos anos.
em tempo real, no dia de sua realização. Dessa forma, todos poderiam participar e rea-
gir, conforme o fluxo de acontecimentos do dia. Nesse sentido, é preciso refletir que,
embora a tecnologia atual possa permitir um cenário como esse, com todos os contro-
les e segurança necessários para garantir a integridade da assembleia, o custo para
uma estrutura assim é ainda bastante elevado, e a estrutura, de difícil implementação.
Seria difícil impor um modelo desse tipo em uma norma que tem alcance amplo e obri-
gatoriedade para todas as companhias. Por isso, a solução encontrada foi a adoção
de um mecanismo de voto estático, padronizado, antecipado e que se movimenta por
meio de uma cadeia de prestadores de serviço automatizada e já utilizada para movi-
mentar outras decisões relativas ao investimento em ações.
Dado que a assembleia ainda não é interativa e em tempo real, o desafio é con-
ciliar as diferentes possibilidades de eventos que podem nela ocorrer em um meca-
nismo estático de voto. Ou seja, ao tentar reproduzir no Boletim de Voto alguns dos
cenários que podem ocorrer no dia assembleia, a norma pode ter tornado o sistema
mais complexo, talvez sem trazer os benefícios originais esperados. Em particular,
estamos falando da possibilidade de voto múltiplo e da instalação de conselho fiscal.
Na eleição de conselheiros, a Lei n. 6.404/76, em seu artigo 141, prevê aos acio-
nistas que detenham pelo menos 10% do capital com direito a voto a possibilidade
de requerer a adoção do processo de voto múltiplo, atribuindo-se a cada ação tantos
votos quantos sejam os membros do conselho, e reconhecido ao acionista o direito de
cumular os votos em um só candidato ou distribuí-los entre vários.
Contudo, reunir os acionistas que juntos detenham 10% das ações com direito de
voto é um grande desafio de coordenação. Por isso, a regulamentação exige que o BVD
traga uma pergunta obrigatória questionando os acionistas acerca de sua intenção de
pedir a instalação de voto múltiplo; assim, cada acionista individualmente pode con-
tribuir para que se atinja o percentual necessário para sua instalação.
Caso seja adotada a eleição por voto múltiplo, é preciso indicar a distribuição dos
votos – habitualmente apresentados a uma chapa –, e, como não existe uma coorde-
nação prévia, é preciso que o acionista, ao preencher o BVD, indique sua intenção ou
não de pedir a instalação do voto múltiplo e como gostaria de distribuir seu voto caso
o voto múltiplo seja instalado. Portanto, ainda que o acionista não tenha intenção de
pedir a instalação do voto múltiplo, esse mecanismo pode vir a ser adotado, por pedido
dos acionistas que enviaram o BVD ou por pedido de acionistas diretamente à compa-
nhia 48 horas antes da assembleia. Nesse caso, para não “desperdiçar” o seu voto e
poder efetivamente participar da eleição de administradores, o acionista pode indicar a
distribuição de seus votos, mesmo que não tenha pedido a instalação do voto múltiplo.
as inovações t ra z id a s pel o v oto a d istâ n c ia 101
Com relação ao conselho fiscal, aplica-se a mesma lógica. Foi criada uma per-
gunta obrigatória que permite que acionistas dispersos, sem coordenação prévia, unam
esforços para pedir a instalação do conselho fiscal na companhia, um direito previsto
no artigo 161 da Lei 6.404/76, segundo o qual os acionistas que possuam ao menos
10% das ações com direito de voto ou 5% das ações sem direito de voto podem pedir
sua instalação.
Contudo, a falta de coordenação prévia faz com que os acionistas eventualmente
aprovem o pedido de instalação do conselho fiscal, que entretanto pode ser inócuo se
na data da assembleia não existirem candidatos para compor essa chapa. Pode ocor-
rer também que, diante da aprovação do pedido de instalação, no dia da assembleia se
apresente um candidato que, embora presente na assembleia, não seja aquele esco-
lhido ou indicado pelos investidores que aprovaram o pedido de instalação.
Outra questão que surgiu nos primeiros anos de aplicação da norma, em especial
em 2018, se refere à validade de aplicação a todas as empresas registradas na CVM
como categoria A. Na Instrução n. 594, editada em dezembro de 2017, a CVM dispen-
sou as empresas que não sejam listadas em bolsa e não possuam ações em circula-
ção. Mas, eventualmente, a opcionalidade deveria se estender também para empresas
com percentual baixo de ações em circulação.
Por fim, a natural curva de aprendizado da nova sistemática, associada à falta de
automação do processamento no dia da assembleia, fez com que em alguns casos o
tempo de duração das assembleias aumentasse muito. Imaginamos que com o tempo
os benefícios de agilidade no processamento dos votos e documentos serão percebi-
dos de maneira mais ampla.
referências bibliográficas
Marcel Fukayama
introdução
É crescente o número de empreendedores que utilizam modelos de negócios inova-
dores para resolver problemas sociais e ambientais. Um dos principais precursores
desse movimento é Muhammad Yunus, Nobel da Paz em 2006 por sua jornada de
mais de trinta anos à frente do Banco Grameen e que tirou doze milhões de pessoas
da pobreza extrema em Bangladesh por meio do microcrédito.
Ao menos duas características marcam tais empreendimentos. A primeira é que
têm em sua missão a geração de impacto social e ambiental positivo ao mesmo tempo
que buscam alcançar resultado financeiro sustentável. A segunda é que, em geral,
criam novos mercados a partir de necessidades existentes1.
1. C. K. Prahalad, A Riqueza na Base da Pirâmide: Como Erradicar a Pobreza com o Lucro, 2006.
105
106 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Fonte: Y. Osawa e K. Miyazaki, “An Empirical Analysis of the Valley of Death: Large Scale R&D Project
Performance in a Japanese Diversified Company”, 2006.
4. IBGE, Demografia das Empresas 2014, Coordenação de Metodologia das Estatísticas de Empresas,
Cadastros e Classificações, 2016.
108 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Uma pesquisa realizada pelas organizações Artemísia e Din4mo entre 2015 e 2016
com 192 empreendedores de negócios de impacto identificou as principais dores ao
longo desse ciclo. A maioria dos empreendedores relatou solidão na criação e condu-
ção do negócio. A pesquisa identificou também senioridade limitada no time de gestão
e uma importante assimetria de informação dos empreendedores no acesso a mer-
cado e a capital. Mais da metade deles (54%) buscam até R$ 1 milhão para estrutu-
rar o desenvolvimento e expansão dos empreendimentos.
Essas evidências apontam que, mais que recurso financeiro, os negócios que
percorrem o Vale da Morte têm fragilidades estruturais. Entre eles, um time de ges-
tão pouco experiente e sem fóruns apropriados para compartilhar e qualificar sua
tomada de decisão. Também é possível identificar um tecido social em formação e,
portanto, com uma rede de contatos pouco estruturada, que pode limitar a estraté-
gia de ida ao mercado. Por estarem em um estágio sensível, esses empreendimen-
tos podem passar por uma seleção adversa para acessar capital e obter recursos
financeiros em condições pouco favoráveis aos empreendedores, como taxa alta,
entrega maior de participação societária e outros termos que comprometem o negócio
no longo prazo.
Para atenuar tais dores, a Din4mo, empresa que apoia negócios de impacto e investe
neles, desenvolveu em 2015 um programa de fortalecimento para empreendedores
nesse estágio. O processo, chamado Inovadores de Impacto, tem como oferta de valor
apoio a empreendedores em gestão, desenho de um modelo de governança, desen-
volvimento do funil de venda para ida a mercado e estruturação de plano de captação
e investimento para expansão. Entre 2015 e meados de 2018, mais de vinte negó-
cios passaram pelo processo, que dura em média doze meses e conta com encon-
tros semanais.
Dois desses empreendimentos foram criados em 2013 e, após passarem pelo pro-
cesso de ideação da Aceleradora de Impacto da Artemisia, foram selecionados pelo
Inovadores de Impacto da Din4mo, onde têm tido apoio para validar e ganhar eficiência
nos modelos. O primeiro é o Programa Vivenda, fundado por Fernando Assad, Marcelo
Coelho (Lelo) e Igiano Lima (Gian), que busca revolucionar o mercado de reformas para
famílias de baixa renda. Por meio de lojas instaladas em favelas, inicialmente em São
Paulo, ofertam venda de kits para reforma, que incluem o projeto, material de constru-
ção de qualidade, mão de obra qualificada e, mais recentemente, crédito para financiar
em até trinta parcelas mensais. A empresa atua no centro dos problemas sociais: a
habitação. Hoje, o Brasil tem mais de quinze milhões de famílias que precisam melho-
rar suas condições de moradia. Mais que uma reforma do cômodo, a empresa restaura
governan ç a em n egóc ios d e im pa c to. . . 109
Uma das principais plataformas, a americana AngelList mobilizou mais de US$ 700
milhões desde 2010 para 1,8 mil startups.
No Brasil, uma das principais plataformas autorizadas pela CVM é a Kria, líder de
mercado e que mobilizou mais de R$ 25 milhões desde 2015. Uma pesquisa realizada
em 2016 pela Din4mo em aliança com a Kria investigou mais sobre o perfil de quatro-
centos investidores. A base se mostrou majoritariamente composta de homens com
até 40 anos, que possuem alguma experiência em empreendedorismo e com expec-
tativa de retorno entre três e cinco anos. Os investidores declararam ter disponibili-
dade para mobilizar, em média, até R$ 10 mil para cada investimento.
Identificaram-se três pontos relevantes a se destacar: 1. mais de 20% priorizam
investir na fase de validação do modelo, o que é chave para endereçar capital no Vale
da Morte; 2. consideram o investidor-líder o principal atributo na avaliação do investi-
mento. A liderança é importante, pois endossa e apoia a operação investindo o mínimo
de 5% do valor-alvo a ser captado. Além disso, o líder se responsabiliza por apoiar
diretamente a prestação de contas do investimento por um determinado período. Por
esse trabalho, o líder é recompensado com um carry da operação, em caso de evento
de liquidez no futuro; 3. os investidores declaram que ter um modelo de governança
e acompanhamento é a principal forma de mitigação de riscos.
Um dos principais efeitos positivos do crowdequity é a democratização do inves-
timento de impacto. Antes desse instrumento, investidores que buscavam combinar
retorno financeiro com impacto social positivo tinham opções limitadas, como os fun-
dos de investimento de impacto. Porém o ticket mínimo de R$ 1 milhão tem restringido
a ampliação do número de investidores. Plataformas de crowdequity têm mostrado a
viabilidade de direcionar fluxo de capital em um estágio crítico em tempo e velocidade
adequados, mobilizando um número relevante e crescente de investidores, o que pos-
sibilita a criação de uma nova cultura de investimento de impacto no Brasil.
Para a dimensão societária, os empreendedores passam por uma revisão dos atos de
incorporação, alinhamento de expectativas entre sócios e formalização de um acordo
de sócios. Em seguida, são submetidos a uma avaliação em seus perfis para definição de
papéis e responsabilidades. Esse ponto é particularmente importante em negócios com
sócios que não estejam dedicados integralmente à operação.
Por fim, a definição de fóruns de gestão e acompanhamento contribui para a redu-
ção de assimetrias na equipe, o fortalecimento de gestão e a qualificação da tomada de
decisão. Entre os fóruns propostos, o conselho consultivo é usualmente um dos cami-
nhos definidos como meio para apoio estratégico aos empreendedores.
Fundação: 2013
Faturamento em 2017: R$ 2 milhões
Captação em crowdequity: R$ 1,195 milhão em 2 rodadas
Valuation na captação: R$ 3 milhões e R$ 5,5 milhões, respectivamente
Número de investidores: 140
Conselho consultivo: 5 membros
Mandato: 24 meses
Periodicidade: Trimestral
Crescendo dois dígitos ao ano, uma das preocupações apresentadas pelos empreen-
dedores era sobre seus papéis na operação, já que acumulam os postos de gestores
e médicos da clínica. Para fortalecer a gestão e a tomada de decisão, o conselho con-
sultivo foi criado com o objetivo de apoiá-los nesse momento, visando à captação por
meio de crowdequity na segunda metade de 2017.
O conselho foi composto de cinco membros, sendo dois da própria Din4mo e três
perfis complementares: um médico, uma advogada empresarial especialista em gover-
nança corporativa e uma profissional de gestão estratégica de pessoas e cultura orga-
nizacional. Um dos primeiros desafios ao longo do processo de desenvolvimento da
agenda de governança foi instrumentalizar os empreendedores e sensibilizá-los para
a importância do tema, que rapidamente foi percebido ao longo do processo.
O conselho, também com reuniões trimestrais, foi crítico no apoio aos empreende-
dores para formulação de uma estratégia consistente de produto e expansão do negó-
cio. Segundo Claudia Pitta, membro do conselho e especialista em governança, com
o ganho de confiança, o apoio mais necessário recaía na mudança do modelo mental
dos empreendedores, que de médicos profissionais liberais deviam passar a gestores
e executivos de um negócio em crescimento. A partir do ganho de conhecimento dos
conselheiros e empreendedores, conforto mútuo e confiança nas relações, o foco foi
o desenvolvimento da estratégia e o dimensionamento da capacidade que o negócio
deveria desenvolver para alcançar a visão e, em seguida, apoio e acompanhamento
na implementação do plano.
Para o cofundador e médico geriatra Estevão Valle, o processo de fortalecimento da
governança deu segurança institucional, base e perspectivas melhores para a tomada
de decisão. Também é percebida pelos empreendedores a importância que o conselho
deu no trabalho de mapeamento de competências para construção de papéis e respon-
sabilidades, o que tem permitido o crescimento sustentável do negócio.
Em dezembro de 2017, o Mais 60 Saúde foi o primeiro negócio de impacto no Brasil
a romper a barreira de R$ 1 milhão no crowdequity. Com uma tese de impacto consis-
tente e alinhada com os desafios do país para os próximos anos no concernente à lon-
gevidade, em apenas sessenta dias a empresa mobilizou mais de setenta investidores.
conclusão
referências bibliográficas
ração do imposto devido por optantes pelo Simples Nacional; altera as Leis n. 9.613,
de 3 de março de 1998, 12.512, de 14 de outubro de 2011, e 7.998, de 11 de janeiro
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Dispõe sobre a oferta pública de distribuição de valores mobiliários de emissão de socie-
dades empresárias de pequeno porte realizada com dispensa de registro por meio de pla-
taforma eletrônica de investimento participativo, e altera dispositivos da Instrução CVM
n. 400, de 29 de dezembro de 2003, da Instrução CVM n. 480, de 7 de dezembro de
2009, da Instrução CVM n. 510, de 5 de dezembro de 2011, e da Instrução CVM n. 541,
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1.3
Administração
Stakeholders: Vitais, mas
Sub-representados nos Processos
Decisórios e na Governança Corporativa
Roberto S. Waack
119
120 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
definições e exemplos
agrupamentos estratégicos
Sociedade geral
Orgs. religiosas
Sist. financeiro
Comunidades
Fornecedores
Concorrentes
Empregados
Reguladores
Investidores
Sindicatos
Academia
Estratégia
Governos
Parceiros
Políticos
Clientes
ONGs
Mídia
Quem depende da
X X X A
empresa?
Quem se beneficia dela? X X X X X X X X B
Quem é diretamente
X X X X B
afetado por ela?
Quem precisa de seus
X B
produtos ou serviços?
Quem será afetado por
X X C
eles?
Quem se beneficiará
X C
indiretamente deles?
Quem será prejudicado? X X C
Quem se preocupa com
X X X D
eles?
Quem deveria se
X X X X X X X X D
preocupar?
Quem não será afetado? X E
Quem regulamenta? X J
Quem compete? X K
Sociedade geral
Orgs. religiosas
Sist. financeiro
Comunidades
Fornecedores
Concorrentes
Empregados
Reguladores
Investidores
Sindicatos
Academia
Estratégia
Governos
Parceiros
Políticos
Clientes
ONGs
Mídia
Papéis de comando e
X X X A
controle
Papéis negociais X X X X B
Papéis operacionais X X X X C
Papéis influenciadores do
X X X X X X X X X D
ambiente de negócios
Fonte: Elaboração própria.
Comunidades
Fornecedores
Concorrentes
Empregados
Reguladores
Investidores
Sindicatos
Academia
Estratégia
Governos
Parceiros
Políticos
Clientes
ONGs
Mídia
Individuais e fragmentados X X X X X X X X X X X X X X A
Estruturados em redes
X X X B
informais
Formalmente organizados
em grupos com governança X C
própria
Institucionais X X X D
de comunidades tem forte conexão com a história do território em que vivem. Esses
componentes são centrais na definição da forma de relacionamento entre as partes.
Agrupamentos complementares e conectados ao componente territorial devem
contemplar elementos como o prazo das agendas de stakeholders. Comunidades, por
exemplo, tendem a ter pautas imediatistas, em especial quando afetadas por externa-
lidades negativas tangíveis (poluição, por exemplo). ONGs internacionais com frequên-
cia têm estratégias de prazos mais longos, estruturantes. Essa dimensão é bastante
variável, com situações de combinação de agendas.
modelos de governança
comentários finais
O envolvimento com stakeholders, portanto, é prática que pode contar com instru-
mentos de gestão robustos. Identificação de stakeholders e agrupamentos em clusters
podem ajudar na definição de estratégias de relacionamento e governança. Os princi-
pais desafios estão no relacionamento em si, requerendo posturas flexíveis no que se
refere a convivência com posicionamentos ideológicos opostos, diferenças culturais
dramáticas, grandes assimetrias informacionais, uso de linguagens distintas das cor-
porativas, aceitação da convivência com conflitos aparentemente incompatíveis com
o convívio e, ao mesmo tempo, construção de agendas positivas (lidando com incoe-
rências aparentes) e profundo respeito à independência. A construção gradativa des-
sas pontes e a organização de fóruns exigem paciência. A credibilidade e a confiança
não são imediatas. Por fim, é preciso reconhecer que, em qualquer modelo de gover-
nança, a voz amplificada de uma liderança legitimada pela sociedade vale mais que
qualquer sistema de voto. A desconsideração dessa assertiva pode fazer ruir qualquer
iniciativa de articulação com a sociedade via modelos de governança.
Disrupção, Governança e Corporate Venture
em Empresas Estabelecidas: Qual o Papel
do Conselho de Administração na
Governança da Inovação?
