Você está na página 1de 9

Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 9

29/05/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.861 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


REQTE.(S) : PARTIDO DA REPÚBLICA - PR
ADV.(A/S) : WLADIMIR SERGIO REALE
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS PERITOS CRIMINAIS DO ESTADO
DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : DESIRÉE SÉPE DE MARCO

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Constituição, art. 140, § 8º, e


Lei Complementar 756/1994 do Estado de São Paulo, que dispõem sobre a
Superintendência de Polícia Técnico-científica. 3. As Constituições
Estaduais podem criar órgãos ou entidades que desempenhem funções
auxiliares às atividades policiais, sem atribuições de segurança pública.
Precedentes. 4. Ação direta de inconstitucionalidade julgada
improcedente.
AC ÓRDÃ O
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do
Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, sob a presidência do
Senhor Ministro Dias Toffoli, na conformidade da ata de julgamento e das
notas taquigráficas, por unanimidade de votos, por unanimidade, julgar
improcedente o pedido formulação na ação direta , nos termos do voto do
Relator.
Brasília, Sessão Virtual de 22 a 28 de maio de 2020.
Ministro GILMAR MENDES
Relator
Documento assinado digitalmente

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 6D15-A52F-C9A9-F0DB e senha 8973-E068-1010-7F5E
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 2 de 9

29/05/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.861 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. GILMAR MENDES


REQTE.(S) : PARTIDO DA REPÚBLICA - PR
ADV.(A/S) : WLADIMIR SERGIO REALE
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS PERITOS CRIMINAIS DO ESTADO
DE SÃO PAULO
ADV.(A/S) : DESIRÉE SÉPE DE MARCO

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): Trata-se de ação


direta de inconstitucionalidade, com pedido de medida cautelar, proposta
pelo Partido Liberal contra dispositivos da Constituição do Estado de São
Paulo e contra a Lei Complementar 756, de 27 de junho de 1994, do
mesmo Estado, que dispõem sobre a Superintendência da Polícia Técnico-
científica.
Os atos impugnados possuem a seguinte redação:

Constituição do Estado de São Paulo, artigo 140:


“Artigo 140 - À Polícia Civil, órgão permanente, dirigida
por delegados de polícia de carreira, bacharéis em Direito,
incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares. (NÃO IMPUGNADO)
(...)
§ 5º - Lei específica definirá a organização, funcionamento
e atribuições da Superintendência da Polícia Técnico-Científica,
que será dirigida, alternadamente, por perito criminal e médico
legista, sendo integrada pelos seguintes órgãos:
1 - Instituto de Criminalística;

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7D07-A358-60BF-7EDC e senha 379B-D84A-6CCF-9A5C
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 3 de 9

ADI 2861 / SP

2 - Instituto Médico Legal”.

Lei Complementar 756/1994:


“Organiza a Superintendência da Polícia Técnico-
Científica e dá outras providências correlatas.
Artigo 1º - A Superintendência da Polícia Técnico-
Científica, prevista no § 5º do artigo 140 da Constituição do
Estado, órgão técnico-científico auxiliar da atividade de polícia
judiciária e do sistema judiciário, responsável pelas perícias
criminalísticas e médico-legais, tem a seguinte estrutura:
I - Gabinete do Superintendente;
II - Instituto de Criminalística;
III - Instituto Médico-Legal;
IV - Divisão de Administração.
Artigo 2º - A Superintendência da Polícia Técnico-
Científica tem por finalidade:
I - coordenar e supervisionar os trabalhos de pesquisas
nos campos da Criminalística e da Medicina Legal;
II - proceder a estudos técnicos no âmbito de suas
atividades específicas;
III - prestar orientação técnica às unidades subordinadas;
IV - manter intercâmbio com entidades ligadas às áreas
científicas correspondentes;
V - exercer as atividades inerentes aos sistemas de
administração geral;
VI - zelar pela regularidade das atividades exercidas nas
unidades subordinadas.
Artigo 3º - A Superintendência da Polícia Técnico-
Científica será dirigida, alternadamente, por perito criminal e
por médico legista, dentre integrantes da última classe das
respectivas carreiras.
Artigo 4º - A direção do Instituto Médico-Legal e do
Instituto de Criminalística e privativa dos integrantes da ultima
classe das carreiras de Médico Legista e Perito Criminal,
respectivamente.
Artigo 5º - A estrutura organizacional, as atribuições do

