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03/11/2016 Assédio 

Moral no Ambiente de Trabalho ­ Monografias/TCC/Teses ­ Conteúdo Jurídico

Assédio Moral no Ambiente de Trabalho
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» Camila Gonçalves de Macedo

INTRODUÇÃO

Nesta  obra,  iremos  tratar,  com  certo  grau  de  detalhes  e  de  profundidade  sobre  assédio  moral.
Somaremos um cuidadoso estudo com base no que ditam os mais renomados autores nacionais e especialistas
mundiais  sobre  a  matéria  de  nossas  vivencias  profissionais,  pautadas  nas  experiências  que  tivemos,
individualmente, quer tenham sido na atuação como servidores e magistrado na Justiça do Trabalho, quer tenham
sido no papel de líderes e liderados.

Num  olhar  para  o  passado,  é  possível  dizer  que  o  assédio  moral  pode  ser  observado  nas  relações
humanas desde os primórdios da História, mas é no milênio e século atuais que ele passou a ser mais examinado
com cuidado e atenção, alem de marcante presença mais efetiva nas leis, doutrinas e jurisprudências em todo o
mundo e, de uma maneira significativa, nos julgados trabalhistas de nosso país.

Modernamente ele é entendido como sendo um modo de coação que se estabelece em qualquer tipo
de  relacionamento  que  se  sustente  na  desigualdade  social  ou  no  poder  autoritário.  Por  isso  é  plenamente
possível sua ocorrência em qualquer relação de trabalho, sendo sua maior incidência verificada nas relações de
emprego.

Na  verdade,  o  assédio  moral  poderá  ser  caracterizado  em  outras  relações  que  não  as  trabalhistas.
Conforme leciona Ribeiro e Silva (2007, p.3),
poderemos vislumbrar o assédio moral em relações familiares (pais, filhos, entre casais,
etc),  em  relações  educacionais  (professor/diretor  e  alunos)  e  em  outras  que  possibilitem
certa verticalidade entre seus participantes.
Nesse contexto, este estudo visa a analisar, no âmbito de uma percepção histórica e, especialmente,
após  o  advento  da  Emenda  Constitucional  n.  45,  os  liames  do  reconhecimento  da  existência  do  assédio  moral
nas relações de trabalho, contextualizando os desafios que se apresentam na aferição do dano moral decorrente.

Em que pese ainda não haver no Brasil uma legislação trabalhista específica a respeito do tema, a não
ser  alguns  projetos  que  tramitam  no  Congresso  Nacional  e  algumas  leis  municipais  e  estaduais  voltadas
especificamente  para  os  servidores  públicos,  pelo  menos  até  a  conclusão  desta  obra,  sua  prática  ofende
princípios  norteadores  do  ordenamento  jurídico  pátrio,  com  destaque,  por  exemplo,  à  proteção  à  dignidade  da
pessoa humana.

Sendo o assédio moral, como define com toda a propriedade Hirigoyen (2005, p.17), uma espécie de
violência  perversa  que  se  caracteriza  por  sua  repetição  ou  sistematização  contra  a  dignidade  ou  integridade
psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho, sua aferição pelo
Judiciário Trabalhista acaba por enfrentar dificuldades próprias de uma violência ainda pouco compreendida em
suas facetas e de difícil prova.

Além  de  se  verem  vítimas  de  uma  agressão  destruidora  para  a  defesa  de  seus  direitos,  os
trabalhadores atingidos iniciam outra luta, tão dura quanto a anterior: convencer o Poder Judiciário de que foram
maltratados no local de trabalho e de que fazem jus a uma reparação trabalhista pelos danos sofridos por assédio
moral. A sutileza do assédio tem levado, em muitos casos, as vítimas dessa espécie de violência a outro tipo de
constrangimento e castigo: o não reconhecimento de seus direitos na Justiça do Trabalho.

Com vista a colaborar com este processo de proliferação do entendimento do que seja essa espécie de
agressão  –  sua  perversão,  gravidade,  implicações,  identificação,  prova  e  valoração  ­  ,iremos  partir  da
contextualização  panorâmica  dessa  espécie  de  violência;  passar  por  sua  caracterização,  classificação  e
conseqüências, e chegar aos liames da aferição do dano moral proveniente da ocorrência da violência destacada.

No âmbito do Judiciário, os magistrados trabalhistas têm enfrentado essa matéria de modo cada vez
mais crescente, e, com certeza, a prova e valoração são dois desafios que precisam ser debatidos com abertura
para  que  a  matéria  possa  ser  aprofundada  em  sua  retórica  e  encontrado  o  campo  de  aperfeiçoamento  na
concretude das leis e da jurisprudência.

Esta  crença  nas  diversas  possibilidades  de  alteração  do  contexto  social,  pelo  pensar  e  debater  a
Justiça,  é  o  combustível  que  nos  impulsionou  a,  pesquisar  e  escrever  sobre  tema  tão  instigante,  com  vista  a
colaborar para que a defesa da dignidade da pessoa humana seja, de alguma maneira, alargada.
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1.    CONCEITO

Antes mesmo de começarmos a discutir o assédio moral propriamente dito, conceituemos o dano moral
na  esfera  trabalhista  de  acordo  com  João  Oreste  Dalazen,  como  “o  agravo  ou  constrangimento  moral  infligido
quer  ao  empregado,  quer  ao  empregador,  mediante  violação  a  direitos  ínsitos  à  personalidade,  como
conseqüência da relação de emprego”.[1]

Embora  o  conceito  se  aplique,  no  geral,  ao  dano  moral,  é  sempre  válida  a  sua  recordação.  E,  como
tratamos aqui, especificamente, do assédio moral, é claro que falamos do dano cometido contra o empregado, e
não em face do empregador.

De início, os doutrinadores defendiam o conceito de assédio moral como
a situação em que uma pessoa ou grupo de pessoas exercem uma violência psicológica
extrema,  de  forma  sistemática  e  freqüente  (em  média  uma  vez  por  semana)  e  durante  um
tempo  prolongado  (em  torno  de  uns  6  meses),  sobre  outra  pessoa,  a  respeito  da  qual
mantém uma relação assimétrica de poder no local de trabalho, com o objetivo de destruir as
redes  de  comunicação  da  vítima,  destruir  sua  reputação,  perturbar  o  exercício  de  seus
trabalhos  e  conseguir,  finalmente,  que  essa  pessoa  acabe  deixando  o  emprego  (cf.  Heinz
Leymann,  médico  alemão  e  pesquisador  na  área  de  psicologia  do  trabalho  na  Suécia,
falecido em 1999).
O  referido  conceito  é  criticado  por  alguns  doutrinadores  por  ser  muito  rigoroso.  Principalmente  por
exigir determinado lapso temporal mínimo (cerca de seis meses) para a configuração de mencionada espécie de
assédio.  E  as  críticas  possuem  certa  razão,  pois,  para  determinados  casos  de  assédio  moral,  é  tamanha  sua
gravidade e repetição diária, que apenas alguns dias ou atos já poderiam caracterizá­los.

Para  alguns  dicionários,  o  assédio  (não  precisa  ser  necessariamente  o  moral)  é  a  insistência
inoportuna, junto de alguém, com perguntas, propostas, pretensões, ações, pedidos, etc.

Pioneiro no assunto e há pouco citado, Heinz Leymann[2], conceitua o assédio moral como sendo
a  deliberada  degradação  das  condições  de  trabalho  através  do  estabelecimento  de
comunicações não éticas (abusivas), que se caracterizam pela repetição, por longo tempo,
de um comportamento hostil de um superior ou colega(s) contra um indivíduo que apresenta
como reação, um quadro de miséria física, psicológica e social duradoura.

O jurista Cláudio Armando Couce de Menezes [3] define  assédio  moral  como  “submeter  alguém  sem


trégua a ataques repetidos. O assédio moral requer, portanto, a insistência, repetições, procedimentos, omissões,
atos, palavras, comentários, críticas, piadas”.

Para o magistrado José Ribamar Lima Júnior do TRT do Distrito Federal, o assédio moral nas relações
de trabalho se configura quando o trabalhador é exposto “a constrangimentos perante seus semelhantes, de tal
modo que o sofrimento causado tenha reflexos conhecidos e sabidos por seus pares”.[4]

Também vimos a interessante conceituação pela qual se entende por assédio moral a conduta abusiva
de  empresa  ou  preposto  que  atente,  por  sua  repetição  ou  insistência,  contra  a  integridade  física  ou  mental  do
trabalhador, colocando em risco o seu emprego e/ou degradando o seu ambiente do trabalho.
Por outro lado, o Congresso Social do Reino Unido conceitua o bullying como
um  problema  sério  que  muito  freqüentemente  as  pessoas  pensam  que  seja  um
problema ocasional entre os indivíduos. Mas o bullying é mais do que um ataque ocasional
de  raiva  ou  briguinha.  É  uma  intimidação  regular  e  persistente  que  solapa  a  integridade  e
confiança da vítima do bully. E é freqüentemente aceita ou mesmo encorajada como parte
da cultura da organização.

Para  outros,  ainda,  e  sinteticamente,  o  assédio  moral  caracteriza­se  pela  deliberada  degradação  das
condições de trabalho por meio de atos lesivos à honra dos trabalhadores.

Embora não exista uma definição legal do que seja o assédio moral, a Lei Municipal nº 13.288, do ano
de 2002, de São Paulo/SP, conceitua o assédio moral como
todo  tipo  de  ação,  gesto  ou  palavra  que  atinja,  pela  repetição,  a  auto­estima  e  a
segurança do individuo, fazendo­o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano
ao  ambiente  de  trabalho,  à  evolução  da  carreira  profissional  ou  à  estabilidade  do  vínculo
empregatício  do  funcionário,  tais  como:  marcar  tarefas  com  prazos  impossíveis;  passar
alguém  de  uma  área  de  responsabilidade  para  funções  triviais;  tomar  crédito  de  idéias  de
outros; ignorar ou excluir um funcionário só se dirigindo a ele através de terceiros; sonegar

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informações  de  forma  insistente;  espalhar  rumores  maliciosos;  criticar  com  persistência;
subestimar esforços.

O  Ministro  do  Tribunal  Superior  do  Trabalho,  João  Oreste  Dalazen  explicou  que  o  assédio  moral  se
manifesta “sob distintas facetas, sob distintos perfis, mas o traço essencial é a exposição prolongada e repetitiva
de uma pessoa a situações vexatórias”.

E  ainda  ressalvou  que  uma  situação  isolada  não  pode  ser  caracterizada  como  assédio  moral.  “É
preciso haver uma perseguição sistemática”, observou.

De  acordo  com  o  próprio  Ministro,  humilhações  infringidas  entre  colegas  de  trabalho  podem  ser
caracterizadas como assédio moral, mas são mais raras. A maioria dos casos é de queixas contra assédio morais
impostos por superiores hierárquicos a subordinados, quando aqueles submetem estes a situações de verdadeira
violência psicológica.

Para Alice Monteiro de Barros[5], aquele que assedia busca desestabilizar sua vítima. Consiste em um
processo  continuado,  ou  seja,  um  conjunto  de  atos  e  procedimentos  destinados  a  expor  a  vítima  a  situações
incômodas e humilhantes. De regra, é sutil, pois a agressão aberta permite um revide, desmascara a estratégia
insidiosa do agente provocador.

Daí  a  preferência  pela  comunicação  não  verbal  (suspiros,  erguer  de  ombros,  olhares  de  desprezo,
silêncio,  ignorar  a  existência  do  agente  passivo)  ou  pela  fofoca,  zombaria,  ironias  e  sarcasmos,  de  mais  fácil
negação em caso de reação, pois o perversor, ou assediador, em regra não assume abertamente seus atos.

No  entanto,  o  assédio  também  tem  lugar  através  de  procedimentos  mais  concretos,  como,  dentre
outros:  rigor  excessivo,  confiar  tarefas  inúteis  ou  degradantes,  desqualificação,  críticas  em  público,  isolamento,
inatividade  forçada,  ameaças,  exploração  de  fragilidade  psíquica  e  física,  limitação  ou  coibição  de  qualquer
inovação ou iniciativa do trabalhador, obrigação de realizar autocríticas em reuniões públicas, exposição a ridículo
(impor  a  utilização  de  fantasia,  sem  que  isso  guarde  qualquer  relação  com  sua  função;  inclusão  no  rol  de
empregados  de  menor  produtividade);  divulgação  de  doenças  e  problemas  pessoais  de  forma  direta  e/ou
pública...

Quando confrontado, seja por seus superiores, seja em juízo, freqüentemente o assediante de defende
com frases como:

­ “imagine se eu faria isso”;

­ “isso é invenção dela”;

­ “aquilo era apenas uma brincadeira”;

­ “ela sempre compreende as coisas de maneira equivocada”;

­ “essa pessoa deve ter algum problema de compreensão”;

­ “se eu não gostasse dele eu o teria demitido”;

­ “curioso, pois ele nunca reclamou de mim”;

­ “essa sempre foi uma pessoa problemática”; etc.
A  exteriorização  do  harcèlement  moral,  portanto,  ocorre  através  de  gestos;  agressões  verbais;
comportamentos obsessivos e vexatórios; humilhações públicas e privadas; amedrontamento; ironias, sarcasmos;
coações  públicas;  difamações;  exposição  ao  ridículo;  tarefas  degradantes  ou  abaixo  da  capacidade  profissional
(p.  ex.:  servir  cafezinho,  lavar  banheiro,  levar  sapatos  para  engraxar  ou  rebaixar  médico  para  atendente  de
portaria);  sorrisos;  suspiros;  trocadilhos;  jogo  de  palavras  de  cunho  sexista;  indiferença  à  presença  do  outro;
silencio forçado e trabalho superior às forças do empregado, dentre outros.

Ou ainda, “sugestão” imposta ao empregado para ele “peça demissão”; ausência de serviço e tarefas
impossíveis ou de dificílima realização; controle do tempo gasto com o uso de sanitários; divulgação pública de
detalhes íntimos; agressões e ameaças; olhares de ódio e instruções confusas ou mesmo contraditórias.

O estilo específico de agressão varia de acordo com os meios sócio­culturais e profissionais nos quais
estão inseridos os agentes. Nos setores de produção (ou o popular “chão de fábrica”), por exemplo, a violência é
mais  direta,  verbal  ou  física.  São  comuns  as  humilhações  por  xingamentos,  termos  chulos  e  até  mesmo  por
ofensas de caráter sexual.

Quanto  mais  se  analisa  os  patamares  mais  altos  na  hierarquia  de  uma  empresa,  mais  as  agressões
são  sofisticadas,  perversas  e  difíceis  de  se  configurar.  Nesse  ultimo  caso,  são  mais  comuns  as  práticas  de

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assedio  por  constante  mudança  do  setor  de  trabalho,  preterição  em  promoções,  não  repasse  de  atividades
importantes,  disseminação  de  comentários  maldosos,  estimulação  à  competição  desleal  entre  empregados  e
outras.
2.    O ASSÉDIO MORAL NO CONTEXTO HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DE TRABALHO
2.1  UM OLHAR PARA O PASSADO

Para compreender o assédio moral da maneira que o percebemos atualmente, precisamos olhar para o
passado  a  fim  de  entender  as  origens  desse  tipo  de  violência,  avaliando  ainda  seu  desenvolvimento  até  o
momento atual.

Não  há  dúvida  de  que  a  violência  está  intimamente  ligada  às  causas  ensejadoras  do  assédio.  A
violência  está  impregnada  na  limitação  humana  diante  do  outro,  do  medo,  do  cansaço,  do  desejo.  A  violência
também é uma forma de se apoderar da situação. Ela é uma das tentativas de garantir o poder e de crescer nele.

No  âmbito  das  relações  laborais,  contudo,  essa  violência  assediadora  está  intimamente  ligada  a
motivações  econômicas.  Ela  pode  garantir  a  manutenção  de  um  emprego  ou  até  um  crescimento  profissional
maior.  Como  não  se  trata  a  principio,  do  assédio  de  uma  questão  passional,  e  sim  de  uma  sórdida  estratégia,
essa espécie de violência escolhe por suas vítimas, normalmente, os menos robustos e protegidos e raramente
atinge os superiormente estruturados

Conforme contextualiza Aguiar (2006, p.22), no Brasil,
o período da escravidão foi marcado por vários tipos de atrocidades em nome de uma
produção  agrícola  intensa,  e  com  inúmeros  efeitos  negativos,  como  as  humilhações,  os
castigos, as mortes, as privações, as separações familiares e as perseguições.

Afirma ainda o autor que, apesar de ter findado a escravidão legal em 1888, ela ainda permaneceu nas
estruturas das relações laborais, de modo que até
os  imigrantes  iniciaram  em  nosso  país  uma  trajetória  parecida  com  a  dos  escravos,
ocupando inclusive, as antigas senzalas (...), tornando­se comum, também, relatos de maus­
tratos, de descumprimento de contratos, de crimes e de assédios, inclusive sexual (AGUIAR,
2006, p.22).

Pontua o autor que o período da industrialização brasileira foi marcado pela precariedade das relações
de trabalho que, desde os
primórdios  da  revolução  industrial,  passando  pelo  seu  segundo  e  terceiro  ciclos  de
desenvolvimento  e  crise,  as  doenças,  mesmo  aquelas  diretamente  causadas  por  processo
de  trabalho,  encontram  resistências  para  serem  reconhecidas  pelo  patrono  e  pelo  Estado
(AGUIAR, 2006, p.54).

Assim,  como  legado  da  exploração  da  mão  de  obra  escrava,  da  extorsão  praticada  contra  os
imigrantes assalariados e da prática abusiva aplicada à classe operária no início da industrialização, as relações
de  trabalho  em  nosso  país  são  impregnadas  pela  idéia  de  que  o  subalterno  é  obrigado  a  se  submeter  a  uma
depreciação  na  sua  condição  de  humano,  aceitando  como  condição  normal  de  trabalho  todo  o  tipo  de  maus­
tratos.

Olhando  o  passado  e  relacionando­o  com  a  conjuntura  atual,  conclui­se  que  a  agressão  física  ao
indivíduo desapareceu com o tempo, mas que, sem dúvida, outras formas de atingir o bem­estar do trabalhador,
só  que  mais  sofisticadas  e  devidamente  adaptadas  à  exploração  do  trabalho  humano  na  contemporaneidade,
transformando  o  local  de  trabalho  num  campo  de  batalha,  repleto  de  armas  sutis  e  perversas,  mais  difíceis  de
serem provadas em uma ação judicial.
2.2  ASPECTOS CONTEMPORÂNEOS

No contexto atual, o assédio moral é um problema social relevante que tem merecido a preocupação
dos médicos e psicólogos do trabalho e que mais recentemente ingressou no mundo jurídico.

Infelizmente,  as  formas  dominantes  de  assédio  surgidas  no  passado  ainda  estão  vivas  nas
organizações atuais e alimentam­se, sobretudo, do imaginário.

Segundo Aguiar (2006, p.71), a prática de humilhações e maus­tratos surge pela herança cultural de
coisificação  do  trabalhador  e  pela  exigência  do  novo  perfil  do  empregado  solicitado  pela  cultura  organizacional:
busca do empregado perfeito não questionador, maleável, polivalente, flexível.

