Você está na página 1de 89

VENTURE CAPITAL E GOVERNANÇA CORPORATIVA: UM ESTUDO DA

ATUAÇÃO DE FUNDOS NO BRASIL

Autores: Caetano Nobre, Camila Aguilera, Cristiane Rensi, David Antonioli, Maria
Aparecida Simionato
RESUMO

O presente trabalho procura avaliar se os fundos de Venture Capital

direcionam as empresas investidas ao nível mais alto de Governança Corporativa na

Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). Com esse objetivo, foram realizados

estudos sobre a conceituação dos fundos de Venture Capital e Private Equity; a

implementação das regras de Governança pelos fundos nas empresas investidas;

suas estratégias de saída; o processo de listagem das empresas brasileiras na

Bolsa de Valores via IPO - Initial Public Offering (Oferta Pública Inicial) e quais os

níveis de Governança aderidos por essas empresas na BOVESPA. Considerando os

objetivos acima, formulou-se a hipótese de que empreendimentos financiados por

fundos de Venture Capital são direcionados para o nível mais alto de Governança

Corporativa. A metodologia utilizada para a coleta de dados foi a Qualitativa, tendo

sido realizadas entrevistas com gestores de fundos de Venture Capital e Private

Equity. Como resultado, constatou-se que a Governança adquiriu maior visibilidade

após os escândalos contábeis da Enron e WorldCom, entre outras. A Governança

não foi apontada como pré-requisito para o aporte de capital, porém, é

imprescindível que a empresa esteja disposta a implementá-la. Os entrevistados

afirmaram que os fundos participam ativamente nas tomadas de decisão das

empresas investidas. A Governança Corporativa é imprescindível nas saídas via

IPO, visto que, quanto mais alto o nível desta, melhor a precificação de suas ações.

Os entrevistados entendem que os elevados custos na implementação da

Governança são recompensados pelo retorno na precificação de suas ações e

afirmaram que buscam direcionar as empresas investidas ao nível mais alto de

Governança, desde o início de sua participação na empresa. Os resultados obtidos


sinalizam uma tendência dos fundos de Venture Capital em direcionar as empresas

investidas ao nível mais alto de Governança Corporativa, o que não ocorre apenas

nos casos em que a empresa possui impedimentos regulatórios.

Palavras-chave: Venture Capital, IPO, Governança Corporativa.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9

1. REFERENCIAL TEÓRICO ..............................................................................................10

1.1. Conceituando Empreendedorismo ...........................................................................10

1.1.1. Empreendedorismo no Brasil ............................................................................11

1.1.2. O Processo Empreendedor...............................................................................13

1.1.3. Identificando e Avaliando Oportunidades..........................................................13

1.1.4. Desenvolvendo o Plano de Negócios ...............................................................14

1.1.5. A Busca de Financiamento ...............................................................................15

1.1.5.1. Angel Investor ............................................................................................17

1.1.5.2. Venture Capital e Private Equity ................................................................18

1.2. A Inovação e o Venture Capital................................................................................19

1.2.1. Venture Capital no Mundo - Origem e Evolução ...............................................20

1.2.2. Venture Capital no Brasil ..................................................................................22

1.2.3. Critérios de Seleção ..........................................................................................23

1.2.4. Processo de Decisão ........................................................................................25

1.2.5. Estratégia de Saída em Venture Capital ...........................................................27

1.2.6. Formas de Saída dos Investidores de Venture Capital .....................................27

1.2.6.1. Venda Estratégica (trade-sale) ..................................................................28

1.2.6.2. Introdução em Bolsa de Valores - (Initial Public Offering - IPO) ................29

1.2.6.3. Venda Para Outro Investidor (Secondary Sale) .........................................30

1.2.6.4. Recompra Pelo Empreendedor (Buyback) ................................................30

1.2.6.5. Liquidação (write-off) .................................................................................31

1.2.7. Tipologia de Estratégias de Saída ....................................................................31


1.3. Abertura de Capital - IPO - Initial Public Offering ou Oferta Pública Inicial ..............33

1.3.1. Legislação .........................................................................................................33

1.3.2. Formas de Distribuição .....................................................................................34

1.3.3. Liquidez Patrimonial ..........................................................................................35

1.3.4. Vantagens e Responsabilidades da Abertura de Capital de uma Empresa ......36

1.3.5. Etapas do Processo de Abertura de Capital .....................................................38

1.3.6. Custos das Operações de Abertura de Capital .................................................40

1.3.7. Documentação ..................................................................................................42

1.3.8. Abertura de Capital no Brasil e no Exterior Simultaneamente ..........................42

1.3.9. Fatores a Serem Considerados na Abertura de Capital ...................................43

1.3.10. Liquidez do Papel Após a Abertura de Capital................................................43

1.3.11. Práticas de Governança Corporativa ..............................................................44

1.4. Governança Corporativa ..........................................................................................44

1.4.1. Níveis de Governança Corporativa ...................................................................48

1.4.1.1. Bovespa Nível I ..........................................................................................48

1.4.1.2. Bovespa Nível II .........................................................................................50

1.4.1.3. Bovespa Novo Mercado ............................................................................51

1.4.2. A Importância da Governança Corporativa .......................................................52

1.4.3. Governança Corporativa no Venture Capital ....................................................54

1.4.4. Princípios de Governança Corporativa para Venture Capital e Private

Equity ..........................................................................................................................54

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................................56

2.1. Problema de Pesquisa .............................................................................................56

2.2. Hipótese do Trabalho ...............................................................................................56

2.3. Definição das Variáveis ............................................................................................57


2.3.1. Definição Operacional .......................................................................................58

2.4. Objetivos da Pesquisa..............................................................................................59

2.4.1. Objetivo Geral ...................................................................................................59

2.4.2. Objetivos Específicos ........................................................................................60

2.5. Abordagem Metodológica ........................................................................................60

2.5.1. Natureza da Pesquisa .......................................................................................60

2.5.2. Método de pesquisa ..........................................................................................61

2.5.2.1. Pesquisa Quantitativa ................................................................................62

2.5.2.2. Pesquisa Qualitativa ..................................................................................62

2.6. Instrumento de Coleta de Dados ..............................................................................63

2.7. Plano Amostral .........................................................................................................63

3. RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS ....................................................................64

3.1. Análise dos dados ....................................................................................................67

3.1.1. Percepção dos fundos com relação às práticas de Governança

Corporativa no contexto mundial e no Brasil ..............................................................67

3.1.2. Governança Corporativa como requisito a ser considerado na seleção

das empresas para receberem o investimento dos fundos .........................................70

3.1.3. Participação do fundo nas tomadas de decisão, pelo corpo diretivo, em

relação à Governança Corporativa: ............................................................................71

3.1.4. Peso da Governança Corporativa nas saídas via Trade Sale e via IPO ...........73

3.1.5. Comparação do retorno das empresas listadas no Novo Mercado, com

saída via IPO versus empresas dos demais níveis .....................................................75

3.1.6. Os custos da implantação da Governança Corporativa versus Entrada

nos níveis mais elevados ............................................................................................76


3.1.7. O direcionamento das empresas investidas para o mesmo nível nas

saídas via IPO.............................................................................................................78

4. CONCLUSÃO..................................................................................................................81

4.1. Limitações do Estudo ...............................................................................................85

4.2. Sugestões para Estudos Futuros .............................................................................85

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................86


LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Empresas atualmente listadas no Nível I da Bovespa ............................ 49

Quadro 2 - Empresas atualmente listadas no Nível II da Bovespa ........................... 51

Quadro 3 - Empresas atualmente listadas no Novo Mercado ................................... 52

Quadro 4 - Aberturas de Capital na Bolsa de Valores de São Paulo ........................ 79

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Proposta de Investimento de Venture Capital .......................................... 25

Figura 2 - Comparação da performance dos índices ................................................ 53

Figura 3 - Potencial de Valorização no Processo de Bookbuilding ........................... 75

Figura 4 - Total de empresas que abriram capital e receberam financiamento ......... 80

Figura 5 – Rentabilidade das empresas listadas no Nível I ....................................... 82

Figura 6 - Rentabilidade das empresas listadas no Nível II ...................................... 83

Figura 7 - Rentabilidade das empresas listadas no Novo Mercado .......................... 84


INTRODUÇÃO

Venture Capital pode ser definido como uma modalidade de intermediação

financeira na qual, geralmente, um fundo privado adquire parte de uma empresa,

com o objetivo de obter elevados retornos no futuro, desfazendo-se de sua

participação, através de um processo conhecido como desinvestimento.

Entre os diversos tipos de financiamento para uma empresa, nenhum é tão

completo e fascinante quanto o financiamento via Venture Capital, o chamado

Capital de Risco. Neste contexto, a Governança Corporativa entra no universo do

Venture Capital com o objetivo de fornecer mais segurança ao investidor, a medida

que agrega mais transparência e credibilidade à empresa investida.

Este trabalho procura mostrar a importância da adoção das práticas de

Governança Corporativa por parte das empresas financiadas pelos fundos de

Venture Capital.

Na bibliografia encontrada pelo grupo sobre Venture Capital, pouquíssimos

foram os artigos que o correlacionam às regras de Governança Corporativa, embora

essas práticas sejam comuns nas grandes corporações. Dessa forma, por que não

implementá-las em pequenas e médias empresas financiadas por Venture Capital?

A metodologia utilizada foi a qualitativa, tendo em vista a profundidade dos

dados que se esperava alcançar. Como resultado, esperava-se verificar como ocorre

a atuação dos fundos de Venture Capital nas empresas por eles financiadas, no que

diz respeito à Governança Corporativa.

Percebe-se, desta maneira, a importância desse trabalho que busca

relacionar assuntos tão atuais e complexos.


10

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1. Conceituando Empreendedorismo

“O empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica


existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela
criação de novas formas de organização ou pela exploração de
novos recursos materiais” (SCHUMPETER, apud DORNELAS,
2004, p. 37)

De acordo com Schumpeter apud Dornelas (2004), o empreendedor é mais

conhecido como aquele que cria novos negócios, mas pode também inovar nas

empresas já constituídas. Segundo Kirzner apud Dornelas (2004), o empreendedor é

aquele que cria um equilíbrio, encontrando uma posição clara e positiva em um

ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na ordem presente.

Portanto, ambos são enfáticos em afirmar que o empreendedor é um exímio

identificador de oportunidades, sendo um indivíduo curioso e atento a informações,

pois sabe que suas chances melhoram quando seu conhecimento aumenta.

Em qualquer definição de empreendedorismo encontram-se, pelo menos, os

seguintes aspectos referentes ao empreendedor:

1. Iniciativa para criar um novo negócio e paixão pelo que faz;

2. Utilização dos recursos disponíveis de forma criativa, transformando o

ambiente econômico e social onde vive;

3. Aceitação em assumir riscos e a possibilidade de fracassar. (DORNELAS,

2004)

Assim, o empreendedorismo envolve todas as funções, atividades e ações

associadas com a criação de novas empresas.


11

Em primeiro lugar, o empreendedorismo engloba o processo de criação de

algo novo, de valor. Em segundo, requer a dedicação, comprometimento de tempo e

esforço, itens necessários para fazer a empresa crescer; e em terceiro, requer

ousadia, que o empreendedor assuma riscos calculados, que tome decisões críticas

e não desanime com as falhas e obstáculos com os quais possa se que defrontar no

caminho. (DORNELAS, 2004)

1.1.1. Empreendedorismo no Brasil

O movimento do empreendedorismo no Brasil começou a tomar forma na

década de 1990, quando entidades como o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à

Micro e Pequenas Empresas) e Softex (Sociedade Brasileira para Exportação de

Software) foram criadas. (SEBRAE)

Antes disso, existia pouco conhecimento sobre empreendedorismo no país,

considerando que o ambiente político e econômico não eram propícios, e o

empreendedor praticamente não encontrava informações suficientes para auxiliá-lo

na jornada empreendedora. (IDEM)

O Sebrae é um dos órgãos mais conhecidos do pequeno empresário

brasileiro, que busca junto a essa entidade todo suporte de que necessita para

iniciar sua empresa, bem como consultorias para resolver pequenos problemas

pontuais do seu negócio. (IDEM)

Conforme informações obtidas no site da Softex, este órgão foi criado com o

intuito de introduzir as empresas de software brasileiras no mercado externo por

meio de várias ações, que proporcionavam ao empresário de informática a

capacitação em gestão e tecnologia. Através dos programas criados pela Softex em


12

todo o país, junto a incubadoras de empresas e a universidades/cursos de ciência

da computação/informática, o tema empreendedorismo despertou interesse na

sociedade brasileira.

Segundo dados do Sebrae, entre 1996 e 2002, o número de microempresas

no Brasil teve um crescimento acumulado de 55,8% e a quantidade de pequenas

empresas apresentou um crescimento de 51,3%. Em conjunto, as micro e pequenas

empresas responderam, em 2002, por 99,2% do número total de empresas formais,

por 57,2% dos empregos totais e por 26,0% da massa salarial. Em função do

aumento expressivo do número de empregos gerados entre os dois anos nos dois

segmentos, a massa salarial apresentou incremento real de 57,3% nas

microempresas e 37,9% nas pequenas.

Passados mais de dez anos, pode-se dizer que neste novo milênio o Brasil

estará com todo o potencial para desenvolver um dos maiores ensinos

empreendedores do mundo, comparável apenas aos Estados Unidos, onde mais de

1.100 escolas ensinam empreendedorismo. (SEBRAE)

Segundo relatório executivo de 2000 do Global Entrepreneurship Monitor, o

Brasil aparece como o país que possui a melhor relação entre o número de

habitantes adultos que começam um novo negócio e o total da população: 1 em

cada 8 adultos. Nos Estados Unidos, essa relação é de 1 em cada 10. Isso mostra

que, apesar de não ocorrer de forma tão organizada como em países mais

desenvolvidos, o empreendedorismo no Brasil exerce papel fundamental na

economia, merecendo políticas públicas duradouras e eficientes dirigidas à

consolidação do empreendedorismo no país, como alternativa à falta de emprego.

