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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MAURICIO MAXIMINO

A RAZÃO DO DISCURSO DA SUPERAÇÃO E/OU OPOSIÇÃO DO LOGOS AOS


MITOS

NITERÓI
2013
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MAURICIO MAXIMINO

A RAZÃO DO DISCURSO DA SUPERAÇÃO E/OU OPOSIÇÃO DO LOGOS AOS


MITOS

Trabalho Final da disciplina de Epistemologia I,


como requisito para obtenção de aprovação na
disciplina.

Prof. Antônio Serra

NITERÓI
2013
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“Em geral, o que se escreve deve ser fácil de


ler e de pronunciar, o que é o mesmo. Não
se obtém isso em frases com muitas
conjunções, nem nas que são difíceis de
pontuar, tais como as de Heráclito.

É uma dificuldade pontuar as frases de


Heráclito porque não é claro a que termo
uma palavra se refere, se ao que a precede
ou se ao que a segue. “

Aristóteles, Retórica. 1.407b 11-15.


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RESUMO

O presente trabalho resulta das discussões e apontamentos em sala de aula durante


o curso de Epistemologia no qual abordamos o histórico, transformações,
pertinência e comprometimento do homem com as ciências, na busca de seus
questionamentos sobre o que há e o que é, em sua existência.
No intuito de fomentar tal discussão, propomos repensar a relação entre mitos e
logos, num momento histórico onde residem os fundamentos do que hoje
conhecemos como ciência.

Palavras chaves: Filosofia, História, Mitologia, Discurso, Ciência.


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ABSTRACT

This work is the result of discussions and notes in class during the course of
Epistemology in which we approach the historic, transformations, relevance and
commitment of sciences to the men, in search of their questions about what there
and what is in existence .
In order to foster such discussion, we propose to rethink the relationship between
myth and logos, at a historical moment in which they live the fundamentals of what
we know as science.

Key words: Philosophy, History, Mythology, Speech, Science.


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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO
7

2. DESENVOLVIMENTO
8

3. CONCLUSÃO
10

4. REFERÊNCIAS 11
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INTRODUÇÃO

Quando analisamos a história da Filosofia, podemos identificar diversas


modalidades discursivas na atividade filosófica; especialmente formas de organizar a
linguagem que, de tempos em tempos, eram substituídas, se modificavam ou
chegavam até a contemporaneidade com novas características. Apesar das origens
espaciais serem igualmente diversas, esses documentos guardavam em suas
formas um modo de escrita em comum e essas “familiaridades” permitiram a criação
de nomenclaturas, classificações, fundando o que hoje chamamos de gênero
textual.

Ainda em nossa análise, percebemos que o gênero textual está ligado ao


momento histórico da sociedade em que o autor está inserido e que esta é influência
fundamental para a forma do filósofo se manifestar, pois ela mesma foi quem o
conduziu (pedagogia) a um específico escrever e pensar filosófico.

Na Grécia antiga identificamos a primeira ruptura: Onde havia o uso


majoritário da poesia por razões de estilo e técnica, especialmente à memorização,
passamos a ter diálogos, em forma de texto, que se assemelhavam às discussões
na Ágora. Procuramos, neste trabalho, questionar a existência da ruptura também
do discurso, da chamada gênese da (busca pela) razão em detrimento da explicação
dos mitos.
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DESENVOLVIMENTO

A origem do cosmo segundo os mitos traz, em forma de símbolos, a


satisfação pela “explicação” do que há. Neste contexto, o que deve ser contado
precisa não apenas dar conta do tangível, mas também das “leis” que regem as
relações entre os homens, tais como os desejos, paixões, moral, etc. Esse caráter
holístico é apresentado de forma poética, na Grécia antiga, para fácil assimilação e
reprodução.

A importância de tais registros ou obras são tão grandes que estas formam a
base da educação grega (Παιδεία). É uma linguagem polissêmica, que não tem
compromisso com a demonstração da experiência através do λόγος (explicação
natural) ou segundo qualquer critério que não a inspiração divina, seguida da
revelação pelos oráculos sobre o que se pergunta.

Contudo, nos séculos VI e V a.C, uma nova realidade se constrói nas


cidades de fala grega, um modo de se relacionar com o outro totalmente sem
precedentes. Novas regiões e seus núcleos surgiam decorrentes do aumento do
comércio e, por conseguinte, oligarquias locais também cresciam. A filia dos gregos
pela discussão foi uma das características que transformaram a sociedade, outrora
pensada conforme os mitos Homéricos, em um arranjo no qual cabia aos homens o
dever e o direito de conduzir os negócios públicos através de uma forma de
discursar.