129
130 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
dominando a disrupção
3. C. Christensen, The Innovator’s Dilemma: When New Technologies Cause Great Firms to Fail, 1997.
132 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
A inovação é uma ciência nova. O trabalho de Joseph Schumpeter que abriu espaço
para o campo de estudo da inovação empresarial tem pouco mais de oitenta anos. De
lá para cá dezenas de modelos de inovação foram desenvolvidos. Alguns deles são
novas roupagens de antigos formatos. Outros, abordagens amadurecidas para o cená-
rio atual. Uma classificação bastante útil, feita por Greg Satell, relaciona o nível de
definição do problema e o domínio, os tipos de inovação e modelos para tal situação.
Fonte: adaptado de G. Satell, “4 Ways Leaders Can Get More from Their Company’s Innovation Efforts”,
10 out. 2017.
4. B. Altringer, “A New Model for Innovation in Big Companies”, Harvard Business Review, 19 nov. 2013.
134 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
• P&D / Innovation Labs: estruturas próprias, formadas por times full time dedicados
a reforçar o negócio existente ou a criar novos negócios. Reúnem equipes multi-
funcionais de pesquisadores, desenvolvedores, empreendedores e executivos que
identificam oportunidades, criam produtos e negócios e gerenciam sua execução
até a transferência para as unidades de negócio. Em geral adotadas para a busca
de inovações incrementais ou radicais quando o problema está adequadamente
definido. O Walmart Labs no Vale do Silício concentra mais de dois mil profissio-
nais de inovação da companhia. No Brasil, o Luiza Labs do Magazine Luiza tem
papel similar ao liderar a inovação digital da empresa.
• Intraempreendedorismo: programas de mobilização da capacidade de inovação cole-
tiva do time da empresa, operados em diversos formatos, como squads, sprints,
programas de ideias, hackatons e assemelhados. Alavanca-se na possibilidade de
gerar melhores soluções ao fomentar a capacidade empreendedora e cultura de
inovação de toda a organização. Adequado para busca de inovações incremen-
tais e, sob determinadas configurações, como fundos de corporate venture capital
para fomento de oportunidades de intraempreendedores, também para as disrup-
tivas. A 3M é uma das empresas de referência quando falamos em cultura de ino-
vação. O laboratório Aché, reconhecido como uma das empresas mais inovadoras
do Brasil, tem um programa interessante chamado Academia de Inovação.
• Inovação aberta: conceito criado e difundido pelo professor Henry Chesbrough,
segundo o qual as empresas capturam e desenvolvem oportunidades externas, assim
como enviam para outras empresas a possibilidade de monetização de invenções
que não tenham as melhores condições para executar5. A Coca-Cola lançou um
programa de inovação aberta global para pesquisadores que apoiassem a redução
de açúcar nos produtos da empresa. A Netflix organizou concurso para otimização
do algoritmo de recomendação de filmes. A P&G acelerou seu processo de inova-
ção com a plataforma Connect&Develop. Prêmios e concursos de inovação aberta
são normalmente aplicados para busca de inovação radical.
5. H. Chesbrough, Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology,
2006.
di srup ção, governança e c o r p o r a t e v e n t u r e em em presa s esta b el ec id a s. . . 135
Fonte: Innoscience.
• Por que inovar? O primeiro ponto de discussão é definir as razões que mobilizam a
empresa para inovar. Reforçar o negócio atual? Gerar novos negócios? Criar novas
opções para o futuro? Esse alinhamento estratégico é decisivo para garantir coe-
rência e continuidade de alocação de recursos em momentos de incerteza, crise e
dúvidas sobre as iniciativas de inovação.
• Quanto inovar? O segundo tema é estabelecer a intensidade necessária de inova-
ção. Esse fator determinará o nível de investimento e de estrutura necessária. Essa
definição depende da intensidade e frequência da mudança no setor de atuação,
bem como da ambição da empresa.
• Onde inovar? Compreendidas as razões e a intensidade da inovação, é necessário
direcionar o foco para os temas, oportunidades e problemas relevantes em rela-
ção aos quais a empresa pretende inovar: por exemplo, novos segmentos de mer-
cado; uma tecnologia emergente; novos produtos; a busca por novos modelos de
negócio. A eficiência da inovação depende de focar onde inovar e onde não inovar.
• Como inovar? Os quatro modelos anteriormente apresentados dissecam as prin-
cipais alternativas sobre como se organizar para inovar. Labs, intraempreendedo-
rismo, inovação aberta e corporate venture são alternativas a serem consideradas.
• Com quem inovar? A inovação passou de uma atividade de P&D, fechada, para
uma iniciativa aberta conectada com diferentes stakeholders no que se conven-
cionou denominar open innovation. Quando sua empresa sabe quanto e onde pre-
tende inovar, fica evidente com quem se conectar para inovar mais e melhor.
6. J.-P. Deschamps e B. Nelson, Innovation Governance: How Top Management Organizes and Mobi-
lizes for Innovation, 2014.
di srup ção, governança e c o r p o r a t e v e n t u r e em em presa s esta b el ec id a s. . . 139
Esse processo de criação de novos negócios e inovação por meio de corporate ven-
ture requer envolvimento e suporte do conselho de administração, já que demanda
visão de longo prazo, aporte de recursos e alinhamento estratégico. Para fazer a ino-
vação funcionar em uma grande corporação, não adianta tentar copiar as startups. É
fundamental conectar conselho de administração e gestão na tarefa de abordar a ino-
vação de forma sistemática, estratégica e estruturada.
O conselho de administração é o órgão original da reflexão sobre inovação. Para
tanto, os conselheiros precisam dominar os modelos mais adequados a cada reali-
dade e se aproximar do ecossistema de inovação. O conjunto de ações apresentadas
pode facilitar a integração da inovação ao conselho. A disrupção não vai parar. Mais do
que se sentir ameaçadas pelo ecossistema empreendedor, as empresas estabelecidas
podem se posicionar estrategicamente para criar os novos unicórnios. É investir para ver.
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Scherer, Felipe & Carlomagno, Maximiliano. Gestão da Inovação na Prática. São Paulo,
Atlas, 2000.
Inovação e Governança Corporativa:
Limites das Tecnologias da Informação
e Comunicação
resumo: O tema inovação vem ganhando crescente espaço no noticiário e nas agendas
das empresas brasileiras. No caso específico das tecnologias da informação e comunicação
(TIC), dois pontos são pouco destacados: os limites ambientais, que podem estar sendo
sobrecarregados em função da demanda e do descarte crescentes de materiais e energia
no ciclo de vida dos produtos e serviços, e os riscos associados à concentração de ativida-
des empresariais na chamada computação em nuvem. O artigo visa a alertar os agentes
de governança sobre esses pontos ao usar as TIC nas estratégias e operações empresariais.
palavras-chave: governança corporativa, tecnologias da informação e da comunicação,
limites da inovação, quarta revolução industrial, sustentabilidade
Uma das causas para a perda de desempenho das empresas ao longo do tempo pode
estar ligada a uma característica do capitalismo, em especial nos mercados mais
livres, em que o desempenho financeiro superior (ex.: lucratividade ou retorno sobre
ativos) tende a declinar devido a forças erosivas da imitação, competição e expropria-
ção1. Essa explicação complementa o pensamento do economista Joseph Schumpeter,
* O autor agradece a Carolina Burle Schmidt Dubeux, Claudio Luís Naletto e Homero Luís Santos pelos
comentários em versões preliminares do artigo. A versão final é de responsabilidade do autor.
1. G. Waring, “Industry Differences in the Persistence of Firm-Specific Returns”, American Economic
Review, vol. 86, n. 5, dez. 1996.
141
142 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
que sugeriu que o impulso fundamental que inicia e mantém o movimento do meca-
nismo capitalista decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produ-
ção ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial
que a empresa capitalista cria2.
Ou seja, para que o desempenho empresarial positivo seja mantido ao longo do
tempo no capitalismo, a inovação teria um papel fundamental.
Tem ganhado destaque um tipo de inovação, aquele associado à chamada Quarta
Revolução Industrial. Trata-se de uma revolução essencialmente digital, que vai além
de máquinas inteligentes e conectadas, incluindo sequenciamento genético, nano-
tecnologia, internet das coisas, inteligência artificial, big data, realidade aumentada,
impressão 3D, entre outras frentes, intensificando a interação entre as dimensões físi-
cas, digitais e biológicas, prometendo ganhos de escala significativos ao mesmo tempo
que demanda relativamente pouco capital para prosperar3.
Esse tipo de inovação baseia-se, especialmente, nos avanços das tecnologias da
informação e comunicação (TIC)4 e vem sendo objeto de inúmeros eventos, iniciati-
vas, artigos, reportagens na mídia, peregrinações a centros de inovação etc. Como se
trata de tema eminentemente estratégico, é fundamental que os agentes de gover-
nança5 se preparem para lidar com esses assuntos, que podem impactar significati-
vamente as decisões estratégicas das empresas.
Uma questão que surge é se os benefícios do uso das TIC superam os diversos
custos associados para as empresas e a sociedade como um todo.
Duas palestras proferidas em 2012 ajudam a contextualizar a complexidade do
tema. Ambas apresentam um tom otimista, levam em conta desafios ambientais e
sociais, tratam de tecnologia lato sensu e das TIC e se baseiam em leis “científicas”,
mas levam a caminhos e conclusões diferentes6.
Peter Diamandis7 pressupõe crescimentos exponenciais ilimitados e enxerga um
futuro de abundância. Baseia suas propostas na “lei” de Moore, atribuída a Gordon
Moore, cofundador da Intel, sobre o desempenho dos chips 8, que dobraria a cada
dezoito meses – trata-se, no entanto, de uma observação seguida de projeção de uma
tendência histórica limitada, e não uma lei como as da física, por exemplo9.
Paul Gilding10 baseia-se na existência de limites físicos e biológicos para as ativida-
des humanas. Cita como evidência o fato de o planeta ser finito, o que limita o número
de habitantes e o estilo de vida, citando o trabalho da Global Footprint Network11. A
inovação, inclusive a baseada nas TIC, é bem-vinda, mas deve levar em conta limi-
tes ambientais e sociais.
Por um lado, as mudanças sociais e de negócios facilitadas pelas TIC levam a pro-
cessos mais eficientes do ponto de vista econômico e ambiental e à oferta de inúme-
ros bens e serviços; por outro, estimulam o consumo global ao alavancar o crescimento
da atividade econômica, reduzindo os preços para os consumidores, aumentando as
oportunidades de consumir e gerando impactos sociais e ambientais diretos e indiretos.
Visando a avançar nessa reflexão, este artigo discute dois componentes funda-
mentais das TIC: o chip e a computação em nuvem12. Na primeira parte, os impactos
ambientais serão ilustrados usando a noção de efeito rebote, enquanto na segunda,
serão discutidos alguns riscos associados à concentração de atividades empresariais13.
limites ambientais
No blog da seção “Informática e Etc.”, do jornal O Globo, Carlos Alberto Teixeira ante-
cipava que, “num futuro próximo, qualquer aparelhinho eletrônico terá inteligência
embutida; a tendência é clara: chips processadores estão cada vez mais baratos, de
modo que integrá-los a dispositivos tradicionalmente ‘burros’ vem se mostrando cada
vez mais viável, mas a pergunta que fica no ar é a seguinte: será que os benefícios
do uso dos chips realmente superam os diversos custos associados à sua produção?
É uma questão complicada, infelizmente ainda sem resposta”14.
Em 2018 sabemos o que já era conhecido em 2005 – na verdade, desde 1866,
quando William Stanley Jevons, um dos pioneiros da economia neoclássica, publicou
a obra The Coal Question, da qual surgiu a noção do efeito rebote: um ganho de efi-
ciência (relativo) no uso de um insumo termina gerando um impacto maior (absoluto),
pois leva a consumo maior do próprio insumo15.
Um exemplo é aquele decorrente dos avanços tecnológicos nos veículos automo-
tores, que permitiram um aumento de 30% da quantidade média de quilômetros per-
corridos por litro nos Estados Unidos a partir de 1980 (eficiência energética), mas não
reduziram a energia total utilizada pelo conjunto dos veículos. O consumo de combus-
tível por veículo permaneceu constante, enquanto os ganhos de eficiência levaram ao
aumento não apenas do número de automóveis e caminhões nas estradas (e dos qui-
lômetros percorridos), mas também do seu tamanho e desempenho (taxa de acelera-
ção, velocidade de cruzeiro etc.).
O efeito rebote se concretizou: a maior eficiência energética (menor consumo de
combustível por quilômetro rodado) levou a um maior uso agregado de combustível,
pois os motoristas passaram a dirigir por distâncias maiores usando veículos mais
pesados. Uma evidência é que hoje veículos maiores, como veículos utilitários espor-
tivos (SUVs) e minivans povoam cada vez mais as estradas americanas16 e brasileiras17.
realizados há muitos anos e poderem estar defasados também não invalida a ideia geral que o artigo
busca passar.
14. C. A. Teixeira, “Meio Ambiente é Coisa Nossa”, O Globo, 2005.
15. Uma desmaterialização pontual gerando uma maior materialização global, denominada “materialização
secundária”. Ver E. D. Williams, R. U. Ayres e M. Heller, “The 1.7 Kilogram Microchip: Materials and
Energy Use in the Production of Semiconductors”, Environmental Science & Technology, vol. 36, n. 24,
2002; e D. Hudson e L. Preston, “Sustainability and Dematerialization at Hewlett Packard”, 2003.
16. J. B. Foster, B. Clark e R. York, “O Capitalismo e a Maldição da Eficiência Energética”, 1o nov. 2010.
17. J. Brigato, “A Cada Dez Carros Vendidos no Brasil em 2017, Dois São SUVs”, 7 dez. 2017.
inovação e governança corporat iv a : l im ites d a s tec n ol ogia s. . . 145
Para entender melhor o efeito rebote e seus impactos, algumas noções de termo-
dinâmica clássica podem ajudar.
As leis da termodinâmica
Segundo a termodinâmica clássica18, a quantidade de energia utilizada se conserva,
mas há sempre uma degradação da sua qualidade no que diz respeito à capacidade
de se transformar em trabalho.
O combustível usado nos veículos, por exemplo, contém energia química que, depois
de utilizada, não terá sido destruída, mas transformada em outras formas de energia,
como a energia cinética (movimento do veículo) e energia térmica (calor decorrente do
processo de combustão e do atrito no deslocamento, que é dissipado no meio ambiente):
a energia total se conserva, mas perde qualidade no sentido de poder ser reutilizada
integralmente. A perda da qualidade da energia está associada à noção de entropia19.
A mesma degradação ocorre com a matéria: a quantidade de combustível (55 litros,
por exemplo) é conservada, mas se transforma em fuligem, água e gases também dis-
sipados no meio ambiente (alguns dos gases causam o chamado efeito estufa20). No
final das contas, há sempre uma perda de qualidade da energia e da matéria utiliza-
das, inviabilizando tanto o reaproveitamento total da energia quanto a reciclagem total
da matéria – a eficiência sempre enfrenta um limite físico21. A mesma lógica pode ser
usada para avaliar o ciclo de vida da produção de bens e serviços.
18. Ramo da física que trata do calor e da temperatura e sua relação com energia e trabalho. Descreve
as mudanças em um sistema em termos de parâmetros macroscópicos (grande escala e mensurá-
veis). As leis da termodinâmica tratam da conservação da energia (quantidade) e sua degradação
(qualidade). Ver “Thermodynamics”, em Wikipedia, the free encyclopedia, 2018.
19. Primeira lei da termodinâmica (lei da conservação da energia): a energia se conserva em um sistema
isolado; segunda lei da termodinâmica (lei da entropia): em um sistema isolado, a entropia (medida
de desorganização) tende a crescer. Quanto aos tipos de sistemas, o aberto troca energia e matéria
com o exterior, o fechado troca apenas energia com o exterior, e o isolado não troca nem energia nem
matéria com o exterior. Para todos os efeitos práticos a Terra é um sistema fechado.
20. Efeito estufa: processo físico que ocorre quando uma parte da radiação solar que atinge a Terra se
transforma em radiação infravermelha (calor) e é absorvida por determinados gases presentes na
atmosfera, os chamados gases de efeito estufa (GEE), que podem ser convertidos em equivalentes de
gás carbônico, dióxido de carbono ou CO2. Como consequência, parte do calor não retorna para o
espaço. Dentro de uma determinada faixa, o efeito estufa mantém o planeta aquecido, garantindo a
vida na Terra. O excesso de gases de efeito estufa fruto de atividades humanas, porém, vem gerando
um aumento da temperatura média no planeta, causando mudanças climáticas que ameaçam a vida
na Terra. Ver “Efeito Estufa”, em Wikipedia, a enciclopédia livre, 2018.
21. Segundo N. Georgescu-Roegen, “Matter Matters, Too”, 1977, a matéria estaria sujeita a leis equiva-
lentes às da energia no que diz respeito à sua preservação (quantidade) e degradação (qualidade).
146 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
O chip de 1,7 kg
Um projeto da Universidade das Nações Unidas22 estudou o uso de energia, produtos
químicos e água na cadeia de processos industriais para a produção de um chip de 32
MB DRAM: foram necessários 1,6 kg de combustíveis fósseis e 72 g de produtos quí-
micos para produzir um chip de 2 g, além de 3,2 litros de água, entre outros insumos.
O consumo de combustíveis fósseis utilizado representava quase mil vezes a massa
do chip, enquanto um carro necessitava em torno de duas vezes a sua massa em com-
bustíveis fósseis utilizados direta e indiretamente na sua produção, e uma lata de alu-
mínio, de quatro a cinco vezes23. Em termos de produtos químicos, o uso na fabricação
do chip representava quase quarenta vezes a sua massa final.
A termodinâmica clássica ajuda a explicar por que um chip é tão intensivo em maté-
ria e energia. Por envolver componentes com dimensões da ordem de bilionésimos de
centímetro, o chip é o produto mais “organizado” produzido em escala – tudo o que
é utilizado em seu processo de produção deve ser extremamente puro, e o ambiente
das instalações para fabricação deve ser cuidadosamente controlado para se man-
ter a pureza. Essa busca formidável pela “organização” (baixa entropia) demanda uma
quantidade imensa de energia e matéria se comparada ao produto final – um chip de
apenas dois gramas. Essa “organização” gera necessariamente uma quantidade maior
de “desorganização” (impacto) no meio ambiente.
