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Bloco 06 - Leitura Complementar 03 - Guerra Fiscal - Ricardo Coelho - Rodrigo Maia
Bloco 06 - Leitura Complementar 03 - Guerra Fiscal - Ricardo Coelho - Rodrigo Maia
Resumo
1 – Introdução
“[...] permitido exercitar suas competências tributárias, com ampla liberdade. Assim,
dependendo da decisão política que vierem a tomar, podem, ou não, criar os tributos
que lhes são afetos. Se entenderem de criá-los, poderão fazê-lo de modo mais ou
menos intenso, bastando apenas que respeitem os direitos constitucionais dos
contribuintes e a regra que veda o confisco.” (CARRAZA, 2007, p. 141 apud
SILVA, 2013, p. 7).
2 – Referencial Teórico
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
Na maioria dos países do mundo existe apenas um IVA, que é de competência federal.
No Brasil, no entanto, o legislador constituinte, numa tentativa atécnica de dividir a renda,
optou por dividí-lo em três partes: o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), de
competência da União, o ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de
Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de
Comunicação), de competência estadual, e o ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer
Natureza), de competência municipal. A CF/88 determinou a não-cumulatividade do IPI e
ICMS, que são os tributos que incidem sobre produtos e mercadorias. (ALEXANDRE, 2016,
ps. 547 e 548).
Com essa divisão estabelecida na CF/88, os estados receberam competência para
legislar sobre o ICMS e como este é o imposto de maior arrecadação no sistema tributário
nacional, os estados ganharam um importante instrumento para atrair investimentos para suas
regiões através da concessão de benefícios fiscais relacionados a ele, instalando-se a guerra
fiscal no Brasil.
Conforme detalhado anteriormente, o ICMS é uma espécie de IVA e por isso, possui
característica de não-cumulatividade. De acordo com a Constituição Federal, a não-
cumulatividade permite a compensação do que for devido em cada operação subsequente com
o valor cobrado nas operações anteriores. (BRASIL, 1988).
Os efeitos da guerra fiscal no âmbito desse tributo podem ser percebidos,
principalmente, em operações entre estados. Para ficar claro, cita-se como exemplo concreto o
caso dos frigoríficos. Para atrair ou manter a criação de gado em seu território, determinado
estado concede redução do ICMS. Essa redução, se concedida à revelia do CONFAZ –
Conselho de Administração Fazendária – que analisaremos posteriormente, é inconstitucional.
Nada obstante, utilizando de autonomia legislativa, o estado a concede. Na emissão da Nota
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
Fiscal para a venda do gado, o benefício não é discriminado e o alienante declara a alíquota
cheia do ICMS. O comprador, então, situado em outro estado, se apropria do valor total do
crédito e o compensa na venda da carne, recolhendo valor menor ao estado de destino. Caso
semelhante foi denunciado recentemente pelo Sindicato dos Agentes Fiscais de Rendas do
Estado de São Paulo (Sinafresp), em reportagem do jornal Valor Econômico de 21/03/2016.
(MENDES, 2016).
Esse exemplo deixa claro que o estado de destino se tornou financiador de um
benefício não concedido por ele, sem qualquer chance de se defender, a não ser que descubra
o benefício irregular concedido e o denuncie ao Supremo Tribunal Federal em uma Ação
Direta de Inconstitucionalidade. Descobrir benefícios concedidos, no entanto, não é tarefa
fácil, pois, como visto no exemplo, o alienante não o aponta na Nota Fiscal.
Certo nível de concorrência entre os estados é até saudável como meio de diminuir a
pressão fiscal e gerar eficiência administrativa. O que se tem visto, no entanto, é uma
competição desleal e predatória, que causa prejuízos para toda a sociedade.
Nas palavras de Mendonça, Murta e Gasse, o que ocorre é uma
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
3 – Procedimentos Metodológicos
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
quantitativa se dá pela exploração dos dados brutos, padronizados e neutros, que no caso
desse artigo, representam o volume de receitas renunciado pelos estados.
4 – Resultados e discussões
A tabela 1 apresenta uma compilação de parte dos dados coletados na pesquisa, base
da análise. A coleta de dados se baseou nas estimativas de Receita Tributária, obtidas da LDO
e nas Previsões de Renúncia Fiscal, obtidas da LOA de cada ano de cada ente federado.
