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CEDERJ – CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR A DISTÂNCIA

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CURSO: Engenharia de Produção DISCIPLINA: Desenho


CONTEUDISTAS: Hector Reynaldo Meneses Costa.
Leydervan de Souza Xavier
Ricardo Alexandre Amar de Aguiar
Designer Instrucional: Cristina Ávila Mendes

Aula 6 – Cotagem - Parte 1

"Se podemos medir, podemos fazer!” - ditado popular alemão.


“Se você não pode medir algo, você não pode melhorá-lo.”–Lord Kelvin

Metas
Apresentar como as dimensões e características dos objetos são representadas
no desenho técnico

Objetivos

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

1- Indicar as dimensões de um objeto de acordo com as normas brasileiras.

2- Cotar as vistas as vistas ortográficas de uma peça.

Pré-requisitos:
Nesta aula, você terá uma atividade em que precisará dispor dos seguintes
materiais de desenho:
● Lapiseira 0,7 ponta de aço (grafite 2B); Lapiseira 0,3 ponta de aço (grafite
HB);

1
● Esquadros 60º e 45º; Régua de 30 cm ou escalímetro; Borracha;
● Bloco de papel(liso e com margem);
● Fita crepe; Compasso, Guardanapo, Pano ou flanela;
● Álcool;
● Acessórios Opcionais: “mata-gato”, gabarito de círculos, papel quadriculado
e isométrico, vassoura de mão com cerdas macias.

1. Introdução

Você, certamente, já ouviu, disse ou pensou algo como “esta aí parece que foi
feita sob medida para mim!”. O contexto pode variar, mas essa afirmação chama
atenção para dois valores da sociedade contemporânea, que muito interessam à
E.P e aos engenheiros: precisão e especificação. Para o caso dos produtos, todos
querem algo, exatamente, projetado e fabricado para suas necessidades, que
podem ser, significativamente, diferentes das necessidades dos outros. Como
fazer algo sobre medida? Precisamente medindo! Ou medindo precisamente!
Como já foi discutido antes, o desenho é um laboratório de ideias e, quando as
características materiais do mundo da vida podem ser inseridas neste espaço, o
processo criativo e de comunicação ganha precisão e realismo, que aproxima o
projeto do objeto a ser produzido no futuro. Em qualquer campo de ação, a
produção – como transformação da matéria – só acontece, produtivamente,
quando pode ser controlada e, na maioria dos casos, esse controle se faz através
de grandezas físicas, que podem ser medidas, antes de serem manipuladas. Por
exemplo, Você recebeu um envelope A4 contendo uma foto de um momento
inesquecível, mas por via das dúvidas, quer lembrar sempre dele, olhando para a
parede e, por isto, resolve fixar nela a foto. Fita adesiva? Tachinhas? Fita dupla
face? Nada disso, engenheiro (a)! Vamos projetar e executar uma moldura em
madeira. Mas, por limitações operacionais, talvez seja o caso de terceirizar o

2
serviço para quem tenha material, espaço, ferramentas e habilidades de
marcenaria, ou este não seria seu caso? Com a foto na mão, e disposto(a) a fazer
um esboço para entregar a um profissional e contratar o serviço, como você faria
isso? Trata-se de um projeto sob encomenda, ou sob medida – para atender suas
necessidades com perfeição, sua responsabilidade como projetista aumenta...
Bom, para começar, qual o tamanho de sua foto? Grande, pequena são palavras
que não ajudam muito. De posse de um instrumento de medida (escalímetro?)
você vai descobrir duas características físicas de sua foto: as dimensões mais
relevantes (porque uma terceira é muito pequena diante das outras – a espessura
da foto). Se a foto foi impressa em papel padronizado, terá proporções
normalizadas através de uma razão entre largura e altura. Pode estar na posição
retrato (dimensão menor na base, horizontalmente) ou paisagem (dimensão maior
na base, horizontalmente). E que tipo de moldura vai colocar? Larga e estreita são
avaliações que, também, não resolvem nada. Você ameaça com o escalímetro em
volta da foto e conclui que vai usar uma moldura de “x” mm em torno dela,
deixando a foto centralizada, por exemplo. Pronto! Assim, basta escolher o fundo,
o tipo de madeira da moldura e se vai usar vidro (normal ou antirreflexo) e
encomendar o serviço. Suponha que a figura 6.1 seria o produto de seu trabalho,
até aqui. Tudo foi feito em proporções e, digamos, em uma escala 2:1. Do que
você sente falta no “seu desenho”?