Esta  relação  do  assédio  moral  contemporâneo  com  práticas  históricas  evidencia­se  destacadamente
na seguinte decisão do E. TRT da 14ª Região:
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ASSÉDIO  MORAL  NO  AMBIENTE  DE  TRABALHO.  VIOLENCIA  MORAL  COMPROVADA.


INDENIZAÇAO  DEVIDA.  A  figura  do  assédio  moral  no  ambiente  de  trabalho  é  prática  antiga,  mas  apenas
recentemente  se  reconhece  sua  existência  e  reparação.  É  uma  forma  de  violência  moral,  acima  de  tudo,  um
desrespeito à dignidade da pessoa humana, ao que, restando comprovado o assédio, é devida a indenização.

Recurso  Improvido.  (TRT  14ª  Região.  1ª  Turma  RO  00733.2007.004.14.00­8.  Juíza  Vânia  Maria  da
Rocha Abensur. Publicado em 13 de fev. 2007. Disponível em: http://www.trt14.gov.br. Acesso em: 5 de jun. 2008,
05:32:00).

Na  verdade,  especialistas  concluem  que  a  legitimação  de  atitudes  como  o  assédio  moral  e  a
impunidade para com os agressores passa, necessariamente, nesta ótica, pela interpretação que tentamos dar à
cultura organizacional e pela tendência de considerarmos maus­tratos e práticas de humilhação como elementos
típicos e normais da cultura brasileira.

A  influência  da  cultura  brasileira  no  que  se  refere  ao  assédio  moral  nos  faz  percebê­lo  também  com
motivos  religiosos,  por  resistência  à  organização,  pela  representação  sindical,  pela  oposição  a  atos  de
improbidade e em razão do racismo.

De certo modo, concordamos com aqueles que consideram que o assédio moral nas ultimas décadas
tem se intensificado por conta das atuais exigências impostas às organizações para atingirem o mercado externo
por meio da globalização da economia, especialmente pela prática neoliberalista e em vista das modificações no
modelo  de  gestão.  Todavia,  sabemos  que  a  era  da  globalização  não  criou  o  assédio  moral,  mas  precisamos
registrar que as características da atualidade sofisticaram e tornaram mais perversas as agressões à dignidade
da pessoa humana, à medida que as torna de difícil verificação, combate e prova.

Isso  porque  a  política  neoliberal  alterou  as  relações  interpessoais  atribuindo  um  novo  modelo  de
comportamento  de  tal  configuração,  de  modo  que  os  conflitos  internos,  além  de  mais  sutis,  estão
verdadeiramente  mais  acentuados,  provocando  um  clima  de  instabilidade  entre  os  componentes  do  ambiente
organizacional,  uma  vez  que,  na  ordem  do  dia,  passaram  a  contar  novas  atitudes,  como  produzir,  oferecer
resultados, cumprir metas, de acordo com a resposta do capitalismo à sua crise estrutural.

Molon  (2006)  defende  que  o  contexto  econômico  atual  é  o  motivo  procriador  do  assédio  moral,  visto
que  se  configura  pela  busca  desenfreada  pelo  lucro  sem  precedente  na  Historia:  leis  de  mercado  que  geram
competitividade  exacerbada,  busca  incessante  do  aperfeiçoamento  profissional  e  disciplina  interna  voltada  para
conseguir o máximo de produtividade com o mínimo de dispêndio.

O  autor,  com  muita  propriedade,  nos  lembra  que  tudo  isso  tem  contribuído  para  gerar  certo
distanciamento  entre  as  pessoas  dentro  da  empresa,  um  grau  tamanho  de  impessoalidade  com  a  conseqüente
adoção de procedimentos moralmente reprováveis.

Na mesma direção, Ribeiro Silva (2007, p.1) pontua que a busca  “desenfreada pelo poder, sucesso e
bens  materiais  acabou  por  gerar  uma  sociedade  de  freios  éticos,  onde  o  semelhante  é  visto  apenas  como  um
objeto a ser alcançado”.

Ele observa que cada vez mais cresce a ocorrência do assédio moral no ambiente de trabalho, sendo,
segundo  ele,  motivado  pela  globalização,  pelo  individualismo  exacerbado,  pelo  confronto  entre  empregados,  os
quais atingem uns aos outros para a obtenção ou manutenção de uma vaga no concorrido mercado profissional,
pela  “prevalência  do  lucro  –  como  objetivo  maior  dos  empresários  ­  ,  deixando­se  para  um  segundo  plano  a
dignidade humana do trabalhador, etc.” (RIBEIRO SILVA, 2007, p.84).

Quando se pensa o assédio moral da maneira com que se configura na conjuntura atual, não há como
desvinculá­lo  da  fonte  política  de  cobrança  de  resultado,  elemento  por  si,  propício  à  sua  ocorrência:  que  exige
colaboradores  polivalentes  e  extremamente  adaptáveis  a  todas  as  exigências  do  mercado  e  as  limitações  da
empresa, esperando­se deles constante criatividade e flexibilidade. Exige­se, inclusive, uma produtividade acima
da  capacidade  do  trabalhador,  independentemente  de  sua  capacidade  física  e  intelectual,  especialmente  nos
modelos de gestão conhecidos como “reengenharia” e “qualidade total”.

Nesse ponto, Aguiar (2006, p.35) assinala que a gestão da organização, quando calcada no abuso de
poder ou na omissão diante de comportamentos opressores, cria condições para a proliferação do assédio moral.

Descreve o autor:
Voltada  para  sua  sobrevivência  e  inserida  num  contexto  econômico  que  requer
lucratividade, o resultado, a organização atende mais às necessidades do mercado que às
dos  seus  trabalhadores.  Isso  significa  que  o  grau  de  exigência  do  fator  humano  é  maior
nesse momento de modificações organizacionais (AGUIAR, 2006, p.27).

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O autor lembra que, no âmbito nacional,
o ineditismo dos estudos sobre assédio moral e sua divulgação na imprensa foram os
responsáveis  pela  repercussão  do  tema  no  Brasil,  a  partir  de  Mestrado  de  Margarida
Barreto,  em  22  de  maio  de  2000,  e  da  tradução  do  livro  em  Frances  de  Marie­France,  em
agosto  de  2000,  com  o  titulo  Assédio  Moral:  a  violência  perversa  no  cotidiano  (AGUIAR,
2006, p.24).

Todavia, as decisões judiciais favoráveis ao trabalhador assediado têm se construído, como veremos
no  capítulo  seguinte,  embasadas  em  preceitos  do  Direito  Constitucional,  Civil  e  Trabalhista,  sem  poder  contar
ainda com a lei especifica sobre o assunto. Em que pese a primeira lei brasileira sobre assédio ter sido aprovada
pela  Câmara  Municipal  de  Iracemápolis  (São  Paulo)  de  24  de  abril  de  2000,  sob  o  nº  1.163/2000,  no  Brasil,
diferente  de  outros  países,  ainda  não  há  legislação  federal  a  respeito  do  tema,  ainda  que  já  existam  alguns
projetos de lei em trâmite versando sobre a matéria. Até a presente data, as iniciativas legislativas adotadas por
alguns municípios e Estados brasileiros são voltadas especificamente para os servidores públicos.
2.3  A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PERANTE A TUTELA DO ASSÉDIO MORAL
Ainda é muito modesta a legislação existente no Brasil com o objetivo de prevenir e coibir o assédio
moral  e  punir  o  assediador.  Não  há  ainda,  uma  lei  especifica  de  âmbito  nacional.  Alguns  países  como  França,
Estados  Unidos,  Alemanha,  Itália,  Austrália  e  Suécia,  por  exemplo,  já  têm  em  seu  ordenamento  jurídico
dispositivos visando à redução e à punição dos casos de assédio moral.
O  que  temos  no  Brasil  são  projetos  de  lei  visando  normatizar  a  matéria.  Alem  disso,  diversos
municípios  e  Estados,  já  têm  leis  que  coíbem  o  assédio  moral,  ainda  que  somente  na  seara  da  administração
pública.
No  âmbito  federal,  o  processo  legislativo  já  foi  encetado,  e  pendem  de  aprovação  no  Congresso
Nacional alguns projetos de lei.
No âmbito administrativo, foi proposto, por exemplo, o Projeto de Lei (PL nº 4591/2001) que estabelece
a aplicação de penalidades à prática de assédio moral por parte de servidores públicos da União, das autarquias
e das fundações públicas federais a seus subordinados, alterando a Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990.
Na  esfera  penal,  também  estão  em  trâmite  projetos,  como  o  PL  nº  4.742/2004,  que  versam  sobre  a
criminalização do assédio moral.
No campo especifico do Direito do Trabalho, citamos o PL nº 2.369/2003, do Deputado Mauro Passos,
aguardando parecer da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, que dispõe sobre o assédio moral nas relações
de trabalho.
Em seus primeiros artigos, assim decreta:

Art. 1º É proibido o assédio moral nas relações de trabalho.
Art. 2º Assédio moral consiste no constrangimento do trabalhador por seus superiores hierárquicos ou
colegas, através de atos repetitivos, tendo como objetivo deliberado ou não, ou como efeito, a degradação das
relações de trabalho e que:
I – atente contra sua dignidade ou seus direitos, ou
II – afete sua higidez física ou mental, ou

III – comprometa a sua carreira profissional.
Art.  3º  É  devida  indenização  pelo  empregador  ao  empregado  sujeito  a  assédio  moral,  ressalvado  o
direito de regresso.

§ 1º A indenização por assédio moral tem valor mínimo equivalente a 10 (dez) vezes a remuneração do
empregado, sendo calculada em dobro em caso de reincidência (...)

A  ausência  de  legislação  federal  especifica  sobre  a  questão  não  resulta  na  absoluta  desproteção  ao
empregado assediado.

Nas  suas  decisões,  o  Judiciário  Trabalhista  tem  embasado  as  condenações  pertinentes  ao  assédio
moral trabalhistas em dispositivos constitucionais, de Direito Civil e do Trabalho.
Na Constituição Federal de 1988, denominada Constituição Cidadã, encontramos os fundamentos do
Estado,  que  privilegiam  a  cidadania,  a  dignidade  da  pessoa  humana  e  dos  valores  sociais  do  trabalho  (art.  1º,
incisos II, III e IV).
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Vejamos:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui­se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)

II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
(...)

SILVA  (2005,  p.  136)  explica  que  a  Constituição  Federal  em  seu  artigo  1º,  incisos  III  e  IV,  fornece  a
base  da  tutela  constitucional  em  relação  ao  assédio  moral  no  ambiente  de  trabalho,  em  virtude  de  considerar
como fundamentos da República Federativa do Brasil, dentre outros, a dignidade da pessoa humana e os valores
sociais do trabalho. Este, sem dúvida, é o alicerce sobre o qual se constrói todo o arcabouço jurídico relacionado
à  proteção  contra  o  assédio  moral.  A  partir  desta  premissa,  a  Carta  Magna,  em  diversos  pontos,  poder  ser
aplicada ao fenômeno.

Nesse contexto, o artigo 5º, X, ao estabelecer que são invioláveis a intimidade, à vida privada, a honra
e  a  imagem  das  pessoas,  assegura  o  direito  à  indenização  por  dano  material  ou  moral  decorrente  de  sua
violação.

Vejamos:
Art.  5º  Todos  são  iguais  perante  a  lei,  sem  distinção  de  qualquer  natureza,  garantindo­se  aos
brasileiros  e  aos  estrangeiros  residentes  no  País,  a  inviolabilidade  do  direito  à  vida,  à  liberdade,  à  igualdade,  à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)
V  –  é  assegurado  o  direito  de  resposta,  proporcional  ao  agravo,  além  da  indenização  por  dano
material, moral ou à imagem;

(...)
X  –  são  invioláveis  a  intimidade,  a  vida  privada,  a  honra  e  a  imagem  das  pessoas,  assegurando  o
direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
(...)

Descreve Silva que “basicamente, o assédio moral afeta a dignidade da pessoa humana no tocante à
degradação de sua honra subjetiva e objetiva, aniquilando, ainda, com a imagem da vítima” (SILVA, 2005, p. 136).

Quanto ao inciso V do mesmo artigo constitucional supracitado, diz o autor (SILVA, 2005, p. 136 e 137)
que,  muito  embora  tenha  uma  maior  aplicabilidade  aos  danos  provocados  por  intermédio  da  imprensa,  pode
muito bem ser direcionado a outras hipóteses. No assédio moral, as gestões do ofensor atingem sobremaneira a
imagem da vítima, que se vê em situação de humilhação perante seus companheiros de trabalho, e muitas vezes
perante sua família, seus amigos.
Inclusive alguns julgados relacionam a violência do assédio moral às disposições do art. 7º, XXVIII, o
qual prevê, em caso de acidente de trabalho, a indenização requerente a este, quando incorrer em dolo ou culpa.
1.  DANO MORAL TRABALHISTA. ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. O dano moral trabalhista
é aquele que agride direitos de personalidade, como a intimidade, a vida privada, a honra, a liberdade de
pensamento, do uso do corpo, e, pois, a incolumidade psíquica do empregado, como a infração recorrente
à  obrigação  de  não  lesar  sua  honra  e  boa  fama,  caracterizando  o  assédio  (art.  5º,  V  e  X,  7º  XXVIII,  da
Constituição  da  República,  186  e  927,  caput,  do  Código  Civil).  Pode  recorrer  de  atos  de  quaisquer  das
partes  da  relação  de  trabalho  subordinado  (em  sua  vigência  u  após  seu  termino,  quando  o  ato  lesivo
corresponder a fatos ocorridos no tempo do contrato) e o empregador tem o dever solidário de reparar o
dano  provocado  por  seu  empregado,  preposto  ou  serviçal,  a  outro  empregado  (art.  932,  III,  do  Código
Civil).  2.  HORAS  EXTRAS.  AUSÊNCIA  DO  INTERVALO  INTRAJORNADA.  Provada  a  não­concessão
integral do intervalo intrajornada previsto no art. 71, caput, da CLT, é devida a reparação prevista no § 4º
do artigo citado. (TRT 10ª Região 1ª Turma. RO 00836­2007­018­10­00­2. Juiz Ricardo Alencar Machado.
Publicado  em  25  de  jan.  de  2008.  Disponível  em:  http://www.trt10.jus.br.  Acesso  em:  5  de  jun.  de  2008,
04:45:33.)

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A  aprovação  da  Emenda  Constitucional  nº  45,  de  8/12/2004,  publicada  em  31/12/2004,  com
vigência  imediata,  promoveu  diversas  mudanças  no  Poder  Judiciário,  especialmente  no  que  diz  respeito  à
competência da Justiça do Trabalho, que restou significativamente ampliada. Tornou­se expresso aquilo que já
vinha sendo pacificado pelos Tribunais brasileiros: a Justiça Trabalhista é competente para processar e julgar
as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrente da relação de trabalho.
Com a alteração consolidada, assim passou a dispor o Texto Constitucional:

Art. 114 Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I  –  as  ações  oriundas  da  relação  de  trabalho  abrangidos  os  entes  de  direito  público  externo  da
administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; (...)
A  Ação  Direta  de  Inconstitucionalidade  nº  3.395/2005  concedeu  medida  cautelar  com  efeito  ex
tuncpara  dar  interpretação  conforme  a  Constituição  Federal,  suspendendo  ad  referendum,  toda  e  qualquer
interpretação dada ao inciso I do art. 114 da Constituição Federal que inclua, na competência da Justiça do
Trabalho,  a  apreciação  de  causas  que  sejam  instauradas  entre  o  Poder  Público  e  seus  servidores,  a  típica
relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico­administrativo.

A  mesma  interpretação  dada  pela  liminar  concedida  pelo  STF  está  sendo  aplicada  aos  demais
incisos,  excluindo  da  Justiça  do  Trabalho  qualquer  causa  que  envolva  o  Poder  Público  e  seus  servidores
contratados sob o regime estatutário.
Na esfera civil, a partir da vigência do novo Código Civil Brasileiro, ato ilícito causador de dano a
terceiro, por culpa, foi expressamente estendido à ocorrência de dano moral.

O artigo 12 do Código Civil traz o principio da prevenção e da reparação integral nos casos de lesão
a direitos da personalidade, assim dispondo:

Pode­se exigir que cesse a ameaça ou a lesão a direito da personalidade, reclamar perdas e danos,
sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Em seu artigo 186, o mesmo Código prevê o dano causado por ato ilícito, sendo este caracterizado
por  qualquer  ação  ou  omissão,  voluntária,  negligente,  negligente  ou  imprudente,  que  seja  capaz  de  causar
dano a terceiro, mesmo que somente moral. Ato ilícito, comete ainda, aquele que excede os limites impostos
pelo fim econômico ou social, pela boa­fé ou bons costumes do seu direito.

Assim, o artigo 186 do Código Civil estabelece que a responsabilidade de indenizar está vinculada à
apreciação da culpa do agente, nos seguintes termos:

Aquele  que,  por  ação  ou  omissão  voluntária,  negligência  ou  imprudência,  violar  direito  e  causar
dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Estende o conceito de ato ilícito o artigo 187, do mesmo diploma:
Também  comete  ato  ilícito  o  titula  de  um  direito  que,  ao  excedê­lo,  excede  manifestamente  os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa­fé ou pelos bons costumes.

Já o artigo 927 do Código Civil vigente impõe a obrigação de reparação de do dano percebido pelo
consentimento do ato ilícito por aquele que o cometeu.

Portanto,  entende­se  estar  mais  que  demonstrado  que,  quando  identificado  o  dano  causado  à
vítima decorrente do assédio moral, não há argumento para que seu agente se furte à obrigação de indenizar,
independentemente da teoria da responsabilidade adotada.

Art. 927 Aquele que, por ato ilícito (arts. 187 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará­
lo.

Parágrafo  único.  Haverá  obrigação  de  reparar  o  dano,  independentemente  da  culpa,  nos  casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.

Este dispositivo, além de reger os efeitos jurídicos dos casos previstos artigos 186 e 187 do Código
Civil  de  2002,  ao  impor  o  dever  de  reparação  do  dano  por  ato  ilícito  tendo  como  fundamento  a  culpa
(responsabilidade  subjetiva),  também  possibilitou  o  reconhecimento  da  responsabilidade  independentemente
da indagação de culpa (responsabilidade objetiva).
O próprio Código Civil ressalta a figura do empregador quando dispor sobre a reparação civil:

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Art. 932 São também responsáveis pela reparação civil:
(...)