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7D07-A358-60BF-7EDC e senha 379B-D84A-6CCF-9A5C
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 4 de 9

ADI 2861 / SP

Gabinete do Superintendente, do Instituto Médico-Legal, do


Instituto de Criminalística e da Divisão de Administração, bem
como as competências dos seus dirigentes serão definidas em
decreto a ser expedido no prazo de 90 (noventa) dias, contados
da data da publicação desta lei complementar.
Artigo 6º – Vetado.
Artigo 7º - As despesas decorrentes da aplicação desta lei
complementar onerarão as dotações próprias do orçamento,
suplementadas se necessário.
Artigo 8º - Esta lei complementar e sua disposição
transitória entrarão em vigor na data de sua publicação.
Disposição Transitória
Artigo único - Até a data da publicação do decreto a que
se refere o artigo 5º, ficam mantidas as disposições previstas nos
artigos 3º e 4º do Decreto 6.919/1975 e 33.013/1991”.

Aponta-se violação aos artigos 2º; 26; 61, § 1º, II, alíneas a, c e e; 84,
VI; 144, I a V, § 4º, da Constituição Federal e 11 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias.
Em suas razões, o autor alega que a Constituição Estadual não
poderia criar novo órgão de segurança pública, em acréscimo aos
previstos no art. 144 da CF.
Afirma também que seria de iniciativa privativa do Chefe do
Executivo a propositura de norma de criação de órgão administrativo.
(eDOC 2, p. 8)
Requer a suspensão liminar da eficácia dos atos impugnados e, ao
final, a declaração de sua inconstitucionalidade.
O relator originário, Min. Sydney Sanches, adotou o rito do art. 12 da
Lei 9.868/1999 e solicitou informações. (eDOC 2, p. 114)
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em suas
informações, alega que os atos impugnados não criariam novo órgão ou
corporação policial, mas simples especialização da Polícia Judiciária, e
que a LC 756/1994 teria sido proposta pelo Governador do Estado. (eDOC
3, p. 12)
O Governador do Estado de São Paulo, em suas informações,

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7D07-A358-60BF-7EDC e senha 379B-D84A-6CCF-9A5C
Supremo Tribunal Federal
Relatório

Inteiro Teor do Acórdão - Página 5 de 9

ADI 2861 / SP

também nega uma desvinculação da Superintendência de Polícia Técnico-


científica frente à Polícia Civil, e encarece a autonomia dos institutos de
criminalística e médico-legais, a fim de assegurar a efetiva imparcialidade
da prova pericial. (eDOC 3, p. 26)
O Advogado-Geral da União manifesta-se pela improcedência do
pedido, por não vislumbrar incompatibilidade entre os atos impugnados
e as indigitadas normas constitucionais. (eDOC 3, p. 37)
O Procurador-Geral da República também opina pela improcedência
do pedido. (eDOC 3, p. 42)
O requerente comunica a alteração de sua denominação para Partido
da República. (eDOC 5, p. 2)
Deferi o ingresso nos autos (eDOC 6), como amici curiae, do Sindicato
dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo – Sinpcresp, que se somou
aos que entendem pela improcedência do pedido. (eDOC 3, p. 9)
O Governador e a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
confirmam a vigência dos atos impugnados, informando que o
dispositivo constitucional foi renumerado de parágrafo quinto para
parágrafo oitavo do artigo 140. (eDOC 18)
É o relatório.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 7D07-A358-60BF-7EDC e senha 379B-D84A-6CCF-9A5C
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 6 de 9

29/05/2020 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.861 SÃO PAULO

VOTO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES (RELATOR): Inicialmente,