(DORNELAS, 2004)
13

1.1.2. O Processo Empreendedor

De acordo com Dornelas (2004), o processo empreendedor dispõe de quatro

fases, como segue:

1. Identificar e avaliar a oportunidade;

2. Desenvolver o plano de negócios;

3. Determinar e captar os recursos necessários;

4. Gerenciar a empresa criada.

1.1.3. Identificando e Avaliando Oportunidades

Os empreendedores de sucesso estão sempre em busca de novas idéias de

negócios e de verdadeiras oportunidades de mercado, ficando atento a tudo que os

cerca. Para isso, é essencial possuir informação e selecionar as mais relevantes, o

que realmente interessa. (DORNELAS, 2004)

Saber se uma oportunidade realmente é viável não é uma tarefa fácil, pois

estão envolvidos diversos fatores, como o conhecimento do assunto, o mercado, os

diferenciais competitivos do produto/serviço, entre outros. (IDEM)

Antes de partir para análises estratégicas e financeiras detalhadas, definição

de processos de produção, identificação de necessidades financeiras e pessoais, ou

seja, antes da concepção de um plano de negócios completo, o empreendedor deve

avaliar a oportunidade disponível, para evitar despender tempo e recursos em uma

idéia que talvez não agregue tanto valor ao negócio nascente ou já criado.

(DORNELAS, 2004)
14

De acordo com Dornelas (2004), qualquer oportunidade deve ser analisada,

pelo menos, sob os seguintes aspectos:

1. Qual mercado ela atenderá?

2. Qual o retorno econômico ela proporcionará?

3. Quais as vantagens competitivas que ela trará ao negócio?

4. Qual a equipe que transformará essa oportunidade em negócios?

5. Até que ponto o empreendedor estará comprometido com o negócio?

1.1.4. Desenvolvendo o Plano de Negócios

O plano de negócios é um documento utilizado para descrever

detalhadamente um empreendimento e o modelo de negócios que sustenta a

empresa e é destinado para investidores, parceiros, fornecedores, clientes, sócios,

entre outros. Sua elaboração envolve um processo de aprendizagem e auto-

conhecimento e, ainda, permite ao empreendedor situar-se no seu ambiente de

negócios. (FRANÇA, 2005)

Segundo Dornelas (2004), através de um planejamento adequado, a

probabilidade de sucesso são maiores, pois o plano de negócios possibilita:

 Entender e estabelecer diretrizes para o negócio;

 Gerenciar de forma mais eficaz a empresa;

 Monitorar o dia-a-dia da empresa e tomar ações corretivas, quando

necessário;
15

 Obter financiamentos e recursos junto a bancos, governo, Sebrae,

investidores, capitalistas de risco, etc.;

 Identificar oportunidades e transformá-las em diferencial competitivo;

 Estabelecer uma comunicação interna eficaz na empresa e convencer o

público externo (fornecedores, parceiros, clientes, associações, investidores).

1.1.5. A Busca de Financiamento

Os empreendedores brasileiros costumam reclamar da dificuldade de

obtenção de financiamento para suas empresas, em virtude das exigências

estabelecidas pelos agentes financiadores - principalmente os bancos de varejo -

das altas taxas de juros cobradas e das dificuldades em pagar os empréstimos nos

próximos anos. (DORNELAS, 2004)

Neste contexto, o empreendedor deve utilizar sua capacidade de

planejamento e habilidade de negociação, bem como seu networking, para

identificar as melhores alternativas no mercado para injetar capital em seu negócio.

(IDEM)

Os tipos de financiamento são basicamente divididos em dívida ou eqüidade.

No primeiro caso, o dinheiro emprestado é assegurado por algum tipo de

propriedade (garantia). Eqüidade consiste numa quantia de capital injetado no

negócio, usualmente em dinheiro ou em forma de ativo. A maioria dos novos

negócios opta por dívidas de longo prazo ou por constante eqüidade de capital para

preparar o crescimento da empresa. (DORNELAS, 2004)

Segundo Pavani (2003), o empréstimo bancário e a venda de ações para

investidores (pessoa física ou jurídica) são praticados nos mercados de


16

financiamentos, sendo que, no primeiro, o custo do recurso capitado é pago sobre a

forma de juros, tendo que ser amortizado após um período de carência e, no

segundo, as emissões das ações podem acontecer no mercado público (empresas

listadas nas bolsas de valores) ou privado (empresas não listadas na bolsa de

valores), onde as negociações acontecem diretamente entre os investidos e as

empresas, sem que haja intermediação da bolsa.

A opção do empréstimo possui a vantagem de ser relativamente simples e

rápido, sendo que o empreendedor não precisa vender parte das suas ações ou

adotar vários sócios. No entanto, o risco envolvido quando se contrai uma dívida é

muito maior, considerando a incerteza do crescimento da empresa nos próximos

anos. (PAVANI, 2003)

Não existe regra para determinar qual é a melhor opção. O que ocorre

geralmente é um misto entre as duas opções, ou seja, os empreendedores

combinam dívida e eqüidade.

Quando um negócio está sendo criado, geralmente as melhores opções para

o empreendedor são os empréstimos e economias pessoais da família, de amigos e

de angels (investidores físicos), de incubadoras de empresas, de programas

especiais do governo, etc. Isso porque os bancos de varejo, empresas de leasing,

entre outras, exigem muita contrapartida para efetuar o empréstimo a altas taxas de

juros, inviabilizando o negócio; e empresas de Venture Capital dificilmente investem

em empresas nascentes devido ao alto risco do negócio. (DORNELAS, 2004)

Empresas em estágios mais avançados, com dois ou três anos de existência,

são mais atrativas para os capitalistas de risco, pois já passaram pela difícil fase de

inserção no mercado e necessitam de mais capital para um rápido crescimento, com

boas expectativas de retorno do investimento. (IBIDEM)


17

1.1.5.1. Angel Investor

O Angel Investor, ou investidor pessoa física, é um capitalista de risco que

possui dinheiro e busca alternativas para obter melhor rentabilidade para o seu

capital. Ele é que dispõe do seed money (dinheiro semente inicial) necessário para a

criação de muitos negócios e para isso, analisa muito bem o plano de negócios da

empresa e seu potencial. Geralmente esse dinheiro é concedido em troca de

participação acionária na empresa ou de uma quota do capital social da empresa

que está sendo criada. (DORNELAS, 2004)

O Angel Investor está começando a ganhar reconhecimento no Brasil, devido

ao fato deste país estar passando por um período de estabilidade econômica. É um

investidor comum nos Estados Unidos e é um dos grandes responsáveis pelo

financiamento das empresas em fase inicial. (IDEM)

Segundo Dornelas (2004), os Angel Inverstors são, em sua maioria, homens

que já obtiveram sucesso na vida empresarial, com idade entre 40 e 60 anos e com

nível superior. Em geral, são ex-empreendedores em busca de retornos acima da

média do mercado, por isso aceitam altos riscos. Não se envolvem na gestão dos

negócios, mas opinam ou aconselham os gestores. Preferem negócios cuja base é a

inovação e procuram retorno em no máximo três a cinco anos. Para encontrá-los, o

empreendedor deve usar sua rede de comunicação, pois os Angel Inverstors não se

expõem.
18

1.1.5.2. Venture Capital e Private Equity

Segundo Carvalho et al. (2005), denomina-se Private Equity o setor no qual a

atividade de Venture Capital está inserida. O Private Equity é integrado por

empresas especializadas em financiamento privado, do tipo acionário, de empresas

de capital fechado ou aberto, detentoras de papéis com baixa liquidez no mercado.

Os capitalistas de risco participam ativamente da gestão estratégica das empresas

investidas, favorecendo-as por meio de seus contatos e competências em

estruturação financeira e consultoria estratégica. Segundo Jensen (1991), são

considerados investidores ativos, participantes do conselho de administração ou

fiscal das empresas investidas.

As empresas que investem em Venture Capital são geralmente grandes

bancos de investimento, compostos por profissionais de alto nível e experiência no

mercado financeiro, que administram grandes quantias de dinheiro. (DORNELAS,

2004)

A função principal dessas empresas é encontrar negócios com alto potencial

de desenvolvimento, que experimentem retornos sobre o capital investido

(rentabilidade do capital) muito acima da média do mercado. Essas empresas

geralmente formam uma carteira de investimentos, contendo negócios de alto

potencial de retorno, mas também com altos riscos. (IDEM)

Segundo Dornelas (2004), dificilmente uma empresa iniciante recebe

financiamento via Venture Capital. Esse tipo de investimento é mais indicado para

empresas que já estão saindo de sua fase inicial e precisam crescer rapidamente.

De acordo com Regueira (2003), tais empresas têm como objetivo diversificar e

ampliar suas bases de clientes ou penetrar no mercado, adequando ou melhorando


19

a estrutura de capital. Para tanto, realizam aquisições estratégicas, visando à

consolidação no mercado e, englobando uma considerável fatia do mesmo.

Os principais alvos dos capitalistas de risco nos Estados Unidos, são

empresas de base tecnológica: software, internet, biotecnologia, química, genética,

eletrônica, telecomunicações etc.

Segundo Dornelas (2004), para conseguir obter financiamento de um

capitalista de risco, o empreendedor deve apresentar pelo menos as características

abaixo, em seu plano de negócio:

1. Uma excelente equipe de gestão;

2. Um bom plano de negócios;

3. Um mercado-alvo expressivo;

4. Uma idéia realmente inovadora.

1.2. A Inovação e o Venture Capital

Ao contrário dos bancos, que exigem das empresas investidas o pagamento

de juros, amortizações e analisam a geração de caixa do negócio; o investidor de

Venture Capital aposta na empresa investida (PAVANI, 2003).

Para Sahlman apud Ribeiro e Almeida (2005), o Venture Capital apresenta

uma boa alternativa quando comparada aos investimentos tradicionais, pois

averigua distintamente os riscos pertinentes às empresas a serem investidas,

utilizando-se de diferentes práticas de governança e monitoramento.

Segundo Pavani (2003), o investidor de Venture Capital torna-se sócio da

companhia ao adquirir suas ações; seu pagamento é feito de forma igualitária ao de


20

outro tipo de acionista, ou seja, através de ganho de capital (venda de participações

acionárias para terceiros) e distribuição dos lucros (dividendos). Por esse motivo,

esse tipo de financiamento dispensa a geração de caixa para remuneração de juros

e amortizações.

O nível de envolvimento do investidor com a companhia é alto e, muitas

vezes, resulta em sua interferência nos negócios, refletindo em custos e benefícios

para a organização. De um lado, pode haver perda da independência dos gestores

da empresa e a necessidade de manter o investidor informado sobre o desempenho

da companhia; por outro, a figura do investidor encaminha a empresa para uma

maior organização, profissionalização dos gestores e elaboração de novos

processos. Assim, o Venture Capital é uma forma de financiamento que proporciona

o crescimento sustentável às pequenas e médias empresas (PAVANI, 2003).

1.2.1. Venture Capital no Mundo - Origem e Evolução

A atividade de Venture Capital teve origem nos Estados Unidos, onde obteve

sucesso e continua sendo difundida entre outros países. Por ser recente, ainda não

há conhecimento se o modelo americano será adaptado com sucesso aos outros

mercados, tão pouco, se modificações serão necessárias para a sua prática.

(GOMPERS e LERNER apud Ribeiro e Almeida, 2005)

Empresas como a Microsoft, Compag, Apple, Sun, Amazon, Lótus, Cisco,

Staples, Federal Express e Netscape receberam financiamento via Venture Capital e

estabeleceram novos segmentos industriais. Entre 1991 e 1997, 30% das empresas

introduzidas na Bolsa de Valores dos Estados Unidos receberam recursos de

capitalistas de risco. (IDEM).


21

Megginson apud Ribeiro e Almeida (2005) apontam que entre os anos 1970 e

2000, os investidores de Venture Capital atuantes nos Estados Unidos investiram

US$ 273,3 bilhões (70% do valor foi investido no período de 1995 a 2000) em

16.278 empresas no país. Essas empresas empregaram 76 milhões de pessoas e

geraram US$ 1,3 trilhão em receita (5,9% do PIB americano em 2003). Segundo o

autor, essas empresas são superiores às demais quando comparados fatores como

receitas, impostos pagos, gastos com desenvolvimento e pesquisa (P&D) e

exportação.

Em 1988, do montante investido no Grupo General Motors (GM), apenas 25%

era destinado à Pesquisa e Desenvolvimento. Sahlman apud Ribeiro e Almeida

(2005) concluíram que o percentual era baixo quando comparado ao valor total. Em

1998, os valores foram elevados para US$ 17,2 bilhões, ultrapassando os US$ 6

bilhões em Pesquisa e Desenvolvimento disponibilizados pela GM. (GOMPERS e

LERNER apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

Segundo Pavani (2003), diante dos resultados gerados nos Estados Unidos -

as indústrias de Venture Capital instigaram a competitividade entre as empresas do

país - outros países criaram indústrias similares, como: Israel, Índia, Chile, Reino

Unido, Japão, Irlanda, Cingapura, França, Austrália e Brasil. Todavia, o desempenho

dos investidores de Venture Capital nestes países não acompanhou o mesmo

desenvolvimento ocorrido nos Estados Unidos.

Na Europa, o crescimento do Venture Capital teve início em 1980, após

diversas tentativas na década de 50. Em 2000, o valor acumulado de investimentos

chegou a 125 bilhões de Euros, sendo que grande parte desse capital foi investido

nas empresas em estágios mais maduros, caracterizadas como de Private Equity. A

Inglaterra lidera na indústria de Venture Capital, sendo que, em 1996, concentrou


22

33% dos grandes investimentos, retendo 44% do montante de capital total investido

na Europa. (IDEM)

Segundo pesquisas, os motivos para o bom desempenho na indústria de

Venture Capital dos Estados Unidos e da Inglaterra estão relacionados à dinâmica

dos mercados privados de ações (EUA), mudanças regulatórias e tributárias, além

da presença do governo na alteração da regulamentação de pensões e alíquotas de

impostos sobre o ganho de capital (PAVANI, 2003).

1.2.2. Venture Capital no Brasil

Segundo Pavani (2003), o desenvolvimento do Venture Capital no Brasil

ocorreu após a estabilização econômica de 1994. O governo influenciou o setor por

meio de ações do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), da Financiadora

de Estudos e Projetos (Finep) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (Sebrae).

Neste contexto, a participação do governo se deu através de investimentos

em empresas inovadoras, bem como por meio de fundos privados de Venture

Capital. Entre os fundos privados, destaca-se o programa Criação de Tecnologia

(Criatec) da Finep, com recursos de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão, destinados a

investimentos em empresas emergentes de base tecnológica. (RIBEIRO e

ALMEIDA, 2005)

Percebida a importância do financiamento de Venture Capital para o fomento

econômico, leis foram alteradas, vislumbrando a criação de um ambiente favorável

para seu desenvolvimento, como por exemplo, a lei das Sociedades Anônimas

(KANDIR apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2000).