III  –  o  empregador  ou  comitente,  por  seus  empregados,  serviçais  e  prepostos,  no  exercício  do
trabalho que lhes competir, ou em razão dele; (...)
Conforme se observa em termos gerais, a culpa, em lato sensu, foi mantida como requisito para o
direito à indenização, entretanto grande novidade entre o atual Código nos apresenta se trata do art. 933, que
dispensa  a  demonstração  da  culpa  adotando  a  teoria  objetiva  para  essa  espécie  de  ilícito.  Assim,  na
ocorrência de dano praticado por empregados ou prepostos no exercício do trabalho que lhes competir ou por
ocasião deste, o empregador responde independentemente de culpa.
Especificamente, na esfera trabalhista, a CLT, desde 1943 prevê, como motivos de rescisão indireta
(hipótese de rescisão de iniciativa do empregado por culpa do empregador), que podem ser invocadas para
respaldar  eventual  ação  de  indenização  por  assédio  moral  duas  hipóteses  de  falta  grave  do  empregador:
quando  forem  exigidos  serviços  superiores  às  forças  do  empregado,  defesos  por  lei,  contrários  aos  bons
costumes, ou alheios ao contrato (art. 483, alínea “a”), e quando o empregado for tratado pelo empregador ou
por seus superiores com rigor excessivo (art. 483, alínea “b”).
Assim,  pode­se  dizer  que  o  primeiro  diploma  legal  que  tangenciou  o  tema  discutido  foi  a
Consolidação das Leis Trabalhistas, que, nos seus artigos 482, “” e 483, “a”, “b”, “d” e “e”, traça hipóteses de
extinção  contratual  por  justa  causa:  no  primeiro  caso,  do  empregado  que  comete  conduta  abusiva
(assediador); no segundo, daquele que sofre a lesão moral (assediado), in verbis:
Art. 482 Constituem justa causa para rescisão do contrato de trabalho pelo empregador:

(...)
b) incontinência de conduta ou mau procedimento;
(...)

Art.  483  O  empregado  poderá  considerar  rescindido  o  contrato  e  pleitear  a  devida  indenização
quando:
a)    forem  exigidos  serviços  superiores  às  suas  forças,  defesos  por  Lei,  contrários  aos  bons
costumes ou alheios ao contrato;
b)  for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo;
(...)

e)  praticar  o  empregador  ou  seus  prepostos,  contra  ele  ou  pessoas  de  sua  família,  ato  lesivo  da
honra e boa fama;

(...)
Defende Ribeiro Silva (2007, p. 88) que, para que seja combatido com mais propriedade o assédio
moral,  não  basta  o  ressarcimento  dos  danos  morais  sofridos,  mas  é  necessário  que  haja  a  normatização
específica em nosso ordenamento jurídico quanto ao instituto “assédio moral”, bem como a conscientização da
sociedade  quanto  à  importância  da  saúde  do  trabalhador,  que  representa  um  dos  valores  inerentes  à
dignidade da pessoa humana.
2.4  TERMINOLOGIAS QUE VEM SENDO APLICADAS À INCIDÊNCIA DE ASSÉDIO MORAL
O  assédio  moral,  em  culturas  distintas,  vem  recebendo  nomenclaturas  diferentes  e  traz  sutis
diferenças,  sendo  que,  no  Brasil,  tem­se  entendido  como  sendo  uma  espécie  de  violência,  sinônimo  de
“assédio psicológico” e “terror psicológico”.
Vejamos algumas terminologias destacadas:

O mobbing – Do inglês  to  mob,  cuja  tradução  é  maltratar,  perseguir  e  sitiar,  o  termo  foi  utilizado
presumivelmente  pela  primeira  vez  pelo  etnólogo  Konrad  Lorenz,  destacando  a  violência  de  grupos  infantis
dentro das escolas alemãs, especificamente contra determinadas crianças.
Na década de 1980, o psicólogo Hienz Leymann, de origem alemã, erradicado na Suécia, introduziu
o  conceito  mobbing  para  descrever  as  formas  severas  do  assédio  dentro  das  organizações  “em  manobras
hostis freqüentes e repetidas no local de trabalho, visando sistematicamente a mesma pessoa” (HIRIGOYEN,
2005, p. 77).

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Segundo  o  autor,  o  termo  “relaciona­se  mais  a  perseguições  coletivas  e  à  violência  ligada  à


organização,  mas  que  pode  incluir  desvios  que,  progressivamente,  transformam­se  em  violência  física”
(HIRIGOYEN, 2005, p. 78).
O  bullying  –  Do  inglês  to  bully,  que  significa  tratar  com  desumanidade  e  grosseria,  bully  é  uma
pessoa  tirana  que  ataca  os  mais  fracos.  O  vocábulo  bullying,  divulgado  mais  amplamente  a  partir  de  1992,
também começou a ser utilizado para caracterizar o comportamento de grupos infantis ingleses, estendendo­
se a comportamentos similares em outros segmentos, até chegar ao campo do trabalho.

Hirigoyen (2005, p.85) destaca que o termo bullying é mais amplo que o termo mobbing, referindo­
se mais à violência individual do que organizacional: “vai desde chacota e isolamento, até condutas abusivas
com conotações sexuais ou agressões físicas”.

O  harassment  –  Estudado  desde  1976  pelo  psiquiatra  americano  Carroll  Brodsky,  o


termo harassment somente em 1990 foi introduzido e popularizado pelo artigo de Heinz Lumann, nos Estados
Unidos,  caracterizado  como  o  assédio  de  uma  pessoa  contra  a  outra  para  provocá­la,  atormentá­la,  miná­la
(HIRIGOYEN, 2005, p.81).
Os whistleblowes – Referindo­se àquele que acaba perseguido por ser quem “aperta a campainha
ou  que  desfaz  o  estopim”,  o  whistleblowes  são,  na  prática,  “aqueles  que  denunciam  os  problemas  de
funcionamento de um sistema” (HIRIGOYEN, 2005, p.81).
O  ijime  –  Surgido,  como  fenômeno  em  1972,  como  um  instrumento  de  controle  social  e  de
adaptação  dos  trabalhadores  aos  múltiplos  regulamentos  impostos,  da  década  de  1990  ele  passa  a  ser
amplamente relacionado ao ambiente escolar e às pressões psicológicas feitas pelos professores para adaptar
os  alunos  ao  sistema  educativo  japonês,  tornando­se  uma  chaga  social,  com  expressivos  casos  de  suicídio
dos estudantes e de evasão escolar.
Nessa mesma década, no âmbito do trabalho, o ijime dá lugar ao madogiwazoku, uma espécie de
assédio moral mais cruel, que visa a levar o trabalhador mais velho e menos útil para a organização a deixar a
empresa (HIRIGOYEN, 2005, p. 85).
Os pensadores nacionais do assédio moral não vêem necessidade de incorporar tais vocábulos ao
nosso léxico, quando há expressões forasteiras reflete o significado do fenômeno em estudo de maneira mais
eficaz  que  os  designativos  pátrios.  Ao  leigo,  qualquer  das  expressões  citadas  em  português  poder  levar  à
noção, ainda que precária, do instituto examinado – diferentemente do que ocorre com os termos estrangeiros.

Todavia, tais terminologias alienígenas são aventadas reiteradamente pelas decisões pátrias, como
vemos no corpo do seguinte julgado:
ASSÉDIO  MORAL  –  INDENIZAÇAO.  O  assédio  moral,  também  denominado
de  mobbing  ou  bullying,  pode  ser  conceituado  no  âmbito  do  contrato  de  trabalho,  como  a  manipulação
perversa  e  insidiosa  que  atenta  sistematicamente  contra  a  dignidade  ou  integridade  física  ou  psíquica  do
trabalhador, objetivando a sua exposição a situações incomodas e humilhantes, caracterizados pela repetição
de  um  comportamento  hostil  de  um  superior  hierárquico  ou  colega,  ameaçando  o  emprego  da  vítima  ou
degradando  o  seu  ambiente  de  trabalho.  Restando  comprovado  que  a  reclamante  teve  a  sua  honra  violada
pela  má  conduta  de  seu  superior  hierárquico,  sem  qualquer  coibição  por  parte  de  ré,  impõe­se  a
responsabilização desta pelo dano sofrido. (TRT 3ª Região. RO 00969­2007­114­03­00­0. Juiz Márcio Flávio
Salem Vidigal. Publicado em 16 de abr. de 2008. Disponível em: http://www.mg.trt.gov.br.  Acesso  em:  25  de
maio de 2008, 09:00:06).
3.    CARACTERIZAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL

O assédio moral segundo Guedes (2003), pode acontecer em várias esferas do convívio social, em
particular  nos  locais  em  que  haja  competitividade  entre  agressor  e  vítima  ou  em  que  existam  relações
decorrentes  de  hierarquia  em  que  o  superior  hierárquico  fiscaliza,  controla,  regula,  analisa  ou  coordena  os
seus subordinados.
Podem­se  destacar  vários  lugares  passíveis  de  ocorrência  do  assédio  moral.  Os  principais  são
aqueles onde ocorre a relação de trabalho ou emprego; no ambiente familiar, decorrente das relações entre
pais  e  filhos  ou  entre  esposa  e  marido;  em  ambiente  de  estudo,  como  escolas,  cursos  preparatórios  para
concursos, faculdades, etc., ou em qualquer outro ambiente em que haja relações hierárquicas reguladas pela
competitividade.

O  assédio  moral  ocorre,  principalmente,  em  decorrência  de  uma  situação  conflitiva  mal  resolvida,
que ocasiona a prática de uma conduta mal resolvida, por parte do agressor, contra a vítima. Como exemplo,
pode­se  citar  uma  disputa  entre  colegas  de  trabalho,  por  uma  promoção.  Após  a  formalização  do  ato  que

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determina  a  ascensão  profissional  de  um  deles,  o  colega  promovido  pode  perseguir  o  seu  subordinado  ou
vice­versa.

Desse modo, o mobbing no  ambiente de trabalho  ocorre  nas  empresas  que  possuem  um  sistema


organizacional  atrasado,  centradas  no  poder  de  mando  dos  dirigentes,  na  hierarquia  e  na  subordinação  dos
empregados.
É  na mesma empresa  que  o  assédio  mora  aparece  com  mais  freqüência, pois há uma exigência,
muitas  vezes,  exagerada  do  empregador  no  que  tange  à  produção,  à  subordinação  e  aos  horários,  e  ainda
porque esse tipo de organização empresarial incentiva a competitividade entre os empregados.
O  assédio  moral  no  ambiente  de  trabalho  constitui  a  pior  forma  de  estresse  social.  Tal  situação  é
agravada pela majoração dos índices de desemprego ou de subemprego. O empregado que se revoltar contra
essas práticas e pedir demissão ficará um tempo cada vez maior esperando sua recolocação no mercado de
trabalho  ou,  se  conseguir  um  novo  emprego  logo  em  seguida,  fatalmente  seu  salário  será  inferior  àquele
recebido até então. Existe também outra situação bastante comum em que o assédio moral é praticado pelo
empregador, contra o empregado. É a hipótese de o trabalhador estar protegido pela estabilidade no emprego.
Impedido  de  demitir  esse  empregado,  o  empregador,  muitas  vezes,  afasta  de  suas  funções  e  o  confina  em
uma sala, compelindo­o a uma ociosidade constrangedora.

Assim,  se  os  empregados  albergados  pela  estabilidade  não  podem  ser  mandados  embora  sem
justa causa, o empregador, em conluio com os subordinados, ou com os outros colegas, pratica atos de terror
psicológico com o fim de forçar a vítima a pedir demissão, ou para forjar uma justa causa. Tal modalidade de
assédio moral pode ser constatada por meio do depoimento dado ao jornalista Edward (2005, p. 106), com o
seguinte teor:
Tirei licenças a que tinha direito depois de passar por uma separação. Quando voltei ao trabalho,
em  2001,  me  vi  diante  de  uma  perseguição  patrocinada  pela  juíza  titular  da  vara  do  trabalho  onde  eu
trabalhava e pelo diretor da secretaria do fórum. Todo o meu trabalho era questionado de forma arbitrária. O
processo  começou  com  uma  representação  na  corregedoria,  na  qual  alegavam  atraso  de  serviço.  Mas  eu
cumpria os prazos legais. Sofri várias penalidades ­ da extinção de uma gratificação até a remoção para outra
cidade e o afastamento do trabalho. A juíza utilizava meus problemas familiares como álibi para me perseguir.
Chegou a tentar me afastar do meu filho. Depois de dois anos, o Tribunal Superior do Trabalho reconheceu
que eu tinha sido vítima de abuso de autoridade por parte de alguém que devia ser uma guardiã da Justiça.
Fui  reintegrado  ao  trabalho,  mas  nesse  processo  me  tornei  um  homem  doente,  portador  da  Síndrome  de
Burnout  –  uma  doença  causada  pelo  estresse  extremo  no  trabalho.  Continuo  afastado  e  faço  tratamento
psiquiátrico. [6]
Verifica­se que o depoente era alcançado pela estabilidade, por ser funcionário público, e que sua
chefe, por não poder demiti­lo e em razão de não encontrar razoes para retirá­lo de suas funções, assediou­o
até afastá­lo.
Faz­se necessário esclarecer que no assédio moral por terror psicológico oriundo das relações de
trabalho,  ainda  segundo  Guedes  (2003),  existem,  quanto  ao  seu  objeto  caracterizador,  dois  elementos
essenciais à sua manifestação: o abuso do poder e a manipulação perversa.
A  primeira  hipótese  é  facilmente  detectável,  pois  a  pessoa  que  pratica  o  abuso  de  poder  obedece  a
certo  padrão  comportamental.  No  segundo  caso,  o  agressor  pratica  atos  que  vão  ultrapassando  a  barreira  do
razoável e a reprimenda ou a brincadeira de mau­gosto passa a se tornar, gradativamente, assédio moral.
Tais  eventos  ocorrem  de  forma  quase  imperceptível.  Inicialmente,  a  vítima  encara  o  fato  como  uma
simples  brincadeira,  no  entanto,  após  inúmeras  repetições,  a  violência  vai­se  tornando  extremamente  nefasta  à
personalidade  do  sujeito  agredido,  até  que,  quando  se  dá  conta,  já  entrou  em  um  círculo  vicioso  bastante
prejudicial à saúde. Quando a vítima resolve libertar­se de tais vexames, as hostilidades e as brincadeiras de mau
gosto  tornam­se  violência  declarada,  dando  início  a  outra  fase,  na  qual  o  agressor  resolve  liquidar  a  vítima.  A
intenção do agente é isolar a vítima, para que ela, psicologicamente debilitada, deixe de ser um obstáculo às suas
conquistas.

No  entanto,  ressalta­se  que  uma  mesma  atitude  pode  ser  recebida  de  maneiras  diferentes,
dependendo do indivíduo. Há os que têm maior ou menor sensibilidade. A mesma ordem, emanada da mesma
pessoa  a  várias  outras,  será  sentida  com  intensidades  diferentes  por  cada  um  dos  destinatários.  Os  mais
sensíveis  provavelmente  poderão  sentir­se  magoados,  desestimulados  ou  infelizes  de  alguma  maneira,
dependendo da rigidez e da firmeza com que essa ordem for externada. Nota­se que na realidade do contrato de
trabalho a subordinação é essencial (arts. 2º e 3º da CLT). Portanto, não há como evitar que, nessa relação, não
haja a chamada dependência jurídica.

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Conforme  assentado  por  Margarida  Barreto  (2003),  12%  dos  casos  de  assédio  moral  têm  início  com
uma abordagem de cunho sexual frustrada. Embora esse evento ocorra com a mencionada freqüência, não se há
de confundir assédio sexual com o moral, este ultimo, objeto deste estudo.
Isso porque, segundo Benizete de Ramos Medeiros (2004), no assédio sexual, o objetivo do agressor é
dominar a vítima sexualmente e, para tanto, constrange­a mediante ameaças ou chantagens. No caso do assédio
moral é diferente. Os métodos utilizados pelo agressor são outros e o objetivo do domínio é de cunho psicológico
e não sexual.

Leymann apud Nascimento (2004), o primeiro a identificar o assédio moral na Europa, no ano de 1984,
desenvolveu  um  estudo  acerca  do  aludido  fenômeno,  no  qual  elaborou  uma  classificação  bastante  pertinente
sobre  o  tema.  Se  o  assédio  se  der  em  decorrência  da  hierarquia  profissional  entre  vítima  e  agressor,  será
denominado ascendente ou descendente.
O  descendente  é  o  mais  comum  e  ocorre  na  hipótese  de  superiores  hierárquicos  constrangerem  a
vítima,  seu  subordinado,  com  a  finalidade  de  excluí­la  do  convívio  socioprofissional.  Nesse  caso,  não  há  um
motivo único para o assédio, mas ele pode ocorrer em função de discrimação pura e simples, insubordinação, ou
vários outros fatores, conforme o caso.
O ascendente ocorre em situação inversa, ou seja, a vítima é superior hierárquica do agressor. Nesse
caso, o assédio ocorre em função, por exemplo, de um subalterno que se julga merecedor do cargo de chefe ou,
ainda,  de  um  grupo  de  subordinados  que  querem  sabotar  o  novo  chefe,  por  considerá­lo  muito  exigente,  por
exemplo.
Acrescente­se à classificação de Leymann apud Nascimento (2004) o assédio moral entre colegas de
trabalho  que  desempenham  as  mesmas  tarefas  e  detêm  um  cargo  de  mesma  hierarquia  dentro  da  estrutura
organizacional da empresa. Nesse caso, o assédio moral será denominado horizontal. Esse fenômeno pode ser
percebido se colegas de trabalho de mesma hierarquia profissional, motivados por inveja de outrem que recebeu
uma promoção, ou que executa tarefas bastante a contento, discriminam a vítima. Nessa hipótese, a vítima e o
agressor,  buscam  por  meio  da  competição,  uma  posição  de  destaque  no  local  de  trabalho.  É  o  caso  da
competitividade entre agressor e vítima.
Há também o assédio moral misto, que é bastante difícil de acontecer. A vítima é atacada tanto pelos
colegas de mesma linha hierárquica como pelo seu superior ou empregador. Ocorre geralmente em empregos em
que  há  muita  competitividade  interna  e  mal  gerenciamento  de  recursos  humanos,  assim  como  em  locais  de
trabalho onde impera a gestão por estresse e o superior ou patrão imprime um nível elevadíssimo de exigência. A
agressão pode iniciar­se pelo superior hierárquico e alastrar­se pelos colegas da vítima, por receio de represálias
futuras do chefe assediador.
Como asseverado anteriormente, o assédio moral pode ser detectado em ambientes fora do local de
trabalho. Hirigoyen (2000) detectou a ocorrência do assédio moral em vários outros ambientes.
Na vida em sociedade, por exemplo, o assédio moral ocorre em vários espaços diferenciados. Em um
primeiro momento, cumpre elucidar a hipótese de ele suceder na escola. É o caso do professor que desqualifica,
humilha  ou  tiraniza  repetitivamente  determinado  estudante  que  demora  muito  para  entender  determinada
explicação ou que faz perguntas por pertinentes. Há também o caso do aluno que detém certa anomalia física, e
seus colegas, por ele ser diferente, o discriminam e fazem chacota de sua diferença. Ou ainda, quando alunos,
descontentes com a metodologia de ensino de certo professor, ou com as notas dadas por ele, o discriminam.
Tais práticas influenciam bastante o aprendizado do aluno, de tal forma a bloquear­lhe o aprendizado e
fazê­lo  desistir  dos  estudos.  Na  escola  também  pode  dar­se  o  assédio  moral  entre  os  alunos,  decorrente  da
competitividade advinda da seleção de membros mais aptos.
Nesse caso, se o assédio moral for praticado pelo professor contra determinado aluno, é denominado
descendente, se for praticado entre colegas, é denominado horizontal e, se for por alunos, contra o professor, é
ascendente. Ou pode ainda ser misto, se praticado por professor e alunos contra algum outro aluno.
Na vida privada o assédio moral pode ser praticado pelos pais, entre si, outra contra os filhos, ou ainda
dos  filhos  contra  os  pais.  Um  exemplo  seria  o  caso  dos  pais  que  atormentam  os  filhos,  imputando­lhe  castigos
exagerados e humilhações, até destruí­los psicologicamente. Há, também, o conflito de gerações, em que pais e
filhos  se  atormentam  mutuamente.  Nesse  caso,  se  houver  um  exagero,  esse  conflito  pode  culminar  com  o
psicoterror[7].  É  possível  ainda,  que  o  assédio  seja  praticado  por  um  irmão  contra  o  outro,  por  ciúmes,  com  o
intuito de obter mais atenção dos pais. É o caso do assédio moral horizontal.
O assédio moral praticado por um cônjuge contra o outro, por exemplo, é tido como uma mera relação
de  denominação.  A  maioria  dos  casos  de  assédio  moral  entre  casais  se  dá  porque  o  agressor  não  aceita  a