Figura 6.1 Projeto Fixação

3
Se você entregar ao marceneiro ele vai perguntar: onde estão as medidas? Como
indicar as dimensões, em um desenho? E outras características de interesse para
sua fabricação ou montagem? Isto, tecnicamente, se chama COTAGEM, segundo
a NBR 10126.

2 Abordagem conceitual

Assim, a cotagem se constitui na representação gráfica, no desenho, de


características do elemento. Para isto linhas, símbolos, notas e valores numéricos
e unidades físicas podem ser empregados, baseando-se nas normas NBR 8402,
8403 e 10067, já usadas nas aulas precedentes.
Tomando-se como referência a NBR 10126, a terminologia para descrever e
prescrever cotagem neste texto vai seguir a proposta indicada na figura 6.2, com
uma sequência própria.

DEFINIÇÕES

MÉTODOS
DE
OUTRAS COTAGEM EXECUÇÃO
NORMAS

INDICAÇÕES DISPOSIÇÃO
ESPECIAIS
APRESENTAÇÃO

Figura 6.2 Abordagem conceitual de cotagem, baseada na NBR 10126.

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Inicialmente, cabe definir o que é um elemento, para efeito de cotagem. Um objeto
pode ter vários elementos, que vão caracterizá-lo. Podem ser as dimensões, a
forma (plana, cilíndrica, côncava ou convexa), a textura de uma superfície,
detalhes como saliências (partes que se projetam para fora, como o nariz humano
na face) ou reentrâncias (partes que geram descontinuidade em uma superfície,
como o umbigo no ventre humano), roscas, furos, ressaltos, chanfros, degraus,
canais, e etc.
Como essas características do elemento são representadas?

2.1 Símbolos usados na cotagem


Em muitos casos, além dos algarismos e unidades, como "2,0 mm", por exemplo,
é conveniente e necessário o uso de símbolos, cuja aplicação será demonstrada
ao longo do texto. Os mais comuns são:
R – raio.
R ESF – raio esférico
Ø – diâmetro
Ø ESF– diâmetro esférico
□ - Quadrado

2.2 Elementos para cotagem


Segundo, ainda, a NBR 10126 os elementos para cotagem estão indicados na
figura 6.3. Na Figura 6.4 esses elementos foram exemplificados no caso da
fotografia emoldurada.

5
LINHA
AUXILIAR

LINHA
DE
ELEMENTOS DE
COTA
COTAGEM

LIMITE DE
LINHA DE
COTA

COTA

Figura 6.3 Elementos usados na cotagem, baseado na NBR10126.

Limite da linha de cota


Linha auxiliar
Linha de cota
cota
260
230
190
320

7,5

As linhas auxiliares não tocam as linhas


de contorno da peça
As linhas auxiliares se prolongam além
da linha de cota

6
Figura 6.4 Exemplo de elementos de cotagem: foto emoldurada.

2.2.1 Indicação de limites da linha de cota


Observe, agora, no detalhe ampliado da Figura 6.5, que as cotas (neste caso a
unidade das dimensões é o milímetro) estão relacionadas aos elementos do objeto
pelas linhas auxiliares, que não tocam as linhas de contorno do objeto. As linhas
de cota têm os limites indicados, nesse caso, por setas fechadas, mas existem
outros tipos de terminação, que serão apresentados, adiante. Esses limites são os
pontos de interseção com as linhas auxiliares.

As linhas auxiliares não tocam as linhas


de contorno da peça
190
320

7,5

As linhas auxiliares se prolongam além


da linha de cota
Figura 6.5 Detalhes das linhas auxiliares

As linhas auxiliares são prolongadas além do cruzamento com as linhas de cota,


de modo que o segmento que está sendo medido e indicado possa ser visualizado
com facilidade. Essas linhas, também, são perpendiculares ao elemento a ser
cotado, mas, se houver necessidade, podem ser oblíquas ao elemento (ângulo de

7
60º), mas paralelas entre si, como se pode observar na figura 6.6, em que um
elemento do mosaico da moldura foi ampliado.

20,00

8,00
5

5,5

Figura 6.6 Linhas auxiliares oblíquas a um elemento da peça e com interseção a


partir de seus prolongamentos. Detalhe ampliado do desenho da moldura.

