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APLICAÇÃO DE FERTILIZANTE FOLIAR NA CULTURA DO TRIGO ASSOCIADO OU NÃO AO

NITROGÊNIO

Talissa Andressa Herek 1

Willian Miguel Mikoanski 2

Lenir Fátima Gotz 3

Felipe Piovesan 4

Bruna Letícia Anzolin 5

Alfredo Castamann 6

Resumo:

O Brasil apresenta condições adequadas de solo, clima e topografia para o cultivo do trigo e possui grande potencial para a
expansão e aumento da produção. Para isso, torna-se necessário o uso de boas práticas culturais e adubação adequada,
principalmente nitrogenada. A ureia é a principal fonte de N utilizada, porém apresenta dificuldades de manejo por sua alta
volatilidade, e quando solubilizada pode ser facilmente lixiviada, ocorrendo prejuízos financeiros e ambientais. Diante disso,
empresas produtoras de fertilizantes têm recomendado a aplicação de nutrientes via foliar, em especial de N, garantindo
melhor aproveitamento deste nutriente e redução dos custos de produção. Porém, há ampla diferença de opinião entre
pesquisadores, o que torna essa prática da fertilização foliar polêmica. Nesse sentido, esse estudo teve por objetivo avaliar a
produção e a qualidade dos grãos na cultura do trigo, em função da aplicação de nutrientes via foliar, associada ou não à
aplicação de N em cobertura. Para isso foi conduzido um trabalho na área experimental da Universidade Federal da Fronteira
Sul, campus Erechim/RS. Foram testadas cinco doses de fertilizante foliar (0, 1, 2, 3, e 4 L ha-1), associado ou não a aplicação
de N em cobertura, totalizando 10 tratamentos. O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, em
esquema fatorial, com quatro repetições. As variáveis respostas foram: teor de N foliar, altura das plantas, número de espigas
por metro quadrado, massa de mil grãos, rendimento de grãos (kg ha-1) e o peso hectolitro (PH) dos grãos. Como resultados
verificou-se que nas plantas sem a aplicação de N em cobertura não houve influência no teor de N foliar pelas diferentes doses
do fertilizante foliar aplicado, diferentemente do que ocorreu nos tratamentos com aplicação de N em cobertura, em que notou-
se efeito das diferentes doses do produto no teor de N foliar. Nas variáveis: altura de plantas, número de espigas por m², massa
de mil grãos, rendimento de grãos e peso hectolitro (PH), não houve interação entre os fatores testados e também não houve
efeito isolado de doses de fertilizante foliar, apenas houve efeito isolado da aplicação de N em cobertura. Todas as variáveis
diferiram em relação à aplicação ou não de N em cobertura, ocorrendo acréscimo dos valores nos tratamentos em que ocorreu
a aplicação do N. Conclui-se que a substituição da aplicação do N em cobertura pela aplicação do fertilizante foliar não foi
capaz de atender às exigências nutricionais da cultura, já o fornecimento do N em cobertura aumentou o rendimento e a
qualidade dos grãos.

Palavras-chave: Adubação nitrogenada; Triticum aestivum; Rendimento de grãos


Modalidade de Participação: Iniciação Científica

APLICAÇÃO DE FERTILIZANTE FOLIAR NA CULTURA DO TRIGO ASSOCIADO OU NÃO AO NITROGÊNIO


1 Aluno de graduação. tali.herek@gmail.com. Autor principal

2 Aluno de graduação. mikoanski.mk@gmail.com. Co-autor

3 Aluno de graduação. lenirgotz@gmail.com. Co-autor

4 Aluno de graduação. piovesan.felipe95@gmail.com. Co-autor

5 Aluno de graduação. banzolin23@gmail.com. Co-autor

6 Docente. alfredocastamann2014@gmail.com. Orientador

Anais do 9º SALÃO INTERNACIONAL DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - SIEPE


Universidade Federal do Pampa | Santana do Livramento, 21 a 23 de novembro de 2017
APLICAÇÃO DE FERTILIZANTE FOLIAR NA CULTURA DO TRIGO ASSOCIADO
OU NÃO AO NITROGÊNIO