23

Em 1986, tentou-se a concessão de benefícios tributários ao setor, porém a

lei em questão durou apenas dois anos. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

divulgou em 1994 a Instrução nº. 209, regulamentando os Fundos Mútuos de

Investimento em Empresas Emergentes (FMIEE), que se destinam as empresas,

pelo prazo de até 10 anos, com faturamento anual de até R$ 60 milhões. No final do

prazo, os investidores resgatam o total investido. (PAVANI, 2003)

Submetidos à supervisão da CVM, os FMIEEs podem obter recursos do

governo e de fundos de pensão. Com o crescimento da indústria de previdência

complementar no Brasil, ampliou-se o potencial dos FMIEEs no levantamento de

fundos. Em 2003, havia apenas 21 FMIEEs, com patrimônio de R$ 621 milhões.

(IDEM)

Foi aprovada em 2003 uma nova instrução (CVM 391/03), visando

regulamentar os Fundos de Investimentos em Participações (FIPs), nas quais as

regras são melhor adequadas às necessidades do setor, garantindo flexibilidade e

agilidade aos fundos que almejam obter recursos de fundos de pensão, ou até

mesmo de pessoas físicas para investimentos do tipo Private Equity.

Em 2004, empresas que receberam investimento do tipo Private Equity foram

inseridas em Bolsas de Valores, produzindo retornos expressivos aos seus

investidores. São elas: (Gol), Transportes Aéreos, América Latina Logística (ALL) e

Diagnósticos da América (DASA). (RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

1.2.3. Critérios de Seleção

Segundo Fried e Hisrich (1994), o processo de seleção de uma empresa para

que esta receba o investimento de um fundo de Venture Capital é complexo. Nos


24

Estados Unidos, o processo de seleção de uma empresa por parte de um fundo de

Venture Capital demora aproximadamente 97 (noventa e sete) dias para ser

aprovado. Logo que o capital é investido, a empresa não possui nenhuma liquidez, o

que ocorre em alguns anos, por isso o fato da seleção ser tão criteriosa.

Através de um estudo realizado pelos pesquisadores Hisrich e Jankowicz

apud Fried e Hisrich (1994), foram identificados três construtos que juntos

demonstram os critérios básicos de seleção para os investimentos realizados pelos

fundos, são eles: Conceito, Administração e Retorno.

O conceito possui quatro componentes. O primeiro deles é que deve existir

um significativo potencial de crescimento na nova empresa. O segundo, envolve a

idéia do negócio, a qual já existe ou tem capacidade para ser trazida ao mercado

dentro de dois ou três anos. O fato de possuir vantagem competitiva ou ingressar em

um mercado com baixa concorrência foi considerado o terceiro. O total de

investimento que o financiamento irá demandar é o quarto componente. (FRIED e

HISRICH, 1994)

O segundo construto, relativo a administração da companhia é também

extremamente relevante. De acordo com os pesquisadores, candidatos a um

investimento necessitam ser íntegros, possuir a habilidade de identificar os riscos

associados ao negócio, ter flexibilidade, liderança e um profundo conhecimento do

negócio. Boas experiências anteriores em outras companhias ou negócios próprios

podem ser levadas em consideração, mas isso não significa que fracassos

anteriores sejam obstáculos para o investimento. (IDEM)

Conforme Fried e Hisrich (1994), no construto Retorno foi observado que os

fundos necessitam que seu investimento possua uma alternativa de saída, tal como
25

trade-sale ou IPO. É também importante a taxa de retorno, tanto bruto quanto real,

do investimento.

1.2.4. Processo de Decisão

Segundo o modelo de Fried e Hisrich (1994), o processo de decisão pode ser

dividido em seis partes, conforme o quadro abaixo:

Seleção
SeleçãoEspecífica
Específica Primeira
Primeirafase
fase Segunda
SegundaFase
Fase Fechamento
Fechamento
Surgimento
Surgimento da Companhia
Seleção Genérica
Seleção Genérica da Avaliação da Avaliação da Seleção
da Companhia da Avaliação da Avaliação da Seleção

Figura 1 – Proposta de Investimento de Venture Capital


Fonte: FRIED e HISRICH, 1994, 31

Na maioria das vezes o contato entre um fundo de Venture Capital e uma

empresa que busca investimento é promovido através da rede de relacionamento de

ambos. Como os fundos geralmente esperam por propostas de empresas em busca

de financiamento, as empresas procuram ser “apresentadas” aos gestores destes,

para que então, possam encaminhar seus projetos. Dificilmente um fundo investe

em uma empresa sem que esta tenha sido indicada (FRIED e HISRICH, 1994).

“Existem duas razões para essa alta incidência de indicações.


Primeiro; negócios indicados são mais fáceis de serem
encaminhados através do crivo geral, se o VC confia no
julgamento de quem indicou. Segundo, quem indica
compreende com mais facilidade que tipo de investimento o VC
achará atrativo”. (FRIED E HISRICH, 1994).

A segunda triagem pela qual a empresa passa é a específica do fundo. Todos

os fundos possuem critérios e preferências quanto aos investimentos a serem

realizados, como tamanho, indústria, localização geográfica e etc. Nessa fase, o


26

fundo elimina planos de negócios que são incompatíveis com suas preferências.

(IDEM)

A fase de avaliação geral do projeto analisa de forma mais abrangente o

Plano de Negócios do empreendedor. Muitas vezes, apesar de serem aprovados no

passo anterior, os empreendedores vêem seus projetos serem rejeitados

unicamente pelo fato do fundo não ter analisado seu plano de negócios

anteriormente. De acordo com a indicação recebida pelo fundo, essa fase pode ser

menos rigorosa. (FRIED e HISRICH, 1994).

A primeira fase de avaliação é bem mais complexa que as anteriores, pois o

fundo passa a analisar de forma profunda tanto a empresa quanto seu

empreendedor. Diversas reuniões entre a empresa e os gestores do fundo são

realizadas e a partir delas, o fundo passa a avaliar como o empreendedor pensa e

age. Estudos técnicos sobre o produto são realizados unicamente nas empresas em

estágio inicial, as que já atuam no mercado conseguem fornecer melhor feedback

aos fundos. (IDEM)

Segundo Fried e Hisrich (1994), a segunda fase de avaliação envolve um

caráter emocional na relação da empresa com o fundo, pois agora ao invés de

buscar a existência de real interesse, os gestores do fundo procuram observar quais

são os obstáculos e como estes podem ser transpostos.

Ao final do passo anterior, os detalhes da estrutura da empresa são

finalizados e os documentos legais são preparados, dando início a última fase. Após

os contratos serem assinados, o fundo entrega o cheque à empresa e o processo de

seleção e aporte de capital é concluído. (FRIED e HISRICH, 1994).


27

Algumas empresas, apesar de terem percorrido todo este caminho em busca

de financiamento, não recebem o investimento; segundo os pesquisadores, cerca de

20% do total (IDEM).

1.2.5. Estratégia de Saída em Venture Capital

Os investidores de Venture Capital realizam investimentos temporários, tendo

como objetivo revender a participação adquirida (saída), realizando os ganhos

esperados no tempo determinado. Logo, não pretendem lucrar apenas com os

dividendos. (RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

As empresas de Venture Capital buscam retorno financeiro sobre tais

investimentos, denominado Saída (Exit), imprescindível neste tipo de negócio. A

condição necessária para a existência do Venture Capital é a obtenção de saídas

que cubram o custo de oportunidade dos recursos empregados. Para tanto, depende

de fatores relacionados às competências dos próprios investidores de Venture

Capital às características do empreendimento e aos detalhes do mercado no qual se

pretende atuar. (GOMPERS e LERNER apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

1.2.6. Formas de Saída dos Investidores de Venture Capital

Segundo Relander et al apud Ribeiro e Almeida (2005), as tarefas de um

investidor de Venture Capital podem ser classificadas conforme abaixo:

 Busca e avaliação (screening) e investimento (investing);


28

 Acompanhamento ou agregação de valor (adding value) e monitoramento

(monitoring);

 Saída (exit).

Sob o ponto de vista de Sahlman apud Ribeiro e Almeida (2005), o principal

papel do investidor de Venture Capital é buscar oportunidades de investimento e

monitoramento dos empreendedores. Assim, a realização das saídas é considerada

secundária.

Para Gladstone apud Ribeiro e Almeida (2005), os investidores de Venture

Capital investem por um dado período e se retiram no momento adequado, quando

os gestores estão recompensados por meio dos resultados obtidos. Logo, a saída

acaba por determinar a forma como outras atividades, pertinentes ao ciclo de

atividades, serão realizadas.

As saídas podem acontecer por meio de cinco modalidades (MACINTOSH

apud RIBEIRO E ALMEIDA, 1997): venda estratégica (trade-sale), introdução em

bolsas de valores (Initial Public Offering - IPO), venda para outro investidor

(secondary sale), recompra pelo empreendedor (buyback) e liquidação (write-off). As

saídas ideais ocorrem através da primeira e da segunda modalidade.

1.2.6.1. Venda Estratégica (trade-sale)

Neste mecanismo, todas as ações da empresa investida são oferecidas a um

comprador, geralmente um grupo empresarial com atividade semelhante ou

complementar à da empresa em questão. É comum o comprador já se relacionar


29

com a empresa adquirida, visando atingir objetivos estratégicos, como por exemplo,

a entrada em um novo mercado. (MACINTOSH apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

Em outra situação, o comprador já possuía participação na empresa, obtida

da carteira de Venture Capital. Caso a empresa mostre interesse no futuro, essa

será uma opção de compra; teoricamente, seria uma venda para outro investidor, no

entanto, o trade-sale é o objetivo final (CUMMING e MACINTOSH apud RIBEIRO e

ALMEIDA, 2005)

Segundo Schwienbacher apud Ribeiro e Almeida (2005), a vantagem do

trade-sale, frente aos demais mecanismos, está na baixa exposição à volatilidade

dos mercados financeiros. Logo, os trade-sales são vantajosos quanto maior for a

volatilidade do mercado em questão.

1.2.6.2. Introdução em Bolsa de Valores - (Initial Public Offering - IPO)

Neste mecanismo, as ações da empresa são oferecidas em Bolsas de

Valores. No Brasil, são exemplos a Gol (investimento da AIG Capital Partners), ALL

(investimento da GP Investimentos) e Dasa (investimento sindicalizado, liderado

pelo Banco Pátria). Todos esses investimentos são do tipo Private Equity e

obtiveram sucesso em seus IPOs. (RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

Todavia, devido aos elevados custos fixos, nem toda empresa é elegível ao

IPO, sendo que apenas as que estão acima de determinado tamanho, são

introduzidas na Bolsa de Valores (GOMPERS et al apud RIBEIRO e ALMEIDA,

2005)

Os custos fixos podem chegar a atingir 25% da captação obtida, podendo ser

compostos por custos de comissão dos bancos (incluindo o coordenador líder da


30

oferta), emolumentos pagos à Bolsa de Valores, honorários advocatícios, contadores

e auditores (GRINBLATT e TITMAN apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2005). Também, há

o desconto exigido pelos investidores (underpricing) que no Brasil pode chegar a até

79%, em média.

O IPO se mostra interessante aos empreendedores que querem manter o

controle da empresa após a saída dos investidores (GLADSTONE apud RIBEIRO e

ALMEIDA, 2005).

Segundo Gompers apud Ribeiro e Almeida (2005), o IPO somente é viável às

empresas mais lucrativas, pois já atingiram um determinado porte. Quando

comparados trade-sale e IPO nos Estados Unidos, no primeiro, os investidores

obtêm um retorno médio em torno de 60% das transações, enquanto no segundo

15%, proporcionando melhor rentabilidade à empresa investida.

1.2.6.3. Venda Para Outro Investidor (Secondary Sale)

Neste tipo de saída, parte ou a totalidade das ações em posse do fundo de

Venture Capital são vendidas a um terceiro que, geralmente, é outro fundo de

Private Equity (CUMMING e MACINTOSH apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2005).

1.2.6.4. Recompra Pelo Empreendedor (Buyback)

A empresa, o empreendedor ou os gestores da empresa (Management buy-

out - MBO) recompram a parte detida pelo investidor de Venture Capital. No Brasil, a

recompra é pouco praticada, uma vez que as altas taxas de juros encarecem o
31

financiamento (Leveraged buy-out - LBO). A recompra pelo empreendedor é uma

alternativa para a alienação dos ativos. (RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

1.2.6.5. Liquidação (write-off)

Neste mecanismo acontece a desconstituição da empresa e todos os ativos

são divididos entre acionistas e credores. Os investidores de Venture Capital podem,

eventualmente, liquidar uma empresa morta-viva (living-dead). Essas organizações

ainda possuem gestores e, embora economicamente viáveis, não possuem

expectativa de crescimento para cobrir o custo de oportunidade dos investidores

(RUHNKA et alli apud RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

1.2.7. Tipologia de Estratégias de Saída

As estratégias de saída são formuladas com base no ambiente em que a

empresa está inserida. Por exemplo, no Brasil há peculiaridades distintas de outros

países - regulamentações específicas, taxa de juros alta, Bolsa de Valores pouco

expressiva e movimentos de consolidação em diversos mercados, fazendo com que

as empresas de Venture Capital atentem a essas características ao traçar sua

estratégia. (RIBEIRO e ALMEIDA, 2005)

Conforme a estratégia utilizada pelos capitalistas de risco, as empresas

podem ser classificadas em duas diferentes categorias (RELANDER et al. apud

RIBEIRO e ALMEIDA, 2005):


32

 Planejadores (path-sketchers): objetivam o trade-sale como forma de saída,

sendo que ela influencia no processo de investimento e o acompanhamento.

Na negociação com os empreendedores, as oportunidades de saída são

percebidas, capacitando os investidores a avaliar o plano de negócio e

identificar os potenciais compradores para a aquisição da empresa.

 Oportunistas (opportunists): não há grande preocupação com a questão da

saída, pois acreditam que ela será conseqüência da boa qualificação dos

profissionais e do negócio da empresa que está sendo investida. Embora o

IPO seja o objetivo desses investidores, outras saídas acabam sendo

praticadas, quando necessário. Mesmo assim, durante a análise do projeto,

rascunham alguma estratégia de saída, que pouco influencia na decisão pelo

investimento.

Os investidores de Venture Capital que preferem os IPOs procuram investir

em modelos de negócios que, independente da aquisição por outra empresa,

conseguirão se sustentar. Esses negócios, candidatos a IPOs, são denominados

standonole business. Esses investidores investem em menor número de empresas,

porém com maior volume de recursos e maior parcela de seu tempo.