As linhas de cota e auxiliares são desenhadas como linhas contínuas estreitas, de


acordo com a NBR 8403 e não devem cruzar outras linhas no desenho.
Os limites da linha de cota podem ser indicados de várias formas, apresentadas
na figura 6.7, mas, em um mesmo desenho, usa-se, apenas, um dos tipos e todas
as indicações devem ter o mesmo tamanho.

8
0,5
0,7 0,4

0,3
1,2
A extremidade fica delimitada por uma linha
oblíqua a 45º e curta.
30

45
21
50

Setas com linhas curtas e inclinadas a 15º


(fechada e com preenchimento)

25
45 Setas com linhas curtas e inclinadas a 15º
(abertas e sem preenchimento)

Figura 6.7 Terminação de linhas de cota.

9
A delimitação, com traços oblíquos e pontos, sem uso de setas é muito comum
nos desenhos de arquitetura. As setas abertas e fechadas são muito usadas em
desenhos de peças e projetos de engenharia mecânica e de produção.
Em algumas situações, indicadas na figura 6.8, o espaço disponível para as linhas
de cota e as indicações de limite, impõe formas alternativas de cotagem.

b
a
d

c
Figura 6.8 Alternativas para indicação dos limites da linha de cota em espaços
reduzidos. As setas abertas (a) e fechadas (b) não cabem entre as linhas
auxiliares e são colocadas no prolongamento da linha de cota. Pontos (b) e traços
oblíquos (d) são usados para indicar os limites da linha de cota, quando não
cabem setas.

2.2.2 Posições relativas entre as linhas de cota e auxiliares


Observe, agora, a cotagem de um painel com três fotos representado na figura
6.9. Cada caso de interesse está circundado por uma linha manual tracejada,
ladeada por uma letra de (a) a (g).
Note que:

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1) as linhas de centro e de contorno não devem se usadas como linha de cota,
mas podem ser utilizadas como linhas auxiliares (a, c, d) e, neste caso, a
linha de centro de permanecer com linha de centro até a linha de contorno
do objeto (c, e, f);
2) devem ser evitados os cruzamentos entre as linhas de cota e linhas
auxiliares, mas quando isto não for possível, as linhas não devem ser
interrompidas no ponto de cruzamento (b);
3) a linha de cota não deve ser interrompida, mesmo quando o elemento for
interrompido por uma linha de ruptura manual (g).

36
b 25
c
a
12 d
160
f e
32

g
□ 20
80

Figura 6.9 Linhas usadas na cotagem: informações complementares.

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2.2.3 Cotagem de raios
Na cotagem de raios, uma extremidade da linha de cota parte do centro e a outra,
que é delimitada por uma seta, toca no contorno da peça. A indicação pode ser
pelo lado interno ou externo do contorno ou, ainda, através de linha auxiliar.
Alguns exemplos estão indicados na figura 6.10.

2
R3
R2
5 R6

38
R

5
R1

R9

Figura 6.10 Cotagem de raios.

Lembre-se de que, no desenho técnico, uma linha ou um símbolo pode fazer toda
a diferença. Se, ao invés de uma foto você estivesse montando um painel com 3
fotos, como na figura 6.9, em qual posição cada uma deveria ficar, antes de ser
emoldurada?
Como indicar, no desenho, essas posições? Além de indicar as dimensões das
fotos (duas quadradas e uma retangular) é preciso indicar em que posições serão
fixadas em relação à moldura. Observe que o símbolo “□20” indica que a foto à
esquerda é quadrada, com lado 20 mm. Como há uma linha central (traço e ponto

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na vertical) indicando simetria (a metade do lado esquerdo é igual à do lado
direito), as informações dadas para a metade esquerda não precisam ser
repetidas para outra metade. Assim, as dimensões de cada foto e a localização de
seus centros em relação ao centro do painel ou a um de seus lados estão
completamente definidos. Com isso basta medir e prender cada foto.
Na cotagem dos raios você pode observar que a posição das cotas pode variar
para se adequar a uma leitura mais fácil pelo observador. Assim, é hora de discutir
como apresentar as cotas.

2.3 Apresentação das cotas


Assim como as dimensões das setas ou outras formas de indicação do limite da
linha de cota, as cotas devem ser indicadas com caracteres que permitam uma
leitura correta e fácil das dimensões. As dimensões dos caracteres devem permitir
leitura correta e serem adequadas aos procedimentos de microfilmagem (vide
NBR 8402). Há dois métodos para posicionar as cotas, em ambos os casos, estas
não devem ser sobrepostas ou cortadas por qualquer tipo de linha, para não
comprometer a legibilidade. Deve-se usar, apenas, um dos métodos em um
mesmo desenho ou conjunto de desenhos.