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separação proposta pela vítima e a assedia, não porque tenha apego por ela, mas porque a considera sua presa,
não admitindo perde­la em hipótese alguma, considerando­a propriedade sua, uma conquista que lhe pertence.
O assédio praticado pelo pai, ou pela mãe, contra os filhos ocorre, muitas vezes, por rejeição dos pais,
é o caso, por exemplo, da gravidez inesperada ou indesejada, ou de os pais não terem condições financeiras de
sustentar seus filhos com dignidade.
Outro caso bem menos comum, mas não por isso menos grave, é o de assedio moral praticado pelos
filhos, pouco contentes com a rigidez da educação dos pais, contra estes, com o fim de tentar que essa educação
seja menos rígida. Tem­se nessa hipótese, o assédio moral ascendente.
Portanto,  constata­se  que  a  caracterização  do  assédio  moral  pode  ocorrer  nos  vários  ambientes  da
esfera social, tais como no trabalho, na escola, na vida privada, ou em muitos outros e entre todas as pessoas
que desfrutam desse convívio. Esse fenômeno se dá por intermédio de uma evolução de atos que se inicia com
uma  simples  brincadeira  de  mau  gosto,  passo  por  humilhações  corriqueiras  e  culmina  com  a  violência  real
declarada contra a vítima.
Não  será  aprofundada  a  analise  acerca  do  assédio  moral  nas  diversas  esferas  do  convívio  social
porque o presente estudo objetiva tão somente caracterizar o assédio moral no ambiente de trabalho, razão pela
qual se restringirá ao que foi elucidado até agora.
4.    SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL
4.1  ATIVO. O AGRESSOR

O sujeito ativo do assédio moral é o agressor, aquela pessoa que visa a desestabilizar emocionalmente
outrem para alcançar determinado objetivo. Hirigoyen (2000) traça de uma forma bastante fidedigna, o perfil do
agressor do assédio moral. Para ela, essa pessoa depende da opinião alheia para sobreviver, só pensa em si, e
seu objetivo é satisfazer suas próprias necessidades, à custa de violência psicológica.
Conforme  Barreto  (2003),  que  divulgou  trabalho  de  campo  realizado  com  mais  de  duas  mil  pessoas
entrevistadas, verifica­se que o assédio moral é praticado em 90% dos casos pelo chefe, em 6% por colegas e
pelo  chefe  juntos,  em  2,5%  apenas  por  colegas  e  em  1,5%por  subordinados.  Conforme  essa  mesma  pesquisa
constata­se que sua ocorrência se dá em 50% dos casos varias vezes por semana, 27% uma vez por semana,
14% uma vez por mês e 9% raramente.

Como visto nessa pesquisa, o agressor ostenta diversos perfis, podendo o assédio ser praticado pelo
chefe,  por  subordinados  ou  por  colegas  de  trabalho  de  mesma  hierarquia,  dependendo  de  qual  tipo  está  se
detectando, se ascendente, descendente, horizontal ou misto, e qual a estratégia do agressor envolve repetidos
atos de violência, praticados periodicamente.
No caso do assédio moral ascendente, o agressor é movido pela inveja. Seu objetivo é ter a mesma
vida que a vítima e, para alcançar esse objetivo, ele não poupa esforços. Tal sentimento advém da sensação de
desgosto  por  aqueles  que  detêm  tudo  aquilo  que  lhe  falta  ou  que  simplesmente  sabem  obter  prazeres  nas
pequenas coisas da vida.
Na hipótese de assédio moral descendente, o agressor é um narcisista, um megalômano que se acha
demasiadamente importante, especial, que tem muita necessidade de ser admirado e possui fantasias em que se
vê  rodeado  das  vantagens  auferidas  em  decorrência  do  sucesso  profissional.  Acredita­se  indispensável  e
essencial para a manutenção ou obtenção do sucesso da empresa em que trabalha.

Maquiavel  (2005,  p.  102)  contata  que  “de  todos  os  príncipes,  são  os  mais  novo  no  poder  que  não
podem fugir à reputação de crueldade, já que os novos Estados oferecem sempre muitos perigos”.
Da  leitura  do  texto  acima  transcrito,  pode­se  concluir  que  os  chefes  que  estão  há  menos  tempo  no
poder  têm  a  maior  chance  de  praticar  assédio  moral.  Isso  porque  ostentam  a  necessidade  de  ser  cruéis,  pois
querem afirmar­se como superiores, perante si e terceiros. A contrario senso, os chefes que estão há mais tempo
no  poder  já  estão  acostumados  com  a  rotina  do  cargo,  de  tal  forma  que  lidam  melhor  com  as  obrigações  e  os
afazeres  de  sua  função.  Isso  não  quer  dizer  que  um  chefe  experiente  no  cargo  nunca  praticará  assédio  moral,
mas apenas que as chances, nesse caso, diminuem muito.
Na  modalidade  de  assédio  moral  horizontal,  o  agressor  pode  ser  movido  por  vários  motivos.  Dentre
eles,  podem­se  destacar  a  inveja  de  seu  colega  que  consegue  abstrair  a  felicidade  das  mesmas  coisas  que  o
agressor se julga merecedor; ressentimentos oriundos de brigas entre colegas ou mesmo diferenças ocasionadas
por disputas pela atenção do empregador ou de qualquer outro colega de trabalho.
O perfil do agressor, no caso de assédio moral misto, é um conjunto que engloba os perfis dos outros
três  tipos  de  assédio  moral,  assim,  o  perfil  do  agressor  da  referida  modalidade  de  assédio  moral  prescinde  de
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mais esclarecimentos.

Ainda  de  acordo  com  os  ensinamentos  de  Hirigoyen  (2000),  o  que  se  pode  verificar  em  todas  as
situações  susceptíveis  do  assédio  moral  é  o  fato  de  o  agressor  estar  causando  sofrimento  à  vítima  causa  nele
uma  sensação  de  prazer.  Assim,  quanto  mais  ele  assediar  a  vítima,  melhor  vai  estar  consigo  próprio.  O  ódio
cultivado  pela  vítima  é  tamanho,  que  o  simples  fato  de  causar­lhe  sofrimento  gera  no  agressor  uma  sensação
enorme de bem estar.
Fora  do  ambiente  propicio  para  o  assédio  moral,  o  ambiente  de  trabalho,  normalmente  o  agressor  é
uma  pessoa  agradável,  como  qualquer  outra,  participa  de  reuniões  sociais,  interage  com  os  colegas  e  com  os
subordinados,  inclusive  com  a  própria  vítima,  fazendo  e  recebendo  brincadeiras.  O  agressor  não  detecta
divergências entre ele e a vítima, razão pela qual seu comportamento é exatamente igual ao dos demais.

Às  vezes,  em  decorrência  da  fragilidade  do  relacionamento  construído  entre  o  agressor  e  a  vítima,
aquele, fora do local de trabalho, faz algum tipo de comentário maldoso, dificilmente percebido pelas pessoas em
geral, mas sempre detectado pela vítima como um tipo de provocação. Tudo acontece de uma forma muito sutil.
No entanto, com o retorno ao local de trabalho, as divergências reaparecem, reaparecendo, também, o assédio
moral.
O  agressor  pode  agir  para  satisfazer  um  interesse  pessoal,  para  alcançar  um  objetivo  maior  ou
simplesmente por vaidade para que outras pessoas, os espectadores, visualizem o fato e o admirem. Nesse caso,
os  espectadores  ficam  seduzidos  pelo  agressor,  que  acha  que  a  vítima  sofre  perseguição  por  merecer,  porque
não desempenha a contento suas tarefas.

Conforme  descrito  no  site  Assédio  Moral  no  Ambiente  de  Trabalho[8],  o  agressor  do  assédio  moral
utiliza­se geralmente da seguinte estratégia:
1.  Escolhe a vítima e a isola do grupo;
2.  Impede­a de se expressar sem dar qualquer explicação para isso:
3.  Inferioriza, fragiliza, culpa exageradamente a vítima por erros cometidos, levando, em alguns
casos, esses comentários ao ambiente familiar;
4.  Desestabiliza a vítima, fazendo com que ela, gradativamente, perca o interesse pelo trabalho,
praticamente, obrigando­a a pedir demissão;
5.    Impede  que  as  testemunhas  ajam  de  modo  a  coibir  ou  a  minimizar  o  assédio  por  elas
detectado.
Como  por  exemplo,  pode­se  citar  o  depoimento  dado  ao  jornalista  Edward  (2005,  p.  105),  com  o
seguinte teor:

Em 2004 e 2005, fui moralmente assediada por coordenadores do departamento da universidade onde
trabalhei até o mês passado. Depois de um período de afastamento, encontrei um ambiente hostil. Deram­me um
horário irracional. Em um dia, tinha de trabalhar doze horas ininterruptas. Quase todos os dias recebia ofícios de
advertência, sem que nada tivesse feito de errado.
 Elegi­me para a comissão de prevenção de acidentes e passei a ser ainda mais humilhada. Deram­me
atividades de orientação de estagiários, com a justificativa de que eu não tinha qualificação para dar aulas. Numa
reunião, o coordenador agrediu­me aos berros na frente de colegas e funcionários. Cheguei a ser colocada numa
salinha sem nada para fazer. Nesse processo estressante, adoeci e voltei a sofrer convulsões depois de 24 anos
sem ter esse problema. Também perdi mais da metade da minha renda[9].

Desse  relato,  pode­se  verificar  a  ocorrência  da  maioria  das  etapas  acima  mencionadas.  Primeiro  o
agressor escolheu e isolou a vítima. Depois, impediu­a de se expressar, pois as advertências eram todas dadas
por meio de ofícios e, quando ela tentou compor um órgão que iria prevenir o assédio moral do qual estava sendo
vítima (a CIPA), foi ainda mais assediada. Esse processo implicou uma gradativa inferiorizarão e fragilização da
vítima. O agressor a culpava exageradamente por erros cometidos, desestabilizou­a, colocou­a em uma sala sem
nada para fazer, fazendo com que, gradativamente, perdesse o interesse pelo trabalho. Diante desse estresse, a
vítima não viu outra alternativa senão pedir demissão.

4.2  PASSIVO. A VÍTIMA

O sujeito passivo do assédio moral é a vítima, aquela pessoa que sofre o abuso psicológico. Segundo
Guedes (2003), o agressor não elege aleatoriamente a vítima dentre os empregados da empresa onde trabalha:
ele  a  escolhe  entre  as  pessoas  que  adoecem  mais  facilmente  em  conseqüência  do  trabalho,  aquelas  são
consideradas  velhas  para  ocupar  certos  cargos  ou  dentre  as  que  têm  salários  altos,  comparados  à  media  dos
outros trabalhadores.

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A vítima no ambiente de trabalho, não se revela um empregado desidioso, relapso ou negligente. Ao
contrario, normalmente ela é uma pessoa responsável, que desempenha suas tarefas de uma forma bastante a
contento,  nos  prazos  estabelecidos.  Essa  pessoa  se  tornou  vítima,  não  em  decorrência  de  seu  desempenho
profissional,  mas  principalmente  porque  é  bem­educada,  ingênua,  insegura  e,  em  razão  disso,  não  consegue
defender­se das agressões.
Nesse  sentido,  ela  se  torna  vítima  por  vários  motivos.  Porque  sua  situação  de  trabalho  incomoda
demasiadamente  o  agressor  e,  porquanto  é  pessoa  psicologicamente  frágil  e,  em  razão  disso,  encontra  muita
dificuldade em revidar as agressões.

Estudos e dados estáticos demonstram que as mulheres são as mais assediadas que os homens, Por
questões culturais, elas desabafam mais facilmente com amigos ou colegas, enquanto os homens, constrangidos,
guardam  consigo  a  agressão  sofrida.  Eles  geralmente  mantêm  silêncio,  envergonham­se  e  sentem­se
fracassados, muitas vezes se refugiam no álcool ou em outras drogas.
Outro motivo porque se detecta uma maior numero de vitimas mulheres conforme Barreto upud Edward
(2005, p. 108), em tese de doutorado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), é o fato de que
essa modalidade de violência é precedida, em 12% dos casos, por uma abordagem sexual frustrada.
Hirigoyen  (2000)  tem  o  entendimento  de  que  a  vítima,  por  ser  psicologicamente  frágil,  sucumbe  aos
encantos do agressor e se deixa seduzir por ele, que a manipula e humilha até ela não agüentar mais. A vítima
aceita  passivamente  a  sedução  do  agressor,  encontra­se  atada  ao  seu  jogo,  não  consegue  desvencilhar­se
sozinha, razão pela qual ela atua sufocando­a gradativamente.
As  manobras  do  assediador  reduzem  a  auto­estima  da  vítima,  confundem­na  e  levam­na  a
desacreditar de si própria e a se culpar, sem propósito. A vítima reduz sua produção, a qualidade de seu trabalho
e  o  seu  psicológico  ficam  altamente  comprometidos.  Nesse  sentido,  cumpre  transcrever  o  depoimento  dado  ao
jornalista Edward (2005, p. 108):

A  empresa  em  que  eu  trabalhava  foi  privatizada  e  passei  a  ser  pressionada  a  aderir  a  um  plano  de
demissão voluntaria. Como resisti, fui passada de funções executivas para o preenchimento de formulários. Eu e
outros colegas fomos abandonados num prédio antigo. Sem cadeiras, sentávamos em latões de lixo. No prédio
novo, fomos expostos numa sala de vidro. Eu era chamada de javali – porque não valia mais nada. Até hoje tenho
problemas físicos e psicológicos decorrentes daquela época. [10]
Ainda conforme Hirigoyen (2000), à medida que o assédio se agrava, a vítima se vê obrigada a afastar­
se  do  emprego  temporariamente  em  razão  do  estresse  psíquico  gerado  ou  em  decorrência  de  sintomas
psicossomáticos. Como conseqüência, passa a sofrer de depressão e, conforme o caso, até pensa em suicídio.
Esses constantes afastamentos tornam­se pretextos para o agressor agravar o assédio, pois a vítima passa a ser
vista como o empregado desidioso que falta muito ao emprego.
Dessa forma, verifica­se que o assédio moral vira uma “bola de neve”, ou seja, o assediado em razão
do  estresse  causado  pela  violência  psicológica  começa  a  se  ausentar  do  emprego  faltoso.  A  tendência  é  que
esse  círculo  vicioso  se  agrave  cada  vez  mais  e  só  se  rompa  quando  a  vítima  adoecer  definitivamente  e  se
aposentar por invalidez, pedir demissão, for mandada embora ou ainda, transferida.
Não existe um perfil comportamental característico definido acerca da vítima, mas Huber apud Guedes
(2003)  demonstra  que  quatro  tipos  de  pessoas  correm  o  risco  potencial  de  serem  vítimas  do  assédio  moral,  a
saber:
1.  Uma pessoa sozinha. Uma mulher em um ambiente de trabalho só de homens, por exemplo,
um único enfermeiro, em um hospital só de enfermeiras;
2.    Uma  pessoa  estranha,  cujo  comportamento  se  diferencie  dos  colegas  de  trabalho  ou  que
pertença a uma minoria étnica ou ainda que se expresse ou se vista de modo diferente dos demais. Por
exemplo, um advogado que não se veste com um terno ou que utiliza um vocabulário, tanto escrito, quanto
falado, informal demais para a profissão;
3.    Uma  pessoa  que  faz  sucesso.  O  fato  de  receber  elogios  ou  promoções  desperta  bastante
ciúmes, podendo desencadear o assédio moral;
4.    A  pessoa  nova.  Aquela  que  passa  a  ocupar  um  cargo,  anteriormente  exercido  por  uma
pessoa muito popular, ou que é muito mais jovem do que os seus subordinados;

Essa  mesma  autora  estabeleceu  uma  classificação  dos  tipos  ideais  de  vítimas  do  assédio  moral,  a
saber:
1.  O distraído: aquele que não percebe o que acontece a sua volta;
2.  O prisioneiro: não encontra em si próprio a capacidade de escapar da agressão e procurar
outra alternativa de trabalho. Ele permanece preso ao assédio e se deixa acabar pela violência;
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3.  O paranóico: ele acha que todos querem prejudicá­lo na empresa. São pessoas inseguras;
4.  O severo: é o sistemático. Procura manter suas regras até as ultimas conseqüências. O pior
ocorre quando ele tenta impô­las demais;
5.    O  presunçoso:  ele  se  acha  muito  mais  importante  e  imprescindível  do  que  geralmente  é.
Essa pessoa gera irritabilidade entre os colegas, que acham que ele tenta ocupar o lugar do chefe;
6.    O  passivo  dependente:  espera  o  reconhecimento  de  todos,  por  tudo.  Seu  caráter  servil
desperta a antipatia dos colegas. Geralmente é uma pessoa sensível;
7.    O  brincalhão:  essa  pessoa  pode  tornar­se  vitima  quando  passa  a  ser  o  palhaço  da  turma,
o bobo. Ninguém a leva a sério. Freqüentemente se torna vítima do assédio horizontal.
8.      O  hipocondríaco:  torna­se  vítima  quando  não  suporta  o  peso  do  trabalho,  reclamando
constantemente  de  suas  obrigações  e  de  seus  afazeres.  Provoca  seu  próprio  isolamento  culminando  no
assédio moral.
9.    O  verdadeiro  colega:  pode  ser  vítima  do  mobbing,  em  razão  de  sua  conduta  honesta,
eficiente  e  disponível  ou  em  decorrência  de  seu  senso  de  justiça.  É  dono  de  enorme  franqueza,
denunciando tudo o que acha de errado dentro da empresa. Em razão disso, passa a ser perseguido por
quem foi vítima dessa honestidade;
10.               O ambicioso: aquele que procura fazer sua carreira dentro da empresa prestando
seus  serviços  de  modo  bastante  eficiente.  Agindo  dessa  forma,  ele  ofusca  o  trabalho  dos  demais,
ocasionando muita inimizade;
11.               O seguro de si: uma pessoa que crê em suas capacidades. Pode gerar inveja nos
colegas, podendo ocasionar o assédio moral;
12.               O servil: é o famoso bajulador. Faz de tudo para obter a plena satisfação do chefe.
Tenta agradá­lo de todas as formas, no trabalho ou fora dele. Os colegas, ao perceberem essa manobra,
isolam a vítima e agem com violência psicológica;
13.                              O  bode  expiatório:  é  a  válvula  de  escape.  É  o  membro  mais  fraco,  que
gradativamente se torna o “saco de pancada” dos colegas de trabalho;
14.               O sensível: é uma pessoa egocêntrica, com muita necessidade de reconhecimento.
Uma  mera  crítica  tem  um  efeito  devastador,  fazendo  com  que  ele  seja  vítima  de  assédio  moral  por  uma
conduta muito mais branda que a dos demais casos;
15.               O introvertido: é uma pessoa com enormes dificuldades de relacionamento e, por
conseguinte, sua dificuldade de comunicação pode ser mal interpretada, ocasionando o assédio moral.