Ainda, outros capitalistas de risco optam por carteiras diversificadas,

apostando na transação por trade-sale. Dessa forma, a estratégia de saída

influencia o risco assumido pelo Venture Capital.

No Brasil, as características da Bolsa de Valores apresentam dificuldades às

estratégias de IPO. Paralelamente, o governo disponibiliza grande volume de

recursos a serem investidos em empresas emergentes e empresas inovadoras, por

meio de seus instrumentos como o BNDES, Finep, etc. Essa prática, certamente
33

levaria tais fundos a repassarem seus recursos a um grande número de empresas.

Essa estratégia estaria baseada na seleção de maior número de investimentos e,

seu resultado, concentrado em trade-sales e poucos IPOs.

1.3. Abertura de Capital - IPO - Initial Public Offering ou Oferta Pública Inicial

Segundo o Guia Bovespa (2006), o primeiro procedimento formal para que

uma empresa abra o Capital é solicitar à CVM o registro de companhia aberta e o de

distribuição pública de ações ou Oferta Pública Inicial, denominado em inglês de IPO

- Initial Public Offering. Simultaneamente, a empresa deve solicitar à Bolsa de

Valores a aprovação para a negociação de suas ações.

De acordo com Fortuna (2005), o primeiro passo para uma empresa abrir

capital é estabelecer-se como sociedade anônima, cujo capital é dividido em ações,

conforme disposições da Lei 10.303, datada de 31 de outubro de 2001 (Nova Lei

das Sociedades Anônimas). É necessário também que a transformação para

sociedade anônima seja aprovada pelos sócios, de acordo com o estatuto social da

empresa, em uma assembléia geral ou através de escritura pública, o que ficará

registrado em ata e no estatuto social da companhia.

1.3.1. Legislação

Conforme o Guia Bovespa (2006), a abertura de Capital é regulamentada pela

Instrução CVM Nº 202 de 06 de dezembro de 1993, a qual trata do registro de

Companhia para negociação de seus valores mobiliários em Bolsa de Valores ou

Mercado de Balcão. Já o registro de distribuição pública de valores mobiliários, tanto


34

para o mercado primário quanto para o secundário, é tratado na Instrução CVM Nº

400, de 29 de dezembro de 2003.

De acordo com Fortuna (2005), a abertura de capital e o registro da empresa

na CVM como companhia aberta, são regulamentados pela Lei das Sociedades

Anônimas 10.303/01 e pela instrução CVM 202, datada de 06 de dezembro de 1993

e complementada por alterações dispostas em uma série de instruções posteriores

emitidas pela CVM, as quais determinam algumas etapas do processo, como a

nomeação do Diretor de Relações com Investidores, a contratação de auditoria

independente, bem como a apresentação de uma lista de documentos.

Fortuna (2005) destaca ainda que as etapas para a abertura de capital

encontram-se também dispostas na Lei 10.303/01, na Lei 3.995/76, com as

alterações e acréscimos descritos no Decreto 3.995/01, bem como pela Lei

10.411/02.

Outro passo muito importante para o processo de abertura de capital é a

reforma dos estatutos da companhia, onde de deve incluir a caracterização e os

direitos das ações e competências das assembléias de acionistas e do Conselho de

Administração. Antes da reforma, é necessária a realização de uma assembléia para

deliberar a transformação da empresa em sociedade anônima de capital aberto e

votar as alterações a fim de adequar o estatuto às exigências da lei e das boas

práticas de Governança Corporativa. (Guia Bovespa, 2006)

1.3.2. Formas de Distribuição

A abertura de capital pode ocorrer por meio de uma distribuição primária, ou

seja, a empresa emite e vende as novas ações ao mercado. Neste caso, o vendedor
35

é a própria companhia emissora e os recursos obtidos na distribuição são

canalizados para o seu caixa. (GUIA BOVESPA, 2006)

De acordo com o Guia Bovespa (2006), a oferta pública pode ocorrer também

através de uma distribuição secundária, onde quem vende as ações é o

empreendedor e/ou algum dos sócios. Nesse caso, não é a empresa quem recebe

os recursos obtidos na venda das ações, e sim os acionistas vendedores.

Poderá ocorrer ainda uma distribuição mista, ou seja, composta de uma

distribuição primária e secundária, simultaneamente.

Independente da forma como ocorre a distribuição, seja primária, secundária

ou mista, a empresa amplia seu número de sócios e a liquidez de seus papéis.

(IDEM)

1.3.3. Liquidez Patrimonial

A abertura de capital pode também proporcionar aos empreendedores e/ou

aos seus sócios a liquidez patrimonial, ou seja, a possibilidade de transformarem, a

qualquer tempo, parte das ações que possuam na empresa, em dinheiro, sendo

possível vender suas ações no ato da abertura de capital ou posteriormente na

Bolsa de Valores onde as ações serão negociadas. (GUIA BOVESPA, 2006)

Segundo o Guia Bovespa (2006), caso a empresa tenha recebido recursos de

fundos de Venture Capital, a abertura de capital pode também representar uma

forma de saída desejada por esses sócios.

Outro benefício proporcionado pela liquidez patrimonial é o momento do

processo sucessório e de partilha de herança, proporcionando uma saída para os

que não desejarem permanecer na empresa. (GUIA BOVESPA, 2006)


36

A abertura de capital propicia ainda à empresa uma maior projeção e

reconhecimento dos públicos com os quais se relaciona, aumentando sua

credibilidade perante a sociedade como um todo, pois para atender às necessidades

de seus acionistas investidores e oferecer-lhes condições para que a acompanhem

de perto, a companhia deverá ser o mais transparente possível no fornecimento de

informações. (IDEM)

1.3.4. Vantagens e Responsabilidades da Abertura de Capital de uma Empresa

“O mecanismo de captação de recursos pela colocação de


ações no mercado, como alternativa ao financiamento
bancário, reflete uma das vantagens de se construir uma
sociedade de capital aberto. É reconhecido, ainda, que a
abertura de capital impõe uma profissionalização maior nas
sociedades, motivada pelas exigências legais e expectativas
dos acionistas quanto a uma gestão mais qualificada. A
abertura de capital promove maior segurança financeira aos
negócios e permite mais rapidamente a solução de eventuais
questões de arranjos societários.” (ASSAF NETO, 2002, p.28)

De acordo com o Guia Bovespa (2006), uma vez que haja um entendimento

dos sócios que a abertura de capital possa trazer benefícios, a empresa começa a

preparar-se, cumprindo uma série de etapas durante todo o processo de abertura de

capital.

Antes de uma empresa decidir abrir o capital, é necessário identificar os

benefícios e os custos, além de verificar se o perfil da companhia é adequado, o que

pode ser feito por profissionais da própria empresa ou por uma consultoria externa.

(GUIA BOVESPA, 2006)

Também é necessário avaliar se a entrada de novos acionistas tornará a

companhia maior e mais rentável e se a riqueza dos empreendedores aumentará,

mesmo tornando-se proprietários de uma parte menor da empresa. (IDEM)


37

Segundo o Guia Bovespa (2006), as vantagens de uma empresa abrir capital

podem ir desde o aumento da liquidez do patrimônio dos atuais sócios, com os

retornos dos investimentos a serem realizados por meio dos recursos obtidos com a

venda das ações, até à redução do custo de capital da companhia e a melhora da

sua performance em função do fortalecimento da imagem institucional e dos

incentivos ao aumento da eficiência.

Esses benefícios devem ser comparados com os custos incorridos pela

empresa no processo de abertura de capital e no atendimento das obrigações para

se manter como companhia aberta, tais como os custos relativos à operação de

abertura de capital e o aumento da estrutura organizacional para atender as

demandas dos investidores e da regulamentação das sociedades anônimas de

capital aberto. (GUIA BOVESPA, 2006)

Conforme o Guia Bovespa (2006), a comparação entre as despesas e as

vantagens deve considerar o benefício imediato resultante do primeiro lançamento

de ações, bem como os das operações posteriores, pois a listagem em uma Bolsa

de Valores abre o caminho para que sejam realizadas no futuro outras distribuições

de ações, numa situação até mais favorável.

Outra consideração a ser feita é se a empresa tem perfil para ser companhia

aberta e se está adaptada às características necessárias para essa condição, uma

vez que uma companhia aberta deve garantir um nível de prestação de informação

muito superior ao de uma empresa de capital fechado. (GUIA BOVESPA, 2006)

“Captando recursos no mercado de capitais, a companhia


emerge numa nova dimensão empresarial e adquire novos
horizontes e responsabilidades.” (FORTUNA, 2005, p.614)
38

A empresa deve estar culturalmente aberta para o pronto atendimento e

prestação de contas ao mercado e ter uma estrutura organizacional e mecanismos

de controle que permitam aos sócios minoritários acompanhar e fiscalizar o seu

desempenho e a sua gestão. (GUIA BOVESPA, 2006)

Segundo o Guia Bovespa (2006), a empresa estará muito mais exposta à

avaliação do mercado em relação à sua evolução, se tiver sido consistente, se os

seus projetos estiverem bem fundamentados e se o seu negócio for atrativo para os

investidores, bem como o seu histórico de rentabilidade e o que a empresa pretende

fazer com os recursos captados, quais serão os projetos e seus correspondentes

retornos e por fim, se o preço que os sócios pensam atribuir às ações da empresa

remunerará adequadamente o investidor.

Todo esse processo pode levar a empresa a realizar alguns ajustes

societários, simplificando o máximo possível a estrutura societária de forma a facilitar

o seu entendimento. (GUIA BOVESPA, 2006)

1.3.5. Etapas do Processo de Abertura de Capital

Uma etapa importante do processo de abertura de capital é a escolha do

intermediário financeiro, uma vez que toda distribuição pública de ações tem que ser

realizada por meio de uma instituição financeira, que pode ser um banco de

investimentos, uma corretora de valores ou uma distribuidora, cuja atuação será a

de coordenar a operação, orientando a empresa em todo o processo, nas questões

relacionadas ao marketing da oferta, tais como: quais investidores visitar, a

elaboração do material a ser utilizado, o conteúdo das apresentações e do prospecto


39

de venda, que consiste em um documento completo e detalhado sobre a empresa e

a operação. (GUIA BOVESPA, 2006)

Segundo Fortuna (2005), a escolha do intermediário financeiro, também

denominado de coordenador, é uma exigência da legislação e a empresa deve

analisar as alternativas e obter informações a respeito da capacidade dos

candidatos participantes do processo.

De acordo com o Guia Bovespa (2006), o intermediário também ajudará na

definição das características e do tamanho da oferta, além de auxiliar na avaliação

da empresa e na estimativa do preço considerado atrativo para os investidores que

aderem as ações, evidenciando a importância da etapa de contratação do

intermediário para o resultado da operação.

De acordo com Fortuna (2005), o coordenador é o responsável pela

realização de estudos técnicos sobre a situação econômico-financeira da

companhia, do mercado em que atua, das perspectivas da mesma em relação à

oferta, entre outras. É também responsabilidade do coordenador verificar os

parâmetros de mercado, como os índices acionários de lucratividade, a capacidade

de geração de caixa, entre outros, bem como propor o formato da operação,

definindo o volume da operação, a faixa de preço por ação, a projeção do grau de

diluição do capital, a escolha da espécie e forma das ações e a política de

dividendos a ser adotada pela empresa, levando-se em consideração o estatuto

social da companhia.

É o intermediário que normalmente acorda com outras instituições financeiras,

a formação de um pool de distribuição para ampliar a base de investidores

potenciais. Quanto maior a diversificação desse pool, maior será o alcance da

colocação e a possibilidade de sucesso da operação. (Guia Bovespa, 2006)


40

De acordo com Fortuna 2005, é o coordenador o responsável por registrar a

empresa na bolsa de valores ou no mercado de balcão organizado, bem como

solicitar à CVM a aprovação de companhia aberta e o registro da oferta, ficando

ainda responsável em assessorar na definição do perfil da oferta, na elaboração do

prospecto, no marketing, na distribuição dos títulos e na liquidação da operação.

Segundo o Guia Bovespa (2006), existem vários procedimentos que a

empresa necessita observar ao solicitar o registro de companhia aberta, de

distribuição pública e de listagem em Bolsa de Valores. Dentre eles, a empresa

precisa entregar demonstrações financeiras nos padrões definidos pela CVM,

submeter essas demonstrações a uma auditoria externa independente, confeccionar

um prospecto de venda das ações e fornecer diversas outras informações a esses

órgãos.

A necessidade de promover alguma reestruturação na empresa, adequar seu

sistema contábil e de controles internos, auditar as demonstrações financeiras e

escolher o intermediário, bem como a sua exposição ao mercado para ganhar

visibilidade e ampliar a demanda por suas ações, são atitudes que a empresa deve

prever com antecipação. (GUIA BOVESPA, 2006)

1.3.6. Custos das Operações de Abertura de Capital

De acordo com o Guia Bovespa (2006), os custos com o processo de

abertura de capital variam muito de empresa para empresa. Normalmente, envolvem

despesas com a contratação de auditoria externa, preparação de documentos,

publicações legais, confecção do prospecto, comissão do intermediário financeiro e


41

processo de marketing da distribuição, além do tempo de funcionários da empresa

envolvidos no processo.

Normalmente, também é feita a contratação de uma empresa de consultoria,

que auxiliará na definição do plano de abertura de capital, na organização interna da

empresa e na avaliação preliminar da companhia. Além disso, a empresa poderá

necessitar de uma consultoria jurídica especializada, para orientação da empresa a

respeito dos procedimentos legais. (GUIA BOVESPA, 2006)

Segundo Assaf Neto (2005), um processo de abertura de capital

invariavelmente apresenta os seguintes custos:

 Custos legais e Institucionais, como taxas, emolumentos e outros;

 Custos de divulgação e publicidade, ou seja, prospectos de lançamento,

divulgação da operação de subscrição pública pela mídia e etc;

 Custos dos Intermediários Financeiros, tais como a comissão de coordenação

dos trabalhos de lançamento, a remuneração de garantia paga ao

coordenador da emissão, somente do tipo puro ou firme e do tipo residual e a

comissão pela colocação paga ao intermediário que atuou na colocação do

papel junto ao investidor.

Fortuna (2005) complementa a relação dos custos, acrescentando:

 Custos de contratação de auditoria externa;

 Taxa de fiscalização do registro de emissão a ser paga à CVM e taxa de

manutenção de companhia aberta na CVM, anuidade da bolsa de valores e

serviço de ações escriturais;


42

 Os custos de divulgação incluem publicações de edital de convocação, atas

de assembléias e reuniões do conselho de administração, publicações das

demonstrações financeiras, entre outros;

 Prospectos e material informativos aos acionistas, bem como o atendimento

aos investidores e analistas de investimentos; e

 Custos internos da empresa, como a formação de uma equipe de estudos

sobre a abertura de capital, contração de uma consultoria externa de mercado

de capitais, implementação ou contratação de um departamento de acionistas

e toda a estrutura de uma diretoria de relações com investidores.