Embora a produção do chip seja um caso extremo, ela ilustra a questão do impacto
ambiental adicional necessário para produzir materiais e produtos de alta tecnologia
e baixíssima entropia, cuja análise deveria incorporar o uso de materiais secundários,
principalmente no processo de purificação, pois são altamente intensivos em energia24.
A dificuldade operacional e os impactos decorrentes serão tão mais intensos
quanto mais sofisticadas e delicadas forem as tecnologias desenvolvidas. É o caso
A prática
Os chips ajudam a expandir nossa capacidade de pensar e de melhorar o mundo, o
que, consequentemente, leva ao aumento da nossa capacidade de fazer cada vez
mais com menos. Os benefícios são inegáveis. A contrapartida é que, em um mundo
de recursos naturais limitados, fazer mais com menos vai acelerar a escassez abso-
luta, que é a que interessa em termos de sustentabilidade30. Além disso, as TIC aca-
bam estimulando o consumo global, acelerando ainda mais a atividade econômica, a
25. A física quântica estuda sistemas físicos cujas dimensões são próximas ou abaixo da escala atômica,
tais como átomos, elétrons, prótons e outras partículas subatômicas. Também se aplica a sistemas
muito grandes, como os estudados pela astrofísica, por exemplo. Ver “Computação quântica”, em
Wikipedia, a enciclopédia livre, 2018.
26. Obsolescência programada é a decisão do produtor de propositadamente desenvolver, fabricar, dis-
tribuir e vender um produto para consumo de forma que se torne obsoleto ou não funcional especifi-
camente para forçar o consumidor a comprar a nova geração do produto. Ver “Obsolescência
Programada”, em Wikipedia, a enciclopédia livre, 2018.
27. R. Hamman, “As Telas Touchscreen Podem Estar Chegando ao Fim: Saiba Por Quê”, 28 jan. 2011.
28. Pegada de carbono é a soma das emissões de GEE associadas ao ciclo de vida de um produto, pro-
cesso ou serviço. Vem se tornando um tema crítico para investidores. Ver J. Confino, “Big Investors
to Act on Carbon Footprint of Assets in Bid to Tackle Climate Change”, 25 set. 2014; e L. Fink, “A
Sense of Purpose”, jan. 2018.
29. L. Belkhir e A. Elmeligi, “Assessing ICT Global Emissions Footprint: Trends to 2040 & Recom-
mendations”, Journal of Cleaner Production, vol. 177, 10 mar. 2018.
30. A insustentabilidade, de forma mais ampla, decorre do uso excessivo do capital natural (fonte de
matéria e energia e que também gera serviços ambientais) e do social (relacionado à qualidade das
relações entre pessoas e grupos). Ver C. E. L. Brandão, Sustentabilidade e Empresas: Uma Reflexão
Crítica, 2009.
148 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
33. Ver a estrutura de TIC da empresa Google (E. Harada, “Conheça a Estrutura Monstruosa Utilizada pela
Google para Seus Servidores”, 5 maio 2016).
34. J. Brodkin, “Gartner: Seven Cloud-Computing Security Risks”, 2 jul. 2008.
35. B. Buchanan, “What Are the Risks of Depending on Cloud Computing?”, 2 out. 2015.
36. M. Ganguly, “Electromagnetic Interference in Data Centers: Risks Involved and Its Impact on
Information Security”, 8 fev. 2018.
37. S. Anthony, “The Solar Storm of 2012 that Almost Sent Us Back to a Post-apocalyptic Stone Age”, 24
jul. 2014. Outro risco é o associado à magnetosfera. Pelo fato de a Terra se comportar como um ímã,
seu campo magnético a protege do vento solar, composto de raios cósmicos e partículas ionizadas
irradiados pelo Sol a velocidades que variam de 200 a 900 km/s. Esse campo magnético tende a
enfraquecer com o tempo e perder seu papel protetor, o que poderá, por exemplo, prejudicar o arma-
zenamento de dados em meios magnéticos. Ver K. Suguio e U. Suzuki, A Evolução Geológica da Terra
e a Fragilidade da Vida, 2003.
150 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
38. Segundo Y. N. Harari, “O Início, o Fim e o Meio”, entrevista, ]cultura[, n. 2, 2018, p. 8, “a automação
irá produzir imensas riquezas em hubs de alta tecnologia como o Vale do Silício, mas seus efeitos
nefastos serão sentidos em países em desenvolvimento como Honduras e Bangladesh. Haverá mais
empregos para engenheiros de software na Califórnia, mas menos empregos para operários da indús-
tria têxtil ou motoristas de caminhão hondurenhos”.
39. Ver R. Nidumolu, C. K. Prahalad e M. R. Rangaswami, “Por Que a Sustentabilidade é Hoje o Maior
Motor da Inovação”, Harvard Business Review, set. 2009.
40. Também conhecidos como externalidades: efeitos de uma transação que incidem sobre terceiros, que
não consentiram ou dela não participaram, não completamente refletidos nos preços – podem ser
positivas ou negativas. Ver IBGC, op. cit.
41. IBGC, op. cit., p. 16.
inovação e governança corporat iv a : l im ites d a s tec n ol ogia s. . . 151
O mesmo código também recomenda que se adote uma deliberação ética, “aquela
que considera em todo o processo de tomada de decisão, tanto a identidade da orga-
nização, quanto os impactos das decisões sobre o conjunto de suas partes interessa-
das, a sociedade em geral e o meio ambiente, visando ao bem comum”42.
São recomendações que levam a decisões mais equilibradas, informadas e refletidas.
comentários finais
48. J. C. Farley, Comunicação pessoal recebida em 7 mar. 2018. Trata-se de coautor do primeiro livro
texto sobre economia ecológica (H. E. Daly e J. C. Farley, Ecological Economics: Principles and
Applications, 2004), disciplina que aborda três grandes temas: alocação de recursos (que deve ser
eficiente), distribuição de renda (que deve ser justa) e escala da economia em relação ao ecossistema
(que deve ser ecologicamente sustentável), com maior ênfase no último. Existe ampla literatura
demonstrando os limites do crescimento, tanto na física quanto na biologia, e até mesmo na econo-
mia. Ver, por exemplo, D. H. Meadows et al., The Limits to Growth: A Report for the Club of Rome’s
Project on the Predicament of Mankind, 1972; D. H. Meadows, D. L. Meadows e J. Randers, Beyond
the Limits: Confronting Global Collapse – Envisioning a Sustainable Future, 1992; e D. H. Meadows,
J. Randers e D. L. Meadows, Limits to Growth: The 30 Year Update, 2004.
49. Evento em que todos os cristãos subirão aos céus para se encontrar com Jesus. Bíblia Sagrada, 1
Tessalonicenses 4: 17.
50. T. Trainer, Renewable Energy Cannot Sustain a Consumer Society, 2007.
51. J. Randers, 2052: A Global Forecast for the Next Forty Years, 2012.
52. J. Diamond, Colapso: Como as Sociedades Escolhem o Fracasso ou o Sucesso, 2005. Ver também:
<https://www.cser.ac.uk/>.
53. Y. N. Harari, op. cit., p. 13.
54. P. Diamandis, op. cit.
55. P. Gilding, op. cit.
inovação e governança corporat iv a : l im ites d a s tec n ol ogia s. . . 153
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156 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Mônica Pires
resumo: Desde sempre em sua história a IBM foi uma empresa inovadora, comprometida
com a diversidade e com o investimento em pesquisa. A empresa, presente em 175 países
e contando com mais de trezentos mil colaboradores, reinventa-se constantemente e tem
sido bem-sucedida em acompanhar o rápido ritmo das mudanças atuais. De uma empresa
que vendia relógios, balanças e PCs, ampliou os investimentos nas áreas de prestação
de serviços, e passou a ser considerada uma empresa de Soluções Cognitivas na Nuvem.
O modo como está estruturado seu modelo de governança contribui para esse êxito.
palavras-chave: IBM, inovação, pesquisa, research, empresa de solução, boa governança,
board, soluções cognitivas, nuvem, cloud, computação cognitiva, TI, Watson, inteligên-
cia artificial
Imagine promover inovação por mais de cem anos consecutivos. É isso que a IBM tem
feito ao longo de sua história, sendo incorporada à evolução dos negócios, da socie-
dade e das tecnologias que a impulsionam – permitindo que os clientes se transfor-
mem, era após era, e contando com mais de trezentos mil colaboradores espalhados
pelos 175 países onde atua, gerando US$ 79,1 bilhões em receita.
Essa constante reinvenção está diretamente relacionada ao comprometimento da
companhia com a área de pesquisa. Ao todo são doze laboratórios localizados nos seis
continentes, com mais de três mil pesquisadores ao redor do mundo. A área de pes-
quisa da IBM é considerada uma das maiores e mais influentes no universo corpora-
tivo – em escala mundial, todos os anos são direcionados de 7% a 8% de sua receita
159
160 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
nesse contexto para atingir o objetivo estratégico da IBM de tornar-se a empresa mais
essencial para os clientes e para o mundo.
A inovação faz parte dos valores da empresa, faz parte da estratégia, está inserida
em seu DNA, é a força motriz da transformação contínua da companhia. A IBM sem-
pre mostrou ao mundo como aprende a se reinventar, apresenta resultados e é reco-
nhecida por isso – comprova-o o mais recente prêmio que recebeu do anuário Valor
Inovação Brasil (do Valor Econômico), conquistando o primeiro lugar, entre as empre-
sas de tecnologia, como a empresa mais inovadora do Brasil em 2018.
O que deixa ainda mais clara a mensagem da CEO e chairman da IBM, Ginni Rometty:
“A única maneira de você sobreviver é transformar-se continuamente em outra coisa.
É essa ideia de transformação contínua que faz de você uma empresa de inovação”.
referências bibliográficas
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25 maio 2018. Disponível em: <https://developer.ibm.com/callforcode/>. Acesso em:
31 jul. 2018.
A Receita da Cacau Show
Fernando Goes
Marcos Grasso*
resumo: A Cacau Show já nasceu com a marca da inovação graças ao novo modelo de
negócios concebido por seu fundador: vender produtos de alta qualidade com preços
acessíveis em lojas próprias. Para seu sucesso contribuíram características próprias de seu
fundador, como a criatividade, a ousadia e a capacidade de lidar com situações adversas.
Novos desafios se impuseram e se impõem à Cacau Show nessa trajetória, já que o cres-
cimento da empresa obriga à remodelação de sua estrutura administrativa a fim de que
dependa menos, e de modo menos exclusivo, de seu fundador.
palavras-chave: Cacau Show, inovação
165
166 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
problema /
frente ações realizadas
oportunidade
• FFBB – Fewer, Faster, Bigger, Better
Muitos projetos, pouca vi- • racionalização de unidades de manutenção de
Inovação de produtos sibilidade nas lojas, baixo estoque (SKUs)
impacto nos resultados. • criação processo de Pipeline de Inovação com
critérios e estágios de aprovação
• criação da área de insights, novas abordagens.
Insights do
Muitas percepções e cren- Melhor uso das informações existentes e maiores
consumidor /
ças sobre o consumidor. investimentos em geração de insights – shopper
mercado
/ consumidor
• mapeamento das oportunidades / potencial de
Modelo único de lojas. consumo e definição dos locais de maior opor-
Novos negócios, Ampliar acessibilidade dos tunidade e posterior busca de franqueados
canais, mercados consumidores à Cacau • criação de novos canais – porta a porta e
Show. e-commerce
• novos formatos de lojas, maior presença de café
Dependência do franquea-
• criação da VP comercial
do na definição do local da
Aproximação e • visitas regulares às lojas
loja (fora para dentro).
vivência do varejo • abertura de lojas próprias e criação da megastore
Ausência da liderança nas
em Itapevi
lojas.
Falta de clareza nas ala- • elaboração do plano 2020 – ambição, valores,
vancas de crescimento objetivos, foco e iniciativas
Plano estratégico futuro. • Criação do escritório de projetos (PMO)
Necessidade de olhar 2-4 • três pilares de competência – produção de cho-
anos à frente. colate, varejo, consumidor
Resultados:
Deslocar das mãos de seu fundador o processo de inovação de uma empresa vence-
dora, passando para uma abordagem mais ampla e sistematizada na gestão, é um
desafio nada trivial. Ganha contornos ainda mais estimulantes quando esse funda-
dor, ainda com tantas ideias e tão presente na empresa, faz o exercício do desapego
e decide confiar no processo e na força do coletivo. E entende que isso não significa
que ele não possa contribuir, muito pelo contrário: o potencial de inovação da empresa
foi multiplicado, e, com isso, parte do seu tempo agora é liberado para se dedicar a
outras questões de relevo tão estratégico quanto é a inovação para a Cacau Show. E
ainda continua contribuindo de forma relevante para criar e provocar os espaços do
novo na empresa e no mercado. Ser referência.
Colocando em perspectiva todo esse movimento, é impossível não olhar para o
futuro e, por uma questão de governança, provocar a reflexão sobre se de fato estão
sendo criadas as bases para a construção de uma empresa de classe global, que tem
a visão de ser referência em inovação, modelos e práticas de gestão e governança no
mundo. Tal questionamento está na base dessa ambiciosa visão. Quais valores é fun-
damental manter e quais valores deverão ser incorporados nessa trajetória para garan-
tir a perpetuidade desse admirável empreendimento no futuro? Talvez a resposta esteja
no sonho de um rapaz que, aos dezoito anos, decidiu inovar com um firme propósito
de fazer a diferença na vida das pessoas, sabendo que isso é construído diariamente,
em busca do próximo patamar, e do seguinte, e do que vem depois...
PARTE 3
ANALISANDO OS IMPACTOS DAS
TENDÊNCIAS DE INOVAÇÃO
3.1
O Que o Futuro Pode Trazer
para os Negócios
Tecnologias Emergentes:
A Grande Corrida Mundial
resumo: As mudanças no mundo são cada vez mais profundas e ocorrem em ciclos cada
vez mais curtos. Hoje diz-se que vivemos a Quarta Revolução Industrial. As mudanças são
inexoráveis e chegam cada vez mais rápido a mais pessoas. A inovação se tornou fator
essencial de competitividade das empresas. Neste artigo são analisadas algumas tecno-
logias emergentes de destaque, seu uso e seus impactos no mundo e no Brasil, conside-
rando os países líderes na promoção das inovações, e a situação atual e perspectivas do
Brasil diante desse novo ecossistema.
palavras-chave: tecnologias emergentes, inovação, impacto, Brasil
173
174 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Fonte: “Catch the Wave: The Long Cycles of Industrial Innovation Are Becoming Shorter”, The Economist,
1999.
1. M. Porter, citado por K. Hargroves e M. H. Smith, The Natural Advantage of Nations: Business
Opportunities, Innovation and Governance in the 21st Century, 2013, p. 16.
t ecnol ogias em ergent es: a gr a n d e c orr id a m u n d ia l 175
salientar ainda a validade dos conceitos de Joseph Schumpeter. Outro ponto notável
é o encurtamento, ao longo dos anos, da duração do ciclo das inovações, de sessenta
anos para cerca dos trinta anos observados atualmente. Embora os ciclos continuem
ocorrendo, é notória a aceleração do processo de inovação.
Assumir o protagonismo da inovação é fundamental. Grandes empresas que durante
anos tiveram posições consolidadas em seu mercado de atuação perderam espaço
devido a novos modelos de negócio totalmente disruptivos que concorriam com os
seus. “No novo mundo, não é o peixe grande que come o peixe pequeno, é o peixe
mais rápido que come o mais lento”2 – as palavras de Klaus Schwab, fundador e presi-
dente executivo do Fórum Econômico Mundial, traduzem uma grande verdade: é pre-
ciso ter velocidade!
Advento do amplo acesso à informação que a era digital propicia, as novidades
ganham escala em uma velocidade nunca antes presenciada. Os últimos anos são
considerados a “Era exponencial” devido à celeridade com que as mudanças ocor-
rem. Frey e Osborne evidenciam o encurtamento do atraso na adoção das tecnologias
(Gráfico 2). Para atingir o número de cinquenta milhões de usuários o telefone levou
75 anos; o rádio, 38 anos; a televisão, 13; a internet, 4; o Facebook, 3 anos e meio;
o iPhone, apenas 3; o Instagram, 2; o Angry Birds, 35 dias; e o Pokemon Go, lançado
em 2016, atingiu a marca em apenas incríveis 15 dias.
Fonte: C. B. Frey e M. Osborne, Technology at Work: The Future of Innovation and Employment, 2015.
2. A. Bonzom e S. Netessine, How do the World’s Biggest Companies Deal with the Startup Revolution?,
2016.
176 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
tecnologias emergentes
As inovações disruptivas são aquelas que criam novos mercados, trazidos pelo desen-
volvimento de produtos e serviços antes inexistentes que têm o poder de criar novas
demandas e que acabam por desestabilizar os players atuantes no mercado. As tec-
nologias ditas emergentes são exemplos dessas inovações, pois têm transformado e
ainda irão transformar os mercados, os negócios, o estilo de vida e a sociedade de
maneira geral nos próximos anos.
Frank Diana, palestrante, consultor e especialista em evolução e futuro dos negó-
cios, afirma que existem inúmeros direcionadores que nos levarão a presenciar, nas
próximas décadas, uma quantidade impressionante de mudanças, talvez sem pre-
cedentes. O especialista cita que o exponencial progresso da ciência, tecnologia e
inovação, o passo acelerado dos negócios e o crescente impacto do universo digital
sugerem uma nova empreitada; e que os grandes responsáveis pelo período de trans-
formação próximo são o amadurecimento e a convergência das tecnologias em social,
mobile, analytics, big data e cloud. Ele ainda afirma que essas plataformas são mas-
sivamente disruptivas, mas, combinadas com aceleradores de inovação como ener-
gias renováveis, robótica, cognitive computing e internet das coisas, assumem uma
dimensão diferente, e o resultado disso tem potencial de transformar o mundo3. Como
exemplo do potencial transformador, Brynjolfsson e McAfee referem que as tecnolo-
gias digitais, com hardware, software e redes em seu núcleo, irão no futuro próximo
diagnosticar doenças com mais precisão do que os médicos, aplicar enormes con-
juntos de dados para transformar o varejo e cumprir mais tarefas do que considerado
humanamente possível4.