2.3.1 Método 1: cotas paralelas às linhas de cota.


Neste caso, as cotas respeitam o sentido de leitura da folha de desenho (de baixo
para cima e da direita para a esquerda) e são sempre localizadas paralelamente
às linhas de cota e acima delas. Sempre que possível, as cotas devem estar
centralizadas entre os limites da linha de cota. Na figura 6.11 estão alguns
exemplos da cotagem pelo Método 1.

13
22
7 7

4
8
9

16
1 4
Figura 6.11 Cotagem pelo Método 1

No caso da cotagem de ângulos ou quando há uma aresta inclinada em relação à


base do papel, as cotas devem ser dispostas como indicado na figura 6.12. No
caso de ângulos, deve-se ser escolher apenas uma das duas disposições
indicadas.
25

25
25

25 25

25 25

25 25
25

25
25

(a)

14
90°
90°

45° 45°

45°

45
°
45°
60
45°

°
60°
°
30° 45

30° 45°

(b)
Figura 6.12 Cotagem de (a) arestas inclinadas e (b) ângulos em relação à base do
papel.

2.3.2 Método 2: cotas paralelas às linhas de cota.


Neste caso, o sentido de leitura das cotas é sempre o da base do papel (de baixo
para cima). As linhas de cota são interrompidas e a cota fica entre os dois
segmentos. Na figura 6.13 está uma peça semelhante aquela da figura 6.11,
porém, cotada segundo o Método 2.

22
2 7 7
4
8
9 16

1 4
Figura 6.13 Cotagem pelo Método 2
15
No caso da cotagem de ângulos ou quando há uma aresta inclinada em relação à
base do papel, as cotas devem ser dispostas como indicado na figura 6.14.
90°
90°

45° 45°
45° 45°

45°
45° 60°
60°

30° 45°

30° 45°

Figura 6.14 Cotagem de ângulos pelo Método 2

2.4 Localização de cotas em casos específicos

No caso de peças simétricas em relação a um eixo (indicado pela linha central


traço-e-ponto), pode-se desenhar, apenas, uma das metades e a cotagem vai ser
adaptada para explorar a simetria, como está exemplificada na figura 6.15. Há
duas apresentações de cotagem, à esquerda segundo o Método 1 e à direita,
segundo o Método 2.
Por exemplo, observe na figura 6.15 que, no Método 2, a cota 8 foi lançada no
prolongamento horizontal da linha de cota, por falta de espaço para a disposição
tradicional. Já, no Método 1, esta cota ficou ao lado do espaço normalmente
destinado para a cota. Os símbolos de diâmetro (ø), associados ao eixo vertical de
simetria, simplificam bastante a cotagem.
Na figura 6.16 está desenhada uma peça de Xadrez maciça, em que diversos
símbolos, já mencionados, foram usados na cotagem.
16
8
Ø120
8
Ø120 Ø30
Ø30 15
15

58
15
58

15

Ø70
Ø70 Ø100
Ø100

(a) (b)
Figura 6.15 Disposições especiais para cotas (a) Método 1 e (b) Método 2.

Ø ESF 12

R5

□ 16
20
65

Ø8

R ESF 12

40

Figura 6.16 Símbolos empregados na cotagem.

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Observe que a cota “40” está fora de escala e, por isto, deve ser sublinhada com
uma linha reta de mesma largura daquela usada para o algarismo. Quando se usa
interrupção do componente, a cota que está fora de escala não é sublinhada,
como foi o caso da indicação “g” na figura 6.9.

Se você ainda estiver pensando na fotografia, ou em um painel com várias delas,


e pretende fabricar e montar o conjunto ou produzir um desenho para que alguém
execute, agora você tem muitos elementos disponíveis. Mas, falta uma etapa
importante, que é a estratégia de agrupar as cotas ou de distribuí-las a partir de
certas referências para facilitar ou mesmo viabilizar a sua execução precisa. Nos
exemplos a seguir vamos explorar essa montagem das fotografias, já que outras
situações que envolvem experiência de fabricação de componentes ou montagens
de equipamentos podem não ser, ainda, familiares para você, dificultando
entender o quê e o porquê de cada proposta.