Pode­se  concluir,  por  conseguinte,  que  não  há  um  perfil  fixo  para  as  vítimas  de  assédio  moral,  mas
apenas uma serie de características pessoais nas quais podem ser inseridas.

4.3  OS ESPECTADORES

São  as  testemunhas  do  assédio  moral  todas  aquelas  pessoas  que,  de  algum  modo,  o  vivenciam,
participando  dele  direta  ou  indiretamente.  Podem  ser  os  superiores  hierárquicos,  colegas  de  trabalho,
encarregados do departamento de pessoal ou qualquer outra pessoa, desde que participe diretamente do ato
ou observe a ocorrência do assédio moral no ambiente de trabalho.
Conforme  ensina  Guedes  (2003),  a  atuação  dos  espectadores  se  divide  em  três  categorias.  Há  o
individuo que, embora testemunhe o assédio, é indiferente a ele. Há o que, alem de testemunhar o assédio,
contribui para a ação do agressor. E há aquele que, ao testemunhar o assédio, defende a vítima. Esse caso é
denominado espectador inconformista e aqueles outros são os espectadores conformistas.

Os  espectadores  inconformistas  são  aquele  que  não  se  conformam  com  os  atos  de  violência
praticados pelo agressor. Eles procuram o chefe, o departamento de pessoal ou os colegas de trabalho para
mobilizá­los  a  fim  de  impedir  que  o  agressor  permaneça  agredindo  a  vítima.  Muitas  vezes  essas  pessoas
também  sofrem  algum  tipo  de  agressão,  pois  se  tornam  um  obstáculo  para  que  o  agressor  alcance  seus
objetivos.
Os espectadores conformistas são todos aqueles não envolvidos diretamente no evento, mas que
têm sua quota de responsabilidade na medida em que nada fazem para impedir a violência ou muitas vezes
atuam ativamente, favorecendo a ação do agressor.
Os espectadores conformistas passivos são aqueles que se conformam com as agressões e nada
fazem para minimizá­las. Tudo se passa à sua frente e eles fingem que não vêem, que não está acontecendo
nada.  Eles  nunca  sabem  de  nada,  não  ajudam  a  vítima  nem  o  agressor:  eles  simplesmente  deixam  tudo
acontecer.  Sua  responsabilidade  é  enorme,  pois  contribuem  para  a  continuidade  da  violência  contra  essa
vítima e para o aparecimento de novos casos contra outras pessoas.
Os espectadores conformistas ativos são  aquele  que,  indiretamente,  auxiliam  a  ação  perversa  do
agressor.  É  o  co­autor  ou  participe  da  conduta  agressiva.  São  aquelas  pessoas,  por  exemplo,  com

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conhecimentos de informática que se infiltram no computador da vítima para que o agressor modifique alguns
arquivos  ou  obtenha  informações  para  assediá­la.  Não  são  adversários  diretos  da  vítima,  apenas  atuam
indiretamente  a  fim  de  favorecer  a  conduta  do  agressor.  Segundo  Ege  apud  Guedes  (2003),  esse  tipo  de
espectador também é conhecido como aquele que atua ao lado do agressor do assédio moral.

5.    ASSÉDIO MORAL X ASSÉDIO SEXUAL

É  interessante  traçarmos  aqui  um  pequeno  paralelo:  enquanto  o  assédio  sexual  se  caracteriza  pela
coação  a  algum  ato  ou  prática  de  conotação  sexual,  efetuado  por  superior  hierárquico  sob  pena  de  perda  do
emprego  ou  de  não  efetivação  de  promoção  (ou  ainda,  de  outros  argumentos  relativos  ao  sucesso,  ou  não,  da
carreira profissional do assediado), o assédio moral pode se dar mesmo sem que alguma sanção seja cominada.

Naquele  caso,  o  assediado  poderia  perder  o  emprego  ou  deixar  de  ser  promovido.  Neste,  ele  pode,
apenas  (não  que  isso  não  seja  grave,  por  si  só),  ser  humilhado  durante  anos  a  fio,  sem  que  tenha  perdido  o
emprego ou sido prejudicado em eventuais promoções.

Ou seja: no assédio sexual há o elemento da promessa de uma vantagem (lícita ou não) ou a ameaça
de algum prejuízo para compelir alguém a alguma conduta de conotação sexual.
Nesse sentido, citamos a didática ementa a seguir, do Tribunal do Trabalho do Paraná:
TRT­PR­15­7­2008 ASSÉDIO SEXUAL – LEI 10.224/2001 – ARTIGOS 1º, III E 5º, X DA CF – Para a
caracterização do assédio sexual afigura­se imperiosa a ocorrência dos elementos voltados à tentativa de obter
favores  sexuais  da  vítima,  por  superior  hierárquico.  Previsto  como  crime,  por  força  da  Lei  nº  10.224/2001,  que
acrescentou  o  art.216­A  ao  Código  Penal  Brasileiro,  configura  ato  extremamente  danoso,  porquanto,  alem  de
causar constrangimento à vítima, atinge a honra e fere o principio constitucional da dignidade da pessoa humana
(CF,  arts.  1º,  III  e  5º,  X),  tornando  hostil  o  ambiente  de  trabalho.  TRT­PR­06592­2005­012­09­00­7­ACO­25126­
2008­2ª TURMA. Relatora: ROSEMARIE DIEDRICHS PIMPÃO. Publicado no DJPR em 15.7.2008.
Já no assédio moral não há outra motivação que não o rebaixamento moral ou psicológico do ofendido,
visando à sua diminuição como trabalhador e, mesmo, como pessoa.
Outro  detalhe  já  visto  aqui  é  que,  no  assédio  sexual,  o  agente  ativo  deve,  obrigatoriamente,  ser  um
superior  hierárquico  do  agente  passivo  (ou  vítima).  É  necessária  a  chamada  “verticalidade”  na  hierarquia  entre
ofensor/ofendido. Até mesmo, porque há a questão da ascensão ou não na carreira profissional que estaria (ou
poderia estar) em jogo.
No caso do assédio moral, o agente causador pode ocupar posto de mesma ou semelhante hierarquia
dentro da empresa,  não  precisando,  necessariamente,  ser  seu  chefe  ou superior. Aqui, o interesse maior como
vimos, é a própria humilhação imposta ao empregado assediado. Não há um objetivo, em regra, além dele.

Como  veremos  adiante,  alguns  Tribunais  entendem  que  o  assédio  moral  pode  se  dar,  inclusive,  por
grupo de empregados contra seu superior hierárquico, embora na prática, isso seja raro. Até mesmo porque, por
ser  superior  dos  assediantes,  dificilmente  essa  pessoa  se  submeterá  ou  aceitará  alguma  ofensa/humilhação
prolongada ou repetida sem tomar as medidas cabíveis dentro da empresa.
Voltando ao assédio de natureza sexual, não queremos dizer que um empregado, ou empregada, não
possa  ser  assediado  por  alguém  de  mesmo  nível  hierárquico  (assédio  horizontal),  mas  este  não  é  o  tipo  de
assédio sexual aqui rapidamente abordado, ou seja, aquele no qual a empresa terá o dever de repará­lo.
No  caso  agora  mencionado,  não  seria  competente  a  Justiça  do  Trabalho  para  a  análise  da  questão,
porquanto não se trataria, em rigor, de assédio sexual. Como vimos, para a caracterização do assédio sexual é
necessário que o assediador seja hierarquicamente superior ao assediado. Até mesmo porque ele usa esse fato a
seu favor, para poder coagir sua vítima com ameaças de demissão, etc.
O próprio Código Penal Brasileiro esclarece bem essa questão ao especificar no art. 216­A que:
Art.  216­A.  Constranger  alguém  com  o  intuito  de  obter  vantagem  ou  favorecimento  sexual,
prevalecendo­se  o  agente  da  sua  condição  de  superior  hierárquico  ou  ascendência  inerentes  ao  exercício  de
emprego, cargo ou função (grifamos).
Pena detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos.

Portanto,  se  o  assediador  ocupar  posto  de  mesma  hierarquia  dentro  da  empresa,  haverá,  sim,  a
ocorrência de um crime, mas o mesmo não se caracterizará como assédio sexual.
Tal  ilícito  penal  poderá  ser  caracterizado,  por  exemplo,  como  constrangimento  ilegal  ou  ameaça
(respectivamente, arts. 146 e 147 do Código Penal).

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6.    CONSEQUÊNCIAS PARA O ASSEDIADO

6.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS RELEVANTES

O  instituto  do  assédio  moral  é  permeado  de  elementos  psicológicos  que  o  caracterizam.  Em  seu
contexto, a vítima e o agressor se revestem de características ensejadoras.
O  primeiro  aspecto  é  o  fator  da  subordinação  ou  qualquer  outro  tipo  de  ameaça  à  qual  possa  estar
sujeita à vítima.

Na seqüência, podemos elencar, entre outros aspectos psicológicos relevantes:
A etapa de sedução em que a vítima é aliciada a uma sujeição;
    A  figura  do  medo,  que  inicialmente  motiva  o  assédio  e  depois  aniquila  o  vitimado  e  dá  o
poder ao agressor;
O caráter perverso da agressão e, conseqüentemente, da pessoa do agressor;
Os danos que a tortura psicológica realiza na vítima nos mais variados planos: psicológico,
físico e social.
Abordando a caracterização do assédio moral, alguns aspectos psicológicos importantes precisam ser
analisados.

Nesse tipo de violência a iminência do perigo, captado pelo agressor, lembra mais uma vez o ambiente
predatório dos animais, em que uma espécie elimina a outra para sobreviver:
A  diferença  no  recinto  de  trabalho  é  que  a  destruição  visa  um  ser  da  mesma  espécie  e  remete  esta
postura para a coisificação do homem e para cobrimento das suas fraquezas enquanto indivíduo. O perigo que o
outro  ostenta  leva  ao  medo,  que  leva  ao  perigo  da  violência.  Esta  vincularidade  é  vinculada  à  perversidade
narcisista do perverso. (AGUIAR, 2006, p.40).
O autor diz que o assédio moral chega com a sua sutileza e vai “roubando”, aos poucos, o equilíbrio
emocional do trabalhador (AGUIAR, 2006, p.51).
O  medo  exerce  um  papel  fundamental  nesse  processo,  visto  que  nele  se  une  o  medo  ambicioso  do
agressor, que se transforma em violência, com o amparo do medo fóbico do agredido, que suporta, a violência
silenciosamente, visando garantir o vínculo de trabalho com a manutenção de seu status quo.
André  Luiz  assim  explica  o  processo  de  iniciação  do  assédio  moral:  “Com  o  medo  instalado  e  sem
reações  pelas  vítimas,  o  terror  psicológico  é  implantado,  primeiramente,  pela  sedução  e,  em  seguida,  pela
destruição”. (AGUIAR, 2006, p.42.)
Ele  considera  que  a  forte  concentração  de  poder,  o  personalismo,  a  postura  de  espectador,  o
evitamento  de  conflitos,  a  lealdade  às  pessoas,  o  formalismo,  o  preconceito  e  a  impunidade  estão  diretamente
relacionados ao assédio moral e tentam legitimar a postura desrespeitosa deste comportamento como se fosse
culturalmente normal (AGUIAR, 2006, p.70).
Explica  ainda  o  autor  que  a  fase  de  sedução  possui  um  ritual  de  envolvimento,  o  enredamento  da
vítima nos planos do agressor. Diz que, quando o pano de fundo ensejador é a inveja, o processo de sedução é
bastante intrincado, porque a vítima espelha a imagem que o agressor gostaria ter de si, e com isso aumenta a
inveja.  “Tal  qual  o  réptil  que  se  escamoteia  para  alimentar­se,  o  agressor  não  se  mostra  imediatamente  e  às
claras, usa artifícios para esconder seus objetivos de atingir sua presa”, afirma Aguiar (2006, p. 43).
Esse contexto, para Aguiar, não é específico de um local, podendo ser encontrado em qualquer tipo de
organização (2006, p. 28).
Independentemente  da  conjuntura  verifica­se,  por  exemplo,  que  o  ambiente  organizacional,  para  a
ocorrência  do  assédio  mora,  se  torna  especialmente  propício  nas  seguintes  situações:  uma  pessoa  tímida  é
considerada,  pelo  seu  temperamento  reservado,  como  orgulhosa  ou  arrogante;  por  ser  bonita  ou  elegante,  é
considerada  pouco  inteligente,  incapaz,  volúvel;  um  único  homem  trabalha  em  um  ambiente  feminino,  ou  uma
mulher  labora  num  local  onde  o  elemento  masculino  constitui  a  maioria;  alguém  que  passa  a  ser  diferenciado
porque possui algumas características, tais como muita ou pouca altura, excesso de peso ou magreza excessiva,
a  ocupação  do  cargo  almejado  por  todos  ou  do  cargo  mais  baixo  na  escala  hierárquica  (HEMETÉRIO,  2006,
p.10).
Para a caracterização do assédio, faz­se necessário, portanto, distinguir a comunicação verdadeira e
simétrica (mesmo que gerada na esfera de um conflito) daquela comunicação perversa, subliminar, sub­reptícia,
composta de subterfúgios (AGUIAR, 2006, p. 28).

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Nesse sentido, analisando especificamente, uma relação de emprego, conceitua a violência do assédio
moral o E. TRT da 5ª Região:
ASSÉDIO  MORAL.  Configura­se  quando  o  empregado  é  vítima  de  abuso  emocional  no  local  de
trabalho, de forma maliciosa (sem conotação sexual ou racial), com o fim de intimidá­lo a praticar atos contra sua
vontade,  por  meio  de  intimidações,  humilhações,  descrédito,  ameaças  ou  mesmo  descrédito  e  isolamento,
causando­lhe constrangimento físico ou psicológico. (TRT 5ª Região. 2ª Turma. RO 01184­2007­611­05­00­5. Juiz
Het. Jones Rios. Publicado em 24 de abr. de 2008. Disponível em:<,http://www.trt5.jus.br> Acesso em: 30 de maio
de 2008, 09:30:33.)
Quando  se  trata  do  assédio  vertical  descendente,  a  utilização  do  poder  por  quem  detém  o  controle
passa a ser o critério para a averiguação. A forma mais extrema do abuso de poder é a prática do autoritarismo.
Com essa prática, chega­se rapidamente ao totalitarismo, aquele estado máximo de radicalidade em que a vida
do individuo é plenamente controlada.
Nesse sentido tem julgado a Justiça do Trabalho de Santa Catarina:

INDENIZAÇAO  POR  DANO  MORAL.  ASSÉDIO  MORAL.  Provada  a  conduta  abusiva  do  empregador
no âmbito do contrato de trabalho, exigindo o atingimento de metas a qualquer custo, inclusive sob ameaça de
dispensa, está configurado o assédio moral, hábil a justificar a indenização por danos morais. (TRT 12ª Região. 2ª
Turma.  RO  02392­2007­014­12­00­3.  Juíza  Sandra  Márcia  Wambier.  Publicado  em  18  de  mar.  De  2008.
Disponível em: http://www.trt12.jus.br. Acesso em: 5 de jun. de 2008, 05:18:40).
No  entanto,  em  qualquer  tipo  de  assédio  moral,  as  atitudes  do  agressor  são  constituídas  a  partir  do
mascaramento  da  violência,  da  inversão  das  posições  do  atacante  e  do  atacado  diante  da  organização.  Esta
estratégia  de  falseamento  tem  como  objetivo  mostrar  a  negatividade  do  processo  de  violência  por  meio  da
ocorrência visível do desequilíbrio da vítima, e não da perversidade do assediador, cuja preocupação está inter­
relacionada com a preservação do seu status quo.
Num primeiro momento, a vítima começa de fato, a sentir os sinais de doença, opta, geralmente, pela
ocultação do problema.

Com o posterior desequilíbrio psicológico da vítima, reveste­se de razão o agressor, pois a vítima torna­
se o problema da organização, um trabalhador doente e causador do descontrole produtivo de setor comandado
por aquele. O agressor então atinge o seu objetivo quando expulsa do ambiente de trabalho aquela pessoa que
não  suportou  as  primeiras  agressões  ou  que,  permanecendo,  é  transformada  em  um  trabalhador  doente,
improdutivo e desnecessário ao ambiente produtivo da organização, sendo por fim, demitido, podendo chegar até
a ponto de atentar contra a própria vida.

6.2 EFEITOS DECORRENTES

Os efeitos do assédio moral são o grande preço que pagará, principalmente, o vitimado e a empresa
que  for  conveniente  com  o  agressor,  esta  ultima  seja  por  consentir  com  a  violência  existente  em  seu  ambiente
laboral, seja por ignorá­la.
Melo (2007, p. 94) denomina de “nefastos” os efeitos do assédio moral, que pode se constituir um fator
de  risco  capaz  de  atingir  a  saúde  da  vítima,  tanto  física  quanto  psíquica,  pelo  que  pode  ser  perfeitamente
equiparado às doenças de trabalho.
Segundo Aguiar (2006, p. 47), uma vez implantado o assédio moral, com a dominação da vítima, a dor
e  o  sentimento  de  perseguição  passam  para  a  esfera  do  individualismo,  sem  uma  participação  da  coletividade,
esfera  essa  que  passa  a  ser  então  marcada  pelo  cansaço,  ansiedade,  depressão,  estresse  e  sensação  de
abandono.

Na  verdade,  o  processo  de  assédio  moral  atinge  frontalmente  a  dignidade  da  vítima,  como  explica
Silva:
Para  cumprir  sua  finalidade,  o  assédio  moral  provoca  graves  conseqüências  em  duas
áreas especificas em relação à vítima: saúde e patrimônio. Deste binômio de danos, surge
um  terceiro  que  pode  derivar  de  um  ou  outro  ou  mesmo  de  ambos,  quer  seja  o  dano
provocado pelo processo psicoterrorista às relações interpessoais da vítima, em especial no
que se relaciona à família e ao convívio social. Aí não estão incluídos os danos às relações
interpessoais  no  trabalho,  pois  estes  já  estão  implícitos  na  própria  dinâmica  do  fenômeno
(SILVA, 2005, p. 53).
Um dado relevante quanto ao trabalhador assediado diz respeito à possibilidade de ocorrência de uma
reação defensiva diante da pressão sutilmente exercida pelo agressor. Esta reação, eventualmente, pode ocorrer

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antes  ou  depois  do  adoecimento  da  vítima.  Quando  esta  reage,  desequilibrando­se,  faz  prova  contra  si  e
transforma, aparentemente, o agressor em vítima.