Os dados são para o mundo digital de hoje o que o petróleo era há um século. O artigo
“The World’s Most Valuable Resource is no Longer Oil, but Data”, publicado em 2017
pelo The Economist, afirma que as cinco “titãs” que lidam com dados na era digital –
Alphabet (empresa do Google), Amazon, Apple, Facebook e Microsoft – são as empre-
sas mais valiosas do mundo, e juntas tiveram no primeiro trimestre de 2017 um lucro
líquido de mais de US$ 25 bilhões. O artigo ainda aponta que a Amazon atualmente
fica com metade de todos os dólares gastos on-line nos Estados Unidos, e que Google
e Facebook representaram quase todo o crescimento da receita em publicidade digital
na América no ano de 2016. A lucratividade dessas gigantes é um aspecto positivo,
mas o que gera preocupação é o controle de dados que lhes confere imenso poder.
A ampla utilização da internet e dos smartphones tem gerado uma imensidade de
dados, pois, como observa o artigo, praticamente todas as atividades realizadas criam
um rastreamento digital, o que significa matéria-prima para as “destilarias” de dados.
E, com o advento da internet das coisas, em que cada vez mais dispositivos vão se
conectando à internet, o volume de dados aumenta, o que alimenta o processo de
aprendizagem de máquina agregando ainda mais valor a esses dados. Como exem-
plo disso, Frey e Osborne citam o sistema Watson da IBM, que está sendo utilizado
por oncologistas para sugerir opções de tratamento para pacientes com câncer. As
sugestões são baseadas em dados de seiscentos mil relatórios de evidências médi-
cas, 1,5 milhão de registros de pacientes e estudos clínicos, e dois milhões de pági-
nas de texto de jornais médicos7.
Esse cenário de fartura de dados altera aspectos importantes da concorrência.
As grandes empresas do setor da tecnologia, como o Facebook e as redes sociais
de maneira geral, beneficiam-se com tal geração de dados, pois, quanto mais usuá-
rios se conectam, mais atrativa essas redes se tornam para as pessoas. O artigo do
The Economist traz ainda o exemplo da Tesla, que reúne dados de seus carros autô-
nomos a fim de aperfeiçoá-los, possível razão pela qual a empresa, que vendeu 25
mil unidades do veículo no primeiro trimestre de 2017, vale mais do que a GM, que
vendeu 2,3 milhões.
Outro aspecto impactante relacionado à concorrência é o nível de alcance que essas
gigantes da tecnologia têm, pois, ainda segundo o mesmo artigo, o sistema de vigi-
lância dessas empresas abrange toda a economia – como Google, que tem acesso ao
que as pessoas procuram; Facebook, ao que os usuários compartilham; e Amazon,
ao que eles compram. O que dá a essas companhias uma visão privilegiada de seus
próprios mercados de atuação, possibilitando saber, por exemplo, quando um novo pro-
duto ou serviço está expandindo seu alcance, para que copiem os modelos de negócio
7. C. B. Frey e M. Osborne, Technology at Work: The Future of Innovation and Employment, 2015.
t ecnol ogias em ergent es: a gr a n d e c orr id a m u n d ia l 179
bilhão, antes de abrir seu capital em bolsas de valores) eram da China; já em 2017 e
2018 (até o lançamento do relatório), esse número cresceu para 35%. Enquanto nos
Estados Unidos houve um decréscimo de 61,1% para 41,3%9.
Ainda de acordo com o relatório, outro aspecto que demonstra o esforço da região
Ásia-Pacífico em aumentar sua dominância na nova era das tecnologias digitais é
que, dos dez países que apresentaram maior crescimento nos últimos vinte anos em
produção de patentes, oito pertencem à Ásia. Esse crescimento foi particularmente
aparente em dois setores: inteligência artificial e blockchain. E novamente a China sur-
preende com seus registros de patentes, superando os Estados Unidos: quatro vezes
mais registros relacionados à inteligência artificial e três vezes mais patentes relacio-
nadas à blockchain e criptomoedas em 2017.
Abordando de maneira mais ampla o cenário mundial de inovação e tecnologia, o que
tem sido observado nessa nova fase das tecnologias emergentes é a alteração do mapa
mundial de empreendedorismo. Tem-se observado o crescimento de hubs distintos, que
têm conquistado seu espaço onde antes imperava a hegemonia do Vale do Silício. Ainda
que este seja de fato o principal criador de valor no ecossistema global de startups, seu
domínio já não é tão acentuado como antes. Nessa nova era tecnológica muitos ecos-
sistemas menores vêm se tornando cluster superiores para setores específicos, apro-
veitando a conjuntura existente na região. Como exemplo podem-se citar os seguintes:
• Estocolmo – Suécia
De acordo com a Forbes, a capital sueca, que possui cerca de um milhão de habi-
tantes, produziu mais unicórnios per capita que qualquer outro ecossistema no
mundo, excluindo o Vale do Silício, tendo sediado as proeminentes empresas glo-
bais Skype, Spotify, Minecraft e Candy Crush Saga10. Conforme a Bloomberg, a
Suécia foi considerada a segunda nação mais inovadora 11. E, segundo dados publi-
cados no relatório do Startup Genome, 18% da força de trabalho de Estocolmo tra-
balha com alta tecnologia; além disso, cinco das dez empresas que mais crescem
na Europa estão sediadas na cidade12. Em 2016, 54% do total de capital inves-
tido nos países nórdicos foi direcionado para Estocolmo, enquanto apenas 4% da
população da região vive na cidade.
• Frankfurt – Alemanha
Frankfurt é o centro financeiro da União Europeia, local que abriga a sede do Banco
Central Europeu. De acordo com o relatório do Startup Genome, a cidade emprega
mais de setenta mil pessoas em serviços financeiros, além de de contar com cinco
empresas do setor financeiro na lista da Forbes 2000 – empresas com um valor
de mercado combinado de US$ 66,3 bilhões. Com base nesses ativos, o ecossis-
tema está se concentrando na construção de um cluster de fintech. Segundo o
Startup Genome, entre 2012 e 2017 mais de 50% do investimento local de capi-
tal de risco foi direcionado a startups do ramo. O maior exit de uma fintech alemã
ocorreu em Frankfurt, envolvendo a 360T (trading de câmbio), que foi adquirida
por quase US$ 800 milhões pela Deutsche Börse. Segundo o Bloomberg Innovation
Index de 2018, da conceituada revista norte-americana de economia Bloomberg,
a Alemanha consta em quarto lugar como o país mais inovador.
• Singapura
Singapura é um hub financeiro de alta tecnologia, e lidera o ramo de fintechs da
Ásia. O local abriga mais de 270 fintechs. Segundo o Global Startup Ecosystem
Report 2018, entre 2012 e 2017 cerca de 6,7% de todo o capital de risco inves-
tido foi direcionado para esse mercado. O governo procura incentivar esse ramo
mediante o aporte de recursos financeiros.
13. Ibidem.
182 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
… e no brasil
Segundo dados da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(ApexBrasil), o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo e é a maior da
América Latina, sendo o quinto maior mercado consumidor mundial; o terceiro maior
mercado de rede social, beleza e cuidados pessoais, biocombustível, computadores,
e aeronaves; o quarto maior mercado de eletrodomésticos e internet; o quinto maior
mercado de dispositivos médicos; e o sexto maior mercado de produtos farmacêuti-
cos. O fluxo de investimento estrangeiro direto para o Brasil entre os anos de 2014 e
2016 foi de US$ 58,7 bilhões, colocando-o entre os dez países que mais receberam
investimento estrangeiro no mundo.
Em entrevista de Ian Bremmer à revista Exame o cientista político afirma que, embora
o Brasil esteja passando por um momento de instabilidade política, e isso conformar
um cenário complicado, o problema é considerado doméstico. Bremmer considera
que as relações globais do país permanecem relativamente firmes e cita o exemplo
da aproximação entre Mercosul e a União Europeia, com participação forte do Brasil
nas negociações, que tem sido visto como promissora pelos europeus. Salienta ainda
que, apesar dos altos investimentos estrangeiros já recebidos pelo Brasil, atualmente
existe uma espera por parte dos investidores estrangeiros até que a “poeira baixe” na
política e o ambiente se torne mais previsível.
Para o cientista político, o Brasil ainda é atraente dentro dos mercados emergen-
tes, sendo “uma economia em crescimento, com mercado de trabalho interessante,
ainda crescimento demográfico e de capacitação, com variedade de recursos naturais
e relativamente estável”, o que constitui um “cenário que transpassa a instabilidade
política pela qual o país passa agora. A reputação momentânea de instabilidade não
bate no potencial do Brasil. Quem pensa economia tem que ver além do momento”14.
O relatório Top Risks 2018 publicado pela consultoria Eurasia em janeiro de 2018,
que pontua os dez maiores problemas geopolíticos para o ano de 2018, trouxe à luz
o que foi chamado de “Protecionismo 2.0”, o sétimo risco apontado, informando que
os movimentos antissistema obrigaram os formuladores de políticas a adotarem uma
abordagem mais mercantilista da competição econômica global, o que significa que
os “muros estão subindo”. Bremmer e Kupchan, da Eurasia Group, afirmam que, com
as transformações ocorrendo de maneira acelerada, as lideranças mundiais ainda não
14. R. Martins, “Ian Bremmer: Instabilidade Não Reduz Potencial do Brasil”, 8 jan. 2018.
t ecnol ogias em ergent es: a gr a n d e c orr id a m u n d ia l 183
se mostraram capazes de assegurar que as novas regras do jogo estão escritas 15. Uma
tendência que também influencia na criação desse novo protecionismo, que não afeta
apenas setores tradicionais, como agricultura, metal, químico, e mecânico – devido
à preocupação com perda de empregos e interesses relativos à economia doméstica;
mas intervém também na economia digital e nas indústrias intensivas em inovação,
com o objetivo principal de preservar a propriedade intelectual e tecnologias relacio-
nadas como componentes críticos da competitividade nacional.
O protecionismo citado no relatório da Eurasia inclui medidas como resgates, sub-
sídios e requisitos de “compra local” – destinados a fortalecer empresas e indústrias
domésticas –, além das já tradicionais tarifas de importação e cotas. Nesse contexto,
o Brasil, apesar de ser uma das maiores economias do mundo e um mercado recep-
tivo para adoção de tecnologias, ainda enfrenta barreiras que dificultam o acesso a
elas. De acordo com um novo relatório do Banco Mundial – The Jobs of Tomorrow:
Technology, Productivity, and Prosperity in Latin America and the Caribbean [Empregos
do Amanhã: Tecnologia, Produtividade e Prosperidade na América Latina e Caribe] –, a
América Latina e o Caribe têm taxas mais baixas de adoção de tecnologia digital do que
países semelhantes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE). O relatório aponta, por exemplo, que algumas tecnologias, como smartphones
e tablets, vendidas no Brasil estão entre as mais caras do mundo16.
A despeito disso, as empresas brasileiras têm investido em tecnologias. A Agenda
2018 é uma pesquisa realizada pela Deloitte no fim de 2017 com 750 empresas bra-
sileiras que acumularam R$ 1,779 trilhão em receitas (26% do PIB brasileiro estimado
para 2017), sendo os respondentes em sua maioria conselheiros, presidentes, vice-
-presidentes, superintendentes e diretores. A pesquisa aponta que são despendidos,
em média, 3% de seu faturamento com investimento em tecnologias, o que repre-
senta um total de mais de R$ 58,9 bilhões em aportes nessa área. Os setores que mais
investem em tecnologia no Brasil são os de atividades financeiras; serviços de tecno-
logia e telecomunicações; prestação de serviços às empresas; petróleo, gás, minera-
ção e energia elétrica. Outro aspecto destacado é o que muitas das novas tecnologias
devem receber investimentos das organizações nos próximos dois anos, com desta-
que para internet das coisas, cyber security, Indústria 4.0 e analytics17.
Unidas. Essa iniciativa demonstra que o Brasil tem procurado se alinhar às tendên-
cias mundiais em relação às tecnologias digitais, e que existe uma preocupação do
governo em avançar no tema.
Em vista do assuntos abordados neste capítulo vale ressaltar aqui as tecnologias que
têm despontado nos últimos anos, que têm revolucionado e ainda irão revolucionar o
mercado, as empresas e o estilo de vida das pessoas.
19. A. Nobeschi, “Saúde: Como a Inteligência Artificial Pode Ajudar nos Diagnósticos”, 26 dez. 2016.
20. Embratel, Revolução Digital: 7 Tendências para 2018, 2018.
186 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Impressão 3D
Também chamada de manufatura aditiva, é a impressão de objetos tridimensionais
utilizando materiais variados. Em artigo, Thiago Marin afirma que de acordo com o
Whollers Report a indústria de impressão 3D cresceu 25,9% em relação à 2015. Com
a popularização da manufatura aditiva, essa tecnologia chegou à profissionais de diver-
sas áreas, como engenharia, design de produto, medicina, odontologia, arquitetura,
decoração, joalheria, que têm utilizado a tecnologia em seus processos de inovação26.
A tecnologia é utilizada amplamente: da prototipação de produtos até a construção de
residências na China, por exemplo.
Energia renovável
Energia renovável é aquela advinda de fontes inesgotáveis da natureza, como vento,
sol, água. De acordo com os dados da quinta edição do relatório Renewable Energy and
Jobs Annual Review – lançado na 15a reunião do conselho da Agência Internacional de
Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês), em Abu Dhabi –, o setor de energia reno-
vável, incluindo as grandes hidrelétricas, emprega mais de dez milhões de pessoas no
mundo27. E, segundo o relatório anual da Bloomberg New Energy Finance (Bnef), o custo
da energia solar de painéis fotovoltaicos deverá baixar 66% até 2040, sendo que atual-
mente seu preço representa um quarto do que era em 2009. Assim, até 2040 um dólar
comprará 2,3 vezes mais energia solar do que atualmente, quando também os painéis
solares fotovoltaicos residenciais representarão até 20% da eletricidade no Brasil28.
24. P. Heltzel, “12 Tecnologias Disruptivas para os Negócios em 2018”, 14 fev. 2018.
25. Embratel, op. cit.
26. T. Marin, “A Revolução da Impressora 3D: Entenda Por Que Essa Tecnologia Está Cada Dia Mais
Presente”, s.d.
27. Istoé, “Energia Renovável Emprega Mais de 10 Milhões de Pessoas no Mundo”, 8 maio 2018.
28. V. Barbosa, “7 Tendências Globais em Energia Renovável para Ficar de Olho”, 19 jun. 2017.
188 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Cyber security
Em um universo cada vez mais conectado, e sujeito a ataques cada vez mais sofis-
ticados, o desenvolvimento de sistemas seguros se tornou imperativo. Para permitir
a tomada de decisão em tempo real considerando o risco apresentado e possibilitar
também a criação de infraestrutura de segurança adaptável, líderes em segurança
e gerenciamento de risco deverão adotar uma forma de avaliação contínua de risco
adaptativo e de confiança30.
Indústria 4.0
É um conceito que considera que a indústria passa pela sua quarta revolução, na qual
passam a ser agregadas aos processos industriais as principais inovações tecnológicas
dos campos de automação, controle e tecnologia da informação. Com o uso de siste-
mas ciberfísicos, internet das coisas e internet dos serviços, os processos de produ-
ção tendem a se tornar cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis.
Os impactos causados pela indústria 4.0 consistem em criação de novos mode-
los de negócios; personalização em massa, por meio da customização prévia do pro-
duto por parte dos consumidores; diminuição dos trabalhos manuais e repetitivos; e
criação de novos postos de trabalho mais intelectualizados para lidar com as deman-
das mais crescentes em P&D.
Blockchain
Refere-se a tecnologia de protocolo da confiança, segurança, certificação e valida-
ção de transações ou conclusão de processos. Amit Zavery, vice-presidente sênior
conclusão
As tecnologias elencadas, bem como os impactos e dados trazidos, são uma pequena
amostra de sua amplitude e de todo seu potencial de agregação de valor. O que se
expôs aqui dá uma pequena dimensão das mudanças já ocorridas e que ainda ocorre-
rão para além do âmbito econômico no Brasil e no mundo. Tais mudanças e inúmero
cenários disruptivos que vêm surgindo e ainda surgirão nos próximos anos geram e
poderão gerar grande dificuldade para as lideranças em compreender tudo isso e, mais
ainda, reagir da maneira necessária.
O ponto-chave para os empresários é compreender que a inovação não é um pro-
cesso estático, e que o mundo e os tempos em que vivemos nunca exigiram tanto da
versatilidade, da capacidade de adaptação e da proatividade das empresas em relação
aos processos de mudança. Estamos vivendo uma mudança de paradigma, em que por
vezes se observa que imaginação e experimentação, tentativa e erro substituem o pla-
nejamento detalhado. O desafio para as lideranças é encontrar o equilíbrio. Estar a par,
e fazer uso, das tecnologias, enxergá-las de maneira holística e conectar os pontos tor-
nou-se também um fator de competitividade para as empresas. E, muito além disso,
envolver-se no processo de mudança, estar na vanguarda desses novos tempos, pois,
como afirma Frank Diana, “a evolução dos negócios não é apenas provável, mas crítica”32.
referências bibliográficas
31. P. Heltzel, “12 Tecnologias Disruptivas para os Negócios em 2018”, 14 fev. 2018.
32. F. Diana, em seu blog (<https://frankdiana.net>), em manifesto já retirado do ar.
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192 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
resumo: Nos últimos anos temos vivido um processo de evolução tecnológica rápido e
disruptivo. Não só as pessoas têm de aprender a lidar com as novas tecnologias e situa-
ções, mas também as corporações. Verifica-se a relevância que os novos conceitos de pla-
taformas, sensoriamento e conectividade trazem para a geração de dados e informações,
e revela-se que os detentores dessas informações têm e terão vantagens competitivas
importantes no mundo dos negócios. Nesse contexto, a ciência e atuação dos conselhos
administrativos adquirem importância fundamental para a perenidade da organização.
palavras-chave: transformação digital, inovação tecnológica, disrupção, geração de dados,
inteligência artificial, conselho administrativo
193
194 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
75% das companhias listadas nas 500’s Mais da Standard & Poors serão substituídas por
novas organizações na próxima década1.
As tecnologias exponenciais vão nos permitir saltos maiores em duas décadas do que tive-
mos nos últimos duzentos anos2.
Nas próximas linhas, faremos uma abordagem das diversas tecnologias e seu grau
de desenvolvimento.
infraestrutura digital
Internet
A internet é um sistema global de redes de computadores interligadas que utilizam um
conjunto próprio de protocolos (Internet Protocol Suite ou TCP/IP) com o propósito de
servir progressivamente usuários no mundo inteiro.