3 Disposição e apresentação da cotas

Para organizar esta abordagem, convém apresentar os conceitos de cotas


funcionais, não-funcionais e auxiliares, segundo a NBR10126.
As cotas funcionais (F) são essenciais para a função ou inserção do objeto em um
conjunto; as cotas não funcionais (NF) ou auxiliares (AUX), que são derivadas de
outras cotas, não são usadas para verificação de medidas, nem influenciam a
fabricação ou a montagem da peça, mas trazem informações adicionais de
interesse.
Pense no número de seu tênis, está é uma informação funcional, para sua
compra. Mas, o conjunto de medidas e proporções que derivam do número ou
que, de outro modo, são o que faz ele existir, passam sem ser percebidos por
você. Para você, se estivessem representadas na embalagem ou em algum

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prospecto dentro da caixa, elas seriam cotas não-funcionais ou auxiliares. Agora
pense no fabricante de embalagens para tênis? O que interessa para ele são as
dimensões externas, a massa, a textura, como proteger as superfícies do tênis.
Essas informações, que para ele são funcionais, talvez, pouco signifiquem para
você. Por outro lado, para alguém que vai montar o tênis na fábrica, uma série de
cotas deve ser importante para que furos, travas, gáspeas (fica na parte da frente
do calçado, depois da biqueira, entre os dedos e o peito do pé), sejam colocadas
simetricamente e no lugar preciso. Já imaginou os furos para os cadarços
desalinhados? Ou os do pé esquerdo de um jeito diferente do direito? Montados
por máquinas ou artesanalmente, esses acabamentos precisam estar localizados
e, como já vimos, tudo começa com um desenho bem feito.

3.1 Cotagem encadeada


Observe na figura 6.17, que cada fotografia foi posicionada tomando como
referência a posição da anterior. Assim, as distâncias poderiam ser marcadas
sobre o fundo do painel com um instrumento de medida (trena ou régua graduada)
ou, simplesmente, usando um gabarito, como uma barra metálica de comprimento
adequado. Observe que se houver um erro de medição, a despeito das fotos
ficarem igualmente espaçadas, a centralização em relação às laterais será menos
provável com o aumento do número de fotos alinhadas, pela possível variabilidade
das medidas, dos instrumentos e da execução, podendo causar um efeito
indesejável. Em termos gerais, para qualquer caso em que houver problema no
acúmulo dessas variações de medidas (tolerâncias), esse sistema deve ser
evitado.

19
x

a a x±d
x
Figura 6.17 Cotagem encadeada

Observe, na figura 6.17 que os afastamentos x e x±d, em função da variabilidade


de diversos itens, não devem ser iguais, comprometendo a centralização das fotos
no painel, que o projetista, naturalmente, buscava distribuindo os afastamentos “a”
e “x”.

3.2 Cotagem por elemento de referência


Neste caso, usa-se um elemento como referência, como uma aresta, o centro de
um furo, etc, e, a partir dele, todas as cotas em um mesma direção são
estabelecidas. Na figura 6.18-a as fotografias foram posicionadas a partir da
lateral esquerda e do canto inferior. Outra variante deste sistema de cotagem é a
chamada cotagem aditiva, em que a origem (o “0”) é colocado sobre um elemento
e as cotas são posicionadas na extremidade da linha auxiliar. Pode-se “quebrar” a
linha auxiliar, nos casos em que o espaço entre as cotas for reduzido, para se
conseguir uma disposição legível e estética das cotas. Na figura 6.18-b esta forma
foi adotada.

20
x

x a
b
(a) Cotagem em paralelo e em duas direções

x
0
0

b
x

(b) Cotagem aditiva e em duas direções

Figura 6.18 Cotagem por elemento de referência

Nos dois casos da figura 6.18, para que as fotografias fossem centralizadas no
painel, foram usadas cotagens em duas direções, em (a) na forma em paralelo e
em (b) na forma aditiva. As origens que servem de referência para as medições
em cada direção devem ser indicadas conforme a figura. Observe que, se houver

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alguma variação no sistema de medição, o erro produzido será o mesmo em cada
medida, sem haver acúmulo de erro no posicionamento de qualquer elemento,
como ocorreria se a cotagem fosse encadeada.