6.2.1 O AFASTAMENTO DO ASSEDIADO

A  figura  do  medo,  que  primeiramente,  participa  dos  motivos  que  levam  o  agressor  à  violência  do
assédio,  reaparece,  claramente,  no  momento  em  que  o  trabalhador  se  sente  adoecido  e  incapaz  de  atingir  a
produtividade estipulada pela organização.
Antes da saída propriamente dita, há a passagem por situações vexatórias e humilhantes no cotidiano
da empresa, muitas incentivadas por chefias e por colegas de profissão, constituindo o que podemos chamar de
purgatório, caracterizado por piadinhas, ironias, risos, apelidos depreciativos e chacotas.
A  princípio,  o  afastamento  do  assediado  se  da  por  meio  de  licença  para  tratamento  da  doença
apresentada, em seguida, pela demissão propriamente dita, que ocorre como conseqüência da inadequação do
trabalhador adoecido aos padrões de produção da organização.
Nesse contexto, a demissão é o que Aguiar (2006, p. 55) chama de “a expurgação do elemento que
não tem mais condição de aliar­se aos objetivos de produtividade, comprovadamente incapaz de adaptar­se às
demandas da produção”.

6.2.2 A POSSIBILIDADE DE SUICÍDIO DA VÍTIMA

As  agressões  oriundas  do  assédio  moral  são  tão  danosas  para  a  autoestima  do  trabalhador  que
chegam  a  desequilibrá­lo  emocionalmente  de  modo  relevante.  A  ferida  emocional  pode  permanecer  como  uma
chaga para o restante de sua vida e/ou levá­lo a ferir­se ainda mais.
Essa  constatação  certifica  que  a  agressão  do  assédio,  ainda  que  isoladamente  seja  pequena,  pela
repetição caracterizadora, gera danos muito maiores que uma grande agressão isolada, a qual ensejará é claro,
uma  reparação,  mas  que,  por  mais  que  seja  vexatória  e  pública,  revertendo­se  em  um  dano  moral,  não  será
capaz de desestruturar a vítima, como o assédio moral o faz, a ponto de ela chegar a atentar contra sua própria
vida.

Ainda que o objetivo do agressor seja apenas o afastamento da vítima da organização, os efeitos que o
processo de assédio moral pode geral no indivíduo assediado não estão sob controle.
Caso  a  vítima  não  rompa  a  relação  de  submissão  com  o  agressor  e  permaneça  à  mercê  deste  e
envolvida pelo processo de assédio moral, após a fase crítica do afastamento, está fadada à destruição, sendo
plenamente identificável um deslinde trágico para ela. Como conseqüência extrema, o suicídio tem se efetivado,
assim como a ocorrência de graves danos psicológicos.

O fato de o suicídio configurar entre os efeitos decorrentes do assédio moral retrata o poder perverso
da violência moral, capaz de desencadear um processo descontrolado de desqualificação pessoal do trabalhador,
submetendo­o a formas degradantes de humilhação, e por conseqüência, vitimando­o pelo adoecimento físico e
mental.
O empregado que prefere a morte à perda da dignidade torna evidente que a coisificação do indivíduo,
a  disputa  entre  colegas,  a  inveja,  a  perversidade,  a  mediocridade  de  valores  e  a  permissividade  deste  tipo  de
postura comportamental nas organizações, é contrária à condição humana.
Para Aguiar (2006, p. 55) a transformação do trabalho numa vida de cão significa o aniquilamento de
todos os valores inerentes ao termo em sim, enquanto a ocupação humana e enquanto mecanismo de produzir
algo útil para a humanidade e para si mesmo.
6.2.3 DANO AO PATRIMÔNIO DO VITIMADO
Como o vitimado pelo assédio moral adoece, deixa de ser promovido e acaba por perder seu emprego.
Deste  modo,  o  dano  a  seu  patrimônio  é  evidente  e  grande.  Muitas  vezes,  a  doença  desencadeada  pode
acompanhá­lo pelo restante de sua vida, incapacitando­o para o labor e para o crescimento em uma carreira e
levando­o a arcar com um gasto permanente em remédios.
Silva (2005, p. 50) entende que, no momento em que as agressões são consolidadas, não raramente a
saúde da vítima é atingida de maneira substancial, e as licenças médicas passam a fazer parte de sua realidade,
somando os custos com remédios e tratamentos específicos à redução de sua produtividade e de seus ganhos.
Para  ele,  a  repercussão  do  assédio  moral  no  patrimônio  da  vítima  pode  ser  verificada  também  a  partir  do
desenvolvimento de um raciocínio lógico e simples: se a vítima tem sua capacidade laboral diminuída, deixa de
auferir diversos tipos de ganho, tais como gorjetas, comissões, participações, prêmios, etc.

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Como o processo visa, por ultimo, o afastamento definitivo do assediado, contabiliza­se o maior dano
ao patrimônio da vítima: a demissão.
Silva (2205, p. 50) lembra que a demissão será quase sempre justificada pela falta de produção, pela
inadequação  da  vítima  em  relação  à  empresa  ou  simplesmente  motivada  pela  acusação  de  ser  a  vítima
“problemática”.
Mas,  caso  o  vitimado  seja  atingido  em  sua  saúde  de  modo  permanente,  mesmo  após  sua  demissão
poderá continuar tendo perdas financeiras, por conta de tratamento e remédios.
6.2.4 A SAÚDE DA ORGANIZAÇÃO
Os  estudos  mais  recentes  comprovam  que  não  somente  a  saúde  do  trabalhador  será  atingida,  mas
também a da empresa que não puder evitar ou impedir a incidência do assédio moral. E mesmo que tome uma
posição estimuladora ou conivente com essa prática, a empresa também será sua vítima.
Seus prejuízos também serão contabilizados, e a perda financeira é evidente.
Com  base  na  análise  de  casos  de  estudos  sobre  o  assédio  moral,  Aguiar  (2206,  p.  56)  afirma  que  a
violência mesmo entre os elementos de uma organização reduz a produtividade das empresas.
Assim,  conclui­se  que  o  papel  exercido  pela  má  chefia  não  atinge  exclusivamente  a  saúde  de  seus
subordinados, mas alcança também a saúde das organizações. O prejuízo com o assédio moral não é infortúnio
apenas  do  trabalhador,  pois  ocorrem  elevados  custos  administrativos  tanto  pela  queda  na  quantificação  dos
resultados finais da empresa quanto, principalmente, pelo ônus das indenizações por danos morais.
Inclusive,  manter  um  ambiente  de  trabalho  saudável  é  dever  das  organizações,  como  preceitua  a
seguinte decisão do E. TRT catarinense:
ASSÉDIO  MORAL.  OFENSA  À  NORMA  JURÍDICA  DO  EMPREGADOR  MANTER  UM  AMBIENTE
LABORAL  SAUDÁVEL.  INDENIZAÇAO  POR  DANO  MORAL.  É  dever  jurídico  da  empresa  manter  o  meio
ambiente  do  trabalho  saudável,  seja  no  plano  físico,  seja  no  psicológico.  Constitui  ato  ilícito  do  empregador
conduta que fere direitos da personalidade do emprego, através de ações representadas por exigência abusiva
de metas, com pressão psicológica e ameaça de dispensa, bem como a transferência de agencia, onde passou a
desenvolver atividades de menor importância e complexidade, diversas das inerentes à função de gerente, como
carregar armários e trocar galões de água. Tal procedimento revela o nítido objetivo de inviabilizar a permanência
do  empregado  na  empresa  após  a  extinção  do  setor  de  expansão,  impelindo­o  a  pedir  demissão.  (TRT  12ª
Região. 1ª Turma. RO 08448­2005­036­12­00­908448­2005­036­12­00­9. Juiz Alexandre Luiz Ramos. Publicado
em 10 de dez. de 2007. Disponível em: <http://WWW.trt12.jus.br>. Acesso em 5 de jun. de 2008, 05:15:33).
Mas não apenas as empresas envolvidas perdem em saúde e financeiramente. O País também perde
economicamente por conta de suas bases na economia.
Nesse sentido, Silva (2005, p. 54) avança o olhar para lembrar que um dos pilares de um país é, sem
dúvida,  a  capacidade  produtiva  de  sua  economia.  Se  o  assédio  moral  é  um  processo  que  afeta  a  “saúde”  da
empresa  e  do  trabalhador,  corroendo  a  produtividade  e  a  própria  imagem  do  empreendimento,  decerto  que  tal
realidade repercute, também, negativamente no Estado.
Além  disso,  lembra  que,  se  o  processo  de  assédio  está  conectado  à  problemática  do  desemprego,
acaba  por  atingir  a  evolução  do  país,  desmandando  custos  extras  relacionados  à  política  protetora,  tal  como
seguro­desemprego, causando, por fim, incalculáveis prejuízos aos Estados. (SILVA, 2005, p.54).
7.    CONSEQUÊNCIAS PARA O EMPREGADOR
O  assédio  moral  ocorrido  no  âmbito  da  relação  de  emprego,  conforme  dito,  caracteriza  o
inadimplemento  contratual,  alem  de  violação  ao  “dever  jurídico”  traçado  pelo  ordenamento,  pois  o  empregador
viola as normas de proteção inseridas na CLT, bem como viola garantias fundamentais do trabalhador, previstas
em  normas  internacionais  e  na  CF/88,  assumindo  o  gesto,  ato  ou  comportamento  assediante,  a  feição  de  ato
ilícito que macula a relação jurídico­trabalhista, e, como bem coloca Maria Helena Diniz,
toda  relação  jurídica  é  tutelada  pelo  Estado  mediante  proteção  jurídica  contida  em
norma, que prescreve sanção para os casos de sua violação, autorizando o lesado a exigir
respeito aos seus direitos, requerendo do órgão judicante a sua aplicação (coação); (...)[11].
Assim,  muito  embora  não  haja  tutela  jurídica  específica  para  o  assédio  moral,  como  se  trata  de  um
caso concreto e onipresente no mundo do trabalho, devemos aplicar o ordenamento jurídico preexistente, valendo
lembrar a lição do memorável Carlos Maximiliano no sentido de que a aplicação do Direito consiste em enquadrar

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um  caso  concreto  em  a  norma  jurídica  adequada.  Submete  às  prescrições  da  lei  uma  relação  da  vida  real;
procura e indica o dispositivo adaptável a um fato determinado. [12]

Visando  à  aplicação  do  Direito,  no  próximo  tópico  discorreremos  sobre  o  enquadramento  do  assédio
moral na dispensa indireta (CLT, art. 483) pelo descumprimento por parte do empregador ou superior hierárquico
dos  deveres  legais  e  contratuais;  rescisão  por  justa  causa  do  colega  de  serviço,  gerente,  supervisor,  diretor
responsável  pela  conduta  do  assediante  (CLT,  art.  482);  além  de  prejuízos  morais  e  materiais  oriundos  desse
ilícito e o conseqüente dever de reparação do dano, sem embargo das conseqüências penais.

7.1 CARACTERIZAÇÃO DA RESCISÃO INDIRETA

O  assédio  moral  se  traduz  em  prática  degradante  e  humilhante,  atingindo  a  dignidade  da  pessoa  do
trabalhador,  outrossim,  impede  um  meio  ambiente  de  trabalho  sadio  e  equilibrado  (CF,  art.  225)  e  é  capaz  de
tornar insuportável a continuidade da relação de emprego, em razão da grave violação pelo empregador ou pelo
preposto deste das obrigações contratuais trabalhistas.

Sob  o  prisma  das  obrigações  contratuais,  todas  as  atitudes,  gestos,  comportamentos,  palavras
caracterizadoras do assédio moral se enquadram nas hipóteses tipificadas no art. 483 da CLT, consubstanciando
grave violação.
8.    A PROVA DO ASSÉDIO MORAL
Quando entramos na análise do processo probatório do assédio moral, verificamos que resta pacífico
que o ônus probatório nessa matéria recai, a princípio, sobre o assediado. A ele cabe provar os fatos constitutivos
de seu direito.
É nesse norte a seguinte decisão do E. TRT da 20ª Região:

DANO MORAL – ÔNUS DA PROVA DO AUTOR. O dever de provar adequadamente o fato constitutivo
é daquele que o alega, nos termos do art. 818 da CLT. Existindo prova robusta do fato gerador do dano moral,
revela­se acertado o decisum que  deferiu  a  indenização  reparatória.  (TRT  20ª  Região.  RO  00509­2006­001­20­
00­3.  Juiz  Jorge  Antônio  Andrade  Cardoso.  Publicado  em  27  de  jun.  de  2007.  Disponível
em: http://www.trt20.jus.br. Acesso em: 8 de jun. de 2008, 06:05:44).
Com  referência  ao  dano  moral  de  forma  geral,  o  que  o  trabalhador  precisa  provar  é  a  ocorrência  do
ilícito. Provado este, o dano moral estará configurado in re ipsa. Assim, resta pacificado que na aferição do dano
moral não será necessário provar a dor, o sofrimento, a angustia, o estresse, a vergonha, porem, será necessário
provar o ato que provocou esses sentimentos, ou seja, o fato gerador da dor, do sofrimento.

Afinal, exatamente por repercutir no intimo das pessoas, a violência impregnada no assédio moral é de
difícil aferição, impossibilitando a constatação segura de sua ocorrência, não se podendo exigir do lesado a prova
de repercussão. No entanto, é perfeitamente possível depreender que determinadas situações geram desconforto
e  incomodo  a  qualquer  ser  humano.  Embora  seja  impossível  demonstrar  a  dor,  o  sofrimento  e  outros  abalos
psíquicos  por  prova  direta  é  possível  afirmar  que,  sujeita  a  determinadas  situações,  a  espécie  humana  padece
interiormente.

Por  isso,  resta  pacificado  que  o  dano  moral  é  in  re  ipsa,  independentemente  de  comprovação  do
prejuízo sofrido. Alem disso, pela própria sutiliza da violência do assédio, diferente de outros ataques à moral que
se caracterizam de maneira mais pública e notória, o assédio moral é uma agressão por vezes disfarçada, sendo
mais difícil a busca de provas, especialmente quanto à caracterização do dano e do nexo causal.
Em  que  pese  a  Justiça  do  Trabalho  decidir  pela  reparação  dos  danos  morais  por  assédio  moral  no
trabalho,  independentemente  da  comprovação  de  dano  psíquico­emocional,  a  prova  da  materialização  do
sofrimento  é  um  elemento  relevante  no  convencimento  do  julgador.  Esta  premissa  verifica­se  na  decisão  do  E.
TRT da 6ª Região:
INDENIZAÇAO.  DANOS  MORAIS  E  MATERIAIS:  Evidenciando­se  da  prova  dos  autos  que,  no  curso
do  contrato  de  trabalho,  sofreu  a  autora  assédio  moral  por  parte  do  superior  hierárquico,  com  conseqüente
acometimento  patológico,  restou  claro  que  a  doença,  da  qual  é  portadora,  se  manifestou  em  face  da  relação
laboral,  causando­lhe  seqüelas  que  necessitam  de  tratamento  e  acompanhamento  médico  psicológico.
Caracterizado o dano à trabalhadora, de ordem moral, cabe à reclamada arcar com o ressarcimento consoante
arts. 186 e 927 do Código Civil. (TRT 6ª Região. 1ª Turma. RO 02363­2002­143­06­00­3. Juíza Ligia Maria Valpis
Albuquerque de Abreu. Publicado em 8 de abr. de 2004. Disponível em: http://www.trt6.gov.br. Acesso em: 2 de
jun. de 2008, 09:20:11).
Outros  julgados,  no  entanto,  consideram  a  verificação  do  dano  um  dos  requisitos  necessários  à
configuração do assédio moral, como versa a seguinte decisão do E. TRT da 16ª Região:

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ASSÉDIO  MORAL.  CONFIGURAÇAO.  REQUISITOS.  Para  a  configuração  do  assédio  moral  nas
relações  de  trabalho,  três  requisitos  são  necessários:  a  conduta  abusiva,  a  repetição  dos  ataques  e  o  dano.  O
primeiro consiste na intenção do agressor de expor a vítima a situações incômodas e humilhantes, a fim de retirá­
lo do seu caminho ou mesmo do emprego. O segundo implica na repetição das condutas de forma sistematizada,
ou seja, exige­se duração mínima (seis meses, em média) e que os ataques se repitam numa freqüência de duas
vezes  por  semana.  O  ultimo  requisito  é  o  dano  à  integridade  psíquica  ou  física  da  pessoa.  INDENIZAÇAO.
AMPARO  JURÍDICO.  PROVA  ROBUSTA.  A  vítima  da  coação  moral  pode  buscar  a  reparação  pelos  danos
lesados à sua personalidade, com fundamento no art. 5º, incisos V e X, da CF/88, que garantem indenização a
danos causados à imagem, à honra, à dignidade, à integridade física e até a própria vida, bem como no Código
Civil (capítulo II do titulo IX). Todavia, para a indenização desse dano especifico, há necessidade de produção de
prova  robusta,  principalmente  quando  de  trata  de  alegação  de  assédio  vertical  (praticado  por  superior
hierárquico),  porque  o  julgador  terá  de  distinguir  condutas  próprias  do  poder  diretivo  com  o  abuso  dessas
condutas.  Presentes  as  provas,  tem­se  por  configurado  o  assédio  moral.  Recurso  conhecido  e  parcialmente
provido. (TRT 16ª Região. RO 01224­2006­002­16­00­8. Desembargador Luiz Cosmo da Silva Júnior. Publicado
em 15 de fev. de 2008. Disponível em :http://www.trt16.jus.br/indexex/index.php. Acesso em: 5 de jun. de 2008,
06:15:17).
Não  se  pode,  contudo,  cegar  ao  extremo  de  presumir­se  a  existência  do  assédio  moral  vertical  ou
descendente, por exemplo. Afinal, conforme vetusta lição de Malatesta, convertida em verdadeiro adágio jurídico,
“o  ordinário  se  presume,  o  extraordinário  se  comprova”.  E  ainda  será  exigido  um  acervo  probatório  muito  mais
robusto e convincente para demonstrar o assédio horizontal e, principalmente, o ascendente.
Por isso, os Tribunais têm entendido que a prova em assédio moral deve ser robusta. É nesse sentido
a seguinte decisão do E. TRT da 2ª Região:
ASSÉDIO  MORAL.  O  assédio  moral  é  a  exposição  do  trabalhador  a  situações  humilhantes  e
constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. A prova
de  sua  existência  há  de  ser  cabal  e  robusta  para  o  reconhecimento  do  dano  moral.  No  caso  em  análise  não
existem  elementos  para  se  indicar  a  presença  do  assédio  moral,  pois  nenhuma  testemunha  afirmou  ter
presenciado  qualquer  ato  neste  sentido.  (TRT  2ª  Região.  12ª  Turma.  RO  01310200505202002.  Juiz  Marcelo
Freire  Gonçalves.  Publicado  em  22  de  fev.  de  2007.  disponível  em:  http://www.trt02.gov.br.  Acesso  em:  25  de
maio de 2008, 08:33:06).

Por outro lado, tendo o autor apresentado elementos suficientes para a presunção de veracidade, para
uma parcela dos doutrinadores isto propicia a inversão do ônus da prova, revertendo, a partir daí, para o agressor
o encargo de provar a inexistência de assédio.