Conectividade (5G)
Quinta geração de sistemas wireless (5G) é o termo utilizado para a tecnologia que
satisfaz a disponibilidade de comunicação sem fio, para alta mobilidade e densidade de
transferência de dados.
Essa tecnologia será a substituta da 4G e foi desenhada para ser uma rede multis-
serviços, conectando uma grande variedade de equipamentos, a começar pelos smart-
phones mas também uma avançada rede de conteúdo digital e realidade aumentada,
1. Richard Foster (McKinsey/Yale University), citado por Innosight, Creative Destruction Whips through
Corporate America, 2012.
2. Peter Diamandis (cofundador da Singularity University), citado por C. Mano, “A Universidade que Nasceu
na Garagem”, Exame – Edição de Aniversário, 50 Anos, 8 set. 2017.
int roduzindo os c a m in h os d e c on v er gên c ia . . . 195
Cloud computing
O conceito de computação em nuvem foi intitulado por renomados especialistas como
a “democratização da tecnologia”, por ter oferecido às diversas classes de usuários a
oportunidade de armazenar e processar grandes quantidades de dados, em computado-
res e servidores compartilhados – conectados à internet, seguindo o princípio da com-
putação em rede.
O armazenamento de dados é feito em serviços que poderão ser acessados de
qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, não havendo necessidade de instalação
de programas ou infraestrutura local.
O acesso a programas, serviços e arquivos é remoto, pela internet – daí a alusão à
nuvem. O uso desse modelo (ambiente) é mais viável (disponibilidade e custo x benefí-
cio) do que o uso de unidades físicas de armazenamento. Mas há desvantagens:
• caso aconteça a perda de acesso à nuvem, por uma falta de comunicação (internet
ou links dedicados), todo o sistema será comprometido até que a comunicação seja
restabelecida;
• se a internet não tiver uma boa banda larga, o sistema pode ser comprometido. Um
exemplo típico acontece em casa, com mídias digitais ou jogos em momentos de
rush de acesso à internet;
• também é bastante impactante o processo de migração para o sistema cloud, prin-
cipalmente o carregamento dos dados na nuvem, que leva tempo e requer um pro-
cesso bastante cuidadoso;
196 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
• ainda existe uma resistência grande por parte de alguns setores específicos (um
exemplo mais clássico é o setor financeiro), por considerar um risco importante a
exposição de dados em ambientes externos à instituição.
IoT / IoE
A internet das coisas (IoT) ou, como é chamada recentemente, internet de tudo (Internet
of Everything) é a rede que conecta equipamentos físicos, veículos, equipamentos domés-
ticos e outros itens que tragam circuitos eletrônicos, softwares, sensores, atuadores e
conectividade que permitam que esses equipamentos se conectem e troquem dados.
Cada equipamento é unicamente identificado e está habilitado a operar dentro de uma
infraestrutura de internet existente.
De acordo com estudos feitos por especialistas, em 2017 mais de 8,4 bilhões de equi-
pamentos estão conectados e esse número deverá chegar a trinta bilhões até 2020. Mesmo
ano em que se estima que esse mercado deverá alcançar a marca de US$ 7,1 trilhões.
O IoT permite que objetos sejam sensorizados ou controlados remotamente por um
sistema de rede preexistente, criando a oportunidade de uma integração direta do mundo
físico com o digital e resultando em uma melhora de eficiência, precisão e valor agre-
gado, com reduzida intervenção humana.
Exemplos de IoT já são identificados nas mais diversas aplicações e setores da
indústria e podem ser representados por diversos tipos de equipamentos e sensores –
por exemplo, em implantes monitorados, chips implantados em animais, carros autôno-
mos, vestimentas inteligentes que identificam distúrbios de saúde no usuário, análise de
oxigênio e nutrientes necessários para uma boa lavoura de milho, além de muitas outras
aplicações que surgem todos os dias em diversos projetos e startups ao redor do planeta.
Big data
Em linhas gerais, big data refere-se a uma grande quantidade de dados armazenados
localmente ou na nuvem e disponíveis para uso. O mundo armazena diariamente cerca
de 2,2 exabytes de dados por dia, e até 2021 esses níveis chegarão a cerca de 3,3
zettabytes, sendo que mais de 90% dessas informações não serão aproveitadas3.
Inteligência artificial
É o ramo da ciência da computação dedicado a buscar métodos ou dispositivos compu-
tacionais que possuam ou multipliquem a capacidade racional do ser humano de resol-
ver problemas.
São as mais importantes:
(cont.)
Megabyte MB 10E6
Gigabyte GB 10E9
Terabyte TB 10E12
Petabyte PB 10E15
Exabyte EB 10E18
Zettabyte ZB 10E21
Yottabyte YB 10E24
Fonte: McKinsey Global Institute.
198 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Machine learning
Machine learning ou aprendizado das máquinas é um dos subgrupos da ciência da com-
putação mais explorados nos últimos anos.
Em 1959, Arthur Samuel definiu aprendizado de máquina como sendo o “campo de
estudo que dá aos computadores a habilidade de aprender sem serem explicitamente
programados”5.
Nos dias de hoje, é a base mais perseguida e em que são feitos os maiores inves-
timentos por aqueles que focam no desenvolvimento da inteligência artificial, principal-
mente as grandes empresas high-tech, como Google, Apple, Facebook, IBM e muitas
outras, que investem pesadamente no desenvolvimento dessa tecnologia.
Streaming
Streaming é a tecnologia usada para transferir conteúdo digital, usualmente áudio e
vídeo, a computadores, tablets e smartphones por meio da internet.
Com o conceito de streaming, o usuário não tem a necessidades de fazer o down-
load (descarga) completo do vídeo ou áudio digital antes de começar a usá-lo. Em outras
palavras, o processo de streaming transfere dados em um fluxo contínuo, enquanto per-
mite que o usuário siga assistindo ou ouvindo quase que simultaneamente ao processo.
Essa tecnologia enfrenta alguns problemas. Uma vez que ela disponibiliza dados de
acordo com a demanda (on demand ), torna-se fundamental uma boa conexão de internet.
Por exemplo, se durante o processo de streaming de uma música ou vídeo perde-se a
conexão com a internet, este se interromperá até que a comunicação seja restabelecida.
Tal fato não quer dizer que somente grandes bandas de internet suportarão um pro-
cesso de streaming, uma vez que, ainda de modo precário, os dados conseguem ser
transferidos, pois o sistema se utiliza de uma memória extra, denominada buffer, que
tem a função de armazenar o conteúdo que será assistido ou ouvido nos dez segundos
4. Cf. “Artificial Intelligence: Weak AI vs. Strong AI”, 27 mar. 2018. John Rogers Searle (Denver, 31 de julho
de 1932) é um filósofo e escritor norte-americano, professor da Universidade de Berkeley, na Califórnia,
Estados Unidos.
5. J.-F. Puget, “What Is Machine Learning?”, 18 maio 2016.
int roduzindo os c a m in h os d e c on v er gên c ia . . . 199
seguintes. De qualquer modo, caso a conexão não se restabeleça nesse tempo, a trans-
missão será interrompida.
Outro ponto de atenção relaciona-se à quantidade de dados que um processo de
streaming requisitará ao tráfego pela internet. O que significa que a forma sugerida
de utilizá-lo é pela internet residencial, que é ilimitada (sistema de banda larga fixa), e
não via 3G ou 4G, utilizada nos smartphones em conexões remotas, e que são limitados
por quantidade de dados em gigabytes.
Por exemplo, um simples filme de duas horas poderia consumir o pacote de dados
por completo, o que não é desejável.
Computadores quânticos
Na teoria, computadores baseados em Qubits ( bits quânticos)
poderiam resolver problemas que hoje levariam bilhões
de anos, em questão de minutos.
Ivan Oliveira, físico do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)6
sensores
6. Citado por A. C. Oliveira et al., “Estudos de Inteligência Artificial Usando Computadores Quânticos”, 2013.
200 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
“É importante frisar que dados por si só são irrelevantes e só se tornarão valiosos a partir
do momento em que forem tratados e se tornem informações!”
Como já mencionado, o ecossistema digital abre espaço para diversos produtos que tra-
rão benefícios inimagináveis à humanidade. Dentre eles, alguns já estão em comerciali-
zação, outros em fase experimental, e dependerão do avanço da tecnologia para alcançar
maturidade e serem lançados em escala comercial, e outros ainda nem foram inventados.
O grau de maturidade de toda a transformação ainda é incalculável. Seria como ima-
ginar uma plataforma digital, tipo Uber, na época de lançamento da internet. Impossível,
não é mesmo?
int roduzindo os c a m in h os d e c on v er gên c ia . . . 201
industria 4.0
8. R. Geissbauer, J. Vedso e S. Schrauf, “Industry 4.0: Today’s Most Dynamic Business Opportunity”,
Forbes, 25 maio 2016.
int roduzindo os c a m in h os d e c on v er gên c ia . . . 203
referências bibliográficas
Regina Magalhães
Tarcila Reis Ursini
205
206 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Essas dimensões estão cada vez mais interconectadas. A Quarta Revolução Industrial
não se limita a economias mais avançadas e a setores específicos – trata-se de um fenô-
meno global que afeta todos os setores econômicos. E tampouco se limita a mudanças
tecnológicas, implicando também transformações institucionais, sociais, ambientais,
comportamentais, de propósito e de consciência, que irão transformar nossas vidas e o
futuro de nossas empresas.
Mas qual a conexão entre a Quarta Revolução Industrial e as grandes questões sociais
e ambientais da atualidade? A perspectiva é que o futuro melhore ou piore? E como
as empresas estão gerenciando essas questões e como se manterão competitivas com
esses novos desafios globais?
Imagine que até 2050 66% da população mundial viverá nas áreas urbanas. Espera-se
que a atual população mundial de 7,6 bilhões cresça mais 2,2 bilhões até 20502, pres-
sionando a produção de alimentos, a gestão ambiental, a habitação, a saúde, a educa-
ção, o lazer, os sistemas de apoio financeiro.
Embora o mundo esteja envelhecendo, os avanços biológicos podem prolongar dra-
maticamente a vida de pessoas saudáveis e mentalmente alertas, para muito além do
que hoje se acredita. Espera-se que até 2050 dois bilhões de pessoas tenham sessenta
anos ou mais, o dobro da atualidade.
Hoje aproximadamente dois terços do mundo têm um telefone celular e mais da
metade possui smartphones. Até 2050 a estimativa é que 97,5% da população esteja
conectada. A tecnologia da informação faz com que a transparência seja uma condição
e não mais uma escolha.
Desde a década de 1970, a extrema pobreza diminuiu, mas a concentração de riqueza
no mundo vem aumentando. Hoje, 1% da população tem metade da riqueza do mundo3.
A porcentagem de mulheres nos parlamentos, nos conselhos de administração e em
outros cargos executivos aumentou de forma lenta, mas constante, no mundo e a pres-
são por diversidade de uma forma geral aumenta nas corporações4.
5. Incluindo aqui o aumento do número de casos de desastres naturais (terremotos, derretimento das gelei-
ras, tsunami ), crise hídrica, perda da biodiversidade, crise de alimentos e energia (WEF, The Global
Risks Report 2018, 2018).
6. Foram entrevistadas vinte mil pessoas em cinco países – Brasil, Índia, Reino Unido, Estados Unidos e
Turquia (Envolverde, “Impacto Social e Ambiental das Marcas é Fator Decisivo para 30% dos
Consumidores”, 10 jan. 2017).
7. L. Fink, “A Sense of Purpose”, jan. 2018.
208 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
As novas tecnologias que surgem no âmbito da Quarta Revolução Industrial são capa-
zes de liberar um imenso potencial de desenvolvimento social e ambiental. Tecnologias
como a inteligência artificial, internet das coisas, blockchain, automação, biotecnologias
e, principalmente, a interação entre essas tecnologias são capazes de reduzir custos de
alimentos, de tratamentos de saúde e de moradia, de ampliar o acesso a educação
de qualidade, gerar novos negócios, enfim, de promover aumento de bem-estar social
e sustentabilidade ambiental, atingindo gigantescos mercados antes não atendidos ou
ineficientes8.
É nessa linha que a Singularity University, com sede no Vale do Silício, e Peter
Diamandis, um de seus fundadores, focam seu campo principal de atuação, acreditando
que as maiores oportunidades de negócio estarão nos maiores problemas da humani-
dade, capacitando as pessoas para criar um futuro abundante por meio da aplicação de
tecnologias exponenciais9.
Por outro lado, as mesmas tecnologias podem agravar antigos problemas sociais e
ainda gerar novos desafios para a humanidade, por exemplo causar um enorme desem-
prego tecnológico e o aumento das desigualdades, a formação de grandes monopólios
globais, o fim da privacidade, a quebra dos laços sociais e o isolamento das pessoas,
a polarização política. São problemas complexos que já estamos vivenciando e são o
resultado da convivência de tecnologias do século XXI com instituições do século XX.
A modernização dos processos políticos, das instituições políticas, das organizações
sociais e da governança das empresas são condições para que as tecnologias propor-
cionem desenvolvimento humano e ambiental.
Ou seja, as novas tecnologias não são capazes de gerar benefícios sociais sem uma
visão de mundo que as oriente na direção do desenvolvimento humano. Tecnologias não
são capazes de promover mudanças positivas na sociedade se não estiverem integradas
a modelos de negócios que visem objetivamente à solução de problemas sociais reais10.
8. R. Magalhães e A. Vendramini, “Os Impactos da Quarta Revolução Industrial”, GV-Executivo, vol. 17,
n. 1, jan.-fev. 2018.
9. S. Kotler e P. Diamandis, Abundância: O Futuro é Melhor do que Você Imagina, 2012.
10. R. Magalhães e T. Ursini, “Inovar com Criação de Valor Compartilhado”, IBGC Análises e Tendências:
Inovação, n. 3, mar. 2018.
por que a inovaç ã o prec isa d e u m pr opósito? 209
Muitas empresas no Brasil estão criando negócios lucrativos desenhados para gerar
benefícios sociais e ambientais. E isso está acontecendo tanto com novas empresas,
startups idealizadas com essa finalidade, que trazem novos modelos de negócio que des-
troem o velho dilema “ou você ganha dinheiro ou você impacta positivamente as pes-
soas e o meio ambiente”, quanto em grandes multinacionais que estão reestruturando
seus propósitos, suas estratégias, seus modelos de negócios.
Empresas do grupo Votorantim estão desenvolvendo produtos e tecnologias com
grande impacto positivo – a Votorantim Cimentos desenvolveu uma tecnologia para cap-
tura de CO2 por algas e a sua utilização na fabricação de biocombustíveis e pallets de
biomassa. A Fibria desenvolve, a partir de matéria-prima renovável, tecnologias para a
produção de biocombustíveis e polímeros sofisticados para usos em diversas indústrias.
A Braskem, uma indústria petroquímica, tornou-se o maior produtor de polímeros oriun-
dos de fontes renováveis, o etanol de cana-de-açúcar.
A Coca-Cola anunciou em janeiro de 2018 o investimento bilionário na reciclagem
de embalagens plásticas. A HP, junto com uma das suas principais fornecedoras, a
Flex, desenvolveu uma das indústrias de reciclagem de eletrônicos mais sofisticadas do
mundo, a Synctronics, com sede no estado de São Paulo.
A Unilever tem um dos maiores portfólios de produtos de bens de consumo produ-
zidos de forma sustentável e que buscam melhorar a nutrição. A Danone desenvolveu
produtos de baixo custo e que contribuem para melhorar a nutrição infantil. Anunciou
ainda no início de 2018 um acordo pioneiro com bancos privados no Brasil, segundo o
qual ajustará o custo financeiro de uma dívida de € 2 bilhões conforme a evolução do
desempenho dos indicadores socioambientais e de governança da companhia e a por-
centagem das vendas globais consolidadas da Danone cobertas por negócios com cer-
tificações B Corp11.
A Native, a Korin e a Mãe Terra são marcas bem-sucedidas que estruturaram seus
negócios a partir de produtos orgânicos e processos de produção regenerativos, ou
seja, que não só conservam, mas melhoram as condições dos recursos naturais, desa-
fiando também a máxima de que não se consegue produzir orgânicos em larga escala.
11. A revisão será realizada ao menos uma vez por ano e considerará o rating da Danone em avaliações
públicas ASG de três instituições externas independentes, já definidas em contrato. “Seguramente é
uma quebra de paradigma que pode repercutir em todo o modelo de avaliação socioambiental do sis-
tema financeiro. Afinal, envolve um conjunto de bancos liderados pelo PNB Paribas e que inclui também
Société Générale, Crédit Agricole, Natixis, HSBC, Citibank, J. P. Morgan, Barclays, ING, NatWest, MUFG
e o Banco Santander” (A. Almeida, “Desempenho Socioambiental Vale Dinheiro”, 22 fev. 2018).
210 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
12. A. A. Rocha, “Nestlé Fomenta Produção de Leite Orgânico no País”, 29 jun. 2017.
13. O mapeamento reúne dados de 579 negócios de impacto no Brasil; ver Gife, “Mapa Traça o Perfil dos
Negócios de Impacto Socioambiental no Brasil”, 19 jun. 2017.
por que a inovaç ã o prec isa d e u m pr opósito? 211
14. McKinsey Global Institute. Disruptive Technologies: Advances that Will Transform Life, Business, and the
Global Economy, 2013.
15. BNDES, Internet das Coisas: Um Plano de Ação para o Brasil, 2018.
16. WEF, IoT for Sustainable Development Project.
212 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
A escassez de água é outro problema que pode ser minimizado com o uso dessa tec-
nologia. Sensores e softwares já são utilizados para otimizar a distribuição, identificar
e reduzir perdas de água na rede, otimizar a captação de fontes hídricas e automatizar
sistemas de reuso e reciclagem de água.
A produção de máquinas e equipamentos industriais e de consumo conectados per-
mite que esses ativos sejam monitorados remotamente, possibilitando que seja otimi-
zado o uso, que sejam realizadas manutenções preditivas, prolongando a vida útil, o
reuso e a reciclagem. Sensores e softwares industriais também são utilizados para redu-
zir e gerenciar resíduos, ampliar a eficiência de cadeias de logística reversa, ampliando
a eficiência de sistemas de economia circular.