confirmo a regularidade dos requisitos de admissibilidade desta ação
direta: o autor apresentou, juntamente com a petição inicial, cópia da
norma impugnada (eDOC 2, p. 31/2) e procuração com poderes
específicos para a propositura da ação. (eDOC 2, p. 26)
Conheço, portanto, da presente ação direta de inconstitucionalidade,
e, estando ela devidamente instruída e em plenas condições de
julgamento definitivo, passo ao exame de seu mérito.
A discussão posta na presente ação cuida da possibilidade de o
Estado membro estruturar uma Superintendência de Polícia Técnico-
científica, ao lado da Polícia Civil do Estado.
Não me parece haver impedimento constitucional para tanto.
Embora a Constituição Paulista tenha dado envergadura supralegal
à Superintendência, não a elencou como órgão de segurança pública. A
Lei Complementar também não o faz nem contempla atribuições típicas
de tal função.
A jurisprudência deste Tribunal nunca censurou a criação de órgãos
autônomos para o apoio à polícia judiciária, como a realização de perícias
médico-legais; apenas a instituição de novos organismos de natureza
policial, para além dos previstos na Constituição Federal, seria
incompatível com a Constituição.
A hipótese é extremamente assemelhada à das ADIs 2.827 e 3.469, de
minha relatoria, na parte em que foi negado o pedido. No voto condutor
da segunda delas, escrevi:

“A inclusão do Instituto-Geral de Perícia no rol dos órgãos


aos quais compete a segurança pública não se compatibiliza,
portanto, com os preceitos da Constituição de República. Nada
impede, todavia, que referido instituto continue a existir e a

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código BF77-1F00-32B4-6D5F e senha 1A65-DA6C-AB5C-09E0
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 7 de 9

ADI 2861 / SP

desempenhar suas funções no Estado de Santa Catarina.


De fato, conforme já salientado por essa Corte, os
princípios da unidade e da indivisibilidade,
constitucionalmente previstos como princípios institucionais do
Ministério Público, não são aplicados às instituições policiais. É
o que se depreende do seguinte julgado:

‘MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. ADEPOL.
LEGITIMIDADE AD CAUSAM. SEGURANÇA PÚBLICA.
COORDENADORIA GERAL DE PERÍCIAS. 1. A ADEPOL
tem legitimidade ad causam para propor ação direta de
inconstitucionalidade. O que caracteriza uma entidade de
classe de âmbito nacional são as aspirações comuns de
seus associados, os interesses próprios e a
transregionalização. 2. Não sendo apanágios da Polícia
Civil e da Militar os princípios da unidade e da
indivisibilidade, inexiste relevância jurídica suficiente
para a suspensão do dispositivo constitucional que inclui a
Coordenadoria Geral de Perícias entre os órgãos da
Segurança Pública do Estado. Medida cautelar indeferida’.
(ADI-MC-MC 146, rel. Min. Maurício Corrêa, DJ
19.12.2001)

Por isso, mesmo que desempenhe funções auxiliares às


atividades policiais, o Instituto-Geral de Perícia não precisa,
necessariamente, estar vinculado à polícia civil”. (p. 15)

Por fim, a gênese da primeira norma atacada na própria Constituição


Estadual e a regulamentação pela segunda norma a partir de proposta do
Chefe do Executivo não permitem a identificação de qualquer vício de
iniciativa na criação do órgão vinculado à polícia judiciária paulista.
Ante o exposto, julgo improcedente a presente ação direta de
inconstitucionalidade.

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código BF77-1F00-32B4-6D5F e senha 1A65-DA6C-AB5C-09E0
Supremo Tribunal Federal
Voto - MIN. GILMAR MENDES

Inteiro Teor do Acórdão - Página 8 de 9

ADI 2861 / SP

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código BF77-1F00-32B4-6D5F e senha 1A65-DA6C-AB5C-09E0
Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 29/05/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 9 de 9

PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 2.861


PROCED. : SÃO PAULO
RELATOR : MIN. GILMAR MENDES
REQTE.(S) : PARTIDO DA REPÚBLICA - PR
ADV.(A/S) : WLADIMIR SERGIO REALE (3803-D/RJ)
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS PERITOS CRIMINAIS DO ESTADO DE SÃO
PAULO
ADV.(A/S) : DESIRÉE SÉPE DE MARCO (82109/SP)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente o


pedido formulação na ação direta, nos termos do voto do Relator.
Falou, pelo interessado Governador do Estado de São Paulo, o Dr.
Paulo Henrique Procópio Florêncio, Procurador do Estado de São
Paulo. Não participou deste julgamento, por motivo de licença
médica, o Ministro Dias Toffoli (Presidente). Plenário, Sessão
Virtual de 22.5.2020 a 28.5.2020.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Celso de


Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen
Lúcia, Luiz Fux, Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin e
Alexandre de Moraes.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código D8CD-D385-03F0-0EEC e senha E27F-C793-102C-8D5C

Você também pode gostar