3.3 Cotagem por coordenadas

Neste processo, cada elemento é numerado e sua posição fica determinada por
duas coordenadas a partir de um par de eixos ortogonais no plano do desenho. A
origem é indicada no desenho e as demais informações são organizadas em uma
tabela.

y 1 2 3

x
Nº x y□
1 a b f
2 c be
3 d bg
Figura 6.19 Cotagem por coordenadas

Observe na figura 6.19, que cada fotografia do painel, com tamanhos diferentes
dos casos anteriores, foi representada como um quadrado e, na tabela, consta o
número de cada elemento (foto), as coordenadas de seu centro geométrico (x e y)
e o lado do quadrado (□). O centro geométrico de cada fotografia está
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determinado pelo encontro de duas linhas de centro (traço e ponto). Os valores
literais, em um caso real, seriam numéricos, embora a coordenada y de cada
centro (=b) seja igual, devido ao alinhamento das fotos.
A localização dos centros das fotos, como, também, o de centros de furos em
peças é uma aplicação interessante para esse sistema de cotagem, mas ele pode
ser usado para localizar uma malha de pontos ou mesmo pontos arbitrários, com
ou sem o uso de uma tabela. Na figura 6.20 estão representados outros casos.
Em todos eles é preciso determinar a origem do sistema de coordenadas e indicar,
quer próximo ao ponto ou em uma tabela, as duas coordenadas de interesse.
Observe que, neste caso, não existe a indicação do lado do quadrado, pois o que
se está cotando são, simplesmente, pontos. Os valores das cotas, representados
de forma literal, nos casos reais, assumirão valores numéricos.

X=a X=g 4 Nº x y
Y=k Y=l 5 1 a b
X=d
3 2 c b
X=j Y=e 3 d e
Y=m X=r y 6 4 f g
X=a Y=s 5 h l
X=c 1
Y=b 2 6 k m
y Y=b x
x

Figura 6.20 Cotagem por coordenadas: malha de pontos e pontos arbitrários

3.4 Cotagem combinada


Em certos casos, pode ser necessário combinar as formas de apresentação e
disposição de cotas descritas anteriormente. Observe que as dimensões dos

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elementos e suas posições podem ser cotados segundo estratégias diferentes,
explorando-se as vantagens de cada tipo de disposição de cotas.

□b g □b
Øp

Øp

h
e
j

d
□b f □a g

c
i

Figura 6.21 Cotagem combinada

Na figura 6.21 a posição dos centros dos dois furos e a distância entre eles são
importantes para fixar o painel à parede, por exemplo. O canto inferior esquerdo
do painel, determinado pelo encontro da aresta inferior (horizontal) e de uma
aresta lateral (inclinada em relação à horizontal) é o ponto de referência para para
o posicionamento desses futuros e da fotografia central. É a partir das arestas
desta fotografia que as demais são posicionadas. As dimensões das fotografias e
dos diâmetros dos furos são cotas simples. As dimensões dos furos e da aresta da
foto central se baseiam em elemento de referência e as cotas das posições das
demais fotos se baseiam em cotagem encadeada.

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Referências Bibliográficas

ESTEPHANIO, Carlos. Desenho Técnico Básico; 2o. e 3o. graus. Rio de


Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.

FRENCH, Thomas E. Desenho Técnico e Tecnologia Gráfica. 6. ed. São Paulo:


Globo, 1999.

MICELI, Maria Teresa; FERREIRA, Patrícia. Desenho Técnico Básico. 2


Edição.Rio de Janeiro: Editora Ao Livro Técnico,2003.

SILVA, Sylvio F. da. A Linguagem do Desenho Técnico. Rio de Janeiro: Livros


Técnicos e Científicos, 1984.

LEAKE, James M.; BORGERSON, Jacob L. Manual de Desenho Técnico para


Engenharia, Desenho, Modelagem e Visualização. 2ª Edição. Rio de Janeiro:
LTC, 2015

SILVA, Arlindo; RIBEIRO, Carlos Tavares; DIAS, João; SOUSA, Luís . Desenho
Técnico Moderno. 4ª edição.Rio de Janeiro: LTC, 2014.

RIBEIRO, Antônio Clélio; PERES, Mauro Pedro; IZIDORO, Nacir. Curso de


Desenho Técnico e Autocad, São Paulo, Person Education, 2013.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR10067: princípios


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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8403: aplicação de


linhas em desenhos –tipos de linhas – larguras das linhas. Rio de Janeiro, 1984.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8402: execução de


caracteres para escrita em desenhos técnicos. Rio de Janeiro, 1994.

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