1. INTRODUÇÃO
O trigo (Triticum aestivum) foi um dos primeiros cereais a ser cultivado no
Brasil, por volta do ano de 1534, pelos colonizadores europeus na região litorânea
de São Paulo e de Paraná (ORMOND et al. 2003). O Brasil apresenta condições
adequadas de solo, clima e topografia para a produção do trigo, além de potencial
para a expansão desse cultivo e aumento da produção, podendo atender toda a
demanda interna. Para isso torna-se necessário o uso de boas práticas culturais,
utilização de cultivares com altos padrões de rendimento e adubação adequada,
principalmente a nitrogenada (TEIXEIRA FILHO et al. 2010).
Para suprir de forma adequada a necessidade de nutrientes da cultura do
trigo deve-se melhorar a eficiência na nutrição, impondo a necessidade de maiores
informações a respeito de tecnologias e soluções, para que, em curto prazo,
obtenha-se maiores índices de produção e qualidade (TRINDADE et al. 2006).
O nitrogênio (N) participa da formação de proteínas e funções metabólicas de
extrema importância para a planta, destacando-se tanto no aumento do rendimento
de grãos, como na qualidade fisiológica das sementes (IMOLESI et al. 2001; BONO
et al. 2008). A realização de forma inadequada da adubação nitrogenada é um dos
principais fatores que estão limitando o aumento na produtividade do trigo (BENIN et
al. 2012). A ureia é a principal fonte de N utilizada, porém apresenta dificuldades no
manejo, devido a sua alta volatilidade. Também, ao ser solubilizado, o N é
facilmente lixiviado, ocorrendo perdas, com prejuízos financeiros e ambientais.
Diante disso, vêm sendo preconizado por empresas produtoras de
fertilizantes a aplicação de nutrientes via foliar, em especial de N. Dentre os
benefícios atribuídos à esta fonte, as empresas garantem melhor aproveitamento do
nutriente e redução dos custos de produção. Porém, há ampla diferença de opinião
entre pesquisadores, o que torna essa prática da fertilização foliar polêmica
(ROSOLEM, 2002). Pesquisas em relação à esse assunto são restritas, sendo a
maioria delas realizadas pelas empresas detentoras do fertilizante.
Nesse sentido, esse estudo teve por objetivo avaliar a produção e a qualidade
dos grãos na cultura do trigo, em função da aplicação de nutrientes via foliar,
associada ou não à aplicação de N em cobertura.

2. METODOLOGIA
O trabalho foi conduzido na área experimental da Universidade Federal da
Fronteira Sul, campus Erechim/RS, em um Latossolo Vermelho Aluminoférrico
húmico (EMBRAPA, 2013).
Os tratamentos consistiram na aplicação de diferentes doses de fertilizante
foliar (0, 1, 2, 3, e 4 L ha-1), associado ou não a aplicação de N em cobertura (77,4
kg ha-1), totalizando 10 tratamentos.
Nas parcelas que receberam N em cobertura (ureia), foi aplicado em duas
épocas, a primeira no perfilhamento e a segunda 30 dias após. A aplicação do
fertilizante foliar foi realizada em duas fases: a primeira no perfilhamento e a
segunda no enchimento dos grãos. O fertilizante foliar utilizado possuía a seguinte
formulação: 8 % de N, 5 % de P, 1 % de K, 1 % de S, 0,5 % de B, 1,5 % de Mn, 0,01
% de Mo e 0,5 % de Zn.
O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, em
esquema fatorial (5: doses de fertilizante foliar x 2: com e sem aplicação de N), com
quatro repetições. Cada parcela possuía 5 m de comprimento e 2,72 m de largura.
A semeadura do trigo foi realizada no dia 20 de junho de 2016, com a cultivar
TBio Sinuelo, no espaçamento de 17 cm entre linhas e densidade de 320 plantas por
m². Foi aplicado 250 kg ha-1 de adubo NPK na formulação 05-30-15, de acordo com
indicações para a cultura, contidas no Manual de adubação e calagem para os
estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (SBCS, 2004).
As variáveis respostas foram: teor de N foliar, altura das plantas, número de
espigas por metro quadrado, massa de mil grãos, rendimento de grãos (kg ha-1) e o
peso hectolitro (PH) dos grãos.
As folhas bandeiras para a determinação do N foram coletadas nos 50 cm
externos de cada parcela, no período de floração da cultura. Após a coleta as folhas
foram postas a secar em estufa com circulação forçada de ar, à temperatura de
65°C. A extração do N foliar foi realizada por meio da digestão das amostras por
peróxido de hidrogênio, ácido sulfúrico e mistura de digestão, e a determinação do
teor do N foi feita pela destilação e titulação, conforme metodologia descrita por
Tedesco et al. (1995).
A altura de plantas e o número de espigas por m² foram avaliados no período
de enchimento de grãos da cultura. A altura das plantas foi obtida medindo-se, com
o auxílio de uma régua, plantas escolhidas aleatoriamente na área útil da parcela.
Para quantificar o número de espigas por m² foi utilizado um quadrado com área
definida (0,5 m²), e posterior converteu-se para 1 m². A massa de mil grãos, o PH e o
rendimento de grãos foram determinados após a colheita da cultura, corrigindo a
umidade do grão em 13 %. A massa de mil grãos foi obtida pela pesagem de quatro
repetições de 100 grãos cada e o peso hectolitro foi determinado com o uso de
balança. O rendimento de grãos foi obtido pela colheita manual das plantas na área
útil da parcela (6,80 m²) e posterior converteu-se para hectares (kg ha-1).
Os resultados foram submetidos à análise de variância, sendo a variável
quantitativa submetida à análise de variância da regressão e a variável qualitativa ao
teste de comparação de médias proposto por Tukey. Os testes estatísticos foram
realizados com auxílio do programa Sisvar, versão 5.6 (FERREIRA, 2014).