1.3.7. Documentação

A mesma documentação que é entregue a CVM é, também, entregue à Bolsa

de Valores onde a empresa será listada. A CVM tem 30 (trinta) dias para analisar a

documentação, com a possibilidade de interromper esse prazo para a solicitação de

esclarecimentos ou complementação de informações e documentos. (GUIA

BOVESPA, 2006)

1.3.8. Abertura de Capital no Brasil e no Exterior Simultaneamente

Segundo o Guia Bovespa (2006), uma das possibilidades que uma empresa

tem ao abrir o seu Capital é a de ter investidores estrangeiros adquirindo suas

ações, seja através da Bolsa de Valores no Brasil, na modalidade de investidores

registrados de acordo com a Resolução 2689 de 2000, ou através de ADRs -

American Depositary Receipts ou GDRs - Global Depositary Receipts, que tratam-se


43

de títulos negociados em bolsa de valores no exterior ou em mercado de balcão,

lastreados em ações de empresas brasileiras, cujas ações são negociadas em

Bolsa de Valores no Brasil.

Dependendo do porte da organização e do valor que se pretende captar, essa

é uma excelente opção para obter recursos nos dois mercados, embora seja

bastante onerosa para a empresa. (GUIA BOVESPA, 2006)

1.3.9. Fatores a Serem Considerados na Abertura de Capital

Um fator que deve ser considerado pela empresa na ocasião da abertura de

capital é a situação econômica do país, uma vez que abrir o capital numa conjuntura

econômica estável é mais favorável, considerando que há maior receptividade por

parte dos investidores, maior demanda e disposição em pagar um valor mais alto

pelas ações. Porém, há lançamentos que podem ter sucesso mesmo em uma

conjuntura negativa, desde que a empresa apresente projetos específicos com

excelentes perspectivas de retorno. (GUIA BOVESPA, 2006)

1.3.10. Liquidez do Papel Após a Abertura de Capital

A liquidez de uma ação na Bolsa de Valores após a abertura de capital de

uma empresa será muito influenciada pelas características da operação de abertura

de capital, no que diz respeito ao volume financeiro vendido ao público e o grau de

dispersão da colocação. Quanto maior for o valor colocado, maior será o volume

disponível para ser negociado em Bolsa, e quanto maior for o número de


44

compradores na oferta inicial, maior será a possibilidade de - no futuro - haver

ofertas de vendas e de compras na Bolsa de Valores. (GUIA BOVESPA, 2006)

1.3.11. Práticas de Governança Corporativa

Segundo o Guia Bovespa (2006), um outro aspecto muito importante são as

práticas de governança corporativa de uma empresa, visto que as organizações que

adotam boas práticas de governança corporativa estão estruturadas de tal forma que

a administração conduz os negócios considerando os interesses de todos os seus

acionistas, sem distinção entre o acionista controlador e o acionista investidor.

É fundamental que a empresa, ao abrir capital, crie meios para facilitar sua

comunicação com os investidores, além de atender às exigências previstas na

regulamentação, tais como: nomear um Diretor de Relações com Investidores,

possuir um departamento de acionistas (que pode ser terceirizado) e fornecer

informações periódicas, como as demonstrações financeiras trimestrais, devendo

ocorrer também uma preocupação constante com a liquidez de suas ações na Bolsa

de Valores após a oferta pública. (GUIA BOVESPA, 2006)

1.4. Governança Corporativa

Atualmente as grandes corporações necessitam quase que obrigatoriamente,

seguir certas regras de transparência e conduta quanto à administração de seus

negócios. Essas regras são mais conhecidas como regras de “Governança” ou

“Governança Corporativa”. IBGC (2003)


45

“Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades


são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos
entre Acionistas/Cotistas, Conselho de Administração,
Diretoria, Auditoria Independente e Conselho Fiscal. As boas
práticas de Governança Corporativa têm a finalidade de
aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e
contribuir para a sua perenidade”. (IBGC, 2005).

Segundo a CVM (2002), a Governança Corporativa tem o objetivo de otimizar

o desempenho de uma companhia e proteger todas as partes interessadas

(stakeholders) facilitando o acesso ao capital. Para tanto, baseia-se em três pilares:

transparência, eqüidade de tratamento dos acionistas e prestação de contas.

Em ambas as definições, é possível verificar que a Governança Corporativa

desempenha um papel importante nas Sociedades atuais, ou seja, o de fornecer a

todas as partes interessadas as diretrizes de conduta e transparência necessárias

para o correto andamento das atividades empresariais.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC,

2005), a Governança surge com o objetivo de sanar o chamado “conflito de

agência”, o qual é proveniente da separação entre a propriedade e a gerência

empresarial. De acordo com essa teoria, o “titular” delega ao “agente” a direção da

empresa e a partir daí surgem os conflitos que nada mais são do que diferentes

posicionamentos quanto ao comando da empresa em questão.

Segundo o Guia Bovespa (2005), as práticas de Governança Corporativa

ajudam a estruturar a administração e condução dos negócios, considerando os

interesses de todos os acionistas, sem distinção entre o controlador e o investidor.

Práticas como a publicação de balanços não condizentes com a real situação

da empresa, podem induzir o investidor a adquirir seus papéis. Nas empresas que

aderem as práticas de Governança Corporativa, esses fatos não ocorrem, uma vez

que existe a obrigatoriedade de fornecer informações adicionais às previstas em lei,


46

bem como a revisão de controles e processos internos, de acordo com Mcilhaney

(2006).

Nos Estados Unidos, após a falência de empresas como a Enron e Arthur

Andersen, foi aprovada e assinada em 30 de julho de 2002 pelo presidente George

W. Bush a regulamentação da lei Sarbanes-Oxley, como resposta as fraudes

contábeis ocorridas naquele país e aos danos que estas causaram nas vidas de

milhões de pessoas. Seus idealizadores, os Senadores Paul Sarbanes e Michael

Oxley, acreditavam que a utilização de rígidas regras de Governança Corporativa

era a única forma de restaurar a confiança dos investidores nas grandes

corporações (ABRAHAMI, 2005).

A lei Sarbanes-Oxley, ou apenas SOX como é mais conhecida, é ampla e

abrange novos e aprimorados procedimentos relacionados aos Conselhos,

Administração e Auditorias Independentes das empresas de capital aberto. Ela é

composta por 11 seções que vão desde responsabilidades adicionais dos Conselhos

de Administração até as penalidades aplicáveis nos casos mais graves, conforme

IBGC (2003).

De acordo com o Presidente George W. Bush, a aprovação da lei representa

a mais alta reforma alcançada até o momento nas práticas de negócios americanas

desde a época de Franklin Delano Roosevelt (SEC, 2002).

No Brasil, desde 1995 o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

(IBGC), antigo Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA),

apresentou em 1999 o primeiro Código das Melhores Práticas de Governança

Corporativa no país, quando o tema ainda não era nem sequer conhecido pela

maioria dos executivos brasileiros. Baseado em códigos europeus e norte-


47

americanos, sua primeira edição concentrava-se principalmente no papel dos

Conselhos de Administração (IBGC, 2005).

A terceira versão do código foi lançada em 30 de março de 2004, onde

aborda não somente o tema Conselho de Administração, mas também assuntos

referentes a propriedade e acionistas, gestão, auditoria independente, Conselho

Fiscal e conflito de interesses (IBGC, 2006).

A CVM apresentou em junho de 2002 uma cartilha de onze páginas e quatro

tópicos principais com recomendações sobre Governança Corporativa para

empresas de capital aberto. Com isso, busca a padronização dos processos

contábeis e a adoção de condutas adicionais de Disclosure por parte das empresas

que buscam o mercado de capitais como alternativa de financiamento para seus

negócios (CVM, 2002).

“Quando investidores financiam companhias, eles sujeitam-se


ao risco de apropriação indevida, por parte de acionistas
controladores ou de administradores da companhia, de parcela
do lucro do seu investimento. A adoção de boas práticas de
governança corporativa constitui, também, um conjunto de
mecanismos através dos quais investidores, incluindo
controladores, se protegem contra desvios de ativos por
indivíduos que têm poder de influenciar ou tomar decisões em
nome da companhia”. (CMV, 2002)

A Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) criou no final de 2000 o

chamado Novo Mercado, o qual se refere a um segmento de listagem da instituição,

composto apenas por companhias que se submetem, de forma voluntária, a adotar

regras adicionais de Governança Corporativa e Disclosure em relação ao que é

proposto pela Lei das S.As (BOVESPA, 2005).

Segundo dados do Instituto Coppead de Administração (UFRJ), existe uma

estreita relação entre o valor de mercado e o nível de governança. Empresas com


48

boas práticas de governança apresentam ações mais valorizadas (Valor, 2004).

Segundo dados dessa pesquisa realizada em 2002, cada ponto extra adquirido no

questionário equivaleria a um aumento de aproximadamente 6,8% no valor de

mercado de suas ações, contra apenas 3,4% dos dois anos anteriores.

1.4.1. Níveis de Governança Corporativa

Segundo a Bovespa (2005), são três os níveis de Governança Corporativa

que uma empresa de capital aberto pode aderir: Nível I, Nível II e Novo Mercado. A

adesão a qualquer um destes níveis é voluntária e realizada mediante um contrato

firmado entre a companhia, seus controladores, seus administradores e a Bovespa,

o que significa que a empresa se compromete a seguir um mínimo de práticas de

Governança Corporativa consolidadas no regulamento de listagem, de acordo com o

nível correspondente escolhido.

1.4.1.1. Bovespa Nível I

É o nível mais simples de Governança Corporativa dentre os sugeridos pela

Bovespa. As empresas listadas no Nível I se comprometem voluntariamente a seguir

as seguintes práticas:

 Manutenção de pelo menos 25% do capital na forma de ações em circulação;

 Realização de ofertas públicas de ações através de mecanismos que

favoreçam a dispersão destas;


49

 Melhoria nas informações prestadas trimestralmente, assim como a exigência

de consolidação das demonstrações contábeis e a revisão de uma auditoria

independente;

 Informações quanto a todas e quaisquer negociações de ativos e derivativos

de emissão da companhia por parte dos acionistas controladores e/ou

administradores da companhia;

 Disponibilização de um calendário anual de eventos corporativos;

 Apresentação das demonstrações do fluxo de caixa.

Quadro 1 - Empresas atualmente listadas no Nível I da Bovespa


50

1.4.1.2. Bovespa Nível II

No segundo nível, além das obrigações presentes no Nível I, as companhias

se comprometem a dotar as seguintes práticas:

 Conselho de Administração com mínimo de cinco membros e mandato

 Unificado de um ano;

 Disponibilização de balanço anual seguindo as normas do USGAAP ou IFRS;

 Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias nas

mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle

da companhia e de, no mínimo, 80% deste valor para os detentores de ações

preferenciais (tag along);

 Direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, como

transformação, incorporação, cisão e fusão da companhia e aprovação de

contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo sempre que sejam

deliberados em assembléia geral;

 Obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas as ações

em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital

ou cancelamento do registro de negociação neste Nível;

 Adesão à Câmara de Arbitragem para resolução de conflitos societários.


51

Quadro 2 - Empresas atualmente listadas no Nível II da Bovespa

1.4.1.3. Bovespa Novo Mercado

Além de todas as práticas de Governança listadas nos Níveis I e II, a

companhia aberta, seus controladores e administradores ainda se comprometem a:

 Não mais emitirem ações preferenciais, apenas ordinárias (1 ação = 1 voto);

 Extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas pelos

controladores quando da venda do controle da companhia (tag along 100%);

Desta forma, a empresa fornece a todos os seus acionistas o direito a voto,

assim como a mesma prioridade no recebimento dos dividendos.


52

Quadro 3 - Empresas atualmente listadas no Novo Mercado

1.4.2. A Importância da Governança Corporativa

O autor Milton Gamez (REVISTA BOVESPA, 2006), mostra que as

companhias que aderiram aos níveis diferenciados de Governança Corporativa

(Nível I, Nível II e Novo Mercado) apresentaram um retorno superior ao índice

Bovespa. Tanto o IGC (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada)

quanto o ITAG (Índice de Ações com Tag Along Diferenciado) apresentaram retorno
53

superior ao índice Bovespa desde que foram criados, em 2001 e 2002,

respectivamente.

Figura 2 - Comparação da performance dos índices


Fonte: SITE BOVESPA, INFOMONEY, YAHOO FINANCE

Empresas com regras rígidas de Governança são mais procuradas, o que

ocasiona uma redução do custo de capital e uma subseqüente valorização de suas

ações, de acordo com Klaper e Love apud Gamez (2004).

“A principal premissa dos pesquisadores é que as empresas

com boa governança são mais procuradas pelos investidores, o

que resulta (...) na valorização de suas ações” (GAMEZ, 2006).

Ainda segundo o autor, de acordo com a evolução atual da Governança

Corporativa, será pouco provável que uma empresa consiga abrir capital no Brasil e
54

levantar fundos através de um IPO, sem que ingresse no Novo Mercado, no nível

mais exigente de Governança da Bovespa.

1.4.3. Governança Corporativa no Venture Capital

De acordo com a Associação Européia de Venture Capital (EVCA), pequenas

empresas provenientes de fundos de Venture Capital necessitam demonstrar ao

mercado os mesmos requisitos que as grandes empresas em termos de governança

(VENTURE CAPITAL JOURNAL, 2002).

Para que seus empreendedores não enfrentem dificuldades quanto à gestão

de seus negócios, a Associação Britânica de Venture Capital oferece um curso

intitulado NED (Non-Executive Director´s) onde explora temas como transparência,

legislação e administração de conselhos. Segundo a associação, o objetivo principal

é apresentar os princípios gerais da Governança Corporativa a esses

empreendedores. (VENTURE CAPITAL JOURNAL, 2004)

1.4.4. Princípios de Governança Corporativa para Venture Capital e Private

Equity

A Associação Européia de Venture Capital (EVCA), entidade sem fins

lucrativos fundada em 1983 em Bruxelas, na Bélgica, elaborou um guia sobre os

princípios de Governança Corporativa (Corporate Governance and Professional

Standards for the Private Equity and Venture Capital Industry, 2005). O trabalho

realizado pela associação foi dividido em quatro partes: regras de boa governança

para investimentos de Venture Capital e Private Equity; regras de conduta para os


55

acionistas; regras de conduta para os membros do Conselho; e regras de conduta

para a administração.