A inversão do ônus da prova justifica­se pelo entendimento de que para a vítima é muito difícil fazer a
prova  do  nexo  etiológico  entre  o  dano  e  a  conduta  do  sujeito  perverso,  na  medida  em  que  o  dano  do  terror
psicológico  deriva  de  um  conjunto  de  comportamentos  de  reduzida  dimensão  no  espaço  e  no  tempo,  se
apreciados  singularmente,  mas  de  gravidade  inimaginável  se  apreciados  pela  ótica  da  continuidade  de  atos
programados em serie e por isso idôneos para caracterizar a conduta repetida de assédio moral.
A autora afirma que a orientação quanto à repetição do ônus da prova advém do dogma da igualdade
formal. Nesse contexto, a inversão do ônus da prova implica a relativização do principio da autonomia privada e
da substituição do dogma da igualdade formal pelo da igualdade real.
Para ilustrar, Guedes relata:

Dando provas de sensibilidade à moderna visão teleológica e instrumentalista do processo, o legislador
Frances,  através  da  lei  de  modernização  do  trabalho,  que  define  o  assédio  moral  e  as  hipóteses  de  sanção,
recentemente aprovadas, adotou o principio da inversão do ônus da prova; assim, diante da verossimilhança das
alegações cabe ao agente provar sua inocência em relação àqueles atos. Cremos que essa conduta do legislador
Frances  está  em  consonância  com  a  doutrina  da  prevalência  dos  direitos  fundamentais  da  pessoa  humana  em
contraposição  ao  agigantamento  do  poder  privado  e  ao  enfraquecimento  do  primado  da  liberdade  individual.
(Disponível em: http://www.assediomoral.org. Acesso em: 12 de jun. de 2008, 06:12:23).
Contrariamente à defesa de Guedes, Silva lembra que, apesar de o TST já ter decidido que o ônus da
prova no Direito do Trabalho não cabe necessariamente à parte que alega o fato (RR 649939/2000), tal decisão
deve ser aplicada somente quando a parte contraria é detentora de documentos ou informações que comprovam
as alegações da reclamante, não estando ao alcance desta. São casos típicos relacionados a controle de ponto,
recibos e outros documentos de mesma natureza.

Assim o autor afirma:

Se  tais  documentos  puderem,  de  alguma  forma,  comprovar  o  assédio  moral,  aí  sim  poderiam  ser  requisitados

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para  comprovar  o  alegado.  No  entanto,  dada  a  complexidade  de  conformação  do  assédio  moral,  outras  provas
mais específicas e decisivas devem ser produzidas pela pretensa vítima, para que possa embasar seu pedido de
forma concreta. (SILVA, 2006. Disponível em: http://estudantedodireito.blogspot.com. Acesso em: 23 de maio de
2008, 06:21:16).

Quanto à possibilidade de aplicação da regra do in dúbio pro operário, Teixeira Filho (1991) defende a
não incidência da referida regra em matéria probatória afirmando que “ou a prova existe, ou não se prova”. Para o
autor, a insuficiência de prova gera a improcedência do pedido e, portanto, o resultado será desfavorável àquele
que  detinha  o  ônus  da  prova,  seja  ele  o  empregado,  seja  ele  o  empregador.  Segundo  ele,  caso  ambos  os
litigantes produzam as suas provas e esta ficar dividida, deverá o magistrado utilizar­se do princípio da persuasão
racional, decidindo­se pela adoção da prova que melhor lhe convenceu, nunca tendendo à utilização da in dúbio
prooperário, já que neste campo não há qualquer eficácia desta norma. 

Um dos elementos caracterizadores do assédio moral no trabalho é a reiteração da conduta ofensiva
ou humilhante, devendo, por isso, haver prova de uma relação desumana e antiética de longa duração. É o que é
ressalvado pela seguinte decisão:

ASSÉDIO  MORAL.  NÃO  CARACTERIZADO.  Para  se  caracterizar  o  assédio  moral,  alguns  aspectos
são  essenciais:  a  regularidade  dos  ataques,  que  se  prolongam  no  tempo,  e  a  determinação  de  desestabilizar
emocionalmente  a  vítima,  visando  afastá­lo  do  trabalho.  Não  restaram  comprovados  os  três  elementos
necessários  para  a  responsabilidade  civil,  quais  sejam  conduta,  nexo  causal  e  dano.  Recurso  conhecido  e
improvido.  (TRT  11ª  Região.  RO  00187/2007­052­11­00.  Publicado  em  18  de  jan.  de  2008.  Disponível  em:
<http://www.trt11.jus.br/index.php>. Acesso em: 5 de jun. de 2008, 04:57:46).

Por isso, um ponto importante e delicado na caracterização do dano próprio do assédio moral é que ele
não  se  configura  em  situação  vexatória  esporádica  ou  ocasional,  por  mais  constrangedora  e  danosa  que  seja,
ainda  que  isoladamente  enseje  reparação  por  aquele  dano  moral  em  si.  Para  que  se  constate  a  ocorrência  de
assédio  moral,  especificamente,  é  necessário  ficar  provado  que  a  violência  empregada  ocorre  de  maneira
prolongada.
Alguns autores estabelecem que deve haver, pelo menos, um tempo de seis meses de violência para
restar  caracterizado  o  assédio.  Todavia,  autores  como  Melo  (2007,  p.  89)  discordam  que  possa  ser  fixado  um
tempo de exposição constante a reiterados ataques para a aludida caracterização.
Nosso  entendimento  é  de  que,  sendo  a  convivência  laboral  diária,  é  bem  possível  caracterizar  a
ocorrência  de  assédio  em  tempo  bem  inferior,  contanto,  que  possa  haver  nesse  período  reiteradas  agressões
desumanas e antiéticas contra uma das partes de relação profissional.
9.    A VALORAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL

Aqui surge um dos maiores, senão o maior, problema atinente à questão do assédio moral.

O  problema  é  o  mesmo  enfrentado  em  sede  de  dano  moral  como  um  todo  (acidentes  de  trabalho,
ofensas únicas, falsa acusação de desvio de dinheiro, etc.), pois, como pode ser quantificado, financeiramente,
um dano?

Ainda mais um dano advindo de assédio moral? É possível quantificar, monetariamente, o valor de um
dano?
Já  foi  superada  a  fase  de  discussão  acerca  da  reparação  de  danos  morais  através  da  condenação
pecuniária do ofensor. Em tempos passados alguns doutrinadores e parte da jurisprudência entendiam que isso
não era possível.
Mas  isso  mudou  de  figura,  sensivelmente,  com  a  promulgação  da  Constituição  Federal  de  1988,
também denominada “Constituição Cidadã”.
Portanto,  o  advento  da  referida  Carta  magna  foi  um  verdadeiro  divisor  de  águas  na  questão  da
possibilidade de reparação do dano moral no Brasil.

Inclusive, com o seu advento, não mais poder­se­iam utilizar os parâmetros da Lei de Imprensa, como
alguns ainda o fazem, pois esta não teria sido recepcionada pela atual Constituição da República.

Mesmo, talvez, não sendo a melhor forma de reparação de um dano de ordem moral, a condenação ao
pagamento de uma indenização, em dinheiro, ainda nos parece a mais eficaz (ou menos injusta) para a maioria
dos casos.

Até pelo caráter punitivo que possui tal tipo de condenação, como veremos logo a seguir.

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E,  justamente  por  isso,  é  que  alguns  autores  não  mencionam  a  indenização  ou  reparação  do  dano
moral, mas sim, a compensação do dano moral.
Uma das saídas encontradas pelos magistrados trabalhistas é uma espécie de conta bastante simples:
multiplica­se  o  numero  de  anos  trabalhados  na  empresa  pela  ultima  remuneração  percebida  pelo
ofendido/assediado.
Nesse caso, tomou­se por base, por analogia, a redação do art. 478 da CLT, que dispõe:

Art. 478. A indenização devida pela rescisão de contrato por prazo indeterminado será de um mês de
remuneração por ano de serviço efetivo, ou por ano e fração igual ou superior a seis meses.

Mas,  e  se  a  vítima  do  assédio  tiver  laborado  apenas  alguns  meses  (quatro,  por  exemplo)  para  uma
grande empresa e suportado gravíssima coação de ordem moral? Neste caso, dividir sua ultima remuneração por
12 e multiplicar por 4 daria o equivalente apenas a 33% daquele valor referido (resultando em apenas um terço de
seu salário).

Logicamente,  parece­nos  que  seria  muito  pouco  para  reparar  um  dano  da  espécie  aqui  tratada.  Ou
seja, se a pessoa recebeu R$ 500,00 em seu ultimo mês de prestação de serviços, a indenização seria apenas
de R$ 165,00.

Outros  magistrados  aplicam  a  mesma  regra  básica,  mas  usando  o  dobro  da  maior  remuneração
recebida pelo trabalhador.

É claro que a valoração do dano indenizável deve levar em conta não só a capacidade financeira do
ofensor  e  o  padrão  de  vida  do  ofendido,  mas,  principalmente,  servir  de  exemplo  para  que  se  evite  a  repetição
dessa prática dentro da empresa ré (chamado caráter punitivo, pedagógico ou mesmo educativo).

Neste exato sentido, citamos uma emenda oriunda do Tribunal do Trabalho da 5ª Região (Bahia):
42064038 – DANO MORAL – ACIDENTE DE TRABALHO – INDENIZAÇAO – A satisfação pecuniária
que  se  busca  diante  da  impossibilidade  de  ressarcir  o  dano  moral  causado  ao  ofendido,  ostenta,  em  verdade
nítido  caráter  punitivo  ao  ofensor,  tendo  de  igual  modo,  caráter  pedagógico  e  preventivo,  destinado  a
desencorajar, pelo efeito intimidativo do valor econômico, a reincidência do ato ilícito (TRT 5ª Região – RO 01346­
1999­010­05­00­9 – (29.552/04)  3ª T. Rela. Juíza Lourdes Linhares – J. 16.11.2004).

Portanto,  em  casos  como  o  há  pouco  mencionado,  alguns  magistrados  multiplicam  a  ultima
remuneração pelo numero de meses trabalhados. É claro que não há uma solução infalível ou tabela precisa para
isso.

Da mesma forma, não nos parece, em princípio, justa a condenação de uma microempresa a valores
de R$ 200.000,00 como já vimos, mesmo que se trate de grave o caso de assédio moral. Isso seria quase um
enriquecimento  ilícito  do  ofendido  e,  fatalmente,  levaria  a  empresa  ao  fechamento  e  à  dispensa  de  inúmeros
empregados, causando um prejuízo social nada desejado.

Todavia,  incrivelmente,  já  vimos  decisões  de  1º  grau  em  que  os  valores  de  reparações  por  assédio
moral chegaram a incríveis R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) por um único trabalhador assediado!
A condenação ao pagamento de uma indenização jamais poderá servir como meio de enriquecimento
ilícito do ofendido.
Todavia,  essa  deplorável  atitude  de  se  assediar  moralmente  um  empregado  também  não  pode,  sob
hipótese alguma, ficar impune.

Logo,  como  sempre,  deve  prevalecer  o  bom  senso  do  magistrado  no  momento  de  fixar  o  valor  da
indenização a ser paga em casos em que foi robustamente comprovada a prática do assédio moral.

Isso é o que se costuma ouvir quando se fala na quantificação do dano indenizável. Mas seria só isso?
Assim,  uma  regra  que  nos  parece  um  pouco  mais  acertada  é  aquela  que  determina,  no  caso  de
pequenas empresas, o pagamento de 1 a 10 remunerações por ano de trabalho (dependendo da gravidade do
dano), limitada a um máximo (teto) de 20 vezes a maior remuneração do trabalhador.
No  caso  de  empresa  de  porte  médio,  o  valor  obtido  seria  multiplicado  por  1,5  e  no  caso  de  grandes
empresas, por 2.
Exemplo 1: um empregado com remuneração de R$ 800,00, que trabalhe na empresa há três anos e
sofra de abalo de grau médio (logo, sendo multiplicado o valor da remuneração por 3, que é o numero de anos de

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trabalho, e multiplicada por 6, que seria o grau de ofensa). Portanto, a indenização seria fixada na casa dos R$
14.400,00.
Exemplo  2:  um  empregado  que  auferisse  remuneração  de  R$  1.500,00  e  que  houvesse  laborado
durante  dez  anos  na  empresa,  sendo  ofendido  de  maneira  leve  (grau  3,  por  exemplo).  A  indenização  seria  em
torno de R$ 45.000,00.

Exemplo  3:  um  empregado  com  remuneração  de  R$  3.000,00,  que  trabalha  há  vinte  anos  em
determinada  empresa  e  sofre  assédio  gravíssimo  (grau  10,  por  exemplo).  O  valor  da  indenização  seria  de  R$
600.000,00.  Todavia,  haveria  de  se  observar  o  teto  de  R$  60.000,00,  correspondente  a  40  vezes  a  maior
remuneração de citado empregado.
Em todos os casos mencionados consideramos empresas de pequeno porte. Para empresas de médio
ou grande porte, seria usada aquela outra regra: multiplicar o valor obtido por 1,5 no caso de empresas médias e
por 2, no caso de grandes empresas.
Assim, no exemplo nº 3, caso se tratasse de empresa de médio porte, o valor seria de R$ 90.000,00. E
se fosse de grande porte, chegaria aos R$ 120.000,00. Veja­se que tratamos de casos extremos!

E  falamos  apenas  dos  danos  morais  decorrentes  do  assédio  de  mesma  espécie.  É  claro  que  danos
matérias, como reembolso de despesas com consultas e tratamentos médicos e gastos com medicamentos não
estão incluídos nesses valores (até mesmo por serem danos de outra natureza).

E como se saberia o grau de uma ofensa? Isto também não é algo fixo, imutável. Mas, digamos que o
assédio moral decorrente de brincadeiras de mau gosto pudesse ser considerado de grau leve.

Já a pressão constante pelo atingimento de metas, com cobranças diárias, em público e em tom rude
(mas não ofensivo), e sem outras ofensas/ameaças, fosse considerada de grau médio.

E, de grau alto (ou elevado), seria aquele assédio mencionado em notícia do TST, em que a pessoa
sofria  revistas  intimas,  totalmente  nua,  sobre  uma  mesa,  à  vista  de  demais  empregados,  alem  de  ser  agredida
fisicamente por não cumprir os objetivos.

Ou  ainda,  também  gravíssimo  seria  o  assédio  caracterizado  pela  constante  ameaça  de  perda  de
emprego, cominada com pesadas ofensas pessoais e/ou à família da vítima ou, mesmo, com agressões físicas ou
discrimação em razão de cor, sexo ou orientação sexual ou religiosa, por exemplo.

É  certo  que  tal  critério  será  alvo  de  muitas  críticas,  mas,  ao  menos,  é  mais  um  método  sugerido  a
auxiliar  o  difícil  trabalho  de  advogados  e,  principalmente  juízes  na  busca  de  um  critério  justo  para  esta  ingrata
tarefa de se tentar valorar, financeiramente, um dano indenizável.

Na prática, vemos que os valores de indenizações por assédio moral ficam na faixa dos R$ 10.000,00 a
R$ 50.000,00, no caso de empresas de grande porte; e de R$ 1.000,00 a R$ 10.000,00, no caso de pequenas ou
médias empresas.
Outra  sugestão  que  diríamos  a  titulo  de  colaboração,  e  tendo  em  vista  que  alguns  doutrinadores
desaconselham  a  vinculação  do  tempo  de  trabalho  na  empresa  ao  valor  a  ser  arbitrado  (chegando,  alguns,  a
dizer  que  isso  é  um  verdadeiro  absurdo),  seria  a  de  determinar  o  pagamento  de  12  remunerações  mensais  do
obreiro para o caso de assédio de natureza leve; de 24 remunerações para assédio de natureza média, e de 36
remunerações para assédio moral de natureza grave, conforme os exemplos mencionados.

Esta  é  uma  regra  bem  mais  simples,  que  não  leva  em  conta  o  tempo  de  trabalho  na  empresa.
Tampouco, leva em conta o porte da empresa, pois, para alguns pensadores, a própria faixa de remuneração do
trabalhador já diferenciaria as empresas pequenas, médias ou grandes.

Exemplo:  um  caso  de  assédio  moral  de  natureza  média,  caracterizado  por  cobranças  excessivas  de
metas  de  vendas  com  uso  de  expressões  ofensivas  contra  trabalhador  que  auferisse  remuneração  de  R$
1.800,00/mês, ensejaria o pagamento de uma indenização de R$ 43.200,00.

Uma terceira sugestão, que seria, na verdade, uma vertente desta segunda, consistiria em se levar em
conta,  também,  o  porte  da  empresa.  Logo,  o  valor  obtido  da  multiplicação  do  valor  da  remuneração  pela
gravidade  do  fato,  seria  ainda,  multiplicado  por  1,2  no  caso  de  empresas  de  médio  porte  e  por  1,5  no  caso  de
empresas de grande porte.

Para as pequenas e microempresas, o valor seria aquele mesmo (porquanto, multiplicando­se aquele
valor por 1 o seria o mesmo).

Citemos alguns exemplos observando este parâmetro:

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a)  empregado que receba remuneração de R$ 800,00/mês, que seja ofendido de forma média
(fator  de  multiplicação:  24)  e  trabalhe  em  empresa  de  médio  porte  (fator  de  multiplicação:  1,2).  O  valor
arbitrado seria de R$ 23.040,00.
b)  empregado que receba remuneração de R$ 1.500,00/mês, que seja ofendido de forma leve
(fator  de  multiplicação:  12)  e  trabalhe  em  empresa  de  pequeno  porte  (fator  de  multiplicação:  1).  O  valor
arbitrado seria de R$ 18.000,00.
c)  empregado que receba remuneração de R$ 2.000,00/mês, que seja ofendido de forma grave
(fator  de  multiplicação:  36)  e  trabalhe  em  empresa  de  grande  porte  (fator  de  multiplicação:  1,5).  O  valor
arbitrado seria de R$ 108.000,00.
À primeira vista, o valor de R$ 108.000,00 pode parecer excessivamente alto. Todavia, lembremo­nos
de  que  se  trata  de  situação  hipotética  em  que  um  empregado,  de  elevado  padrão  salarial,  trabalhando  em
empresa  de  grande  porte,  tenha  sofrido  pesado  (grave)  assédio  moral,  reportando­nos  aos  exemplos  já
mencionados acerca da gravidade do assédio.
Conforme já dito alhures, podem ser estabelecidos tetos para esses valores.

E, como já dissemos, trata­se apenas de sugestões ou meras balizas para auxiliar o trabalho de juízes
e advogados, não sendo regras inflexíveis e imutáveis.

Mostrando quão polemica é essa fixação, por outro lado, em muitos casos é utilizado o salário mínimo
como  base  para  as  condenações  (40  ou  60,  por  exemplo),  sem  que  ocorra  qualquer  violação  à  lei,  pois,  o  que
não se permite é a vinculação da atualização de algum valor ao salário mínimo.

Mas  como  vimos,  a  mera  estipulação  de  uma  condenação  baseada  em  determinado  numero  de
salários mínimos é plenamente viável.