Sensores podem ainda ser utilizados para monitorar emissões atmosféricas e fluen-
tes, para medir a qualidade do ar e dos recursos hídricos, permitindo a otimização de
processos de produção e torná-los menos poluentes.
Na agricultura, sensores permitem a otimização do uso da água em sistemas de irri-
gação, a redução do uso excessivo de produtos químicos no controle de doenças e na
fertilização do solo, a redução do consumo de energia e o aumento da eficiência de toda
a cadeia logística. Mecanismos de controle baseados em IoT permitem ainda o rastrea-
mento completo de insumos, produtos agrícolas e alimentos, levando a maior controle
de qualidade e da conformidade social e ambiental de toda a cadeia produtiva.
Por fim, sensores permitem o monitoramento da biodiversidade, de bacias hidrográ-
ficas e do clima, o controle preventivo de incêndios, enchentes, desabamentos e aci-
dentes que provocam danos ambientais e riscos à segurança, com o uso de sistemas
automatizados de alertas em situações de emergência.
Outra tecnologia com grande impacto em todos os sistemas produtivos e nas formas
de organização dos mercados é a blockchain, um sistema de registros digital que per-
mite a troca de informações, a realização de transações e a execução automatizada de
contratos de forma distribuída, imutável, transparente e auditável. Negócios com tecno-
logia blockchain podem ser estruturados sem intermediários, conectando diretamente
produtores ou prestadores de serviços com usuários, transações diretas entre partes e
contratos que não necessitam de validação de terceira parte.
A blockchain, combinada com a IoT, amplia a eficiência, a transparência e a inte-
gridade dos mercados, reduz significativamente custos de transação e custos operacio-
nais. Segundo o relatório The State of Green Business 2017, essa plataforma pode ser
revolucionária na gestão da sustentabilidade nos negócios17.
17. J. Makeower e Greenbiz.com, The Tenth Annual State of Green Business 2017, 2017.
por que a inovaç ã o prec isa d e u m pr opósito? 213
No livro De Dentro para Fora: Como uma Geração de Ativistas Está Injetando Propósito
nos Negócios e Reinventado o Capitalismo, Teixeira cita exemplos de empreendedores
que lutam para conciliar lucro e justiça social, competição e espiritualidade, eficiência e
bem-estar; enfim, que procuram um caminho mais sustentável e um sentido mais pro-
fundo sem abandonar o mercado18.
Esse movimento não tem sido menos expressivo com as empresas, que passaram
a sentir a necessidade de definição de um propósito. Movimentos como Capitalismo
Consciente19 e o Sistema B20, que propõem uma nova definição de sucesso dos negócios,
vêm crescendo expressivamente não apenas entre representantes de uma nova gera-
ção de empreendedores, que conciliam mais facilmente lucro com propósito e impacto
socioambiental positivo, mas também entre as grandes corporações, como Unilever,
Danone, Natura, Fibria, Duratex, Enel e Schneider Electric.
A definição de propósito vai muito além de um slogan ou de um plano de comuni-
cação que apresenta os objetivos sociais ou ambientais de uma empresa. Propósito é
comumente definido como um modo autêntico e único por meio do qual uma marca faz
e fará diferença no mundo – O que o mundo perderia caso sua empresa deixasse de
18. A. Teixeira, De Dentro para Fora: Como uma Geração de Ativistas Está Injetando Propósito nos Negócios
e Reinventado o Capitalismo, 2014.
19. Ver: <https://www.ccbrasil.cc>. Acesso em: 21 jul. 2018.
20. Ver: < https://sistemab.org/br/brasil/>. Acesso em: 21 jul. 2018.
214 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
existir? Uma empresa com propósito não pensa apenas em seus clientes, mas também
em seus colaboradores, fornecedores, comunidade do entorno, meio ambiente e socie-
dade como um todo.
Diante da complexidade do contexto atual, uma reflexão e definição de propósito con-
sistente depende, portanto, de maneira geral, de mudanças significativas na estraté-
gia de negócios da empresa, que podem implicar um novo posicionamento de mercado.
Essas definições envolvem uma análise profunda dos mercados, da atual estrutura
dos negócios, das tecnologias disponíveis, da análise de clientes prioritários, das estra-
tégias de vendas, de marketing, de cadeias de fornecimento, de estratégias de finan-
ciamento, mas todas elas dependem da condição de um processo de mudança cultural
em toda a empresa, sobretudo na liderança.
Para fins didáticos, reunimos na Figura 1 quatro tipos de mudanças estratégicas que
podem ser escolhidas pelas empresas na construção de um propósito. Praticamente
todas as dimensões dos negócios passam por mudanças, mas o tipo define a prioridade
estabelecida pela empresa em seu processo de mudança. E, apesar da separação, são
mudanças interdependentes. Traremos também alguns exemplos emblemáticos que ilus-
tram cada uma das mudanças prioritárias apresentadas.
Novo modelo de
↑ Novo canal de
negócios comercialização
← →
Novas Nova cadeia de
tecnologias fornecimento
↓
Fonte: Elaboração própria.
21. V. K. Rangan e K. Lee, “Grameen Danone Foods Ltd., a Social Business”, Harvard Business Review,
7 jan. 2016.
216 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Essa estratégia conjunta foi bem-sucedida e levou à criação da Unilever nos anos
1920. Nessa mesma década a empresa lançou uma campanha de higiene em escolas
primárias, a Clean Hands Campaign, como parte da política de saúde infantil. Ao longo
de todo o século XX a empresa incorporou novos negócios e investiu em inovação e pro-
dutos voltados para a limpeza e a alimentação.
Nos anos 1990, a Unilever foi alvo de uma grande pressão da sociedade civil contra
os impactos ambientais na sua cadeia de fornecimento, em particular os desmatamen-
tos causados pela produção de óleo de palma no sudeste asiático. Essa pressão fez com
que a empresa lançasse um grande programa de gestão da sua cadeia de fornecedo-
res, a promoção da sustentabilidade na agricultura, sendo protagonista de vários acor-
dos globais pela sustentabilidade no setor agrícola.
22. A. McAfee e E. Brynjolfsson, Machine, Plataform, Crowd: Harnessing Our Digital Future, 2017.
por que a inovaç ã o prec isa d e u m pr opósito? 217
23. H. Chesbrough, Innovation @ ENEL: From Monopoly Power to Open Power, 2016.
24. M. Kramer e B. Nadella, “Enel: The Future of Energy”, Harvard Business School, 19 set. 2017
218 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
As estratégias que acabamos de descrever exprimem dois pontos críticos que deter-
minaram a capacidade de formação de empresas globais prósperas. O primeiro é a
capacidade da empresa de identificar quais são os problemas sociais, ambientais ou
econômicos que restringem o crescimento dos negócios. Essa identificação não é sim-
ples e depende de uma capacidade de análise que vai além dos resultados financeiros
trimestrais. A análise ampla do contexto do mercado é fundamental para a definição de
estratégias de sucesso.
O segundo ponto é a capacidade de encontrar uma solução para esses problemas
que contribua para o crescimento dos negócios. Projetos sociais e ambientais desco-
nectados da atividade principal das empresas podem não impactar diretamente a com-
petitividade, mas soluções que façam parte das estratégias de negócios podem ser uma
fonte de diferenciação e de crescimento.
Latina e Caribe, o Brasil aparece em sétimo lugar, atrás do Chile (46a posição), Costa
Rica (53a), México (58a), Panamá (63a), Colômbia (65a) e Uruguai (67a). A Suíça lidera
o ranking pelo sétimo ano consecutivo, e é seguida por Suécia, Países Baixos, Estados
Unidos e Reino Unido.
Existem dois caminhos que são habitualmente apontados como possíveis para recupe-
rar o atraso. O primeiro defende manter a proteção do Estado à indústria local, por meio
de barreiras ao comércio internacional e subsídios governamentais. O segundo também
defende o investimento do Estado, porém no incentivo ao uso e desenvolvimento das
tecnologias mais avançadas em nível global.
Algumas empresas mostram que existe um novo caminho sendo desenhado com
potencial de destravar a competitividade da indústria brasileira. São empresas que estão
aproveitando novas vantagens competitivas e percebem que a economia brasileira ofe-
rece oportunidades que poucos países do mundo têm.
Em primeiro lugar, é o país que possui a maior biodiversidade do planeta, tem a pos-
sibilidade de explorá-la de forma sustentável para produzir alimentos, medicamentos,
novos materiais únicos no mercado mundial. É o que Carlota Perez chama de economia
baseada em recursos naturais26. Não são commodities, são produtos únicos e de alto
valor, baseados em alta tecnologia e produzidos de forma sustentável.
O Brasil é também um dos poucos países do mundo que possuem uma grande capa-
cidade industrial e agrícola localizada próxima a um dos maiores mercados consumi-
dores do mundo. Essa proximidade é uma condição que permite estruturar com baixos
custos uma economia circular.
Além dessas vantagens particulares do mercado brasileiro, a sociedade também
apresenta características que permitem um desenvolvimento tecnológico a partir das
particularidades sociais e culturais locais. Apesar do baixo nível educacional e do res-
trito acesso a conhecimento tecnológico, o Brasil é um dos países com maior grau de
iniciativa empreendedora. As redes populares de inovação, os espaços makers e os fab
labs proporcionam oportunidade para negócios criativos, inovadores e adequados à rea-
lidade da população de baixa renda.
A diversidade da sociedade brasileira é outra característica encontrada em pou-
cos países do mundo. Quase todas as etnias e religiões do planeta estão representa-
das no país, permitindo que as empresas tenham acesso a características sociais que
26. C. Perez, The New Context for Industrializing around Natural Resources: An Opportunity for Latin
America (and Other Resource Rich Countries)?, 2015.
220 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
27. D. Kiron e G. Unruh, “The Convergence of Digitalization and Sustainability. Big Idea: Sustainability Blog”,
MIT Sloan Management Review, 17 jan. 2018.
por que a inovaç ã o prec isa d e u m pr opósito? 221
provocar uma das maiores mudanças na forma como as empresas se organizam, como
produzem e no que produzem, por outro lado a sustentabilidade, considerando aqui um
conceito amplo que envolve todos os objetivos sociais, éticos e ambientais dos negócios,
provocará uma grande mudança de visão sobre o por que se produz.
A definição de propósito não é só uma afirmação dos valores da empresa. O propó-
sito define de forma mais clara os objetivos estratégicos dos negócios, cria uma cone-
xão mais forte entre as empresas, seus colaboradores e seus clientes, comunica mais
efetivamente o valor gerado pelos produtos e serviços de uma empresa, e, por isso,
torna-se uma parte fundamental da estratégia e de sua proposta de criação de valor.
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O Tempo Futuro: Seis, Dezoito, e Trinta*
* Embora eu não tenha muitas das suas inúmeras qualidades, o Prof. James Wright e eu tínhamos um
defeito em comum: enorme interesse por um número quase infinito de assuntos, o que tornava nos-
sas conversas particularmente divertidas, embora, muitas vezes, menos objetivas que o programado.
Não houve tempo para que ele lesse a versão final deste ensaio, que aceitou, entusiasmado, escre-
ver comigo; assim, espero que nossa produtiva e afetuosa convivência de quase vinte anos tenha per-
mitido retratar aqui um pouco da vastidão de reflexões e temas instigantes com os quais lidamos em
nosso trabalho conjunto; e que estas páginas não façam injustiça ao extraordinário professor, pesqui-
sador, conselheiro e amigo que ele sempre foi. Leandro Fraga Guimarães
223
224 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
do tempo que nos permite entender os grandes movimentos, as tendências que molda-
rão novas realidades, o que a mera visão do presente não autoriza. E a rapidez com que
algumas dessas novas realidades se impõem pode ser determinante até mesmo para a
existência de alguns negócios.
Não podemos, no entanto, assumir a simplificação de que o novo cancela e substi-
tui o antigo de imediato, para todos os casos; na realidade, isso raramente acontece. As
curvas de adoção de inovação mostram os percalços pelos quais as novidades passam
antes de serem eleitas pela maioria dos seus consumidores, sejam eles empresas ou
pessoas. É daí que vem esse entrelaçamento entre passado, presente e futuro, tão sin-
gularmente registrado pelo poeta anglo-americano. Entender a realidade de forma mais
ampla e profunda é indispensável, portanto, para acompanhar as novidades que de fato
são impactantes para sua atividade profissional ou sua vida pessoal e tirar partido delas.
O ano de 2030 está doze anos à nossa frente. Se tomarmos como verdade a clás-
sica frase “a melhor forma de prever o futuro é criá-lo” – ou, na versão literal de Peter
Drucker, no seu Managing for Result, “tentar fazer o futuro acontecer é arriscado; mas é
uma atividade racional. E é menos arriscado do que continuar a trajetória com a confor-
tável convicção de que nada vai mudar”1 –, o que veremos lá adiante no tempo depende,
então, de entendermos o que aconteceu, como e por quê, e de pensarmos sobre como
agiremos a partir dessa compreensão. Assim, antes de tratar mais sobre quanto e como
Brasil e o mundo podem mudar nesse período, façamos uma rápida viagem a 2006,
doze anos passados. O que mudou?
Nossas comunicações mudaram muito. Já de início, uma alteração essencial: nin-
guém usava um smartphone – o iPhone seria lançado em 2007, e, com ele, os aplicati-
vos; a Apple não estava nem entre as cem maiores empresas americanas por faturamento
doze anos atrás – é a terceira hoje; o Google celebrava a compra do nascente YouTube
(fundado em 2005) e o sucesso mundial do Orkut (gigantesco sucesso no Brasil, que,
por causa disso, chegou a abrigar a sede mundial dessa rede social); não usávamos
WhatsApp (só seria lançado em 2009) nem Instagram (2010), nem as redes sociais
tinham relevância para as comunicações empresariais ou para a publicidade.
A navegação por mapas no Brasil era feita por aparelhos de GPS especializados, que
tinham acabado de ser liberados pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contram) para serem
usados em veículos em movimento, mas os mapas eram ainda precários. O Facebook
tinha doze milhões de usuários ativos em 2006, contra os mais de 2,2 bilhões de hoje. E,
nesse número, não estão somados os chineses, unidos pelo Weibo (similar ao Facebook)
e, ainda mais, pelo WeChat, um aplicativo local que já tem quase um bilhão de usuários,
essencialmente no próprio país. E o WeChat não é apenas uma rede social: ele pode ser
usado para pedir comida, chamar um táxi, pagar contas ou transferir dinheiro para pes-
soas físicas ou jurídicas, além de várias outras funcionalidades.
A facilidade e o baixo custo da comunicação massificada, auxiliada por aplicativos
que ajudam a organizar informações e contatos, transformaram nossa relação com os
dados e trouxeram novidades para as relações pessoais e profissionais. O uso que se
faz desses dados, em plataformas de Business Intelligence (BI) ou Customer Relationship
Management (CRM), ou nas chamadas redes sociais, ainda é restrito e, em alguns casos,
coloca a empresa em risco antes de trazer benefícios objetivos. A decisão de partici-
par mais ativamente da comunicação com seus clientes, tanto no mercado B2B quanto
no B2C – além de usar positivamente, e de forma autorizada, dados individuais para
melhorar essa relação –, não passa pela escolha de um aplicativo ou sistema, mas pela
compreensão e pelo planejamento do passo que se pretende dar. Mas as bases estão lan-
çadas, e a infraestrutura disponível para que esse processo evolua muito e rapidamente.
sozinhas, mais de 35% da população global), muitos outros países da região da Ásia-
-Pacífico, e da África, estão se integrando a essas duas indutoras do crescimento.
As múltiplas alianças que esses países têm e o desenvolvimento acelerado de tec-
nologia (fruto de uma definitiva diretriz de educação para as populações locais) possibi-
litaram essa transformação tão rápida quanto profunda.
Mas não foi apenas isso. Das seis maiores empresas do mundo em valor de mer-
cado, em 2006, três eram do setor de petróleo, e apenas uma (a Microsoft), do setor de
tecnologia; das seis mais valiosas empresas do mundo hoje, cinco são do setor de tec-
nologia, e a sexta é uma gestora de investimentos (Berkshire Hathaway).
A tecnologia está permitindo que, hoje, a junção do global e do local seja cada vez
mais possível, barata e imediata. O termo “glocal”, neologismo que pretende juntar os
dois conceitos, não é novo – vem dos anos 1980 –, mas nunca foi tão viável. E isso
traz ansiedades novas para os consumidores, que se habituam a ter muito mais pro-
dutos e serviços customizados à sua vontade do que no passado e começam a rejei-
tar aquelas empresas que não o fazem. Do lado das empresas, em compensação,
hoje é muito mais possível variar o nível de serviço oferecido a cada cliente ou grupo
de clientes, em uma adaptação que, no passado recente, seria dispendiosa demais
para ser viável.
O Brasil sofre muito mais os efeitos (deletérios e/ou positivos) dessa revolução
do que propriamente participa ativamente dela, uma vez que as empresas brasileiras do
setor de tecnologia são regionais e quase inteiramente voltadas para o mercado interno,
e não têm impacto global em praticamente nenhum setor ligado à tecnologia, embora
seja o 7o mercado mundial para o segmento.
O setor de ciência e tecnologia mais voltado para tecnologia da informação (TI) e
comunicações não tem representatividade entre as grandes empresas brasileiras; no ano
de 2018 tivemos nosso primeiro “unicórnio” (como são chamadas as startups de tec-
nologia com valor de mercado igual ou superior a US$ 1 bilhão), a 99, empresa e apli-
cativo de transporte individual fundada em 2012 – e já adquirida pelo grupo chinês Didi
Chuxing, o equivalente ao Uber naquele país; mas não há sinais de que muitos mais se
apresentem nos próximos meses, embora o número seja de mais de duas centenas pelo
mundo neste momento, espalhadas basicamente pela América do Norte, Europa e Ásia.
Sim, nossa locomoção mudou. Chamávamos um carro para transporte em 2006
como nas décadas anteriores, usando um sinal de braço ou o telefone, nada parecido
com o que fazemos hoje por meio do Uber (lançado em 2009) ou do já citado 99 (nas-
cido apenas em 2012). A frota de carros híbridos e elétricos nos Estados Unidos tinha
o t em po f u tu r o: seis, d ez oito, e trin ta 227
chegado a um milhão de veículos em 2006, contra quase cinco milhões hoje. Porém,
mais importante, começa a haver mais integração entre modais no transporte urbano,
processo muito facilitado pela tecnologia disponível hoje.