De acordo com o referido guia, é necessário que o investidor esteja atuando,

acima de tudo, dentro da lei e dos princípios morais. Portanto, é necessário que a

empresa aja de acordo com:

 Leis e regulamentações específicas;

 Integridade;

 Parceria;

 Visão de Longo Prazo;

 Respeito pelas partes interessadas (stakeholders);

 Transparência;

 Sigilo.
56

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1. Problema de Pesquisa

“É preciso ter-se uma idéia bem clara do problema a se resolver.


Trata-se de definir bem os vários aspectos da dificuldade, de
mostrar o seu caráter de aparente contradição, esclarecendo
devidamente os limites dentro dos quais se desenvolverão a
pesquisa e o raciocínio demonstrativo”(SEVERINO, 2002,
p.160).

De acordo com Richardson (1999, p.27), “o pesquisador deve fazer uma

pergunta baseada na observação de um fenômeno. Às vezes, a pergunta é

escolhida para resolver um problema específico. Outras vezes, a pergunta surge da

curiosidade”.

O problema de pesquisa do estudo em questão é: “Os fundos de Venture

Capital direcionam as empresas investidas aos níveis mais altos de Governança

Corporativa?”

2.2. Hipótese do Trabalho

A hipótese trata-se de suposições idealizadas na tentativa de antecipar

respostas do problema de pesquisa, possui função de orientar o pesquisador na

condução do trabalho, e sua aceitação ou rejeição contribuirá decisivamente para a

busca dos objetivos propostos (MARTINS, 2000).


57

De acordo com Severino (2002), a hipótese pode ser considerada como a

idéia central que o trabalho se propõe demonstrar, sendo esta tese proposta de

forma hipotética, para a solução do problema.

Richardson (1999) define a hipótese como uma resposta possível de ser

testada e fundamentada para uma pergunta feita relativa ao fenômeno escolhido.

A hipótese levantada neste trabalho é: “Empreendimentos financiados por

fundos de Venture Capital são direcionados para os níveis mais altos de

Governança Corporativa”.

2.3. Definição das Variáveis

O termo variável é um conceito que assume valores numéricos em casos de

variáveis quantitativas, e que podem ser classificadas em duas ou mais categorias,

em casos de serem variáveis de atributos. Qualquer estudo, científico ou explicativo,

contém variáveis que devem ser incluídas nos objetos e/ou nas hipóteses

(RICHARDSON, 1999)

Para Martins (2000), é imprescindível que o pesquisador identifique as

principais variáveis da situação-problema que está sendo estudada.

Richardson (1999) pontua que o termo variável é um conceito e apresenta

duas características fundamentais:

 Aspectos observáveis de um fenômeno;

 Apresentação de variáveis ou diferenças em relação ao mesmo ou a outros

fenômenos.
58

De acordo com Martins (2000, p.32) as variáveis podem ser classificadas em

dependentes e independentes. “A variável independente surge como contribuinte ou

explicativa (causa) da variável dependente ou variável de estudo (efeito)”.

No estudo deste trabalho a variável independente é a atuação dos fundos de

Venture Capital no que se refere ao atendimento dos requisitos de Governança

Corporativa.

A variável dependente são os Níveis de Governança Corporativa.

2.3.1. Definição Operacional

“Para que haja correto entendimento da metodologia e dos


resultados da pesquisa, torna-se imprescindível a definição
conceitual e operacional dos principais termos e variáveis que
serão utilizados ao longo do trabalho”( MARTINS, 2000, p.32).

Para Richardson (1999), a definição conceitual de variável é considerada

geral/ampla, ao passo que, a definição operacional das variáveis é considerada

restrita, voltada diretamente aos aspectos do objeto, possibilitando assim, a

mensuração das variáveis envolvidas no fenômeno.

Porém, segundo Martins (2000), a definição conceitual é obtida através da

etimologia da palavra, geralmente sendo definida através de dicionário. Já as

definições operacionais são extremamente importantes e necessárias para a

condução eficiente da pesquisa, pois ajudam o pesquisador a se aproximar da

realidade comportamental devido à homogeneidade de interpretação e de medição

no contexto metodológico do trabalho científico.


59

No estudo deste trabalho a variável dependente são os níveis de Governança

Corporativa das empresas que receberam financiamento via Venture Capital.

As variáveis independentes são: os controles impostos pelos fundos gestores,

os tipos de saída, as etapas para realização do IPO e a adoção das práticas de

Governança Corporativa.

2.4. Objetivos da Pesquisa

2.4.1. Objetivo Geral

Para Martins (2000), é nesta fase que o investigador buscará responder ao

problema da pergunta e com esta questão criteriosamente definida, pode-se

enunciar os objetivos da pesquisa com precisão e concisão indispensável ao seu

alcance.

Segundo Richardson (1999), objetivos gerais definem o que se pretende

alcançar com a realização da pesquisa.

O objetivo geral deste trabalho é: “Identificar se os fundos de Venture Capital

direcionam as empresas investidas aos níveis mais altos de Governança

Corporativa”.
60

2.4.2. Objetivos Específicos

De acordo com Richardson (1999), objetivos específicos definem etapas que

devem ser cumpridas para que se alcance o objetivo geral.

O trabalho em questão pretende atingir os seguintes objetivos específicos:

 Conceituar como atuam os fundos de Venture Capital e Private Equity.

 Estudar como se dá o processo de implementação das regras de Governança

Corporativa pelos fundos de Venture Capital nas empresas investidas;

 Pesquisar as estratégias de saída dos fundos de Venture Capital;

 Verificar como ocorre o processo de listagem das empresas brasileiras na

Bolsa de Valores (IPO);

 Identificar em quais níveis as empresas financiadas por Venture Capital

ingressaram na Bolsa de Valores;

2.5. Abordagem Metodológica

2.5.1. Natureza da Pesquisa

De acordo com Richardson (1999), a pesquisa tem como objetivo imediato a

aquisição de conhecimento e o desenvolvimento do ser humano. Ela pode ter os

seguintes objetivos: resolver problemas específicos, gerar teorias ou avaliar teorias

existentes, sendo que não existe pesquisa sem teoria.

Para Richardson (1999), as pesquisas podem ser classificadas em três tipos:


61

 Estudo exploratório, quando não se tem informação sobre determinado tema

e se deseja conhecer o fenômeno;

 Estudo descritivo, quando se deseja descrever as características de um

fenômeno;

 Estudo explicativo, quando se deseja analisar as causas ou conseqüências

de um fenômeno;

No trabalho em questão, o tipo de pesquisa utilizado é o de natureza

exploratória.

2.5.2. Método de pesquisa

Para Richardson (1999), o método é uma palavra que vem do grego

méthodos (meta = além de, após de + ódos = caminho), significa o caminho ou a

maneira para chegar a determinado fim ou objetivo.

“Em sentido genérico, método em pesquisa significa a escolha de

procedimentos sistemáticos para a descrição e explicação de fenômenos”. Esses

procedimentos se aproximam dos métodos científicos os quais consistem em

delimitar um problema, realizar observações e interpretá-las com base nas relações

encontradas, fundamentando-se, o máximo possível, nas teorias existentes.

(RICHARDSON, 1999, p.70)

Assim, o trabalho de pesquisa deve ser planejado e executado de acordo com

normas requeridas para cada método de investigação. Adotando uma classificação

bastante ampla, podemos dizer que há dois grandes métodos: o quantitativo e o

qualitativo. (IDEM)
62

2.5.2.1. Pesquisa Quantitativa

Como o próprio nome indica, o método quantitativo caracteriza-se pelo

emprego da quantificação, tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto

no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas, desde as mais simples como

percentual, média, desvio-padrão, às mais complexas como coeficiente de

correlação, análise de regressão, etc. (RICHARDSON, 1999)

De acordo com Richardson (1999), o método quantitativo é amplamente

utilizado na condução da pesquisa, pois tem como premissa a intenção de garantir a

precisão dos resultados, evitando distorções de análise e interpretação,

possibilitando assim uma margem de segurança quanto as interferências.

2.5.2.2. Pesquisa Qualitativa

Para Richardson (1999), o método qualitativo difere do método quantitativo

pelo fato do seu procedimento analítico não ser baseado em um método estatístico,

pois não pretende numerar ou medir unidades ou categorias homogêneas.

De acordo com Richardson (1999), as investigações que se voltam para uma

análise qualitativa têm como objetivo situações complexas, pois esta metodologia

pode descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de

certas variáveis e compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos

sociais.

O método utilizado na pesquisa foi o qualitativo.


63

2.6. Instrumento de Coleta de Dados

A coleta de dados para o presente trabalho se fundamenta na seleção de uma

amostra de fundos de Venture Capital, cujos dados coletados serão analisados com

base em uma metodologia qualitativa de investigação para o tema.

A coleta de dados foi realizada através de entrevistas pessoais gravadas, por

meio de roteiro pré-estabelecido, com representantes dos fundos selecionados, para

posterior análise e interpretação dos dados coletados.

2.7. Plano Amostral

Para Martins (2000), as pesquisas são elaboradas através de estudo dos

elementos que compõe uma amostra extraída da população que se pretende

analisar. O conceito de população é intuitivo; trata-se do conjunto de indivíduos ou

objetos que apresentam determinadas características em comum, definidas para o

estudo. Amostra é um subconjunto da população.

Como nem sempre é possível obter as informações de todos os elementos da

população, devido ao tempo e custos, e considerando as grandes vantagens do uso

das técnicas estatísticas de inferência, torna-se claro o uso de planos amostrais

(MARTINS, 2000)
64

3. RESULTADOS E ANÁLISES DOS DADOS

De acordo com a abordagem metodológica, a natureza da pesquisa utilizada

pelo grupo foi exploratória, tendo sido realizadas cinco entrevistas que seguiram a

metodologia do instrumento de coleta de dados.

As características destes fundos e seus entrevistados foram descritas com

nomes fictícios cuja finalidade foi preservar a identidade dos mesmos.

O entrevistado 1 é um Analista de Negócios do Fundo 1. Este fundo iniciou

suas atividades no Brasil em 1997, um ano após o lançamento do primeiro fundo de

Private Equity na América Latina, onde possui uma forte presença nesse setor.

O fundo 1 possui mais de 100 anos de experiência em Private Equity e mais

de 50 anos de experiência em gerenciamento de empresas.

Na América Latina, está focado em investimentos de capital de risco incluindo

buyouts, recapitalizações e aumento de capital em negócios estabelecidos e

rentáveis, investindo principalmente em compras de participação societária e injeção

de capital. Geralmente não financia dívidas ou projetos.

O Fundo 1 busca operações já estabelecidas e bem sucedidas, em franca

expansão, tanto no mercado interno como externo, que possuam uma administração

competente, com clara visão estratégica.

Normalmente adquire o controle das empresas, mas não participa do

gerenciamento no dia-a-dia do negócio. Atua no conselho de administração das

empresas de seu portfólio e procura vender sua posição em um prazo de três a sete

anos, através da venda para um comprador estratégico (normalmente empresa

multinacional) ou, se apropriado, através de venda de ações no mercado de capitais.


65

O entrevistado 2 é o diretor do fundo 2 e o entrevistado 2.1 é advogado do

fundo 2, uma empresa com sede nos Estados Unidos da América, tendo como

atividades, Serviços Financeiros, Banco de Investimentos e Seguros.

O grupo detém participação no capital social superior a 5% em várias

empresas com atuação no Brasil e no Mercosul.

Os fundos administrados pelo grupo têm investimentos na forma de Privaty

Equity, cujos investimentos iniciaram-se em 1980 e hoje o grupo detêm

investimentos em mais de 20 países ao redor do mundo. Os fundos detêm

participações minoritárias nas empresas.

O entrevistado 3 é Sócio do Fundo 3, que levantou seu primeiro fundo de

Private Equity em 1994, com recursos captados junto a investidores estrangeiros

institucionais. O fundo foi o único deste porte na América Latina que retornou todo o

capital de seus cotistas com lucro.

O Fundo 3 é uma empresa gestora de recursos especializada na gestão de

fundos de investimentos em alternative assets de longo e curto prazo. Seus

principais produtos são Private Equity, Fundos de Derivativos e Fundos com lastro

imobiliário.

Os recursos dos fundos de Private Equity são investidos em participações de

controle em empresas com alto potencial de crescimento ou que apresentam

oportunidades de reorganização ou reestruturação financeira. Por sua vez, o fundo 3

busca adquirir participações acionárias com forte influência na gestão, com foco em

empresas de base tecnológica.

Em linha com a experiência internacional, os fundos de Private Equity são

dedicados exclusivamente a investidores qualificados que participam ativamente da

definição da estratégia e do acompanhamento de seus investimentos, delegando,


66

entretanto, a administração do dia-a-dia e a prospecção de novos negócios aos

administradores.

O entrevistado do fundo 4 é sócio do fundo 4. Possui investimentos realizados

no Brasil nas áreas de Saúde, Telecomunicações, Tecnologia da Informação e

Mídia.

O grupo visa a participação majoritária, a proximidade da gestão e a

Governança Corporativa na tentativa de formação mais rápida de valor e melhoria

das possibilidades de saída.

O Entrevistado 5 é Diretor do fundo 5, o qual atua na gestão de fundos de

investimentos de Private Equity e Venture Capital no Brasil, tendo iniciado suas

operações em 1981. O investimento do referido fundo em empresas tem como

objetivo fazê-las crescer rapidamente para, através da valorização da sua

participação, proporcionar retorno aos investidores.

Ao longo desses anos, o fundo 5 tem realizado investimentos em empresas

emergentes dos mais diversos setores, que se destacam pelo empreendedorismo,

inovação e potencial de crescimento.

São clientes desse fundo, médias e grandes empresas, para as quais são

prestados serviços relacionados à avaliação financeira, captação, reestruturação,

fusões e aquisições.

O fundo investe em ações ou debêntures, com participações minoritárias, em

caráter temporário, com objetivo de liquidez a médio prazo.

O fundo é multisetorial, atua no Brasil e estimula a Governança Corporativa

nas empresas investidas.


67

3.1. Análise dos dados

Foram definidas sete categorias com base nas entrevistas realizadas. São

elas:

 Percepção dos fundos com relação às práticas de Governança Corporativa no

contexto mundial e no Brasil;

 Governança Corporativa como requisito a ser considerado na seleção das

empresas para receberem o investimento;

 Participação do fundo nas tomadas de decisão, pelo corpo diretivo, em

relação à Governança Corporativa;

 Peso da Governança Corporativa nas saídas via Trade Sale e via IPO;

 Comparação do retorno das empresas listadas no Novo Mercado, com saída

via IPO versus empresas dos demais níveis;

 Os custos da implantação da Governança Corporativa versus Entrada nos

níveis mais elevados;

 O direcionamento das empresas investidas para o mesmo nível nas saídas

via IPO.