Repetimos: não existe regra perfeita ou exata para esse cálculo.
Até  porque,  conforme  exposto,  há  que  se  analisar,  detidamente,  a  profundidade  do  abalo  ou  a
gravidade do dano causado. Há uma grande distancia entre o abalo sofrido por pressões por produção ou metas
de  venda,  mas  sem  tons  agressivos,  e  o  abalo  sofrido  em  decorrência  de  constantes  humilhações  em  público,
xingamentos e tratamento quase doentio, que culmine com uma forçada dispensa por justa causa.
O que dizer então, de empregado de empresa multinacional que, na presença de diversos colegas de
trabalho,  de  ambos  os  sexos,  durante  reunião  anual  (formal),  tem  que  dançar  com  roupas  de  banho  femininas
(biquíni),  enquanto  é  agredido  verbalmente  por  seus  superiores  hierárquicos,  ainda  tendo  que  ver  sua  foto  na
parede, destacado como o “pior empregado do mês”?
Resumindo:  é  impossível  a  criação  de  uma  tabela  de  valores  de  indenizações  ou  de  regras  simples
para a aferição dos valores devidos, como defendem alguns doutrinadores.
Cada caso envolverá uma empresa de determinado porte; uma espécie de danos: uma quantidade de
ofensas; uma espécie de danos/abalos; uma extensão dos danos; determinado tempo de labor na empresa; uma
espécie  de  exposição  do  empregado  (a  outros  empregados,  a  outros  superiores  hierárquicos  ou  até  mesmo,  à
sua própria família), etc.
Jamais  um  caso  será  igual  ou  sequer  semelhante  a  outro,  embora,  infelizmente,  existe  uma  clara
tendência de se “tabelarem” os valores de indenizações decorrentes de dano moral como um todo.
Por isso mesmo propusemos aqueles parâmetros, que não tabelam ou indexam os valores, mas que
apenas estabelecem algumas referências para a aferição do quantum indenizatório.

Alias,  citando  casos  emblemáticos,  mencionamos  agora  uma  notícia  veiculada  no  site  Consultor
Jurídico, em 11 de fevereiro de 2007:[13]

Estresse induzido
BB tem de indenizar funcionária por causa de derrame

A juíza Sandra Nara Bernardo Silva, da 10ª Vara do Trabalho de Brasília, condenou o Banco do Brasil
a indenizar em mais de R$ 1 milhão uma funcionária aposentada por invalidez depois de um acidente vascular
cerebral  isquêmico  (AVCI).  A  doença  ocorreu  14  dias  após  a  funcionária,  de  33  anos,  ter  dado  à  luz.  Cabe
recurso.
A  perícia  médica  acusou  como  causa  o  estresse  a  que  foi  submetia  a  vítima.  A  juíza  considerou
comprovada a responsabilidade do Banco do Brasil no acidente de trabalho.

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Gerente  de  divisão,  a  autora  deveria  entregar  avaliações  de  desempenho  de  10  funcionários  de  sua
equipe. Como o parto foi involuntariamente antecipado, uma avaliação ficou pendente.

Ao retornar do hospital, a funcionária passou a receber telefonemas de sua chefia cobrando a entrega
da  última  avaliação.  Segundo  as  testemunhas,  a  pressão  a  que  foi  submetida  à  gerente  para  a  conclusão  do
trabalho, feita dias após o parto, a levava a crises de choro constantes. Até que um dia ela foi encontrada imóvel
na cama, após sofrer o derrame.

A  juíza  Sandra  Nara  Silva  concluiu  que  o  BB  não  respeitou  o  principio  fundamental  da  dignidade  da
pessoa  humana  ao  irromper  o  lar  de  uma  mãe  que  acabava  de  ser  submetida  a  uma  cirurgia  e  se  encontrava
física e psicologicamente  debilitada,  “A  autora  não  resistiu  ao  bombardeio e sofreu um acidente violento, físico,
mental  e  irreversível  em  virtude  do  comportamento  patronal  que  deu  causa  ao  estresse  durante  o  puerpério”,
entendeu.
O  Tribunal  determinou  pagamento  de  R$  21.795,05  por  danos  emergentes  (gastos  com  tratamentos
médicos  hospitalares  não  cobertos  pelo  plano  de  saúde),  R$  1.023.931,71  por  danos  patrimoniais  por  lucros
cessantes (correspondente à diferença entre o salário recebido na ativa e o pago na aposentadoria, 25% inferior)
e R$ 200.000,00 por danos morais.
Processo nº 00144­2006­010­00­2

Revista Consultor Jurídico, 11 de fevereiro de 2007.

Neste  caso,  ante  a  gravidade  do  assédio,  caracterizado  pela  cobrança  do  mencionado  relatório,  que
resultou  em  um  derrame  cerebral  que  implicou  a  aposentadoria  (por  invalidez)  da  obreira,  fixou­se  o  valor  da
indenização por assédio moral em R$ 200.000,00.

Assim,  diante  da  leitura  desta  notícia,  vemos  que  nossas  sugestões  de  parâmetros  realmente  não
foram exageradas.
Referida  notícia  não  usa  esses  termos  (assédio  moral),  mas  trata­se,  na  prática,  de  típico  caso
de mobbing.
É  claro  que  essa  situação  se  trata  de  caso  extremo,  bastante  grave,  ainda  mais  encontrando­se  a
trabalhadora  assediada  em  estado  puerperal,  no  qual  a  mulher  fica  bastante  sensibilizada  e  emocionalmente
instável, como é de conhecimento de todos.
E, como se trata de decisão de 1ª instancia, é possível que esse valor sofra uma certa redução dentro
daquelas médias que já mencionamos.

O critério seria basicamente o mesmo: levar­se­ia em conta o tempo de prestação de serviço em vez
do tempo de trabalho regido pela CLT; em vez da maior remuneração (salário e demais vantagens), observar­se­
ia  o  maior  pagamento  a  titulo  de  contraprestação  pelos  serviços  prestados  em  determinado  mês.  Ou  ainda,  a
média  de  valores  recebidos/mês  durante  o  ultimo  ano  de  prestação  de  serviços.  Com  relação  ao  porte  da
empresa não haveria nenhuma mudança no critério já explanado alhures.
Desta forma, esperamos ter contribuído, ao menos, lançado uma luz sobre esse terreno nebuloso que
é a valoração, em pecúnia, do dano moral.

Outro aspecto interessante, mas que na prática é pouco explorado é a questão da retratação do agente
ofensor.  É  a  questão  da  retratação  do  agente  ofensor.  Raramente  se  vêem  pedidos  de  retratação  do  agente
assediante. Nas ações de indenização, parte­se desde logo, para o pedido de indenização.

É óbvio que nem sempre o pedido de retratação é possível ou interessante para a vítima. Muitas das
vezes,  o  fato  divulgado  e  explorado  pode  ser  de  tal  gravidade  que  sequer  uma  retratação  poderia  apagar  seus
efeitos danosos.

Mas,  no  caso  hipotético  de  ofensas  e  acusações  publicadas  em  jornais  de  circulação  no  âmbito  da
empresa  ou  do  sindicato,  por  exemplo,  seria  plenamente  viável  o  pedido  (e  a  conseqüente  condenação)  da
retratação do ofensor, por escrito, durante o mesmo numero de dias e no mesmo veiculo em que foi publicada a
matéria ofensiva.
Isso já ocorre nas incontáveis ações de reparação de danos morais contra empresas jornalísticas, de
competência da justiça comum.

Como dissemos, embora viável em alguns casos, este pleito é muito raro nas ações indenizatórias que
tramitam pelos fóruns trabalhistas pátrios.
CONCLUSÃO
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03/11/2016 Assédio Moral no Ambiente de Trabalho ­ Monografias/TCC/Teses ­ Conteúdo Jurídico

Em  face  do  vasto  numero  de  comportamentos,  atos,  condutas  e  práticas  possíveis  de  gerar  o
denominado  assédio  moral,  podemos  afirmar,  sem  sombra  de  dúvida,  que  não  existe  nenhuma  empresa  que
esteja imune ao risco de praticar essa conduta censurável.

Não que as empresas  sejam  todas  más  e  perversas  (como  infelizmente, em pleno século XXI, ainda


pensem alguns), mas basta a atitude impensada de um sócio, gerente ou diretor para que surja, nesse meio, o
assedio moral a oxidar as boas relações de trabalho.

A constante e correta busca por melhor produtividade, redução de custos operacionais, maximização
de  tarefas,  atingimento  de  padrões  e  certificações  internacionais  levam  os  trabalhadores  a,  cada  vez  mais,
conviver em um ambiente disputado e tenso.

E, como visto, nem todos os gestores estão preparados para encarar essa nova realidade.
Assim, infelizmente, é natural que o numero de demandas trabalhistas com pedidos de indenização por
danos morais decorrentes de assédio moral continue crescendo em números assustadores.

Essa  é  uma  realidade  da  qual  não  podemos  fugir.  Primeiro,  porque  conforme  relatado,  é  cada  vez
maior  o  atingimento  de  metas  e  resultados,  levando  pessoas  despreparadas  a  assediarem  moralmente  seus
subordinados. Segundo, porque é cada vez maior o numero de lides quase aventureiras, que beiram a tentativas
de enriquecimento ilícito.
Portanto,  é  fundamental  que  os  empresários,  industriais,  comerciantes  e  empregadores  em  geral,
orientem seus empregados e prepostos a, acima de tudo, agir com ética, respeito e educação.

Dessa  forma,  com  absoluta  convicção,  podemos  afirmar  que  serão  extremamente  minimizados  os
riscos de uma condenação à reparação de danos morais causados pelo assédio moral. Ou seja, a boa educação
ainda é o melhor remédio para a prevenção ao assédio moral.

Finalizando, citamos algumas orações pertinentes com o assunto tratado neste livro:

“As palavras são importantes, mas o que vale é o exemplo”. Esopo
“A verdadeira sabedoria consiste em saber como aumentar o bem­estar do mundo”. Benjamim Franklin

REFERÊNCIAS
AGUIAR, André Luiz Souza. Assédio moral. 2. Ed. São Paulo: LTr, 2006.
ALKIMIN, Maria Aparecida. Assédio moral na relação de trabalho. Curitiba: Juruá, 2009.
DALAZEN, João Oreste. Aspectos do dano moral trabalhista. Revista Júris Síntese, n. 24, jul./ago. 2000.
HIRIGOYEN,  Marie­France.  Assédio  moral:  a  violência  perversa  do  cotidiano.  Tradução  de  Maria  Helena
Kuhner. 2. Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
LIMA, Amarildo Carlos de; PEREIRA, Simone. Aferição do assédio moral nas relações de trabalho. Desafios
e Possibilidades. São Paulo. LTr, 2009.
MARQUES  JR.,  Fernando  Antônio.  Assédio  moral  no  ambiente  de  trabalho.  Questões  sociojurídicas.  São
Paulo. LTr, 2009.
MASCARO NASCIMENTO, Sônia A.C. O assédio moral no ambiente de trabalho. Revista LTr, 68­08/922.
SILVA, Jorge Luiz de Oliveira da. Assédio mora no ambiente de trabalho. Rio de Janeiro: Jurídica, 2005.
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. A prova no processo do trabalho. 8. Ed. São Paulo: LTr, 2003.
TEIXEIRA,  João  Luís  Vieira.  O  assédio  moral  no  trabalho.  Conceito,  causas  e  efeitos,  liderança  versus
assédio, valoração do dano e sua prevenção. São Paulo. LTr, 2009.
TEIXEIRA, Paulo; PELI, Paulo. Assédio moral – Uma responsabilidade corporativa. São Paulo: Ícone, 2006.
VADE MECUM acadêmico de direito – Anne Joyce Angher organização. 4. Ed. São Paulo: Rideel, 2007.

ANEXOS
ANEXO 01 –

Projeto de Lei n. 4.742/2001

Autor: Deputado Federal Marcos de Jesus (PL/PE)

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Acrescenta o art. 136­A ao decreto­lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal Brasileiro,
instituindo o crime de assédio moral no trabalho.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º ­ O decreto­lei n.2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal brasileiro, fica acrescido o art.
136­A, com a seguinte redação:

“Art. 136­A – Depreciar, de qualquer forma e reiteradamente, a imagem ou o desempenho de servidor
público ou empregado, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou tratá­lo
com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física e psíquica.

Pena – detenção de um a dois anos.

Art. 2º ­ Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Sala da Comissão, em 6 de dezembro de 2001. 

ANEXO 02 –

Lei contra assédio moral em Iracemápolis – SP

Dispõe  sobre  a  aplicação  de  penalidades  à  prática  de  assédio  moral  nas  dependências  da
Administração Pública Municipal Direta por servidores públicos municipais.

CÂMARA MUNICIPAL DE IRACEMÁPOLIS – SP

Lei n. 1.163/2000, de 24 de abril de 2000.

CLÁUDIO  CONSENZA,  Prefeito  Municipal  de  Iracemápolis,  Estado  de  São  Paulo,  no  uso  de  suas
atribuições legais. Faz saber que a Câmara Municipal aprovou e ele sancionou e promulga a seguinte Lei:

Art. 1º ­ Ficam os servidores públicos municipais sujeitos às seguintes penalidades administrativas na
prática de assédio moral, nas dependências do local de trabalho:

1.    Advertência.

2.    Suspensão, impondo­se ao funcionário a participação em curso de comportamento profissional.

3.    Demissão.

Parágrafo  único.  Para  fins  do  disposto  nesta  Lei,  considera­se  assédio  moral  todo  tipo  de  aço,  gesto  ou
palavra que atinja, pela repetição, a autoestima e a segurança de um individuo(sic), fazendo­o duvidar de si e de
sua  competência,  implicando  em  dano  ao  ambiente  de  trabalho,  à  evolução  da  carreira  profissional  ou  à
estabilidade  do  vinculo  empregatício  do  funcionário,  tais  como:  marcar  tarefas  com  prazos  impossíveis;  passar
alguém  de  uma  área  de  responsabilidade  para  funções  triviais;  tomar  crédito  de  idéias  de  outros;  ignorar  ou
excluir  um  funcionário  só  se  dirigindo  a  ele  através  de  terceiros;  sonegar  informações  de  forma  insistente;
espalhar rumores maliciosos; criticar com persistência; subestimar esforços.

Art.  2º  ­  Os  procedimentos  administrativos  do  disposto  no  artigo  anterior  será  iniciado  por  provocação  da
parte ofendida ou pela autoridade que tiver conhecimento da infração funcional.

Parágrafo  único.  Fica  assegurado  ao  servidor  o  direito  de  ampla  defesa  das  acusações  que  lhe  forem
imputadas, sob pena de nulidade.

Art. 3º ­ As penalidades a serem aplicadas serão decididas em processo administrativo de forma progressiva,
considerada a reincidência e a gravidade da ação.

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§ 1º As penas de curso de aprimoramento profissional suspensão e multa deverão ser objeto de notificação
por escrito ao servidor infrator.

§  2º  A  pena  de  suspensão  poderá,  quando  houver  conveniência  para  o  serviço,  ser  convertida  em  multa,
sendo o funcionário, nesse caso, obrigado a permanecer no exercício da função.

Art. 4º ­ Esta Lei deverá ser regulamentada pelo Executivo no prazo de 60 (sessenta) dias.

Art.  5º  ­  As  despesas  decorrentes  da  execução  orçamentária  da  presente  Lei  correrão  por  conta  das
dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessários.

Art. 6º ­ Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Iracemápolis, aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano dois mil.

                                                              Cláudio Cosenza

                                                              Prefeitura Municipal

ANEXO 03 –

Projeto de Lei n. 2.369/2003

Deputado Federal Mauro Passos (PT/SC)

Dispõe sobre o assédio moral nas relações de trabalho.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º ­ É proibido o assédio moral nas relações de trabalho.

Art.  2º  ­  Assédio  moral  consiste  no  constrangimento  do  trabalhador  por  seus  superiores  hierárquicos  ou
colegas, através de atos repetitivos, tendo como objetivo, deliberado ou não, ou como efeito, a degradação das
relações de trabalho e que:

I – atente contra sua dignidade ou seus direitos, ou

II – afete sua higidez física ou mental, ou

III – comprometa a sua carreira profissional.

Art. 3º ­ É devida indenização pelo empregador ao empregado sujeito a assédio moral, ressalvado o direito
de regresso.

§  1º  ­  A  indenização  por  assédio  moral  tem  valor  mínimo  equivalente  a  10  (dez)  vezes  a  remuneração  do
empregado, sendo calculada em dobro em caso de reincidência.

§ 2º ­ Além da indenização prevista no § 1º, todos os gastos relativos ao tratamento médico serão pagos pelo
empregador, caso seja verificado dano à saúde do trabalhador.

Art. 4º ­ O empregador deve tomar todas as providências necessárias para evitar e prevenir o assédio moral
nas relações de trabalho.

§ 1º ­ As providencias incluem medidas educativas e disciplinadoras, entre outras.

§ 2º ­ Caso sejam adotadas medidas de prevenção ao assédio moral e sendo esse verificado, o empregador
está sujeito a pagamento de multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) por empregado, sendo o valor elevado
ao dobro na reincidência.

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Art.  5º  ­  O  assédio  moral  praticado  por  empregado,  após  ter  sido  orientado  sobre  a  sua  proibição,  enseja
sanção disciplinadora pelo empregador.

Parágrafo  único  –  A  sanção  disciplinadora  deve  considerar  a  gravidade  do  ato  praticado  e  a  sua
reincidência, sujeitando o empregado à suspensão e, caso não seja verificada alteração no seu comportamento
após  orientação  do  empregador,  à  rescisão  do  contrato  de  trabalho  por  falta  grave,  nos  termos  do  art.  482  da
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.

Art. 6º ­ Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Notas:

[1] DALAZEN, João Oreste. Aspectos do dano moral trabalhista. Revista Júris Síntese, n. 24, jul./ago. 2000.

[2] Disponível em: HTTP://www.leymann.se.

[3]  Mestre  em  Direito  do  Trabalho  pela  PUC­SP  e  Juiz  do  Tribunal  do  Trabalho  da  17ª  Região.  Artigo
publicado no Júris Síntese n.41, maio/jun. de 2003.

[4] Disponível em: HTTP://conjur.estadao.com.br/static/text/37086,1 Acesso em:25 jan. 2007.
[5]  Doutora  em  Direito  pela  Faculdade  de  Direito  da  UFMG  e  Juíza  togada  do  Tribunal  do  Trabalho  da  3ª
Região. Artigo publicado no Júris Síntese nº 52, mar/abr. de 2005.

[6] Wagner Prado Pereira Silva, 46 anos, oficial de Justiça na cidade de Pouso Alegre – MG.

[7] Termo utilizado como sinônimo de terror psicológico, ou assédio moral.
[8] Disponível em: www.assediomoral.org. Acesso em: 06.09.2004

[9]  Denise  Gomes,  50  anos,  professora  em  Belo  Horizonte,  obteve  na  justiça,  em  primeira  instancia,  a
rescisão do contrato de trabalho e o direito a indenização de R$ 25.000,00.

[10] Maria Aparecida Berci Luiz, 50 anos, ex­gerente de uma empresa ferroviária paulista.
[11] Ob. Cit., p. 523.

[12] Ob. Cit., p.6.
[13] Disponível em: http://conjur.estadao.com.br/static/text/52763,1.

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