Com este quadro podemos compreender o surgimento de uma nova


significação para o logos e o aparecimento de uma nova ordem de pensar as coisas.
A linguagem filosófica vem para saciar uma sociedade que não encontra mais nos
mitos respostas aceitáveis para os seus questionamentos.

A filosofia procura “desmistificar” os símbolos presentes na poesia,


questionando a razão daquilo de que se fala. Ao perguntar “o que é” uma coisa, o
discurso já “limita” o tipo de resposta; que somente poderá ter um caráter filosófico.
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Assim, essas novas palavras semeiam uma nova linguagem e, por conseguinte, um
novo discurso sobre o que há.

Apesar de mostrar-se tão distinta da poesia mítica, a filosofia, em seu início,


se nutria, dos temas e estruturas poéticas. A contribuição poética para a filosofia
estava na busca das mesmas “leis” (ἀρχή) que os poemas explicam as coisas,
contudo suas respostas estavam firmadas numa outra perspectiva.

O mesmo homem que agora se espanta (θαυμα), outrora gloriava os deuses


pelo que há. Ao deixar os mitos, o homem passa registrar, posteriormente em
grandes tratados, o que seus predecessores chamavam de physis, como se
pudessem dar conta de “transcrever” todas as ‘coisas’ da natureza.

Thomas Kuhn, em A Estrutura das Revoluções Científicas, diz que a


mudança de um paradigma para outro não ocorre porque um paradigma é melhor do
que o anterior, mas sim porque as questões que permanecem já não são mais
respondidas pela forma vigente de pensar. Ou seja, um acontecimento na história
muda a compreensão da sociedade sobre algo e assim uma crise surge na filosofia
e nas ciências. Ainda segundo Kuhn, a ciência se desenvolve conforme as fases a
seguir: Estabelecimento de um paradigma. Ciência normal. Crise. Ciência
Extraordinária. Revolução científica. Estabelecimento de um novo paradigma.

Por esta razão, entendemos que apesar de não se tratar de ciência, o caso
na Grécia Antiga é facilmente absorvido pela teoria de Kuhn quando acrescentamos
uma análise histórica, sendo assim, é coerente dizer que o que muda naquela
“revolução” é a hegemonia do discurso e não um discurso sobre o outro. Os mitos
permanecem, porém nomeados de forma diferente, adaptados à nova forma de
crença vigente, que será conhecida como ciência.
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CONCLUSÃO

No período histórico posterior ao tratado acima, Era Medieval, escritos


semelhantes a uma legislação, que talvez resgatem Moisés e os Dez Mandamentos,
se apropriaram da Metafísica Aristotélica para fundamentar doutrinas cristãs na
forma de leis da razão. Algo facilmente e fortemente criticado, pois justificou por
décadas a imposição de dogmas da Igreja travestidos de discurso racional. Já na
virada do século XIX para o XX, os aforismos de Nietzsche, textos curtos de
máximas polissêmicas, marcaram um período onde a dedicação à busca da
“verdade filosófica” alethea já não encontra razões para sua manutenção; vide a
força do ceticismo e relativismo em ascensão neste momento, além disso, há uma
nova relação do homem com o tempo devido os avanços tecnológicos que se
seguiram e que “aceleraram” a sociedade.

Todos esses momentos são passíveis da interpretação e de identificação


dos sintomas históricos e sociais que pavimentaram a hegemonia de um discurso
em detrimento do outro. O que então, na Grécia antiga, pode ter manipulado e
alicerçado a razão como o “modo natural” do homem de se perguntar e obter suas
respostas? E o mais importante, para qual finalidade? Haveria algo exterior aos
homens que os fizeram abandonar os mitos espontaneamente, ou foi conveniente
que fizessem tal ruptura?

Concluímos sem respostas às questões que nos motivaram a este trabalho,


porém passamos a compreender que a Filosofia excede os próprios Filósofos e que
além disso, estes não tem domínio pleno de suas posições em filosofia. Pois, o que
lhes impulsionam é metalinguístico e a apropriação do seu próprio texto pode não se
dar no período de sua escrita, mas sim quando esta for mais conveniente a um dado
momento histórico.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES. A Política. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. SP: Perspectiva. 1987

COSTA, Alexandre. Heráclito Fragmentos Contextualizados. RJ. Odisseus. 2012

Silva, Mário Júnior. Literatura Antiga. Acesso em 10/12/2013.


http://pt.slideshare.net/mariojunior1000/teoria-da-literatura-4673936

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