3.1.1. Percepção dos fundos com relação às práticas de Governança

Corporativa no contexto mundial e no Brasil

No contexto mundial, de acordo com os entrevistados 1, 2, 4 e 5, a

Governança Corporativa teve maior importância a partir de 2001, após as fraudes


68

contábeis da Enron, WorldCom, entre outras. A partir desses episódios, foi criado

nos Estados Unidos a Lei Sarbanes-Oxley, a qual vêm auxiliando na implementação

e na melhoria da Governança Corporativa nas empresas, sendo que nos EUA as

exigências são mais perspicazes e estão mais adiantados na implementação de

regras de Governança Corporativa que os países emergentes, conforme cita o E1:

“...no mercado americano em 2001 teve várias quebras,


fraudes contábeis importantes - Enrol, WorldCom - então, isso
fez com que o mercado pegasse bastante desconfiança,
aversão a risco, e conseqüentemente tanto o mercado
acionário americano como aqui no Brasil sofremos por causa
disso, e a partir daí começaram a aumentar a legislação com a
Sarbanes-Oxley, para forçar os administradores a darem mais
disclosure de informações para os acionistas”.

A informação dos fundos referente às fraudes das empresas pode ser

confirmada na teoria do autor Abrahami (2005), onde ele cita as falências das

empresas Enron e Arthur Andersen e a aprovação da lei Sarbanes-Oxley, em 2002,

pelo presidente George W. Bush. De acordo com o IBGC (2003), a lei Sarbanes-

Oxley é ampla e abrange novos e aprimorados procedimentos, sendo composta por

11 seções que vão desde responsabilidades adicionais dos Conselhos de

Administração até as penalidades aplicáveis nos casos mais graves.

O entrevistado 2 cita que nos EUA a Governança Corporativa está mais

avançada que nos demais mercados e que estes, por sua vez, tentam se adequar

ao modelo dos EUA.

“...em mercados emergentes, a gente sente que ainda é muito


do que se pretende fazer nos Estados Unidos, ou seja, lá ainda
é mais avançado do que a gente, e a gente está sempre
correndo atrás de se enquadrar na legislação deles, nos
regulamentos deles...”.
69

O Brasil é um destes países, que, de acordo com dados do IBGC (2005),

apresentou o primeiro código das melhores práticas de Governança Corporativa,

baseado em códigos norte-americanos.

No Brasil, o entrevistado 1 aponta que a Governança Corporativa propicia

maior segurança aos fundos de Venture Capital e que as regras do Novo Mercado

estão em linha com os padrões de Governança mais altos do mundo, fato este

citado também pelo entrevistado 5. Entretanto, o E1 afirma que o país está atrasado

em relação às práticas de Governança Corporativa, porém tende a evoluir “...acho

que no Brasil isso tá mudando bastante, se vocês pegarem as últimas aberturas de

capital e também o que as pessoas falam, as empresas de um modo geral tem

buscado criar, aumentar a Governança Corporativa porque isso dá valor.”

De acordo com o Guia Bovespa (2005), a criação de níveis de Governança

Corporativa auxilia na estruturação, administração e condução dos negócios

considerando o interesse de todos os acionistas, independente de tratar-se de

investidor ou controlador. Para Mcilhaney (2006), a adoção das empresas às

práticas de Governança Corporativa protege os investidores de informações

fraudulentas que possam prejudicá-los.

O Entrevistado 3 afirma que, quanto mais próximo do Novo Mercado, maior

valor possui a Governança Corporativa “...mas já está claro que as empresas que

são listadas no Novo Mercado tem um valor maior do que as outras controladas por

famílias, ou por pessoas, por controladores”. Esta afirmação está em linha com as

regras do Guia Bovespa (2005).

A Bolsa de Valores de São Paulo criou três níveis de Governança

Corporativa, sendo eles os níveis I, II e Novo Mercado. O nível I possui seis práticas

que devem ser obedecidas pelas empresas que aderem a este Nível. No nível II, as
70

empresas devem se comprometer a cumprir as seis práticas do Nível I mais outras

novas seis práticas. As empresas que aderem ao Novo Mercado devem atender as

doze práticas do Nível II mais duas novas práticas específicas para este nível. De

acordo com essas regras, pode-se correlacionar a afirmação do fundo 3 com a

descrita no Guia Bovespa, pois as exigências de Governança Corporativa aumentam

gradualmente conforme a adesão aos níveis mais altos.

O fundo 4 enfatiza que no Brasil o conceito de Governança Corporativa é

recente e está em evolução progressiva. Esta afirmação está concisa com a

apresentação da cartilha elaborada pela CVM (2002), sobre Governança Corporativa

para empresas de capital aberto, que buscam padronização dos processos

contábeis e a adoção de condutas adicionais de disclosure por parte das empresas.

3.1.2. Governança Corporativa como requisito a ser considerado na seleção

das empresas para receberem o investimento dos fundos

De acordo com os entrevistados 1, 3, 4 e 5, não é fundamental que a

empresa a ser selecionada para o investimento do fundo já apresente aspectos de

Governança Corporativa, porém todos são enfáticos em afirmar que é estritamente

necessário que a empresa investida esteja disposta a implantar as regras de

governança, como menciona o E4:

“...Entendendo que o fundo é uma transição de uma empresa


fechada pra uma empresa futuramente abrir seu capital, a
Governança Corporativa é um processo de torná-la mais
transparente pra todos os stakeholders, ou seja, fornecedores,
clientes, investidores, etc. Então é uma condição fundamental,
sim, para os investidores.”
71

Segundo Fried e Hisrich (1994), nos Estados Unidos, foram identificados três

critérios básicos de seleção para os investimentos realizados pelos fundos.

Primeiramente, deve existir um significativo potencial de crescimento da empresa,

capacidade de ser trazida a mercado dentro de dois ou três anos e possuir

vantagem competitiva. O entrevistado 1 afirma que o “...o fundo busca empresas

que tenham produto ou serviço de alto valor agregado,... é fundamental que no setor

tenha bastante aquisições, que é isso que dá liquidez e isso que vai garantir as

nossas saídas aos investimentos no tempo de cinco anos”.

Ainda de acordo os referidos autores, o segundo critério é relativo à

administração da companhia, ou seja, os administradores da empresa a ser

investida devem ter flexibilidade, liderança e um profundo conhecimento do negócio.

O terceiro critério de seleção é referente ao retorno do investimento realizado pelo

fundo, que consiste na definição de uma alternativa de saída, como o trade-sale ou o

IPO.

3.1.3. Participação do fundo nas tomadas de decisão, pelo corpo diretivo, em

relação à Governança Corporativa:

Todos os entrevistados concordam que os fundos participam ativamente nas

tomadas de decisões estratégicas da empresa. Esta afirmação é corroborada com a

teoria de Carvalho et. al (2005) quando menciona que os capitalistas de risco

participam ativamente da gestão estratégica das empresas investidas. Eles são

considerados investidores ativos, participantes do conselho de administração ou

fiscal das empresas investidas.


72

Com relação a criação dos Comitês e Conselhos, o E1 enfatiza que é grande

a participação do fundo nas empresas investidas “...a gente cria tudo, a gente

desenha os comitês de auditoria”; o E2 tem participação de um membro em cada

comitê criado “..cada comitê tinha uma pessoa do nosso fundo participando” e o E3

indica boa parte dos membros do Conselho de Administração “...a gente ainda

consegue indicar boa parte dos membros do Conselho de Administração”.

O E1 estimula o investimento para melhores adequações à Governança

Corporativa. De acordo com Pavani (2003), a figura do investidor encaminha a

empresa para uma maior organização, profissionalização dos gestores e elaboração

de novos processos. Assim o Venture Capital é uma forma de financiamento que

proporciona o crescimento sustentável às pequenas e médias empresas

De acordo com o E3, as decisões de Governança Corporativa são atribuições

dos acionistas; como o fundo passa a ser um acionista, o mesmo também passa a

ter o poder de decisão sobre as regras de Governança Corporativa. Esta afirmação

está em linha com Pavani (2003), a qual afirma que o fundo de Venture Capital

torna-se sócio da companhia ao adquirir suas ações. O E3 define os poderes de

aprovação dos executivos, contudo, tenta não engessar a companhia.

Segundo o E4, existe uma parte formal que é estabelecida através de um

acordo de acionistas, nas reuniões do Conselho de Administração, que define o que

pode ou não ser alterado na empresa sem a aprovação do fundo de Venture Capital:

“...não pode mudar de segmento, não pode trocar pessoas-chaves sem a nossa

opinião, mas também tem um outro lado, que vai do relacionamento que se cria

entre o gestor do fundo e os empresários, no sentido de ajudar na gestão da

empresa”.
73

3.1.4. Peso da Governança Corporativa nas saídas via Trade Sale e via IPO

Em relação às saídas via trade-sale, os entrevistados 1 e 3 entendem que o

nível de Governança Corporativa é indiferente, uma vez que o comprador tem a

possibilidade de realizar uma Due-Dilligence para analisar a empresa, conforme

afirma o E3 “...numa saída privada, o investidor pode sempre substituir esse alto

nível de Governança Corporativa por despesas, quer dizer, Due Diligence....

investindo em advogados e auditorias.”

O entrevistado 2 entende que a Governança Corporativa é questionável nas

saídas via trade-sale, tendo em vista que a empresa compradora implementará as

mesmas diretrizes aplicadas por ela em sua matriz; porém, se a empresa tiver

Governança Corporativa, esse item é percebido pelo comprador como um valor

adicional.

O entrevistado 4 afirma que a transparência da Governança Corporativa é

valorizada pelos potenciais compradores ao passo que o entrevistado 5 entende que

a Governança Corporativa é importante nas saídas via trade-sale, uma vez que

possibilita a empresa compradora conhecer o grau de transparência do negócio a

ser adquirido e afirma que nas empresas vendidas pelo fundo, a Governança

Corporativa sempre foi relevante, como afirma em ”...na nossa visão muitas vezes

são estrangeiros que vão comprar a empresa. Eles querem esse alto nível de

transparência....”

Todos os entrevistados são unânimes em garantir que a Governança

Corporativa é relevante nas saídas via IPO, e os entrevistados 1, 3 e 4 acrescentam

ainda em suas entrevistas que algumas empresas somente saíram no Nível II de

Governança Corporativa por questões regulatórias, como afirma o E4 “...o que vai
74

impedir essas empresas de abrir capital no Novo Mercado serão problemas

regulatórios, principalmente no setor aeronáutico, aonde tem restrições para você ter

o controle difuso da companhia, então não pode ir para o Novo Mercado”. O

entrevistado 1 acrescentou ainda que 90% das empresas aderiram às regras do

Novo Mercado da BOVESPA nas saídas via IPO.

O entrevistado 2 afirma que sem a adoção da Governança Corporativa não é

possível a listagem na Bolsa de Valores de São Paulo. Ainda segundo ele, está

ocorrendo um interesse das empresas em migrarem para níveis mais altos de

Governança Corporativa, para não serem penalizadas na precificação de suas

ações e apresentarem maior transparência de informações ao mercado, conforme

menciona “A gente vê que empresas que tem melhor governança são melhor

precificadas também.... As que não têm, ou as que estão começando a ter, que

foram prematuramente pra Bolsa, foram penalizadas de alguma forma na

precificação.”

Já o entrevistado 3, complementa afirmando que a Governança Corporativa

não é uma opção, é uma necessidade.

Os entrevistados 4 e 5 afirmam ainda que a Governança Corporativa garante

o aumento da liquidez dos investimentos e o entrevistado 5 acrescenta que quanto

maior a transparência da empresa, maior a facilidade para o investidor adquirir seu

papel, acreditando que as empresas mais transparentes obtêm um melhor

desempenho que as empresas que não possuem regras claras de Governança

Corporativa, como afirma o E4 “...eu acho que a Governança Corporativa é igual a

transparência, quer dizer, quanto mais Governança a empresa tiver, mais fácil fica

para os investidores de fora, no momento do IPO, comprar determinado papel.”


75

A importância das práticas de Governança Corporativa discriminadas pelos

entrevistados encontram-se descritas no Guia BOVESPA (2006), nos itens Liquidez

Patrimonial e Práticas de Governança Corporativa.

3.1.5. Comparação do retorno das empresas listadas no Novo Mercado, com

saída via IPO versus empresas dos demais níveis

Em relação ao comparativo de retorno das empresas listadas no Novo

Mercado, com as empresas listadas nos demais níveis, foi unânime a percepção dos

entrevistados de que quanto mais alto o nível de Governança Corporativa em que a

empresa é listada, melhor o seu papel é precificado. (ver figura 3, 4 e 5)

De acordo com o entrevistado 2, o mercado paga melhor por papéis de

empresas listadas nos níveis mais altos de Governança Corporativa e acrescentou

que as empresas que não se enquadraram nesses níveis foram penalizadas na

precificação de seus papéis (processo de bookbuilding). Este entrevistado acredita

ainda que o IPO é a melhor forma de medir a Governança Corporativa das

empresas.

Percentual de VALORIZAÇÃO NO PROCESSO DE BOOKBUILDING


empresas

60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0% a 25% 25% - 50% 50% - 75% Acima 75%

Nível II Novo Mercado

Figura 3 - Potencial de Valorização no Processo de Bookbuilding


Fonte: SITE BOVESPA
76

Já de acordo com o entrevistado 3, o mercado espera que as novas saídas

via IPO ocorram no Novo Mercado, caso contrário, pode gerar desconfiança por

parte dos investidores “...eu acho que hoje o Novo Mercado é o padrão, se você não

for listar no Novo Mercado, as pessoas vão te perguntar por que,...se você não tem

uma boa explicação pra isso, como é o caso que a empresa 4 tinha, a questão da

titularidade e da agência regulatória, tudo bem...”.

O entrevistado 4 acredita que o retorno apresentado pelas empresas listadas

no Novo Mercado independe do setor de atividade “...com certeza as empresas no

Novo Mercado vão continuar tendo maior valorização que as empresas tradicionais,

independentemente do setor...”