3. RESULTADOS e DISCUSSÃO
Quanto ao teor de N foliar, verificou-se interação entre as doses de fertilizante
foliar e a aplicação ou não do N em cobertura. Nas plantas sem a aplicação de N em
cobertura, não houve influência no teor de N foliar, pelas diferentes doses do
fertilizante foliar aplicado. Já nos tratamentos com aplicação de N em cobertura,
notou-se efeito das diferentes doses do produto no teor de N foliar, sendo a variação
dessa concentração explicada pela equação quadrática (Figura 1).
com o aumento das doses de N não houve influência na altura das plantas de trigo,
somente houve efeito positivo na quantidade de espigas por m².
Do mesmo modo, a massa de mil grãos aumentou com a aplicação do N em
cobertura, comparando-se à não aplicação (Tabela 1). Zagonel et al. (2002),
constataram que a adubação nitrogenada não influenciou a massa de mil grãos do
trigo. Por outro lado, Prando et al. (2012), observaram redução da massa de mil
grãos quando houve o aumento nas doses de N, o que pode ser explicado pelo
acamamento de plantas e aumento de grãos por área, o que aumenta a competição
por nutrientes.
A aplicação de N em cobertura aumentou o peso hectolitro (PH) dos grãos de
trigo, contribuindo para o aumento na qualidade dos grãos. Ressalta-se que em
ambas as situações o PH ficou dentro do padrão de comercialização (78 kg hl-1)
(Tabela 1). Prando et al. (2013), constataram que à medida que as doses de N
foram aumentadas ocorreu uma queda linear no PH dos grãos de trigo, isto pode
estar relacionado com o excesso de N, ocasionando acamamento das plantas e
perdas na qualidade dos grãos. Comportamento semelhante com relação ao PH foi
encontrado por Trindade et al. (2006) e Teixeira Filho et al. (2010), havendo redução
do PH do trigo com o aumento das doses de N.
Em relação ao rendimento de grãos, verificou-se que foi maior quando as
plantas foram submetidas à aplicação de N (Tabela 1). Entretanto, as médias
obtidas apresentaram-se abaixo do valor médio no estado do Rio Grande do Sul,
que na safra 2016 correspondeu à 3.214 kg ha-1 (CONAB, 2017). Isto pode ter
ocorrido pelo fato do solo estar com o pH abaixo do recomendado e, também, ao
fato de após a semeadura do trigo ter ocorrido déficit hídrico que prejudicou a
germinação.
O incremento no rendimento de grãos com a adição do N em cobertura deve-
se ao fato deste nutriente ser de suma importância para o desenvolvimento do trigo.
De acordo com Trindade et al. (2006), quando não aplicado o N em cobertura pode-
se obter uma redução de 22,6 % na produção da cultura do trigo, sendo que a
maioria dos componentes de rendimento da cultura se beneficiam do N, já a
deficiência deste nutriente pode reduzir a eficiência do uso da água e também
diminuir a eficiência do uso da radiação.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A substituição da aplicação do N em cobertura pela aplicação do fertilizante
foliar não foi capaz de atender às exigências nutricionais da cultura. Também, ao
aplicar o fertilizante foliar como suplemento, não foi observado benefícios à cultura.
A aplicação do fertilizante foliar na cultura do trigo proporcionou somente pequenas
mudanças no teor do N foliar.
O fornecimento do N em cobertura aumentou o rendimento e a qualidade dos
grãos, confirmando a necessidade da aplicação desse nutriente para que se obtenha
altos índices produtivos.

5. REFERÊNCIAS
BENIN, G. et al. Agronomic performance of wheat cultivars in response to nitrogen
fertilization levels. Acta Scientiarum. Agronomy, v.34, n. 3, p. 275-283, 2012.

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EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de


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