2010 2015
Receita Tributária Renúncia Receita Tributária Renúncia
Acre 641,39 16,82 1.164,73 58,68
Alagoas 2.100,35 154,00 3.749,32 579,18
Amapá 441,48 85,51 1.057,73 122,27
Amazonas 6.312,16 4.115,51 9.190,67 6.816,07
Bahia 11.246,41 1.785,30 21.433,96 3.213,36
Ceará 5.594,19 967,26 10.860,11 967,26
Distrito Federal 8.747,99 892,32 14.255,60 2.198,00
Espírito Santo 7.480,87 836,42 10.474,08 1.011,29
Goiás 8.802,75 4.555,60 16.503,98 8.177,09
Maranhão 3.059,83 276,70 5.925,53 802,40
Mato Grosso 5.150,54 1.537,80 7.906,57 932,14
Minas Gerais 29.223,38 2.280,98 51.141,61 4.255,06
Pará 5.614,73 759,71 11.095,07 1.029,57
Paraíba 2.671,04 441,17 5.244,86 1.301,03
Pernambuco 8.636,46 80,99 16.003,46 251,14
Piauí 1.799,89 171,49 3.696,52 355,97
Rio de Janeiro 26.867,01 2.417,19 49.403,97 6.460,92
Rio Grande do Norte 3.188,67 232,44 5.882,97 397,97
Rondônia 2.609,01 787,61 3.505,21 160,20
Roraima 333,40 42,88 704,52 63,61
Santa Catarina 11.452,05 3.006,15 20.773,64 5.179,88
São Paulo 91.948,90 4.685,60 148.797,92 15.014,90
Tocantins 1.504,22 245,05 2.608,94 907,40
Totais 245.426,72 30.374,50 421.380,97 60.255,39
Fonte: LOA e LDO de cada estado e Distrito Federal obtidas dos sites das Secretarias de Estado
de Planejamento (SEPLAN, SEPLAG), Secretarias da Fazenda (SEFAZ, SEF), Assembleias
Legislativas e Diários Oficiais respectivos.
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
Se no ano de 2015 a renúncia fiscal estimada totalizou 60,2 bilhões de reais, em 2010
a estimativa contida na LDO dos estados e do Distrito Federal somou 30,3 bilhões, o que
implica um crescimento da ordem de 98% da renúncia de tributos.
Já a receita tributária, que em 2015 foi estimada em 421,3 bilhões de reais, totalizava
245,4 bilhões de reais em 2010, implicando um crescimento de 71% em seis anos. Esse dado
indica que a renúncia fiscal cresceu em velocidade 38% superior à arrecadação em apenas seis
anos.
O gráfico 1 demonstra a relação entre a Renúncia Fiscal e a Receita Tributária de cada
estado e do Distrito Federal. Nota-se que a renúncia relativa (em percentagem) é acentuada
em alguns estados.
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
80%
75%
70%
65%
60%
55%
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Fonte: LOA e LDO de cada estado e Distrito Federal obtidas dos sites das Secretarias de Estado
de Planejamento (SEPLAN, SEPLAG), Secretarias da Fazenda (SEFAZ, SEF), Assembleias
Legislativas e Diários Oficiais respectivos.
É possível observar pelo gráfico acima que a renúncia fiscal em 2015 na maioria dos
estados se situa entre 10% e 14% da receita. Em alguns estados, no entanto, a relação é muito
maior, chegando, por exemplo, a quase 75% no Amazonas, 50% em Goiás, 35% no Tocantins
e 25% nos estados da Paraíba e de Santa Catarina.
O gráfico 2 demonstra o crescimento da Renúncia Fiscal e também o crescimento da
Receita Tributária de cada estado e do Distrito Federal considerando os anos de 2010 e 2015.
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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – ARTIGO CIENTÍFICO
280%
260%
240%
220%
200%
180%
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120%
100%
80%
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40%
20%
0%
-20%
-40%
-60%
-80%
Fonte: LOA e LDO de cada estado e Distrito Federal obtidas dos sites das Secretarias de Estado
de Planejamento (SEPLAN, SEPLAG), Secretarias da Fazenda (SEFAZ, SEF), Assembleias
Legislativas e Diários Oficiais respectivos.
A renúncia implica menos dinheiro entrando nos cofres estaduais e, além de ser muitas
vezes injusta, já que beneficia apenas algumas empresas, faz com que a população seja
penalizada e o desenvolvimento do país não ocorra de forma coordenada e igualitária,
afrontando diretamente o pacto federativo.
Resta comprovado que a guerra fiscal precisa ser amplamente debatida e solucionada o
mais brevemente possível, pois seus efeitos são sentidos em todas as regiões do país.
5 – Conclusão
6 – Referências Bibliográficas
CRUZ, D., ALVARENGA, D. Governo anuncia revisão da meta fiscal e novo corte de
gastos. Julho, 2015. Disponível em http://goo.gl/nXCsR3. Acesso em Ago. 2016.
MENDES, G. F., CAMPOS, C. C. Federação e guerra fiscal. Rio de Janeiro: FGV Projetos,
vol. 3, 2013.
PEDUZZI, P. Governo quer dividir reforma do ICMS em duas etapas. Abril, 2016.
Disponível em http://goo.gl/yc2nTW. Acesso em Ago. 2016.
Supremo Tribunal Federal – STF. Proposta de súmula vinculante nº 69, abril, 2012.
Disponível em http://goo.gl/gCKjUJ. Acesso em Ago. 2015.
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