O quinto entrevistado acredita que o Novo Mercado agrega mais credibilidade

e transparência à empresa frente aos olhos do investidor:

“Agora o objetivo é sempre buscar aumentar esse nível de


Governança Corporativa, por que isso facilita a nossa venda,
facilita mostrar para um trade-sale, seja um investidor
estratégico, seja um investidor de fundos que essa empresa é
interessante. Então faz parte do nosso investimento, até pra
melhorar as condições de saída, seja em preço, seja em
oportunidades de oferecer pra vários investidores, dar e criar
essas condições de Governança.”

As percepções dos entrevistados acima citados vêm de acordo com dados

divulgados pelo Instituto Coppead de Administração (UFRJ).

3.1.6. Os custos da implantação da Governança Corporativa versus Entrada

nos níveis mais elevados

No que diz respeito aos elevados custos de implantação de Governança

Corporativa, todos os entrevistados admitem sua existência. Entretanto, eles


77

reconhecem a importância da implementação de regras de Governança, pois

acreditam que o retorno futuro será muito superior aos custos de implantação.

Segundo o entrevistado 1, não vale a pena economizar com auditorias e

controles internos de Governança. Os entrevistados 3 e 4 mencionam que os custos

de implantação iniciais são compensados pelo alto retorno nas saídas via IPO. O E4

enfatiza que “...a curto prazo você vai ter mais custos, mas acho que no tempo

talvez poderia até ser uma economia pelo fato de você ter um nível de detalhe nos

teus reports gerenciais e uma organização mais bem feita, então você consegue ter

uma tomada de decisão muito mais embasada.”

O quarto entrevistado complementou afirmando que as empresas investidas

por Venture Capital que quiserem realizar novas captações no futuro, necessitam

implementar Governança Corporativa “...acho que tanto para o fornecedor como

para o cliente é importante, mas também para os bancos, os bancos não vão aceitar

mais as empresas que não tenham Governança Corporativa bem definida.”

No processo de implementação de Governança Corporativa em uma

empresa, diversos são os custos envolvidos. De acordo com o site da BOVESPA, os

seguintes itens fazem parte do custo total:

 Custos relativos à realização de ofertas públicas de ações;

 Custos de consolidação das demonstrações contábeis e de fluxo de caixa,

publicados trimestralmente, seguindo as normas do USGAAP ou IFRS;

 Custos relativos a contratação de uma auditoria independente;

 Custos relativos a contratação de consultorias diversas;

 Custos relativos a disponibilização de um calendário anual de eventos

corporativos;
78

 Custos para manutenção de um Conselho de Administração com mínimo de

cinco membros;

 Custos relativos à adesão à Câmara de Arbitragem, para resolução de

conflitos societários.

Conforme pesquisa do Instituto Coppead do Rio de Janeiro, quanto maior o

nível de Governança Corporativa da companhia, melhor sua precificação.

3.1.7. O direcionamento das empresas investidas para o mesmo nível nas

saídas via IPO

Todos os entrevistados relatam a importância da Governança Corporativa, ao

mencionarem que desde o início do processo de investimento buscam direcionar as

empresas investidas aos mais altos níveis de Governança Corporativa.

Os entrevistados 3 e 4 comentam que apenas questões regulatórias impedem

que as empresas investidas sejam encaminhadas para o Novo Mercado. O E3

comenta que “...a gente não saiu no Novo Mercado na empresa “X” por uma questão

absolutamente regulatória, porque tem uma agência reguladora que exige que tenha

um controlador, então precisa ter ONs e PNs....”

O mesmo ainda cita os casos da empresa “X” e da empresa “Y”, quanto aos

fatores regulatórios: no caso da empresa “X”, a troca de controle só pode ser

aprovada pela agência “Z” e no caso da empresa “Y”, a agência “W” exige que a

empresa tenha a identificação do controlador que seja responsável perante a

agência reguladora pela administração da companhia, impossibilitando a

pulverização dos papéis na saída via IPO.


79

O terceiro entrevistado aponta a manutenção da reputação e imagem do

fundo de Venture Capital como outro fator relevante para o encaminhamento das

companhias investidas aos níveis mais altos de Governança Corporativa:

“...logo de partida a gente estabelece uma série de novas


regras que fazem com que elas fiquem muito mais próximas de
uma Governança Corporativa de uma companhia de Novo
Mercado. Isso é uma coisa que está sempre nos preocupando,
preocupa a gente não só no investimento, mas também no
desinvestimento, porque a gente tem uma reputação.... porque
nossa imagem tá atrelada ao sucesso da companhia no futuro.”

Quadro 4 - Aberturas de Capital na Bolsa de Valores de São Paulo


80

De acordo com a relação das companhias listadas nos três níveis de

Governança da BOVESPA, existem 78 empresas listadas atualmente. Destas, 12

empresas receberam financiamento de Venture Capital.

Se não houvesse questões regulatórias, quase todas as empresas

ingressariam no nível mais alto - Novo Mercado - entretanto, seis empresas aderiram

ao Novo Mercado, e as outras seis empresas aderiram ao Nível II. Nenhuma das

empresas financiadas por Venture Capital aderiu ao Nível I da BOVESPA.

O gráfico abaixo apresenta a quantidade de abertura de capital no período

compreendido entre Jan/2004 até Jun/2006. Pode-se constatar que houve neste

período 25 IPOs, sendo que destes 10 empresas foram financiadas por fundos de

Venture Capital.

Total de IPOs VS Financiadas (2004 - 2006)

20
20
15

10

5
6
5 4
0
Novo Mercado Nível 2

Total de IPOs Financiadas por Venture Capital

Figura 4 - Total de empresas que abriram capital e receberam financiamento


Fonte: SITE BOVESPA
81

4. CONCLUSÃO

Baseado no método de pesquisa qualitativa, o grupo realizou cinco

entrevistas com gestores de fundos de Venture Capital, com o intuito de testar a

hipótese formulada.

As respostas dos entrevistados foram transcritas e categorizadas de acordo

com o assunto, visando facilitar a análise dos dados obtidos. A partir da análise, o

grupo chegou a algumas conclusões que encontraram embasamento no referencial

teórico elaborado pelo grupo.

Com relação a Governança Corporativa no mundo, quase todos os

entrevistados mencionaram que esta ganhou importância principalmente após as

fraudes contábeis da Enron e WorldCom. Segundo os entrevistados, os Estados

Unidos representam o país mais avançado em termos de Governança Corporativa.

Porém, as opiniões foram divergentes quanto ao Brasil. Apesar de divergirem no que

diz respeito ao atual estágio da Governança Corporativa no Brasil, todos acreditam

que o país tem melhorado nos últimos anos.

Todos os entrevistados afirmaram que a presença da Governança

Corporativa, não é item essencial na seleção das empresas a serem investidas,

desde que estas se comprometam com sua implementação no futuro, como forma

de dar maior retorno e liquidez na empresa no momento do desinvestimento.

Os entrevistados afirmaram que participam ativamente nas tomadas de

decisão das empresas investidas. Como o fundo de Venture Capital adquire

participação na empresa, tornando-se um acionista, passa a ter o direito de

participar nas decisões desta.


82

A Governança Corporativa foi apontada por todos os entrevistados como

essencial nas saídas via Bolsa de Valores, porém não foi considerada relevante no

processo de desinvestimento através de Trade Sale. O fato de uma empresa possuir

Governança Corporativa é considerado um diferencial, não um pré-requisito para

uma venda estratégica.

O grupo pôde constatar a unânime opinião dos entrevistados no que diz

respeito a valorização das empresas com boas práticas de Governança Corporativa.

Segundo eles, o mercado está disposto a pagar um prêmio alto por ações no nível

mais elevado de Governança Corporativa. Através de dados secundários, foi

calculada a valorização das ações dos três níveis de Governança no período de 1

ano (jun/05 a jun/06) e através do resultado, foram elaborados os gráficos a seguir:

Figura 5 – Rentabilidade das empresas listadas no Nível I


Fonte: SITE BOVESPA
83

Através da análise do gráfico pode-se observar que nove empresas listadas

no Nível I obtiveram rentabilidade negativa durante o período, e apenas uma

empresa obteve retorno superior a 100%.

Figura 6 - Rentabilidade das empresas listadas no Nível II


Fonte: SITE BOVESPA

No gráfico das empresas listadas no Nível II, pode-se observar que o retorno

auferido pelas empresas listadas neste nível foi superior ao das empresas que

ingressaram no nível I.
84

Figura 7 - Rentabilidade das empresas listadas no Novo Mercado


Fonte: SITE BOVESPA

O gráfico do Novo Mercado apresenta uma rentabilidade ainda maior que a

dos níveis anteriores, indicando que altos níveis de Governança Corporativa

proporcionam retornos acima da média do mercado.

Os entrevistados também admitiram a existência de custos elevados na

implantação de Governança Corporativa, contudo, todos acreditam que o retorno no

futuro compensa o investimento. Um dos entrevistados comentou ainda que não

compensa economizar com Governança, pois o retorno é muitas vezes superior aos

custos de implementação.

Todos os gestores afirmaram que o direcionamento das empresas investidas

para o nível mais alto de Governança da Bovespa, o Novo Mercado, ocorre sempre

que possível. Desde o aporte de capital pelos fundos, as empresas são preparadas

para exercerem suas atividades segundo as regras de Governança Corporativa.


85

A partir dos resultados auferidos nas pesquisas realizadas, o grupo obteve

indícios de que os fundos de Venture Capital e Private Equity direcionam as

empresas investidas ao nível mais alto de Governança Corporativa, nas saídas via

IPO. Tivemos a oportunidade de constatar também que, quando isto não ocorre, o

fato se deve a um impedimento por questões regulatórias. Os mesmos indícios não

puderam ser comprovados para saídas via Trade Sale.

A contribuição deste trabalho vem do fato de proporcionar ao mercado a visão

dos fundos de Venture Capital no que tange a Governança Corporativa. Podemos

perceber que o mercado de fato se importa com o tema e está disposto a pagar mais

por isto.

4.1. Limitações do Estudo

Podemos considerar como limitações ao nosso trabalho a pequena

quantidade de empresas financiadas por Venture Capital e Private Equity que

abriram capital recentemente, bem como a falta de dados disponíveis no mercado

relativos as empresas que optaram por saídas via Trade Sale.

4.2. Sugestões para Estudos Futuros

O grupo sugere a continuidade da pesquisa no futuro, quando o mercado

apresentar uma maior quantidade de empresas financiadas por Venture Capital e

Private Equity com saídas via IPO, a fim de obter resultados mais conclusivos sobre

o referido assunto a partir de uma base de dados mais representativa.


86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAHAMI, Abe. Management Services. Vol. 49 Ed. 3 – p28-31, 4p. Disponível

em: <www.mackenzie/bibliotecas/ebsco.com>. Acessado em 26/11/2005.

ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços. 7 ed..São Paulo:

Atlas, 2002.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 6 ed..São Paulo: Atlas, 2005.

BAKER, Tina. et al – EVCA: Corporate Governance and professional Standards

for the Private Equity and Venture Capital Industry. Bruxelas: junho de 2005.

Disponível em: <http://www.evca.com>. Acesso em 27/11/2005.

BOVESPA – BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO. Guia de Abertura de Capital.

<http://www.bovespa.com.br/pdf/guiaaber.pdf>. Acesso em 27/05/2006.

BOVESPA – BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO. Níveis de Governança

Corporativa. Disponível em: <http://www.bovespa.com.br>. Acesso em: 27/11/2005.

CVM – COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS. Dados e publicações da CVM.

Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 27/11/2005.

DORNELAS, José Carlos Assis. Empreendedorismo – Transformando idéias em

negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.


87

EVCA – European Venture Capital Association. Dados e publicações da EVCA.

Disponível em: <http://www.evca.com>. Acesso em 27/11/2005.

EVCJ – European Venture Capital Journal. Corporate Governance: liability

concerns. 2004, julho. p3-5. Bruxelas. Disponível em: <http://www.evcj.com>.

Acesso em: 27/11/2005.

EVCJ – European Venture Capital Journal. Public Affairs Work at EVCA. P76-79.

Bruxelas, 2005. Disponível em: <http://www.evcj.com>. Acesso em: 27 novembro

2005.

EVCJ – European Venture Capital Journal. You Can No Longer Ignore Corporate

Governance Issues. Ed. 42, p30-31, 2002. Bruxelas. Disponível em:

http://www.evcj.com>. Acesso em: 27/11/2005.

FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 66 ed.. Rio de

Janeiro: Qualitymark Ed., 2005.

FRANÇA, Paulo. Captação de recursos para projetos e empreendimentos, 2005

– Editora SENAC , Distrito Federal.

FRIED, Vance H.; HISRICH, Robert D..Toward a Model of Venture Capital

Investment Decision Making. Financial Management, Ed.: Abril/Maio. Vol.23, No.3.


88

GAMBA, Daniele. Valor Econômico. São Paulo: edição nº 1055, 19 julho 2004.

GAMEZ, Milton. O Valor da Governança Corporativa. Revista Bovespa, São Paulo:

Abril / Junho de 2006, Nº 98.

IBGC – INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA. Disponível

em: <http://www.ibgc.org.br>. Acesso em: 27/11/2005.

KIRZNER, I.M. Competition and entrepreneurship. Chicago: Chicago University

Press, 1973.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Manual para elaboração de monografias e

dissertações. 2 ed. São Paulo: Atlas,2000.

MCILHANEY, Trent. Fighting Fraud. Credit Union Management, p. 56, February

2006.

PAVANI, Claudia. O Venture Capital no Brasil. Rio de Janeiro: E-papers Serviços

Editoriais Ltda, 2003.

RIBEIRO, Leonardo de Lima; ALMEIDA, Martinho Isnard Ribeiro de. Estratégia de

Saída em Venture Capital. Revista de Administração Rausp. Publicada em jan/ fev/

mar 2005-11-06 - Vol 40 / Nº 1 - Páginas: 55 a 59


89

RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. 3. ed.. São

Paulo: Atlas, 1999.

SAHLMAN, W.A.. The structure and governance of venture capital

organizations. Jornal of Financial Economics, Rochester, v.27, n.2, p.473-521, Sept.

1990.

SCHUMPETER, J. The theory of economic development. Harvard University

Press, 1949.

Disponível em <www.sebrae.com.br>. Acesso em 07/11/2005.

SEC – Securities and Exchange Commission. New York. Disponível em:

<http://www.sec.gov >. Acesso em: 27/11/2005.

s.ed. Saída em Venture Capital. Revista de Administração Rausp. Publicada em

jan/ fev/ mar 2005-11-06 - Vol 40 / Nº 1 - Páginas: 55 a 59

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22 ed. Ver e

ampl. São Paulo: Cortez, 2002.

Você também pode gostar