Nossas viagens mudaram. O Airbnb (lançado em 2008) tem mais quartos listados
que Marriott e Hilton, as duas maiores redes hoteleiras do mundo, somadas. Há dúvi-
das ainda sobre o tamanho da coincidência e dos públicos atendidos pelos dois tipos de
serviço – hotéis tradicionais e aluguéis por temporada –, mas é fato que há mudanças
relevantes em curso, e o mercado vai se segmentar mais e melhor. E há novidades até
mesmo para o negócio tradicional do turismo: as duas maiores agências de viagem do
mundo são as empresas virtuais Expedia Inc. e Booking (ex-grupo Priceline). E é uma ati-
vidade que cresceu grandemente: o número de viagens internacionais de avião dobrou
nesses doze anos, globalmente.
Nós envelhecemos rápido. Em 2006, havia no mundo cerca de seiscentos milhões
de pessoas com mais de sessenta anos (9% da população total); hoje, temos perto de
um bilhão (ou cerca de 13% do total). No Brasil havia cerca de sessenta pessoas na
população economicamente ativa (PEA, entre 15 e 64 anos de idade) para cada supe-
ridoso (pessoa com oitenta anos ou mais); em 2018 essa relação é de 38 por 1, uma
diferença de quase 60%. Há estudos que sugerem que as nações com população mais
envelhecida mudam seu padrão de crescimento e empreendedorismo, embora ganhem
com outros atributos, como experiência e estabilidade. É preciso entender melhor esses
impactos e usá-los a favor das empresas.
Nós estamos mais inclusivos. Não obstante esse seja um território em que há ainda
um longo e complexo caminho a percorrer, há fatos que ajudam a ver o quanto esses
doze anos trouxeram de avanços – não lineares, nem definitivos, mas importantes pas-
sos adiante. No board das quinhentas maiores empresas da revista Fortune, em 2006,
havia menos de 10% de mulheres; esse número avançou para perto de 30%. Há diver-
sas políticas em curso para fazer com que esse resultado siga crescendo, nos Estados
Unidos, na Europa e também no Brasil, e uma preocupação cada vez mais ampla em
acolher minorias de toda natureza não apenas nas empresas, mas na sociedade.
Há uma novidade transformadora a se considerar em muitos dos exemplos aqui cita-
dos: serviços amadores estão desafiando serviços profissionais (como no caso dos moto-
ristas de Uber versus os de táxi; ou de Airbnb versus hotéis, apenas para ficar em dois
exemplos). Sempre que o valor desse profissionalismo não se mostra de fato presente
para o consumidor, seja ele pessoa física ou jurídica, uma nova solução, usualmente de
raiz tecnológica, rompe com o modelo conhecido. Isso está provocando e vai provocar
228 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
uma mudança na percepção de valor em uma série de mercados, tanto nas relações
entre empresas quanto entre essas e os consumidores finais.
O que vimos nos últimos nos últimos doze anos, embora tenha modificado aguda-
mente alguns negócios e comportamentos, é apenas o início de um processo muito mais
intenso e profundo que veremos no curto prazo. A infraestrutura digital agora disponível –
que vai da imensa rede de computadores na nuvem até os bilhões de smartphones nas
mãos de usuários, passando pelo desenvolvimento acelerado da inteligência artificial,
entre muitos outros exemplos – servirá de plataforma para um sem-número de oportu-
nidades de profundas alterações nos negócios e na sociedade.
Nessa pouco mais de uma década que nos separa de 2030 temos o potencial para sermos
menos desiguais e, com isso, acelerar o desenvolvimento do mundo. Menos desiguais em
todos os sentidos. Nos próximos dez, quinze anos, muitos bilionários do mundo farão doa-
ções de grandes somas de dinheiro, a maior parte delas direcionadas a sanar, de forma
mais eficiente que os governos nacionais vêm demonstrando, algumas das grandes mazelas
que ainda acometem parcelas relevantes da população mundial, como o analfabetismo, a
fome, ou a persistência da ocorrência de doenças evitáveis. Somente o The Giving Pledge, o
clube de doadores organizado por Bill Gates e Warren Buffet, tem, nesse momento, o com-
promisso de 175 signatários, indivíduos ou casais, de 22 países diferentes, na sua maioria
bilionários, e seus compromissos totalizam mais de US$ 365 bilhões. Esse valor representa
mais de 65 vezes o orçamento anual da Organização das Nações Unidas (ONU), ou mais
de cinco vezes o que ela investirá nos próximos doze anos, mantidos os valores de hoje.
Essas doações têm a possibilidade de tornar milhões de indivíduos mais saudáveis
e capacitados, com meios para incrementar as economias locais e nacionais, e trazer o
crescimento para regiões que hoje apresentam níveis muito baixos de desenvolvimento.
Esse processo não será simples, mas países como Etiópia, Bangladesh, Senegal e
Camboja, que antes só frequentavam o noticiário por suas enormes carências, começam a
popular as páginas de economia graças às taxas de crescimento já muito elevadas, e que
poderão ser muito impulsionadas pelas iniciativas de organizações não governamentais
(ONGs) mais focadas e eficientes, além de empresas prestadoras de serviços específi-
cos ou que desenvolvam produtos adaptados às necessidades dessas novas populações.
O Brasil tem um potencial particularmente interessante para se aproximar da África
nesse processo, seja pelos laços culturais que unem as populações, seja pelas proximi-
dades geográfica e econômica.
o t em po f u tu r o: seis, d ez oito, e trin ta 229
Áreas secas como o norte da África e o sudoeste dos Estados Unidos sentirão efeitos
particularmente agudos da diminuição da precipitação.
A aceleração da produção de energia limpa, especialmente solar e eólica, será o vetor
para permitir o crescimento do uso de energia demandado pelo crescimento econômico.
O petróleo terá importância levemente declinante, à medida que forem se desenvolvendo
e amadurecendo essas tecnologias. Diferentemente do petróleo, o potencial de produção
de energia envolvendo essas fontes é muito mais bem distribuído pelo mundo, embora
com graus de eficiência diferentes.
Ainda mais produtos terão se tornado serviços. A compra, especialmente de bens
duráveis, será uma memória distante em muitas cidades de 2030, cujos habitantes
usarão energia limpa e pegarão emprestado, sob demanda, aquilo de que precisam.
Serviços on-line se multiplicarão, e veículos autônomos, mesmo em países emergentes,
já cuidarão de uma parcela crescente do transporte de bens e pessoas. É possível que
em algumas dessas cidades a proibição do ato de dirigir esteja em discussão. Diversas
empresas da área de varejo mudarão seus negócios para serviços, ou serão substituí-
das por operações de serviço montadas pelos fabricantes.
Em função disso, muitas cadeias produtivas serão bastante transformadas, reduzindo
o número de elos de distribuição, mesmo no caso de bens de consumo.
Novos avanços na área de saúde vão reduzir custos, e o hospital como o conhecemos
terá muitas mudanças, e sua importância reduzida, com muitos tratamentos podendo
ser feitos em casa. A ciência terá eliminado ainda mais doenças, e haverá menos aci-
dentes graças a carros autônomos; grandes avanços na medicina preventiva e persona-
lizada elevarão a qualidade de vida, e a longevidade com saúde pressionará ainda mais
os conceitos de carreira e de aposentadoria com que lidamos hoje. Bisturis e doado-
res de órgãos serão menos necessários, enquanto minúsculos tubos robóticos e órgãos
bioimpressos estarão em alta.
A prática médica será consideravelmente alterada pela facilidade de sistemas basea-
dos em inteligência artificial para fazer diagnósticos considerando exames (não apenas
o último, mas todo o histórico do paciente), sensores fixos ou móveis que portaremos, e
um depoimento sobre os sintomas, que serão confrontados com um gigantesco banco
de dados sobre doenças. Com esse volume de informações, será possível prescrever
tratamentos mais eficientes, mais individualizados, e que tragam menos custos e efei-
tos colaterais. Cirurgias robóticas serão cada vez mais precisas e frequentes, e envol-
verão riscos menores.
As cidades e sítios turísticos mais procurados terão de encontrar alternativas para
acolher os volumes crescentes – e sem precedentes – de novos turistas, particularmente
232 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
asiáticos, que podem facilmente triplicar ou quadruplicar o fluxo atual em poucos anos.
Isso não afetará apenas custos, mas desafios logísticos, e de preservação, serão preo-
cupações cada vez mais presentes.
Os eventuais esforços imperialistas das novas nações emergentes ou das antigas
potências globais serão balanceados por uma disseminação das identidades do mundo
digital; soluções como criptomoedas, mais consolidadas e populares, tornarão mais difícil
o controle das ações individuais: o cidadão de qualquer país será muito mais internacio-
nalizado do que em qualquer outro período da história. Haverá, no entanto, mais confli-
tos potenciais em função disso, tanto internamente nos países quanto entre nações: as
identidades regionais ou locais serão cada vez mais valorizadas.
Haverá crescentes esforços de inclusão, em um sentido amplo, embora distribuí-
dos de forma ainda irregular. O Brasil, como grande melting pot que é, tem um papel
potencial de resolver com mais celeridade as suas dificuldades internas quanto a isso,
e representar um panorama novo para a convivência mais harmoniosa com as diferen-
ças, e alcançar um novo padrão de competitividade global com isso.
Há, finalmente, uma questão mais e mais importante. Os valores que construíram o
Ocidente estão sendo, e serão cada vez mais, testados até o ponto de ruptura. As demo-
cracias liberais, consideradas um modelo de sucesso a ser perseguido por todos os paí-
ses, serão confrontadas com novos modelos igualmente bem-sucedidos, ou igualmente
frágeis, muitos baseados em novas formas de populismo, apoiadas muitas vezes em solu-
ções tecnológicas – algumas delas, nem tão transparentes – que trarão novos paradig-
mas que desafiarão conceitos conhecidos sobre representatividade popular e democracia.
O fato é que os chamados pesos e contrapesos que sustentam nossas democracias oci-
dentais já não serão o único paradigma global, e até mesmo algumas das nações histori-
camente alinhadas com esses conceitos poderão experimentar novas formas de governo.
Tudo somado, as circunstâncias no caminho para 2030 seguirão desafiadoras, é
certo. Muito mais, em alguns aspectos. Mas a única certeza que permanecerá é que a
oportunidade segue sendo extraordinária para aqueles que entenderem T. S. Eliot: o que
haverá de realmente novo, e o quanto do tempo presente e do tempo passado estarão
talvez presentes no tempo futuro?
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Megatendências Globais e Tecnológicas e
Possíveis Impactos para o Brasil
introdução
233
234 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
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Substitutos?”, Parcerias Estratégicas, n. 19, dez. 2004.
m egat endências gl ob ais e t ecnol ógic a s e possív eis im pa c tos. . . 235
7. Ibidem.
8. A. M. Vilha e S. Maskio, op. cit.
9. A. De Negri e M. B. Lemos (orgs.), op. cit.
10. Ibidem.
236 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
11. D. L. Mann, “Better Technology Forecasting Using Systematic Innovation Methods, Technological
Forecasting and Social Change”, Technological Forecasting and Social Change, vol. 70, n. 8, out. 2003.
m egat endências gl ob ais e t ecnol ógic a s e possív eis im pa c tos. . . 237
12. Ibidem.
13. F. Sarti, “Sem Indústria Dinâmica e Inovativa Não Há Desenvolvimento”, 2018.
14. Deloitte, Tech Trends 2018: The Symphonic Enterprise, 2017.
15. CNI, Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, 2018.
16. Ibidem.
238 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Fonte: Elaboração própria, com base em J. A. De Negri e M. B. Lemos (orgs.), O Núcleo Tecnológico da
Indústria Brasileira, 2011; F. Sarti, “Sem Indústria Dinâmica e Inovativa Não Há Desenvolvimento”, 2018;
e IEL, Mapa de Clusters Tecnológicos e Tecnologias Relevantes para Competitividade de Sistemas Produ-
tivos, 2017.
É fato que o Brasil apresenta um déficit estrutural nos setores de média e alta
intensidade tecnológica. A geração de superávit comercial no Brasil tem se sustentado
nos setores de baixa intensidade tecnológica produtores de commodities agrícolas e
minerais20. Se observarmos os dados oferecidos pelo Instituto Nacional de Propriedade
Intelectual (Inpi) quanto à intensidade tecnológica dos depósitos de patentes no Brasil
no período de 2000 a 2012 e classificando-os à luz da taxonomia da OCDE21, verifica-
-se que a maior porção das solicitações de proteção de patentes no período em questão
corresponde a soluções de baixa intensidade tecnológica22 (ver Quadro 2).
Fonte: Elaboração própria, com base em A. M. Vilha, M. P. Fuck e M. B. Bonacelli, “Aspectos das Trajetórias
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utilizada a base de dados que contém todas as patentes publicadas internacionalmente e está disponí-
vel em: <http://www.freepatentsonline.com>. Para tanto, foi desenvolvido um programa que seleciona
a classificação internacional de patentes publicadas entre o primeiro semestre de 2013 e o primeiro
semestre de 2016. A partir da base de dados gerada por esse programa, foi possível analisar as áreas
em que mais patentes são publicadas.
20. F. Sarti, op. cit.
21. OCDE, “Technology Intensity Definition”, jul. 2011.
22. Inpi, Estatísticas do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual, 2016.
240 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
Esses dados permitem inferir que a expressiva porção das soluções protegidas no
Brasil – ora para exploração comercial no mercado doméstico, ora para apropriação de
uma lacuna tecnológica, ou mesmo para proteção de conhecimento crítico no país –
está mais associada à geração de tecnologias maduras, revestidas de pouca complexi-
dade e distantes da fronteira tecnológica.
Em países economicamente avançados da OCDE, a proporção da participação de
empresas no volume geral de pedidos de patentes é inversamente proporcional ao dis-
posto no caso brasileiro, que por sua vez acomoda majoritariamente a participação das
universidades e institutos tecnológicos no esforço de patenteamento no país. Em reali-
dade, esse dado indica que o setor produtivo brasileiro – maior vetor responsável pela
conversão e impacto econômico da pesquisa em produtos e processos inovativos para
os mercados, apresenta uma tímida expressão de resultados nessa direção, ao menos
na geração de conhecimento crítico passível de proteção intelectual no país.
O Quadro 2 oferece um retrato das trajetórias tecnológicas percorridas pelo Brasil
ao longo do processo de constituição e desenvolvimento de seu tecido produtivo. Cabe
salientar que nesse retrato não há rupturas entre as delimitações temporais propostas
para análise, mas simplificações delimitativas para interpretações que se impõem no
caso brasileiro.
Sob uma perspectiva temporal, o retrato revela claras competências do país em seto-
res cuja base se concentra na ampliação da capacidade de produção, bem como em
setores industriais que estão fora da fronteira tecnológica.
Por outro lado, o Quadro 2 sinaliza uma janela de oportunidade que pode ser apro-
veitada pelo país daqui para a frente e que consiste na reconversão e desenvolvimento
de tecnologias que se enquadram na chamada indústria 4.0, e que em alguma medida
podem se apropriar da vocação do Brasil para se mobilizar em trajetórias com ênfase
nas estruturas de produção. Os setores industriais de bens de capital, agroindústria e
automotivo apresentam esforços e potencial para exploração de tecnologias 4.0 na com-
petitividade de seus negócios.
A indústria 4.0 surge das estruturas de manufatura empresariais com característi-
cas muito peculiares e combina a utilização de tecnologias exponenciais como impres-
são 3D, sensores tecnológicos, inteligência artificial, robótica e nanotecnologia, a fim
de compor máquinas inteligentes, sistemas de armazenamento de informações, insta-
lações produtivas que sejam capazes de trocar informações de forma autônoma, desen-
cadeando ações e controlando cada uma de maneira independente23.
23. Industrie 4.0 Working Group, Securing the Future of German Manufacturing Industry – Recommendations
for Implementing the Strategic Initiative, 2013.
m egat endências gl ob ais e t ecnol ógic a s e possív eis im pa c tos. . . 241
Vimos nas seções anteriores que o cenário tecnológico e a situação política e econô-
mica do Brasil apresentam enormes desafios em um país cujo desenvolvimento socioe-
conômico ainda é incompleto. O desenvolvimento e uso de tecnologias denominadas
tecnologias disruptivas em setores industriais já está em curso no contexto das empre-
sas posicionadas em outros países, que competem e/ou impactam empresas brasileiras.
As empresas brasileiras ainda apresentam uma limitada expressão de suas ativi-
dades de P&D e inovação. Em certa medida, esse quadro decorre de uma trajetória de
industrialização fortemente baseada na aquisição de máquinas, equipamentos e tecno-
logia do exterior, com insuficiente produção doméstica de conhecimento24.
Somam-se a esse quadro outros sintomas apresentados no caso brasileiro, como o
fato de as universidades serem vistas como substitutas de aparatos de P&D empresarial,
ausentes, e não parceiras de pesquisa. Ademais, empresas brasileiras ainda são pouco
expostas à competição mundial – requerendo níveis mais elevados de diferenciação,
qualidade e competitividade de seus produtos, processos e serviços. Pautadas por uma
cultura estratégica e de ação no curto prazo, as empresas do Brasil ainda padecem em
um contexto de alta carga tributária e burocrática no país, dificuldades de acesso aos
incentivos para desenvolvimento tecnológico e inovativo, além de incertezas jurídicas no
marco regulatório atual para disciplinar e apoiar atividades industriais e tecnológicas.
Nas análises produzidas sobre as tecnologias atuais e de futuro que podem impac-
tar fortemente a indústria brasileira, destacamos o papel das tecnologias sob o contexto
da chamada indústria 4.0, que implicam fortemente o acirramento da produtividade
empresarial, não obstante com impacto para o emprego. Diante dessa perspectiva,
chama atenção o impacto que o próximo ciclo de desenvolvimento de tecnologias dis-
ruptivas nessa direção pode ter para a mão de obra brasileira para as empresas, já que
essas novas tecnologias têm permitido que elas consigam “fazer mais do que antes e
com menos pessoas”.
Diante do exposto, o Brasil enfrenta desafios estruturais, institucionais, políticos e de
aprendizagem para estabelecer o processo de emparelhamento tecnológico com países
mais densos sob o ponto de vista econômico, com vistas a se posicionar mais próximo
da fronteira tecnológica e com mais competências.
Nesse sentido, as atividades de P&D precisam ser intensificadas nas empresas bra-
sileiras. Essa dimensão é de fundamental importância para ampliar a base de compe-
tências das empresas para inovar. Para tanto, também é preciso ampliar o quadro de
pessoas capacitadas, requerendo programas de capacitação de pessoas e das empresas.
Essa dimensão está diretamente relacionada ao posicionamento da inovação relevante
como decisão estratégica a ser tomada pelas empresas, quais sejam, em seus planos de
investimentos ou em suas estratégicas de atuação nos mercados para a competitividade.
Sob o ponto de vista do Estado, é preciso adotar uma agenda que atribua ao desen-
volvimento tecnológico e inovativo um papel prioritário. Em países de industrialização
tardia como China e Coreia do Sul as estratégias de desenvolvimento e adoção de ino-
vações são metas de ação legítima de seus governos e se baseiam nos pontos fortes de
seu sistema de inovação para superar suas fragilidades para enfrentar desafios.
Dessa forma, é premente a necessidade de estabelecer uma agenda de políticas
públicas positiva de longo prazo para as novas tecnologias. Formular, ainda, uma polí-
tica tecnológica mais próxima da política econômica do país e menos dependente de
instrumentos e modelos de ação acadêmicos também é importante como contorno meto-
dológico de ação. Fortalecer o sistema de inovação brasileiro, enfatizando a articula-
ção, a parceria e, sobretudo, a confiança entre os atores públicos e privados, visando à
troca e à complementação de recursos e competências, bem como intensificar o quadro
de incentivos às atividades de desenvolvimento de novas tecnologias são outras bases
importantes para o governo avançar.
Ainda sob o ponto de vista do governo, é preciso repensar o seu papel – não dimi-
nuindo sua ação, mas transformando-a, visando à obtenção de maior competência para
estruturar o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação no país (nesse sentido,
atuando como planejador, indutor, coordenador de políticas de incentivo à inovação).
Não obstante os desafios apresentados, é preciso salientar que a premência de um
novo ciclo de geração de tecnologias disruptivas também abre janelas de oportunidade
para o país, sob o ponto de vista da sua amplitude. Isso significa que uma ação articu-
lada de investimentos, estratégias e engajamento dos setores público e privado pode
abrir espaços para o posicionamento do Brasil na geografia econômica mundial, de
forma que consiga acompanhar o dinamismo das atuais transformações tecnológicas.
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3.2
O Futuro e a Reconfiguração
dos Negócios: Impactos para
a Governança
Conselho de Administração:
O Guardião do Longo Prazo
resumo: O ambiente de negócios está sendo afetado pela velocidade crescente das
mudanças tecnológicas e comportamentais. O cenário de inovações permanentes reforça
o papel do conselho de administração como guardião da visão de longo prazo das orga-
nizações. Para exercer suas funções, o conselho precisa estar atento ao estudo das novas
tendências e à análise de seus impactos sobre as organizações. A diversidade na com-
posição do conselho torna-o mais apto a lidar de forma produtiva com o tema inovação.
palavras-chave: governança corporativa, inovação, conselho de administração, mudan-
ças tecnológicas, diversidade, competitividade
247
248 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
textos que tratam das tecnologias emergentes – os mesmos artigos que o leitor encontra
na Parte 3.1 deste livro –, conselheiros de administração e estudiosos da governança
foram instigados a discutir o assunto e a responder à seguinte pergunta: “De que forma
as tendências analisadas poderão impactar as estruturas e práticas de governança cor-
porativa nas empresas brasileiras?”1 Este texto trata das discussões e pontos levanta-
dos na tentativa de responder a essa pergunta.
Uma das convergências a que se chegou foi que o “olhar pelo retrovisor” deve se
mostrar insuficiente para dar conta das demandas do novo tempo, e que ganha peso
o papel do conselho de administração como guardião da visão de longo prazo da com-
panhia. Embora a atribuição de dar o direcionamento das organizações seja uma tarefa
tradicional do conselho, é possível levá-la a cabo com menos esforços e dedicação em
um ambiente de poucas e lentas modificações. Mas a situação é outra em um cená-
rio em que o ritmo das inovações e mudanças comportamentais é crescente. Esse novo
ambiente enseja mais atenção com as questões estratégicas e o exercício da capaci-
dade de adaptação e da flexibilidade. Nesse cenário de transformações velozes, o olhar
para o passado ainda é relevante, mas a visão de futuro se torna crucial.
E esse futuro que já se avista inclui um poder crescente das informações e das redes,
da tecnologia, da ética, da transparência e das preocupações socioambientais. Os conse-
lhos de administração não devem passar incólumes por todas as mudanças tecnológicas
e comportamentais em curso: a inovação gera vários impactos nos negócios e também
deve modificar a governança corporativa. O papel do conselho tende a ser ampliado e
seu olhar deverá ser mais prospectivo, sob o risco de o órgão se tornar defasado e inca-
paz de lidar com as complexas demandas de um novo tempo.
Embora ainda seja cedo para precisar quais serão os impactos das transformações
tecnológicas sobre as organizações, e também como e quando eles ocorrerão, pode-
-se dizer que as empresas sofrerão os seus efeitos e precisarão fazer investimentos nas
direções corretas, e tudo isso em meio a um ambiente de poucas certezas. O descaso
com o tema inovação ou os erros de avaliação podem custar muito caro e gerar proble-
mas de diferentes gradações: desde a perda de mercado e a restrição das opções da
empresa até a incapacidade de ela se manter operando.
1. O workshop ocorreu na manhã do dia 15 de junho de 2018, na sede do IBGC em São Paulo. O evento foi
conduzido por Joaquim Rubens Fontes Filho e contou com a presença dos seguintes participantes:
Fernando Goes, Lélio Lauretti, Luiz De Luca, Marcos Grasso, Mercedes Stinco, Paulo Vasconcellos,
Renato Chaves, Ricardo Egydio Setubal, Ricardo Reisen, Sérgio Sayeg e Thomas Brull.
c on sel h o d e a d m in istr a ç ã o. . . 249
Nesse contexto, a atração e retenção de talentos, por meio do engajamento dos colabo-
radores, torna-se um desafio crescente.
As esferas decisórias estão se modificando: se antes a centralização da tomada de
decisões e de informações era a regra, com uma estrutura piramidal composta de líde-
res no topo e governados na base, agora se caminha para uma configuração em rede,
na qual há mais pontos de contato entre os diversos agentes e as decisões são descen-
tralizadas. As estruturas hierárquicas são mais horizontais do que as do passado. As
informações fluem com muita rapidez, tornando evidentes as falhas na governança e a
falta de transparência e de responsabilidade socioambiental.
Os princípios básicos de governança corporativa – transparência, equidade, presta-
ção de contas e responsabilidade corporativa – permanecem os mesmos, mas tornam-
-se ainda mais demandados em função das mudanças tecnológicas, que aumentam a
quantidade de informações disponíveis para a sociedade e a velocidade de dissemina-
ção dessas informações. A opinião pública, dotada de mais poder graças ao advento e
à popularização das mídias sociais, ganha peso central.
Considerando esse caldo todo, que mistura novas tecnologias e comportamentos, cabe
perguntar se os conselhos de administração brasileiros estão preparados para conduzir
suas organizações em direção a esse futuro incerto e líquido. Infelizmente, a resposta
é negativa: a maioria desses órgãos ainda carece de preparo para lidar com a inovação
de forma salutar, e não apenas devido ao “olhar pelo retrovisor”.
Além de dedicarem pouco tempo à discussão de temas relacionados à estratégia e
ao planejamento de longo prazo, os conselhos brasileiros deixam a desejar em diversi-
dade – tema relacionado à inovação. O pensamento de grupo, monolítico, tende ao con-
servadorismo e joga contra a adesão às mudanças.
No quesito diversidade de formação, os conselheiros são, em sua maioria, enge-
nheiros, administradores e economistas2. A participação de profissionais com outras
formações tende a ser salutar, uma vez que incorpora diversos pontos de vista. Uma con-
sequência natural dessa afirmação seria o pensamento de que a presença de um conse-
lheiro especialista em tecnologia seria suficiente para liderar a organização em direção
às metas de longo prazo e à inovação – ideia que se mostra enganosa. Muito embora o
conselho possa contar com um integrante especializado em tecnologia, a inovação vai
2. A pesquisa Perfil dos Conselhos de Administração, realizada pelo IBGC em 2016, levantou o perfil dos
conselheiros de 339 empresas (2.244 assentos) com ações listadas na bolsa. Destes, 27,6% eram
engenheiros, 21,4% administradores de empresas, 15,6% economistas e 13,3%, advogados.
252 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
além desta e sua relevância precisa ser compreendida por todos os membros do con-
selho e permear toda a organização.
Já no que se refere a gênero, raça e faixa etária, os conselheiros são, em sua maioria,
homens brancos de meia-idade, muitos dos quais já estiveram em posições de comando
importantes e ocuparam cargos de diretor-presidente (CEO). Como os conselheiros são
selecionados com base na experiência, mais uma vez o olhar para o passado prevalece:
os jovens, que geralmente trazem as inovações, as mulheres, negros e outras minorias,
que podem trazer visões diferentes e mais inclusivas, carecem da experiência conside-
rada ideal e ficam de fora.
A falta de diversidade dos conselhos de administração também se reflete na nacio-
nalidade dos seus membros: há poucos estrangeiros nos boards das empresas brasilei-
ras. A bagagem cultural e a experiência em diferentes países, trazidas por conselheiros
de outras nacionalidades, poderia agregar às organizações brasileiras, difundindo exem-
plos e práticas do exterior e ajudando-as na inserção global. Afastar-se de práticas e
tecnologias inovadoras pode implicar o isolamento econômico. Em um ambiente de livre
competição, as organizações fechadas à inovação tendem a ser prejudicadas e acabam
perdendo participação no mercado.
A promoção da maior diversidade dos conselhos, portanto, seria salutar para que as
organizações brasileiras lidassem melhor com a inovação, equilibrando a tradição e o
avanço, e para evitar que os conselhos tendam ao conservadorismo. Vale ressaltar, no
entanto, que a introdução de novos perfis de conselheiros deve ser feita com cuidado
e sob a liderança de pessoas que garantam espaço para as vozes recém-chegadas, de
forma que estas não sejam abafadas pelo status quo.
Cabe comentar que as exigências feitas aos conselheiros devem aumentar diante
da crescente complexidade do cenário: eles devem ser cada vez mais cobrados em
termos de dedicação e tempo e, também, na aquisição de competências não neces-
sariamente ligadas aos seus campos de atuação, mas comportamentais, como a dis-
posição para aprender, a capacidade de trabalhar em equipe e de lidar com opiniões
diferentes. A exposição dos conselheiros a ambientes diversos é positiva, visto que
amplia a percepção da sociedade e proporciona maior abertura para aceitar posturas
e soluções inovadoras.
Existem divergências com relação ao que se espera da atuação dos conselheiros nas
organizações. Alguns consideram que eles devem não apenas se atualizar, mas também
se tornar mais participativos e engajados, trabalhando com mais proximidade da direto-
ria. De acordo com essa visão, os conselheiros deveriam estar mais próximos para obter
informações de melhor qualidade – que poderiam ser úteis para analisar mudanças,
c on sel h o d e a d m in istr a ç ã o. . . 253
3. Conselheiros de administração da Netflix, por exemplo, participam, como ouvintes, de reuniões mensais
e trimestrais da diretoria, com o objetivo de conhecer melhor a companhia e se informar sobre a sua
condução por parte dos executivos. No artigo “Netflix Approach to Governance: Genuine Transparency
with the Board”, David F. Larcker e Brian Tayan, da Universidade de Stanford, discorreram sobre essas
práticas.
254 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
referências bibliográficas
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Paulo, IBGC, 2016. Disponível em: <http://conhecimento.ibgc.org.br/Paginas/Publicacao.
aspx?PubId=23491>. Acesso em: 22 jul. 2018.
Larcker, David F. & Tayan, Brian. “Netflix Approach to Governance: Genuine Transparency
with the Board”. Stanford Closer Look Series, Corporate Governance Research Initiative,
maio 2018. Disponível em: <https://www.gsb.stanford.edu/sites/gsb/files/publication-pdf/
cgri-closer-look-71-netflix-approach-governance-boards.pdf >. Acesso em: 22 jul. 2018.
Sobre os Organizadores
255
Sobre os Autores
ADRIANA ADLER
Sócia da Ekilibra Governança Integrada, consultora especializada em empresas familia-
res, mediadora e coach, com graduação em marketing (ESPM), pós-graduação em admi-
nistração (EAESP/FGV) e Dinâmica de Grupo (SBDG). Mediadora em diversas Câmaras,
com formação pelo Instituto Familiae (Mediativa), Berkeley University, ADR Group e
Trigon. Certificada como Family Advisor (FFI – Family Firm Institute). Coordenadora da
Comissão de Pessoas do IBGC.
257
258 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
ANDRÉ DE ALMEIDA
Advogado pela PUC Minas e sócio titular do Almeida Advogados, escritório especiali-
zado em direito corporativo e associado à rede internacional de escritórios independentes
Globalaw. Possui extensão em Corporate Law na Georgetown University e na PUC-SP.
Foi presidente da Federação Interamericana de Advogados. É presidente da Comissão
Permanente de Estudos de Direitos dos Minoritários do Iasp e membro do Conselho de
Administração da Globalaw.
CRISTIANA PEREIRA
Sócia fundadora da consultoria ACE Governance, especializada em governança e mer-
cado de capitais. Possui graduação em economia pela Unicamp, mestrado em economia
pela Fundaçào Getulio Vargas e MBA pela Harvard Business School. Tem experiên-
cia de mais de vinte anos na área de mercado de capitais, tendo sido diretora da B3.
Conduziu o desenvolvimento do serviço de voto a distância e é conselheira do Cesar –
Instituto de Inovação do Recife.
FERNANDO GOES
Atuou por mais de vinte anos como executivo no Citibank, Burson-Marsteller e BankBoston,
neste último como diretor estatutário. É sócio-proprietário da Delos Ventures e da Ockam
Consulting e atua como advisor, coach, consultor e investidor anjo. Possui certificados
de educação executiva nas universidades de Columbia, FDC, Harvard, Wharton, Rotman
sob r e os a u tores 259
JACQUES MARCOVITCH
Professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da
Universidade de São Paulo. Dedica-se ao estudo do pioneirismo e da inovação e seus
efeitos no crescimento econômico, na inclusão social e na sustentabilidade ambiental.
Atualmente é membro do conselho deliberativo da Biblioteca Brasiliana Guita e José
Mindlin e do conselho superior do Graduate Institute of International and Development
Studies (IHEID) em Genebra (Suíça). É autor de vários artigos e livros, entre os quais a
trilogia Pioneiros & Empreendedores: A Saga do Desenvolvimento no Brasil.
260 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
MARCEL FUKAYAMA
Empreendedor social e cofundador da Din4mo, empresa B certificada com o objetivo
de fortalecer empreendedores que resolvem problemas sociais. Cofundador e diretor-
-executivo do Sistema B Brasil e uma das lideranças do movimento global que busca
redefinir sucesso na economia. Formado em administração de empresas, com MBA e
mestrado em administração pública (LSE). Reconhecido como um dos jovens da lista
Forbes Abaixo de 30, apontado como um dos dez CEOs mais inspiradores do Brasil
pela GQ Magazine e escolhido um dos doze jovens líderes globais pela Skoll Foundation
e MasterCard Foundation. Empreendedor cívico pela Raps e membro do Comitê de
Investimentos do Instituto C&A.
MARCOS GRASSO
Graduado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas e com forma-
ção em executive coaching na Columbia University. Líder da Eurazeo para América do
Sul, sócio da M2G Advisors, membro do conselho da Cacau Show, Tok Stok, Iberchem
e Instituto Akatu e mentor da Endeavor. Entre 1986 e 2013, atuou no Brasil, Estados
Unidos, Indonésia, Portugal e Colômbia em empresas como Warner-Lambert, Pfizer,
Cadbury e Mondelez/Kraft Foods, onde foi diretor-presidente para o Brasil (2010/2013).
Foi conselheiro da BRF, C&A Brasil, Condor e Kraft/Sadia Cheese JV.
sob r e os a u tores 261
MÔNICA PIRES
CFO and COO do Laboratório de Pesquisa da IBM Brasil. Conselheira de administra-
ção certificada pelo IBGC. Vice-coordenadora da Comissão de Inovação do IBGC. Vice-
-presidente do Comitê Estratégico de Finanças da Amcham-SP. Atua como advisory board
member do Instituto Techmail e da Verbo Comunicação Agência de Publicidade. Graduada
em ciências contábeis pela URFJ e direito pela Universidade Candido Mendes, com mes-
trado pela Coppead-UFRJ, MBA pela FDC, pós-MBA pela Kellogg School of Management
e diversos cursos de liderança e especialização em universidades internacionais reno-
madas, tais como, Harvard Business School, Singularity University e Thunderbird School
of Global Management.
REGINA MAGALHÃES
Diretora de inovação e sustentabilidade da Schneider Electric para América do Sul. PhD
em ciência ambiental pela USP, com educação executiva em finanças pelo Insper, valor
compatilhado pela FSG e gestão de fornecedores pelo MIT.
ROBERTO S. WAACK
Presidente da Fundação Renova, organização responsável pelas ações de reparação
e compensação do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana. Fundador da
Amata SA. Membro do conselho de administração da Amata, IBGC, Instituto Ethos,
Funbio, WWF, ISE Bovespa, no Brasil, e, dos conselhos internacionais do FSC (Forest
Stewardship Council) e GRI (Global Reporting Initiative). Foi presidente da Amata, Orsa
Florestal e executivo de empresas farmacêuticas. Biólogo e mestre em administração
de empresas pela FEA-USP.
262 g o v e rn an ça corporat iva e inovação: t endênci a s e ref l ex ões
THOMAS CLARKE
Thomas Clarke is professor of management at UTS Business School at the University of
Technology Sydney. Formerly he was director of the Key University Strength UTS Centre
for Corporate Governance, chair of the Academic Board at UTS, and a member of the
University Council. He was DBM professor of corporate governance at Leeds Business
School, and professor of management at China Europe International Business School
(CEIBS) in Shanghai. He has held visiting professorships at the University of Paris, ESC
Lille, University of Geneva, FGV Business School, UAM Business School, and a Nuffield
Foundation Visiting Research Fellowship at the University of Warwick.
PAULO D. VILLARES
presidente do conselho de administração do
IBGC entre 2001 e 2004